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AULA 01 Direito Constitucional Professor William Cepkauskas Petrachini www.pontodosconcursos.com.br Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 2 Sumário 1. Considerações iniciais ....................................................................................................... 3 2 - Conceito e origens de Constituição .................................................................................... 3 2.1 Constituição em sentido sociológico ..........................................................................................6 2.2 Constituição em sentido político ...............................................................................................7 2.3 Constituição em sentido formal.................................................................................................7 2.4 Constituição em sentido jurídico ...............................................................................................8 2.5 Constituição em sentido culturalista e aberto ............................................................................8 2.6 Constituição em sentido processual (processo público) ..............................................................8 3. Conteúdo da Constituição .................................................................................................. 9 4. Estrutura da Constituição ................................................................................................. 10 5. Supremacia da Constituição e analise do princípio hierárquico das normas. ..................... 11 6. Poder Constituinte ........................................................................................................... 15 6.1 Poder Constituinte Originário .................................................................................................. 15 6.2 Poder Constituinte Derivado ................................................................................................... 16 6.3 Poder Constituinte Decorrente ................................................................................................ 18 7. Classificação e tipos de Constituição ................................................................................ 18 7.1 Quanto à origem ..................................................................................................................... 20 7.2 Quanto à mutabilidade ........................................................................................................... 20 7.3 Quando a forma ..................................................................................................................... 21 7.4 Quanto ao conteúdo ............................................................................................................... 21 Aula 01 – Teoria geral da Constituição: conceito,origens, conteúdo, estrutura e classificação. Supremacia da Constituição. Tipos de Constituição. Poder constituinte. Princípios constitucionais. Normas constitucionais e inconstitucionais. Emenda, reforma e revisão constitucional. Análise do princípio hierárquico das normas. Princípios fundamentais da Constituição Federal de 1988. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 3 7.5 Quanto à sistemática .............................................................................................................. 21 7.6 Quanto à ideologia ................................................................................................................. 21 7.7 Quanto à extensão ................................................................................................................. 22 7.8 Quanto ao modo de elaboração: ............................................................................................. 22 7.9 Quanto a finalidade ................................................................................................................ 22 7.10 Quanto a ontologia (correspondência com a realidade) ......................................................... 23 8. Princípios constitucionais ................................................................................................. 24 9. Normas constitucionais e inconstitucionais ...................................................................... 24 10. Reforma, emenda e revisão constitucional ..................................................................... 26 11. Dos princípios fundamentais (Artigo 1º ao 4º) ................................................................ 32 12. Questões comentadas .................................................................................................... 46 13. Questões propostas ....................................................................................................... 95 14. Gabarito ...................................................................................................................... 112 1. Considerações iniciais É uma grande alegria saber que você confiou em mim, para te ajudar a conquistar sua aprovação. Vamos suar a camisa juntos e em breve você estará no cargo desejado. Bora estudar, que hoje temos muita coisa pra ver. Bons estudos! 2 - Conceito e origens de Constituição Caro aluno, você já se perguntou o que significa Constituição? Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 4 O significado da palavra é “ser a base de”; “a parte essencial de”; “formar”; compor”. Tais definições nos trazem a ideia de que por trás da do termo constituição existe uma ideia de estrutura. No nosso caso, estrutura do que? Para responder essa pergunta me utilizo das palavras do professor José Afonso da Silva, que define Constituição como a lei fundamental. Um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma do governo, o modelo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de órgãos e os limites de sua ação.1 A Constituição é a lei suprema de um Estado, que tem como principal função regulamentar seus elementos estruturantes, ou seja, território, governo, povo e finalidade. Para compreender as origens da Constituição é importante se atentar a expressão constitucionalismo, pois incorpora dois sentidos. Primeiro, o de movimento, o de organização de pessoas em torno de um ideal, de um objetivo. Segundo, o de Constituição. Neste sentido, constitucionalismo é o movimento político, jurídico e social, pautado pelo objetivo de criar um pensamento hegemônico segundo o qual todo Estado deve estar organizado com base em um documento, chamado Constituição, cujo propósito é organizar o poder político, buscando garantir os direitos fundamentais e o caráter democrático. Marque-se que a origem da Constituição remonta do povo hebraico ao estabelecer restrições teocráticas, sujeitando os atos de governo à fiscalização dos profetas para preservação do ideal bíblico. Já os gregos, especialmente os atenienses, desprenderam-se da religião para construir uma democracia singular, tida por muitos como o berço da constituição moderna. Em Atenas desenhou-se um sistema em que a Assembleia, órgão coletivo integrado por cidadão ativo, distinguiu-se como a principal 1 Curso de Direito Constitucional positivo, 6. Ed, Revista dos Tribunais Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 5 arena de atuação política,dela emanando decisões e leis que desaconselhavam excessos e garantiam identidade de propósitos de governantes e governados. Seguindo para a Idade Média, a Constituição teve seu primeiro marco simbólico, a Magna Charta Libertatum, outorgada na Inglaterra em 1215 pelo Rei João Sem Terra, constitui vigorosa manifestação do constitucionalismo medieval, pois, trata-se de clássico instrumento de contenção jurídica do poder monárquico. Também na Inglaterra, na mudança da era medieval para a moderna, a Petition of Rights (1628), o Habeas Corpus Act (1679), o Bill of Rights (1689) e o Act of Settlement (1701), além de vários outros pactos que consistiam em convenções entre o monarca e os súditos concernentes ao modo de governo e às garantias dos direitos individuais. Seguindo na história, pontua-se que a primeira Constituição escrita do mundo, marco da Revolução Americana foi aprovada em 17 de setembro de 1787 e submetida à ratificação dos Estados partícipes. O texto constitucional contemplava a adoção da forma federativa de Estado, a abolição da monarquia, a independência das colônias, além da instauração do governo constitucional balizado na separação de poderes, na igualdade e na supremacia da lei. Na mesma época, na Europa, o absolutismo ganhava força, a partir do conceito de soberania, tida como o poder absoluto, uno e indivisível, dotado de supremacia interna e independência externa. O Estado passou a subjugar os senhores feudais e a Igreja, sujeitando todos ao poder soberano do monarca. Mas esse modelo, ao privar a grande massa de direitos básicos e submetê-la a altos impostos, não demorou a ser visto como um estorvo ao desenvolvimento das forças produtivas, motivando insurreições armadas e uma revolução no campo intelectual que substituiu o absolutismo pela doutrina iluminista de Lock, Montesquieu e Rousseau, que idealizaram um Estado absenteísta, centrado na separação de poderes e no respeito às liberdades públicas. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 6 A célebre Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789, símbolo da revolução francesa, foi alçada a como preâmbulo da primeira Constituição Francesa de 1791, contribuindo para expansão do constitucionalismo. O constitucionalismo liberal foi marcado pelo individualismo, proteção da propriedade privada, separação de poderes, contenção do aparato estatal e valorização dos direitos humanos. Tais características estiveram presentes nos séculos XIX e XX, nas Constituições do pós-guerra, também denominadas Constituições dirigentes ou programáticas, que assimilaram direitos sociais e incorporaram programas de atuação governamental, compelindo o Estado a promover o bem-estar social e a concretizar no plano material o princípio da igualdade. Por fim, cabe destacar que valores como fraternidade e solidariedade se tornaram familiares as constituições contemporâneas, as quais passaram a tutelar o direito a paz, à preservação do meio ambiente, ao desenvolvimento sustentável, à autodeterminação dos povos, à preservação do patrimônio genético e histórico-cultural da humanidade, dentre outros. Feito esse breve acatado histórico da origem e da evolução da Constituição, é de suma importância verificar que o termo Constituição possuiu diversos sentidos, ao longo da história, não excludentes um dos outros, mas complementares, observe: 2.1 Constituição em sentido sociológico O grande expoente desta visão de Constituição foi Ferdinand Lassale. Em sua obra “A essência da Constituição” afirma ser a Constituição apenas uma “folha de papel”. Mas o que ele queria dizer com isso? Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 7 Lassale esclarece que a Constituição seria produto das mudanças operadas na comunidade após revoluções e embates econômicos, enfatizando a crônica dependência do sistema normativo perante as forças sociais que recaem sobre uma nação. Por essa razão a função da Constituição seria apenas descritiva, e não conformadora da realidade social, pois a eficácia da Constituição escrita estaria condicionada à correspondência de suas normas com os acontecimentos sociais. Deste modo, qualquer documento escrito que não espelhasse fielmente a realidade, não passaria de um conjunto de palavras sem sentido. A crítica a essa concepção reside no fato de retirar a força normativa da Constituição e reduzi-la à condição de mero documento que não possui o poder de limitar o poder arbitrário. 2.2 Constituição em sentido político O grande expoente desta visão é Carl Schmitt. O autor afirmava que em toda normatização reside uma decisão política do titular do poder constituinte, ou seja, do povo na democracia e do monarca na monarquia. Assim, a Constituição seria o resultado da decisão política fundamental de um povo, que recai sobre a estruturação dos poderes estatais, o regime político adotado, a forma de governo, a amplitude dos direitos fundamentais etc. Tal decisão fundamental exige a presença de uma consistente unidade política. 2.3 Constituição em sentido formal No sentido formal, a Constituição é o conjunto de normas que se situa num plano hierarquicamente superior a outras normas. Dessa forma, pouco importa o conteúdo, mas a formalização (em posição hierarquicamente superior) desse conjunto de normas. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 8 2.4 Constituição em sentido jurídico O conceito jurídico busca delimitar o alcance e o conteúdo de uma Constituição. Assim, Constituição é a organização sistemática dos elementos constitutivos do Estado, por meio da qual se definem a forma e a estrutura deste, o sistema de governo, a divisão e o funcionamento dos poderes, o modelo econômico e os direitos, deveres e garantias fundamentais. Além disso, compete a Constituição ditar a organização política-jurídica do Estado, bem como, prever a divisão do poder e suas limitações, além de prever direitos fundamentais do indivíduo, sendo que qualquer outra matéria que for agregada a ela será considerada formalmente constitucional (veremos na parte de classificações a diferença entre formal e material). 2.5 Constituição em sentido culturalista e aberto A concepção culturalista é trazida por Regina Ferrari que entende o fenômeno constitucional, assim como a norma jurídica em geral, ao mesmo tempo em que é produzido pela sociedade é, também, capaz de influir sobre ela, modificando-a, disciplinando-a e, dessa forma, desenvolve uma concepção culturalista do direito e da Constituição, amparada no conceito de cultura e em uma filosofia de valores diretamente reconhecidos da sociedade. Por outro lado, a ideia de Constituição aberta possibilita a interpretação evolutiva do texto constitucional para acompanhar as transformações da realidade, o que evita perda de sua força normativa e favorece a permanência da Constituição. A abertura serve de pressuposto de adaptação, atualização e manutenção da Constituição. 2.6 Constituição em sentido processual (processo público) Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 9 Conceito proposto por Peter Haberle que compreende a Constituição como uma “ordem-quadro”, ou ainda, uma lei necessária, mas que se revela, ao mesmo tempo, fragmentária, indeterminada e dependente de interpretação. Por isso, o autor sustenta ser a Constituição o resultado de um amplo processo de interpretaçãoaberto ao público em geral, sempre temporário e condicionado historicamente. 3. Conteúdo da Constituição Por conteúdo deve se entender qual o objeto que a Constituição irá veicular em seu texto normativo. Podemos elencar os seguintes: - Organização político-jurídica do Estado; - Divisão dos Poderes; - Os modelos econômico do Estado; - Os fins socioeconômicos do Estado - Funcionamento e limitação do poder; - A defesa da Constituição, do Estado e das Instituições Democráticas; - Direitos, deveres e garantias fundamentais; Veja o esquema a abaixo: Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 10 4. Estrutura da Constituição A Constituição, embora represente um todo unitário e orgânico, possui normas que tratam dos mais variados assuntos. Não há consenso quanto ao número e a caracterização dessas estruturas, contudo, a classificação mais adotada é a proposta por José Afonso da Silva, que reconhece na estrutura da Constituição alguns elementos, classificados da seguinte maneira: a) Elementos Orgânicos: manifestam-se em normas reguladoras da estrutura do Estado e do Poder, como nas consagradas no Título III (Da organização do Estado) e no Título IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo). Constituição (objetos) Organização pólítica e juridica do Estado Divisão dos poderes Modelo econômico Fins socioeconô nomicos Funcionamen to e limitação do Poder Defesa da Constituição, dos Estados e das Instituições democráticas Direitos , deveres e garantias fundamentais Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 11 b) Elementos Limitativos: estão consubstanciados nas normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais (título II), as quais impõem limites à atuação dos poderes públicos (caráter negativo). Por exigirem prestações materiais e jurídicas do Estado (caráter positivo), e não uma abstenção, os direitos sociais não se incluem nessa categoria. c) Elementos Socioideológicos: revelam a ideologia que permeia o conteúdo constitucional, podendo ser identificados nas normas que consagram direitos sociais (Capítulo II, Título II) e que integram a ordem econômico-financeira (Título VII) e a ordem Social (Título VIII). d) Elementos de Estabilização Constitucional: encontram-se consubstanciados nas normas destinadas à solução dos conflitos constitucionais (arts. 34 a 36, CF) à defesa da Constituição (arts. 102 e 103, CF) e das instituições democráticas (Título V). Encontram-se contemplados, ainda, nas normas que estabelecem os meios e técnicas para a alteração da CF (art. 60). e) Elementos Formais de Aplicabilidade: são os consagrados nas normas que estabelecem regras de aplicação da Constituição, o ADCT e o §1º do art. 5º. 5. Supremacia da Constituição e analise do princípio hierárquico das normas. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 12 A Supremacia da Constituição decorre da posição hierárquica que a norma constitucional está sobre as demais. O conflito de leis com a Constituição encontrará solução na prevalência desta, justamente por ser a Carta Magna produto do poder constituinte originário (que veremos em breve), ela própria elevando-se à condição de lei suprema, que inicia o ordenamento jurídico, impondo-se, por isso, ao diploma inferior com ela inconciliável. Deste modo, a Constituição Federal é a norma de maior hierarquia em nosso sistema normativo. Para melhor compreender a predominância da Constituição sobre as outras leis, vamos nos utilizar da tradicional pirâmide de Kelsen. Kelsen foi um importante jurídico alemão que criou uma teoria do direito muito bem aceita até os dias de hoje. Suas lições são de grande valia para compreender, em especial, a hierarquia das normas e as relações existentes entre as normas constitucionais com as normas infraconstitucionais. Veja a pirâmide de Kelsen aplicada no ordenamento jurídico brasileiro: Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 13 Kelsen propôs que toda norma de hierarquia inferior deve buscar sua validade na norma de hierarquia imediatamente superior, logo, toda norma jurídica deve buscar validade na Constituição. Analisando a pirâmide acima verificamos no topo a Constituição Federal. A partir de seu nascimento, todas as demais normas que vierem a existir, não poderão contrariá- la. Logo abaixo, estão as emendas constitucionais, leis que fazem parte da Constituição, mas que surgiram em momento posterior ao nascimento do texto constitucional. Constituição Federal Emendas Constitucionais e Tratados Internacionais de Direitos Humanos Tratados Internacionais de direitos humanos adotados por rito ordinário Leis Complementares Leis Ordinárias/MPs e Tratados internacionais que não versem sobre direitos humanos Decretos Resolução e Portarias Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 14 Adiantarei uma lição que será vista em aulas seguintes. Para que seja aprovada uma emenda constitucional é necessário que a norma jurídica em discussão passe pela Câmara do Deputados e pelo Senado Federal duas vezes, e tenha 3/5 de votos favoráveis nos dois turnos. Junto da emenda constitucional, verificamos os tratados e convenções internacionais que versam sobre direitos humanos, na realidade eles são equiparados a emendas constitucionais, pois, passam pelo mesmo crivo de votação. Tal determinação passou a ser adotada em razão da emenda constitucional 45/2004. Os tratados internacionais de direitos humanos aprovados pelo rito ordinário, ou seja, que não são aprovados como emendas constitucionais, são considerados pelo STF como normas “supralegais”, isto é, estão abaixo da Constituição, mas acima das normas infraconstitucionais. Após, estaremos diante das Leis (Complementar, Ordinária, Delegadas), bem como Medidas Provisórias e tratados internacionais que não versem de direitos humanos. Todas essas espécies de leis serão estudadas nas aulas seguintes. Importante: embora na pirâmide a Lei Complementar esteja acima da Lei Ordinária, não significa que a primeira tem maior hierarquia sobre a segunda. Ocorre que a Lei Complementar versa de temas exclusivos reservados pela Constituição, assim seu conteúdo especifico a diferencia da Lei Ordinária, que poderá versar sobre qualquer assunto, exceto a da Lei Complementar. Outro ponto, o quórum para aprovação da Lei Complementar é diferente da Lei Ordinária. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 15 Por essas razões, a doutrina majoritária e o STF já decidiram que entre Lei Complementar e Ordinária não há de se falar em hierarquia, já que versam sobre matérias diferentes. Abaixo das Leis, temos decretos e resoluções. Tais normas são consideradas infralegais ou normas secundárias, ou seja, estão abaixo das leis e não podem gerar direitos e obrigações. 6. Poder Constituinte O Poder Constituinte é o propulsor para o nascimento da Constituição. Esse poder não encontra limites e possibilita o surgimento de uma Constituição totalmente nova. A titularidade do Poder Constituinte é do povo em decorrência da soberania popular. O exercício do poder, como explica David Araújo e Vidal Serrano poderá se dar porduas formas: “por meio de uma revolução, caso em que o grupo revolucionário, que se tornou hegemônico, edite uma Constituição; ou por uma Assembleia Constituinte, que, ainda, pode tomar o cuidado de submeter à vontade popular direta (plebiscito ou referendo) as suas conclusões.” No caso da Constituição brasileira de 1988 o exercício do poder constituinte foi por meio de uma Assembleia Constituinte. 6.1 Poder Constituinte Originário Nessa linha, importante conhecermos que o ato de criação de uma Constituição é produto do Poder Constituinte Originário. Este por sua vez possui as seguintes características: a) Inicial: inaugura uma nova ordem jurídica, revogando a Constituição anterior e os dispositivos infraconstitucionais anteriormente produzidos e incompatíveis com ela; Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 16 b) Autônomo: só ao seu exercente cabe determinar quais os termos em que a nova Constituição será estruturada; c) Ilimitado – não se reportando à ordem jurídica anterior, compõe novo arcabouço jurídico, sem limites para a criação de sua obra; d) Incondicionado – não se submete a nenhum processo predeterminado para sua elaboração. 6.2 Poder Constituinte Derivado O Poder Constituinte Originário produz uma nova Constituição; por sua vez, o Poder Constituinte Derivado tem como objetivo reformar o texto constitucional, por mais que as Constituições pretendam ser eternas, elas não são imutáveis, por essa razão, que em seu texto há previsão de sua alteração mediante processo legislativo específico. O Poder Constituinte Derivado é exercido por meio de Emendas Constitucionais. Poder Constituinte Originário Inicial Autôno mo Incondicio nado Ilimitado Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 17 As características do Poder Constituinte Derivado são: a) Limitação: a Constituição impõe limites a sua própria alteração, por isso a existência de áreas imutáveis no texto. É o caso das cláusulas pétreas na CF/88, previstas no artigo 60, §4º (serão estudas em aulas posteriores). b) Condicionalidade: a modificação da Constituição está atrelada a obediência de requisitos previstos no texto constitucional. Como se percebe, o Poder Constituinte Derivado tem seu campo de atuação restrito pelo Poder Constituinte Originário. Por isso é importante conhecer alguns limites que recai sobre o Poder Constituinte Derivado: a) Materiais: O Poder Constituinte Derivado não poderá promover qualquer alteração nas matérias previstas em cláusulas pétreas (artigo 60, §4º da CF). b) Circunstanciais: Não poderá haver tramite de Emenda Constitucional durante determinada circunstancias diante da necessidade de tranquilidade social. São as hipóteses previstas no artigo 60, §1º (vigência de intervenção federal, estado de defesa ou estado de sitio. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 18 c) Procedimentais: Durante o processo de emenda, se esta for rejeitada ou tida como prejudicada, só poderá ser reapresentada na sessão legislativa seguinte (artigo 57 da CF). 6.3 Poder Constituinte Decorrente Este poder está ligado ao poder de auto-organização dos estados que compõe a federação. O Poder Constituinte Decorrente nasce com o pacto federativo, que apresenta como uma particularidade a capacidade de auto-organização – por Constituições próprias – das unidades federadas. Suas características são as mesmas do Poder Constituinte Derivado, quais sejam, limitação e condicionamento, pois devem observância ao contido na expressão do Poder Constituinte Originário, isto é, a Constituição Federal. 7. Classificação e tipos de Constituição Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 19 Surgida a Constituição em decorrência do Poder Constituinte Originário, vamos verificar algumas formas as quais podem ser classificadas as Constituições, bem como conhecer seus tipos. As Constituições podem ser classificadas quanto a sua origem; mutabilidade; forma; conteúdo; sistemática; ideologia; extensão; elaboração; finalidade; ontologia. Anote essa informação, a Constituição Brasileira de 1988 é: promulgada; rígida; dirigente; analítica; formal; escrita; democrática; eclética; social; popular; dogmática. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 20 Dito isso, vejamos os critérios. 7.1 Quanto à origem Promulgada ou votada: é a Constituição que surge de um processo democrático e elaborada por um Poder Constituinte exercido por uma Assembleia Constituinte. É o caso da atual Constituição Federal de 1988. Outorgada: São aquelas Constituições impostas por um grupo ou governante. No Brasil, tivemos algumas delas: 1824, 1937, 1968. Cesarista: São elaboradas unilateralmente, mas submetem-se à ratificação por meio de referendo. Não são promulgadas e nem outorgadas. 7.2 Quanto à mutabilidade Imutável: Não é possível qualquer alteração na Constituição. Rígida: Há exigência de um critério mais difícil e trabalhoso para alterar o texto constitucional. É o caso da Constituição Federal Brasileira, basta verificar os requisitos para aprovação de uma emenda constitucional e comparar com os requisitos para aprovação de uma lei ordinária. Semirrígida: é a Constituição que apresenta uma parte que exige mutação por processo mais difícil e solene do que o da lei ordinária (rígida) e outra parte sem tal exigência, podendo ser alterada pelo sistema previsto para lei ordinária. Exemplo foi a Constituição do Império em 1824. Flexível: a Constituição que não exige, para sua alteração, qualquer processo mais solene, tendo-se em vista o critério da lei ordinária. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 21 7.3 Quando a forma Escrita: aquela que é representada por um texto completo e organizado. A nossa Constituição é um exemplo, bem como a da Argentina. Não escrita: aquela que é formada a partir de textos esparsos, sendo sedimentada em costumes derivados das decisões, sempre tendo como fundamento os documentos históricos que serviram de base. Exemplo é a Constituição da Inglaterra. 7.4 Quanto ao conteúdo Material: partindo do conceito político de Constituição, podemos identificar matérias tipicamente constitucionais. São normas materialmente constitucionais aquelas que identificam a forma e a estrutura do Estado, os sistema de governo, a divisão e o funcionamento dos Poderes, o modelo econômico e os direitos, deveres e garantias fundamentais. Formal: São normas inseridas no texto constitucional, sem fazer parte da estrutura mínima e essencial de qualquer Estado. São normas que poderiam ser dispensadas da Constituição, a Constituição Brasileira tem muitas normas formalmente constitucionais. 7.5 Quanto à sistemática Reduzida: quando é representada por um código único. Variada: quando os textos estão espalhados em diversos diplomas legais: Exemplo: a Constituição belga de 1930. 7.6 Quanto à ideologia Ortodoxa: aquela que é formada por uma só ideologia. Exemplos: As Constituições Soviéticas de 1923, 1936 e 1978. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 22 Eclética: quando informadapor diversas ideologias conciliatórias. Nossa Constituição é um exemplo. 7.7 Quanto à extensão Analítica, prolixa: são constituições longas e complexas. Com normas formalmente constitucionais. A Constituição Brasileira é um bom exemplo. Sintética, concisas, sumárias: restringem-se aos elementos substancialmente constitucionais. 7.8 Quanto ao modo de elaboração: Dogmática: Elaboradas em um momento determinado, refletem os valores (dogmas) daquela época, podendo ser classificadas em sua ideologia como ecléticas ou ortodoxas. São escritas. Históricas ou costumeiras: Formam-se a partir do lento evoluir da sociedade, dos seus costumes. Em razão desse lento processo de formação e sedimentação dos valores, não são escritas. 7.9 Quanto a finalidade - Constituição-garantia: Aquela que visa garantir a liberdade, limitando o poder; - Constituição-balanço: Enquanto a Constituição-garantia defende limites ao poder do Estado, esta reflete um estágio do compromisso socialista. Assim, a cada novo degrau da evolução socialista, haveria um novo texto constitucional. Exemplo: Constituições Soviéticas de 1924, 1936 e 1978. - Constituição-dirigente: aquela que traz um projeto de Estado, apresenta compromissos sociais e fornece meios para sua execução. A Constituição portuguesa de 1976 é um exemplo. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 23 7.10 Quanto a ontologia (correspondência com a realidade) - Normativas: Estão em plena consonância com a realidade social, conseguindo regular os fatos da vida política do Estado. - Nominativas: São elaboradas com a finalidade de, efetivamente, regular a vida política do Estado. - Semântica: São criadas apenas para legitimar o poder daqueles que já o exercem. Nunca tiveram o objetivo de regular a vida política do Estado. É típica de regime autoritários. • Promulgada • Outorgada • Cesarista Origem • Imutavel • Rígida • Semirrígida • Flexivel Mutabilidade • Escrita ou dogmática • Costumeira ou históricaForma • Material • FormalConteúdo • Reduzida • VariadaSistemática • Ortodoxa • EcléticaIdeologia • Analíticas e prolixas • Sintéticas e sumáriasExtensão • Dogmática • HistóricaElaboração • Constiutuição-Garantia • Constituição-Balanço • Constituição-Dirigente Finalidade • Normativas • Nominativas • Semântica Ontologia Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 24 8. Princípios constitucionais Os princípios são regras-mestras dentro do sistema normativo. Devem ser identificados dentro da Constituição de cada Estado as estruturas básicas, os fundamentos e os alicerces dela. Marque-se que os princípios constitucionais são aqueles que guardam os valores fundamentais da ordem jurídica. Devem guiar o operador do direito na aplicação das normas jurídicas. Neste sentido, seguindo as lições do saudoso professor José Afonso da Silva, podemos elencar alguns princípios constitucionais: a) Princípios político-constitucionais – construídos por decisões políticas fundamentais, estabelecem a forma, estrutura e governo do Estado (federalismo, democracia, por exemplo). b) princípios jurídico-constitucionais – são princípios constitucionais gerais informadores da ordem jurídica nacional. Tratam, em regra, de princípios derivados dos princípios políticos constitucionais. São os princípios da igualdade, da constitucionalidade, do juiz natural, das garantias constitucionais do processo, etc. Frise-se que os princípios constitucionais possuem algumas características: a) generalidade – são genéricos, não se aplicando a qualquer situação concreta; b) primariedade – são primários, deles decorrendo outros princípios; c) dimensão axiológica – os princípios constitucionais trazem valores éticos que refletem uma doutrina, um posicionamento político, devendo sofrer alteração quando tais valores também se alterem. 9. Normas constitucionais e inconstitucionais Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 25 A definição de normas constitucionais e inconstitucionais é bem simples, mas antes de definirmos cada uma, é importante uma noção introdutória do controle de constitucionalidade dos atos normativos. Neste aspecto, destaca-se que nos países que possuem Constituições rígidas, ou seja, aquelas que preveem, para sua própria alteração, um procedimento legislativo mais gravoso do que o estipulado para as leis ordinárias (como é o Brasil), institui-se uma espécie de pirâmide normativa (o que já vimos quando falamos de Supremacia da Constituição), em cujo ápice se localiza a Constituição. Deste modo, todos os atos normativos infraconstitucionais devem, por princípio, guardar compatibilidade com a respectiva Constituição. Sob pena de padecerem em razão da inconstitucionalidade. Assim sendo, a existência de uma Constituição rígida cria uma relação piramidal entre esta e as demais normas do mesmo ordenamento jurídico, que com ela devem guardar relação hierárquica. Marque-se que esse dever de compatibilidade vertical indica que a norma em hierarquia mais baixa deve corresponder a norma superior, e deste modo, todas devem guardar correspondência com a Constituição. Dois são os parâmetros que os atos normativos devem cumprir para não serem inconstitucionais: o formal e o material. O parâmetro formal diz respeito às regras constitucionais referentes ao processo legislativo, vale dizer, aos meios constitucionalmente, aptos a introduzir normas no sistema jurídico. A inobservância dessas regras procedimentais gera a inconstitucionalidade formal do ato normativo. Exemplo: O processo legislativo brasileiro estabelece regras para a promulgação de uma emenda constitucional, caso algum dos requisitos não seja cumprido durante o processo, a lei que eventualmente seja promulgada será inconstitucional por vício de formalidade. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 26 Por outro lado, temos a inconstitucionalidade material, ou seja, aquela que se refere ao conteúdo. Assim, a substância da norma, ou seja, seu tema, ainda que promulgada seguindo toda formalidade, não poderá contrariar o texto constitucional. Exemplo: uma lei que permita trabalhos forçados (proibidos pelo artigo 5º) será materialmente inconstitucional. Dito essas noções introdutórias, voltamos para os conceitos de normas constitucionais e inconstitucionais. Norma constitucional: será aquela que não afronta materialmente o texto da constituição e sempre guarda laço de relação com as normas de hierarquia superior. Normas infraconstitucionais: será aquela que possui algum vício de constitucionalidade, seja formal (quando não obedece aos procedimentos previstos no processo legislativo), ou ainda, material (quando o conteúdo não guarda relação com a Constituição Federal. 10. Reforma, emenda e revisão constitucional Caro aluno, para compreender este tópico é preciso distinguir bem que Reforma constitucional é gênero, dos quais emenda e revisão constitucional são espécies. Neste sentido, compete apontar que a reforma constitucional é uma característica presente nas Constituições que permitem a alteração de seu texto (por exemplo: a brasileira). São os mecanismos de mudanças previstos na Constituição Federal que possibilitam a modificação de seu texto original. Nessa linha, tomando por base a Constituição brasileira de1988 temos a emenda constitucional no artigo 60 e a revisão no artigo 3º da ADCT. - Emendas à Constituição: É a espécie normativa encarregada de inovar a ordem constitucional. Apresenta rito especialíssimo se comparado com o processo legislativo ordinário. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 27 De modo geral, podemos apontar algumas características principais da emenda constitucional, vamos a elas: a) Iniciativa: quem pode propor as emendas constitucionais? Um terço, no mínimo da Câmara dos deputados ou do Senado Federal; o Presidente da República; mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, por maioria relativa de seus membros. b) Deliberação: votada em cada Casa em dois turnos. A Constituição teve como ideia confirmar a votação, tornando mas firme a vontade da alteração do texto. c) Quórum: Três quintos dos votos das Casas; d) Vedações materiais (art. 60º, §4º): emenda constitucional não pode versar sobre esses temas: separação de Poderes, forma federativa, direitos e garantias individuais e voto secreto periódico, direto e universal. e) Vedações circunstanciais: não pode tramitar emenda constitucional na vigência de estado de sítio, estado de defesa e intervenção federal. Trata-se de regra que visa a permitir que a emenda constitucional apenas tramite em momentos de paz social. Entende-se, portanto, que o processo de inovação da Constituição deve ser feito em momentos em que não haja qualquer perturbação. f) Vedação procedimental: rejeitada ou havida prejudicada, a emenda não pode ser objeto de deliberação na mesma sessão legislativa. Trata-se de traço revelador da rigidez constitucional, já que, caso fosse uma lei ordinária ou complementar, poderia ela ser reapresentada, na mesma sessão legislativa, mediante a assinatura da maioria absoluta de qualquer das Casas Legislativas (art. 67 da CF). Visto esse parâmetro geral das emendas constitucionais, compete conhecer um pouco deste ato normativo na Constituição Federal, no artigo 60: Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 28 I – de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; II – do presidente da República; III – de mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros. A iniciativa da emenda constitucional é tema muito recorrente em provas, tenha bastante cuidado e memorize os responsáveis, são eles: - 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal; - Presidente da República; - Mais da METADE DAS ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS (Não confunda com Câmara municipal), com manifestação da MAIORIA RELATIVA; QuórumIniciativa Espécie normativa Emenda Constitucional Câmara dos Deputados ou do Senado Federal 1/3, no mínimo de seus membros Mais da metade de Assembleias Legislativas Maioria relativa de seus membros Presidente da República Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 29 O §1º trará a vedação circunstancial que vimos acima, ou seja, emenda constitucional não pode ser aprovada durante: - Intervenção federal; - Estado de defesa; - Estado de sítio; § 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio. Seguido. A emenda constitucional é a marca registrada de rigidez constitucional, isto se deve ao fato que sua votação é muito complexa e penosa, se compararmos com as leis ordinárias. Seu tramite nas Casas Legislativas ocorre da seguinte maneira: - A proposta é discutida nas duas casas, ou seja, é discutida tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado Federal; - Em dois turnos, isto é, a proposta é discutida duas vezes nas duas casas; N ão p o d e em en d ar Intervenção Estado de Defesa Estado de Sítio Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 30 - É aprovada se tiver 3/5 de votos dos respectivos membros, significa dizer que, em todas essas vezes que a proposta passa pelas casas, precisa-se de 3/5 dos votos para que possa ser aprovada. § 2º A proposta será discutida e votada em cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros. Depois de respeitado esse rigoroso tramite, caso aprovada, a emenda constitucional será PROMULGADA, pelas mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal. Perceba que são as duas mesas que promulgam a emenda. § 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem. O §4º apresenta a conhecida clausula pétrea. O que é isso? São aquelas matérias que nem emenda constitucional pode pensar em mexer, ou seja, não pode deliberar sobre esses assuntos. Veja a redação do dispositivo: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: I – a forma federativa de Estado; II – o voto direto, secreto, universal e periódico; III – a separação dos poderes; IV – os direitos e garantias individuais. Todos esses temas, não poderão ser deliberados por emenda constitucional, mas professor, se nem emenda constitucional pode, quem pode? Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 31 Apenas um poder constituinte originário seria capaz de modificar essas cláusulas, pois, estaríamos diante de uma nova assembleia constituinte, ou seja, de uma nova constituição. Deste modo, não se esqueça das cláusulas pétreas: Para finalizar o assunto emenda constitucional, temos a vedação procedimental, ou seja, emenda constitucional rejeitada, não pode ser discutida novamente na mesma sessão legislativa, ou seja, no mesmo ano. Por exemplo, foi proposta uma emenda constitucional em 20 de fevereiro de 2018 e foi rejeitada no mês seguinte. A mesma emenda só poderá ser discutida, novamente, na próxima sessão legislativa, ou seja, no início dos trabalhos do legislativo no ano de 2019. § 5º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa. - Revisão constitucional: Como o próprio nome sugere, a revisão constitucional é de fato “revisar” o texto normativo. É uma disposição legal transitória em nossa Carta Magna, ou seja, teria Forma federativa do Estado Voto direto, secreto, universal e periódico Separação dos poderes Direitos e Garantias individuais Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 32 tempo certo para acontecer, dependendo de aprovação do Congresso Nacional. Veja a redação: Ato das Disposições Constitucionais Transitórias Art. 3º A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. Marque-se que a norma já perdeu sua eficácia, pois, 5 anos após a promulgação da Constituição Federal de 1988, não foi realizada a revisão constitucional. 11. Dos princípiosfundamentais (Artigo 1º ao 4º) Caro aluno, vamos para o texto constitucional. Os quatro primeiros artigos da Constituição Federal são destinados aos alicerces do Estado brasileiro. Aqui, encontraremos quais os princípios que norteiam a República Federativa do Brasil, bem como sua formação, repartição de poderes, objetivos da República e como o Brasil se porta nas relações internacionais. O artigo 1º está assim transcrito: Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos estados e municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado democrático de direito e tem como fundamentos: I – a soberania; II – a cidadania; III – a dignidade da pessoa humana; IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V – o pluralismo político. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 33 Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. No caput, temos informações importantes a respeito da formação do Brasil. Logo de início a Constituição já demonstra a forma de estado adotada, qual seja, a Federação. Mas o que significa isso? A Federação indica que o Estado é composto de diversas entidades territoriais autônomas, dotadas de governo próprio. Por autonomia entende-se um conjunto de competências ou prerrogativas garantidas pela Constituição que não podem ser abolidas ou alteradas de modo unilateral pelo governo central. Assim, os Estados, Municípios e o Distrito Federal são entidades autônomas que forma a Federação Brasileira. Atenção: Territórios não compõe a federação brasileira. Como se verifica a Constituição adotou o Estado Democrático de Direito que designa a garantia e o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais, por meio do estabelecimento de uma proteção jurídica. Perfeito, já sabemos que o Brasil é uma Federação onde rege o Estado Democrático de Direito, mas quais seus fundamentos, ou seja, quais as bases que sustenta o Estado brasileiro? Estados Municípios e Distrito Federal Federação Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 34 A soberania prevista no inciso I indica a supremacia do Estado brasileiro em relação a toda a ordem interna e, de outro lado, a sua independência no plano internacional, indicando-se, desse modo, sua não subordinação a países ou organismos internacionais. Cuidado, não confunda soberania com autonomia. Os membros da federação são autônomos e não soberanos. Isso porque na Federação os entes reunidos apesar de não perderem suas personalidades jurídicas, abrem mão de algumas prerrogativas, em benefício do todo (Estado Federal). Dessas, principal é a soberania. Apenas o Estado Federal é soberano para o Direito Internacional. A cidadania, prevista no inciso II, indica a necessidade de incentivar as pessoas para participarem das decisões políticas do Estado. Demonstrando que cada cidadão é responsável pelo desenvolvimento do pais. A dignidade da pessoa humana, prevista no inciso III, nos remete ao pensamento de que cada ser humano tem um lugar na sociedade. Lugar este que deve ser garantido pelo direito, protegendo-o de preconceitos e exclusões sociais. Como sujeito de direito o indivíduo deve constantemente ser inserido na sociedade e como sujeito de obrigações ele não pode prescindir de sua pertinência à sociedade, na qual deve exercer seu papel de maneira ativa. A valorização social do trabalho e a livre iniciativa, previstos no inciso IV, norteiam que o Estado sempre valorize o trabalho, devendo promover sua proteção e sua expansão, resguardando os direitos do empregado e do empregador. Por fim, o pluralismo político, é fundamento de grande importância, pois, indica que o Estado é formado por indivíduos de diferentes ideais, de tolerância as diferentes posições políticas. É uma afirmação ao Estado Democrático de Direito previsto no caput. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 35 Os fundamentos da República Federativa do Brasil formam o recurso mnemônico SOCIDIVALPLU. Procure entender para depois guardar essa nomenclatura que poderá te ajudar na hora da prova. Não menos importante e decorrência lógica do Estado Democrático de Direito, o parágrafo único determina que todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituição. Compete ao povo escolher seus representantes, o que fazemos por meio de eleições. Aquele que conquistar o cargo, representará o povo em busca de melhorias para toda sociedade. O artigo 2º nos traz os poderes da União: Legislativo, Executivo e o Judiciário. Por meio destes três poderes que é mantido o equilíbrio do Estado, é a conhecida tripartição do poderes. SOCIDIVALPLUCIDADANIA SOBERANIA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA Valorização social do trabaho e livre iniciativa Pluralismo político Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 36 Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. Observe que entre eles existe duas relações. A primeira é a independência, ou seja, não existe subordinação entre eles; a segunda é a harmonia, que prevê uma cooperação e colaboração entre os poderes. A independência e a harmonia entre os Poderes do Estado indicam, como princípio, que cada um deles projeta uma esfera própria de atuação, cuja demarcação tem por fonte a própria norma constitucional. Embora cada poder desenvolva sua atividade típica (Legislativo legisla, Executivo, administra e Judiciário, julga), é possível que cada poder exerça a função de outro de maneira atípica, sem afrontar o equilíbrio dos poderes. Exemplo: quando o Legislativo está julgando um dos seus membros; ou o Judiciário está votando seu regimento interno. A independência entre os Poderes é limitada pelo sistema de freios e contrapesos. Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. É o que acontece, quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88). Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 37 Atenção a Súmula 649 do STF que afirma ser inconstitucional a criação, por Constituição Estadual, de órgão de controle administrativo do Poder Judiciário do qual participe representantes de outro Poderes ou entidades. Superado o artigo 2º, vamos para o 3º, onde estudaremos os objetivos da República Federativa do Brasil. Tome cuidado para não confundir os objetivos (art. 3º da CF) com os fundamentos já estudados (art. 1º). Nossa Carta Magna assim descreve seus objetivos: Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I – construir uma sociedade livre, justa e solidária; II – garantir o desenvolvimento nacional; III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Antes de analisarmos, perceba o teor do incisos, são vetores de comportamento que a RFB deve perseguir em todos os seus atos. Opropósito é guiar todo o conjunto ordenamental que irá aparecer nos dispositivos subsequentes, prendendo-os à realização de objetivos básicos em busca de uma Justiça Social. Construir uma sociedade livre, justa e solidária: o Estado é o grande responsável por sua sociedade. Compete a ele sempre perseguir uma sociedade equilibrada e harmoniosa. Garantir o desenvolvimento nacional: A RFB tem como objetivo o continuo desenvolvimento de toda nação, por meio de programas, leis, ações afirmativas. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 38 Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir desigualdades sociais e regionais: A busca de um Estado mais igual a todos, com a presença de todos os grupos sociais sem preconceitos ou marginalização. Promover o bem de todo, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação: somado ao inciso anterior, é a busca pelo fim dos preconceitos e discriminações. A respeito do inciso IV o STF já se pronunciou a respeito da livre orientação sexual, vale a pena conferir: Não se pode permitir que a lei faça uso de expressões pejorativas e discriminatórias, ante o reconhecimento do direito à liberdade de orientação sexual como liberdade existencial do indivíduo. Manifestação inadmissível de intolerância que atinge grupos tradicionalmente marginalizados. [ADPF 291, rel. min. Roberto Barroso, j. 28-10-2015, P, DJE de 11-5-2016.] Proibição de discriminação das pessoas em razão do sexo, seja no plano da dicotomia homem/mulher (gênero), seja no plano da orientação sexual de cada qual deles. A proibição do preconceito como capítulo do constitucionalismo fraternal. Homenagem ao pluralismo como valor sociopolítico-cultural. Liberdade para dispor da própria sexualidade, inserida na categoria dos direitos fundamentais do indivíduo, expressão que é da autonomia de vontade. Direito à intimidade e à vida privada. Cláusula pétrea. O sexo das pessoas, salvo disposição constitucional expressa ou implícita em sentido contrário, não se presta como fator de desigualação jurídica. Proibição de preconceito, à luz do inciso IV do art. 3º da CF, por colidir frontalmente com o objetivo constitucional de "promover o bem de todos". Silêncio normativo da Carta Magna a respeito do concreto uso do sexo dos indivíduos como saque da kelseniana "norma geral negativa", segundo a qual "o que não estiver juridicamente proibido, ou obrigado, está juridicamente permitido". Reconhecimento do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da "dignidade da pessoa humana": direito a autoestima no mais elevado ponto da consciência do indivíduo. Direito à busca da felicidade. Salto normativo da proibição do preconceito para a proclamação do direito à liberdade sexual. O concreto uso da sexualidade faz parte da autonomia da vontade das pessoas naturais. Empírico uso da sexualidade nos planos da intimidade e da privacidade constitucionalmente Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 39 tuteladas. Autonomia da vontade. Cláusula pétrea. (...) Ante a possibilidade de interpretação em sentido preconceituoso ou discriminatório do art. 1.723 do CC, não resolúvel à luz dele próprio, faz-se necessária a utilização da técnica de "interpretação conforme à Constituição". Isso para excluir do dispositivo em causa qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como família. Reconhecimento que é de ser feito segundo as mesmas regras e com as mesmas consequências da união estável heteroafetiva. [ADI 4.277 e ADPF 132, rel. min. Ayres Britto, j. 5-5-2011, P, DJE de 14-10-2011.] Visualize os objetivos da RFB, utilizando as palavras chaves de cada inciso, no esquema que se segue: Caro aluno, vimos os fundamentos da República do Brasil; conhecemos seus poderes e a relação entre eles, vimos quais os objetivos da RFB, certo? Por enquanto estamos apenas lidando com o relacionamento da RFB com seu público interno, ou seja, Objetivos (art.3º ) Construir Promover Erradicar e Reduzir Garantir Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 40 a sociedade que aqui vive. Mas e quando a RFB se relaciona com outros países, no cenário internacional, qual o seu comportamento? O artigo 4º responde essa pergunta, pois irá elencar os princípios que regem a RFB nas relações internacionais, vem comigo. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I – independência nacional; II – prevalência dos direitos humanos; III – autodeterminação dos povos; IV – não-intervenção; V – igualdade entre os estados; VI – defesa da paz; VII – solução pacífica dos conflitos; VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X – concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Observe como é bem disciplinar a maneira que RFB ira se comportar no cenário internacional, são dez incisos! Atenção! Na hora da prova o examinador adora fazer uma salada mista entre fundamentos, objetivos, e os princípios que regem a RFB nas relações internacionais. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 41 Independência nacional: decorre da soberania prevista no artigo 1º, I. No plano internacional a RFB age com total independência e não se subordina a qualquer outro ente estrangeiro. Neste sentido, posiciona-se o STF: O art. 1º da Constituição assenta como um dos fundamentos do Estado brasileiro a sua soberania – que significa o poder político supremo dentro do território, e, no plano internacional, no tocante às relações da República Federativa do Brasil com outros Estados soberanos, nos termos do art. 4º, I, da Carta Magna. A soberania nacional no plano transnacional funda-se no princípio da independência nacional, efetivada pelo presidente da República, consoante suas atribuições previstas no art. 84, VII e VIII, da Lei Maior. A soberania, dicotomizada em interna e externa, tem na primeira a exteriorização da vontade popular (art. 14 da CRFB) através dos representantes do povo no parlamento e no governo; na segunda, a sua expressão no plano internacional, por meio do presidente da República. No campo da soberania, relativamente à extradição, é assente que o ato de entrega do extraditando é exclusivo, da competência indeclinável do presidente da República, conforme consagrado na Constituição, nas leis, nos tratados e na própria decisão do Egrégio STF na Ext 1.085. O descumprimento do tratado, em tese, gera uma lide entre Estados soberanos, cuja resolução não compete ao STF, que não exerce soberania internacional, máxime para impor a vontade da República Italiana ao chefe de Estado brasileiro, cogitando-se de mediação da Corte Internacional de Haia, nos termos do art. 92 da Carta das Nações Unidas de 1946. [Rcl 11.243, rel. p/ o ac. min. Luiz Fux, j. 8-6-2011, P, DJE de 5-10-2011.] Prevalência dos direitos humanos: Este princípio decorre de todo comportamento da RFB no ambiente interno. Um de seus fundamentos é a dignidade da pessoa humana; seus objetivos estão ligados a diminuição de preconceito e erradicação depobreza. A prevalência dos direitos humanos é a exteriorização desta missão interna. Por essa razão, que tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e são aprovados por quórum especial, são equiparados a emendas constitucionais. Nesta linha, veja o posicionamento do STF: Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 42 A comunidade internacional, em 28-7-1951, imbuída do propósito de consolidar e de valorizar o processo de afirmação histórica dos direitos fundamentais da pessoa humana, celebrou, no âmbito do direito das gentes, um pacto de alta significação ético-jurídica, destinado a conferir proteção real e efetiva àqueles que, arbitrariamente perseguidos por razões de gênero, de orientação sexual e de ordem étnica, cultural, confessional ou ideológica, buscam, no Estado de refúgio, acesso ao amparo que lhes é negado, de modo abusivo e excludente, em seu Estado de origem. Na verdade, a celebração da Convenção relativa ao Estatuto dos Refugiados – a que o Brasil aderiu em 1952 – resultou da necessidade de reafirmar o princípio de que todas as pessoas, sem qualquer distinção, devem gozar dos direitos básicos reconhecidos na Carta das Nações Unidas e proclamados na Declaração Universal dos Direitos da Pessoa Humana. Esse estatuto internacional representou um notável esforço dos povos e das nações na busca solidária de soluções consensuais destinadas a superar antagonismos históricos e a neutralizar realidades opressivas que negavam, muitas vezes, ao refugiado – vítima de preconceitos, da discriminação, do arbítrio e da intolerância – o acesso a uma prerrogativa básica, consistente no reconhecimento, em seu favor, do direito a ter direitos. [Ext 783 QO-QO, rel. p/ o ac. min. Ellen Gracie, voto do min. Celso de Mello, j. 28-11-2001, P, DJ de 14-11-2003.] Autodeterminação dos povos: é o princípio que garante a todo povo de um país o direito de se autogovernar, realizar suas escolhas sem intervenção externa, exercendo soberanamente o direito de determinar o próprio estatuto político. Não-intervenção: Significa que a RFB não irá “se meter” nos negócios que estejam ocorrendo em outros países. Por outro lado, significa que a RFB não irá tolerar a tentativa de intervenção por algum ente internacional. Igualdade entre os Estados: igualdade de tratamento no cenário internacional com qualquer ou Estado. Defesa da paz: o Brasil é um país pacífico e indica expressamente essa conduta nas suas relações internacionais. Solução pacífica do conflitos: extensão do inciso anterior. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 43 Repúdio ao terrorismo e ao racismo: seguindo toda a lógica do texto constitucional até então, o repúdio ao terrorismo e ao racismo são princípio fortes que regem a atuação da RFB no cenário internacional. Observe o rigor a respeito do terrorismo nessa decisão do STF: O repúdio ao terrorismo: um compromisso ético-jurídico assumido pelo Brasil, quer em face de sua própria Constituição, quer perante a comunidade internacional. Os atos delituosos de natureza terrorista, considerados os parâmetros consagrados pela vigente CF, não se subsumem à noção de criminalidade política, pois a Lei Fundamental proclamou o repúdio ao terrorismo como um dos princípios essenciais que devem reger o Estado brasileiro em suas relações internacionais (CF, art. 4º, VIII), além de haver qualificado o terrorismo, para efeito de repressão interna, como crime equiparável aos delitos hediondos, o que o expõe, sob tal perspectiva, a tratamento jurídico impregnado de máximo rigor, tornando-o inafiançável e insuscetível da clemência soberana do Estado e reduzindo-o, ainda, à dimensão ordinária dos crimes meramente comuns (CF, art. 5º, XLIII). A CF, presentes tais vetores interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo, que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver em consideração a relevantíssima circunstância de que a Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha impregnada a prática da criminalidade política. [Ext 855, rel. min. Celso de Mello, j. 26-8-2004, P, DJ de 1º-7-2006.] Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade: Seguindo a linha da defesa da paz e da solução pacífica de conflito, a RFB tem como vetor de comportamento no âmbito internacional de sempre cooperar em prol do progresso da humanidade. Concessão de asilo político: o asilo político é uma mecanismo jurídico que protege o cidadão estrangeiro perseguido por delitos políticos, convicções religiosas ou situação raciais. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 44 Vamos elencar os incisos para fácil visualização: Falta analisar o parágrafo único do artigo 4º. Vamos recordar o que está escrito: Art. 4º (...) Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. O parágrafo único pretende um fortalecimento econômico, político, social e cultural dos povos da América Latina, com vistas a formar uma comunidade integrada. Estamos diante de uma norma programática, ou seja, indica diretrizes para atuação futura da RFB. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 45 Terminamos o título I da Constituição Federal que trata dos princípios fundamentais da RFB. Agora é a hora de fazer questões. Qualquer dúvida, me contate no fórum. Até a próxima aula! Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 46 12. Questões comentadas 1 – CESPE – TRT – 7ª Região - De acordo com a teoria constitucional majoritária, a constituição é classificada como a) consuetudinária, se fundamentada em documentos formais, rejeitando a possibilidade de as regras serem embasadas nos costumes constitucionais. b) rígida, se for passível de alterações por meio de um processo legislativo mais restrito do que o previsto para a edição de leis ordinárias. c) cesarista, se promulgada sem nenhuma submissão à ratificação popular. d) material, se for escrita e representada por meio de um único documento solene. Comentários: Alternativa a) está incorreta. a) consuetudinária, se fundamentada em documentos formais, rejeitando a possibilidade de as regras serem embasadas nos costumes constitucionais. Consuetudinário é o sistema normativo que decorre dos costumes, por essa razão não se utilizam de documentos formais, pelo contrário suas regras são embasadas por costumes que perduram ao longo dos séculos. Alternativa b) está correta. b) rígida, se for passível de alterações por meio de um processo legislativo mais restrito do que o previsto para a edição de leis ordinárias. Quanto a mutabilidade as Constituições podem ser imutáveis, rígidas, semirrígidase flexíveis. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 47 São rígidas aquelas Constituições que permitem mudança em seu texto, mas apresentam um processo legislativo mais complexo e dificultoso se comparamos com a alteração de uma lei ordinária. Alternativa c) está incorreta. c) cesarista, se promulgada sem nenhuma submissão à ratificação popular. Vimos que a principal característica de uma Constituição Cesarista é a ratificação por um referendo. Alternativa d) está incorreta. d) material, se for escrita e representada por meio de um único documento solene. Cuidado! O examinador tentou confundir os conceitos. Constituição Material é a classificação quanto ao conteúdo e nada se relaciona com a apresentação de um documento solene, em que estamos diante de uma Constituição escrita classificada quanto a forma. Resposta: Letra B. 2 – CESPE – TRT 7ª REGIÃO (ADAPTADA) - A respeito das concepções e classificações das constituições, assinale a opção correta. a) Conforme o critério ontológico, as constituições podem ser normativas (ou dogmáticas), nominalistas ou semânticas. b) Na classificação tradicional, que considera o conteúdo, uma constituição pode ser material (ou estável) ou formal (ou analítica). c) A Constituição Dogmática é elaborada em um momento determinado, refletem os valores (dogmas) da sua época. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 48 d) Constituição-garantia é aquela que traz um projeto de Estado, apresenta compromissos sociais e fornece meios para sua execução. Comentários: Alternativa a) está incorreta. O examinado foi bem malandro nessa alternativa. Isto porque, pelo critério ontológico a Constituição pode ser elencada em normativa, nominalista e semântica. Mas, ocorre que normativa não é sinônimo de dogmática, critério que classifica a Constituição quanto ao modo de elaboração. Alternativa b) está incorreta. b) Na classificação tradicional, que considera o conteúdo, uma constituição pode ser material (ou estável) ou formal (ou analítica). Correta a alternativa quando afirma que em relação ao conteúdo a Constituição pode ser classificada em material e formal. Contudo, classificar a Constituição como material, não é a mesma coisa que estável, bem como, dizer que é formal, não tem o mesmo significado de analítica (classificação quanto a extensão). Alternativa c) está correta. c) A Constituição Dogmática é elaborada em um momento determinado, refletem os valores (dogmas) da sua época. Perfeita a definição. A Constituição quanto ao modo de elaboração poderá ser dogmática ou histórica. Dogmática é aquela que se pauta em dogmas e refletem os valores da época em que é criada. Alternativa d) está incorreta. A definição apresentada não diz respeito a Constituição-Garantia, mas diz respeito a Constituição-Dirigente. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 49 Resposta: Letra C. 3 – CESPE – TRT 7ª REGIÃO - Classifica-se a Constituição Federal de 1988 (CF) como: a) histórica, pelo critério do modo de elaboração. b) cesarista e outorgada, pelo critério de origem. c) eclética e ortodoxa, pelo critério da dogmática. d) prolixa, pelo critério da extensão das matérias contempladas no texto constitucional. Comentários: Alternativa a) está incorreta. a) histórica, pelo critério do modo de elaboração. Quanto ao modo de elaboração, nossa Constituição é dogmática, pois foi elaborado em um determinado momento (1988), buscando refletir os valores sociais que cresciam na época. Alternativa b) está incorreta. b) cesarista e outorgada, pelo critério de origem. A Constituição de 1988, considerado o critério de origem, foi promulgada, pois, surgiu de um processo democrático, exercido por um Poder Constituinte originário, representado pela Assembleia Constituinte. Alternativa c) está incorreta. c) eclética e ortodoxa, pelo critério da dogmática. Há dois erros na alternativa. O primeiro é que eclética e ortodoxa fazem parte do mesmo critério, qual seja, à ideologia. Assim, seria um ou outro. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 50 O outro erro está em afirmar que se trata do critério dogmático, que nem critério é, mas faz parte da classificação por elaboração. Alternativa d) está correta. d) prolixa, pelo critério da extensão das matérias contempladas no texto constitucional. Nossa Constituição possui normas materialmente constitucionais e formalmente constitucionais. Essa característica torna o texto constitucional carregado e muito prolixo. Resposta: Letra D. 4 – MPT – PROCURADOR DO TRABALHO -Considerados os critérios da finalidade, do conteúdo e da alterabilidade, classifica-se a Constituição da República de 1988 como: a) Constituição-dirigente, formal e rígida. b) Constituição-garantia, formal e flexível. c) Constituição-dirigente, material e flexível. d) Constituição-garantia, material e rígida. Comentários: Alternativa a) está correta. a) Constituição-dirigente, formal e rígida. Vamos analisar nossa constituição. Você acredita que ela seja dirigente ou garantista? Analise alguns artigo que você irá notar que nossa Constituição apresentar diversos compromissos sociais e Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 51 apresenta um projeto de Estado. Cito como exemplo a parte destinada aos “Direitos Sociais”. Perceba que são diretrizes para a conduta do Estado. Quanto ao conteúdo temos o critério formal e material. Em nossa aula verificamos que a Constituição de 1988 apresenta normas formalmente constitucionais. Por fim, sabemos que nossa Carta Magna é rígida, pois, o processo de mudança do texto constitucional é muito trabalhoso, comparado ao de uma lei ordinária. Resposta: Letra A. 5 – LEGALLE CONCURSOS - PROCURADOR As Constituições podem ser classificadas de diversas formas, seja quanto à sua origem, ideologia ou modo de elaboração, como exemplos. Atualmente, o Brasil possui a Constituição Federal de 1988 como a vigente em todo o território nacional. Qual das alternativas apresenta três classificações corretas dessa Constituição? a) Eclética, quanto à ideologia; semirrígida, quanto à alterabilidade; e escrita codificada, quanto à forma. b) Promulgada, quanto à origem; material, quanto ao conteúdo; e constituição- garantia, quanto à finalidade. c) Dogmática, quanto ao modo de elaboração; formal, quanto ao conteúdo; e ortodoxa, quanto à ideologia. d) Escrita codificada, quanto à forma; pragmática, quanto à ideologia; e sintética, quanto à extensão. Direito Constitucional – Técnico Legislativo – ALESE Aula 01 Prof. William Cepkauskas Petrachini 52 e) Analítica, quanto à extensão; dogmática, quanto ao modo de elaboração; e rígida, quanto à alterabilidade. Comentários: Alternativa a) está incorreta. a) Eclética, quanto à ideologia; semirrígida, quanto à alterabilidade; e escrita codificada, quanto à forma. Nossa Constituição é rígida quanto sua alterabilidade (ou mutabilidade). Alternativa b) está incorreta. b) Promulgada, quanto à origem; material, quanto ao conteúdo; e constituição- garantia, quanto à finalidade. Nossa Constituição é formal quanto ao contéudo e constituição-dirigente quando a finalidade.
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