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Unidade I Ilicitos Eleitorais

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1 
 
CURSO DE FORMAÇÃO CONTINUADA EM 
DIREITO ELEITORAL 
 
 
UNIDADE I – ILÍCITOS ELEITORAIS 
 
Conteúdo: Marcelo Roseno de Oliveira 
Caio Silva Guimarães 
Revisão: Raquel Ramos Machado 
Caroline Sant’ Ana Delfino 
 
1. UM OLHAR ATUAL SOBRE OS ILÍCITOS ELEITORAIS 
 
Eleição é disputa, competição, concorrência, e, como tal, deve observar normas 
preestabelecidas e equânimes, ou, do contrário, poderá se transformar num autêntico vale-
tudo, cujo único princípio observável – apto a justificar todos os meios empregados – será 
aquele segundo o qual “feio é perder”. 
A submissão às “regras do jogo”, todavia, nem sempre se dá de espontaneamente. Ao 
contrário, o acirramento dos ânimos acaba, comumente, por estimular transgressões, 
arriscando alguns valores que são essenciais à própria sobrevivência do regime democrático. 
Assim, embora as normas eleitorais tenham, precipuamente, escopo regulatório – com 
o principal fim de garantir o equilíbrio da disputa ou de nivelar o campo de jogo –, não podem 
prescindir do caráter punitivo. Nessa linha, o rigor das sanções deve contribuir para inibir os 
desvios, impondo coercitivamente que candidatos, apoiadores e demais eleitores orientem sua 
atuação a partir dos limites estabelecidos quanto ao que é permitido e ao que é proibido. 
 
 
IMPORTANTE 
O estabelecimento dessas normas é uma das principais tarefas da denominada governança 
eleitoral, revelando-se essencial para que atuem as demais, especialmente a administração 
das eleições e o contencioso. Na definição de Mozaffar e Schedler (2002, p. 7), a electoral 
governance pode ser entendida como o vasto conjunto de atividades que criam e mantém a 
estrutura institucional em que se desenvolve a competição eleitoral, atuando em três 
 
2 
 
esferas: rule making, que abrange o estabelecimento das regras básicas do jogo eleitoral; 
rule application, que diz respeito à aplicação dessas normas; e rule adjudication, tarefa 
relacionada ao julgamento dos litígios que surgem durante a competição (o chamado 
contencioso eleitoral). 
 
 
O arcabouço normativo do Direito Eleitoral brasileiro, quando analisado 
especificamente sob a perspectiva da definição de ilícitos e das respectivas sanções, mostra-se 
rigorosamente amplo. É raro que se detecte comportamento potencialmente apto a 
comprometer a correção das disputas e que não esteja assim valorado pela legislação – ora no 
âmbito dos crimes eleitorais, ora como infrações cíveis. 
Quando um “vácuo” normativo ou interpretativo é detectado, os órgãos que operam 
nesse campo – especialmente o Congresso Nacional e o Tribunal Superior Eleitoral, este 
muitas vezes acusado de atuar anomalamente ao buscar ampliar a sua função normativa, hoje 
expressamente limitada pelo art. 105, da Lei das Eleições – têm agido para dirimi-lo, 
mediante edição de novas normas e deliberações, disciplinando comportamentos ilícitos e 
fixando-lhe as respectivas consequências. 
Um exemplo recente dessa atuação, no caso do TSE, pode ser identificado pela 
previsão constante do art. 14, § 7º, da Resolução nº 23.457/2015, que disciplinou a 
propaganda eleitoral nas eleições de 2016, estabelecendo que o 
 
[...] derrame ou a anuência com o derrame de material de propaganda no local de 
votação ou nas vias próximas, ainda que realizado na véspera da eleição, configura 
propaganda irregular, sujeitando-se o infrator à multa prevista no § 1º do art. 37 da 
Lei nº 9.504/1997, sem prejuízo da apuração do crime previsto no inciso III do § 5º 
do art. 39 da Lei nº 9.504/1997. 
 
Constata-se, porém, que o legislador brasileiro tem preferido a punição de ilícitos 
eleitorais fora da esfera estritamente penal. Prova disso é que grande parte das condutas 
definidas como crime está disposta no Código Eleitoral, editado em 1965, e não passou por 
atualizações desde então. Passados mais de 50 anos, e tendo sido editado num período de 
cerceamento das liberdades democráticas, é natural imaginar que a realidade das disputas 
eleitorais no Brasil de 1965 era bastante diferente daquela atualmente vivida e que, em razão 
disso, o rol de condutas penalmente relevantes pode não se revelar o mais consentâneo com os 
tempos atuais. 
Por outro lado, diversos comportamentos têm sido definidos como ilícitos na 
legislação eleitoral mais recente, notadamente em atualizações da Lei das Eleições; todavia, 
 
3 
 
os mais relevantes têm sido tratados no campo da ilicitude extrapenal, como ocorre, por 
exemplo, com a captação ilícita de votos (art. 41-A), a arrecadação e gastos de recursos em 
desacordo com a lei (art. 30-A) e as condutas vedadas a agentes públicos em campanhas 
eleitorais (art. 73), as quais podem atrair sanções como multa e cassação do registro ou do 
diploma do candidato, de cuja condenação poderá resultar, ainda que sem constituir pena, a 
inelegibilidade pelo prazo de oito anos, consoante previsão do art. 1º, inciso I, alínea “j”, da 
Lei Complementar nº 64/90. 
Observa-se que uma das características desses ilícitos eleitorais é a de que as condutas, 
em regra, são sancionadas com a cassação do registro da candidatura (e o consequente 
afastamento da disputa) ou do diploma (impedindo, assim, o desempenho do mandato). Esse 
tratamento acaba por revelar que a valoração realizada pelo legislador caminha no sentido de 
que algumas condutas podem se apresentar mais graves aos olhos de candidatos quando 
sancionadas com reprimendas que atinjam a sua pretensão eleitoral, do que propriamente no 
campo penal, cuja produção de efeitos se mostra remota. 
É certo que, em casos específicos, uma condenação criminal – mesmo quando ainda 
passível de revisão, desde que proferida por órgão colegiado – tem o condão de gerar a 
inelegibilidade do réu, e que, uma sentença condenatória definitiva imporia a suspensão dos 
direitos políticos durante o cumprimento da pena. No entanto, tais consequências parecem 
perder espaço diante da preferência atual do legislador quanto a sancionar os ilícitos no 
campo extrapenal. 
 
 
IMPORTANTE 
De acordo com Hungria (1945, p. 24), “a ilicitude é uma só, do mesmo modo que um só, 
na essência, é o dever jurídico”, de modo que não há, ontologicamente, diferença entre os 
diversos tipos de ilícitos. A distinção estaria, tão somente, quanto ao grau da violação: “a 
maior ou menor gravidade ou imoralidade de uma em cotejo com outra”. 
Na mesma linha, Cretella Júnior (1973, p. 137) afirma que “a figura do ilícito, em si, não é 
peculiar a nenhum dos ramos da ciência jurídica, nem no âmbito do direito público, nem 
no âmbito do direito privado, pertencendo seu conceito genérico à teoria geral do direito 
que, abstraindo as notas tipificadoras do instituto, aqui e ali, chega ao conceito categorial 
puro, in genere, que abrange todos e cada um dos matizes assumidos pela infração na 
esfera penal, administrativa, civil, tributária, financeira, trabalhista”. 
Para o autor, “a substância ou materialidade do ilícito é sempre um fato, que ocasiona um 
dano, o que gera responsabilidades e sanções, em razão das perturbações causadas ao 
particular, à sociedade, à Administração, ou às pessoas jurídicas privadas”. 
 
4 
 
Já para Mirabete (1998, p. 95), não existe diferença ontológica entre crime (ilícito penal) e 
ilícito civil, uma vez que ambos representam violações ao ordenamento jurídico: “Ocorre 
que, entendendo o legislador que determinados fatos antijurídicos não atingem bens 
jurídicos tão relevantes que devam ser protegidos pela lei penal, não os eleva à categoria 
de ilícito penal. Resulta, pois, que a única diferença entre o ilícito penal e o ilícito civil é 
meramente formal, ou seja, aquela estabelecida pela lei penal. Estabeleceo legislador, por 
meio das figuras penais, quais os ilícitos devem ser reprimidos mediante sanções penais, 
prevendo-os como ilícitos penais, enquanto os demais estarão sujeitos apenas às sanções 
civis (indenização, restituição, multa civil etc.), administrativas (suspensão e demissão de 
funcionário etc.), tributárias (multa tributária, acréscimos etc.) etc. Estes serão então 
ilícitos civis, administrativos, tributários etc”. 
 
 
As normas reportadas, previstas na Lei nº 9.504/97, definem ilícitos cíveis eleitorais, 
havendo, como dito, uma perceptível tendência do legislador, nesse campo, a não investir na 
ampliação do rol de crimes eleitorais, o que parece mesmo atender aos atributos da 
subsidiariedade e da fragmentariedade que devem marcar o Direito Penal, preferindo 
sancionar os comportamentos antijurídicos no campo extrapenal, de modo que se afasta a 
cominação de penas privativas de liberdade. 
 
 
IMPORTANTE 
Para Nucci (2009, p. 32), a subsidiariedade e a fragmentariedade podem ser classificadas 
como princípios constitucionais implícitos. O primeiro, da subsidiariedade ou da 
intervenção mínima, “quer dizer que o direito penal não deve interferir em demasia na vida 
do indivíduo, retirando-lhe autonomia e liberdade. Afinal, a lei penal não deve ser vista 
como a primeira opção (prima ratio) do legislador para compor os conflitos existentes em 
sociedade e que, pelo atual estágio de desenvolvimento moral e ético da humanidade, 
sempre estarão presentes. Há outros ramos do direito preparados a solucionar as 
desavenças e lides surgidas na comunidade, compondo-as sem maiores consequências. O 
direito penal é considerado a última ratio, isto é, a última cartada do sistema legislativo, 
quando se entende que outra solução não pode haver senão a criação de lei penal 
incriminadora, impondo sanção penal ao infrator. […] Enfim, o direito penal deve ser visto 
como subsidiário dos demais ramos do direito. Fracassando outras formas de punição e de 
composição de conflitos, lança-se mão da lei penal para coibir comportamentos 
desregrados, que possam lesionar bens jurídicos tutelados”. Já o princípio da 
fragmentariedade significa que “nem todas as lesões a bens jurídicos protegidos devem ser 
tuteladas e punidas pelo direito penal, pois este constitui apenas uma parte do ordenamento 
jurídico. Fragmento é apenas a parte de um todo, razão pela qual o direito penal deve ser 
 
5 
 
visto, no campo dos atos ilícitos, como fragmentário, ou seja, deve ocupar-se das condutas 
mais graves, verdadeiramente lesivas à vida em sociedade e passíveis de causar distúrbios 
de monta à segurança pública e à liberdade individual. O mais deve ser resolvido pelos 
outros ramos do direito, por meio de indenizações civis ou punições administrativas. Não 
deixa de ser um corolário do princípio da intervenção mínima ou da subsidiariedade do 
direito penal”. 
 
 
A incidência de tais princípios pode ser creditada como uma das razões para um certo 
comedimento do legislador, o qual, porém, não se revela suficiente para aplacar as constantes 
críticas da doutrina especializada quanto ao fato de que o atual rol de crimes eleitorais 
continua a contemplar condutas que poderiam ser punidas de modo eficaz como meras 
infrações cíveis, havendo, inclusive, como recorda Michells (2004, p. 168), uma 
impropriedade ao se definir como crimes alguns comportamentos que são sancionados 
exclusivamente com multa, contrariando o art. 1º, da Lei de Introdução ao Código Penal 
(Decreto-Lei nº 3.914, de 9 de dezembro de 1941), que só admite tal tratamento às 
contravenções. 
Além disso, é necessário recordar que as dificuldades para punir eficazmente, no 
âmbito criminal, determinados comportamentos ilícitos, têm estimulado a adoção de soluções 
legislativas no campo extrapenal, como ocorreu com a criação, mediante proposta de 
iniciativa popular, da figura da captação ilícita de sufrágio (art. 41-A da Lei das Eleições, 
introduzido pela Lei nº 9.840/99), sancionando, com cassação do registro ou do diploma e 
multa, o candidato que pratica a compra de votos. Tal conduta, ainda que não voltada 
especificamente para a figura do candidato como sujeito ativo, já era definida como crime de 
corrupção eleitoral, previsto no art. 299 do Código Eleitoral; todavia, os entraves a uma 
efetiva punição, desde a investigação a cargo da Polícia Judiciária até o processo e julgamento 
na Justiça Eleitoral, acabaram por incentivar o estabelecimento de novas sanções em campo 
diverso. 
Ainda assim, não se pode esquecer que a Lei nº 9.504/97, definiu como crimes 
algumas condutas relacionadas às pesquisas eleitorais (arts. 33, § 4º e 34, §§ 2º e 3º); à 
propaganda eleitoral (arts. 39, § 5º, 40 e 57-H, §§ 1º e 2º); à votação e apuração (arts. 68, §2º, 
70, 72 e 87, §4º); ao alistamento eleitoral (art. 91, Parágrafo Único); além do crime de 
responsabilidade imputável a magistrados e membros do Ministério Público que não 
observem a prioridade dos feitos eleitorais durante o lapso legalmente fixado (art. 94, §2º). 
 
6 
 
É certo que, atualmente, os constantes escândalos políticos que têm como pano de 
fundo o financiamento das campanhas eleitorais fazem crescer os reclamos no sentido da 
criminalização de determinadas condutas relacionadas à disputa eleitoral, como é o caso da 
prática de “caixa dois”, e que constituiu objeto, dentre outras proposições legislativas, da 
proposta de iniciativa popular intitulada “10 Medidas contra a Corrupção”, encetada pelo 
Ministério Público Federal. 
A proposição visava, originalmente, a alterar a Lei das Eleições para tipificar como 
crimes a conduta do “caixa 2” e a variante eleitoral da lavagem de dinheiro, sob o argumento 
de que “são situações que apresentam ‘dignidade penal’, em razão de sua grande repercussão 
nas disputas eleitorais, que podem ser, por essa prática, desequilibradas”, além do que se 
verificaria “insuficiência das sanções extrapenais, como a rejeição das contas de candidatos 
ou partidos e mesmo a cassação do diploma que, por definição, só alcança candidatos eleitos”. 
Após a tramitação na Câmara (PL nº 4.850/2016), o texto, aprovado e remetido à 
apreciação do Senado (PLC nº 27/2017), contemplou apenas a criminalização do caixa dois, 
ainda assim mediante possível alteração do Código Eleitoral (com a inserção do art. 354-A), 
além de propor que se passasse a punir a corrupção eleitoral passiva, de modo a alcançar o 
eleitor que negocie ou proponha a negociação do voto, com candidato ou seu representante, 
em troca de dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, conduta que passaria a ser punida 
com as mesmas penas da corrupção ativa: reclusão de um a quatro anos e multa (art. 299-A). 
A matéria continua sob apreciação do Senado. Se transformado em lei, o projeto 
ocasionará um elastecimento do rol de crimes previstos no Código Eleitoral, medida que, 
como dito, não tem sido comum desde a sua edição. Ainda assim, cabe recordar que o 
Anteprojeto do Código Penal, em tramitação no Senado (PLS nº 236/2012), destinou um 
capítulo aos crimes eleitorais, o qual, comparativamente ao atual rol estabelecido no Código 
Eleitoral, passaria por uma sensível redução, contemplando apenas 14 (quatorze) tipos penais 
(arts. 325 a 338), com o que parece caminhar no sentido de observar os postulados da 
subsidiariedade e da fragmentariedade. 
Para além das questões relacionadas à política criminal, constata-se que a extensão de 
medidas despenalizadoras aos crimes eleitorais, especialmente a partir da entrada em vigor da 
Lei nº 10.259/2001 (Lei dos Juizados Especiais Federais), tem importado que um número 
significativo de procedimentos criminais seja solucionados mediante realização de transaçãopenal ou da suspensão condicional do processo, esta última favorecida, no campo das 
 
7 
 
infrações penais eleitorais, pela previsão do art. 284 do Código Eleitoral, segundo a qual os 
crimes punidos com reclusão tomarão como base, em regra, a reprimenda mínima de um ano. 
 
 
IMPORTANTE 
Diversos crimes previstos no Código Eleitoral não contam com a indicação específica de 
pena mínima, mas tão somente da pena máxima. Aplica-se, em razão disso, a regra geral 
do art. 284 do Código Eleitoral, segundo a qual sempre que não se indicar o grau mínimo 
“entende-se que será ele de 15 (quinze) dias para a pena de detenção e de 1 (um) ano para 
a de reclusão”. 
 
 
Infrações penais de grande incidência no cotidiano das disputas, como a realização de 
propaganda de boca de urna (art. 39, § 5º, da Lei das Eleições) ou a corrupção eleitoral 
(Código Eleitoral, art. 299) tendem a ser alcançadas, ora pela transação, ora pelo sursis 
processual, de modo que têm se tornado pouco frequentes nos juízos e tribunais eleitorais as 
ações penais que chegam a um efetivo julgamento. 
 
 
IMPORTANTE 
Já está pacificada a aplicação da Lei nº 9.099/95 aos crimes eleitorais que preencham os 
requisitos necessários, mesmo ainda não tendo sido criados os Juizados Especiais 
Criminais Eleitorais. 
 
Segundo entendimento do Tribunal Superior Eleitoral, tanto a transação penal quanto a 
suspensão condicional do processo têm aplicabilidade aos crimes eleitorais, exceto quanto 
aos delitos que cominem penas que ultrapassem a perda da liberdade e multa, como a 
cassação do registro da candidatura. 
Tanto a transação penal quanto a suspensão condicional do processo devem ser propostas 
exclusivamente pelo órgão do Ministério Público, titular da ação penal pública. 
A suspensão condicional do processo terá cabimento quando a pena mínima cominada for 
igual ou inferior a um ano. Aceito e homologado o sursis processual, o processo ficará 
suspenso logo após o recebimento da denúncia e, findo o período de prova, será extinta a 
punibilidade do acusado sem que este tenha admitido sua culpa ou tenha sua inocência 
declarada. 
 
 
 
8 
 
Por outro lado, ainda remanesce o crime de transporte irregular de eleitores, previsto 
na Lei nº 6.091/74 (art. 11, inciso III), como uma infração que, punida com reclusão de quatro 
a seis anos, além do pagamento de multa, não comporta quaisquer das medidas 
despenalizadoras. 
A Lei nº 6.091/74, aliás, é um dos exemplos da legislação extravagante que, à 
semelhança do Código Eleitoral e da Lei das Eleições, já reportados, contempla crimes 
eleitorais. É possível, ainda, encontrar infrações penais eleitorais na Lei nº 6.996/82, 
especialmente em seu art. 15, que caracteriza como crime a conduta de alterar resultados 
eleitorais por ocasião do processamento eletrônico da apuração de cédulas; na Lei nº 
7.021/82, notadamente no art. 5º, que pune quem destruir, suprimir ou danificar a relação de 
candidatos afixada no local de funcionamento das mesas receptoras de votos; e na Lei 
Complementar nº 64/90, que criminaliza a conduta de arguir inelegibilidade ou ajuizar ação 
de impugnação de registro em razão de interferência do poder econômico, abuso do poder 
político, ou ainda fazê-lo de forma temerária ou de manifesta má-fé (art. 25). 
Não obstante as figuras típicas estejam previstas no Código Eleitoral e em legislação 
esparsa, não se afasta a aplicação subsidiária da parte geral do Código Penal, conforme 
previsão do art. 287, do CE. Por outro lado, nos crimes eleitorais cometidos por meio da 
imprensa, do rádio ou da televisão, aplicam-se exclusivamente as normas do Código Eleitoral 
e as remissões a outra lei nele contempladas. Desse modo, antes mesmo da decisão do 
Supremo Tribunal Federal na ADPF nº 130/DF, que proclamou a não recepção pela 
Constituição de 1988 de todo o conjunto de dispositivos da Lei Federal nº 5.250/67 (Lei de 
Imprensa), o referido diploma já não poderia ser aplicado aos crimes eleitorais que 
eventualmente viessem a ser cometidos por meio da imprensa escrita, rádio e TV. 
Os crimes eleitorais alcançam apenas as pessoas físicas como sujeitos ativos. Esse 
tratamento acaba por importar que os partidos políticos não sejam responsabilizados 
penalmente e não sofram as consequências dos atos que em seu nome forem praticados, ainda 
quando ilícitos o objeto e a finalidade com que vierem a ser consumados. No caso da Lei das 
Eleições, há, inclusive, regra expressa no art. 90, § 1º, a estabelecer que, especificamente 
quanto aos crimes nela previstos, respondem penalmente pelos partidos e coligações os seus 
representantes legais. 
A única exceção à ausência de responsabilidade penal da pessoa jurídica está na 
possibilidade, prevista no art. 336, do Código Eleitoral, de que seja suspensa a “atividade 
 
9 
 
eleitoral” do diretório da agremiação cujos membros tenham concorrido para a prática de 
determinados crimes eleitorais, ou tenham sido por eles beneficiados: 
 
Art. 336. Na sentença que julgar ação penal pela infração de qualquer dos artigos. 
322, 323, 324, 325, 326,328, 329, 331, 332, 333, 334 e 335, deve o juiz verificar, de 
acordo com o seu livre convencionamento, se diretório local do partido, por 
qualquer dos seus membros, concorreu para a prática de delito, ou dela se beneficiou 
conscientemente. 
Parágrafo único. Nesse caso, imporá o juiz ao diretório responsável pena de 
suspensão de sua atividade eleitoral por prazo de 6 a 12 meses, agravada até o dobro 
nas reincidências. 
 
Trata-se, como se vê, de sanção cuja aplicação se apresenta bastante remota, seja 
porque, como demonstrado, muitos dos crimes narrados não alcançam julgamento de mérito 
(face à aplicação de medidas como a transação penal e o sursis processual), seja porque o 
diretório somente seria alcançado, a critério da autoridade judiciária, com a suspensão da 
atividade eleitoral, o que não o impediria de continuar atuando normalmente para outras 
finalidades. Além disso, é forçoso observar que o dispositivo não deixa claro como se 
resguardaria ao partido a observância do devido processo legal, uma vez que não se admitiria 
que viesse a sofrer as consequências da responsabilização por atividade ilícita, sem que se lhe 
resguardasse o direito à ampla defesa. 
Os constantes escândalos que têm povoado a agenda política do país, especialmente 
envolvendo doações eleitorais irregulares, registram relatos de situações em que os partidos 
seriam beneficiários de recursos não contabilizados oficialmente, os quais estariam sendo 
destinados a alimentar as campanhas eleitorais de seus filiados. 
Essas situações têm determinado que se esteja a pretender a responsabilização dos 
partidos por atos lesivos à Administração Pública, definidos no art. 5º, da Lei Anticorrupção 
(Lei Federal nº 12.486/2013), ainda que não na esfera penal, mas na esfera administrativa e 
civil. A medida consta da proposição legislativa atualmente sob o exame do Senado (PLC nº 
27/2017, e que, como visto, tem origem na Campanha 10 Medidas contra a Corrupção), 
embora o texto aprovado pela Câmara registre diferenças em relação ao originariamente 
proposto. 
De acordo com o projeto, a Lei dos Partidos Políticos seria acrescida de dispositivos 
que passariam a estabelecer que as agremiações serão responsabilizadas, na medida de sua 
culpabilidade, nos âmbitos administrativo, civil e eleitoral, pelos atos lesivos previstos no art. 
5º da Lei nº 12.846, de 1º de agosto de 2013, praticados em seu interesse ou benefício, 
exclusivo ou não, em razão dos seguintes atos: 
 
10 
 
 
I – arrecadar, receber ou gastar recursos, valores, bens ou serviços estimáveis em 
dinheiro, paralelamenteà contabilidade exigida pela legislação eleitoral ou 
partidária; 
II – arrecadar, receber ou gastar recursos, valores, bens ou serviços estimáveis em 
dinheiro, provenientes de fontes vedadas pela legislação eleitoral ou partidária ou 
que extrapolem os limites nela fixados; 
III – praticar, na atividade eleitoral ou partidária, as condutas previstas no caput e 
nos §§ 1º e 2º do art. 1º da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998. 
 
Ainda de acordo com a proposição, a responsabilização dos partidos políticos não 
excluirá a responsabilidade individual de seus dirigentes, sendo passíveis de aplicação às 
agremiações as seguintes reprimendas: 
 
I – multa no valor de 5% (cinco por cento) a 20% (vinte por cento) do valor de 
repasses de cotas do fundo partidário referentes ao exercício no qual ocorreu o ato 
lesivo, a ser descontada dos novos repasses dos exercícios seguintes ao da 
condenação, sem prejuízo das sanções pela desaprovação das contas; 
II – publicação extraordinária da decisão condenatória. 
 
Caso transformada em lei, a ação para responsabilização dos partidos será processada 
e julgada pela Justiça Eleitoral, obedecido o rito do art. 22, da Lei Complementar nº 64/90, 
cabendo ao Ministério Público a legitimidade ativa. 
Após essa contextualização sobre o atual estágio da disciplina dos ilícitos eleitorais, 
passaremos a tratar dos crimes eleitorais em espécie, destacando algumas das figuras típicas 
de incidência mais frequente nas disputas eleitorais no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
 
 
 
 
 
 
2. CRIMES ELEITORAIS 
 
2.1. Conceito de crime eleitoral 
Para Fávila Ribeiro (2000, p. 620), os crimes eleitorais compõem subdivisão dos 
crimes políticos, ao lado dos crimes militares, o que justifica existirem duas Justiças 
especializadas competentes para processá-los e julgá-los (a Eleitoral e a Militar). Suzana 
Gomes (2010, p. 26) entende que os crimes eleitorais, sob o aspecto formal, são condutas 
consideradas típicas pela legislação eleitoral, e, sob o aspecto material, ações ou omissões 
humanas, sancionadas penalmente, que atentem contra os bens jurídicos expressos nos 
direitos políticos e na legitimidade e regularidade dos pleitos eleitorais. 
Nelson Hungria apud Suzana Gomes (2010, p. 27) afirma que “são crimes eleitorais as 
infrações penalmente sancionadas que dizem respeito às várias e diversas fases da formação 
do eleitorado e processo eleitoral”. 
Com referência ao conceito analítico de crime, do qual emergem os elementos que o 
compõem, destaca-se a advertência de José Jairo Gomes quanto à predominância da teoria 
finalística, acolhida pelo Código Penal brasileiro, na precisa identificação dos elementos do 
crime: “O crime é concebido como sendo um fato típico e ilícito ou antijurídico. A 
culpabilidade liga-se à reprovabilidade do fato, denotando a potencial consciência da ilicitude; 
não é, pois, elemento do crime, mas pressuposto de aplicação da pena”. 
 
2.2. Natureza jurídica dos crimes eleitorais 
No que tange à natureza jurídica, alguns doutrinadores, bem como o Supremo Tribunal 
Federal, defendem que os crimes eleitorais são crimes comuns. Por outro lado, autores como 
Fávila Ribeiro, Nelson Hungria e Suzana de Camargo Gomes defendem serem os crimes 
eleitorais delitos políticos, pois a objetividade jurídica destas tipificações é a defesa da 
liberdade e legitimidade do sufrágio. Destaca-se abaixo o entendimento do Supremo Tribunal 
Federal sobre a matéria: 
 
12 
 
 
Jurisprudência STF: 
CRIME DE DESOBEDIÊNCIA. Art. 347 do Código Eleitoral. COMPETÊNCIA. 
CARACTERIZAÇÃO. Competência por prerrogativa de função. Crime cometido 
por Deputado Federal quando no exercício do mandato. Persistência da jurisdição do 
Supremo Tribunal Federal, quando esse houver cessado. Súmula 394. A 
Constituição Federal, em seu artigo 102, I, b, elegeu o STF a condição de juiz 
natural e exclusivo dos parlamentares em relação a qualquer ilícito penal. Crime 
eleitoral e crime comum. Distinção. Inexistência. Não há que se distinguir crime 
eleitoral dos crimes comuns, pois estes são todos os delitos, salvo os impropriamente 
chamados de crimes de responsabilidade. Antiga e harmônica jurisprudência da 
Corte nesse sentido. Crime eleitoral de desobediência. Elemento subjetivo do tipo: 
vontade livre e consciente de desacatar ordem legal. Precedente. Dolo não 
caracterizado. Denúncia rejeitada. 
(Inq 507, Relator(a): Min. PAULO BROSSARD, Tribunal Pleno, julgado em 
01/10/1993, DJ 17-12- 1993 PP-28049 EMENT VOL-01730-01 PP-00018) 
 
2.3. Crimes mais frequentes no processo eleitoral 
 
A. Abandono do serviço eleitoral 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Código Eleitoral – Lei nº 4.737/65: 
“Art. 344. Recusar ou abandonar o serviço eleitoral sem justa causa. 
Pena: detenção até dois meses ou pagamento de 90 a 120 dias-multa.” 
 
Sujeito Ativo: 
Cidadão escolhido para compor mesa receptora de votos, escrutinadores e auxiliares 
de eleição. 
 
Decisões TSE: 
Ac.-TSE, de 28.4.2009, no HC nº 638: “O não comparecimento de mesário no dia da 
votação não configura o crime estabelecido no art. 344 do CE, pois prevista punição 
administrativa no art. 124 do referido diploma, o qual não contém ressalva quanto à 
possibilidade de cumulação com sanção de natureza penal”. 
No mesmo sentido, Ac.-TSE nº 21/98. Decisão monocrática de 22.8.2006 no PA nº 
19.556, do Corregedor-Geral Eleitoral: inaplicabilidade, aos eleitores convocados 
para as funções constantes do Manual ASE, de multa por ausência injustificada aos 
trabalhos eleitorais ou abandono desses no decorrer da votação, por falta de previsão 
legal. Tais multas somente podem ser aplicadas aos membros das mesas receptoras 
de votos ou de justificativas. 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
13 
 
 
B. Boca de urna 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Lei nº 9.504/97 – Lei das Eleições: 
 
“Art. 39. [...] 
§ 5º Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a 
um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo 
período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR: 
[...] 
II - a arregimentação de eleitor ou a propaganda de boca de urna;” 
 
Sujeito Ativo: 
Qualquer pessoa física que realize a conduta descrita no tipo penal 
 
Decisões TSE: 
Ac.-TSE, de 4.6.2009, no HC nº 604: a nova redação dada a este dispositivo pela Lei 
nº 11.300/2006 não revogou as condutas anteriormente descritas, tendo, na verdade, 
ampliado o tipo penal. 
"BOCA DE URNA. CRIME ELEITORAL. ARTIGO 39, § 5º, INCISO III, DA LEI 
Nº 9.504/97. ANALOGIA. IMPOSSIBILIDADE. INADEQUAÇÃO DA VIA 
ELEITA. EXTINÇÃO DO FEITO. 
Inexiste na legislação eleitoral fixação de sanção de natureza não-penal para a 
prática de boca de urna. Incabível aplicar, por analogia, a sanção prevista no artigo 
36, § 3º, da Lei nº 9.504/97. A via processual eleita se revela inadequada à 
pretensão. Reconhecida a carência de ação, por falta de interesse de agir. 
Extinto o feito sem apreciação do mérito, na forma do artigo 267, inciso VI, do 
Código de Processo Civil" 
(TSE, Relator: Min. HAMILTON CARVALHIDO, Data de Julgamento: 
15/03/2011, Data de Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 
21/03/2011, p. 33-35). 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Nota: 
A expressão“boca de urna”, de uso coloquial, foi introduzida na Lei das Eleições por 
ocasião da minirreforma eleitoral (Lei nº 11.300/06) e deve ser entendida como qualquer 
manifestação tendente a influenciar a vontade do eleitor no dia do pleito. 
Diz-se, com razão, que o dia da eleição é do eleitor. Aos candidatos e às agremiações 
restou garantido prazo amplo para a tentativa de convencimento do eleitorado, havendo 
 
14 
 
limites para a realização da propaganda, cujas manifestações, a depender da modalidade, 
podem ir, no máximo, até a véspera do pleito, como é o caso do uso de alto-falantes. Assim, 
no dia da eleição, estão proibidas reuniões públicas, distribuição de material de propaganda 
política, a qualquer distância da seção eleitoral, bem como a prática de coação ou aliciamento 
do eleitor. Quanto a esta, aliás, a vedação incide não apenas no dia do pleito, mas a todo o 
tempo, podendo configurar, inclusive, crime mais grave, além de atrair sanções ao candidato, 
como a perda do registro ou do diploma e multa. 
Entretanto, não caracteriza este tipo penal a manifestação individual e silenciosa da 
preferência do eleitor por partido político, coligação ou candidato, revelada exclusivamente 
pelo uso de bandeiras, broches, dísticos e adesivos (art. 39-A da Lei nº 9.504/97). Como os 
candidatos e comitês estão proibidos de confeccionar e distribuir camisas, bonés e demais 
bens ou materiais que possam proporcionar vantagem ao eleitor, conclui-se que os meios para 
a manifestação silenciosa do eleitor devem ser providenciados por ele próprio, salvo os 
adesivos, pois enquadrados como impressos. 
Não se pode esquecer, ainda, que os partidos podem comercializar material de 
divulgação institucional, desde que não contenham nome e número de candidato, bem como 
cargo em disputa. 
Aos fiscais é permitido apenas o uso de crachás dos quais constem o nome e a sigla do 
partido ou coligação a que sirvam. Já para os servidores da Justiça Eleitoral, mesários e 
escrutinadores o uso de vestuário ou objeto que contenha qualquer propaganda de partido 
político, de coligação ou de candidato é proibido. 
O crime do art. 39, § 5º, da Lei nº 9.504/97 enquadra-se dentre os de menor potencial 
ofensivo, de modo que, na hipótese de flagrante, o infrator deve ser encaminhado à Unidade 
Policial para a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), quando será instado 
a assumir o compromisso de comparecer ao Juízo Eleitoral, não se impondo a prisão em 
flagrante – embora a lei preveja o encaminhamento imediato ao Juízo, as demais atribuições 
afetas a juízes e servidores da Justiça Eleitoral no dia do pleito recomendam que o infrator 
seja concitado a comparecer para a audiência preliminar prevista na Lei nº 9.099/95 em outra 
data, tal como admite a Lei dos Juizados Especiais (art. 70). 
Não havendo prisão, não há necessidade de que o eleitor seja apresentado previamente 
ao juiz eleitoral, tampouco há razoabilidade em mantê-lo detido até o final da eleição. 
A previsão legal que impõe a apresentação imediata ao Juiz de pessoas detidas em 
flagrante delito, no dia da eleição, busca cercar o eleitor de maiores garantias de que uma 
 
15 
 
eventual prisão ilegal seja imediatamente relaxada, permitindo-se o exercício do direito ao 
voto. No caso dos crimes de menor potencial ofensivo, a apresentação do autor do fato ao juiz 
revela-se despicienda, pois tais crimes não admitem prisão em flagrante. 
O crime previsto no art 39, §5º, II da Lei nº 9.504/97 não se confunde com o crime de 
arregimentação de eleitores, constante do art. 302 do Código Eleitoral. Neste, a concentração 
visa obstar o fluxo natural dos eleitores rumo às mesas receptoras, ou seja, a conduta delituosa 
não objetiva convencer o eleitor para mudança da opção de voto, mas apenas realizar a 
concentração e tumulto. Já a arregimentação do art. 39 visa convencer o eleitor por meio da 
entrega de propaganda, de modo a influenciar sua livre vontade de voto. 
 
C. Uso de alto-falantes ou de amplificadores, realização de comícios e carreatas no 
dia da eleição 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Lei nº 9.504/97 – Lei das Eleições: 
 
Art. 39 [...] 
§ 5º Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a 
um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo 
período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR: 
[...] 
I - o uso de alto-falantes e amplificadores de som ou a promoção de comício ou 
carreata“. 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa física que realize a conduta descrita no tipo penal 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Doutrina: 
O inciso I do preceito não comporta maiores considerações, dada a clareza de sua 
formulação. É vedado, por constituir crime, o uso de alto-falantes e amplificadores 
de som, assim como a promoção (realização) de comício ou carreata, no dia da 
eleição. Claro está que o legislador pretende preservar o dia do pleito de qualquer 
perturbação que possa impedir a total liberdade do voto, assim como a tranquilidade 
dos serviços eleitorais, especialmente nesse dia, meta suprema de um regime 
democrático de direito (COSTA, Tito. Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. 
Editora Juarez de Oliveira: São Paulo, 2002, p. 164). 
 
16 
 
 
D. Outras espécies de propaganda no dia da eleição 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Lei nº 9.504/97 – Lei das Eleições: 
 
Art. 39 [...] 
§ 5º Constituem crimes, no dia da eleição, puníveis com detenção, de seis meses a 
um ano, com a alternativa de prestação de serviços à comunidade pelo mesmo 
período, e multa no valor de cinco mil a quinze mil UFIR: 
[...] 
III - a divulgação de qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus 
candidatos. (Redação dada ao inciso pela Lei nº 12.034, de 29.9.2009, DOU 
30.9.2009) 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa física que realize a conduta descrita no tipo penal 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Nota: 
Com a nova redação do inciso III do § 5º do art. 39 da Lei nº 9.504/97, a divulgação de 
qualquer espécie de propaganda de partidos políticos ou de seus candidatos no dia da eleição 
constitui crime. Diante da abrangência da disposição legal, restou claro que nenhuma espécie 
de propaganda eleitoral no dia do pleito, à exceção da manifestação individual e silenciosa do 
eleitor, foge à incidência da norma penal. O inciso III, ao que se percebe, constitui norma de 
aplicação subsidiária em relação aos incisos anteriores. 
Observe-se, por fim, que ao dispor o § 5º que as condutas previstas em seus incisos 
“constituem crimes”, a disposição deixa entrever que as hipóteses de cada um dos incisos 
constituem delitos autônomos, situação que permite a aplicação do concurso de infrações, 
conforme o caso concreto. 
 
E. Derrame 
 
Descrição do Tipo Penal: 
 
17 
 
 
Resolução TSE nº 23.457/2015 
 
Art. 14 [...] 
 
§ 7º O derrame ou a anuência com o derrame de material de propaganda no local de 
votação ou nas vias próximas, ainda que realizado na véspera da eleição, configura 
propaganda irregular, sujeitando-se o infrator à multa prevista no § 1º do art. 37 da 
Lei nº 9.504/1997, sem prejuízo da apuração do crime previsto no inciso III do § 5º 
do art. 39 da Lei nº 9.504/1997. 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa física que realize a conduta descrita no tipo penalTransação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Nota: 
A inovação trazida pela Resolução TSE nº 23.457/15, que trata da propaganda 
eleitoral e poder de polícia nas eleições 2016, encontra-se na extensão da atividade delituosa 
do derrame de santinhos, inclusive no dia anterior ao pleito, em claro complemento pela via 
de Resolução ao tipo penal descrito no art. 39, §5º, III da Lei nº 9.504/97. 
A reprimenda ao crime de derrame já era uma realidade jurisprudencial nas eleições 
pátrias, outrossim, reduziam-se ao lapso temporal inserido na madrugada do dia da eleição, 
senão vejamos: 
 
ELEIÇÕES 2014. RECURSO ESPECIAL. REPRESENTAÇÃO POR 
PROPAGANDA IRREGULAR. DERRAMA. SANTINHOS. DIA DO PLEITO. 
IRREGULARIDADE. CONFIGURAÇÃO. NOTIFICAÇÃO. REPARAÇÃO. 
IMPOSSIBILIDADE. CASO CONCRETO. PRÉVIO CONHECIMENTO. 
RESPONSABILIDADE. PECULIARIDADES. APLICAÇÃO DE MULTA. 1. 
Configura propaganda eleitoral irregular o "derramamento de santinhos" nas vias 
públicas próximas aos locais de votação na madrugada do dia da eleição. 2. 
Constatada a “chuva de santinhos” às vésperas do pleito, a efetiva restauração da via 
pública somente se verificaria caso as ruas estivessem isentas de publicidade 
eleitoral durante a votação, pois a proibição contida no art. 37 da Lei nº 9.504/1997, 
além de destinar-se a evitar poluição visual, atua no sentido de evitar influências no 
voto do eleitor, em razão de propaganda ilícita, e de conferir tratamento isonômico 
em relação aos candidatos que realizam propaganda de acordo com os comandos 
legais. A remoção posterior ao pleito não afasta os danos já causados, especialmente 
em virtude de tratar-se de local próximo à seção de votação, ou seja, de elevado 
trânsito de eleitores, conferindo alta visibilidade. 3. Ante as particularidades 
observadas nos autos, é despicienda a prévia notificação, porque não é possível no 
 
18 
 
caso concreto a efetiva restauração do bem. 4. Responsabilidade pelo ato aferida 
diante das peculiaridades do caso. 5. Recurso especial provido. Procedência da 
representação, com fixação de multa no valor mínimo previsto em lei. (TSE – 
Recurso Especial Eleitoral nº 379823, Acórdão de 15/10/2015, Relator(a) Min. 
GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE – Diário de justiça eletrônico, 
Data 14/03/2016, p. 59-60). 
 
Do mesmo modo, a prova da autoria deve ser robusta, haja vista a possibilidade 
inclusive de falsas acusações visando prejudicar candidaturas opostas. Para isso, o arcabouço 
probatório deve incluir elementos que comprovem a prática do crime bem como, se for o 
caso, a anuência do candidato: 
 
EMENTA RECURSO CRIMINAL. DISTRIBUIÇÃO DE PROPAGANDA 
ELEITORAL IMPRESSA ("SANTINHOS"). AUTORIA. FALTA DE 
COMPROVAÇÃO. PROVIMENTO. ABSOLVIÇÃO. 
1. A distribuição de material de campanha eleitoral impresso ("santinhos") na via 
publica configura o crime previsto no artigo 39, § 5') 111, da Lei n. 9.504197. 2. A 
demonstração da autoria, com a atribuição da responsabilidade penal a candidata, 
demanda prova robusta e contundente, não podendo a condenação basear-se somente 
na presunção de culpa da candidata em razão da apreensão de alguns santinhos 
recolhidos no chão, sob pena de responsabilização objetiva. 3. O depoimento de uma 
única testemunha em juizo, justamente o policial responsável pela apreensão, que 
não soube apontar o autor da distribuição do material, é insuficiente para embaçar 
uma condenação criminal. 4. Recurso criminal provido para absolver a recorrente, 
ante a falta de provas suficientes para a condenação. 
 
F. Concentração de eleitores 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Código Eleitoral – Lei nº 4.737/65: 
 
Art. 302. Promover, no dia da eleição, com o fim de impedir, embaraçar ou fraudar o 
exercício do voto a concentração de eleitores, sob qualquer forma, inclusive o 
fornecimento gratuito de alimento e transporte coletivo. (Redação dada pelo 
Decreto-Lei nº 1.064, de 24.10.1969). 
Pena – Reclusão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e pagamento de 200 a 300 dias-multa. 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa física que pratique o tipo penal no dia das eleições 
 
Decisões TSE: 
Ac.-TSE nºs 21.401/2004 e 4.723/2004: este dispositivo teve somente revogada a sua parte 
final (em destaque) pelo disposto na Lei nº 6.091/74, art. 11, III. 
 
Transação Penal: NÃO há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
19 
 
 
Suspensão Condicional do Processo: NÃO há requisito objetivo para proposta (art. 89 da 
Lei nº 9.099/95). 
 
Doutrina: 
A concentração de eleitores referida no texto legal tinha, ou ainda tem, um nome 
muito curioso e especial: ‘curral’ eleitoral. Pode ser até pejorativa a expressão, mas é 
conhecida e, por certo, praticada ainda por ousados líderes ou ‘coronéis’ espalhados 
por este Brasil afora. O ajuntamento de eleitores, num determinado local, com o fito 
deliberado de impedir, embaraçar ou fraudar o exercício do voto, constitui-se numa 
das mais graves formas de intervenção indevida no processo eleitoral (COSTA, Tito. 
Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. Editora Juarez de Oliveira: São Paulo, 
2002, p. 66). 
 
Nota: 
O delito previsto no art. 302 do Código Eleitoral não se confunde com a situação 
prevista no art. 39, § 5º, inciso II, da Lei nº 9.504/97. No tipo penal que ora se cuida (art. 302, 
CE) o ato de promover a concentração de eleitores possui um elemento subjetivo do tipo, 
representado pelo especial fim de agir, qual seja, o de “impedir, embaraçar ou fraudar o 
exercício do voto”. Ausente a finalidade específica prevista na norma penal, remanesce a 
possibilidade de aplicação subsidiária do art. 39, § 5, inciso II, da Lei nº 9.504/97. 
 
G. Corrupção eleitoral 
 
Descrição do Tipo Penal: 
 
Lei nº 4737/65 – Código Eleitoral: 
 
Art. 299. Dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, 
dinheiro, dádiva ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para 
conseguir ou prometer abstenção, ainda que a oferta não seja aceita. 
Pena – reclusão até quatro anos e pagamento de 5 a 15 dias-multa. 
 
Sujeito ativo: 
Para a corrupção eleitoral ativa, não é necessário que o sujeito ativo seja candidato ou 
tenha filiação partidária, podendo ser qualquer pessoa física enquadrada no tipo penal. 
Já para a forma passiva, o sujeito ativo deve ostentar o status de eleitor, inclusive com 
a viabilidade de exercício do voto (precedentes do TSE). 
 
 
Jurisprudência: 
 
20 
 
HABEAS CORPUS. AÇÃO PENAL. RECEBIMENTO DE DENÚNCIA. 
PREFEITO. CORRUPÇÃO ELEITORAL. ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL. 
ESCUTA CLANDESTINA. GRAVAÇÃO. INTERLOCUTOR. LICITUDE. 
PRECEDENTES DO STF. CASO DOS AUTOS. FRAGILIDADE DA PROVA. 
ORDEM CONCEDIDA. 
1. O Supremo Tribunal Federal, após reconhecer repercussão geral sobre a matéria, 
assentou a licitude da gravação ambiental realizada por um dos interlocutores para 
utilização em processo penal (RE 583.937, Rel. Min. Cezar Peluso, DJ de 
18.12.2009), entendimento que deve orientar a jurisprudência desta Corte Superior. 
2. A licitude ou a ilicitude da prova, conforme assentado na doutrina e na 
jurisprudência, liga-se ao modo de sua obtenção, com desrespeito aos direitos 
fundamentais de privacidade e intimidade, e não a qualquer outra razão, como a 
motivação egoística, com fins eleitorais. 
3. No caso dos autos, a gravação que embasou a denúncia é ilícita, assemelhando-se 
ao flagrante preparado. É incontroverso que o seu autor é historicamente apoiador 
dos adversários políticos do paciente e induziu todo o diálogo visandoobter do seu 
interlocutor alguma declaração sobre o suposto oferecimento de bem ou vantagem 
em troca de votos, circunstância que comprometeu a necessária espontaneidade do 
diálogo travado. 
4. Ordem concedida para trancar a ação penal. 
(HC 30990 BA. Ministro João Otávio de Noronha. DJE 05/11/2015). 
 
 
HABEAS CORPUS. CRIME DE CORRUPÇÃO ELEITORAL. 
CANCELAMENTO. MULTAS DE TRÂNSITO. INDIVIDUALIZAÇÃO DO 
ELEITOR. NECESSIDADE. AUSÊNCIA. JUSTA CAUSA. AÇÃO PENAL. 
ORDEM CONCEDIDA. 
1. Para a configuração do crime de corrupção eleitoral, além de ser necessária a 
ocorrência de dolo específico, qual seja, obter ou dar voto, conseguir ou prometer 
abstenção, é necessário que a conduta seja direcionada a eleitores identificados ou 
identificáveis, e que o corruptor eleitoral passivo seja pessoa apta a votar. 
Precedentes. 
2. Na espécie, a denúncia aponta, de forma genérica, como beneficiárias, pessoas 
ligadas politicamente ao paciente, então prefeito municipal, ao indicar que "[...] 
dentre os beneficiários constam vereadores, parentes, candidatos a cargos eletivos e 
outros eleitores com alguma ligação com a coligação do então prefeito no pleito 
eleitoral de 2008, conforme fls. 188/196" (fl. 23). 
3. Não há falar em corrupção eleitoral mediante dádiva em troca do voto de pessoas 
que, diante do que se percebe na descrição da denúncia, já seriam correligionárias do 
denunciado, o que afasta a justa causa para a ação penal. 
4. Ordem concedida para trancar a ação penal. 
(HC 81219. Ministro José Antônio Dias Toffoli. DJE 20/03/2013). 
 
RECURSO CRIMINAL. CORRUPÇÃO ELEITORAL. ART. 299, DO CÓDIGO 
ELEITORAL. IMPROCEDÊNCIA. ABSOLVIÇÃO. 
 
1. SUPOSTA COMPRA DE VOTOS POR CANDIDATO À REELEIÇÃO AO 
CARGO DE VEREADOR. PARLAMENTAR NO QUARTO MANDATO 
CONSECUTIVO, CONHECIDO NA CIDADE. 
2. CONFISSÃO. CORRÉUS QUE TRABALHARAM NA CAMPANHA 
ELEITORAL E, SUPOSTAMENTE, TIVERAM FRUSTRADA PROPOSTA DE 
EMPREGO NA MUNICIPALIDADE, APÓS O PERÍODO ELEITORAL. 
3. DENÚNCIA FEITA PELOS CORRÉUS APROXIMADAMENTE 8 MESES 
APÓS O PLEITO. 
4. CADERNO PRODUZIDO PELOS CORRÉUS, COM ANOTAÇÕES SOBRE 
ELEITORES QUE, POR SI SÓ, NÃO COMPROVA O CRIME DE CORRUPÇÃO 
ELEITORAL. 
5. TESTEMUNHOS QUE, EM SUA MAIORIA, CONFIRMAM TER 
TRABALHADO NA CAMPANHA E NÃO TER HAVIDO COMPRA DE 
VOTOS. 
 
21 
 
6. DÚVIDA. FRAGILIDADE DAS PROVAS. IN DUBIO PRO REO. 
PRECEDENTES. 
7. RECURSO IMPROVIDO. ABSOLVIÇÃO MANTIDA. 
(RECC 14710 SP. Relator Alberto Zacharias Toron. DJESP 03/09/2015). 
 
 
RECURSO CRIMINAL. INÉPCIA DA DENÚNCIA NÃO CONFIGURADA. 
CORRUPÇÃO ELEITORAL. TRANSPORTE MARÍTIMO GRATUITO DE 
ELEITORES NA TRAVESSIA ENTRE ILHA GRANDE E ANGRA DOS REIS, 
NO PERÍODO ELEITORAL. NÃO CONFIGURAÇÃO DO CRIME PREVISTO 
NO ART. 299 DO CÓDIGO ELEITORAL. AUSÊNCIA DE IDENTIFICAÇÃO 
DOS ELEITORES, CUJOS VOTOS ESTARIAM SENDO OBJETO DE 
CORRUPÇÃO ELEITORAL. ATIPICIDADE DA CONDUTA. FATOS QUE 
CONFIGURAM ABUSO DE PODER POLÍTICO DO ENTÃO PREFEITO, E 
NÃO CORRUPÇÃO ELEITORAL. RECURSO DESPROVIDO. 
 
1. Da narrativa dos fatos apresentados na denúncia decorre, logicamente, a sua 
conclusão. As condutas descritas na denúncia configuram, em tese, os ilícitos 
eleitorais imputados a ambos os recorridos. Imputações que justificaram a 
instauração de ação penal e a realização de instrução probatória, no curso do 
processo criminal. Alegação de inépcia da denúncia rejeitada. 
2. Com relação aos recorridos, os fatos narrados na denúncia representaram 
"promessa de campanha", já que o serviço gratuito foi disponibilizado pelo então 
Prefeito, Fernando Jordão, que não figura no processo, mas foi o responsável pela 
divulgação do benefício. 
3. O crime de corrupção eleitoral pressupõe o oferecimento de vantagens a eleitores, 
diretamente relacionadas à obtenção do voto dos respectivos beneficiários. Para a 
caracterização do tipo previsto no art. 299 do Código Eleitoral faz-se impositiva a 
produção de prova robusta pelo Parquet de que a vantagem oferecida a eleitor teria, 
como contrapartida, a concessão de seu voto em determinada eleição, nos termos da 
jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE - RespE nº 291 - Petrópolis/RJ - 
Rel. Min. Maria Thereza Rocha de Assis Moura - DJE 4/3/2015; TSE - RHC nº 
142354, Rel. Min. Laurita Vaz - DJE 5.12.2013; TSE - RespE - Ilha Solteira/SP - 
Rel. Min. Carmen Lúcia Antunes Rocha - DJE 22/11/2013; TSE - RO nº 1522 - São 
Paulo/SP - Rel. Marcelo Henriques Ribeiro de Oliveira - DJE 10/05/2010). 
4. Não foram identificados, dentre os beneficiários do serviço de transporte 
marítimo gratuito na travessia entre Ilha Grande e Angra dos Reis, eleitores 
específicos e determinados, o que impossibilita a configuração do crime de 
corrupção eleitoral, segundo a jurisprudência do e. Tribunal Superior Eleitoral (TSE 
- AgR-AI nº 749719 - Teresópolis/RJ - Rel. Min. José Antônio Dias Toffoli - DJE 
23/02/2015; TSE - HC nº 69358 - Jandira/SP - Rel. Min. José Antônio Dias Toffoli - 
DJE 09/09/2013; TSE - HC nº 81219 - Miguel Pereira/RJ - Rel. Min. José Antônio 
Dias Toffoli - DJE 20/03/2013; TSE - HC nº 672 - Jequitinhonha/MG - Rel. Min. 
Felix Fischer - DJE 24/03/2010). 
5. Os fatos comprovados nos autos indicam a prática de grave ilícito cível-eleitoral, 
possivelmente realizado pelo então Prefeito, Fernando Jordão, além de improbidade 
administrativa, mas não o crime de corrupção eleitoral, cuja configuração depende 
de elementos específicos, inexistentes no caso em julgamento. Não há tipicidade 
penal eleitoral na conduta de conceder, através de terceiro agente público, vantagens 
a uma coletividade indeterminada de pessoas, ainda que o propósito dos agentes seja 
o de angariar votos. Trata-se de ilícito cível-eleitoral e administrativo. 
(RC 8010 RJ. Relatora Ana Tereza Basilio. DJERJ 11/06/2015). 
 
Decisões TSE: 
Ac.-TSE nº 81/2005: o art. 41-A da Lei nº 9.504/97 não alterou a disciplina deste artigo e não 
implicou abolição do crime de corrupção eleitoral aqui tipificado. 
 
22 
 
 
Ac.-TSE, de 27.11.2007, no Ag nº 6.553: “A absolvição na representação por captação ilícita 
de sufrágio, na esfera cível-eleitoral, ainda que acobertada pelo manto da coisa julgada, não 
obsta a persecutio criminis pela prática do tipo penal descrito no art. 299, do Código 
Eleitoral”. 
 
Ac.-TSE, de 15.3.2007, no Ag nº 6.014, e de 8.3.2007, no REspe nº 25.388: “Esta Corte tem 
entendido que, para a configuração do crime descrito no art. 299 do CE, é necessário o dolo 
específico que exige o tipo penal, qual seja, a finalidade de obter ou dar voto ou prometer 
abstenção”. 
 
Ac.-TSE, de 27.11.2007, no Ag nº 8.905: “O crime de corrupção eleitoral, por ser crime 
formal, não admite a forma tentada, sendo o resultado mero exaurimento da conduta 
criminosa”. 
 
Ac.-TSE, de 23.2.2010, no HC nº 672: “exige-se para a configuração do ilícito penal que o 
corruptor eleitoral passivo seja pessoa apta a votar”. 
 
O Tribunal Superior Eleitoral sedimentou que promessas genéricas de campanha não 
bastam para configurar o delito, exigindo-se que a vantagem seja concreta e individualizada 
em troca de voto, conforme precedente abaixo: 
 
AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO 
ESPECIAL. PROMESSAS GENÉRICAS. CRIME DE CORRUPÇÃO 
ELEITORAL. ART. 299 DO CE. NÃO CONFIGURAÇÃO. DESPROVIMENTO. 
 
A realização de promessas de campanha, as quais possuem caráter geral e 
usualmente são postas como um benefício à coletividade, não configuram, por si só, 
o crime de corrupção eleitoral, sendo indispensável que a promessa de vantagem 
esteja vinculada à obtenção do voto de determinados eleitores. 
 
Agravo regimental desprovido. 
 
 
(Processo: AgR-AI58648 SP - Relator(a): Min. MARCELO HENRIQUES 
RIBEIRO DE OLIVEIRA - Julgamento: 08/11/2011 - Publicação: DJE - Diário da 
Justiça Eletrônico, Data 13/09/2011, Página 92) 
 
Recurso criminal. Alegada prática do crime previsto no art. 299 do Código Eleitoral. 
Promessa de emprego em troca do voto. Fatos motivadores da persecução penal já 
foram objeto de julgamentos pretéritos por esta Corte (investigação judicial e 
representação). Independência, contudo, entre as esferas cível-eleitoral e penal, em 
 
23 
 
razão de seus requisitos e pressupostos próprios. Não configura o crime de 
corrupção eleitoral a realização de promessas genéricas em campanha, sem a 
necessária individualização e vinculação da oferta com a obtenção do voto. 
 
Contexto probatório desprovido de elementos suficientes para incriminação do 
investigado. 
 
Provimento. 
 
(Processo: RC 61 RS - Relator(a): DR. ÍCARO CARVALHO DE BEM OSÓRIO - 
Julgamento: 14/09/2010 - Publicação: DEJERS - Diário de Justiça Eletrônico do 
TRE-RS, Tomo 160, Data 16/09/2010, p. 6). 
 
Transação Penal: não há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Doutrina: 
CORRUPÇÃO ELEITORAL (ART. 299 DO CE) 
 
Estabelece o art. 299 do Código Eleitoral a figura típica consubstanciada na conduta 
de ‘dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber, para si ou para outrem, dinheiro, 
dádiva ou qualquer outra vantagem, para obter ou dar voto e para conseguir ou 
prometer abstenção, ainda que a oferta na seja aceita’. 
A norma penal visa resguardar a liberdade do sufrágio, a emissão do voto, legítimo, 
sem estar afetado por qualquer influência menos airosa, pois, na feliz expressão de 
Paulo Henrique Távora Niess, ‘o voto não é uma mercadoria exposta à venda ou à 
troca, mas uma premiação que deve ser conquistada após justa disputa, pelas idéias e 
pela história de cada competidor. (GOMES, Suzana de Camargo. Crimes eleitorais. 
Editora Revista dos Tribunais: São Paulo, 2008, p. 241-242). 
 
Nota: 
A norma visa a proteger a liberdade do eleitor e pune a corrupção nas modalidades 
ativa (dar, oferecer, prometer) e passiva (solicitar, receber), não se exigindo, quanto à 
primeira, qualificação especial do autor do delito. Desse modo, o crime restará configurado 
ainda que o sujeito ativo não seja propriamente o candidato, muito embora se exija, para a 
configuração do crime, a existência de uma candidatura a que se procura beneficiar (PONTE, 
2008, p. 104). 
Já na modalidade passiva, segundo assentada jurisprudência do TSE, o corruptor 
eleitoral passivo deve ser pessoa apta a votar (vide TSE, RHC nº 13316 – Içara/SC, julg. 
17.12.13, DJE 18.2.14), de modo que o crime só poderá ser cometido por eleitor, ainda assim, 
 
24 
 
desde que em pleno exercício dos direitos políticos (TSE, HC nº 672 – Jequitinhonha/MG, 
julg. 23.2.10, DJE 24.3.10).
1
 
O mesmo entendimento determina a atipicidade da conduta, na modalidade ativa, 
quando não reste demonstrado que a entrega, oferta ou promessa fora dirigida a pessoa apta a 
votar. Daí a exigência de que, por ocasião da denúncia, reste demonstrado que o ato mirava 
“eleitores identificados ou identificáveis” e, ainda assim, aptos a votar (TSE, AgR-AI nº 
749719 – Teresópolis/RJ, julg. 11.12.14, DJE 23.2.15). 
Assim como ocorre com a figura do art. 41-A, da Lei das Eleições, a configuração do 
ilícito exige o dolo específico, consubstanciado na especial finalidade do agente quanto a 
obter ou dar o voto, ou a abstenção, registrando-se, de igual modo, na jurisprudência do TSE, 
passagens em que a existência do crime restou afastada diante da ausência de prova do dolo, 
apontando-se que a vantagem fora ofertada com finalidade diversa: “Na espécie, o 
recebimento da vantagem – materializada na distribuição de vale combustível –, foi 
condicionado à fixação de adesivo de campanha em veículo e não à obtenção do voto. Desse 
modo, o reconhecimento da improcedência da ação penal é medida que se impõe” (AgR-
REspe nº 291 – Petrópolis/RJ, julg. 3.2.15, DJE 4.3.15)2. 
Trata-se de crime instantâneo, cuja consumação é imediata, ocorrendo com a simples 
prática de um dos núcleos do tipo (dar, oferecer, prometer, solicitar ou receber), bem como se 
qualifica como formal, pois a consumação independe do resultado, da efetiva entrega da 
benesse em troca do voto ou da abstenção, sendo irrelevante se o eleitor corrompido 
efetivamente votou no candidato indicado. 
Na modalidade ativa, como anota Ponte (2008, p. 104), só pode ser reconhecida se o 
oferecimento, a promessa ou a dádiva ocorrerem em benefício de um candidato específico, 
sendo imprescindível a individualização da vantagem ou lucro acenado: “Promessas 
genéricas, próprias do período eleitoral, como melhoria de ensino, urbanização de 
determinada área, construções de escolas e postos de saúde, aumento da malha viária, etc., 
não configuram a infração, integrando a concepção de proselitismo político”. 
 
1
 No precedente citado, assentou o TSE: “Na espécie, foi comprovado que a pessoa beneficiada com a doação de 
um saco de cimento e com promessa de recompensa estava, à época dos fatos e das Eleições 2008, com os 
direitos políticos suspensos, em razão de condenação criminal transitada em julgado. Logo, não há falar em 
violação à liberdade do voto de quem, por determinação constitucional, (art. 15, III, da Constituição), está 
impedido de votar, motivo pelo qual a conduta descrita nos autos é atípica”. 
2
 No mesmo sentido, conferir TSE, RHC nº 142354 – Anápolis/GO, julg. 24.10.13, DJE 5.12.13: “No caso, a 
peça inaugural não descreve que a distribuição de combustível a eleitores teria ocorrido em troca de votos. 
Ausente o elemento subjetivo do tipo, o trancamento da ação penal é medida que se impõe ante a atipicidade da 
conduta”. 
 
25 
 
Gomes (2000, p. 204), na mesma linha, aponta que as promessas feitas em comícios 
ou por intermédio do horário eleitoral gratuito, de modo genérico, não configuram o tipo, uma 
vez que não “resulta evidenciado nem mesmo o compromisso da entrega da vantagem tendo 
como contraprestação o voto ou a abstenção”. O delito de corrupção eleitoral é crime formal e 
não depende do alcance do resultado para que se consuma, apenas da mera conduta descrita 
no tipo, sendo desnecessário, portanto, perquirir o momento em que se efetivou o pagamento 
em troca do voto ou mesmo se a ação beneficiou o candidato (Agravo Regimental no Agravo 
de Instrumento Inst 8649). 
 
H. Desobediência 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral: 
 
Art. 347. Recusar alguém cumprimento ou obediência a diligências, ordens ou 
instruções da Justiça Eleitoral ou opor embaraços à sua execução: 
Pena – Detenção de três meses a um ano e pagamento de 10 a 20 dias-multa. 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa física que se enquadre no tipo penal. 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Doutrina: 
 
O núcleo do tipo penal deste artigo é a recusa ou a desobediência de alguém no que 
diz com ordens ou instruções da Justiça Eleitoral. O TRE-SP, em julgamento de que 
foi relator o juiz Sebastião Oscar Feltrin, expediu o acórdão n. 117.358, no qual se 
faz uma análise detalhada da figura do art. 347, ora enfocado. Como crime de 
desobediência, ensejou esse estudo citações de diversos autores e julgados, entre os 
quais, voto do Min. Sepúlveda Pertence, no TSE, que assim se manifestaquanto a 
este preceito. (COSTA, Tito. Crimes Eleitorais e Processo Penal Eleitoral. São 
Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 132). 
 
A ordem, a diligência, a instrução, para obrigar o seu destinatário, deve ter sido 
emanada de autoridade competente e revestir-se de legalidade, seja no que concerne à 
 
26 
 
competência, ao conteúdo (objeto, motivo e finalidade), bem como no que concerne à forma, 
quando essencial à validade do ato, não estando presentes esses elementos, está autorizado o 
destinatário a não atender a determinação recebida e seu atuar, por conseguinte, não 
caracteriza o ilícito previsto no art. 347 do Código Eleitoral. 
 
O descumprimento ou a oposição de embaraços à execução configuram crime 
apenas quando a ordem for direcionada, de modo direto e específico, a alguém 
individualizado. Logo, o descumprimento de ordens genéricas e abstratas (ex. 
portaria e instrução) não configura o tipo delitivo do art. 347 do CE (ZILIO, Rodrigo 
Lopez. Crimes Eleitorais. São Paulo. Juspodium, 2016, p. 208). 
 
Ademais, não há que se entender deva sempre a ordem ser de natureza judicial para 
a caracterização do art. 347 do Código Eleitoral, podendo também promanar de 
autoridade eleitoral no exercício do poder de polícia, dado que, nessa hipótese, o 
descumprimento, também evidencia o tipo em questão (GOMES, Suzana de 
Camargo. Crimes eleitorais. São Paulo; Editora Revista dos Tribunais, 2010, p. 
263). 
 
Nota: 
O tipo penal do art. 347 do Código Eleitoral prefere ao crime de desobediência 
previsto no Código Penal, ante o princípio da especialidade. O elemento especializante, na 
hipótese, é a circunstância de que a desobediência se verifica em face de diligências, ordens 
ou instruções da Justiça Eleitoral. 
O delito de desobediência configura-se após a recusa em cumprir ordem direta de uma 
autoridade plenamente identificável, desta forma não pode se enquadrar neste tipo penal a 
recusa em cumprir termo, portarias ou determinações genéricas e não individualizadas. 
 
HABEAS CORPUS. CRIME DE DESOBEDIÊNCIA ELEITORAL. PORTARIA 
VEDANDO O COMÉRCIO DE BEBIDAS ALCOÓLICAS. ORDEM GENÉRICA. 
DESCUMPRIMENTO. ATIPICIDADE DA CONDUTA. 
 
1 - A diligência, ordem ou instrução da Justiça Eleitoral objeto de proteção da norma 
insculpida no artigo 347 do Código Eleitoral há de ser determinada e dirigida. Sendo 
de cunho genérico, não há como se imputar a prática delituosa ali prevista. 
 
2 - Ordem concedida para o trancamento da ação penal. 
 
(Processo: HC 11040 CE, Relator(a): JORGE LUÍS GIRÃO BARRETO, 
Julgamento: 28/03/2007, Publicação: DJ - Diário de Justiça, Volume 072, Data 
18/04/2007, Página 198) 
 
Jurisprudência: 
HABEAS CORPUS. ART. 347 DO CÓDIGO ELEITORAL. CRIME DE 
DESOBEDIÊNCIA ELEITORAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL. 
INEXISTÊNCIA. DENEGAÇÃO DA ORDEM. 
 
 
27 
 
A recusa em cumprir ordem da Justiça Eleitoral configura, em tese, crime de 
desobediência eleitoral, prevista no art. 347 do CE. No caso dos autos, a empresa 
Google Brasil Internet Ltda., representada pelo seu Diretor Geral (paciente), 
recusou-se reiteradamente a cumprir determinação judicial de retirada de vídeo da 
internet cujo conteúdo representa propaganda eleitoral irregular. 
 
Não cabe, em habeas corpus, perquirir questões atinentes à liberdade de expressão 
ou de informação, pois se referem ao mérito da representação por propaganda 
eleitoral irregular. 
 
O paciente, na condição de Diretor do Google Brasil Internet Ltda., é a pessoa a 
quem incumbe legalmente o cumprimento da ordem de retirada da internet do vídeo 
objeto de representação por propaganda eleitoral irregular. O paciente não pode se 
esquivar da responsabilidade pelos atos praticados por seus procuradores, pois 
agiram em seu nome, munidos de documento hábil para essa finalidade. 
 
Não há falar em ausência de ordem judicial endereçada ao paciente de forma direta e 
individualizada, pois o acórdão do TRE/PB é explícito em apontar o paciente, 
nominalmente, como destinatário. 
 
A conduta do paciente reveste-se de tipicidade penal, pois não há lei que preveja 
especificamente sanção pecuniária para a hipótese e a ordem judicial consignou que 
o seu descumprimento seria punido à luz do direito penal. 
 
Ordem denegada. 
 
(Processo: HC 121148 PB - Relator(a): Min. FÁTIMA NANCY ANDRIGHI - 
Julgamento: 21/03/2013 - Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 82, 
Data: 03/05/2013). 
 
 
Recurso em habeas corpus. Trancamento. Ação penal. Crime. Art. 347 do Código 
Eleitoral. 
 
Para analisar o argumento do recorrente de que não restou configurado o crime de 
desobediência, uma vez que não teria sido notificado para se abster da veiculação de 
propaganda eleitoral em local vedado, seria necessário o exame detalhado das 
provas e dos fatos, o que é inviável na estreita via do habeas corpus e deve ser 
analisado durante a instrução do processo criminal. 
 
2. Não se concede habeas corpus quando a denúncia descreve indícios suficientes de 
autoria e materialidade do crime e expõe claramente fato que, ao menos em tese, 
configura a conduta descrita no art. 347 do Código Eleitoral. 
Recurso em habeas corpus desprovido. 
(Processo: RHC 126 SP – Relator(a): Min. ARNALDO VERSIANI LEITE 
SOARES – Julgamento: 22/04/2009 – Publicação: DJE - Diário da Justiça 
Eletrônico, Data 21/05/2009, p. 18). 
 
Decisões TSE: 
Ac.-TSE nºs 240/94, 11.650/94, 245/95 e Ac.-TSE, de 6.11.2007, no HC nº 579: necessidade, 
para configuração do crime, que tenha havido ordem judicial, direta e individualizada, 
expedida ao agente. 
 
 
28 
 
Ac.-TSE, de 6.11.2007, no HC nº 579: impossibilidade de imputação do crime de 
desobediência a candidatos caso a determinação judicial de observância às regras de 
propaganda eleitoral tenha sido dirigida exclusivamente a partidos e coligações. 
 
I. Desordem 
 
Descrição do Tipo Penal: 
 
Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral: 
 
Art. 296. Promover desordem que prejudique os trabalhos eleitorais: 
Pena: detenção até dois meses e pagamento de 60 a 90 dias-multa. 
 
Sujeito ativo: 
Crime comum que pode ser praticado por qualquer pessoa 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Doutrina: 
PROMOÇÃO DE DESORDEM NOS TRABALHOS ELEITORAIS (ART. 296 DO 
CÓDIGO ELEITORAL) 
 
Os trabalhos eleitorais devem ser desenvolvidos dentro da ordem, sem tumultos, 
nem alterações, posto que o exercício dos direitos políticos somente se coaduna com 
ambiente de respeito à lei. 
Na verdade, da boa condução dos trabalhos eleitorais é que irá decorrer a escolha 
lídima daqueles que serão os representantes do povo frente às instituições do país, 
daí porque a ordem, o regular desenvolvimento do processo eleitoral, é um 
imperativo. 
 
Nesse sentido está, inclusive, a norma penal do art. 296 do Código Eleitoral, posto 
que reputa delituosa a conduta daquele que ‘promover desordem que prejudique os 
trabalhos eleitorais (GOMES, Suzana de Camargo. Crimes Eleitorais. São Paulo: 
Editora Revista dos Tribunais, 2008, p. 307). 
 
Jurisprudência: 
Recurso Criminal. Crime eleitoral. Promoção de desordem durante os trabalhos 
eleitorais. Artigos 296 e 312 da Lei n. 4.737/65, c/c art. 29, caput, e na forma do 
art. 70, caput, ambos do CP. Ausência de interrogatório. Nulidade afastada em 
função de não haver prejuízo aos réus. Para configuração do crime, a desordem deve 
prejudicar os trabalhos realizados na fase do alistamento, votação, apuração ou 
 
29 
 
diplomaçãodos eleitos, inclusive nas etapas da propaganda política partidária ou 
eleitoral, registro de candidatos, prestação de contas, direito de resposta e pesquisas 
eleitorais. Tentativa de violação do sigilo do voto e promoção de desordem em seção 
eleitoral não comprovados. Deram provimento ao recurso. 
(Recurso Criminal 189 RS. Relator Des. Luiz Felipe Brasil Santos Publicado no DJE 
TRE-RS 18/08/2014) 
 
Nota: 
Cuida-se de crime material e não de mera conduta. A promoção da desordem, no caso, 
deve importar em um resultado exigido pela norma, qual seja, um prejuízo aos trabalhos 
eleitorais. Portanto, eventual desordem que alguém venha a provocar no dia da eleição, mas 
que não traga qualquer prejuízo aos trabalhos da Justiça Eleitoral, não deve ser enquadrada 
nesse tipo penal, podendo constituir infração penal comum. 
 
J. Impedimento ou embaraço ao exercício do voto 
 
Descrição do Tipo Penal: 
 
Lei nº 4.737/65 – Código Eleitoral: 
 
Art. 297. Impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio. 
Pena: Detenção até seis meses e pagamento de 60 a 100 dias-multa. 
 
Jurisprudência: 
RECURSO CRIMINAL - SENTENÇA ABSOLUTÓRIA - SUPOSTO 
EMBARAÇO AO EXERCÍCIO DO VOTO - ART. 297 DO CÓDIGO 
ELEITORAL - AÇÃO PENAL QUE SE BASEIA APENAS EM TESTEMUNHOS 
- AUSÊNCIA DE PROVA ROBUSTA DO COMETIMENTO DE CONDUTA 
TÍPICA PELOS ACUSADOS - INDÍCIOS DE PARCIALIDADE DOS 
TESTEMUNHOS DE ACUSAÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVAS SEGURAS 
PARA UM DECRETO CONDENATÓRIO - APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO IN 
DUBIO PRO REO - PRECEDENTES - MANUTENÇÃO DA SENTENÇA - 
DESPROVIMENTO DO RECURSO. 
- “A imposição de condenação criminal exige prova segura e incontroversa, 
admitindo-se a prova exclusivamente testemunhal, desde que livre de 
comprometimentos políticos ou pessoais” [Precedente: Ac. TRESC n. 25.446, de 
26/10/2010, Rel. Juíza Eliana Paggiarin Marinho] 
(RDJE 162355 – SC. Relator Nelson Maia Peixoto. 23/11/2011). 
 
Transação Penal: Há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: Há requisito objetivo para proposta (art. 89 da Lei nº 
9.099/95). 
 
Doutrina: 
 
30 
 
O voto consiste no mais relevante direito político do cidadão, sendo que, no dizer de 
ADOLFO POSADA, trata-se de direito que ‘não decorre da natureza do homem, 
mas da posição concreta, em que o homem, como cidadão, pode encontrar-se 
perante o Estado, que deve condicionar juridicamente a intervenção na vida dos 
cidadãos segundo a sua capacidade’. Mas não é só, o voto também é dotado de 
relevante função social, posto que através dele são tomadas decisões, especialmente 
no que concerne à escolha daqueles que serão os representantes da nação. 
 
Tem-se, assim, que qualquer atentado ou violação ao exercício do direito de sufrágio 
representa não só uma ofensa ao direito individual do cidadão de votar, mas, 
igualmente, revela-se em infração à função social exercida através desse mecanismo. 
 
O delito previsto no art. 297 do Código Eleitoral, consubstanciado na conduta de 
‘impedir ou embaraçar o exercício do sufrágio’, representa a tutela penal conferida 
pelo direito positivo à liberdade do direito de voto (GOMES, Suzana de Camargo. 
Crimes eleitorais. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 232). 
 
K. Fornecimento de alimentação 
 
Descrição do Tipo Penal: 
Lei nº 6.091/74: 
 
Art. 10 – É vedado aos candidatos ou órgãos partidários, ou a qualquer pessoa, o 
fornecimento de transporte ou refeições aos eleitores da zona urbana. 
Art. 11 – Constitui crime eleitoral: 
[...] 
III – descumprir a proibição dos artigos 5º, 8º e 10. 
Pena: Reclusão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e pagamento de 200 a 300 
dias-multa. 
 
Jurisprudência: 
Ac.-TSE, de 7.8.2008, no REspe nº 28.517: “O delito tipificado no art. 11, III, da Lei nº 
6.091/74, de mera conduta, exige, para sua configuração, o dolo específico, que é, no caso, a 
intenção de obter vantagem eleitoral, pois o que pretende a lei impedir é o transporte de 
eleitores com fins de aliciamento”. 
 
Ac.-TSE nº 402/2002: o tipo deste inciso é misto alternativo, bastando a violação de qualquer 
uma das proibições legais a que remete. 
 
Transação Penal: NÃO há requisito objetivo para proposta (art. 76 da Lei nº 9.099/95). 
 
Suspensão Condicional do Processo: NÃO há requisito objetivo para proposta (art. 89 da 
Lei nº 9.099/95). 
 
 
31 
 
Doutrina: 
LEI SOBRE TRANSPORTE E ALIMENTO NO DIA DA ELEIÇÃO 
Editada em 1974, e ainda parcialmente em vigor, a Lei n. 6.091, de 15 de agosto de 
1974 dispôs sobre o fornecimento gratuito de alimentação e transporte, em dia de 
eleição, a eleitores residentes nas zonas rurais. (COSTA, Tito. Crimes Eleitorais e 
Processo Penal Eleitoral. Tito Costa. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 183) 
 
Nota: 
Somente a Justiça Eleitoral poderá, quando imprescindível, em face da absoluta 
carência de recursos de eleitores da zona rural, fornecer-lhes refeições (art. 8º da Lei n.º 
6.091/74). 
 
L. Transporte ilegal de eleitores 
 
Descrição do Tipo Penal: 
 
Lei nº 6.091/74 
 
Art. 5º – Nenhum veículo ou embarcação poderá fazer transporte de eleitores 
desde o dia anterior até o posterior à eleição, salvo: 
I – a serviço da Justiça Eleitoral; 
II – coletivos de linhas regulares e não fretados; 
III – de uso individual do proprietário, para o exercício do próprio voto e dos 
membros de sua família; 
IV – o serviço normal, sem finalidade eleitoral, de veículos de aluguel não atingidos 
pela requisição de que trata o art. 2º. 
[...] 
Art. 11 – Constitui crime eleitoral: 
[...] 
III – descumprir a proibição dos artigos 5º, 8º e 10: 
Pena: Reclusão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e pagamento de 200 a 300 
dias-multa. 
 
Sujeito ativo: 
Qualquer pessoa que descumprir as proibições dos arts 5º, 8º e 10. 
 
Jurisprudência: 
RECURSO – CRIME ELEITORAL – TRANSPORTE IRREGULAR DE 
ELEITORES - DOLO ESPECÍFICO - DEMONSTRAÇÃO - DESPROVIMENTO. 
Configura-se o crime de transporte irregular de eleitores, impondo-se a manutenção 
da sentença condenatória, quando demonstrada a intenção de obter vantagem 
eleitoral no oferecimento de transporte a eleitor no dia do pleito para local de 
votação. 
(REL 500845 RN. Rel Artur Cortez Bonifácio. DJE 02/02/2013) 
 
 
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RECURSO CRIMINAL. TRANSPORTE IRREGULAR DE ELEITORES. 
ELEIÇÕES 2010. PROVAS. DOLO ESPECÍFICO. RELAÇÃO DE 
PARENTESCO. AUSENTE. RECURSO DESPROVIDO. 
1. Revela-se configurado o transporte irregular de eleitores realizado com dolo 
específico de aliciá-los em favor de candidato, cujos termos da denúncia foram 
confirmados pelas colhidas em sede policial e corroboradas pela instrução 
processual. 
2. Afasta-se a aplicação de permissivo legal que autoriza transporte de eleitores cuja 
suposta relação de parentesco com o infrator não restou comprovada nos autos. 
(RC 3581 MT. Relator André Stumpf Jacob Gonçalves. DJE 24/02/2014) 
 
RECURSO CRIMINAL. AÇÃO PENAL. TRANSPORTE IRREGULAR DE 
ELEITORES. DOLO ESPECÍFICO. AUSÊNCIA. ELEIÇÕES 2012. NEGADO 
PROVIMENTO. 
1. Havendo prova da autoria e materialidade da prática do transporte de eleitores, 
necessário se faz o exame para aferir se houve a intenção de aliciamento dos 
sufragistas. 
2. Para que o crime seja configurado, há necessidade de que o transporte de eleitores 
seja praticado com o fim explícito de aliciar eleitores e angariar votos. Ausência de 
dolo específico 3. Provas insuficientes para ensejar o decreto condenatório. 4. 
Negado provimento. 
(RC 76587 TO. Relator José Ribamar Mendes Junior. DJE 28/02/2014) 
 
 
Ac.-TSE, de 7.8.2008, no REspe nº 28.517: “O delito tipificado no art. 11, III, da 
Lei

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