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A visão Romântica Benedito Nunes

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A visão Romântica – Benedito Nunes; O Romantismo, Ed. Perspectiva: 2008, p. 51-76. 
I – As categorias do romantismo:
Conforme Benedito Nunes convém fazer uma reformulação da abordagem que se tem sobre a visão Romântica. Em especial, no que diz respeito a duas categorias implícitas no conceito de Romantismo: a psicológica (relacionada a um modo de sensibilidade) e a histórica (referente a um movimento literário e artístico datado). 
Quanto à categoria psicológica o Romantismo toma como seu objeto de ação interior o sentimento. (p.51-2). O sujeito 	que, por assim dizer, excede o simples estudo afetivo e aspira ao infinito, “na interpretação tardia de Baudelaire.” (p.52). É pelo que afirma o autor do texto em questão, o sentimento do sentimento, desejo do desejo, etc. Uma sensibilidade que une os opostos, assim como os separa: entusiasmo e melancolia, nostalgia e fervor, exaltação e desespero. Conteúdos que abarcam o elemento reflexivo do infinito, da inquietude e insatisfação permanentes que tem elementos de toda experiência conflitiva aguda. (p.52). Contudo, este modo gerado pelo conflito de problemas insolúveis se torna um modo de se produzir arte. Adquire, portanto, a feição de um comportamento espiritual definido e que implica um modo de encarar o mundo. 
O movimento romântico que se desenvolveu entre as duas últimas décadas do século XVIII e os fins da metade do século XIX (1780-1850) e foi quando se verificou uma ruptura com os gostos da literatura clássica que fora prolongado por meio do Neoclassicismo iluminista. Fundiram-se fontes filosóficas, estéticas e religiosas próximas. A primeira vertente alemã, de 1796 em diante, foi a primeira a empregar o termo romântico em uma conotação histórica e crítica. [A escola alemã] definiria de forma concreta a fortuna teórica do termo romântico e que passou a significar, por conseguinte, um estado da poesia e uma atitude em relação à poesia. Uma poesia ligada ao Classicismo de Weimar e, particularmente, sensibilizada pela problemática Schilleriana da poesia ingênua dos antigos. A poesia romântica, particularmente dessa vertente, se originou em um clima universitário, como afirma Benedito Nunes. 
O autor aponta que há distinção entre o pensamento filosófico romântico, ou pós-Kantiano, como ele o classifica, e a escola do Romantismo literário. Ou seja, a filosofia do Romantismo se restringiria aos filósofos como Schleiermacher, Novalis e Hegel. (p.52). O movimento romântico (literário) é antes uma grande ruptura aos padrões clássicos e que projetou o Romantismo como fenômeno da evolução literária e das artes. Este aspecto de projeção do Romantismo como um movimento de mudança estética em larga escala devido ao seu:
 “efeito mais interior e concentrado de um rompimento, interior e difuso, no âmago das correlações significativas da cultura, rompimento que se aprofundou ainda na metade do século XIX, com o surgimento e desenvolvimento da sociedade industrial e, cujo aspecto mais significativo de suas origens era sua reação contra as ideias do Iluminismo. A visão romântica se coloca como uma concepção de mundo com bases em um período de transição situado entre o Antigo Regime (Ancien Regime) e o liberalismo. Ele se estabelece como uma ponte, uma ligação entre a sociedade pré-industrial e o ethos nascente da civilização urbana sob a economia de mercado”. (p.53). 
	Conforme o autor, a visão de mundo idealista e metafísica do Romantismo e “percorrida por um afã de totalidade e de unidade, próprio da sensibilidade conflitiva que a impulsionou” e, também, que é “polarizada” por sentimentos opostos extremos e, por conseguinte, atitudes antagônicas. Ainda em suas considerações sobre as bases do Romantismo e as suas consequências ao universo cultural, o autor afirma que transformou-se a literatura, assim como a arte, em “instância privilegiada de uma só atividade poética” e que, “concomitantemente”, está “ligada à afirmação do individuo e ao conhecimento da Natureza.” (p.53). O que importa afirmar é que, com base nisso, está situado o Romantismo que conjuga e solidariza duas categorias: a psicológica e a histórica, como diz Benedito Nunes. (p.53). 
	Dentre os fatores do papel social e do conteúdo das obras românticas nos interessa particularmente aquilo que causa contraste ao modelo Clássico. Ou seja, o extravasar dos sentimentos e que foi “comparada a um acesso de febre intensa”, por Goethe. (Cf., p.53). Dá-se ênfase no que se chama de “urgente feeling”: “Sentimento urgente/ ao invés de estilo.” (Cf., p.53). A contribuição para a diversificação dos conteúdos foi evidente. Em especial, no que diz respeito de acesso estético por meio de valores lúdicos e festivos da cultura cômica popular do medievo e Renascimento. Portanto, conforme o texto em questão são textos que jamais veriam a luz do dia por conta do “decoro clássico”. O Romantismo via elementos “mágicos encantatórios e divinatórios” serem transportados, sobretudo à lírica. (p.53). 
	
II – O Iluminismo e a Constelação Romântica 
	O pensamento do Iluminismo e suas ideais de Razão e Natureza: ideias reguladoras do século XVII são vistas como ideias que desempenham papel de conceitos conformadores com relação ao homem e ao mundo, no século XVIII. Dentro desta cadeia de conceitos limitadores, como afirma Benedito Nunes, pode ser incluído o Classicismo e o Deísmo que fizeram parte de uma “constelação de princípios.” (p.56). O mais importante destes princípios sendo, com alguma previsibilidade, a “uniformidade da Razão”. Conforme se coloca o bom senso cartesiano, que é parte da Razão, era tido por “esta constelação de conceitos”, como igualmente compartilhada pelos homens em sua totalidade. 
A Natureza – como conjunto das disposições livres ao exame analítico e -, que seriam sempre iguais em toda a parte. Escaparia, portanto, das circunstancialidades históricas, sociais, assim como as paixões e os hábitos. Estes aspectos se vinculam ao modo de pensar ilustrado e que estava ligado ao Classicismo. Reconheceu-se o homem como sujeito universal, de direitos naturais, caracterizado pelo seu conhecimento aplicado ao “progresso da inteligência da espécie.” (p.56). 
É importante notar que, conforme o texto, a tendência do pensamento iluminista é de uma simplificação que beira ao antintelectualismo. Alguns conceitos citados para justificar tal postura diante da ilustração podem ser listados tais como: cosmopolitismo abstrato, igualitarismo intelectual, etc. O cosmopolitismo abstrato nivelaria todas as particularidades locais e diferenças nacionais. Quanto ao igualitarismo intelectual pressupõe-se que as verdades sejam universais e tais princípios sejam passíveis de serem acessados em igual medida tanto para os cidadãos europeus como por selvagens. (p. 56). Estas verdades eram consideradas, diz o autor, tanto mais verdadeiras quanto menos metafísicas fossem. 
O homem e a Natureza puderam se integrar por causa da concepção mecanicista do universo. Sob a regência de leis uniformes a unidade destes princípios foi coroada e, assim, se podem harmonizar, dentro do esquema racionalista do pensamento da Ilustração, estes conceitos. Caem, à luz destes conceitos, ideias ordenadoras com “substratos das crenças religiosas”. Nos termos do autor: “a religião natural nos limites da simples razão” e que “era admitida pelo deísmo”. Colocam-se, dentro deste todo ordenado os princípios do bom-senso: “a normatividade e o bom gosto.” Ou seja, a arte nos limites da bela natureza. Em suma: a estética do Classicismo. (p.56). 
Ambos deísmo e Classicismo confirmam em dois níveis (planos) as leis que regem de maneira uniforme e que tiveram origem nas ciências. Sendo assim pode se comparar as leis da física, as leis civis, as leis políticas e as normas do bom gosto. Há uma particularização, de acordo com um causalismo mecanicista, como afirma o autor, e que se estende de forma contigua dos domínios naturais aos domínios da sociedade e da cultura. As relações entre estas partes derivam da natureza imutável e eterna à qual se referiu d’Almberte que estão sujeitas às mesmas leis, independentemente das “entidades metafísicas à qual elas derivam”. Liga-se os conceitos as coisas, por meio da linguagem e, da mesma forma, as palavras aos objetos. (p.56-7). 
Por meio destas relações dá para se atribuir uma correlação entre exterior e interior, entre o homem e o mundo. Ou, nos termos colocados pelo autor do texto, um circuito de comunicação previamente existente das coisas e da natureza do homem. Há, por consequência disso, um achatamento do individuo e que se encaixa como um sujeito universal do conhecimento. Encaixa-se este sujeito a uma ordem e uma Natureza que prolonga na ordem e na regularidade dos discursos científico, religioso e político do século XVIII. (p.57). Por consequência, pode se afirmar que esse achatamento do sujeito refletiu no gosto classicista, já que ele reduz a singularidade do individuo. 
Conforme Benedito Nunes reflete-se esta concepção de mundo no gosto clássico e na disciplina intelectual da doutrina deísta. Concepções, ambas, refratárias da experiência singular do individuo e que se caracteriza pelo subjetivismo. As matrizes filosóficas da visão romântica legitimam, dentro de um novo padrão de concepção estética, outra constelação de princípios. São a originalidade e o entusiasmo e o caráter transcendente do sujeito humano que quebram o individualismo racionalista e a concepção mecanicista de Natureza. (p.57). 
	A primeira matriz se formou pelo principio da transcendência do Eu na filosofia de Fichte e a segunda pela ideia de Natureza como individualidade orgânica na filosofia de Schelling. (p.57). O autor vai além e cita Kant como aquele que emprestou individualidade ao Cogito cartesiano. Segundo ele o cogito cartesiano torna-se uma instância formal que não reflete a experiência pessoal e precede as representações do espírito. É pela autoconsciência, processo gerador do meu ser e que tem origem na intuição intelectual de mim mesmo, que pode se gerar o saber. Daí sai o processo de pensar de algo impessoal para uma pessoalidade que se torna condição sine qua non do pensamento. Sendo assim, eu penso partindo de mim para apreender o mundo. (p.57). 
	Parte do próprio sujeito a comunicação entre o interior e exterior que transcende a Natureza física e que exprime relações de “mim mesmo para mim mesmo”, como afirma Fichte, conforme a citação colocada por Benedito Nunes. Essa Natureza é vista por Schelling como um todo vivo, como individualidade orgânica e que devolve a ação que se originou do Eu. Ainda conforme o autor essa Natureza é o que parece ser: o aspecto ao mesmo tempo visível e evidente tanto quanto a parte invisível e inconsciente. Ele é em suma aquilo que a intuição intelectual consegue apreender. É, também, análogo à imaginação poética, como diz Benedito Nunes. Paralelamente, a intuição intelectual tem como base a singularidade individual e desfaz a uniformidade da razão teórica. (p.57). 
	É por conta do avultamento do sujeito – e precursor da subjetividade do Romantismo – é que há a inversão da ordem clássica de pensamento e que destitui o individualismo racionalista da Ilustração. Substitui-se esse racionalismo individual por um individualismo egocêntrico e que evoca a força expansiva e irradiante do Eu. (p.58). Assim, conforme as palavras do texto: 
“Ponto cêntrico da realidade e passagem para o universo [...], o Eu, assim configurado assegurou um primado ontológico [...] à vida [...] interior, que foi sinônimo de profundeza, espiritualidade, elevação e liberdade, no vocabulário do Romantismo, quando não significou também o ‘solo sagrado’ [...] de onde o verdadeiro sentimento religioso brota, onde a perfeição moral se abriga e a arte começa.” (p.58-9). 
	As duas matrizes do Romantismo estão relacionadas de maneira a determinarem uma à outra, ou seja, são interdependentes. A primeira matriz é a da vida espiritual, livre, interior e que levam a segunda matriz a se manifestar: a do poder irradiante do Eu e sua capacidade expansiva de se manifestar em tudo aquilo que o individuo tem de singular e característico. Tudo aquilo que é do individuo tem a capacidade de ser manifestado pelo próprio individuo sob a tônica do entusiasmo e, assim, assumir um caráter expansivo aflorando ao exterior pela sua riqueza superabundante de conteúdos que possuem força própria. É semelhante espontaneísmo que passará ao plano da arte, em especial, na arte do Romantismo. É essa expressão do Eu e de suas experiências pessoais que figurará como modelo de expressão artística. (p.58). 
	É por meio daquilo que está fora do individuo que se encontra o próprio reflexo do individuo e que vai encontrar a manifestação de sua interioridade na Natureza exterior ao seu Eu. O mundo exterior passa a ser reflexo daquilo que é o Eu, portanto. Como parte dessa Natureza o Homem, também está sujeito às mesmas leis de sua criatividade quanto ao que se afigura na Natureza. Esta não é mais estática, mas está sempre em evolução. Assim, a Natureza revela esse mesmo espontaneísmo criativo legado pela visão romântica do mundo. Sendo assim, “o universo inteiro fala e os corpos são os signos da linguagem.” (p.59). 
Vale lembrar, como breve nota de rodapé, que o Romantismo opõe ao Cosmopolitismo abstrato do século XVIII, e supressor das diferenças nacionais, um nacionalismo concreto. Existe um produto do clima, das circunstâncias temporais e, que justificam esse nacionalismo por meio de elementos seculares como flores que crescem sob um determinado céu e prosperam à custa de quase nada, porém, que morrem e murcham em qualquer outro lugar. A consequência dessa visão, entretanto, é muito mais que uma nota de rodapé, já que ela dá entrada sob o conceito de um tempo e espaço dramático do tempo histórico. Ele passa a ser visto, como na metáfora evocada por Benedito Nunes, como um rio caudaloso, oceânico e que abrange exclusivamente as mudanças incessantes dos sujeitos humanos. Essa concepção de tempo não se determina como individual na medida em que fala de destino de povos estão colocados em obras criativas do período que vigorou a estética Romântica. Nesse sentido, é o destino e não a razão o grande guia dos povos. Perdurou o destino cego no lugar do progressivo aperfeiçoamento da inteligência da humanidade. (p.59-60). 
O gênio é a ideia que mais claramente se transparece a ideia de individuo egocêntrico que domina o período do Romantismo. A estética clássica não negou completamente a imaginação. O Classicismo valorizou a representação de ideias e de correlações e que escapariam à aplicação dos conceitos e ao raciocínio analítico. Contudo, estas ideias representariam um derivativo do conhecimento racional. Mesmo sendo considerado um dom o gênio não excede o que a poesia Classicista pregava como proposta: a subordinação da imaginação à razão. Assim como, também, o gênio não dava aval para que desrespeitassem as regras de composição de poesia. (p.60). 
Por meio de uma reinterpretação da mimese aristotélica, ou seja, que considera o nexo entre arte e natureza na perspectiva do belo como um objeto dos juízos de gosto, foi Kant que teve papel fundamental nessa reformulação. Dentro da perspectiva da estética como contemplação desinteressada e que permite qualificar a experiência estética relativa às coisas naturais e às obras de arte, foi ele que deu especial significação ao gênio. Sendo assim, como expresso no texto, se as coisas naturais que são belas parecem livres produtos da Natureza, então, poderia se aplicar um raciocínio análogo às obras de arte. 
Portanto, dito em outros termos: as obras artísticas são tanto mais belas quanto mais aparentam estar livres, de modo análogo ao processo atribuído ao belo que se pode averiguar na Natureza. Quanto mais espontâneas as obras de arte e, quanto mais se sobrepõe este aspecto livre, mais belas as obras de arte são. (p.60). Por mais que haja uma técnica envolvida o aspecto da espontaneidade aproxima a obra de arte da natureza e que como modelos singulares as obras de arte não se produzem mediante regras. A genialidadenão exerce apenas uma função reguladora, como talento, mas é um dom natural e como tal é uma capacidade que pertence à natureza. (p.60). 
A noção de gênio começou a mudar e ultrapassou o conceito de um simples engenho ao ser introduzido, no século XVIII, um elemento de transgressão permanente. Ia-se da simples contestação e transgressão dos padrões clássicos entre os pré-românticos à aberta contestação dos padrões sociais. Para além da rebeldia estética e o sentimento de revolta contra a sociedade, que caracterizavam uma dupla infringência, havia outra transgressão à qual a filosofia de Kant apontava e que atingia diretamente a ordem racional. Pondo-se assim em xeque a autoridade da razão teórica sobre a fantasia. Colocava-se assim o gênio à parte do talento para investigação científica. Tornava-o uma categoria separada. (p.60-1). 
O gênio artístico produz sem modelos, apenas baseando-se na experiência pessoal e completamente alheio à imitação ou ao modelo dos grandes mestres. Ele faz apenas baseado em suas determinações interiores. O conhecimento racional jamais lhe alcança. Para Edward Young, o poeta genial está mais para um mágico do que para um arquiteto. Shaftesbury, que influiu na estética de Kant, via o gênio como portador de uma capacidade artística e criativa equivalentes à intuição e à força daquilo que mantêm o universo coeso. Talento originário para a arte, faculdade e dom inato, intuição e predestinação, como diz Benedito Nunes, tornaram-se, no período do Romantismo, o mediador entre o Eu e a Natureza. (p.61). 
A faculdade de representar artisticamente, ou seja, de apresentar ideias estéticas, conforme Kant se converte em poder intuitivo cognoscente: ao mesmo tempo criador e expressivo. Estando acima do conhecimento empírico. Poder correlativo, como afirma o autor, à capacidade expansiva e à força irradiante do Eu. Há a reflexão da originalidade e do entusiasmo neste poder formado recentemente, no qual se refletem a profundeza e a elevação, assim como a espiritualidade da vida interior. O Romantismo alemão conferiu ao gênio uma posição teórica e prática superior. O gênio se torna um suprassumo, do ponto de vista ético e estético. Ele é singular tanto em sua individualidade quanto em seu estado de entusiasmo que o caracteriza como gênio. (p.61). 
É na arte que o Eu alcança a verdadeira intuição de si mesmo. A intuição artística, por consequência, seria a verdadeira intuição intelectual, afinal, ela cria o seu próprio objeto. A individualidade orgânica da natureza se revela como operação artística, produto do entendimento do nous poietikus. A arte, como produto do conhecimento acabado, resolveria as contradições entre o subjetivo e o objetivo, o consciente e o inconsciente, o real e o ideal, a liberdade e a necessidade. Assim, a arte realiza a unidade entre a beleza e a verdade. O gênio passa a ser a capacidade que “universaliza e transubstancia.” (p.61). 
Ligadas intrinsecamente as funções do poeta são inseparáveis do tom confessional da poesia. A poesia é confessional e, portanto, espontânea e dão tom à função da lírica: “pedagógica, terapêutica, mágica, divinatória, encantatória, que o poeta, misto de cantor e vate, assume na medida em que exprime a originalidade de sua vida interior...” (p.62). Por meio dessa expressão do Eu é que a poesia adquire sua autonomia e universalização que desencadeou do movimento do Romantismo. (p.62).
A poesia é ora linguagem original, ora linguagem primitiva e que serve como intercomunicação entre os âmbitos religioso, ético e filosófico. Ela é capaz de exercer função moral e purificar a religião. A poesia alça um plano de universalização cultural e histórica e penetra horizontalmente em todos os planos da cultura. A universalização cultural e histórica legada pela penetração da poesia em todos os âmbitos da cultura é responsável por um nexo entre a poesia e as aspirações religiosas. 
Projeta-se a arte como realidade histórica e interrompe-se a disciplina canônica do gosto clássico. Uma universalização em tais proporções é a prova da autonomização do imaginário e que se destaca da vida espiritual como processo desenvolvimento independente. Mantêm-se com a moralidade, em especial a religião cristã, uma relação de dependência mútua configurando-se assim golpe mortal para o deísmo. A poetização da religião é apenas parte da poetização dos aspectos da vida impulsionados pelo movimento romântico. (p.64). 
III – A vivência da Natureza e a realidade evanescente
O individualismo egocêntrico e organicista, característicos da visão romântica, incorporou além do poder intuitivo da imaginação, também, a disposição religiosa da interioridade absoluta. Aliás, termo pelo qual Hegel caracterizou o estado de espírito do Romantismo. É uma vivência que se enquadra em um confronto dramático do individuo com o mundo. Este confronto foi possibilitado pelo avultamento do sujeito humano. (p.64).
O poeta romântico dialoga com as formas naturais que lhe falam à alma de modo que dizem sobre o elemento espiritual que traduz nas coisas os signos visíveis e obras sensíveis. Atesta-se de modo eloquente a existência sempre presente do invisível e do suprassensível. Transforma-se a natureza em uma teofania. Os bosques, as florestas, o vento, os rios, etc. – tudo aquilo que não é humano constitui em espetáculo para o homem. Em Le Génie du Christianisme Chateaubriand atesta o testemunho da imensidade de Deus. (p.65). 
Contudo “o próprio senso do infinito, o afã de integridade e totalidade”, que alentou a disposição religiosa dos românticos, levou-os, por vezes a uma intenção de inocência, intuição do ser espiritual não-concentrado e dinâmico que age sobre as coisas e incorpora a intuição panteísta de Shelley, mas sobretudo, anteriormente em Wordsworth. A Natureza representou para Wordsworth um ideal de simplicidade dos sentimentos associados à vida rural. (p.65). 
O idealismo subjetivo de Fichte e objetivo de Schelling panteisaram o cristianismo, assim como os seus precedentes medievais e renascentistas: Eckart, Cusa, Bruno, J. Baehme. O panteísmo foi, por isso, considerado sarcasticamente e honestamente uma religião oculta da Alemanha. Ao menos, se considerarmos o que diz Heine. O realismo mágico de Novalis se arquiteta por conta de uma combinação dos sentimentos religiosos cristãos com certos veios mágicos, esotéricos e místicos. Segundo este esquematismo de sentimentos religiosos e certo paganismo, o realismo mágico de Novalis vê a natureza como o “plano enciclopédico do nosso espírito.” (p.65). 
O espírito está oculto na aparência mecânica das formas naturais. Há, portanto, a presença em todos os lugares do Eu que não se mostra. É a presença do humano em elementos não humanos como uma das características do realismo mágico. Caberia ao gênio emprestar por conta de sua imaginação poética, que espiritualizava o mundo exterior, converter o que Benedito Nunes chama unidade divina em “unidade intrínseca da Natureza.” (p.65-6). 
A Natureza era, além da maior fonte de temas para o Romantismo, o foco pelo qual a imaginação da intuição se afirmou. A compreensão do Romantismo adota uma perspectiva de coesão mágica em que há uma analogia entre objeto e palavras. É particularmente esclarecedora a analogia do pensamento pré-clássico / do medievo e a compreensão do mundo romântica, que havia se arcaizado nos fins do século XVII. Período em que se localiza a fase inicial do pensamento racionalista moderno. Conforme o autor, portanto, poderia se chegar à conclusão de que as possibilidades da linguagem literária decorrerem da “liberação metafórica da linguagem”. (p.67). 
A palavra como fenômeno literário se autonomizou recentemente. Destaca-se da trama classificatória, ligando os conceitos e as coisas às palavras e às coisas. O expressionismo do texto dirigido a uma intenção de expressão direta, imediata e espontânea é um dos aspectos desta expressão poética romântica. Neste aspecto as imagens servem como uma segunda pauta de linguagem, tentando reduplicar em vão a primeira pautaque seria ditada pelos objetos em si. Ou seja, a linguagem das coisas e dos sentimentos que excedem as palavras. O segundo aspecto, ou lineamento, é o transcendentalismo da palavra. A palavra é vista como criação do espírito e existe como obra em que as imagens dos objetos naturais anseiam uma realidade de um mundo superior, ideal. Ambos os aspectos como aqui apresentados da escrita romântica pressupõe o rapto da inspiração e conjugam uma atitude que enxerga a linguagem como contingente e secundária. (p.67).
Ao dialogar com as coisas que lhe falam à alma é sobre si mesmo que o poeta romântico fala. O que prepondera como característica principal do comportamento espiritual do poeta romântico é a aspiração do infinito. Anseio pelo vago e pelo indefinido. A ironia que os românticos alemães transformaram em um valor positivo da vida e da arte traduz o quão ilimitada é a inquietude destes poetas. É um jogo ilimitado de espírito infinito de acordo com F. Schelgel. (p.68). A ironia tende a ultrapassar qualquer espécie de arte inferior e efêmera que diga respeito aos sentimentos efusivos. (p.68). 
Ainda sobre o aspecto da ironia esta é uma ironia trágica e profunda que marcaria o Romantismo. Há, por um lado, o inatingível e o invisível e estes são transformados na instância poética da realidade superior e verdadeira. (p.68). As regiões onde sem encontram abertas para o sonho, para o mundo das fadas. (p.68).
IV. O processo do Romantismo
	Independentemente da aparência que assumam os panos de fundo que acompanham a poesia romântica, se esconde a pedra fundamental da relação do homem com o mundo por esta visão de mundo. Há insatisfação com o todo da cultura. Caracteriza-se esse conflito por meio do afastamento e desencantamento com a reprovação à sociedade após o assoma libertário de 1789. (p.69).
	Vale lembrar que o culto à natureza começou com o afastamento da sociedade. Associou-se esta atitude à Rousseau que, conforme o texto, o contato com a natureza compensaram-no as incompreensões e injustiças. É essa decepção misantrópica que se manifesta como afronta à sociedade. (p.69). A aspiração arcádica dos Discursos, A Nova Heloísa e no Contrato Social consumou a politização do conceito idílico de Natureza. (p.69). Este conceito foi divulgado à primeira geração de românticos, por Schiller. 
	A juventude transformou a realidade histórica no mal do século. Mistificou-se a problematização social por meio deste espanto com o estado das coisas. Os modos tradicionais de vida viam-se corroídos e esvaziados pelas estruturas nascentes. Constatavam-se modos de vida que assumiam um caráter rígido e mecanicista e estavam alheios aos indivíduos. Para combater essa tendência impessoal externou-se um individualismo egocêntrico se manifestando no culto à Natureza. A conformação do modo de sentir romântico, que estava ligado à aspiração ao infinito e à insatisfação eterna, havia uma vontade de integração à totalidade que liderava o espírito ao dilaceramento da consciência individual. (p.69). 
	Tendo a mesma origem do empenho à totalidade o amor ao passado desencadeou dentro do Romantismo uma mitificação da Idade Média e o poder espiritual da Igreja. Desta maneira, se configurou o compromisso do movimento romântico em reestruturar o papel social e político regenerador do cristianismo. O maior exemplo disso é o texto Europa ou Cristandade, de 1799 e escrito por Novalis. O texto prenunciava o reestabelecimento das Nações e Estados por conta do domínio espiritual da Igreja Católica. Porém, a espiritualidade do Cristianismo que permitiria a unificação das nações europeias seria caracterizada por aquela espiritualidade anterior à Igreja Luterana. (p.70).
	Há uma duplicação inerente ao Romantismo. A Natureza física, que se desdobra em um sistema espiritual, de individualidade humana derivando em um organismo físico e metafísico. Continua-se na arte eterna duplicando-se nas coisas. É uma religião do domínio suprassensível, porém, cindida em uma forma natural e histórica. O senso moral interno e a lei moral externa.

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