Buscar

sociologia 1 o trabalho nas diferentes sociedades

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 4 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

COLÉGIO DA URCAMP - ENSINO MÉDIO - SANTANA DO LIVRAMENTO - 
Sociologia – professor Edilacir Larruscain 
O TRABALHO NAS DIFERENTES SOCIEDADES
Em nossa sociedade, a produção de cada objeto envolve uma complexa rede de trabalho e de trabalhadores. Vamos tomar
como exemplo um produto que faz parte do dia a dia de grande número de pessoas: o pãozinho de água e sal. 
Os ingredientes básicos para fazer um pãozinho são o trigo, a água, o sal e o fermento. Para que haja trigo é necessário que
alguém o plante e o colha; é preciso que haja moinhos para moê-lo e comercialização para que chegue até a padaria. Esse mesmo
processo serve para o sal, que deve ser retirado do mar, processado e embalado. O fermento é produzido em outras empresas por
outros trabalhadores, com outras matérias-primas. A água precisa ser captada, tratada e distribuída, o que exige uma complexa
infraestrutura com grande número de trabalhadores. 
São necessários equipamentos, como a máquina para preparar a massa e o forno para assar o pão, fabricados em indústrias
que, por sua vez, empregam outras matérias-primas e trabalhadores. É necessário algum tipo de energia proporcionada pelo fogo (e
isso exige madeira ou carvão) ou energia elétrica (que é gerada em hidroelétricas ou termo- elétricas). As usinas de energia, por sua
vez, precisam de equipamentos, linhas de transmissão e trabalhadores para fazer tudo isso acontecer. Na ponta de todo esse trabalho,
estão as padarias, mercadinhos e supermercados, onde o pãozinho finalmente chega às mãos do consumidor. 
Se para comer um simples pão há tanta gente envolvida, direta e indiretamente, você pode imaginar quanto trabalho é
necessário para a fabricação do ônibus, da bicicleta ou do automóvel, para a construção da casa em que você vive ou da escola onde
estuda. Essa complexidade das tarefas relacionadas à produção é uma característica da nossa sociedade. Outros tipos de sociedade, do
presente e do passado, apresentam características bem diversas.
A produção nas sociedades tribais
As sociedades tribais diferenciam-se umas das outras em muitos aspectos, mas pode-se dizer, em
termos gerais, que não são estruturadas pela atividade que em nossa sociedade denominamos
trabalho. Nelas todos fazem quase tudo, e as atividades relacionadas à obtenção do que as pessoas
necessitam para se manter — caça, coleta, agricultura e criação — estão associadas aos ritos e mitos,
ao sistema de parentesco, às festas e às artes, integrando-se, portanto, a todas as esferas da vida
social. A organização dessas atividades caracteriza-se pela divisão das tarefas por sexo e por idade.
Os equipamentos e instrumentos utilizados, comumente vistos pelo olhar estrangeiro como muito
simples e rudimentares, são eficazes para realizar tais tarefas. 
Guiados por esse olhar, vários analistas, durante muito tempo, classificaram as sociedades tribais
como de economia de subsistência e de técnica rudimentar, passando a ideia de que elas viveriam
em estado de pobreza, o que é um preconceito. Se hoje muitas delas dispõem de áreas restritas,
enfrentando difíceis condições de vida, em geral, antes do contato com o chamado “mundo
civilizado”, a maioria vivia em áreas abundantes em caça, pesca e alimentos de vários tipos. 
Marshall Sahlins, antropólogo estadunidense, chama essas sociedades de “sociedades da
abundância” ou “sociedades do lazer”, destacando que seus membros não só tinham todas as suas
necessidades materiais e sociais plenamente satisfeitas, como dedicavam um mínimo de horas
diárias ao que nós chamamos de trabalho. Os ianomâmis, da Amazônia, dedicavam pouco mais de
três horas diárias às tarefas relacionadas à produção; os guayakis , do Paraguai, cerca de cinco horas,
mas não todos os dias; e os kungs, do deserto do Kalahari, no sul da África, em média quatro horas por dia. 
O fato de dedicar menos tempo a essas tarefas não significava, no entanto, ter uma vida de privações. Ao contrário, as
sociedades tribais viviam muito bem alimentadas, e isso fica comprovado em relatos que sempre demonstram a vitalidade de todos os
seus membros. É claro que tais relatos referem-se à experiência de povos que viviam antes do contato com o “mundo civilizado”. A
explicação para o fato de os povos tribais trabalharem muito menos do que nós está no modo como se relacionam com a natureza,
também diferente do nosso. 
Por um lado, para eles, a terra é o espaço em que vivem e tem valor cultural, pois dá aos humanos seus frutos: a floresta
presenteia os caçadores com os animais de que necessitam para a sobrevivência e os rios oferecem os peixes que ajudam na
alimentação. Tudo isso é um presente da “mãe natureza”. Por outro lado, os povos tribais têm uma profunda intimidade com o meio
em que vivem. Conhecem os animais e as plantas, a forma como crescem e se reproduzem e quais podem ser utilizados para a
alimentação, para a cura de seus males ou para seus ritos. Integradas ao meio ambiente e a todas as demais atividades, as tarefas
relacionadas à produção não compõem, assim, uma esfera específica da vida, ou seja, não há um “mundo do trabalho” nas sociedades
tribais. 
Escravidão e servidão
O termo trabalho pode ter nascido do vocábulo latino tripallium , que significa “instrumento de tortura”, e por muito tempo
esteve associado à ideia de atividade penosa e torturante. Nas sociedades grega e romana era a mão de obra escrava que garantia a
produção suficiente para suprir as necessidades da população. Existiam outros trabalhadores além dos escravos, como os meeiros, os
artesãos e os camponeses. No entanto, mesmo os trabalhadores livres eram explorados e oprimidos pelos senhores e proprietários.
Estes eram desobrigados de qualquer atividade, exceto a de discutir os assuntos da cidade e o bem-estar dos cidadãos. Para que não
dependessem do próprio trabalho e pudessem se dedicar exclusivamente a essa atividade, o trabalho escravo era fundamental.
Labor, poiesis e práxis
Os gregos distinguiam claramente a
atividade braçal de quem cultiva a terra, a
atividade manual do artesão e a atividade
do cidadão que discute e procura soluções
para os problemas da cidade. De acordo
com a filósofa alemã Hanna Arendt
(1906-1975), os gregos utilizavam os
termos labor , poiesis e práxis para
expressar suas três concepções para a
ideia de trabalho. O la b o r é o esforço
físico voltado para a sobrevivência do
corpo, sendo, portanto, uma atividade
passiva e submissa ao ritmo da natureza. 
O exemplo mais claro dessa atividade é o cultivo da terra, pois depende de forças que o ser humano não pode controlar, como
o clima e as estações. Poiesis corresponde ao fazer, ao ato de fabricar, de criar algum produto mediante o uso de um instrumento ou
mesmo das próprias mãos. O produto desse trabalho muitas vezes subsiste à vida de quem o fabrica, tem um tempo de permanência
maior que o de seu produtor. O trabalho do artesão ou do escultor se enquadraria nessa concepção. A práxis é a atividade que tem a
palavra como principal instrumento, isto é, utiliza o discurso como um meio para encontrar soluções voltadas para o bem-estar dos
cidadãos. É o espaço da política, da vida pública.
Nas sociedades feudais, como no mundo greco-romano, havia também aqueles
que trabalhavam — os servos, os camponeses livres e os aldeãos — e aqueles que
viviam do trabalho dos outros — os senhores feudais e os membros do clero. A terra
era o principal meio de produção, e os trabalhadores tinham direito a seu usufruto e
ocupação, mas nunca à propriedade. Muitos trabalhavam em regime de servidão, no
qual não gozavam de plena liberdade, mas também não eram escravos. Prevalecia
um sistema de deveres do servo para com o senhor e deste para com aquele. 
Além de cultivar as terras a ele destinadas, o servo era obrigado a trabalhar nas
terras do senhor, bem como na construção e manutençãode estradas e pontes. Essa
obrigação se chamava corveia. Devia também ao senhor a talha, uma taxa que se
pagava sobre tudo o que se produzia na terra e atingia todas as categorias
dependentes. Outra obrigação devida ao senhor pelo servo eram as banalidades ,
pagas pelo uso do moinho, do forno, dos tonéis de cerveja e pelo fato de,
simplesmente, residir na aldeia. Essa obrigação era extensiva aos camponeses. 
Examinando a ilustração ao lado pode-se ter uma ideia da organização do espaço
e do trabalho na propriedade feudal. 
Embora o trabalho ligado à terra fosse o preponderante nas sociedades
medievais, outras formas de trabalho merecem destaque, como as atividades
artesanais, desenvolvidas nas cidades e mesmo nos feudos, e as atividades
comerciais. 
Nas cidades, o artesanato tinha uma organização rígida baseada nas corporações
de ofício. No topo da escala dessas corporações, havia um mestre que controlava o
trabalho de todos. Esse mestre encarregava-se de pagar os direitos ao rei ou ao
senhor feudal e de fazer respeitar todos os compromissos com a corporação. Abaixo
dele vinha o oficial, que ocupava uma posição intermediária entre a do aprendiz e a
do mestre. Cabia ao oficial fixar a jornada de trabalho e a remuneração, sendo
também o responsável por transmitir os ensinamentos do mestre aos aprendizes. O
aprendiz, que ficava na base dessa hierarquia, devia ter entre 12 e 15 anos e era subordinado a um só mestre. Seu tempo de
aprendizado era predeterminado, bem como os seus deveres e as sanções a que estava sujeito, conforme o estatuto da corporação. 
Nas sociedades que vimos neste tópico, da Antiguidade até o fim da Idade Média, as concepções do que denominamos
trabalho apresentam variações, mas poucas alterações. Sempre muito desvalorizado, o trabalho não era o elemento central, o núcleo
que orientava as relações sociais. Estas se definiam pela hereditariedade, pela religião, pela honra, pela lealdade e pela posição em
relação às questões públicas. Eram esses os elementos que permitiam que alguns vivessem do trabalho dos outros. 
As bases do trabalho na sociedade moderna
Com o fim do período medieval e a emergência do mercantilismo e do capitalismo, o trabalho “mudou de figura”. Se antes
ele era visto como uma atividade penosa e torturante, passou aos poucos a ser considerado algo positivo. Isso aconteceu porque, não
sendo mais possível contar com o serviço compulsório, foi preciso convencer as pessoas de que trabalhar para os outros era bom;
dizia-se que só assim todos sairiam beneficiados. Para mudar a concepção de trabalho — de atividade vil para atividade que dignifica
o homem —, algumas instituições, como veremos adiante, deram sua colaboração. 
Vejamos agora as mudanças que ocorreram na estrutura do trabalho. Como a estrutura anterior foi-se desagregando? Como
os artesãos e pequenos produtores se transformaram em assalariados? Primeiro, casa e local de trabalho foram separados; depois,
separaram o trabalhador de seus instrumentos; por fim, tiraram dele a possibilidade de conseguir a própria matéria-prima. Os
comerciantes e industriais que haviam acumulado riquezas passaram a financiar, organizar e coordenar a produção de mercadorias,
definindo o que produzir e em que quantidade. Afinal, o dinheiro era deles.
Essa transformação aconteceu por meio de
dois processos de organização do trabalho: a
cooperação simples e a manufatura (ou
cooperação avançada). 
Na cooperação simples, era mantida a
hierarquia da produção artesanal entre o mestre e
o aprendiz, e o artesão ainda desenvolvia, ele
próprio, todo o processo produtivo, do molde ao
acabamento. A diferença é que ele estava a serviço
de quem lhe financiava não só a matéria-prima,
como até mesmo alguns instrumentos de trabalho,
e também definia o local e as horas a ser
trabalhadas. Esse tipo de organização do trabalho
abriu caminho para novas formas de produção,
que começaram a se definir como trabalho
coletivo. 
No processo de manufatura (ou cooperação
avançada), o trabalhador até continuava a ser
artesão, mas não fazia tudo, do começo ao fim. O sapato, por exemplo, era feito a muitas mãos, como numa linha de montagem. Cada
um cuidava de uma parte, como hoje acontece com os carros e tantos outros produtos fabricados. 
A manufatura foi o segundo passo para o surgimento do trabalhador coletivo, ou seja, o artesão tornou-se um trabalhador sem
entendimento da totalidade do processo de trabalho e perdeu também seu controle. Só entendia, por exemplo, da cola do salto do
sapato, pois era isso o que ele fazia o tempo todo. O produto tornou-se resultado das atividades de muitos trabalhadores. E o trabalho,
por sua vez, transformou-se em mercadoria que podia ser vendida e comprada, como qualquer outra. 
Surgiu, então, uma terceira forma de trabalho: a maquinofatura. Com ela, o espaço de trabalho, definitivamente, passou a ser
a fábrica, pois era lá que estavam as máquinas que “comandavam” o processo de produção. Todo o conhecimento que o trabalhador
usava para produzir suas peças foi dispensado, ou seja, sua destreza manual foi substituída pela máquina. 
Com esse processo ocorreu o convencimento do trabalhador de que a situação presente era melhor do que a anterior.
Diversos setores da sociedade colaboraram para essa mudança: 
• As igrejas procuraram passar a ideia de que o trabalho era um bem divino e de que quem não trabalhasse não seria
abençoado. Não trabalhar (ter preguiça) passou a ser pecado. 
• Os governantes passaram a criar uma série de leis e decretos que penalizavam quem não trabalhasse. Os desempregados
eram considerados vagabundos e podiam ir para a prisão. Inclui-se aqui o auxílio da polícia, encarregada de prender esses
“vagabundos”. 
• Os empresários desenvolveram uma disciplina rígida no trabalho, principalmente com horários de entrada e saída dos
estabelecimentos. 
• As escolas passaram às crianças a ideia de que o trabalho era fundamental para a sociedade. Esse conceito era ensinado, por
exemplo, nas tarefas e lições e também por meio dos contos infantis. Quem não se lembra, por exemplo, da história da cigarra e da
formiga ou da dos três porquinhos? Quem não trabalhava “levava sempre a pior”. Na vida real, a história era bem outra. O trabalhador
estava livre, quer dizer, não era mais escravo nem servo, mas trabalhava mais horas do que antes. 
Max Weber, em seu livro História econômica, publicado em 1923, afirma que isso era necessário para que o capitalismo
existisse. O trabalhador era livre apenas legalmente porque, na realidade, via-se forçado, pela necessidade e para não passar fome, a
fazer o que lhe impunham. 
Ainda assim, não foi fácil submeter o trabalhador às longas jornadas e aos rígidos horários, pois a maioria não estava
acostumada a isso. A maior parte da população que foi para as cidades trabalhava anteriormente no campo, onde o único “patrão” era
o ritmo da natureza, que definia quanto e quando trabalhar. Cada semeadura e cada colheita tinham seu tempo certo, de acordo com o
clima e a época. Além disso, o mesmo indivíduo fazia várias coisas, não era um operário especializado em uma só tarefa. Ele podia
plantar, colher, construir uma mesa ou um banco e trabalhar num tear; enfim, desenvolvia várias habilidades. 
A santa segunda-feira
Em seu livro Costumes em comum , o historiador britânico Edward P. Thompson comenta um costume arraigado em vários
países da Europa desde o século XVI até o início do século XX: o de não trabalhar na chamada santa segunda-feira. Essa tradição, diz
ele, parece ter sido encontrada nos lugares onde existiam indústrias de pequena escala, em minas e nas manufaturas ou mesmo na
indústria pesada. Não se trabalhava nesse dia por várias razões, mas principalmenteporque nos outros dias da semana a jornada era de
12 a 18 horas diárias. Assim, os trabalhadores procuravam compensar o excesso de horas trabalhadas. Havia ainda a dificuldade de
desenvolver o trabalho na segunda-feira por causa do abuso de bebidas alcoólicas, comum nos fins de semana. Nas siderúrgicas,
estabeleceu-se que as segundas-feiras seriam utilizadas para consertos de máquinas, mas o que prevalecia era o não trabalho, que às
vezes se estendia às terças-feiras. Foram necessários alguns séculos para disciplinar e preparar os trabalhadores para o trabalho
industrial diário e regular. 
Cenários do mundo do trabalho
Trabalho e necessidades nas sociedades primitivas Sociedades como estas [primitivas] que estamos considerando não têm as
nossas razões para trabalhar — se é que entre elas se encontre algo parecido com o que faz o burocrata na repartição ou o operário na
fábrica, comandados pelos administradores, pela linha de montagem, pelo relógio de ponto, pelo salário no fim do mês. "Trabalham"
para viver, para prover às festas, para presentear. Mas nunca mais que o estritamente necessário: a labuta não é um valor em si, não é
algo que tem preço, que se oferece num mercado; não se opõe ao lazer, dele não se separando cronologicamente ("hora de trabalhar,
trabalhar"); não acontece em lugar especial, nem se desvincula das demais atividades sociais (parentesco, magia, religião, política,
educação...). Sempre que se pareçam com o que chamamos "trabalho", tais atividades são imediatamente detestadas. Aliás, no fundo,
no fundo, não o são também entre nós?
[...] De vez em quando se trabalha um pouco mais que o necessário à satisfação do "consumo" regular. Mas com maior
frequência, dentro do tempo normal de "trabalho", se produz algo que transborde o necessário. Esta é, em geral, a parte das
solenidades, das festas, dos rituais, dos presentes, das destrui- ções ostentatórias, das manifestações políticas, da hospitalidade... e o
significado desse algo mais nunca é acumular, investir. Há aí, portanto, uma grande diferença em relação à nossa atitude oficial para
com o trabalho. Mas não há, ao mesmo tempo, algo que intimamente invejamos? Algo com coloração de sonho, para nós, que mais ou
menos reservadamente trabalhamos de olho na hora da saída, no fim de semana, no feriado prolongado, nas férias, na aposentadoria? 
(Rodrigues, José Carlos. Antropologia e comunicação: princípios radicais. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, 1989. p. 101.)
1. Após a leitura do texto, procure responder às questões que o próprio autor formula.
Trabalho e ócio no mundo greco-romano 
Em Atenas, na época clássica, quando os poetas cômicos qualificavam um homem por seu ofício (Eucrates, o comerciante de
estopa; Lisicles, o comerciante de carneiros), não era precisamente para honrá-los; só é homem por inteiro quem vive no ócio.
Segundo Platão, uma cidade benfeita seria aquela na qual os cidadãos fossem alimentados pelo trabalho rural de seus escravos e
deixassem os ofícios para a gentalha: a vida "virtuosa", de um homem de qualidade, deve ser "ociosa" [...]. 
Para Aristóteles, escravos, camponeses e negociantes não poderiam ter uma vida "feliz", quer dizer, ao mesmo tempo
próspera e cheia de nobreza: podem-no somente aqueles que têm os meios de organizar a própria existência e fixar para si mesmos um
objetivo ideal. Apenas esses homens ociosos correspondem moralmente ao ideal humano e merecem ser cidadãos por inteiro: "A
perfeição do cidadão não qualifica o homem livre, mas só aquele que é isento das tarefas necessárias das quais se incumbem servos,
artesãos e operários não especializados; estes últimos não serão cidadãos, se a constituição conceder os cargos públicos à virtude e ao
mérito, pois não se pode praticar a virtude levando-se uma vida de operário ou de trabalhador braçal". Aristóteles não quer dizer que
um pobre não tenha meios ou oportunidades de praticar certas virtudes, mas, sim, que a pobreza é um defeito, uma espécie de vício. 
(Veyne, Paul. Trabalho e ócio. In: Ariès, P., Duby, G. História da vida privada. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. v. 1: Do Império Romano ao ano mil. p. 124-5.)
1. A antiga concepção de que as atividades do pensamento vinculadas à ociosidade (liberdade) têm mais valor que as vinculadas às
necessidades está presente em nossa sociedade? Como ela aparece nos jornais e na televisão?
2. Para você, a concepção de que a pobreza é uma espécie de vício, ou algo que torna as pessoas inferiores, existe ainda hoje?
3. Desde a Antiguidade se observa a divisão entre trabalho intelectual e trabalho manual. Como ela aparece em outros momentos
históricos e, principalmente, hoje?

Outros materiais