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O que está detendo a esquerda Valor Econômico Dani Rodrik

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12/04/2018 O que está detendo a esquerda? | Valor Econômico
http://www.valor.com.br/opiniao/5446487/o-que-esta-detendo-esquerda 1/3
12/04/2018 às 05h00
O que está detendo a esquerda?
Por que os sistemas políticos
democráticos não reagiram
suficientemente cedo às queixas que
populistas autocráticos exploraram com
sucesso - desigualdade e preocupação
econômica, declínio do status social,
abismo entre as elites e os cidadãos
comuns? Se os partidos políticos,
particularmente os de centro-esquerda, tivessem perseguido uma agenda
mais ousada, talvez os movimentos políticos anti-imigração de direita
pudessem ter sido evitados.
Em princípio, maior desigualdade produz uma demanda por mais
redistribuição. Políticos do partido democrata deveriam responder impondo
impostos mais altos aos ricos e gastando os recursos recolhidos em benefício
dos menos favorecidos. Essa noção intuitiva é formalizada num artigo
bastante conhecido de economia política, de Allan Meltzer e Scott Richard:
quanto maior a diferença de renda entre o eleitor mediano e o eleitor médio,
maiores os impostos e maior a redistribuição.
Na prática, porém, as democracias seguiram no rumo oposto. A
progressividade dos impostos sobre a renda diminuiu, a dependência em
relação aos impostos regressivos sobre o consumo aumentou e a tributação
sobre o capital iniciou uma corrida mundial para baixo. Em vez de
impulsionar investimentos em infraestrutura, os governos adotaram políticas
de austeridade, prejudiciais para os trabalhadores de baixa qualificação.
Grandes bancos e companhias foram socorridos, mas as famílias, não. Nos
EUA, o salário mínimo não foi suficientemente ajustado, permitindo que ele
se desvalorizasse em termos reais.
Parte da razão para isso, pelo menos nos EUA, é que a adoção, pelo Partido
Democrata, de "políticas de identidade" e outras causas socialmente liberais
veio à custa de questões mais importantes de subsistência - renda e
empregos. Como escreve Robert Kuttner em um novo livro, a única coisa
ausente na plataforma de Hillary Clinton na eleição presidencial de 2016 foi
classe social.
Uma explicação é que os democratas (e os partidos de centro-esquerda na
Europa Ocidental) ficaram muito íntimos das grandes instituições financeiras
e de grandes companhias. Os grandes bancos tornaram-se particularmente
influentes não apenas através de seu poder financeiro, mas também por meio
de seu controle das principais posições de formulação de políticas nos
governo democratas.
As políticas econômicas da década de 1990 poderiam ter tomado um
caminho diferente se Bill Clinton tivesse escutado mais seu secretário do
Trabalho, Robert Reich, um acadêmico e defensor de políticas progressistas,
e dado menos ouvidos a seu secretário do Tesouro, Robert Rubin, ex-
executivo da Goldman Sachs.
Mas interesses especiais não são suficientes para explicar o fracasso da
esquerda. Ideias desempenharam um papel de pelo menos igual importância.
Depois que choques do lado da oferta na década de 1970 dissolveram o
consenso keynesiano da era pós-guerra, e que a taxação progressiva e o
Por Dani Rodrik
 
Mensagens dos leitores
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12/04/2018 às 05h00 - Edgard Gobbi -
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Em relação à reportagem "Telebras sofre 3ª
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12/04/2018 às 05h00 - Assessoria de
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12/04/2018 O que está detendo a esquerda? | Valor Econômico
http://www.valor.com.br/opiniao/5446487/o-que-esta-detendo-esquerda 2/3
Até o fim dos anos 1960, os
pobres geralmente
votavam em partidos de
esquerda, enquanto os
ricos votavam na direita. A
partir daí, os partidos de
esquerda têm sido cada vez
mais capturados pela elite
bem-educada. Isso blindou
o sistema político contra
demandas redistributivas
Estado de bem-estar europeu saíram de moda, o vácuo foi preenchido pelo
fundamentalismo de mercado do tipo defendido por Reagan e Margaret
Thatcher.
Em vez de desenvolverem uma
alternativa crível, os políticos de centro-
esquerda abraçaram integralmente o
novo discurso. Os Novos Democratas de
Clinton e o Novo Trabalhismo de Tony
Blair atuaram como animadores de
torcida da globalização. Os socialistas
franceses, inexplicavelmente, tornaram-
se defensores da liberação dos controles
sobre movimentações internacionais de
capital. Sua única diferença em relação à
direita eram os "adoçantes" que eles
prometiam, na forma de mais gastos com
programas sociais e educação - o que raramente tornou-se realidade.
O economista francês Thomas Piketty documentou recentemente uma
transformação interessante na base social dos partidos de esquerda. Até o
período final dos anos 1960, os pobres geralmente votavam em partidos de
esquerda, enquanto os ricos votavam na direita. A partir de então, os partidos
de esquerda têm sido cada vez mais capturados pela elite bem-educada, que
Piketty chama de "Esquerda Brâmane", para distingui-los da "Classe de
Mercadores", cujos membros ainda votam em partidos de direita. Piketty
argumenta que essa bifurcação da elite blindou o sistema político contra
demandas redistributivas. A esquerda brâmane não é favorável à
redistribuição, porque acredita em meritocracia - um mundo em que o
esforço é recompensado e baixos rendimentos são mais provavelmente o
resultado de um esforço insuficiente do que de falta de sorte.
Ideias sobre como o mundo funciona também desempenharam um papel
entre as não-elites, diminuindo a demanda por redistribuição.
Contrariamente às implicações da teoria de Meltzer-Richard, os eleitores
americanos comuns não parecem estar muito interessados em elevar as
alíquotas dos contribuintes mais ricos ao imposto de renda ou em maiores
transferências sociais. Isso parece ser verdade mesmo quando eles estão
cientes - e preocupados - com o forte incremento da desigualdade.
O que explica esse aparente paradoxo é o baixo nível de confiança desses
eleitores na capacidade do governo de lidar com a desigualdade. Uma equipe
de economistas descobriu que os entrevistados "induzidos" por referências a
lobistas ou ao socorro a Wall Street exibem níveis significativamente mais
baixos de apoio a políticas de combate à pobreza.
A confiança no governo tem diminuído nos EUA desde a década de 1960,
com alguns altos e baixos. Há tendências semelhantes também em muitos
países europeus, especialmente no sul da Europa. Isso sugere que os políticos
progressistas que imaginam um papel ativo do governo na reformulação das
oportunidades econômicas enfrentam uma batalha difícil para conquistar o
eleitorado. O medo de perder essa batalha pode explicar a timidez da
resposta da esquerda.
No entanto, a lição derivada de estudos recentes é que crenças sobre o que o
governo pode e deve fazer não são imutáveis. Elas são suscetíveis a
persuasão, experiência e mudanças de cenários. Isso é tão verdadeiro para as
elites quanto para as não-elites. Mas uma esquerdaprogressista capaz de
enfrentar a política nativista terá que apresentar uma boa história, além de
boas políticas. (Tradução de Sergio Blum).
Dani Rodrik é professor de economia política internacional em
Harvard. É autor de "Straight Talk on Trade: Ideas for a Sane
World Economy". Copyright: Project Syndicate, 2018.
www.project-syndicate.org
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