Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 1 9 Dos crimes praticados por funcionários públicos contra a administração em geral. ? Generalidades: ? Administração pública ? conjunto das funções exercidas pelos vários órgãos do Estado, em benéfico da sociedade. ? Funcionário público para fins penais (art. 327, CP) ? aquele que exerce função pública, ainda que sem remuneração ou permanência • O conceito de funcionário público é aplicável a todos os crimes previstos no CP. ? Crime funcional ? aquele praticado por quem exerce função pública • Próprio ? aquele que a qualidade de servidor público é elementar do tipo penal ♦ Faltando a qualidade de funcionário público ? fato atípico (atipicidade absoluta) ♦ Ex: prevaricação (art. 319, CP) • Impróprio ? aquele em que a ausência da qualidade de servidor público não torna a conduta atípica, mas constitui outro crime ♦ Não servidor público que se aproprie de dinheiro da administração ? apropriação indébita (art. 168, CP) e não peculato (art. 312, CP) • Função pública ≠ encargo público ou munus publicum ♦ Função pública ? jurado, mesário, servidor público ♦ Encargo público ? curador, administrador de massa falida, tutor, inventariante ? Causa de aumento de pena (1/3) ? se o agente for ocupante de cargo em comissão ou de função de direção ou assessoramento (art. 327, §2º) • Incide em todos os crimes contra a Administração Pública ? Bem jurídico protegido: moralidade e o patrimônio da Administração Pública ? Sujeitos: • Sujeito ativo (crime próprio): ? Servidor público ou a ele equiparado ♦ Ver art. 30, CP ? a qualidade de funcionário público é elementar do crime, comunicando-se a terceiro, que saiba dessa circunstância − Particular que auxilia funcionário público a se apropriar de dinheiro público ? ambos respondem por peculato • Sujeito passivo: Estado e o particular lesado. 9.1 Peculato – Art. 312, CP. ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Apropriar ? tornar-se dono, senhor e possuidor ♦ Pouco importa se o agente tem a posse ou a mera detenção ? o que interessa é a inversão do dolo. ♦ Trata-se de apropriação indébita praticada por servidor público com violação de seu dever funcional • Desviar ? dar finalidade diferente daquela definida em lei, em proveito próprio ou de terceiro Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 2 ♦ O agente deve ter a posse lícita da coisa para que, depois, desvia. • Objeto material ? dinheiro, valor ou qualquer bem móvel que estaja na posse do agente, em razão do cargo ♦ Se o agente não agir em função do cargo ? apropriação indébita (art. 168, CP) ♦ Ex: delegado que deixa de registrar nos autos de inquérito a apreensão de dinheiro encontrado em poder de assaltante, dele se apropriando. • Se a coisa tem valor insignificante (lápis, papel, canetas) ? fato atípico − Salvo se praticado na forma continuada • Há peculato de uso? ♦ Em regra, não ? usar a coisa não configura o crime − Uso de aeronaves apreendidas de traficantes ♦ Salvo tratar-se de dinheiro ou coisa fungível − Agente que aplica o dinheiro público para obter juros • Se o servidor público desvia o dinheiro em benefício da própria Administração ? emprego irregular de verbas públicas (art. 315, CP) • Se o agente, não funcionário público, executa ilegalmente atos próprios da função pública ? apropriação indébita (art. 168, CP) e usurpação de função pública (art. 328, CP) • Se o agente foi nomeado ilegalmente ? peculato ♦ É funcionário público enquanto a nomeação não for anulada ? Tipo Subjetivo: Dolo ? animus rem sibi habendi • Intenção de se comportar em relação à coisa como se dono fosse ou de desviá-la • Elemento subjetivo do tipo ? proveito próprio ou alheio • Agente que usa carro oficial para ir a festas ? fato atípico ♦ Ausência de intenção de inversão da posse ♦ Pode configurar peculato no caso do consumo da gasolina fornecida pela Administração ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a inversão da posse ou com o desvio da finalidade prevista em lei. • Tentativa ? possível ? Peculato-furto: art. 312, § 1º • Trata-se de peculato impróprio ? furto praticado por servidor público • Condutas: ♦ Subtração da coisa, ou ♦ Concorrer para que seja subtraída − Participação elevada à categoria de crime autônomo • Diferença com o peculato apropriação Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 3 ♦ Peculato-apropriação ? o agente já possui a posse da coisa, ocorrendo inversão da posse ♦ Peculato-furto ? o agente não possui a posse do bem, subtraindo-a de outro servidor público ou de particular, em razão do cargo que exerce. • Servidor público que pula o muro da escola municipal e subtrai computadores ? furto (art. 155, CP) ♦ A qualidade de servidor público em nada contribuiu para a subtração • Servidor público que deixa aberta a porta da repartição para que terceiro, subtraia bens da Administração ? peculato-furto ♦ E o terceiro ? peculato furto em co-autoria − A qualidade de servidor público se comunica (art. 30, CP) ? Peculato culposo: art. 312, § 2 • Quando o agente age com culpa e dá causa a prática de peculato- apropriação, peculato-desvio ou peculato-furto • Ocorrendo reparação completa do dano antes da sentença irrecorrível ? extinção da punibilidade (art. 312, § 3º) • Ocorrendo reparação completa do dano após a sentença irrecorrível ?causa de diminuição de pena (art. 312, § 3º) • Em caso de peculato doloso ? o agente pode se beneficiar com o arrependimento posterior (art. 16, CP) ou com a atenuante genérica do art. 65, III, “b” ou com a atenuante inominada do art. 66, CP ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95, no caso de peculato culposo 9.2 Peculato mediante erro de outrem (peculato estelionato) – Art. 313, CP. ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Apropriar ? tornar-se dono, senhor e possuidor • Trata-se do crime do art. 169, 1ª parte, CP praticado por servidor público • Objeto material ? dinheiro ou coisa móvel de natureza patrimonial • O erro é espontâneo de terceira pessoa, sem interferência do servidor ♦ A pessoa entrega coisa que não deveria entregar ou se equivoca quanto ao funcionário que deveria receber a coisa. ♦ O dolo do servidor só aparece após o recebimento da coisa − Havendo interferência do servidor ? estelionato (art. 171, CP) • Se o servidor recebe o bem, fora do exercício do cargo ? apropriação de coisa havida por erro (art. 169, 1ª parte, CP) ? Tipo Subjetivo: Dolo • Intenção de se comportar em relação à coisa como se fosse dono, após tê-la recebido por engano ? dolo superveniente ou subseqüente Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 4 ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a inversão da posse • Tentativa ? possível ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.3 Inserção de dados falsos em sistema de informações (peculato eletrônico) – Art. 313-A, CP. ? Generalidade: • Trata-se, na verdade, de falsidade ideológica (art. 299, CP) ? a conduta equivale-se a uma falsificação • Trata-se de crime de mera conduta ? independe de qualquer resultado material ♦ Alguns doutrinadores entendem ser o crime formal ? Bem jurídico protegido: informações de interesse da Administração Pública armazenados em bancos de dados ? Sujeito ativo: servidorautorizado a acessar o sistema de informações • E o servidor não autorizado ♦ 1ª corrente ? fato atípico (minoria) ♦ 2ª corrente ? peculato eletrônico, no caso de concurso de agentes ♦ 3ª corrente ? falsidade ideológica (art. 299, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Todas as condutas podem ser realizadas na forma comissiva ou omissiva • Elemento normativo do tipo ? “indevidamente” • Objeto material ♦ Nas 2 primeiras condutas (inserir e facilitar) ? dados falsos ♦ Nas 2 últimas condutas (alterar e excluir) ? dados verdadeiros ? Tipo Subjetivo: Dolo • Elemento subjetivo do tipo ? finalidade de obter vantagem para si ou para outrem ou causar dano ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a realização das condutas descritas no tipo • Tentativa ? possível ? Ação penal: pública incondicionada 9.4 Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informação – Art. 313-B, CP. ? Bem jurídico protegido: segurança dos sistemas de informação e programas de informática da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público ou a ele equiparado Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 5 ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Mudar o programa ou sistema sem autorização ou solicitação da autoridade competente. • Objeto material ? sistema ou programa de informática • Trata-se de crime formal ? independe de dano à Administração ♦ Ocorrendo dano ? caso de aumento de pena (art. 313-B, § 2º) • Qual a razão da diferença entre as penas cominadas no crime anterior e neste? Não há explicação, pois a conduta descrita neste crime é muito mais grave. ? Tipo Subjetivo: Dolo ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a modificação não autorizada do sistema • Tentativa ? possível ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.5 Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento – Art. 314, CP. ? Bem jurídico protegido: integridade física dos documentos e livros Públicos ? Sujeito ativo: servidor público que tem a guarda do livro ou do documento • Se a conduta for praticada por terceiro ou outro servidor público que não tenha a guarda do livro ou do documento ? subtração ou inutilização e livro ou documento (art. 337, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Extraviar ? fazer desaparecer. • Sonegar ? deixar de apresentar quando solicitado • Inutilizar ? tornar imprestável, ainda que não ocorra a destruição completa • Se for servidor de repartição fiscal ou tributária ? incide a Lei 8.137/90 (dos crimes contra a ordem tributaria, econômica e das relações de consumo) • Não é necessária a ocorrência de prejuízo a terceiros ? crime formal • Trata-se de crime subsidiário ♦ Advogado que inutiliza documento que recebeu nessa qualidade ? sonegação de papel ou objeto de valor probatório (art. 356, CP) ♦ Suprimir, em beneficio próprio ou alheio, documento público ? supressão de documento (art. 305, CP) ? Tipo Subjetivo: Dolo ? Consumação e tentativa: • Consumação: com as condutas previstas no tipo • Tentativa: Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 6 ♦ Possível, nas modalidades extravio e inutilização. ♦ Impossível na modalidade sonegação − O crime ocorre quando o servidor é solicitado a apresentar o documento e não o faz − Fazendo a apresentação ? fato atípico ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.6 Emprego irregular de verbas ou rendas públicas – Art. 315, CP. ? Bem jurídico protegido: a regular e correta aplicação do dinheiro público ? Sujeito ativo: servidor público que tenha o poder de administrar verbas ou rendas públicas • Ex: Presidente, Ministros, Governadores, Secretários, Diretores de entidades da administração indireta. • Tratando-se de prefeito ou seus substitutos ? Dec-lei 201/67 ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Emprego irregular de fundos públicos, contrariando a destinação prevista em lei. • Pressuposto do crime ? existência de lei regulamentando a aplicação do dinheiro público (lei orçamentária) ♦ Não se confunde com decreto, portaria ou ato administrativo ? Tipo Subjetivo: Dolo • Em caso de calamidade pública (estado de necessidade) ? exclusão de antijuridicidade • Se ocorrer a aprovação das contas públicas ? permanece o crime ♦ A aprovação somente convalesce as irregularidades administrativas ♦ As infrações penais permanecem intactas ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a efetiva aplicação irregular das verbas públicas • Tentativa: possível ♦ Com a simples destinação da verba, sem seu efetivo uso. ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.7 Concussão e excesso de exação – Art. 316, CP. 9.7.1 Concussão • Generalidades: ♦ Concussão (concussio) deriva do latim concutere ? ato de sacudir uma arvore para fazer cair os frutos ♦ O crime já era punido desde a época do império romano, chegando a ser aplicada a pena de morte aos concussionários renitentes • Bem jurídico protegido: moralidade, a probidade da Administração e o patrimônio do particular de quem se exige a indevida vantagem • Sujeito ativo: servidor público Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 7 • Tipo Objetivo (conduta típica): ♦ Exigir ? ordenar, intimar, coagir, impor, reivindicar, constranger alguém ao pagamento de vantagem que não é devida. − É muito mais do que pedir, solicitar, insinuar sutilmente, sugerir ou propor maliciosamente ? corrupção passiva (art. 317, CP) − Trata-se de uma extorsão (art. 158, CP) praticado por servidor público com abuso de autoridade − O servidor aproveita-se do temor genérico que seu posto de autoridade inspira − A vítima cede, e concede a vantagem indevida, por temer represálias relacionadas ao exercício da função pública do agente ♦ Exige-se o nexo causal entre a função pública exercida e a ameaça proferida pelo servidor ? a exigência deve ser feita em razão da função − O servidor pode estar de férias, licenciado, ou apenas nomeado ♦ Objeto material ? vantagem indevida, futura ou imediata − Pode ser qualquer tipo de vantagem ? patrimonial, moral, sexual − Trata-se de crime contra a Administração pública e não contra o patrimônio ♦ Vantagem indevida ? aquela não autorizada em lei ♦ Se o servidor exigir vantagem devida ?crime de abuso de autoridade (Lei 4.898/65) ♦ Exemplos: − Policial que exige dinheiro para não prender a vítima em flagrante − Delegado que exige dinheiro para não instaurar inquérito policial − Vereador que recebe indevidamente parte do salário de seu assessor, mesmo com concordância deste. ♦ Medico credenciado ao INSS que recebe pagamento indevido para realizar uma cirurgia ao paciente segurado da Previdência Social − Maioria da doutrina e jurisprudência ? concussão − Doutrina minoritária ? Se o medico nada exige, mas apenas solicita (simples pedido) ? corrupção passiva (art. 317, CP) ? Se o medico engana o paciente, dizendo que o pagamento é devido ? estelionato (art. 171, CP), por ausência de intimidação ♦ Em caso de Fiscal ? crime contra a ordem tributaria (Lei 8.137/90) ♦ Policial que exige dinheiro mediante violência física ? extorsão (art. 158, CP) ♦ Investigador de policia que exige dinheiro para não instaurar inquérito policial ? extorsão (art. 158, CP) − Ausência de atribuição legal para instaurar inquérito que é função do Delegado − Ausência de nexoentre a função e a exigência Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 8 • Tipo Subjetivo: Dolo ♦ Elemento subjetivo do tipo ? para si ou para outrem • Consumação e tentativa: ♦ Consumação: com a mera exigência da vantagem indevida (crime formal) − Obtenção da vantagem indevida ? mero exaurimento ♦ Tentativa: impossível − Salvo se realizada por carta que vem a ser interceptada. • Ação penal: pública incondicionada 9.7.2 Excesso de exação: Art. 316, § 1º • Generalidades: ? Trata-se de crime autônomo • Sujeito ativo: servidor público ♦ Parte da doutrina entende que só aquele com competência para receber tributo ou fazer cobrança das contribuições sociais • Tipo Objetivo (conduta típica): ♦ Exigir ? obrigar ou constranger o contribuinte. ♦ Exação ? cobrança rigorosa ou com excessos de tributos ou dívida ♦ Condutas tipificadas − Abuso no exercício da função com cobrança sabidamente indevida ? O servidor age com intenção de beneficiar-se ou com objetivo de vingança ou mesmo com incompetência − Emprego de meio vexatório ou gravoso na cobrança de tributo devido ? Meio vexatório ? aquele que expõe o contribuinte à vergonha ou humilhação ? Meio gravoso ? aquele que traz ao contribuinte maiores ônus ou despesas. • Tipo Subjetivo: Dolo ♦ Expressão “deveria saber” − Mirabete ? trata-se de culpa − Damásio ? dolo eventual (maioria) • Consumação e tentativa: ♦ Consumação: − Primeira modalidade: com a exigência do tributo (crime formal) − Segunda modalidade: com o emprego do meio vexatório ou gravoso ♦ Tentativa: possível • Qualificadora: art. 316, § 2º ♦ Refere-se apenas a primeira conduta do crime de excesso de exação ♦ O desvio deve ocorrer antes de o dinheiro entrar para os cofres públicos Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 9 − Sendo depois ? peculato (art. 312, CP) − Se o servidor desvia quantia recebida devidamente, mas com emprego de meio vexatório ? mero exaurimento do crime de excesso de exação ♦ A pena mínima é menor que a cominada ao §1º ? incongruência do legislador • Ação penal: pública incondicionada 9.8 Corrupção passiva – Art. 317, CP. ? Bem jurídico protegido: moralidade e a probidade da Administração Pública e do próprio servidor ? Sujeito ativo: servidor público em razão da função • No caso de fiscal ? crime contra a ordem tributaria (Lei 8.137/90) • Se for o particular que oferecer ? corrupção ativa (art. 333, CP) • Se for testemunha que aceita suborno ? falso testemunho (art. 342, § 1º, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Solicitar ? pedir (crime formal) ♦ Não há ameaça e a vítima cede por vontade própria. • Receber ? Obter, entrar na posse ♦ Nessa modalidade ocorre o crime de corrupção ativa (art. 333, CP) • Aceitar ? concordar com o recebimento (crime formal) ♦ Não há o efetivo recebimento ♦ Nessa modalidade ocorre o crime de corrupção ativa (art. 333, CP) • Objeto material ? Vantagem indevida (elemento normativo do tipo) ♦ Qualquer espécie de vantagem • No caso de policial militar, as modalidades receber e aceitar são tratadas pelo art. 308 do CPM ♦ Caso solicite ? art. 317, CP (Justiça Comum) • A corrupção pode ocorrer antes (antecedente) ou depois (subseqüente) da prática do ato funcional pelo servidor. Pode ser feita diretamente pelo próprio servidor ou indiretamente • Exige-se o nexo causal entre a função pública exercida e a vantagem solicitada pelo servidor ♦ Se o servidor não tem atribuição para a prática do ato ? tráfico de influencia (art. 332, CP) • Carcereiro que, mediante suborno, facilita a fuga de presos ♦ 1ª corrente ? corrupção passiva + fuga de pessoa presa (art. 351, CP) em concurso material ♦ 2ª corrente ? apenas corrupção passiva (princípio da consunção) Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 10 ? Tipo subjetivo: Dolo • Elemento subjetivo do tipo ? para si ou para outrem ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a prática das condutas descritas no tipo • Tentativa: possível, somente na modalidade solicitar, praticada por escrito ? Causa de aumento de pena: art. 317, § 1º • Quanto o servidor cumpre o prometido, realizando a pretensão do corruptor • O que seria mero exaurimento passou a ser considerado causa de aumento de pena ? Forma privilegiada: art. 317, § 2º • Nessa modalidade, o servidor não satisfaz interesse pessoal, apenas cede a pressões de outrem ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95, no caso da forma privilegiada 9.9 Facilitação de contrabando e descaminho – Art. 318, CP. ? Bem jurídico protegido: erário público ? Sujeito ativo: servidor público incumbido de impedir a prática de contrabando e descaminho (violação do dever funcional) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Facilitar ? Colaborar, prestar auxílio, deixar de diligenciar (omissão) • Contrabando ? importação ou exportação de mercadoria cuja entrada ou saída do país é proibida. • Descaminho ? fraude para deixar de pagar o imposto de importação ou exportação • Ao invés do servidor responder como participe ou co-autor no crime do art. 334, CP, responde por crime autônomo ♦ Exceção à teoria monista do art. 29, CP • Pressuposto do crime ? infração do dever funcional ♦ A facilitação praticada por servidor público estadual ? art. 334, CP, como partícipe ou co-autor − Ausência da atribuição legal para reprimir tais condutas. ♦ Policial que se presta a fazer escolta de material contrabandeado ? art. 334, CP, como partícipe ou co-autor ? Tipo subjetivo: Dolo • Elemento subjetivo do tipo ? para si ou para outrem ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a facilitação (crime formal) • Tentativa: possível, na forma comissiva ? Ação penal: pública incondicionada Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 11 • Competência: Justiça Federal • Foro: Local da apreensão dos bens 9.10 Prevaricação – Art. 319, CP. ? Bem jurídico protegido: Administração contra ação de servidor que não cumpre suas obrigações ? Sujeito ativo: servidor público no exercício de sua função (art. 327, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Retardar ? Atrasar, indevidamente, a realização de um ato para satisfazer interesse pessoal (omissão) • Deixar de praticar ? não realizar, injustificadamente, o ato (omissão) • Praticar ? realizar o ato contra disposições expressa de lei (ação) ♦ Não há crime se a prática for contra regulamentos, portarias, resoluções etc. • Ato de oficio ? aquele que se encontra na esfera de competência do servidor público, sendo sua realização uma obrigação • Interesse pessoal ? vantagem patrimonial ou moral • Sentimento pessoal ? estado emocional ou afetivo (ódio, amor, simpatia, aversão, prepotência) ♦ ≠ de preguiça ? improbidade administrativa (Lei 8.429/92) • Delegado de polícia que deixa de instaurar inquérito policial ♦ Somente haverá o crime se violar seu dever funcional ? Tipo subjetivo: Dolo • Nesse tipo, não há qualquer intervenção de terceiro na conduta do sujeito ativo, diferentemente da concussão e da corrupção passiva. ? Consumação e tentativa: • Consumação: com o retardamento, a omissão ou com a prática do ato ilegal (crime formal) • Tentativa: possível, na forma comissiva ? Ação penal: pública incondicionada• Aplica-se a Lei 9.099/95 9.11 Condescendência criminosa – Art. 320, CP. ? Bem jurídico protegido: regular funcionamento da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público superior hierárquico do que praticou a infração (art. 327, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Condescendência ? propensão para ser indulgente, tolerante, perdoar • Não tomar qualquer providência para a apuração dos fatos Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 12 • Pressuposto do crime ? prática de infração penal ou administrativa pelo servidor subordinado, no exercício do seu cargo ? Tipo subjetivo: Dolo • Elemento subjetivo do tipo ? indulgência. ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a omissão • Tentativa: impossível (crime omissivo puro) ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.12 Advocacia administrativa – Art. 321, CP. ? Bem jurídico protegido: regular funcionamento e a moralidade da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público (art. 327, CP) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Patrocinar ? defender, postular, pleitear interesse de outrem ♦ O patrocínio pode ser feito direta ou indiretamente • O servidor, valendo-se da facilidade de acesso junto a seus colegas, defende interesse particular alheio ♦ Se o interesse for particular, mas pessoal ? fato atípico ♦ Se o interesse do particular for ilícito ? aplica-se o disposto no parágrafo único • Se o interesse for relacionado com licitação pública ? Lei 8.666/93 • Se o interesse for relacionado com a ordem tributária ? Lei 8.137/90 ? Tipo subjetivo: Dolo • Elemento subjetivo do tipo ? indulgência. ? Consumação e tentativa: • Consumação: com o ato revelador do patrocínio, independentemente da obtenção de qualquer vantagem (crime formal) • Tentativa: possível ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.13 Violência arbitrária – Art. 322, CP. ? Tacitamente revogado pela Lei de abuso de autoridade (Lei 4.898/65) 9.14 Abandono de função – Art. 323, CP. ? Bem jurídico protegido: regular funcionamento da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público ocupante de cargo público • Apesar do nomem juris (abandono de função), não prevalece a regra ampla do art. 327, CP Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 13 ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Abandonar ? deixar de exercer o cargo público definitivamente ♦ Exige-se que haja probabilidade de dano para a Administração Pública − Caso haja substituto ? fato atípico − Havendo prejuízo ? aplica-se o disposto no §1º (qualificadora) • Havendo abandono temporário ? mera falta disciplinar ? Tipo subjetivo: Dolo ? Consumação e tentativa: • Consumação: com o abandono por prazo juridicamente relevante (crime formal) • Tentativa: impossível (delito omissivo próprio) ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.15 Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado – Art. 324, CP. ? Bem jurídico protegido: regular funcionamento da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público que antecipa ou prolonga as suas funções ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Entrar o servidor no exercício de função pública sem o cumprimento das exigências legais ou continuar a exercê-lo ilegalmente • A primeira conduta é uma norma penal em branco ? quais são as exigência para que um servidor entre em exercício • Na segunda conduta exige-se a comunicação pessoal ao servidor, salvo no caso de aposentadoria compulsória aos 70 anos. ? Tipo subjetivo: Dolo ? Consumação e tentativa: • Consumação: com o exercício ilegal por parte do servidor público • Tentativa: possível ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.16 Violação de sigilo funcional – Art. 325, CP. ? Bem jurídico protegido: regular funcionamento da Administração Pública ? Sujeito ativo: servidor público (art. 327, CP) • Entende a doutrina e jurisprudência que comete o delito o funcionário aposentado ou afastado (analogia in malam partem) ? Tipo Objetivo (conduta típica): • Revelar ? comunicar a terceira pessoa ♦ A revelação tem que ser direta Direito Penal IV – Dos Crimes Contra a Administração Pública. Professor: Carlos Henrique Reis Rochael 14 • Facilitar ? tornar fácil o acesso do fato a terceira pessoa (conduta comissiva ou omissiva) • O fato divulgado deve ter sido conhecido em razão do cargo que ocupa ♦ Outro servidor que ficar sabendo e divulgar ? fato atípico ♦ Ex: caso do painel eletrônico de votação do Senado Federal − O STF rejeitou a denúncia contra os parlamentares e a servidora do Senado ? o segredo dos votos chegou ao conhecimento dos denunciado não em razão do exercício do cargo • Se o segredo for particular, obtido em razão do cargo público ? violação de segredo profissional (art. 154, CP) • Tratando-se de proposta de concorrência pública ? Lei 8.666/93 • Tratando-se de espionagem ou revelação de segredo militar ? crime contra a segurança nacional (Lei 7.170/83) ? Tipo subjetivo: Dolo ? Consumação e tentativa: • Consumação: com a revelação do segredo a terceiro não autorizado (crime formal) • Tentativa: possível, na modalidade escrita ? Forma equiparada e qualificada: §§ 1º e 2º ? Ação penal: pública incondicionada • Aplica-se a Lei 9.099/95 9.17 Violação do sigilo de proposta de concorrência – Art. 326, CP. ? Revogado pela Lei de licitações (art. 94, Lei 8.666/93)
Compartilhar