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Filosofia e Ética

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Filosofia e Ética
Aula 1- O conceito de ética e a Definição de Filosofia
Objetivos:
1. Identificar os conceitos ética e filosofia;
2. Reconhecer a noção de ética a partir de um caso prático.
Perguntar se a vida pode ser mais justa, se os homens conseguem adotar comportamentos mais dignos, não é um direito exclusivo dos que se ocupam de reflexões e ideias. A exigência de se bem conduzir, nas relações humanas e profissionais, abrange todos os setores da vida em sociedade. E, para concretizar este fim, nossos hábitos tornam-se essenciais: alguns corretos, pois realizam bens diversos e reforçam a coesão social, outros incorretos, por realçarem ganhos individuais sobre interesses coletivos, enfraquecendo elos da vida em comunidade.
Quando pensamos em como nos comportar diante de situações que envolvam e afetem nossos semelhantes, deparamo-nos, em princípio, com normas que guiam nossas ações para a realização do que é verdadeiro, digno e correto.
Circunstâncias especiais podem nos levar a rever uma promessa (quando vivemos uma situação de desespero, por exemplo), ocultar a traição de alguém conhecido (quando ela é o único meio de sobrevivência de quem a cometeu, por exemplo), ou omitir informações (não revelarmos a um conhecido seu estado terminal de saúde, por exemplo). A esta reflexão que nos leva a decidir que juízos ou ponderações devem nos orientar numa situação e a justificarmos a decisão tomada, chamamos reflexão ética. 
Começando a entender o que é ética
Para Aristóteles (384 a.C–322 a.C), “toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade” (apud BOHADANA, SKLAR:2007,226). Mas o que Aristóteles tem a ver com ética? 
A Palavra Ética
O termo ética deriva de éthos, que significa modo de ser, e, por isto, definir-se com frequência ética como doutrina dos costumes ou hábitos adquiridos pelo homem.
Ética em Aristóteles
Foi Aristóteles, filósofo grego, que tomou a ética uma disciplina autônoma no domínio da filosofia moral. Para ele, o campo ético deveria investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana.
Ética e Virtudes
Aristóteles condena tanto os prazeres sensíveis quanto a posse das riquezas. Ser ético, segundo ele, significaria viver conforme manda a razão, voltando-se para a obtenção do bem e alcançando as “ virtudes”.
Virtudes éticas- ordenam, a vida em sociedade, sob as formas da justiça, amizade, valor e originando-se dos costumes e sendo denominadas de vietude do hábito ou tendências;
Virtudes intelectuais ( ou dianoéticas )- englobariam, centralmente, a sabedoria e a prudência.
Entendendo Aristóteles
De acordo com o pensamento aristotélico, os comportamentos adotados pelos homens em sociedade (e com os quais se costumam) deveriam ser racionais, na medida em que contivessem finalidades práticas, intelectuais; teríamos, assim, princípios- normas gerais de ação – que guiariam todo o campo de nossa conduta moral.
Ética e moral
Ao longo da História da Filosofia, a Ética, englobando o conceito de realidade moral, chega à seguinte definição: “ciência que se ocupa dos objetos morais em todas as suas formas, a filosofia moral” (cf. FERRATER MORA:1965,595). Mas o que é moral? Selecionamos dois autores que assim a definem.
Para Lalande (1999,705), a conceituação de moral abrange: 
(a) os costumes, ou “regras de conduta admitidas numa sociedade determinada”, sendo a observação e constatação de seu conjunto e os juízos sobre os mesmos o que se entende por “realidade moral”; 
(b) o “estudo filosófico do bem e do mal”; 
(c) o “conjunto das regras de conduta admitidas numa época ou por um grupo de homens”; 
(d) o “conjunto das regras de conduta tidas como incondicionalmente válidas”.
Para Sánchez Vázquez (2002, 84), “a moral é um sistema de normas, princípios e valores, segundo o qual são regulamentadas as relações mútuas entre os indivíduos ou entre estes e a comunidade, de tal maneira que estas normas, dotadas de um caráter histórico e social, sejam acatadas livre e conscientemente, por uma convicção íntima, e não de uma maneira mecânica, externa ou impessoal”.
Moral distingue-se do que é investigado no campo ético, na medida em que “este último domínio se ocupa de uma moral ligada aos fatos, incorporando valores aceitos pelos homens ao se interrelacionarem socialmente” (SKLAR:2008). Seguindo este sentido, Sánchez Vázquez (2002, 23) define a ética como “teoria ou ciência do comportamento moral dos homens em sociedade”.
A definição de filosofia
A Filosofia no Ocidente tem suas raízes históricas na Grécia Antiga. Entre os séculos XX a.C e II a.C, podemos reconhecer a presença dessas raízes através dos seguintes períodos:
Séculos XX a.C.- XII a.C. Séculos VII a.C.- VI a.C. Séculos III a.C.- II a.C.
___|__________|________________|_____________|_________|_______________
 Séculos XII a.C.- VIII a.C. Séculos V a.C.- IV a.C.
Séculos XII a.C- VIII a.C
Consolidação da civilização grega, ressaltando a figura de Homero, que viveu possivelmente na Jônia do século IX a.C. (daí a denominação de tempos homéricos para esse período). Senhores formam a aristocracia de terras, o que agrava o sistema escravista. Momento em que os aedos – poetas cantadores conservam os acontecimentos concementes ao apogeude Micenas, sofrendo modificações em seus conteúdos graças a acréscimos resultantes do folclore popular, o que leva ao surgimento da poesia épica grega (período da consciência mítica na história antiga).
*Leitura
Como você viu na linha do tempo, a filosofia resultou do estabelecimento de uma organização política, econômica e administrativa que marcou a civilização grega: a pólis (cidade-Estado). Discussões em assembléias, no lugar do poder em torno da realeza que dominou o período homérico, tornaram-se, então, necessárias, gerando o ideal de cidadania: a participação pública do cidadão nos destinos da cidade. Em formas acessíveis à inteligência, uma ordem humana estabelecia seus alicerces.
A pólis grega
Por que devemos realçar o valor da "pólis"? Porque através dele entendemos a evolução de um instante em que os homens tomavam os deuses como principal fonte para compreensão da realidade (percepção mítica), a um período no qual a consciência racional torna-se central no dia-a-dia do homem grego. Não mais rodeado por mistérios, a reflexão sobre o universo constava do que era debatido publicamente; já o conhecimento mítico, desenvolvido nos séculos anteriores e marcado pelo predomínio do extrahumano, tornava-se inoperante para a apreensão social da realidade. Não mais rodeado por mistérios, o entendimento do universo constava do que era debatido publicamente; já o conhecimento mítico, desenvolvido nos séculos anteriores e marcado pelo predomínio do extra-humano, tornava-se inoperante para a nova apreensão social da realidade. É por esta razão que o desenvolvimento da pólis foi a pedra de toque para o nascimento do pensamento racional-filosófico: criou as condições necessárias para que, partindo da percepção mítica e superando-a, o saber fosse racionalmente elaborado. As concepções filosóficas que se desenvolveram nesse período formaram o que é conhecido como pensamento pré-socrático, ou seja, filósofos que viveram antes de Sócrates. Distanciada da dimensão mítica e condicionada ao surgimento e implantação da pólis, a filosofia é compreendida como “o conjunto de estudos ou de considerações que apresentam um alto grau de generalidade e tendem a reduzir seja uma ordem de conhecimento, seja todo o saber humano, a um pequeno número de princípios diretivos” (LALANDE: 1999,405). Ressaltamos que a expressão “Filosofia geral”, usada por Auguste Comte (1798-1857), “foi adotada no ensino a partir de 1907, para designar o conjunto de questões de filosofia que levantam a psicologia, a lógica, a moral, ou a estética, mas que não pertencem ao domínio especial de cada uma delas; por exemplo,a natureza do conhecimento, as noções fundamentais que ela implica, os problemas concernentes ao Universo, a Deus ao Espírito e aos espíritos 2 individuais, as relações entre a matéria, a vida, a consciência” (LALANDE:1999,407). Como mencionamos anteriormente, a ética torna-se uma disciplina autônoma através de Aristóteles. Em nosso curso, as considerações necessárias à filosofia, no que concerne à delimitação das principais doutrinas éticofilosóficas ocidentais, serão apresentadas apenas num último momento do conteúdo programático. Para efeito de maior clareza sobre o tema, extraímos os principais aspectos do domínio ético, obedecendo à ordem de apresentação proposta por Adolfo Sánchez Vázquez (2002): conceito de ética (aula 1), campo da ética, ética: a ciência da moral (aula 2), caráter histórico e social da moral (aula 3), estrutura do ato moral (aula 4), responsabilidade moral, o determinismo, a liberdade (aula 5), e as doutrinas éticas fundamentais (aulas 6-10). Em acréscimo, para uma melhor compreensão desta noção, começaremos por introduzir estudos de casos que possam exemplificar e contextualizar o que estamos formulando teoricamente.
Aula 2- A ciência da moral
 Objetivos
1.Reconhecer as características que compõem o campo ético, aprofundando o que diferencia a ética da moral; 
2. Identificar o que faz a ética ser concebida como um conhecimento científico sobre a moral.
O campo da ética
O estabelecimento de valores e princípios para um comportamento, ou normas gerais de ação, sugere a reflexão sobre as características do campo ético. Seu sentido não se reduz, no entanto, à ideia de que toda ação moral contenha princípios e valores, orientando-nos a agir de uma certa maneira.
 
A realidade sofre transformações históricas e, através de mudanças no comportamento humano, normas que parecem adequadas num momento tornam-se obsoletas noutro, assim devendo ser alteradas.
 
Um exemplo de transformação histórica se deu na revolução feminista, que separa a concepção de submissão da mulher (esposa, mãe, dona-de-casa) da imagem que temos de mulher nos dias de hoje: independente, produtiva, em igualdade de condições com o homem.
Assim, o campo ético abrange tanto a ideia de qualquer ação humana gire em torno da divisão (fixa ou total) do que é certo ou errado, quanto a formas diversas e variadas de comportamento moral adotadas pelos homens na vida em sociedade.
Ética e moral: quem é quem?
	
	Continuando com o exemplo da posição da mulher na sociedade, notamos que em algumas sociedades ela ainda é tratada de acordo com normas e costumes ditos “ultrapassados”, e sua posição é de inferioridade em relação ao homem. Mas por que isso acontece? Por que ainda existe esse comportamento se hoje em dia já sabemos que as mulheres estão em condições de igualdade em relação ao homem? Por que o Brasil é tão diferente de outros países em relação à mulher na sociedade?
	 
	A ética não é localizada em um determinado momento da história e da humanidade, mas sim é atemporal, considerada na sua totalidade, diversidade e variedade: “A ética (...) toma como ponto de partida a diversidade de morais no tempo, com seus respectivos valores, princípios e normas. Como teoria, não se identifica com os princípios e normas de nenhuma moral em particular e tampouco pode adotar uma atitude indiferente (...) diante delas. Juntamente com a explicação de suas diferenças, deve investigar o princípio que permita compreendê-las no seu movimento e (...) desenvolvimento” (Sánchez Vázquez, 2002:21-2).
Não se identificando com princípios morais, mas não sendo indiferente a eles, o campo ético, conduzindo à compreensão racional de aspectos efetivos, reais, das atitudes humanas, não se confunde com a moral propriamente dita. Esta compõe-se de normas ou regras de comportamento, não sendo a ética responsável pelo estabelecimento das mesmas em sociedade. 
Vamos retomar o exemplo usado na Aula 1: o caso Tylenol.
Em 1982, os executivos da Johnson&Johnson foram informados da ocorrência de envenenamentos, na área de Chicago, aparentemente por ingestão de Tylenol em capsulas, no dia seguinte a este trágico acontecimento, não foram detectadas as causas do envenenamento; como foi relatado posteriormente o processo de fabricação do remédio não sofrera qualquer falha e os envenenamentos teriam ocorrido provavelmente depois que os produtos saíram da empresa.
Embora a venda do Tylenol representasse um faturamento, na época, de US$ 100 milhões anuais, fornecendo tratamento eficaz contra a dor, a empresa decidiu recolhê-lo do mercado.
Sua reintrodução tornou-se, em seguida, um marco de marketing. Segundo Nash, a Johnson&Johnson, opbtendo um alto prestígio do público pelo recolhimento do produto, beneficiou-se da ampla publicidade de sua pronta reação contra a ocorrência desastrosa. Relançado no merado, o remédio foi substituído sem qualquer ônus a todos os consumidores que alegassem tê-lo destruído. Assim, em dezoito meses, o Tylenol retomou seu lugar no mercado. 
Entendendo o caso a partir da distinção entre ética e moral
É justamente a elucidação desta diferença que nos leva ao desfecho da análise sobre a crise do Tylenol. Vamos ver todas as variantes envolvidas no caso estudado para podermos chegar a uma conclusão.
Ótica Econômica 
Sob uma ótica econômica, seria melhor simplesmente manter os produtos nas prateleiras. Afinal, a empresa, além de não ser responsável pela contaminação (por ter sido aparentemente em uma de suas instalações), confrontava-se com uma ocorrência isolada que minimizava o valor do produto para a maioria dos consumidores.
A Imagem da Empresa
A preocupação com os clientes era o alvo central da política de utilização dos serviços da empresa. Em torno deles, enfatizava-se a segurança, qualidade e confiabilidade do produto. Não sendo este mais confiável, qualquer atitude que sugerisse um interesse maior no lucro em detrimento da segurança dos consumidores minimizaria a força desses três valores.
A opinião do Gestor
“Cremos que nossa primeira responsabilidade é para com os médicos, enfermeiras e pacientes, para com as mães e pais e com todos que utilizam nossos produtos e serviços. Para atender as suas necessidades, tudo o que fazemos deve ser da mais alta qualidade” (apuad NASH: 2001, 39).
Duas atitudes marcavam esse pensamento: (1) agir segundo o que era certo e digno – reação moral; (2) integrar a preocupação econômica e confiabilidade do medicamento – comportamento ético.
Benefícios a Longo Prazo
Ao ser relançado, o medicamento voltou a ser lucrativo, pois os consumidores sentiam-se mais confiantes em utilizá-lo. A crise veio testar, em última instância, se a confiança tinha um significado real para a empresa. Ficou claro que sim. Apesar das incertezas sobre um possível sucesso financeiro com o recolhimento e relançamento do produto, a empresa agiu corretamente, respeitando o imperativo de qualidade com os usuários de seus serviços.
Reação moral e comportamento ético... Encerrando o caso
Retomando alguns conceitos:
	MORAL - sistema de normas, princípios e valores que regula o comportamento individual e social dos homens. O domínio moral abrange valores que têm o poder de regular, em qualquer momento da história, as ações dos homens em sociedade.
ÉTICA - explica e investiga uma determinada realidade ao formular conceitos sobre a mesma, para que possamos decidir como devemos nos orientar numa situação e justificarmos a decisão tomada
Voltando para o caso da Johnson & Johnson, vemos a presença de um componente moral na estratégia assumida pela empresa, pois ela agiu de acordo com o que achava correto e digno. Compreendemos também que a empresa agiu eticamente ao recolher e relançar o produto, reagregando um valor – CONFIANÇA – ao mesmo.
Botando o pingo no “i”
O sujeito moral age bem ou mal na medida em que acata ou transgride a fixidez de normas, princípios ou valores morais. Já a ética, em síntese, ocupa-se com a reflexão social (circunstancial) desencadeadapelos seres humanos, a respeito das noções e princípios que fundamentam a vida moral.
	 
	E é justo este poder reflexivo que transforma a ética em conhecimento científico sobre a moral, por abranger as seguintes dimensões: a) psicológica (referida à Psicologia, ciência do comportamento); b) sociológica (ligada à Sociologia, ciência das leis que regem o desenvolvimento e estrutura das sociedades humanas); c) antropológico-social (pautada pela Antropologia Social, ciência que estuda a organização e estrutura sociais); d) jurídica (confrontada com o Direito, ciência que estuda o sistema de normas que regula as relações sociais); e) econômico-política (vinculada à Economia Política, ciência que estuda as relações de produção).
Síntese da Aula:	
a) Retomou o estudo de caso da Aula 1;
b) Identificou algumas distinções entre ética e moral;
c) Compreendeu o porquê de ética ser definida como a ciência da moral.
Aula 3- O Caráter histórico e Social da Moral
Objetivos
1. Reconhecer a relação intrínseca que vincula a conduta moral à história;
2. Identificar como duas mudanças histórico-sociais (feudalismo e capitalismo) determinam transformações na moral efetiva (ou ética) das respectivas sociedades.
A Ética nos concursos
	
	Diversos concursos públicos procuram avaliar os conhecimentos do candidato acerca das noções gerais sobre Ética, Moral e Filosofia. Por isso propomos a você um desafio: realizar as questões relacionadas à disciplina Ética que foram cobradas no concurso público para analista judiciário do Tribunal Regional do Trabalho – 19. Região. 
 
	
	
	
	
Na próxima tela, você irá navegar dentro de um programa de prova. Essa prova não valerá ponto na disciplina, mas servirá para você perceber a importância do conhecimento que estamos vendo.
Texto da prova – Sobre Ética 
A palavra Ética é empregada nos meios acadêmicos em três acepções. Numa, faz-se referência a teorias que têm como objeto de estudo o comportamento moral, ou seja, como entende Adolfo Sanchez Vasquez, “a teoria que pretende explicar a natureza, fundamentos e condições da moral, relacionando-a com necessidades sociais humanas”. Teríamos, assim, nessa acepção, o entendimento de que o fenômeno moral pode ser estudado racional e cientificamente por uma disciplina que se propõe a descrever as normas morais ou mesmo, com o auxílio de outras ciências, ser capaz de explicar valorações comportamentais. Um segundo emprego dessa palavra é considerá-la uma categoria filosófica e mesmo parte da Filosofia, da qual se constituiria em núcleo especulativo e reflexivo sobre a complexa fenomenologia da moral na convivência humana. A Ética, como parte da Filosofia, teria por objeto refletir sobre os fundamentos da moral na busca de explicação dos fatos morais. Numa terceira acepção, a Ética já não é entendida como objeto descritível de uma ciência, tampouco como fenômeno explicativo. Trata-se agora da conduta esperada pela aplicação de regras morais no comportamento social, o que se pode resumir como qualificação do comportamento do homem como ser em situação. É esse caráter normativo de Ética que a colocará em íntima conexão com o Direito. Nesta visão, os valores morais dariam o balizamento do agir e a Ética seria assim a moral em realização, pelo reconhecimento do outro como ser de direito, especialmente de dignidade. Como se vê, a compreensão do fenômeno Ética não mais surgiria metodologicamente dos resultados de uma descrição ou reflexão, mas sim, objetivamente, de um agir, de um comportamento consequencial, capaz de tornar possível e correta a convivência (Adaptado do site Jus Navigandi).
Agora sim: aula 3
	
	Tentando sobreviver, o ser humano supera a sua natureza natural, instintiva, transformando-a em uma dimensão social. Para que a vida em sociedade seja possível, são estabelecidas regras que organizam as diversas relações humanas. Sem princípios, normas ou regras que criam o mundo moral, torna-se inimaginável a existência de qualquer povo ou cultura.
	
	
	
	
Se a moral constituída regula o que os homens realizam socialmente, o seu significado, função e validade variam historicamente nas diferentes sociedades.
O comportamento moral muda de acordo com o tempo e lugar, conforme as condições pelas quais diferentes sociedades foram se organizando ao longo da história. E o desenvolvimento dessa organização depende de uma mudança da realidade, dirigida por finalidades conscientes: o trabalho humano. Por ele, o homem transforma a natureza, aprendendo a conhecê-la e adaptando-a às suas necessidades. Ele favorece a convivência, desenvolve habilidades, levando os seres humanos a conhecerem as próprias forças e limitações.
O que quer dizer trabalho para você? Sobre o que estamos falando?
Trabalho
Derivada do vocábulo latino tripalium (tri (“três”), palus (“pau”)), aparelho romano de tortura contendo três estacas cravadas no chão sob a forma de pirâmide, servindo para amarrar condenados, escravos e animais difíceis de ferrar. O termo trabalho ganha, na Grécia e Roma antigas, a conotação negativa de sofrimento, pena. Nesse período, o trabalho manual é minimizado, já que era realizado apenas por escravos; reservava-se os ofícios intelectuais aos que fossem livres. Colocada em evidência, a atividade racional exigia uma disponibilidade tão grande que impedia o exercício de qualquer outra ocupação.
Escola
Apenas na escola, como indica sua etimologia, a concepção de trabalho podia ser plenamente exercida. De origem grega ---- , sholê, ês- o termo escola significa, entre alguns sentidos, “descanso, repouso, ocupação de um homem com ócio, livre do trabalho servil”. Na passagem para o latim o termo- schòla, ae- adquire, entre outras, a significaçãode “lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez; ocupação literária”. Neste sentido, a escola é lugar da ocupação voluntária de quem, por ser livre, não é obrigatório se submeter.
Negócio
Reforçando a ideia do trabalho como ausência de lazer, Marco Túlio Cícero (106ª.C. a 43 a.C.), grande orador, político, filósofo, advogado e escritor romano, ressalta como a palavra negotium (“negócio”) implica na negação do ócio, ao trazer o sentido de “empreitada comercial que provoca aflição, aborrecimento e inconvenientes”.
O trabalho na Idade Média
Na Idade Média, período de mais ou menos mil anos, comprendido entre o final da Idade antiga (ocorrido nos séculos III-IV), com destaque para o ano de 476, em que o Império Romano do Ocidente encontra seu final oficial, e os séculos XIII-XIV (Renascimento), a arte mecânica ainda é considerada inferior. Nela impera um regime de servidão, organizado sob relações de dependências e vassalagens.
As classes sociais
Condizente com uma profunda fragmentação econômica e política, o quadro histórico do regime de servidão encontra suas raízes no surgimento de duas classes que marcavam o sistema feudal, dominante em toda idade Média: dos senhores feudais, donos absolutos de terras ou feudos, e dos camponeses ou servos, os quais eram vendidos e comprados com as terras às quais pertenciam e que não podiam abandonar. No marco instaurado por essa divisão e as condições de trabalho que lhe correspondem, exemplificamos histórico-sociais a se relacionarem com transformações éticas.
Estrutura do Feudo
Um feudo era composto de uma aldeia e várias centenas de agrupamentos de terra arável que circundavam. Ao redor do feudo, encontravam-se prados, bosques e pastos. Cada propriedade feudal tinha um senhor. Pastos, prados, bosques, eram compartilhados por todos, mas a maior parte da terra arável pertencia ao senhor feudal. E a menor parte ficava em poder do arredantários, que eram obrigados a arar ambas as áreas. Trabalhando arduamente nas faixas de terra que lhes cabiam, os servos levavam uma vida miserável; dedicavam (semanalmente e sem qualquer pagamento) dois ou três dias para arar a terra do senhor, que deveria sempre ser semeada e ceifada em primeiro lugar. Sofriam, em acréscimo, inumeráveis obrigações.
Riqueza, religião eética
Nesse quadro histórico, a medida de riqueza era determinada por um único fator: a quantidade de terra. Daí o motivo das disputas contínuas que ela suscitava, deflagrando guerras com frequência.
O papel da Igreja
E é em torno desse aspecto que compreendemos o papel da Igreja. Ela tornou-se a maior proprietária de terras no período feudal. Através de doações de fiéis, incluindo nobres e reis, ela passou a possuir quase a metade de todas as terras da Europa Ocidental. Bispos e abades detinham os mesmos privilégios que condes e duques na estrutura feudal.
O Poder e Riqueza
No início do feudalismo, a Igreja assumiu um papel tanto dinâmico, ao preservar muito da cultura romana, quanto progressista, pois incentivou a educação, ajudou pobres, desamparados e doentes. Enquanto os nobres dividiam suas propriedades, atraindo mais simpatizantes, a Igreja tornava-se mais rica, de tal modo que suas posses tenderam a superar a sua função espiritual. Segundo alguns historiadores, ela não realizou tudo o que sua riqueza permitia. Ao mesmo tempo que suplicava ajuda dos que possuíam mais dinheiro, economizava dos seus próprios recursos.
Religião e Ética
O clero e a nobreza ocupavam o lugar de classes governantes, controlando as terras e o poder que daí provinha, prestando proteção militar. A Igreja fornecia auxílio espiritual. Ela se aproveitava do fato da religião garantir ao longo do período feudal uma certa unidade social, pois a política dela dependia como instituição que defendia a religião, exercendo forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida intelectual. Justo sob essas circunstâncias, podemos entender de que modo a moral concreta, efetiva ou ética, permanece impregnada “de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,275-276).
Conhecendo os Burgos
Sistema Familiar
Os membros de uma família produzem artigos para o seu consumo, e não para venda.
O trabalho não se fazia com o objetivo de atender o mercado.
Sistema de Corporações
Produção realizada por mestres artesãos independentes, com dois ou três empregados, para o mercado pequeno e estável.
Os trabalhadores eram donos tanto da matéria prima que utilizavam, como das ferramentas com que trabalhavam. Não vendiam o trabalho, mas o produto do trabalho. Durante toda a Idade Média.
Sistema Doméstico 
Produção realizada em casa para um mercado em crescimento, pelo mestre artesão com ajudantes, tal como no sistema de corporações. Com uma diferença importante: os mestres já eram independentes; tinham ainda a propriedade dos instrumentos de trabalho, mas dependiam, para a matéria-prima, de um empreendedor que surgira entre eles e o consumidor. Passaram a ser simplesmente tarefeiros assalariados. Do século XVI ao XVIII.
Sistema Fabril 
Produção para um mercado cada vez maior e oscilante, realizada fora de casa, nos edifícios do empregador e sob rigorosa supervisão. Os trabalhadores perderam completamente sua independência. Não possuíam a matéria-prima, como no sistema doméstico. A habilidade deixou de ser tão importante devido ao maior uso da máquina. O capital tornou-se mais necessário do que nunca. Do século XIX até hoje.
Ainda sobre o sistema fabril
Sob o sistema fabril, em que a máquina e o capital desalojam das mãos do trabalhador sua importância e habilidade, encontramos um segundo exemplo para caracterizar a relação moral-história. Transformações de peso na vida social e econômica, como o desenvolvimento das técnicas, da experimentação e a ampliação dos mercados, estão na base de seu surgimento.
	
	Os instrumentos de produção passam a ser comprados pelo capital acumulado, obrigando os mestres artesãos e os ajudantes a venderem sua força de trabalho em troca de um salário para sobreviver. Com o aumento da produção, o que é produzido deixa de pertencer aos trabalhadores, sendo oferecido como mercadoria pelo burguês que retém um valor não-remunerado: mais-valia ou lucro. Nessas condições, surge a classe econômica dos trabalhadores assalariados ou proletariado.
O “advento” da relação trabalhista
Através de uma série de revoluções nos Países Baixos, na Inglaterra e particularmente no final do século XVIII na França, consolida-se a posição da burguesia. Ao longo do século XIX, a lei da produção de mais-valia – trabalhar para garantir lucros – vigora em solo inglês. O capitalismo é estabelecido.
	
	Condições subumanas de vida marcam a existência do proletariado, permeadas por extensas jornadas de trabalho de dezesseis a dezoito horas, sem quaisquer direitos trabalhistas; crianças e mulheres tornam-se mão-de-obra necessária e barata. Miséria, sofrimento e insegurança marcam a existência dos novos operários fabris. Diante dessas circunstâncias, compreendemos a proliferação de comportamentos morais individualistas e egoístas que animam as relações sociais burguesas.
Para encerrar...
	
	“(...) as considerações morais não podem alterar a necessidade objetiva, imposta pelo sistema, de que o capitalista alugue por um salário a força de trabalho do operário e o explore com o fim de obter uma mais-valia. A economia é regida, antes de mais nada, pela lei do máximo lucro, e essa lei gera uma moral própria. Com efeito, o culto ao dinheiro e a tendência a acumular maiores lucros constituem o terreno propício para que nas relações entre os indivíduos florescam o espírito de posse, o egoísmo, a hipocrisia, o cinismo e o individualizmo exacerbado. Cada um confia em suas próprias forças, desconfia dos demais, e busca seu próprio bem-estar, ainda que tenha de passar por cima do bem-estar dos outros. A sociedade se converte assim num campo de batalha no qual se trava uma guerra de todos contra todos” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,49). 
Aula 4-A Estrutura do Ato Moral
Objetivos
Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
Reconhecer os elementos que compõem o ato moral.
Destacamos, nas três primeiras aulas, de que modo as normas morais, formando a moral propriamente dita, se distinguem da conduta moral ou ética. Entendemos agora que ajudar alguém que é impunemente agredido na rua, cumprir a promessa de devolver um objeto emprestado e denunciar injustiças cometidas são atos individuais aprovados ou desaprovados, conforme um conjunto de regras que determina como deve ser o comportamento dos indivíduos e grupos sociais.
Orientação da moral
Quando uma criança joga o lixo no chão e é repreendida pelos pais, dizemos que os pais estão educando-a; mais propriamente, dizemos que os pais estão ensinando o que é certo ou errado a se fazer. A aceitação de exigências e prescrições ocorre pela consciência que discerne o valor moral de nossos atos. Herdando valores universais sobre o certo e o errado (Bem/Mal) recebidos pela tradição e agregando juízos e avaliações estabelecidos ao longo da história humana, ela nos permite reconhecer dois grandes planos que orientam a moral. Vejamos como Sánchez Vázques os estrutura:
	
	“O normativo, constituído pelas normas ou regras de ação e pelos imperativos que enunciam algo que deve ser; b) o fatual, ou plano dos atos morais, constituído por certos atos humanos que se realizam efetivamente, isto é, que são independentemente de como pensemos que deveriam ser” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,63).
No segundo plano, o fatual, encontramos ações concretas: a solidariedade de um amigo por outro, a denúncia de uma traição. Neste último plano, não teríamos apenas atos que podem ser postos em relação positiva com uma norma.
Voltando ao que já vimos 
	
	Como vimos na primeira aula, o não cumprimento de uma promessa, ocultar a traição de alguém conhecido ou omitir informações são comportamentos que violam normas, tendo valores negativos, mas não deixam de pertencer à reflexão ética.
	 
	E é esta valoração positiva e negativa, orientando e justificando nossas decisões em situações como a da estratégia do Tylenol (exemplo de comportamento ético), que nos permite compreender a apresentação dos diversos elementos que compõem os atos morais,de acordo com Sánchez Vázquez.
	Elementos dos atos morais: motivação
Cintia é uma jovem que mora sozinha em um apartamento no centro da cidade. 
Ela possui o hábito de fumar maconha, e costuma justificar esse ato como sendo uma “válvula de escape”, uma forma de relaxar.
Milton é vizinho de Cintia. Segundo a visão de Milton, todo consumidor equivale a traficante, e deve ser tratado como tal. Como o cheiro da droga é sentido no corredor do prédio em que moram, Milton resolveu ligar para a polícia e denunciar Cintia como traficante de drogas.
O ato de Milton produz efeito. A polícia foi ao prédio e prendeu Cintia em flagrante, já que ela possuía em sua residência uma quantidade considerável daquela droga, ainda que tivesse alegado aos policiais que era para consumo próprio.
Quando denunciamos uma pessoa, por exemplo, podemos estar sendo movidos tanto pela busca sincera da verdade, quanto pelo engrandecimento de nossa ação pela comunidade. Um mesmo ato realiza-se segundo diversos motivos e, diversamente, o mesmo motivo pode gerar atos e finalidades diferentes. Mas, os motivos que induzem os homens a agirem de uma determinada maneira não são suficientes para atribuir um significado moral a esta ação, porque quem age nem sempre conhece claramente os motivos que o levaram a adotar seu comportamento.
Elementos dos atos morais: a consciência
	
	Segundo aspecto fundamental do ato moral: a consciência do fim visado. Você está lembrado do caso Tylenol, que vimos nas aulas anteriores? Naquela situação, a preocupação com os clientes estava no centro da política de utilização dos serviços da J&J. Voltada para eles, a empresa enfatizava a segurança, qualidade e confiabilidade do produto. Em torno desse fim, a empresa decidiu apostar na estratégia de oferecer um medicamento confiável e eficaz para os usuários.
	
	
	
	
Logo, aos fins propostos pela consciência, consideramos a decisão de alcançá-los: justo com a associação destes dois aspectos, entendemos porque o ato moral tem um caráter voluntário ou consciente.
 
Elementos dos atos morais: os meios
Gisele é filha de Bernardo, e ambos descobriram que ela havia contraído Aids após uma transfusão de sangue durante um acidente de trânsito no qual ela foi vítima de atropelamento causado por um motorista bêbado. Bernardo, como não poderia deixar de ser, ficou revoltado com o destino imposto a sua filha. 
Porém, como a amava muito, passou a reivindicar o tratamento ao poder público, já que os remédios eram caríssimos e ele não tinha condições de pagar pelo tratamento.
Como os hospitais públicos quase nunca tinham os remédios, Bernardo resolveu tomar uma atitude drástica: assaltar uma indústria farmacêutica para garantir o suprimento da medicação de sua filha.
Fins elevados moralmente não são suficientes para justificar o uso de meios torpes, vis, como a humilhação, tortura e o suborno de seres humanos. Já o resultado, que concretiza o fim almejado, afeta os homens em sociedade pelas consequências da ação empreendida. Por isto, o sujeito que age moralmente deve ter plena consciência dos meios que irá utilizar e dos resultados possíveis que sua ação desencadeará. Estes últimos, por estarem ainda relacionados com normas, princípios e valores que implicam e regulamentando o comportamento individual e social dos homens, constituem parte integrante do que uma comunidade julga significativo e digno: seu código moral.
A unidade do ato moral
	
	Motivos, consciência do fim, consciência dos meios e a decisão em alcançar os mesmos, indicam que o ato moral possui uma dimensão subjetiva. A ela acrescenta-se, no entanto, um lado objetivo: escolha de meios, projeção de resultados e consequências possíveis. Agora eu lhe pergunto: por que não condenamos moralmente um médico que mutila um paciente (meio) para salvar-lhe a vida (fim)?
	
	
	
	
Clique em Unidade indissolúvel para entender a posição de Sánchez Vázquez.
Código moral na sociedade
Período Medieval
Na aula 3, vimos de que forma no período medieval as ações morais religiosas são disseminadas socialmente, divulgando a atmosfera de uma unidade espiritual entre os homens e Deus, apesar do enriquecimento crescente da igreja pela aquisição de feudos.
Ascenção do Capitalismo
Vimos ainda que, com a implantação do capitalismo, a imposição de condições subumanas pelo sistema fabril desencadeou o surgimento de condutas morais egoístas e individualistas.
O Passado no Presente
Por meio destes dois exemplos, os atos morais contextualizam a posição da igreja e a posição do lucro (acúmulo de capital) como referências históricas que criam significados ou sentidos morais específicos, particulares- com relação aos valores universais do Bem (certo/verdadeiro) e do Mal (errado/falso).
Comentário
Os dois contextos conseguem adequar ou singularizar, assim, características universais normativas em circunstâncias histórico-sociais. Estabelecem uma via que vai da totalidade de valores universais, às diversidades de condutas em casos particulares, levando-nos a compreender o caminho que um ser humano percorre moralmente entre a intenção de um ato e seu resultado ora positivo em que a ação reforça uma norma, ora negativo em que o resultado se afasta da intenção originária. 
Encerrando esta aula...
Diante do que realizamos em cada experiência vivida, devemos considerar a forma de nos comportarmos moralmente. Dispomos sempre de um código que nos forneça previamente fundamentos para que possamos agir corretamente numa situação; mas, devido às peculiaridades do que passamos em cada caso e suas dimensões imprevisíveis, em que nos perguntamos: devemos fazer X ou Y? Mergulhamos nossas escolhas em problemas que assumem a forma de conflito de deveres, ou casos de consciência moral. Não podemos de antemão determinar o que é mais conveniente fazermos do ponto de vista de nossa conduta moral.
	
	A este respeito, destacamos um exemplo da literatura clássica brasileira, no qual se ilustra com nitidez a construção de uma situação humana, marcada por um genuíno dilema moral-ético. Clique em Conto de Escola, de Machado de Assis, para ver como o grande mestre de nossa literatura retratou esse conflito. Esse texto também está disponível na Biblioteca da Disciplina.
CONTO DE ESCOLA (Machado de Assis) 
O conto gira em torno de uma escola ativa em 1840. Três personagens são mencionados: os alunos Pilar, Curvelo e Raimundo, este último filho do professor Policarpo que lá lecionava. É dia da lição de escrita. Pilar, um dos mais adiantados da turma, terminou o exercício passado pelo mestre, entregando-o rapidamente e sentando-se em seu lugar, no aguardo do final da aula. Raimundo o interpelou. Trazia no bolso uma “pratinha” que ganhara de sua mãe no aniversário. Depois de mostrá-la, propôs uma “troca de serviços” com Pilar, que receberia a moeda se explicasse a ele um ponto da lição de sintaxe. Este último cogita nos termos da proposta, simples compra de lição por dinheiro, compreendendo a dificuldade enfrentada por Raimundo no aprendizado da matéria e sua audácia em recorrer à eficácia de um favor sob a tutela econômica. Ele tentava Pilar que nada tinha no bolso. A situação ali imaginada caracterizava bem seu dilema com relação à moeda que poderia ganhar: “Não queria recebê-la, e custava-me recusá-la. Olhei para o mestre, que continuava a ler, com tal interesse, que lhe pingava o rapé do nariz. – Ande, tome, dizia-me baixinho o filho. E a pratinha fuzilava-me entre os dedos, como se fora diamante...Em verdade, se o mestre não visse nada, que mal havia? E ele não podia ver nada, estava agarrado aos jornais, lendo com fogo, com indignação...”. 2 Aceita, finalmente. Realiza a troca de serviço. Fica com medo, no entanto, de Curvelo, que presenciara toda a cena. O temor vira realidade: ele o delatara ao professor. Poucos minutos depois de ser delatado, Policarpo chamou os dois culpados, bradando contra o filho negociante e o subornado. Cada um recebeu doze bolos nas mãos, deixando as palmas vermelhas e inchadas.Desfecho não desejado: “Chamou-nos sem-vergonhas, desaforados, e jurou que se repetíssemos o negócio apanharíamos tal castigo que nos havia de lembrar para todo o sempre. E exclamava: -Porcalhões!tratantes!faltos de brio!”. Na volta à casa, Pilar omitiu o ocorrido. Mentiu à mãe sobre as mãos inchadas, dizendo que não havia estudado a lição. Mas o sonho com a moeda ainda o perseguiu. A idéia de procurá-la acompanhou seus passos no dia seguinte. Na rua, encontra uma companhia do batalhão de fuzileiros, “tambor à frente, rufando”. Naquele dia, não fora à escola; seguiu a marcha dos fuzileiros e alcançou a Praia da Gamboa. Retornando ao lar, “sem pratinha no bolso e ressentimento na alma”, pensou como Raimundo e Curvelo fizeram-no aprender os sentidos respectivos de “corrupção” e “delação”.
Aula 5- Responsabilidade Moral, Determinismo e Liberdade
Objetivos:
1. apresentar os principais elementos em torno dos quais gira a questão da responsabilidade moral: consciência, ignorância, coação externa, coação interna e liberdade.
Na medida em que são avaliados pelos seus resultados e consequências, os atos morais são complexos por provocarem efeitos não só no sujeito que se propôs a realizá-los, mas no comportamento de todos os que interagem na vida em sociedade. Quem age se responsabiliza pelo rumo escolhido de suas ações, tendo certa liberdade de opção e decisão. No vídeo acima, você vê uma sátira que relaciona atos de crianças ao comportamento do pai. Trata-se da série “Avaiana de Pau”, produzida pelo Mundo Canibal.
Responsabilidade Moral
Não só as normas que servem para avaliarmos determinado ato, é necessário também examinarmos em que condições ocorre, graduando de seu autor e perguntando: sob que circunstâncias alguém é louvado ou censurado por agir de uma certa maneira? Vamos a um exemplo:
Roberto é um jovem bastante ativo na sociedade, ainda que conviva com o preconceito pelo fato de ser portador de síndrome de Down. Sua mãe, Rosângela, atribui a Roberto uma série de atividades diárias, como fazer a feira, ir ao banco etc.
Certo dia, ao entrar em um supermercado, Roberto se viu diante de uma sessão de chocolates. Como já sabia que sua mãe confere sempre a nota fiscal, bem como sabia que ela não permite comprar esse tipo de alimento, Roberto resolveu colocar no bolso da calça uma pequena embalagem. 
Pare para pensar: podemos responsabilizar Roberto pelos seus atos, se pensamos no roubo cometido por um doente mental? Questões correntes já na Grécia Antiga, com ela se ocupa Aristóteles em sua Ética a Nicômaco (2001, II, 4 1105ª30), refletindo sobre o ato voluntário e concluindo que ele se realiza quando “o agente se encontra disposto a fazê-lo, pois tem conhecimento do que faz. Além disto, deve escolher de sua própria vontade os atos em função dos mesmos; em terceiro lugar, sua ação deve proceder de uma disposição moral firme e imutável”.
Análise da ação moral
Devemos destacar cinco momentos na análise das diversas ações morais: 
(1) conhecimento do objeto e do fim; 
(2) vontade para alcançar a finalidade visada; 
(3) deliberação dos meios que podem realizar o ato; 
(4) escolha reflexiva;
(5) firmeza para agir. Em poucas palavras, não se deve ignorar as circunstâncias e as consequências de uma ação – agir conscientemente; a causa de um ato deve encontrar-se no agente, não em um fator externo, contrariando a sua vontade – é sempre livre a conduta moral.
	
	“(...) tão-somente o conhecimento, de um lado, e a liberdade, de outro, permitem falar legitimamente de responsabilidade. Pelo contrário, a ignorância, de uma parte, e a falta de liberdade, de outra (entendida aqui como coação), permite eximir o sujeito da responsabilidade moral” (VÁZQUEZ: 2002,110).
	
	
	
	
Duas condições entram em consideração: consciência versus ignorância, liberdade versus coação externa/coação interna.
Ignorância e responsabilidade moral
Quem não tem consciência daquilo que faz está isento de qualquer responsabilidade moral? Animando as considerações seguidas no livro III, da Ética a Nicômaco, a discussão sobre este tema ganha um rumo definitivo, quando Aristóteles afirma (2001, III,1,1110ª):
	
	“São consideradas involuntárias aquelas ações que ocorrem sob compulsão ou por ignorância; e é compulsório ou forçado aquele ato cujo princípio motor é externo ao agente, e para o qual a pessoa que age não contribui de maneira alguma para o ato, porém, pelo contrário, é influenciado por ele. Por exemplo, quando uma pessoa é levada a alguma parte pelo vento, ou por homens que a têm em seu poder”.
“Tudo o que é feito por ignorância é não-voluntário, e só que produz sofrimento e arrependimento é involuntário. Com efeito, o homem que fez alguma coisa por ignorância e não sente nenhum pesar pelo que fez, não agiu voluntariamente, pois não sabia o que fazia, nem tampouco agiu involuntariamente, visto que isso não lhe causa pesar algum. Desse modo, entre as pessoas que agem por ignorância, as que se arrependem, que sentem pesar, são consideradas agentes involuntários, e as que não se arrependem podem ser chamadas de agentes não-voluntários, pois em razão dessa diferença é melhor que tenham uma denominação distinta.
Agir por ignorância (...) parece diferir de agir na ignorância, pois se considera que um homem (...) encolerizado age não por ignorância, (...) mas sem saber o que faz, (...) na ignorância” (ARISTÓTELES:2001,III,1,1110b17-29).
Ações “por” e “na” Ignorância
Veremos algumas situações sobre por ignorância. Ao final, haverá uma situação na qual você deverá responder a pergunta formulada.
AÇÕES POR IGNORÂNCIA: João Pedro decidiu se embriagar. Após beber, pegou seu carro e atropelou um casal que estava aguardando o ônibus para voltar para casa. Embriagado, um sujeito não tem consciência de um crime que comete, mas podia e não devia ignorar que a bebida poderia leva-lo a delinquência. Agir por ignorância não exime a responsabilidade moral do agente.
AÇÕES NA IGNORÂNCIA: Patrício era um jovem lutador de boxe, e finalmente havia conseguido chegar a final do campeonato amador que disputava. Na luta final, acabou acertando um golpe que provocou em seu adversário um AVC (acidente vascular cerebral). Logo após a luta, Patrício soube que seu oponente havia morrido. Patrício comportou-se inocentemente, ignorando as circunstâncias que o levaram a agir: agiu na ignorância, não sendo responsável por aquilo que fez. 
- Cristina, de 5 anos de idade, estava numa fase de pura brincadeira; tudo era motivo para risos e diversão no apartamento que morava com os pais. Certa vez, decidiu jogar um ovo pela janela simplesmente pela curiosidade de ver como o ovo ficaria, já que em sua casa não poderia fazer isso. Entretanto, o ovo atingiu o porteiro do prédio e o cegou.
Podemos considerar o ato de Cristina uma ação NA ignorância?
-Sim!
Cristina não tinha qualquer consciência da possibilidade de cegar o porteiro, muito menos sabia que algo tão frágil como um ovo, poderia ferir alguém. Ações POR ignorância não eximem a responsabilidade moral do agente. Uma criança que não atingiu a maturidade necessária para ser responsabilizada por sua ignorância e comportamentos que são determinados por contextos histórico-sociais, como na antiga sociedade grega, em que relações morais ocorriam apenas entre homens livres, nunca entre homens livres e escravos. Dados objetivos, assim (desenvolvimento psicológico, condições histórico-sociais), desobrigam sujeitos de qualquer responsabilidade moral.
Coação externa, coação interna e responsabilidade moral
Segunda condição para alguém ser responsabilizado moralmente: seu comportamento ser desencadeado pela sua própria vontade, inexistindo algo ou uma pessoa que o force a realizar o ato. Pois, como menciona Aristóteles (2001:III, 1,1110b):
	
	“Que espécies de ações (...) devem ser chamadas forçadas? São aquelas em que, sem restrições de nenhum tipo, a causa é externa ao agente, ao qual em nada contribui para tal ação (...). Os que agem forçados e contra a sua vontade, agemsofrendo, mas quem pratica atos por serem agradáveis ou nobres, pratica-os com prazer”.
Na medida em que a causa do ato forçado está fora do agente, escapando ao seu poder e controle, inexiste a liberdade para decidir e agir por conta própria: age-se pressionado por uma coação externa.
Liberdade versus coação
A relação coação-ato apresenta-se sob duas modalidades distintas, e veremos alguns casos que tratam deste tema.
- Renato trabalha como segurança numa firma de transportes bancários, e faz parte de seu cotidiano profissional acompanhar os veículos que transportam dinheiro até o banco, fazendo a escolta dos carros-fortes da firma.
Certa vez, o patrão de Renato, Rodrigo, determinou a ele que aproveitasse uma dessas viagens para cobrar uma dívida pessoal que Sandro havia adquirido junto a Rodrigo. O patrão disse: “bota a arma na cara dele e cobra o dinheiro”. Renato tentou discordar, mas foi ameaçado de demissão caso não cumprisse tal ordem. No caso de um tirano que ordena a alguém que pratique um ato ignóbil, determina-se a escolha pela circunstância. Perdendo o controle da situação, o agente não decide, nem escolhe livremente o que irá realizar. Estando a causa de seu comportamento fora de si, ele não pode ser responsabilizado pelo que acontece.
- Carolina é uma escritora que sofre uma doença degenerativa grave e que pode sobreviver dois ou três anos caso receba tratamento adequado. Inicialmente ela segue a orientação médica, tomando regularmente os medicamentos recomendados, mas começa a escrever seu livro dos sonhos. Os remédios, abalando sua concentração e tornando-a bem menos criativa, lhe impõe um dilema: continuar o tratamento e prolongar sua vida, ou terminar com êxito seu livro? A partir dessa situação: Podemos considerar o ato de Carolina isenta de responsabilidade moral caso pare de tomar os remédios que irão salvar sua vida?
Não!
Há uma escolha interna neste caso, apesar da coação extrema imposta pelo quadro de doença terminal, que não pode eximir a responsabilidade moral do agente.
Mais um caso...
	
	Acabamos de ver duas situações em que os conceitos de liberdade e coação foram explorados. E no caso da cleptomania, como poderíamos situá-la dentro deste contexto? A cleptomania é um estado considerado doentio para a psiquiatria, uma neurose obsessiva.
	A atriz Winona Ryder foi um caso notório de cleptomania, que se tornou público quando a atriz foi detida pelo segurança de uma loja de departamento nos Estados Unidos ao tentar sair sem pagar, 
apesar de possuir dinheiro (muito!) mais do que suficiente para adquirir os produtos pelas vias “normais”.
Cleptomania: A Cleptomania caracteriza-se pela recorrência de impulsos para roubar objetos que são desnecessários para o uso pessoal ou sem valor monetário. Esses impulsos são mais fortes do que a capacidade de controle da pessoa.
Neurose Obsessiva: “Caráter obrigatório (compulsivo) dos sentimentos, das ideias ou das condutas que se impõem ao indivíduo e o envolvem em uma luta inesgotável, sem que, entretanto, ele mesmo deixe de considerar este parasitismo incoercível como irrisório. (...) A neurose obsessiva deve também ser definida pela própria estrutura da pessoa do obsessivo, inteiramente submissa às obrigações que lhe impedem de ser ele mesmo” (EY,BERNARD,BRISSET:1981,490). 
	
	
	
	Sob a força desta compulsão, não estando consciente do que faz, o agente desconhece os motivos verdadeiros de sua ação e não tem meios para avaliar sua natureza moral e consequências.
Aula 6- Responsabilidade Moral, Liberdade e Determinismo
Objetivos: Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:
Apresentar a reflexão teórica acerca de determinismo, livre arbítrio e liberdade de escolha
	Você lembra da aula passada? Nela, vimos diversos exemplos (como o do boxeador e da cleptomaníaca, entre outros) que demonstraram atos acerca da responsabilidade moral a partir da pressuposição de ausência tanto de coação externa em termos dos atos voluntários, quanto de coação interna no que concerne aos atos compulsivos ou involuntários. A responsabilidade só é desencadeada quando consideramos a existência de um ser humano livre, deliberando e agindo por conta própria.
           
	Nesta aula veremos que os homens interagem no exercício do poder, dos negócios e das leis, estando sujeitos a limites impostos pelo Estado, pela Economia e pelo Direito.
Ficamos bem longe da ideia de que os homens têm o direito de exercer livremente sua vontade no campo moral: um grau parcial de autonomia marcaria os diversos comportamentos e relações humanas na vida em sociedade. E é justamente esta graduação que nos permite refletir sobre a existência de ações nas quais, sob o peso de referências sociais, econômicas e jurídicas, tornamo-nos responsáveis moralmente por aquilo que escolhemos fazer, proporcionando-nos uma margem de liberdade ética.
Ex.
Daniela é uma senhora que está na “melhor idade”. Aos 62 anos, ela é muito ativa, mas tornou-se viúva e seus filhos moram longe. Enfim, ela se sente sozinha morando em uma casa na qual só há um habitante.
Sua irmã, Tatiana, resolveu lhe presentear com um gato para fazer companhia, e Daniela ficou muito feliz com o presente. Passados alguns meses, Daniela e o gato eram inseparáveis, e ela adquiriu o hábito de levar o pequeno felino a todo lugar que ia.  
Ao tentar entrar em um supermercado com seu gato, a funcionária Ariane, que trabalha no estabelecimento, barrou Daniela, dizendo: “neste recinto não é possível entrar com animais”. Daniela ficou indignada, pois alegou que nunca se separa de seu gato, e que se responsabilizaria por qualquer dano. Mesmo assim, Daniela foi impedida de entrar.
As determinações que incidem sobre a responsabilidade
Como vimos na tela anterior, logo no começo, o sujeito moral só é capaz de agir em relação a si mesmo e aos outros na medida em que suas ações são coagidas por determinadas causas, a saber:
Liberdade versus necessidade
Duas grandes dimensões se opõem, a este respeito. Pois se estamos falando de um determinismo que nos leva a encontrar causas para guiar a vida em sociedade, o modo pelo qual agimos não é ordenado segundo nosso querer, mas conforme o que tem e não pode necessariamente deixar de ser: liberdade versus necessidade. Sem analisarmos o sentido desta oposição, não podemos resolver o problema ético fundamental colocado pela responsabilidade moral. E é uma reflexão de tal porte que nos conduz a três posições filosóficas básicas.
	
	
	Ainda sobre Determinismo
	
	O matemático, físico e astrônomo francês Pierre-Simon Laplace (1749-1827) resumiu bem o valor do determinismo para as ciências da natureza no século XVIII, ao afirmar que “um calculador divino, que conhecesse a velocidade e a posição de cada partícula do universo num dado momento, poderia predizer todo o curso futuro dos acontecimentos na infinidade do tempo” (VÁZQUEZ:2002,121).
	
Ex.
Sandro é um jovem que sofreu um trágico acidente de carro, e quase morreu ao colidir. Ele era um atleta de alta performance, e o acidente praticamente tirou tudo que ele mais gostava de fazer: nadar.
No momento em que saiu do quarto, Sandro viu uma imagem que o abalou profundamente: uma cadeira de rodas. No mesmo momento em que viu tal objeto, tomou a decisão: não queria mais continuar vivendo.
Durante uma das diversas idas ao hospital, Sandro solicitou ao médico que o acompanhava que injetasse nele uma substância poderosa o suficiente para lhe tirar a vida. O médico imediatamente disse que não, que não poderia fazer isso. Sandro alegou que sim, pois deveria ter a liberdade de decidir se continua vivendo ou não.
Ainda sobre liberdade
	
	A liberdade, neste sentido, manifestaria um poder de agir sem nenhuma outra causa que não fosse a própria existência desse poder. Um dos grandes defensores desta posição na filosofia foi Charles Renouvier (1815-1903), nascido em Montpellier, tendo estudado na Escola Politécnica de Paris. Entre temáticas diversasdesenvolvidas por sua reflexão, concentrou-se, do ponto de vista prático, numa forte defesa da liberdade contra qualquer espécie de determinismo.
Ao pensar na existência de pessoas concretas, Renouvier afirma que a moral converte-se numa ordem humana, em um ideal passível de ser alcançado, ainda que de modo aproximado. Para a concretização deste ideal, ele ressalta a influência da personalidade, entendida como “liberdade através da história” (FERRATER MORAd:1982,2843). Ela alicerçaria tanto a história quanto a moral. O homem, assim, seria um agente livre, capaz de realizar-se historicamente, não sendo, apenas, alguém subjugado por uma série de momentos predeterminados. Seu pensamento afastar-se-ia da ideia de que o curso da vida humana está previamente fixado –“fatalidade na história” –, ou da ideia ilusória de progressos políticos, sociais e econômicos – “utopismo progressista”, como afirma Ferrater Mora (d,1982,2843):
“A fatalidade da história, assim como o utopismo progressista, são eliminados radicalmente [da] concepção [de Renouvier] que vê na liberdade pessoal a condição de progresso efetivo e concreto, assim como da moralidade”. 
Aula 7- Fundamentos Gerais da Ética Grega
Objetivos:
1. Apresentar, sob a relação Oriente-Ocidente, elementos histórico-filosóficos que tornam a ética uma disciplina filosófica no mundo ocidental;
2. Introduzir escolas de pensamento que caracterizam a ética no mundo grego antigo.
Oriente versus Ocidente
Precedentes da Ética Grega
Pré-socráticos
Sócrates
Platão
A ética aristotélica: introdução
Com Aristóteles, a ética torna-se uma disciplina filosófica. Sua filosofia critica o dualismo ontológico de Platão, a separação dos mundos sensível e inteligível, sendo marcada por três etapas:
Período platônico – corresponde aos anos que Aristóteles permaneceu na Academia (367-348/7 a.C), nome da escola fundada por Platão em Atenas (ali ensinava-se dialética, encontrando-se o saber por constantes questionamentos, o que trouxe para o termo Academia, desde então, a acepção de local onde o saber não apenas é ensinado, mas produzido).
Uma primeira obra desse período é o Eudemo (352 a.C, aproximadamente), em que mantém as teses características do platonismo: a existência do mundo das idéias separadas, a substancialidade da alma, a imortalidade e a transmigração. A esse período pertenceriam também diálogos que se relacionam com o livro I da Metafísica, bem como partes mais antigas dos textos de lógica;
Período de transição (347-335 a.C) – Aristóteles critica as doutrinas platônicas, nomeadamente a teoria das ideias transcendentes, dos números ideais e da eternidade do mundo tal como Platão desenvolveu no Timeu, e revisa suas próprias concepções, esboçando já um pensamento original. A composição dos livros da Metafísica aparece em três séries: (primeira) – dominada pelo conceito da Filosofia como ciência de substâncias transcendentes e suprassensíveis, mas iniciando já uma crítica do platonismo; (segunda) – a Filosofia entendida como ciência de um ser suprassensível, contraposta à Física que versa sobre os seres sensíveis; (terceira) – a Filosofia primeira possuindo como objeto o ser enquanto ser, em toda a sua amplitude;
Período aristotélico – corresponde à segunda estância em Atenas, quando o Liceu é fundado (335-323 a.C). Aristóteles chega à formulação do seu próprio sistema, ainda que conserve alguns traços do platonismo inicial. Relega a Filosofia a um segundo plano, ocupando-se preferencialmente de estudos sobre as ciências naturais, em que se ressaltam a valorização do que é empírico, ou seja, o mundo concreto dos seres viventes (cf. FRAILLE:1965a).
As essências das coisas diferem entre si pelos elementos que entram em suas composições, existindo uma única essência simplíssima, a de Deus, que não necessita possuir nem matéria, nem potencialidade, não estando sujeita a qualquer transformação.
Mas, as demais essências compõem-se de ato, potência, forma e matéria, e seus graus de perfeição dependem de seus princípios formais.
Por isso, há um bem próprio de Deus, e outros bens encontrados respectivamente nas substâncias celestes, nos homens, nos animais, nas plantas e nos minerais.
O objeto da ética consiste em investigar as características do bem, da perfeição e da felicidade que são atribuídas ao homem, com o fim de ajustá-los à orientação prática da conduta humana. Segundo Aristóteles, o homem deve contentar-se com o ser e o bem que possui, pois está limitado, essencial e temporalmente, pela sua substância mortal e corruptível.
Como determinar o bem?
O conceito de realidade, assim, condiciona a formulação da ética aristotélica, dominada por um relativismo radical. Ele considera que toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade. O problema é determinar em que consiste esse bem. Para tal, algumas condições deveriam ser preenchidas:
	1.O bem deve ser perfeito e suficiente por si mesmo, para que o homem que o possua seja feliz;
2. O bem deve buscar-se por si mesmo e não com o fim de conseguir outro bem qualquer;
3. O bem deve ser uma coisa presente;
4. O bem deve consistir de atividade mais elevada que o homem possa consagrar-se;
5. O bem deve tornar o homem bom;
6. A posse do bem deve ser fixa, estável e contínua, encontrada ao longo de uma vida completa.
	
Começando a terminar...
	
	O homem ético seria aquele que conseguisse viver conforme manda a razão, alcançando o ideal de uma vida virtuosa. No primeiro livro da Ética a Nicômaco, com você viu na Aula 1, Aristóteles apenas esboça seu ideal de perfeição humana; no décimo livro, no entanto, demonstra que o bem próprio do homem consiste na realização de uma vida teórica ou contemplativa, na qual se manifeste a atividade da maior potência humana que é a inteligência.
 
Para Aristóteles, os prazeres sensíveis, assim como as riquezas, seriam excluídos da noção de bem.
Aula 8- Ética Cristã
Objetivos:
		Reconhecer a noção medieval de teonomia ética, apresentando as características filosóficas que marcam a ética cristã.
	
	
O auge do neoplatonismo e a aparição do cristianismo, transformando-se no século IV na religião oficial de Roma, trouxeram novos sentidos para as doutrinas éticas gregas. Com a decadência do mundo antigo, surge um regime de servidão na sociedade medieval, organizado sob dependências e vassalagens. A Idade Média designa o período de mais ou menos mil anos, compreendido entre o final da Idade antiga (com destaque para o ano de 476, século V), em que o Império Romano do Ocidente encontra seu final oficial, e o Renascimento, datando dos séculos XIII e XIV. No vídeo, você vê um passeio virtual por um típico castelo medieval.
Revendo a Idade Média
O período medieval caracteriza-se por uma profunda fragmentação econômica e política. Vamos conhecer um pouco mais sobre esse período? Então continue nesta tela o passeio:
Tal fragmentação se deve ao surgimento de duas classes que marcam o regime feudal.
Nesse quadro, a religião garante uma certa unidade social, pois a política depende da Igreja – instituição que defende a religião – exercendo um forte poder espiritual e centralizando integralmente a vida intelectual.
Os senhores feudais, donos absolutos de terras ou feudos
Os camponeses e servos, os quais eram vendidos e comprados com as terras às quais pertenciam e que não podiam abandonar.
Sob essas circunstâncias, “a moral concreta, efetiva, e a ética – como doutrina moral – estão impregnadas (...) de um conteúdo religioso que encontramos em todas as manifestações da vida medieval” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:2002,275-276).
Análise comparativa entre os dois pensamentos
Ética cristã
	
	Em linhas gerais, a ética cristã não foi necessariamente de índole ascética, ainda que parta de um conjunto de verdades reveladas a respeito de Deus, das relações do homem com seu criador e do modo de vida prático que os homensdevem seguir para obter a salvação no outro mundo.
A Ascética consiste no esforço metódico e continuado, com a ajuda da graça, para favorecer o pleno desenvolvimento da vida espiritual, aplicando meios (oração, penitência, retiro, exame de consciência etc.) e superando obstáculos.
	Deus, gerador do mundo e dos homens, é considerado como um ser bom, onisciente e todo-poderoso. O ser humano pertenceria a Deus, concentrando na esfera divina seu fim último e tomando-a como bem mais alto e valor supremo. Deus exige obediência e sujeição a seus mandamentos, que, no mundo humano, terreno, tomam a forma de imperativos supremos.
Entendendo a Ética Cristã
O cristianismo acredita na elevação do homem do mundo terrestre, perecível e imperfeito à assunção de uma ordem sobrenatural, a partir da qual se concretiza uma vida plena, feliz e verdadeira, sem as desigualdades e injustiças terrenas. Sob o caminho dessa concretização, propondo, assim, a solução de graves problemas do mundo.
“O cristianismo introduz uma ideia de enorme riqueza moral: a da igualdade entre os homens. Todos os homens, sem distinção - escravos e livres, cultos e ignorantes -, são iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:1972,277).
A mensagem cristã de igualdade é lançada num mundo em que os homens conhecem as maiores desigualdades: a divisão entre escravos e homens livres, ou entre servos e senhores feudais. Como ressalta Vázquez (1972,277), a ética cristã medieval, no entanto, “não condena esta desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la. A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e sanciona a desigualdade social”.   
Começando a terminar
Podemos afirmar que a formulação conceitual da ética cristã herda conceitos platônicos e aristotélicos, submetendo-os a um processo de cristianização, que transparece nas éticas de Santo Agostinho (354-430) e São Tomás de Aquino (1226-1274).
	
	Para Santo Agostinho, a ascensão da alma que em Platão se eleva do mundo sensível ao inteligível, transforma-se na elevação até Deus, cujo fim é o êxtase místico ou felicidade (ainda que a experiência, a experiência pessoal, a interioridade, a vontade e o amor sejam valorizadas na filosofia agostiniana).
	Para São Tomás de Aquino, retomando Aristóteles, destacam-se a contemplação e o conhecimento que daí decorre; ele se afasta da divisão das virtudes e da ética como doutrina dos costumes, no entanto, quando afirma que o fim supremo do conhecimento é Deus, entendido como bem objetivo, cuja posse gera felicidade, bem subjetivo.
	
	Aula 9- Ética Moderna e Contemporânea
Objetivos:
Reconhecer as principais escolas que caracterizam a ética moderna, ressaltando-se a dimensão humana, o papel da ação política, a autonomia, as vantagens que os efeitos de ações podem trazer e o intuicionismo no plano moral;
Identificar as duas grandes reflexões que caracterizam os problemas éticos contemporâneos: a essência, origem, finalidade da ética e a linguagem ética.
A história da ética ganha um novo rumo, entre os séculos XIV e XVI (Renascimento), a partir da valorização do homem nas ciências (as quais se prestam às necessidades humanas) e nas artes (representações com características humanas). Retomam-se algumas tendências éticas antigas no início da Renascença, o estoicismo, em particular, demarcando-se, em seguida, o início do que se conhece como ética moderna (séculos XVI-XIX). No vídeo que abre esta aula, você vê cenas da reprodução de um festival típico do período renascentista, período este que marcou a redescoberta e a revalorização das referências culturais da antiguidade clássica, e que norteou mudanças em direção a um ideal humanista e naturalista. O festival em questão foi realizado em 2007, na cidade de Kansas, USA, e buscou recriar o cenário vivido pelo homem naquele período histórico.
Esse período (o da ética moderna) é marcado pela criação de uma nova sociedade que substitui a ordem feudal da Idade Média, sob uma série de mudanças. 
No plano econômico, incremento de forças produtivas em relação ao desenvolvimento científico, constituindo a ciência moderna, mediante uma perspectiva científica mais prática (tendo, como maior defensor, Francis Bacon, 1561-1626), e pela importância atribuída à técnica e experiência, inaugurando o método das ciências naturais, com Galileu-Galilei (1564-1642).
No plano social, aparecimento de uma nova classe social – a burguesia – inicialmente na França (com a Revolução Francesa, 1789), desenvolvendo-se, no século seguinte, principalmente na Inglaterra.
Implantou-se, assim, um sistema em que o trabalhador, ao trocar sua força de trabalho por um salário, não é dono dos meios de produção.
O meios de produção passam ao domínio da classe burguesa que, ao vender as mercadorias produzidas pelos trabalhadores, atribui um sobrevalor ao produzido, obtendo uma mais-valia ou lucro: o capitalismo.
No plano espiritual, perda do papel de guia atribuído à Igreja Católica, pois a religião deixa de ser a forma ideológica dominante. Separam-se, em linhas gerais: razão/fé, natureza e homem/Deus, Estado/Igreja.
-Entendendo o cenário
Dominando a maior parte dos pensadores modernos, a questão da origem das ideias morais disponta nos séculos XVI-XVII.
 
Teoria moral de Kant
	
	No século XVIII, marcado pelo movimento intelectual denominado Iluminismo, exalta-se a capacidade que tem o homem de conhecer e agir por uma luz própria da razão. São criticadas posições éticas que conduzem à heteronomia, debatendo-se, antes, a liberdade da vontade em relação ao determinismo da natureza, ou do vínculo entre leis morais e naturais.
Para Kant, o único bem em si mesmo é a boa vontade, aquela que age por puro respeito ao dever, visando à sujeição do homem à lei moral – autonomia humano-moral. O dever torna-se, nesse quadro, incondicionado ou absoluto, abrangendo algo que se estende a todos os seres humanos em quaisquer tempos ou condições: forma universal que não tem um conteúdo concreto – formalismo ético kantiano.
-Deontologia da norma
Como devemos agir, que tipos de atos somos moralmente obrigados a realizar, por sua vez, conduzem à elaboração de uma teoria da obrigação moral em Kant, denominada deontologia da norma (do grego déon, dever): aquela que não faz a obrigatoriedade de uma ação depender exclusivamente das consequências dos atos ou das normas.
A tendência de derivar a obrigatoriedade de uma ação unicamente de suas consequências marca, nos séculos XVIII e XIX, uma ética utilitarista, abrangendo dois sentidos (cf. formulação original de Jeremy Bentham e John Stuart Mill):
Numa outra vertente do século XIX, encontramos o intuicionismo ético, desenvolvido principalmente na Inglaterra, cujos representantes principais foram George Edward Moore (1873-1958), William David Ross (1877-1971), Harold Arthur Prichard (1871-1947) e Henry Sidgwick (1838-1900).
Para esses autores, a bondade e a obrigatoriedade (avaliação de que algo constitui um dever) não são propriedades apreendidas pela observação empírica, dos fatos, nem tampouco mediante um processo racional de análise e demonstração. O bom seria indefinível (cf. Moore), impondo-se os deveres sem necessidade de prova, por serem evidentes e captados de uma maneira direta e imediata: através da intuição (Prichard, Ross). Segundo Sidgwick, a intuição abrangeria a coincidência do dever individual com o dever dos seres humanos nas mesmas circunstâncias.
Nietzsche e Brentano
	
	Duas últimas importantes contribuições para o domínio ético são encontradas ainda no século XIX: Friedrich Nietzsche (1844-1900) e de Franz Brentano (1838-1917). O primeiro, analisando os valores da cultura européia, os quais vê encarnados no cristianismo, socialismo e igualitarismo democrático, sustenta que são formas de uma moral a ser superada mediante a formulação de um ponto vista além do bem e do mal, pois são manifestações de uma vitalidadedecadente, ou ascetismo.
A essa degradação valorativa, ele opõe a vontade de viver ou vontade de potência, girando em torno da dimensão de forças e instintos como criadoras de valores situados fora da moral tradicional.
	
	Já para Brentano, seria possível estabelecerem-se leis universais de caráter axiológico (axiologia – filosofia dos valores), na medida em que há um subjetivismo ético que se relaciona a uma teoria objetiva do valor. Este é enunciado sob atos de preferência (valorização) ou repugnância (desvalorização); assim, a experiência que algo seja bom inclui um aspecto subjetivo (para alguém) e a intenção que leva um homem a preferir algo.
Ética contemporânea
Os problemas éticos contemporâneos podem ser divididos em duas grandes reflexões: (1) sobre a essência/origem/finalidade da ética; (2) sua linguagem.
Aula 10- Revisão da Disciplina
Objetivos:
Reconhecer as principais escolas que caracterizam a ética moderna, ressaltando-se a dimensão humana, o papel da ação política, a autonomia, as vantagens que os efeitos de ações podem trazer e o intuicionismo no plano moral;
 
2. Identificar as duas grandes reflexões que caracterizam os problemas éticos contemporâneos: a essência, origem, finalidade da ética e a linguagem ética.
 Estamos iniciando nosso último encontro. Neste você verá, de forma resumida, os principais pontos das aulas 6 a 8, que servirá para você se preparar melhor para a segunda avaliação. Lembre-se de rever o conteúdo da aula 9, e principalmente de ler o artigo sobre Ética Moderna e Contemporânea.
Breve síntese
Analisamos três posições filosóficas ao tratarmos da relação entre liberdade e responsabilidade moral, pois somente é responsável quem é livre (ou seja, possui autonomia) para decidir e agir.
		Posição Filosófica
		Noção Conceitual
		Comentário
	
	
Determinismo
	Para o determinismo tudo é causado, não existindo liberdade humana de escolha e, portanto, não haveria sentido em se falar da responsabilidade moral dos homens diante de suas ações, pois eles seriam incapazes de agir de maneira diferente daquela a que são forçados.
	Caso esta perspectiva fosse admitida como verdadeira, admitiríamos que o homem é um mero efeito ou joguete de circunstâncias que determinam seu comportamento.
Esqueceríamos, equivocadamente, a situação do ser humano como alguém que compreende a si mesmo, entendendo o mundo que o cerca e podendo transformá-lo de um modo consciente.
	
Liberdade de Escolha
		A liberdade da vontade foge a qualquer determinação causal; como argumentam os partidários desta posição, uma esfera do comportamento humano, especialmente a que diz respeito à moral, estaria livre da “determinação dos fatores causais”
	
		Mas, seguindo tal perspectiva, esqueceríamos que a decisão e ação de um sujeito alteram e modificam relações causais, obedecendo, também, a determinações internas e externas.
	
	
Determinismo-Liberdade
		Supera as lacunas colocadas tanto pelo determinismo como pela liberdade pura de escolha.
	
	Compreende-se que, mesmo determinado – pelas paixões, como pretende Espinosa, ou pelo movimento dialético de um Espírito objetivado, conforme demonstra Hegel – o ser humano encontra o caminho para ser livre.     
Como determinar o bem?
O conceito de realidade, assim, condiciona a formulação da ética aristotélica, dominada por um relativismo radical. Ele considera que toda ação humana está orientada para a realização de algum bem, ao qual estão unidos o prazer e a felicidade. O problema é determinar em que consiste esse bem. Para tal, algumas condições deveriam ser preenchidas:
	1. O bem deve ser perfeito e suficiente por si mesmo, para que o homem que o possua seja feliz;
2. O bem deve buscar-se por si mesmo e não com o fim de conseguir outro bem qualquer;
3. O bem deve ser uma coisa presente;
4. O bem deve consistir de atividade mais elevada que o homem possa consagrar-se;
5. O bem deve tornar o homem bom;
6. A posse do bem deve ser fixa, estável e contínua, encontrada ao longo de uma vida completa.
Ética Cristã
Vázquez afirma (1972,276), a esse respeito, que as virtudes fundamentais “regulam as relações entre os homens e são, por isto, virtudes em escala humana, as teologais regulam as relações entre o homem e Deus e são, por conseguinte, virtudes em escala divina”.
O cristianismo acredita na elevação do homem do mundo terrestre, perecível e imperfeito à assunção de uma ordem sobrenatural, a partir da qual se concretiza uma vida plena, feliz e verdadeira, sem as desigualdades e injustiças terrenas. Sob o caminho dessa concretização, propondo, assim, a solução de graves problemas do mundo.
“o cristianismo introduz uma idéia de enorme riqueza moral: a da igualdade entre os homens. Todos os homens, sem distinção - escravos e livres, cultos e ignorantes -, são iguais diante de Deus e são chamados a alcançar a perfeição e a justiça num mundo sobrenatural” (SÁNCHEZ VÁZQUEZ:1972,277).
A mensagem cristã de igualdade é lançada num mundo em que os homens conhecem as maiores desigualdades: a divisão entre escravos e homens livres, ou entre servos e senhores feudais. Como ressalta Vázquez (1972,277), a ética cristã medieval, no entanto, “não condena esta desigualdade social e chega, inclusive, a justificá-la. A igualdade e a justiça são transferidas para um mundo ideal, enquanto aqui se mantém e sanciona a desigualdade social”.

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