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PSICOLOGIA JURÍDICA – 1ª UNIDADE HISTÓRIA DA PSICOLOGIA JURÍDICA No início do século XIX, na França, os médicos foram chamados pelos juízes da época para desvendarem o ‘‘enigma’’ que certos crimes apresentavam. Eram ações criminosas sem razão aparente e que, também “não partiam de indivíduos que se encaixavam nos quadros clássicos da loucura” (CARRARA, 1998, p.70). Segundo Carrara (1998), estes crimes que clamaram pelas considerações médicas não eram motivados por lucros financeiros ou paixões, pareciam possuir uma outra estrutura, pois diziam respeito à subversão escandalosa de valores tão básicos que se imagina que estejam enraizados na própria “natureza humana”, como o amor filial, o amor materno, ou a piedade frente à dor e ao sofrimento humano. Conforme Castel (1978), estas foram as primeiras incursões dos alienistas franceses para fora dos asilos de alienados. De acordo com Bonger (1943), a Psicologia só viria aparecer no cenário das ciências que auxiliam a justiça em 1868, com a publicação do livro Psychologie Naturelle, do médico francês Prosper Despine, que apresenta estudos de casos dos grandes criminosos (somente delinqüentes graves) daquela época. Concluiu ao final que o delinqüente, com exceção de poucos casos, não apresenta enfermidade física e nem mental. Segundo ele, as anomalias apresentadas pelos delinqüentes situam-se em suas tendências e seu comportamento moral e não afetam sua capacidade intelectual (que poderá ser inferior em alguns casos e enormemente superior em outros). Em 1875, a criminologia surge no cenário das ciências humanas como o saber que viria dar conta do estudo da relação entre o crime e o criminoso, tendo como campo de pesquisa “as causas (fatores determinantes) da criminalidade, bem como a personalidade e a conduta do delinqüente e a maneira de ressocializá- lo” (OLIVEIRA, 1992, p. 31). A criminologia: Em sua tentativa para chegar ao diagnóstico etiológico do crime, e, assim, compreender e interpretar as causas da criminalidade, os mecanismos do crime e os móveis do ato criminal, conclui que tudo se resumia em um problema especial de conduta, que é a expressão imediata e direta da personalidade. Assim, antes do crime, é o criminoso o ponto fundamental da Criminologia contemporânea (MACEDO, 1977, P. 16). Para se compreender o delinqüente, mister se faz que se conheçam as forças psicológicas que o levaram ao crime. Esta compreensão só se pode obter examinando-se os aspectos psicológicopsiquiátricos do criminoso e de seu crime. O crime passa a ser visto como um problema que não é apenas “do criminoso, mas também, do Juiz, do advogado, do psiquiatra, do psicólogo e do sociólogo” (DOURADO, 1965, p.7) Na opinião de Bonger (1943), encontramos entre os delinqüentes todos os tipos humanos possíveis, não existe uma tipologia psicológica específica do delinqüente. Para ele, o que diferencia o delinqüente das demais pessoas é uma deficiência moral associada a uma exagerada tendência materialista. Bonger (1943), ao descrever o surgimento da psicologia criminal, cita alguns autores anteriores a Despine que, segundo ele, fazem parte da pré-história da psicologia criminal, como Pitaval, na França, em 1734; Richer, na França, em 1772; Schaumann, na Alemanha, em 1792; Feuerbach, na Alemanha, em 1808; Lauvergne, na França, em 1841; Häring e Hitizig, na Alemanha, em 1842 e Avé-Lallemant, na Alemanha, em 1858. Na sua opinião, apesar de apresentarem uma preocupação em descrever aspectos psicológicos dos delitos e dos delinqüentes, estes autores pecaram por não haver um rigor metodológico na escolha dos casos e nem uma preocupação em construir uma teoria sobre os dados encontrados. Lombroso, psiquiatra, pai da criminologia e criador da antropologia criminal (ciência que estuda a relação entre as características físicas do indivíduo e a criminalidade), também se ocupou da Psicologia do delinqüente. Apesar de superficialmente, ele cita um ou dois exemplos e discute os mais diversos temas, tais como a gíria dos delinqüentes, tatuagem e religiosidade. A partir do final do século XIX, a Psicologia Criminal começou a ser dona do seu próprio destino. Suas investigações realizaramse com mais freqüência e como um maior rigor metodológico. Mira Y Lopez (2008), numa tentativa de compreender como as pessoas reagem em situações de conflito, enumerou nove fatores que, segundo ele, seriam responsáveis pela reação de uma pessoa em um dado momento, classificando-os em herdados, adquiridos e mistos. De acordo com Mira Y Lopez (2008), os fatores herdados que influenciam o modo de reação da pessoa, são a constituição corporal, o temperamento e a inteligência. Segundo ele, quanto à constituição corporal, a reação de um homem corpulento difere da de um homem magro e baixo, assim como, uma crítica vinda de um jovem adolescente não será recebida da mesma forma se for feita por um idoso. O fator morfológico origina na pessoa um obscuro sentimento de superioridade ou inferioridade física em frente às situações e influencia a determinação do seu modo de reagir. Em outras palavras, a constituição corporal imprime um selo característico na pessoa e condiciona em grande parte o seu jeito de ser. Se por constituição corporal entendemos o conjunto de propriedades morfológicas e bioquímicas transmitidas ao indivíduo por herança, podemos definir o temperamento como a resultante funcional direta da constituição corporal, sendo responsável pela nossa tendência mais primitiva de reação em frente dos estímulos ambientais. E com relação à inteligência, Mira Y Lopez (2008) defende a idéia de que ela nos fornece subsídios para uma adaptação melhor à realidade e uma melhor compreensão dela. Portanto, para uma pessoa pouco dotada do ponto de vista intelectual, os recursos de adaptação a uma situação acabarão mais rápido do que para outra um pouco mais inteligente. Pontes (1995, p. 34), seguindo esta mesma linha de pensamento, define a inteligência como sendo uma “capacidade para adquirir e acumular experiências, visando a resolver os problemas que a vida impõe”. Pontes (1997) apresenta uma importante correlação entre baixo nível intelectual e “insight prejudicado”. O Insight é a capacidade da pessoa para perceber, assimilar, compreender e elaborar a realidade e os acontecimentos em sua volta. É o modo como refletimos sobre as coisas que ocorrem no nosso dia-a-dia. A pessoa cujo insight é prejudicado apresenta uma dificuldade de compreensão e de reflexão ante a realidade, sendo difícil assimilar noções de limites, de certo e de errado, de Direito e de deveres e de bem e de mal. Segundo Pontes (1997, p.74), o modo como o insight se origina é uma incógnita. Contudo, baseado em sua experiência clínica, ele defende a idéia de que o insight “é estruturado pela integração da biologia, Psicologia e sociedade. Entretanto, nas grandes alterações deste, a biologia prevalece”. Quando o insight é bastante prejudicado ou ausente, a pessoa é considerada psicótica. E, quando o insight se encontra prejudicado, de tal forma que não há perda total do contato com a realidade, Pontes denomina de falsa normalidade (são as pessoas portadoras de transtornos de personalidade). De acordo com as idéias de Pontes (1997), as pessoas que possuem um baixo nível intelectual em concomitância com um insight prejudicado tendem a delirar nos atos e não nas idéias, apresentando sérios transtornos de conduta; podendo vir a ter comportamentos auto-destrutivos, impulsivos e agressivos, cujas conseqüências vão do suicídio ao homicídio. Em 1887, Marro, como foi comentado anteriormente, havia apontado como uma das características de personalidade do delinqüente, um defeitoem sua capacidade de reflexão. Segundo Mira Y Lopez Mira Y Lopez (2008), é comum dizermos que o caráter é o fator mais importante na descrição da personalidade de uma pessoa. De fato, quando enumeramos as características pessoais de um sujeito, dizemos que o “caracterizamos”, ou seja, que damos conta do seu caráter. Para ele, o caráter é um fator importantíssimo na reação pessoal porque ele costuma definir e determinar a conduta. O caráter constitui o término das transações entre os fatores endógenos e os exógenos integrantes da personalidade e representa o resultado desta luta. Na sua opinião, os fatores endógenos impulsionam o indivíduo para uma conduta puramente animal, objetivando a satisfação de seus anseios. Já os exógenos, ao contrário, conduzem o indivíduo à completa submissão ao meio externo. Essa clássica disputa entre o endógeno e o exógeno tem como produto final o tipo de conduta externa que a pessoa apresenta, e isto representaria o seu caráter. Na visão de Mira Y Lopez (2008), os fatores adquiridos que influenciam a forma como a pessoa reage são a prévia experiência de situações análogas, a constelação, a situação externa atual, o tipo médio de reação social (coletiva) e o modo de percepção da situação. A experiência prévia de situações análogas seria o primeiro fator a considerar puramente exógeno, isto é, adquirido em vida. Sem dúvida alguma, o exemplo vivido, a experiência anterior influenciam de modo decisivo a determinação da reação atual. Ele denomina de constelação a influência que a vivência ou a experiência imediatamente antecedente exerce na determinação da resposta à situação atual. É evidente que uma pessoa que sai de um concerto de música ou de um sermão religioso não está com igual disposição para agredir do que quando acaba de ver uma luta de boxe ou uma partida de futebol. A situação externa atual representa a causa, o estímulo desencadeador da reação pessoal e o tipo médio de reação social diz respeito ao modo como a maioria das pessoas reagiriam a uma dada situação. Para Mira Y Lopez (2008), o comportamento individual reflete a toda hora aspectos da conduta social, ou seja, há em todo momento uma influência recíproca entre o sujeito e seu meio social. De acordo com Mira Y Lopez (2008), o modo de percepção da situação seria o fator mais importante de todos na determinação da reação pessoal. Por subjetividade o modo como o ser humano se relaciona com o mundo e consigo mesmo. Neste sentido, a subjetividade seria um espaço psíquico onde as experiências humanas podem encontrar um lugar de expressão, um registro. Contudo, em se tratando de ciências humanas, as leis não são universais. Um único fenômeno psíquico remete-nos a diversas leituras e modos de compreensão. Estas diversas formas de compreender o fenômeno podem até se complementar ou ser totalmente antagônicas, de modo que a experiência da realidade de um fenômeno pertence unicamente ao domínio de quem a está experienciando e o que o outro pode fazer é tentar compreender. Concordamos plenamente com a idéia de que não existe um perfil criminoso e sim uma série de variáveis, circunstâncias e determinados contextos que levam estas pessoas ao cometimento de um delito. E este deve ser um dos pontos centrais de investigação e atuação da Psicologia Jurídica. PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL A história da atuação de psicólogos brasileiros na área da Psicologia Jurídica tem seu início no reconhecimento da profissão, na década de 1960. Tal inserção deu-se de forma gradual e lenta, muitas vezes de maneira informal, por meio de trabalhos voluntários. Os primeiros trabalhos ocorreram na área criminal, enfocando estudos acerca de adultos criminosos e adolescentes infratores da lei (Rovinski, 2002). O trabalho do psicólogo junto ao sistema penitenciário existe, ainda que não oficialmente, em alguns estados brasileiros há pelo menos 40 anos. Contudo, foi a partir da promulgação da Lei de Execução Penal (Lei Federal nº 7.210/84) Brasil (1984), que o psicólogo passou a ser reconhecido legalmente pela instituição penitenciária (Fernandes, 1998). Os pacientes passaram a ser classificados em duas grandes categorias: de maior ou de menor severidade, ficando o psicodiagnóstico a serviço do último grupo, inicialmente. Desta forma, os pacientes menos severos eram encaminhados aos psicólogos, para que esses profissionais buscassem uma compreensão mais descritiva de sua personalidade. Os pacientes de maior severidade, com possibilidade de internação, eram encaminhados aos psiquiatras (Rovinski, 1998). Balu (1984) demonstrou, a partir de estudos comparativos e representativos, que os diagnósticos de Psicologia Forense podiam ser melhores que os dos psiquiatras (Souza, 1998). De acordo com Brito (2005), os psicodiagnósticos eram vistos como instrumentos que forneciam dados matematicamente comprováveis para a orientação dos operadores do Direito. Inicialmente, a Psicologia era identificada como uma prática voltada para a realização de exames e avaliações, buscando identificações por meio de diagnósticos. Essa época, marcada pela inauguração do uso dos testes psicológicos, fez com que o psicólogo fosse visto como um testólogo, como na verdade o foi na primeira metade do século XX (Gromth-Marnat, 1999). Esse histórico inicial reforça a aproximação da Psicologia e do Direito através da área criminal e a importância dada à avaliação psicológica. Porém, não era apenas no campo do Direito Penal que existia a demanda pelo trabalho dos psicólogos. Outro campo em ascensão até os dias atuais é a participação do psicó- logo nos processos de Direito Civil. No estado de São Paulo, o psicólogo fez sua entrada informal no Tribunal 485PSICOLOGIA JURÍDICA NO BRASIL Estudos de Psicologia I Campinas I 26(4) I 483-491 I outubro - dezembro 2009 de Justiça por meio de trabalhos voluntários com famílias carentes em 1979. A entrada oficial se deu em 1985, quando ocorreu o primeiro concurso público para admissão de psicólogos dentro de seus quadros (Shine, 1998). A aproximação da Psicologia e do Direito estava mais atrelado a questões envolvendo crime e também os direitos da criança e do adolescente. Contudo, nos últimos dez anos a demanda pelo trabalho do psicólogo em áreas como Direito da Família e Direito do Trabalho vem tomando força. TEORIAS DA PERSONALIDADE PERSONALIDADE Conceito: A psicologia evita juízo de valor. A personalidade seria um conjunto de características que diferenciam os indivíduos. Estes atributos seriam permanentes e diz respeito à constituição, temperamento, inteligência, caráter, um jeito específico de se comportar. Para a teoria, o conceito de personalidade, significa a organização dinâmica, isto é, em constante mudança, dos seguintes aspectos: habilidades, atitudes, crenças, emoções, desejos, e ao modo constante e particular do indivíduo perceber, pensar, sentir e agir. Refere-se também uma "personalidade básica", que seriam as atitudes, tendências, valores e sentimentos dos membros de uma sociedade ou comunidade, o que existe em comum em todas as personalidades, independente das diferenças entre os indivíduos e dos fatores culturais, códigos e regras sociais ou consenso de comportamento. A personalidade pressupõe a possibilidade de um indivíduo se diferenciar, ser original e ter particularidades. É estruturada tendo como base as diferentes condutas e regras ou códigos definidos e aceitos como disposições dos indivíduos (organizados de maneira global e dando uma consistência e unidade estrutural). Os conteúdos desta estruturação são relacionados com as experiências e vivências concretas das pessoas no meio onde vivem seus aspectos culturais,educacionais, religiosos, hábitos, crenças e heranças fisiológicas, raça, cor, etc. Através desta Idéia pode-se predizer o que a pessoa fará em determinada situação, pode-se ter Idéia de como ela reagiria. Podemos interpretar que o indivíduo formado fisiologicamente é repetitivo, isto é, responde mais ou menos da mesma maneira e reage da mesma forma aos mesmos estímulos, transparecendo a sua personalidade. Os traços de personalidade são os referidos as características duradouras, consolidadas e mais perenes da personalidade da pessoa. TEORIA DOS HUMORES: “O corpo do homem contém sangue, fleuma, bile amarela e negra — esta é a natureza do corpo, através da qual adoece e tem saúde. Tem saúde, precisamente, quando estes humores são harmônicos em proporção, em propriedade e em quantidade, e sobretudo quando são misturados. O homem adoece quando há falta ou excesso de um desses humores, ou quando ele se separa no corpo e não se une aos demais. ” Colérico: Vontade forte, Ambição, Irascível, Fisicamente bem definidos, Robustos, Brigão, Vingativo, Inoportuno, Arrogante, Ousado, Imprudente, Engenhoso, Sedutor, Tirano, Optimista, Inesgotável, Agressivo, Afirmativo, Gosto por comandar, Impaciente, Odeia detalhes, Exige demasiado e dá demasiado, Extremista, Gosto por reconhecimento público, Muito inquieto, Excessivo, Brincalhão, Mordaz, Nervoso e Astuto. Sanguíneo: Sociável, Amigável, Não se mantêm no mesmo sítio por muito tempo, Fisicamente bem proporcionados, Alegre, Generoso, Dedicado, Afável, Pacificadores, Honesto, Modesto, Religioso, Superficial, Distraído, Optimista, Fiel, Liberal, Cortês, Misericordioso e Confiável. Melancólico: Detalhado, Ponderado, Lógico, Tendências depressivas, Fisicamente magro, Estatura média, Prudente, Lentos a resolver assuntos, Fraudulento, Teimoso, Invejoso, Duvidoso, Triste, Temeroso, Insubordinado, Inexorável, Ambicioso, Taciturno, Anti-social, Analítico, Pessimista, Conhecedor, Estudioso, Desconfiado e Solitário. Fleumático: Emoção controlada, mas de sentimentos fortes, Fisicamente cheios e baixos, Cobardes, Indolentes, Dedicado, Inconstante, Linguarudo, Maçador, Preguiçoso, Contemplativo, Reservado, Tímido, Resignado, Lento, Profundo estudioso, Caseiro, Hesitante, Invejoso, Mesquinho, Egocêntricos, Envergonhados, Ganancioso e Sóbrios. “A corrupção do cérebro é devida à fleuma e à bile. Conhecerás as duas causas desta maneira: Os que enlouquecem devido à fleuma são pacíficos e não gritam, nem bramem. Mas os que enlouquecem devido à bile costumam berrar, e tornam-se furiosos e inquietos, sempre fazendo algo inoportuno.” BEHAVORISMO Conceito: Watson, postulando o comportamento como objeto da Psicologia, dava a esta ciência a consistência que os psicólogos da época vinham buscando — um objeto observável, mensurável, cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes condições e sujeitos. Certos estímulos levam o organismo a dar determinadas respostas e isso ocorre porque os organismos se ajustam aos seus ambientes por meio de equipamentos hereditários e pela formação de hábitos. Watson buscava a construção de uma Psicologia sem alma e sem mente, livre de conceitos mentalistas e de métodos subjetivos, e que tivesse a capacidade de prever e controlar. Hoje, não se entende comportamento como uma ação isolada de um sujeito, mas, sim, como uma interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu “fazer” acontece. Portanto, o Behaviorismo dedica-se ao estudo das interações entre o indivíduo e o ambiente, entre as ações do indivíduo (suas respostas) e o ambiente (as estimulações). O homem começa a ser estudado a partir de sua interação com o ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessas interações. ESTÁGIOS DO BEHAVIORISMO – OBJETO DA PSICOLOGIA PARA O BEHAVORISMO: PRIMEIRO ESTÁGIO DO BEHAVIORISMO: A interpretação relacional mais comum do Behaviorismo Radical se dá entre eventos comportamentais e eventos ambientais, ou seja, entre respostas e estímulos (Tourinho, 2006). Diz-se, nesse sentido, que não há estímulo que não esteja relacionado com uma resposta, nem resposta que não esteja em relação funcional com um estímulo. Isso já coloca uma questão importante. Se analisarmos essa afirmação do ponto de vista ontológico, estaremos admitindo que não é possível falar de estímulo fora” de uma relação comportamental. Esse posicionamento entra em conflito direto com uma interpretação realista, que defende a existência de um mundo físico (estímulos) independente de uma relação comportamental (Tonneau, 2005). Em outras palavras, enquanto o realismo lida com estímulos que independem do observador, o relacionismo defende que não é possível falar de estímulo fora de uma relação comportamental. Mas há um nível de análise relacional ainda mais fundamental que pode ser empreendido no Behaviorismo Radical. Trata-se da relação entre organismo e ambiente. Nesse nível, admite- se que não há organismo que não esteja em relação com o ambiente, nem ambiente do qual não participe um organismo. Isso afasta ainda mais a possibilidade de defesa do realismo, que prioriza a existência do ambiente sobre o organismo. Não se trata, tampouco, de priorizar a existência do organismo. Em outras palavras, uma visão-de-mundo relacional impede tanto a defesa do realismo, quanto do solipsismo. Assim, não existe ambiente “vazio”, nem organismo solitário. Além disso, uma visão-de-mundo relacional aplicada à relação entre organismo e ambiente contrapõe-se diretamente a uma interpretação associacionista. Não há um momento inicial em que temos organismo de um lado e ambiente de outro, e um segundo momento em que eles são colocados em relação por algum princípio de associação. Desde o início estamos no interior da relação organismo-ambiente. SEGUNDO ESTÁGIO DO BEHAVIORISMO COMPORTAMENTO RESPONDENTE: O comportamento reflexo ou respondente é o que usualmente chamamos de “não-voluntário” e inclui as respostas que são eliciadas (“produzidas”) por estímulos antecedentes do ambiente. Esses comportamentos reflexos ou respondentes são interações estímulo-resposta (ambiente-sujeito) incondicionadas, nas quais certos eventos ambientais confiavelmente eliciam certas respostas do organismo que independem de “aprendizagem”. Mas interações desse tipo também podem ser provocadas por estímulos que, originalmente, não eliciavam respostas em determinado organismo. Quando tais estímulos são temporalmente pareados com estímulos eliciadores podem, em certas condições, eliciar respostas semelhantes às destes. A essas novas interações chamamos também de reflexos, que agora são condicionados devido a uma história de pareamento, o qual levou o organismo a responder a estímulos que antes não respondia. No início dos anos 30, na Universidade de Harvard (Estados Unidos), Skinner começou o estudo do comportamento justamente pelo comportamento respondente, que se tornara a unidade básica de análise, ou seja, o fundamento para a descrição das interações indivíduo- -ambiente. O desenvolvimento de seu trabalho levou-o a teorizar sobre outro tipo de relação do indivíduo com seu ambiente, a qual viria a ser nova unidade de análise de sua ciência: o comportamento operante. Esse tipo de comportamento caracteriza a maioria de nossas interações com o ambiente. Para Skinner, os trabalhos internos da mente e de corpo estavam inacessíveis à observação direta e, para se compreender o comportamento, bastava entender o ambiente em que uma resposta ocorria a própria resposta e a consequência da resposta. COMPORTAMENTO OPERANTE: Segunda Giusta (1985), o condicionamento operante surgiu com o objetivo de se explicaraprendizagens mais complexas. O condicionamento operante transferiu a ênfase do estímulo antecedente (como no caso do condicionamento clássico) para o estímulo consequente como recurso para se garantir a manutenção ou extinção de certo comportamento. Neste caso de comportamento operante, o que propicia a aprendizagem dos comportamentos é a ação do organismo sobre o meio e o efeito dela resultante — a satisfação de alguma necessidade, ou seja, a aprendizagem está na relação entre uma ação e seu efeito. Este comportamento operante pode ser representado da seguinte maneira: R —► S, em que R é a resposta (pressionar a barra) e S (do O ratinho, por acaso, pressiona a barra e recebe a gota d’água. Inicia-se o processo de aprendizagem. inglês stimuli) o estímulo reforçador (a água), que tanto interessa ao organismo; a flecha significa “levar a”. Esse estímulo reforçador é chamado de reforço. O termo “estímulo” foi mantido da relação R-S do comportamento respondente para designar-lhe a responsabilidade pela ação, apesar de ela ocorrer após a manifestação do comportamento. O comportamento operante refere-se à interação sujeito-ambiente. Nessa interação, chama-se de relação fundamental à relação entre a ação do indivíduo (a emissão da resposta) e as conseqüências. É considerada fundamental porque o organismo se comporta (emitindo esta ou [pg. 49] aquela resposta), sua ação produz uma alteração ambiental (uma conseqüência) que, por sua vez, retroage sobre o sujeito, alterando a probabilidade futura de ocorrência. Assim, agimos ou operamos sobre o mundo em função das conseqüências criadas pela nossa ação. As conseqüências da resposta são as variáveis de controle mais relevantes. Pense no aprendizado de um instrumento: nós o tocamos para ouvir seu som harmonioso. Há outros exemplos: podemos dançar para estar próximo do corpo do outro, mexer com uma garota para receber seu olhar, abrir uma janela para entrar a luz etc. EVENTOS CONSEQUENTES: REFORÇAMENTO E PUNIÇÃO - MANUTENÇÃO OU EXTINÇÃO DO COMPORTAMENTO A manutenção de um comportamento se dá pela presença de um reforço. De acordo com La Rosa (2003), o reforço, para Skinner, consiste em qualquer estímulo ou evento que aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento. Skinner ainda distingue dois reforçadores: o positivo e o negativo; o positivo como sendo aquele em que se apresenta um estímulo como consequência do comportamento e o negativo como sendo aquele em que se retira um estímulo como consequência de um comportamento. Os reforçadores podem ser primários, quando estão relacionados à necessidade primária, como alimentos e água; e secundários, que são assim denominados quando estão sendo sucessivamente emparelhados com algum reforçador primário; e finalmente os reforçadores generalizados, que compreendem aqueles estímulos que foram emparelhados com mais de um reforçador primário ou com algum reforçador secundário. Teixeira Júnior e Souza (2006) definiram, também, outros conceitos dentro dessa abordagem: esquiva como sendo a prevenção de um estímulo aversivo e fuga como sendo a interrupção de um estímulo aversivo, um processo no qual os estímulos aversivos condicionados e incondicionados estão separados por um intervalo de tempo apreciável, permitindo que o indivíduo execute um comportamento que previna a ocorrência ou reduza a magnitude do segundo estímulo; contingência seria os componentes das relações comportamentais que apresentam relação de dependência entre si; extinção operante que seria a quebra de relação de contingências entre uma resposta e uma consequência pela suspensão do reforçamento. A extinção é um procedimento no qual uma resposta deixa abruptamente de ser reforçada. Como conseqüência, a resposta diminuirá de freqüência e até mesmo poderá deixar de ser emitida. O tempo necessário para que a resposta deixe de ser emitida dependerá da história e do valor do reforço envolvido; e finalmente modelagem seria a modificação de algum comportamento por meio de um reforçamento diferencial, em uma série de passos, de um desempenho inicial até um desempenho final. Segundo Moreira e Medeiros (2007) a modelagem é uma técnica usada para se ensinar um comportamento novo por meio de reforço diferencial de aproximações sucessivas do comportamento. Em suma, chamamos de reforço a toda conseqüência que, seguindo uma resposta, altera a probabilidade futura de ocorrência dessa resposta. O reforço pode ser positivo ou negativo. O reforço positivo é todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o produz. O reforço negativo é todo evento que aumenta a probabilidade futura da resposta que o remove ou atenua. O reforçamento positivo oferece alguma coisa ao organismo (gotas de água com a pressão da barra, por exemplo); o negativo permite a retirada de algo indesejável (os choques do último exemplo). Não se pode, a priori, definir um evento como reforçador. A função reforçadora de um evento ambiental qualquer só é definida por sua função sobre o comportamento do indivíduo. TERCEIRO ESTÁGIO DO BEHAVIORISMO: Albert Bandura enfatiza os conceitos de personalidade que reconhecem a importância do contexto social, assim como descreve as variáveis cognitivas que a descrevem e predizem o comportamento (CLONINGER, 1999). Para Bandura, os seres humanos são flexíveis nas formas de aprender, por isso, o teórico entende que a aprendizagem pode ser ativa ou por observação. A aprendizagem ativa ocorre por meio de experiências diretas que são comportamentos apresentados com suas respectivas consequências. Logo, a aprendizagem ativa ocorre mediante a reflexão do comportamento e avaliação das suas consequências. As consequências dos comportamentos, por sua vez, têm como funções informar os efeitos das ações, motivar comportamentos antecipadamente e reforçar (FEIST; FEIST, 2008). REFORÇO VICÁRIO: A aprendizagem por observação, meio pelo qual advém a maior parte das aprendizagens, ocorre por meio da observação de comportamentos de outras pessoas que fornecem experiências indiretas (vicárias) e tem como consequência reforços vicário. Esses, por sua vez, possibilitam que indivíduos sejam reforçados ao observar uma pessoa sendo reforçada. Nesse sentido, Bandura destaca que os reforços diretos não são essenciais a aprendizagem, apesar de fornecer incentivos ao desempenho (CLONINGER, 1999). Dessa forma, a aprendizagem por observação pode ser considerada mais eficiente, já que não expõe os indivíduos a reforços ou punições e, assim, evitam que o processo cognitivo e o desenvolvimento social sejam atrasados. A aprendizagem por observação ocorre por meio do processo denominado de modelação, no qual a observação é seguida por um processo cognitivo, o que implica dizer que esse tipo de aprendizagem não é uma pura imitação, já que necessita de representações simbólicas peculiares a cada indivíduo e situação. A modelação depende das consequências do comportamento, das características do modelo observado e do observador. Assim, esse processo envolve mecanismos de atenção, representação, produção comportamental e motivação (FEIST; FEIST, 2008). Depois de reter o comportamento e ensaiar cognitivamente, reproduz-se o comportamento na produção comportamental ou processo de reprodução motora. A aprendizagem é mais eficaz quando existe motivação e isso se traduz no desempenho em realizar um comportamento. A motivação pode ocorrer por meio de reforços externos, vicariantes ou por interiorização de processos motivacionais (CLONINGER, 1999). Bandura acreditava que a ação humana é o resultado do que ele denominou de causação triádica recíproca, que é a interação entre indivíduo (I), comportamento (C) e ambiente(A) num sistema de determinismo recíproco (CLONINGER, 1999; FEIST; FEIST, 2008). Cada um desses fatores atua com forças diferentes cuja intensidade depende da situação e do indivíduo. Segundo Cloninger (1999), o conceito de determinismo recíproco reconhece que o meio influencia o comportamento, que as características internas influenciam o comportamento, e que o comportamento influência o próprio comportamento. O fator indivíduo (I) é composto por variantes individuais como gênero, tamanho, posição social, atratividade física e por fatores cognitivos como memória, antecipação, planejamento e critério. Com isso, os fatores cognitivos decidem os ambientes para lidar, o valor a atribuir aos comportamentos e a forma a organizar os eventos para usá-los futuramente (FEIST; FEIST, 2008). Dessa teoria, destaca-se a ideia de agência humana, que é a capacidade do ser humano de exercer o controle sobre sua vida. Os traços essenciais da agência humana são a intencionalidade, que é um planejamento com proatividade; a premeditação, que é o estabelecimento de objetivos possíveis, a previsão de resultados e a seleção de comportamentos; a autorreatividade, que é o acompanhamento da evolução do processo de escolha dos comportamentos; e a autorreflexibilidade, item no qual se destaca a autoeficácia (FEIST; FEIST, 2008). AUTOEFICÁCIA: A autoeficácia é a crença na capacidade de realizar ações que produzirão um efeito desejado e que interfere na escolha dos comportamentos, no desempenho e, por isso, no controle da vida. A autoeficácia depende de experiências de domínio (experiências passadas), da modelagem social (experiências vicárias), da persuasão social e dos estados emocionais e físicos. A agência delegatória é a capacidade de confiar na competência dos outros em fornecer bens e prestar serviços. A eficácia coletiva é a crença geral no poder coletivo de produzir resultados desejados. Visto isto, agência delegatória e a eficácia coletiva também interferem na capacidade de controlar a vida que o ser humano possui (FEIST; FEIST, 2008). De acordo com Feist e Feist (2008), a autorregulação é a capacidade de regular os pró- prios comportamentos. Ela envolve estratégias reativas, responsáveis por reduzir a discrepância entre realidade e objetivos, e as estratégias proativas, incumbidas de definir novos e maiores objetivos. A autorregulação é regida por fatores externos, fornecedores de padrão de avaliação e reforçamento, e por fatores internos. Fatores internos que compreendem a auto-observação (monitora do comportamento), o processo de critério, e a autorreação (produzir autorreforço e autopunição). OBSERVAÇÕES: Skinner não afirmou que o comportamento observável se limitava a eventos externos, porém escolheu ser determinista e ambientalista, com coerência aos seus métodos de estudo. Com isso, o mesmo ampliou a teoria de seus antecessores, Thornidike e Watson, ao acrescentar ao condicionamento operante a forma clássica ou respondente que já existia. Para Skinner, de acordo com Hall, Lindzey e Campbell (2000), o comportamento é o produto de forças que agem sobre o indivíduo, não de uma escolha pessoal. Seriam as contingências de reforço as responsáveis pelo comportamento e quem adotasse uma abordagem cognitiva responsabilizava agentes internos de forma errada. Portanto, Skinner foi imprescindível na elaboração dos conceitos de modelagem, reforçamento, punição, esquemas de reforçamento e extinção. Ele não negava a existência de estados internos, mas acreditava que sua observação era limitada. Já Bandura ousou ao resgatar questões postas de lado no Behaviorismo Radical por não ter medo de entrar em uma esfera tradicionalmente subjetiva e imprecisa. Assim, conseguiu elucidar a influência de aspectos individuais (como processo de cognição, memória, antecipação) na construção da personalidade sem, no entanto, afastar-se da ciência ou alcançar constructos hipotéticos ou demasiados especulativos. PSICANÁLISE Conceito: O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. Freud publicou uma extensa obra, durante toda a sua vida, relatando suas descobertas e formulando leis gerais sobre a estrutura e o funcionamento da psique humana. A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto por meio de ações e palavras ou pelas produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres, os atos falhos. A prática profissional refere-se à forma de tratamento — a Análise — que busca o autoconhecimento ou a cura, que ocorre através desse autoconhecimento. Subjacente a todo o pensamento de Freud está o pressuposto de que o corpo é a fonte básica de toda experiência mental. Ele esperava o tempo em que todos os fenómenos mentais pudessem ser explicados com referência direta à fisiologia do cérebro. DETERMINISMO PSÍQUICO/PSICOLÓGICO Freud inicia seu pensamento teórico assumindo que não há nenhuma descontinuidade na vida mental. Ele afirmou que nada ocorre ao acaso e muito menos os processos mentais. Há uma causa para cada pensamento, para cada memória revivida, sentimento ou açao. Cada evento mental é causado pela intenção consciente ou inconsciente e é determinado pêlos fatos que o precederam. Uma vez que alguns eventos mentais "parecem" ocorrer espontaneamente, Freud começou a procurar e descrever os elos ocultos que ligavam um evento consciente a outro. Muitas vezes os pensamentos ficam embaraçados, envergonhados com algumas idéias ou imagens que lhes ocorriam. A esta força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer desaparecer da consciência, uma idéia ou representação insuportável e dolorosa que está na origem do sintoma. Estes conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente. ESTRUTURA DO APARELHO PSÍQUICO: CONSCIENTE: O consciente é somente uma pequena parte da mente, inclui tudo do que estamos cientes num dado momento, é o sistema do aparelho psíquico que recebe ao mesmo tempo as informações do mundo exterior e as do mundo interior. Na consciência, destaca-se o fenômeno da percepção, principalmente a percepção do mundo exterior, a atenção, o raciocínio. Embora Freud estivesse interessado nos mecanismos da consciência, seu interesse era muito maior com relação às áreas da consciência menos expostas e exploradas, que ele denominava pré-consciente e inconsciente. INCONSCIENTE: exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré- consciente/consciente, pela ação de censuras internas. Estes conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e ter sido reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes de funcionamento. O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias. Quando um pensamento ou sentimento parece não estar relacionado aos pensamentos e sentimentos que o precedem, as conexões estão no inconsciente. No inconsciente estão elementos instintivos, que nunca foram conscientes e que não são acessíveis à consciência. Além disso, há material que foi excluído da consciência, censurado e reprimido. Este material não é esquecido ou perdido, mas não lhe é permitido ser lembrado. O pensamento ou a memória ainda afetam a consciência, mas apenasindiretamente. PRÉ-CONSCIÊNCIA: refere-se ao sistema onde permanecem aqueles conteúdos acessíveis à consciência. É aquilo que não está na consciência, neste momento, e no momento seguinte pode estar. As porções da memória que são acessíveis fazem parte do pré-consciente. Estas podem incluir lembranças de tudo o que você fez ontem, seu segundo nome, todas as ruas nas quais você morou, a data da conquista da Normandia, seus alimentos prediletos, o cheiro de folhas de outono queimando, o bolo de aniversário de formato estranho que você teve quando fez dez anos, e uma grande quantidade de outras experiências passadas. O pré-consciente é como uma vasta área de posse das lembranças de que a consciência precisa para desempenhar suas funções. REALIDADE PSÍQUICA No processo terapêutico e de postulação teórica, Freud, inicialmente, entendia que todas as cenas relatadas pelos pacientes tinham de fato ocorrido. Posteriormente, descobriu que poderiam ter sido imaginadas, mas com a mesma força e conseqüências de uma situação real. Aquilo que, para o indivíduo, assume valor de realidade é a realidade psíquica. E é isso o que importa, mesmo que não corresponda à realidade objetiva. 1. O funcionamento psíquico é concebido a partir de três pontos de vista: o econômico (existe uma quantidade de energia que “alimenta” os processos psíquicos), o tópico (o aparelho psíquico é constituído de um número de sistemas que são diferenciados quanto a sua natureza e modo de funcionamento, o que permite considerá-lo como “lugar” psíquico) e o dinâmico (no interior do psiquismo existem forças que entram em conflito e estão, permanentemente, ativas. A origem dessas forças é a pulsão). Compreender os processos e fenômenos psíquicos é considerar os três pontos de vista simultaneamente. 3. A pulsão refere-se a um estado de tensão que busca, através de um objeto, a supressão deste estado. Eros é a pulsão de vida e abrange as pulsões sexuais e as de autoconservação. Tanatos é a pulsão de morte, pode ser autodestrutiva ou estar dirigida para fora e se manifestar como pulsão agressiva ou destrutiva. 4. Sintoma, na teoria psicanalítica, é uma produção — quer seja um comportamento, quer seja um pensamento — resultante de um conflito psíquico entre o desejo e os mecanismos de defesa. O sintoma, ao mesmo tempo que sinaliza, busca encobrir um conflito, substituir a satisfação do desejo. Ele é ou pode ser o ponto de partida da investigação psicanalítica na tentativa de descobrir os processos psíquicos encobertos que determinam sua formação. PULSÕES E INTINTITOS: Instintos são "a suprema causa de toda atividade" (1940, livro 7, p. 21 na ed. bras.). Freud em geral se referia aos aspectos físicos dos instintos como necessidades; seus aspectos mentais podem ser comumente denominados desejos. Os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação. Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. A fonte, quando emerge a necessidade, pode ser uma parte do corpo ou todo ele. A. finalidade é reduzir a necessidade até que mais nenhuma ação seja necessária, é dar ao organismo a satisfação que ele no momento deseja. A pressão é a quantidade de energia ou força que é usada para satisfazer ou gratificar o instinto; ela é determinada pela intensidade ou urgência da necessidade subjacente. O objeto de um instinto é qualquer coisa, ação ou expressão que permite a satisfação da finalidade original. Os instintos humanos apenas iniciam a necessidade da ação; eles nem predeterminam a ação particular, nem a forma como ela se completará. O número de soluções possíveis para um indivíduo é uma soma de sua necessidade biológica inicial, o "desejo" mental (que pode ou não ser consciente) e uma grande quantidade de ideias anteriores, hábitos e opções disponíveis. Freud assume que o modelo mental e comportamental normal e saudável tem a finalidade de reduzir a tensão a níveis previamente aceitáveis. Uma pessoa com uma necessidade continuará buscando atividades que possam reduzir esta tensão original. O ciclo completo de comportamento que parte do repouso para a tensão e a atividade, e volta para o repouso, é denominado modelo de tensâo-redução. As tensões são resolvidas pela volta do corpo ao nível de equilíbrio que existia antes da necessidade emergir. O trabalho analítico envolve a procura das causas dos pensamentos e comportamentos, de modo que se possa lidar de forma mais adequada com uma necessidade que está sendo imperfeitamente satisfeita por um pensamento ou comportamento particular. No entanto, vários pensamentos e comportamentos parecem não reduzir a tensão; de fato, eles aparecem para criar tensão, pressão ou ansiedade. Estes comportamentos podem indicar que a expressão direta de um instinto foi bloqueada. Embora seja possível catalogar uma série ampla de "instintos", Freud tentou reduzir esta diversidade a alguns básicos INSTINTOS: Freud desenvolveu duas descrições dos instintos básicos. O primeiro modelo descrevia duas forças opostas, a sexual (ou, de modo geral, a erótica, fisicamente gratificante) e a agressiva ou destrutiva. Suas últimas descrições, mais globais, encararam essas forças ou como mantenedoras da vida ou como incitadoras da morte (ou destruição). Ambas as formulações pressupõem dois conflitos instintivos básicos, biológicos, contínuos e nâo-resolvidos. Este antagonismo básico não é necessariamente visível na vida mental pois a maioria de nossos pensamentos e ações é evocada não por apenas uma destas forças instintivas, mas por ambas em combinação. Freud impressionou-se com a diversidade e complexidade do comportamento que emerge da fusão das pulsões básicas. Por exemplo, ele escreve: "Os instintos sexuais fazem-se notar por sua plasticidade, sua capacidade de alterar suas finalidades, sua capacidade de se substituírem, que permite uma satisfação instintual ser substituída por outra, e por sua possibilidade de se submeterem a adiamentos..." (1933, livro 28, p. 122 na ed. bras.). Os instintos são canais através dos quais a energia pode fluir. Esta energia obedece às suas próprias leis. Libido e Energia Agressiva: Cada um destes instintos gerais tem uma fonte de energia em separado. Libido (da palavra latina para "desejo" ou "anseio") é a energia aproveitável para os instintos de vida. O uso do termo por Freud é às vezes confuso, uma vez que o descreve como quantidade mensurável. "Sua produção, aumento ou diminuição, distribuição e deslocamento devem propiciar-nos possibilidades de explicar os fenómenos psicossexuais observados" (1905a, livro 2, p. 113 na ed. bras.). Outra característica importante da libido é sua "mobilidade", a facilidade com que pode passar de uma área de atenção para outra. Freud descreveu a natureza passageira da receptividade emocional como um fluxo de energia, fluindo para dentro e para fora das áreas de interesse imediato. A energia do instinto de agressão ou de morte não tem um nome especial. Ela supostamente apresenta as mesmas propriedades gerais que a libido, embora Freud não tenha elucidado este aspecto. ESTRUTURA DA PERSONALIDADE ID: O id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se “localizam” as pulsões: a de vida e a de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente, na primeira teoria, são, nesta teoria, atribuídas ao id. É regido pelo princípio do prazer. O Id "contém tudo o que é herdado, que se acha presente no nascimento, que está presente na constituição—acima de tudo, portanto, os instintos que se originam da organização somática e que aqui (no id) encontram uma primeira expressão psíquica, sob formas que nos são desconhecidas" (1940,livro 7, pp. 17- 18 na ed. bras.). É a estrutura da personalidade original, básica e mais central, exposta tanto às exigências somáticas do corpo como aos efeitos do ego e do superego. Embora as outras partes da estrutura se desenvolvam a partir do id, ele próprio é amorfo, caótico e desorganizado. " ID pode ser associado a um rei cego cujo poder e autoridade são totais e cerceadores, mas que depende de outros para distribuir e usar de modo adequado o seu poder. Os conteúdos do id são quase todos inconscientes, eles incluem configurações mentais que nunca se tomaram conscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência. Um pensamento ou uma lembrança, excluído da consciência e localizado nas sombras do id, é mesmo assim capaz de influenciar a vida mental de uma pessoa. Freud acentuou o fato de que materiais esquecidos conservam o poder de agir com a mesma intensidade mas sem controle consciente. EGO: é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses da pessoa. É regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido, a busca do prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são: percepção, memória, sentimentos, pensamento. O ego é a parte do aparelho psíquico que está em contato com a realidade externa. Desenvolve-se a partir do id, à medida que o bebê toma-se cônscio de sua própria identidade, para atender e aplacar as constantes exigências do id. Como a casca de uma árvore, ele protege o id mas extrai dele a energia, a fim de realizar isto. Tem a tarefa de garantir a saúde, segurança e sanidade da personalidade. Freud descreve suas várias funções em relação com o mundo externo e com o mundo interno, cujas necessidades procura satisfazê-lo. Ele tem a tarefa da autopreservação. Assim, o ego é originalmente criado pelo id na tentativa de enfrentar a necessidade de reduzir a tensão e aumentar o prazer. Contudo, para fazer isto, o ego, por sua vez, tem de controlar ou regular os impulsos do id de modo que o indivíduo possa buscar soluções menos imediatas e mais realistas. Um exemplo pode ser o de um encontro heterossexual. O id sente uma tensão que surge da excitação sexual insatisfeita e poderia reduzir esta tensão através da atividade sexual direta e imediata. O ego tem que determinar quanto da expressão sexual é possível e como criar situações em que o contato sexual seja o mais satisfatório possível. O id é sensível à necessidade, enquanto que o ego responde às oportunidades. SUPEREGO: Esta última parte da estrutura se desenvolve não a partir do id, mas a partir do ego. Atua como um juiz ou censor sobre as atividades e pensamentos do ego. É o depósito dos códigos morais, modelos de conduta e dos construtos que constituem as inibições da personalidade. Freud descreve três funções do superego: consciência, auto-observaçao e formação de ideais. Enquanto consciência, o superego age tanto para restringir, proibir ou julgar a atividade consciente; mas também age inconscientemente. As restrições inconscientes são indiretas, aparecendo como compulsões ou proibições. "Aquele que sofre (de compulsões e proibições) comporta-se como se estivesse dominado por um sentimento de culpa, do qual, entretanto, nada sabe" (l 907, livro 31, p. 17 na ed. bras.). A tarefa de auto-observaçao surge da capacidade do superego de avaliar atividades independentemente das pulsões do id para tensão-redução e independentemente do ego, que também está envolvido na satisfação das necessidades. A formação de ideais está ligada ao desenvolvimento do próprio superego. Ele não é, como se supõe às vezes, uma identificação com um dos pais ou mesmo com seus comportamentos: "O superego de uma criança é com efeito construído segundo o modelo não de seus pais, mas do superego de seus pais; os conteúdos que ele encerra são os mesmos e toma-se veiculo da tradição e de todos os duradouros julgamentos de valores que dessa forma se transmitiram de geração em geração" (1933, livro 28, p. 87 na ed. bras.) RELAÇÃO ENTRE OS TRÊS SUBSISTEMAS: A meta fundamental da psique é manter—e recuperar, quando perdido — um nível aceitável de equilíbrio dinâmico que maximiza o prazer e minimiza o desprazer. A energia que é usada para acionar o sistema nasce no id, que é de natureza primitiva, instintiva. O ego, emergindo do id, existe para lidar realisticamente com as pulsões básicas do id e também age como mediador entre as forças que operam no id e no su- perego e as exigências da realidade externa. O superego, emergindo do ego, atua como um freio moral ou força contrária aos interesses práticos do ego. Ele fixa uma série de normas que definem e limitam a flexibilidade deste último. O id é inteiramente inconsciente, o ego e o superego o são em parte. "Grande parte do ego e do superego pode permanecer insconsciente e é normalmente inconsciente. Isto é, a pessoa nada sabe dos conteúdos dos mesmos e é necessário despender esforços para torná-los conscientes" (l 933, livro 28, p. 89 na ed. bras.). Nesses termos, o propósito prático da psicanálise "é, na verdade, fortalecer o ego, fazê-lo mais independente do superego, ampliar seu campo de percepção e expandir sua organização, de maneira a poder assenhorear-se de novas partes do id" (1933, livro 28, p. 102 na ed. bras.) O ID, o Ego e o Superego, não operam com propósitos diferentes. Trabalham juntos e interagindo entre si, sob a liderança do Ego. Assim, a personalidade funciona, geralmente, como uma unidade e não em três segmentos separados e distintos. Enfim, podemos considerar o Id como sendo o componente biológico, o Ego como o psicológico e o Superego como o social da personalidade Para Freud, a estrutura da personalidade é formada por três sistemas, o Id, o Ego e o Superego. O comportamento é quase sempre o resultado da interação desses três sistemas, e raramente funcionam isoladamente. De acordo com a teoria estrutural da mente, o Id, o ego e o superego funcionam em diferentes níveis de consciência. Há um constante movimento de lembranças e impulsos de um nível para o outro. O Id é o reservatório inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo princípio do prazer, o Id exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a possibilidade de conseqüências indesejáveis. O Ego funciona principalmente a nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos inconscientes, pois evoluiu do Id. Regido pelo princípio da realidade, o Ego cuida dos impulsos do Id, tão logo encontre a circunstância adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos. Apenas parcialmente consciente, o Superego serve como um censor das funções do ego (contendo os Ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais), sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição MECANISMOS DE DEFESA Objetivo da psicanálise é liberar materiais inconscientes antes inacessíveis, de modo que se possa lidar com eles conscientemente. Freud acreditava que o material inconsciente permanecia inconsciente apenas através de um consumo considerável e contínuo de libido. À medida que esse material toma-se acessível, a energia é liberada e pode ser usada pelo ego para atividades mais saudáveis. É possível reavaliar a necessidade de ser punido ou de sentir-se inadequado, por exemplo, trazendo à consciência aqueles atos ou fantasmas que levavam à necessidade. Aspessoas podem, então, libertar-se do sofrimento que, de certa forma, traziam perpetuamente consigo mesmas. A liberação de materiais bloqueados é capaz de minimizar as atitudes autodestrutivas. A percepção de um acontecimento, do mundo externo ou do mundo interno, pode ser algo muito constrangedor, doloroso, desorganizador. Para evitar este desprazer, a pessoa “deforma” ou suprime a realidade — deixa de registrar percepções externas, afasta determinados conteúdos psíquicos, interfere no pensamento. São vários os mecanismos que o indivíduo pode usar para realizar esta deformação da realidade, chamados de mecanismos de defesa. São processos realizados pelo ego e são inconscientes, isto é, ocorrem independentemente da vontade do indivíduo. Para Freud, defesa é a operação pela qual o ego exclui da consciência os conteúdos indesejáveis, protegendo, desta forma, o aparelho psíquico. O ego — uma instância a serviço da realidade externa e sede dos processos defensivos — mobiliza estes mecanismos, que suprimem ou dissimulam a percepção do perigo interno, em função de perigos reais ou imaginários localizados no mundo exterior. O sonho é uma forma de satisfazer desejos que não foram ou não podem ser realizados durante o dia. Os "resíduos diurnos" que formam o conteúdo manifesto do sonho servem como estrutura do conteúdo latente ou dos desejos disfarçados. O sonho realiza, em pelo menos dois níveis, incidentes comuns que não foram resolvidos ou que fazem parte de padrões mais amplos e antigos que nunca foram solucionados. Um sonho não aparece simplesmente; ele é desenvolvido para atingir necessidades específicas, embora essas não sejam descritas de maneira clara pelo conteúdo manifesto do sonho. Quase todo sonho pode ser compreendido como a realização de um desejo. O sonho é um caminho alternativo para satisfazer os desejos do id. Quando em estado de vigília, o ego esforça-se para proporcionar prazer e reduzir o desprazer. Durante o sono, necessidades não satisfeitas são escolhidas, combinadas e arranjadas de modo que as sequências do sonho permitam uma satisfação adicional ou redução de tensão. Para o id, não é importante o fato da satisfação ocorrer na realidade físico-sensorial ou na imaginada realidade interna do sonho. Em ambos os casos, energias acumuladas são descarregadas. SUBLIMAÇÃO: Sublimação. A sublimação é o processo através do qual a energia originalmente dirigida para propósitos sexuais ou agressivos é direcionada para novas finalidades, com frequência metas artísticas, intelectuais ou culturais. A sublimação foi denominada a "defesa bem sucedida" (Fenichel, 1945). Podemos comparar a energia original a um rio que inunda, destruindo casas e propriedades. Para evitar isso, uma barragem é construída. A destruição não pode mais ocorrer mas a pressão se desenvolve atrás do dique, ameaçando danos ainda maiores se, em qualquer ocasião, a barreira romper-se. A sublimação é a construção de canais alternativos que, por sua vez, podem ser usados para gerar energia elétrica, irrigar áreas outrora áridas, criar parques e oferecer outras oportunidades recreativas. A energia original do rio foi desviada com sucesso para canais socialmente aceitáveis ou culturalmente sancionada. A energia sublimada é responsável pelo que denominamos civilização. Freud alega que a enorme energia e complexidade da civilização resultam da pulsâo subjacente para achar vias aceitáveis e suficientes para a energia reprimida. A civilização encoraja a transcendência das pulsões originais e, em alguns casos, os fins alternativos podem ser mais satisfatórios para o id que a satisfação dos impulsos iniciais. energia sublimada reduz as pulsões originais. Esta transformação "coloca ã disposição da atividade civilizada uma extraordinária quantidade de energia, em virtude de uma singular e marcante característica: sua capacidade de deslocar seus objetos sem restringir consideravelmente a sua intensidade" (1908, livro 31, p. 32 na ed. bras.). REPRESSÃO: "A essência da repressão consiste simplesmente em afastar determinada coisa do consciente, mantendo-a à distância" (1915, livro 11, p. 60 na ed. bras.). A repressão afasta da consciência um evento, ideia ou percepção potencialmente provocadores de ansiedade, impedindo, assim, qualquer solução possível. É pena que o elemento reprimido ainda faça parte da psique, apesar de inconsciente, e que continue a ser um problema. "A repressão nunca é realizada de uma vez por todas, mas requer um constante consumo de energia para manter-se, enquanto que o reprimido faz tentativas constantes para encontrar uma saída" (Fenichel, 1945). NEGAÇÃO: Negação é a tentativa de não aceitar na realidade um fato que perturba o ego. Os adultos têm a tendência de "fantasiar" que certos acontecimentos não são assim, que na verdade não aconteceram. Este voo de fantasia pode tomar várias formas, algumas das quais parecem absurdas ao observador objetivo. A notável capacidade de lembrar-se incorretamente de fatos é a forma de negação encontrada com maior frequência na prática psicoterápica. O paciente recorda-se de um acontecimento de forma vívida, depois, mais tarde, pode lembrar-se do incidente de maneira diferente e, de súbito, dar-se conta de que a primeira versão era uma construção defensiva. RACIONALIZAÇÃO: Racionalização é o processo de achar motivos aceitáveis para pensamentos e açôes inaceitáveis. É o processo através do qual uma pessoa apresenta uma explicação que é ou logicamente consistente ou eticamente aceitável para uma atitude, açâo, ideia ou sentimento que emerge de outras fontes motivadoras. Usamo-la para justificar nosso comportamento quando, na realidade, as razões para nossos atos não são recomendáveis. REGRESSÃO: o indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento; é uma passagem para modos de expressão mais primitivos. Um exemplo é o da pessoa que enfrenta situações difíceis com bastante ponderação e, ao ver uma barata, sobe na mesa, aos berros. Com certeza, não é só a barata que ela vê na barata. PROJEÇÃO: é uma confluência de distorções do mundo externo e interno. O indivíduo localiza (projeta) algo de si no mundo externo e não percebe aquilo que foi projetado como algo seu que considera indesejável. É um mecanismo de uso freqüente e observável na vida cotidiana. FORMAÇÃO REATIVA: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada direção, e, para isto, o indivíduo adota uma atitude oposta a este desejo. Um bom exemplo são as atitudes exageradas — ternura excessiva, superproteção — que escondem o seu oposto, no caso, um desejo agressivo intenso. Aquilo que aparece (a atitude) visa esconder do próprio indivíduo suas verdadeiras motivações (o desejo), para preservá-lo de uma descoberta acerca de si mesmo que poderia ser bastante dolorosa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem muita raiva porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas destas mães, pode ser aterrador admitir essa agressividade em relação ao filho. PSICODINÂMICA Erikson propõe uma concepção de desenvolvimento em oito estágios psicossociais, perspectivados por sua vez em oito idades que decorrem desde o nascimento até à morte, pertencendo as quatro primeiras ao período de bebê e de infância, e as três últimas aos anos adultos e à velhice, cada estágio é atravessado por uma crise psicossocial entre uma vertente positiva e uma negativa. Erikson dá especial importância ao período da adolescência, devido ao fato ser a transição entre a infância e a idade adulta, em que se verificam acontecimentos relevantes para a personalidade adulta. Na Teoria Psicossocial do Desenvolvimento, este desenvolvimento evolui emoito estágios. Os primei ros quatro estágios decorrem no período de bebê e da infância, e os últimos três durante a idade adulta e a velhice. Cada estágio contribui para a formação da personalidade total (princípio epigenético), sendo por isso todos importantes mesmo depois de se os atravessar. O núcleo de cada estágio é uma crise básica, que existe não só durante aquele estágio específico, nesse será mais proeminente, mas também nos posteriores a nível de consequências, tendo raízes prévias nos anteriores. A formação da identidade inicia-se nos primeiros quatro estágios, e o senso desta negociado na adolescência evolui e influencia os últimos três estágios.Erikson perspectivava o desenvolvimento tendo em conta aspectos de cunho biológico, individual e social. A teoria psicossocial em análise enfatizava o conceito de identidade, a qual se forma no 5º estágio, e o de crise que sem possuir um sentido dramático está presente em todas as idades, sendo a forma como é resolvida determinante para resolver na vida futura os conflitos. HUMANÍSTICA-EXISTENCIAL CARL ROGERS Rogers sempre enfatizou a relação com a pessoa humana como fator primordial na estruturação de qualquer conhecimento sobre o fenômeno psicológico. Fez questão de colocar em xeque a validade de teorias ou técnicas psicoterápicas construídas a priori, descoladas da experiência, antes de se estabelecer o contato com a pessoa ou grupo em sua concretude.“Ser o que realmente se é” : eis a exigência fundamental de Rogers. E ele próprio nos remete explicitamente para a proveniência desta temática, o existencialismo de Soren Kierkegaard. Ser o que se é, ser si mesmo é Tornar-se Pessoa. Ser o que se é, é ser autenticamente Pessoa, mais rigorosamente é tornar-se pessoa, já que isso, como a própria expressão o indica, implica um processo fluido contínuo, um permanente dinamismo e nunca um permanecer estático. Ser pessoa é ser processo. Nesse sentido, ser pessoa não é um objectivo que se atinja e no qual se repouse estaticamente. Ser pessoa é ser continuamente devir, é ir-se fazendo e construindo sem que nunca possamos dar como acabada a construção. O destino do homem é este: Tornar-se pessoa, fazer-se, fazer-se em cada momento, ser movimento e processo. “Para alguns ser o que se é, é permanecer estático. (…) Nada pode estar mais longe da verdade. Ser o que se é, é mergulhar inteiramente num processo. A mudança encontra-se facilitada, e provavelmente levada ao extremo, quando se assume ser o que verdadeiramente se é” (ROGERS, 1977; 155). A pessoa é, pois, em Rogers, algo permanente, mas, porque continuamente em transformação e construção, nunca satisfeita nem plenamente realizada. Por isso somos sempre e irremediavelmente processo. Nunca deixar de ser movimento e processo. Nunca somos, vamos sendo. A consciência é concebida enquanto vivência ativa, intencional, criadora de sentidos, que gera novos processos de subjetivação no curso de sua expressão pessoal. De acordo com González Rey (2003), a consciência humana organiza-se, expressase e desenvolve-se "na contínua processualidade do sujeito, que em suas complexas operações reflexivas (...) logra articular elementos de sentidos muito diversos nos diferentes momentos de sua expressão" (p.60). A subjetividade, portanto, desenvolvese num processo contínuo, não sendo, algo enclausurado no interior do individuo, uma vez que o ser individual se forma a partir das relações estabelecidas com os outros e com o mundo. Antes de mais tenho de aprender a aceitar a minha própria experiência. Rogers atribui valor fundamental à experiência. “… Posso ter confiança na minha experiência” (ROGERS, 1977: 33). “A experiência é, para mim, a suprema autoridade. A minha própria experiência é a pedra de toque de toda a validade. Nenhuma ideia de qualquer outra pessoa, nem nenhuma das minhas ideias, têm a autoridade que reveste a minha experiência. (...) nem a Bíblia, nem os profetas – nem Freud, nem a investigação – nem as revelações de Deus ou dos homens – podem ganhar precedência relativamente à minha própria experiência directa” (ROGERS, 1977: 35). A psicanálise freudiana observava a pessoa a partir de seus comportamentos problemáticos, já o behaviorismo visualizava as pessoas como seres passivos, ou seja, que não tinham muitas opções para influenciar o ambiente. A visão de Carl Rogers e o humanismo, no entanto, era completamente diferente, porque o ser humano era visto como um indivíduo ativo e dono de sua própria realização. Para Rogers, uma pessoa que presta atenção ao processo de valorização orgânica é uma pessoa plenamente funcional ou auto-realizada; enfatiza a liberdade dos indivíduos na hora de decidir o rumo de suas vidas. Segundo ele, a personalidade das pessoas pode ser analisada de acordo com uma escala que se aproxima ou se distancia do comportamento de um indivíduo altamente funcional. A pessoa é totalmente funcional, ou seja, mais saudável, quando tem uma série de características. São elas: Experiência Existencial: Pessoas abertas à novas experiências têm mais possibilidades de viver plenamente. Confiança Orgânica: Essas pessoas confiam em sua experiência interna para orientar o seu comportamento. Experiência de Liberdade: A pessoa tem liberdade para escolher. Criatividade: A pessoa se mostra criativa e sempre encontra novas maneiras de viver. São mentalmente inflexíveis. A teoria de Rogers foi construída a partir da noção de centralidade, em que a definição de pessoa ancorou-se no projeto da modernidade, como um ser indiviso, unitário, centrado, livre, com primazia da ordem subjetiva. Na perspectiva heideggeriana, ao invés da centralidade, evidencia-se a noção de abertura, conceito vinculado ao projeto pós-moderno que valoriza a disposição para a descoberta e a existência (dasein) enquanto mera possibilidade, abertura de ser; apropriação de si que é também abertura ao outro e ao mundo. Como possibilidade de atualização, e considerando o cenário contemporâneo e os múltiplos modos de existência, é válido uma reinterpretação da teoria de Rogers em uma perspectiva descentrada ou centrada nas relações, que vá além da pessoa-indivíduo, com abertura à complexidade em que o sujeito constitui e é constituído pelo mundo, de modo ininterrupto. MASLOW A teoria de Maslow acrescenta à teoria de Rogers o seu conceito de necessidades. A teoria deste psicólogo gira em torno de dois aspectos fundamentais: as nossas necessidades e as nossas experiências. Em outras palavras, o que nos motiva é o que vamos buscando ao longo da vida e o que vai acontecendo nesse caminho, o que vamos vivendo. É aqui onde se forma a nossa personalidade. Na verdade, Maslow é considerado um dos grandes teóricos da motivação. A teoria da personalidade de Maslow tem dois níveis: O biológico, que são as necessidades que todos temos e o outro mais pessoal, as necessidades que são o resultado dos nossos desejos e das experiências que vamos vivendo. Sem dúvida, Maslow se associa ao conceito de auto- realização, porque sua teoria fala sobre as necessidades que nós precisamos desenvolver em nós mesmos para alcançar o nosso potencial máximo. E, de acordo com ele, as pessoas têm um desejo inato de auto-realização, para serem o que querem ser e terem a capacidade de persegu ir seus objetivos de forma autônoma e livre. AUTOREALIZAÇÃO: De certa forma, uma abordagem individual de auto-realização corresponderá ao tipo de personalidade que se manifesta na vida diária das pessoas. Isso significa que, para Maslow, a personalidade está relacionada aos aspectos motivacionais, têm a ver com os objetivos e as situações que cada ser humano vive; não é algo estático, quepermanece dentro da cabeça das pessoas e se manifesta unidirecionalmente, de dentro para fora, como criticam algumas concepções reducionistas e determinísticas deste fenômeno psicológico. As implicações disto são claras: para estudar a personalidade é preciso conhecer também o contexto em que as pessoas vivem e a maneira que respondem às suas necessidades motivacionais. Se concentrar simplesmente em administrar vários testes para obter uma pontuação não nos dá uma visão precisa, visto que já há uma tendência ao considerar que a personalidade será o que for captado pelos testes. Trata-se de um ponto de vista semelhante ao aplicado no campo das habilidades mentais; em que os psicólogos Howard Gardner e Robert J. Sternberg são críticos ferrenhos do conceito psicométrico de inteligência. Maslow estava muito interessado na auto-realização. Auto-realização é o lugar onde um indivíduo ganha a forma mais elevada do potencial humano permitindo que a pessoa esteja em harmonia consigo mesma, com os outros e com o mundo ao redor. Maslow identificou qualidades particulares de tais pessoas, como singularidade, simplicidade, auto-suficiência, justiça, bondade, etc. Além disso, ele prestou atenção a um conceito chamado de experiências de pico que foram vistas mais frequentemente em pessoas auto-realizadas do que em outras. Este é um caso em que uma pessoa estaria em total aceitação e de acordo com o self e esse envolvimento lhes permitiria aproveitar a vida mais profundamente. A teoria da pirâmide das necessidades humanas: segundo ele, as necessidades seguem uma hierarquia, que vai das mais básicas às mais complexas. Essa pirâmide é composta por cinco níveis. As necessidades precisam ir sendo satisfeitas até chegarem ao nível superior. Por exemplo, se não tivermos as necessidades fisiológicas supridas, não poderemos aspirar às necessidades de afiliação. No nível superior estão as necessidades de auto-realização. É com esta hierarquia que Maslow explicou a maneira como a personalidade se adapta às circunstâncias, dependendo de cada situação vivida. Afinal, é uma concepção de personalidade que engloba aspectos psicológicos muito amplos e que vai muito além da abordagem psicométrica que dominou sua época. Um indivíduo em primeiro lugar tem que cumprir as necessidades na parte inferior da pirâmide, a fim de ir para o nível seguinte. Na parte inferior da pirâmide encontramos necessidades fisiológicas, em seguida, as necessidades de segurança, amor e necessidades de pertencimento, necessidades de estima e, finalmente, a necessidade de auto- realização no topo. TRANSTORNO DE PERSONALIDADE Personalidade pode ser definida de modo sucinto como as características individuais que correspondem a um padrão persistente de emoções, pensamentos e comportamentos. Os traços da personalidade têm consequências, no sentindo de que suas características estão associadas a uma variedade importante de indicadores nos níveis individual, interpessoal e social, tais como: felicidade, saúde física e psicológica, espiritualidade e identidade; qualidade das relações familiares, amorosas e com colegas; escolha, satisfação e desempenho profissionais; envolvimento na comunidade, atividade criminosa, e ideologia política. A partir disso, um transtorno da personalidade (TP) pode ser caracterizado como “padrão persistente de experiência interna e comportamento que se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, é difuso e inflexível, começa na adolescência ou início da fase adulta, é estável ao longo do tempo e leva a sofrimento ou prejuí- zo”. É comum que pessoas com TP tenham um repertório limitado de emoções, atitudes e comportamentos para lidar com os problemas e estresse da vida cotidiana, apresentando respostas desadaptativas que levam ao sofrimento e/ou prejuízos a si ou aos outros. As desordens da personalidade podem ser consideradas entre os transtornos mentais mais complicados de diagnosticar e tratar. O diagnóstico é dificultado em parte pela própria natureza dos sintomas, pouco diferenciados e com fronteiras menos nítidas com a normalidade, e pela necessidade de uma avaliação longitudinal e em vários contextos. Além disso, muitas das características consideradas para o diagnóstico são egossintônicas, ou seja, o indivíduo tem um insight limitado da natureza de suas dificuldades. Sendo assim, em geral, não identifica ou não se incomoda com o que considera componentes de “seu jeito de ser”, e por isso não há iniciativa para procurar ou há resistência para uma avaliação clínica e tratamento especializado. CLASSIFCIAÇÃO DOS TRANSTORNOS Transtorno da Personalidade Paranóide: Desconfiança e suspeitas em relação aos outros, de modo que as intenções são interpretadas como maldosas, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos: 1) suspeita, sem fundamento suficiente, de estar sendo explorado, maltratado ou enganado por terceiros 2) preocupa-se com dúvidas infundadas acerca da lealdade ou confiabilidade de amigos ou colegas 3) reluta em confiar nos outros por um medo infundado de que essas informações possam ser maldosamente usadas contra si. 4) Interpreta significados ocultos, de caráter humilhante ou ameaçador em observações ou acontecimentos benignos 5) Guarda rancores persistentes, ou seja, é implacável com insultos, injúrias ou deslizes 6) Percebe ataques a seu caráter ou reputação que não são visíveis pelos outros e reage rapidamente com raiva ou contra-ataque 7) Tem suspeitas recorrentes, sem justificativa, quanto à fidelidade do cônjuge ou parceiro sexual. Transtorno da Personalidade Esquizóide: Distanciamento das relações sociais e uma faixa restrita de expressão emocional em contextos interpessoais, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto 1) não deseja nem gosta de relacionamentos íntimos, incluindo fazer parte de uma família 2) quase sempre opta por atividades solitárias. 3) manifesta pouco, se algum, interesse em ter experiências sexuais com um parceiro 4) tem prazer em poucas atividades, se alguma 5) não tem amigos íntimos ou confidentes, outros que não parentes em primeiro grau 6) mostra-se indiferente a elogios ou críticas 7) demonstra frieza emocional, distanciamento ou embotamento afetivo. Transtorno da Personalidade Antissocial: Desrespeito e violação dos direitos alheios, que ocorre desde os 15 anos 1) incapacidade de adequar-se às normas sociais com relação a comportamentos lícitos, indicada pela execução repetida de atos que constituem motivo de detenção 2) propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer 3) impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro 4) irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou agressões físicas 5) desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia 6) irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter um comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras 7) ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido, maltratado ou roubado alguém. Transtorno da Personalidade Histriônica: Excessiva emotividade e busca de atenção, que se manifesta no início da idade adulta e está presente em uma variedade de contextos 1) desconforto em situações nas quais não é o centro das atenções 2) a interação com os outros freqüentemente se caracteriza por um comportamento inadequado, sexualmente provocante ou sedutor
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