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História do Japão

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História do Japão
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
A história do Japão (em japonês: 日本の歴史 ou 日本史, Nihon no rekishi / Nihonshi?) é a sequência de eventos ocorridos no
arquipélago japonês, com o surgimento de factos únicos influenciados pela sua natureza geográfica enquanto nação insular, assim
como por eventos inculcados por influência do império Chinês que definiram a sua língua, a sua escrita e também a sua cultura
política. Por outro lado, o Japão foi ainda influenciado pelo Ocidente, convertendo-se numa nação industrial, mas manteve os laços
com a tradição cultural do país. Exerceu uma influência significativa e expansão territorial na região do Pacífico, mas após a Segunda
Guerra Mundial estacou.
Após a última idade do gelo, por volta de 12 000 AEC, o rico ecossistema do arquipélago japonês promoveu o desenvolvimento
humano. O aparecimento das primeiras pessoas no Japão data do Paleolítico, há cerca de 35 000 anos. Entre 11 000 e 500 AEC, estes
povos desenvolveram um tipo de cerâmica designada de Jomon, a qual é considerada das mais antigas do mundo. Posteriormente
surgiu uma cultura conhecida como Yayoi, onde a produção de ferramentas de metal, assim como o cultivo do arroz, foram um
importante progresso. Neste período existiram várias tribos, porém foi no período Yamato que se fez notar maior predominância de
povos. Séculos depois, os governantes deste período reforçaram a posição do país e começaram a disseminar-se por todo o
arquipélago sob um sistema centralizado, comprimindo as inúmeras tribos existentes e alegando a própria ascendência divina.
Entretanto, o governo central havia começado a assimilar os costumes próprios da Coreia e da China. Esta rápida imposição de
tradições estrangeiras, contudo, produziu uma certa tensão na sociedade japonesa e, no ano 794, a corte imperial fundou uma nova
capital, Heian-kyō (actual Quioto), dando origem a uma cultura aperfeiçoada da aristocracia. Apesar disso, o sistema centralizado
fracassou nas províncias e iniciou-se um processo de privatização de terras, dando origem a um colapso na administração e ordem
públicas. A aristocracia necessitava então da ajuda de guerreiros para proteger a suas propriedades - mais tarde denominada a classe
samurai.
Em 1192, Minamoto no Yoritomo foi nomeado xogum (ditador militar) do Japão pelo imperador, marcando o início do regime feudal
xogunato (ou bakufu) Kamakura, uma instituição militar permanente que governaria durante quase setecentos anos. A corte viu assim
o seu poder transferir-se para os samurais sob tal regime militar. A eclosão da Guerra de Ōnin em 1467 provocou uma série de
guerras que se estenderam por todo o Japão, num período que culminou em 1573, quando Oda Nobunaga iniciou uma unificação do
país que não foi concluída devido à traição de um dos seus principais generais. O imperador foi morto e Toyotomi Hideyoshi vingou
a sua morte, completando a unificação em 1590. Depois disto, o país ficou novamente dividido em dois lados: os que apoiavam o seu
filho Toyotomi Hideyori e os que apoiavam um dos principais daimyos, Tokugawa Ieyasu. As duas vertentes enfrentaram-se então
durante a Batalha de Sekigahara, da qual leyasu saiu vencedor e foi oficialmente nomeado xogum em 1603, instaurando-se o
Xogunato Tokugawa. O período Edo caracteriza-se por ter sido uma época de paz e pela implementação de uma nova política de
relações internacionais que evitou o contacto com o exterior. Este isolamento teve o seu término em 1853, quando Matthew Calbraith
Perry forçou o Japão a abrir portas e assinar uma série de tratados com as grandes potências estrangeiras (tratados desiguais),
causando desconforto entre alguns samurais que apoiavam o imperador a favor da retoma do seu papel na política.
O último xogum Tokugawa renunciou ao cargo em 1868, dando início à era Meiji, em homenagem ao imperador Meiji que havia
assumido o poder político. Iniciou-se então a modernização do país com a evacuação do sistema feudal e dos samurais, e com a
transferência da capital para Tóquio. Um forte processo de ocidentalização teve lugar, e o Japão emergiu no mundo enquanto
primeiro país asiático industrializado. O país encontrava-se num processo de expansionismo territorial sobre as nações vizinhas, o
que originou conflitos com o Império Russo e o Império Chinês. Com a morte do imperador Meiji, o país havia se convertido numa
nação moderna, industrializada, com um governo central, assim como uma superpotência na Ásia que rivalizava com o ocidente. Isto
reflectiu-se numa explosão social devido ao crescimento económico e populacional. O império começou a conquistar terreno sob o
extremismo político, sendo que em 1930 a expansão militar se acelerou e o país confrontou a China pela segunda vez. Após a eclosão
da guerra na Europa, o Japão aproveitou-se da situação para ocupar outras áreas territoriais da Ásia. Durante o ano de 1941, as
relações diplomáticas entre o Japão e os Estados Unidos complicaram-se quando o presidente dos EUA, Franklin Delano Roosevelt,
interrompeu o fornecimento de petróleo para o Japão e congelou todos os créditos japoneses nos Estados Unidos. A 7 de dezembro de
1941 o Japão atacou Pearl Harbor, levando o país para a Segunda Grande Guerra enquanto parte das "Potências do Eixo". Apesar de
uma série de vitórias iniciais, o Japão veio a sofrer derrotas frente aos aliados, como na Batalha de Midway, alterando
consequentemente os papéis na Guerra do Pacífico. Depois dos violentos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, o Japão
apresentou a sua incondicional rendição, uma vez que estava sob ocupação das forças estadunidenses, as quais desmantelaram o
exército, libertaram as zonas ocupadas, o poder político do Imperador foi suprimido e o primeiro-ministro eleito pelo parlamento.
Em 1952 o Japão havia recuperado a sua soberania após a assinatura do Tratado de San Francisco, crescendo economicamente com a
ajuda da comunidade internacional. Politicamente, o Partido Liberal Democrata do Japão, de tendência conservacionista, governou
quase ininterruptamente no pós-guerra. Com o início da era Heisei, o Japão sofreu uma crise económica nos anos de 1990,
enfrentando um declínio da taxa de natalidade e um rápido envelhecimento da população. Em princípios do século XXI, o Japão
começou a reformar as práticas que regiam desde o pós-guerra a sociedade, o governo e a economia, o que resultou numa significante
mudança política em 2009, com a tomada do poder por parte do Partido Democrático do Japão. Contudo, em finais de 2012, o poder
voltou para as mãos do Partido Liberal Democrata.
Periodização
Eras do Japão
História
Período paleolítico japonês
Período Jomon
Período Yayoi
Período Kofun
Período Asuka
Período Hakuhō
Estabelecimento do sistema imperial
Período Nara
Período Heian
Consolidação da aristocracia
Ascensão da classe samurai
Guerras Genpei
Período Kamakura
Invasões mongóis do Japão
Restauração Kemmu
Período Muromachi
Período Sengoku (1467-1568)
Desenvolvimento cultural e contacto com o ocidente
Período Azuchi-Momoyama
Oda Nobunaga
Toyotomi Hideyoshi
Tokugawa leyasu
Batalha de Sekigahara
Período Edo
Sakoku
Sociedade e política
Cultura
Início do declive
Bakumatsu e Restauração Meiji
Abertura do Japão ao Ocidente
O crepúsculo do xogunato
Índice
Período Meiji
Guerra Boshin
Governo Meiji
Rebelião Satsuma
Criação de um governo representativo
Expansionismo
Guerra Sino-Japonesa
Guerra Russo-Japonesa
Período Taishō
Primeira Guerra Mundial
Democracia
Grande sismo de Kantō
Período Shōwa
Segunda Guerra Sino-Japonesa
Segunda Guerra Mundial
Ataque a Pearl Harbor
Frente do Pacífico em finais de 1941
Frente do Pacífico em 1942
Tentativa de defesa do anel defensivo
Kamikazes
1945
Bombardeios atómicos de Hiroshima eNagasaki
Rendição
Ocupação do Japão
Japão pós-ocupação
Política
Desenvolvimento económico
Relações internacionais
Período Heisei
Sismo e tsunami de 2011 e acidente nuclear em Fukushima
Notas
Referências
Bibliografia
Ligações externas
A história do Japão divide-se em períodos importantes relativamente à produção artística, assim como a relevantes acontecimentos
políticos.[1] A classificação geralmente varia dependendo dos critérios do autor, contudo muitos dos períodos podem ser
subdivididos.[2]
Segundo o imperador reinante, os nengō (年号?) (eras do Japão) possuem outra divisão periódica na sua história. O sistema de
classificação por eras (ou períodos) fundamenta-se no nome do respectivo imperador, ou seja, pelo ano correspondente ao seu
mandato. Como exemplo, o ano 1948 corresponde ao ano Shōwa 23. Atualmente é utilizado tanto o calendário Gregoriano como o
sistema de nengō.[3]
Periodização
Eras do Japão
História
Tradições Fases Datas
Ferramentas de seixo talhado
Fase Ia 35 000 – 27 000 AP
Fase Ib 27 000 – 23 000 AP
Fase Ic 23 000 – 21 000 AP
Ferramentas talhadas
Fase IIa 21 000 – 16 000 AP
Fase IIb 16 000 – 13 000 AP
Trabalho microlítico Fase III 13 000 – 12 000 AP
Ponta bifacial de projecteis Fase IV 12 500 – 11 000 AP
Início do Período Jomon 13 000 – 9 500 AP
A data aproximada do início do período paleolítico é motivo de alguma controvérsia, embora seja geralmente aceite que este período
se defina entre 50 000/35 000 AP, quando surgiram as primeiras ferramentas de pedra, e 13 000/9 500 AP, que corresponde ao início
do Mesolítico.[4] Por definição, o período paleolítico do Japão terminou com o aparecimento das primeiras técnicas de cerâmica
durante o final do último período glacial, entre 13 000 e 10 000 anos AP [5] Este período situa-se nos finais do Pleistoceno.
Existem poucas evidências que comprovem o estilo de vida das pessoas que viviam no Japão durante este período, assim como
quanto à presença de seres humanos antes de 35 000 AP, o que continua a ser algo controverso.[4] A transição entre este período e o
período seguinte foi gradual, não tendo sido encontradas evidências de uma clara ruptura ou diferenciação entre as duas culturas.[5]
Sabe-se que os primeiros habitantes eram caçadores-coletores vindos do continente. Embora trabalhassem a pedra, desconheciam a
tecnologia da cerâmica e não tinham práticas agrícolas que indicassem sedentarização.[6] Este período agrupa as mais antigas
ferramentas de pedra polida conhecidas no mundo, datadas por volta de 30 000 AEC.[7]
O paleolítico superior, documentado aquando realizada a escavação no sítio arqueológico de Iwajuku em 1949, e que veio a permitir
várias conclusões a partir da década de 1960, é geralmente dividido pelas seguintes fases e tradições:[5] Através da datação por
radiocarbono, concluiu-se que os primeiros ossos humanos descobertos em Hamamatsu, Shizuoka datam de 14 000 a 18 000 AP.[8]
A transição do paleolítico para o período Jomon (縄文時代, Jōmon-jidai?) teve início
com a introdução da cerâmica na região a par de culturas agrícolas ainda incipientes. A
primeira civilização japonesa Jomon ocupou as ilhas nipónicas em finais da quarta
glaciação por volta de 14 mil AEC.[9] Durante os primeiros dez mil anos desde o
aparecimento dos primeiros povos, aproximadamente entre 11 000 e 500 AEC, a
sobrevivência dos habitantes dependia principalmente da caça, pesca e colecta.[10][11]
O nome do período provém do tipo de cerâmica desenvolvida, que significa "marca de
corda" - um cunho distinto deixado pelas cordas na argila ainda crua, que se formava a
partir de tiras de barro cozido a baixas temperaturas. De acordo com a sua datação, a
cerâmica deste período é das mais antigas cerâmicas conhecidas no mundo.[12]
A cultura do período Yayoi (弥生時代, Yayoi jidai?) caracteriza-se por ter sido a fase
de implementação de métodos de cultivo de arroz e do trabalho em metal, apesar de, em
arqueologia, ser classificado segundo a identificação de determinados artefactos,
especialmente de diversos estilos de cerâmica. Considera-se que esta época está definida desde 300 AEC até 500 EC.[13]
Período paleolítico japonês
Período Jomon
Estátua do período Jomon tardio
Período Yayoi
Os membros pertencentes à cultura Yayoi tinham características físicas distintas das dos
povos de Jomon, o que sustenta três hipóteses quanto à origem dos Yayoi. A primeira afirma
que os povos deste período eram descendentes dos Jomon, tendo, no entanto, sofrido
alterações fisiológicas devido a mudanças na dieta e estilo de vida. Outra teoria afirma que
eram imigrantes do continente (Coreia). A terceira hipótese sustenta que os povos Yayoi
eram descendentes do cruzamento entre os Jomon e os imigrantes provenientes do
continente.[14]
As aplicações da tecnologia metalúrgica diversificaram-se, passando a ser comum o fabrico
de ferramentas agrícolas, espadas de bronze, armas de ferro e espelhos para o uso em rituais
religiosos. Com a divisão do trabalho surgiu também uma profunda estratificação da
sociedade, fazendo com que se estabelecessem classes dominantes e respectivos feudatários,
dando origem à divisão territorial por caciques.[14]
Durante o final deste período existia já um número significativo de caciques. Um dos mais
importantes foi Yamatai-koku, que estabeleceu bases para a nação emergente do período
seguinte. As Crónicas de Wei descrevem a existência desse território; uma nação conhecida na China como Wa (primeiro registo
escrito do nome do Japão), a qual era liderada por uma mulher chamada Himeko, provavelmente a imperatriz-consorte Jingo.[13]
O período Kofun data entre 250 e 300, com a construção do primeiro kofun, e 538 e 552,
época em que se considera que o budismo foi introduzido no Japão. Vários historiadores
e arqueólogos, como Charles T. Keally, prorrogam o prazo até 710, por forma a que os
períodos Asuka e Hakuhō sejam considerados subperíodos do Kofun.[15]
Este período adquiriu o mesmo nome das mamoas funerárias onde os membros da classe
aristocrática eram enterrados juntamente com as suas armas, armaduras e escudos de
bronze - kofun (古墳? lit. "antigo túmulo").[16] A área destes túmulos varia de tamanho,
chegando a dimensões semelhantes às pirâmides do Egito, o que reflete a magnitude de
poder dos governantes.[14]
O período Kofun marca o fim da pré-história. Uma vez que não existem registos
japoneses, a história deste período dependeu de fontes externas (inicialmente de
documentos coreanos e posteriormente de chineses), assim como dos manuscritos do
início do período Nara, por volta do século XVII. Apesar de não existirem registos de
origem chinesa que mencionem o Japão entre os anos 266 e 413, as escrituras coreanas do século IV proporcionam uma vasta
informação das actividades do reino de Wa na península coreana. Por outro lado, os registos chineses do século V demonstram uma
relação muito próxima entre a China e o emergente governo Yamato (localizado na atual província de Nara). Entre 413 e 502, os
Cinco Reis de Wa - nome que menciona os cinco monarcas do Japão - mantiveram uma estreita relação com o dito país, enviando
continuamente emissários ao território chinês.[15]
Durante este período, o Japão teve um contacto significativo com a China e, sobretudo, com a Coreia. No ano 400, a infantaria do
exército japonês acudiu em socorro o reino de Baekje,[17] no sudeste da península da Coreia,[15] tendo contudo sofrido uma
significativa derrota nas mãos da cavalaria do reino de Koguryo, proveniente do norte da península.[17]
O governo da corte de Yamato focou-se num Kimi (君? "rei") e, a partir do século V, o mandatário passou a ser chamado Tennō (天
皇 ? "imperador"). O termo Tennō (天皇 ? "imperador"), o qual é empregue atualmente, foi utilizado a partir do mandato do
Imperador Tenmu.[15]
Dōtaku datado do século III,
noperíodo Yayoi
Período Kofun
O Daisenryō-Kofun em Osaka, é
o maior túmulo deste tipo e a sua
construção data do século V a.C.
Período Asuka
O período Asuka (飛鳥時代 , Asuka jidai?) teve início com a
introdução do budismo no Japão, no ano 552.[nt 1] A introdução do
budismo esteve na origem de uma série de conflitos por todo o país.
Alguns membros da corte viram com bons olhos a difusão desta
religião, ao considerar que a sua implementação poderia contribuir
para a unidade nacional e facilitaria o estabelecimento de uma nova
hierarquia religiosa sob a autoridade de uma divindade omnipotente
(Buda), ao contrário das centenas de kami do xintoísmo. O conflito
terminou com a vitória de Soga no Umako em 587, assim como com
a implementação do budismo enquanto religião oficial, atribuída pelo
príncipe Shōtoku Taishi e pela Imperatriz Suiko em 593. Apesar do
tudo, o budismo não se chegou a sobrepor por completo ao xintoísmo
e ambas as religiões coexistiram pacificamente ao longo da história
do Japão.[20]
O príncipe Shōtoku estabeleceu também um governo central. A corte
financiou a construção de vários templos e palácios, inspirando-se em modelos arquitectónicos coreanos e chineses. O príncipe,
admirador profundo da cultura destas nações, fomentou o recurso a caracteres chineses (que estão na origem dos kanji); lançou bases
para o desenvolvimento de códigos de conduta e ética de governo fundamentados no budismo (constituição dos dezassete artigos,
604); e enviou inúmeras missões japonesas à China Imperial durante a dinastia Sui (600-618), com o intuito de estabelecer firmes
relações diplomáticas.[21][22]
Em 602, o príncipe Kume liderou uma expedição à Coreia, acompanhado por cerca de 120 a 150 caciques locais (Kuni ni Miyatsuko).
Cada cacique foi escoltado por um exército pessoal, cujo número dependia da riqueza de cada feudo. Estas tropas formaram o
protótipo de um exército, que viria a ser conhecido nos séculos posteriores por samurai.[17]
A arte deste período incorpora os temas de arte budista. Uma das obras mais notórias é o templo budista de Horyu-ji, encomendado
pelo príncipe Shōtoku no início do século VII, sendo a mais antiga estrutura de madeira do mundo.[22]
Após a morte do príncipe Shōtoku em 621, surgiu dentro da corte um novo clã chamado Soga, que foi gradualmente tomando o
controlo político, o que constituiu uma forte ameaça para o governo imperial.[23] Em 645, face à urgência da situação, o príncipe
Naka no Ōe (626-672), conjuntamente com outros membros, organizou um grupo e assassinou o líder do clã, Soga no Iruka, em plena
audiência com a Imperatriz Kogyoku (Incidente de Isshi).[24] A imperatriz abdicou do trono em favor do seu segundo filho, o
Imperador Kōtoku (596-654), ao mesmo tempo que o clã Soga foi debelado. Em 646, o novo imperador, juntamente com Nakatomi
no Kamatari e o príncipe Naka no Ōe, redigiu uma série de leis designadas de "Reformas Taika", com o propósito de fortalecer o
poder central, as quais implementaram uma reforma agrária e reestruturaram a corte imperial segundo o modelo chinês da Dinastia
Tang. A corte impulsionou ainda o envio de embaixadas e estudantes para a China a fim de assimilar aspectos culturais dessa região,
afectando de forma radical a cultura e sociedade japonesas. A este período deu-se o nome de Hakuhō (白鳳文化 , Hakuhō
bunka?).[23][24]
Após as mortes do Imperador Kotoku (em 654) e da Imperatriz Kogyoku (que retomou o trono com o nome de Imperatriz Saimei,
vindo a falecer em 661), o príncipe Naka no Ōe assumiu o poder sob o nome de Imperador Tenji. Durante o seu reinado foram
promulgados o primeiro ritsuryo (uma compilação de leis baseada na filosofia de Confúcio e em leis chinesas) e o Código Omi em
669. Nakatomi no Kamatari, que escreveu o código, foi recompensado pelo imperador Tenji, recebendo o sobrenome de Fujiwara,
que posteriormente veio a fundar o clã Fujiwara.[25]
No ano 618 a dinastia Tang tomou o poder na China e aliou-se ao reino coreano de Silla, com o propósito de atacar o reino de
Paekche. Os japoneses enviaram três exércitos expedicionários (em 661, 662 e 663) em auxílio do reino de Paekche. Durante o
conflito, o Japão sofreu uma das mais significativas derrotas na sua história antiga, perdendo cerca de 10 mil homens, um número
Templo budista de Hōryū. Construído em meados
do período Asuka por ordem do Príncipe Shotoku,
representa o início da presença do budismo no
Japão
Período Hakuhō
significativo de barcos de grande porte e inúmeros cavalos de guerra. Receando uma
invasão por parte da nova aliança entre Silla e a China, o Japão iniciou uma
militarização progressiva. Em 670 foi ordenado um recenseamento demográfico tendo
em vista o recrutamento de população para o exército japonês. Toda a costa norte de
Kyushu foi fortificada, ao longo da qual se edificaram postos de vigia, e se construíram
torres de sinalização com fogueiras na costa das ilhas Tsushima e Iki.[26]
Após a morte do Imperador Tenji em 671, os seus dois sucessores disputaram o trono na
Guerra Jinshin. Após a vitória do Imperador Tenmu em 684, este decretou que todos os
elementos policiais civis e militares dominassem as artes marciais.[26] Em 702, os
sucessores do Imperador Tenmu culminaram com as reformas militares através do
Código Taihō (大宝律令 , Taihō-ritsuryō?), conseguindo assim a vantagem de um
imenso e estável exército conforme o sistema chinês. Cada heishi (soldado japonês) era
atribuído a um gundan (regimento), durante uma determinada parte do ano, enquanto
que os restantes soldados dedicavam-se à agricultura. Os soldados estavam
individualmente equipados com arcos, uma aljava e um par de espadas.[27]
No século VIII, os governantes do período Yamato ordenaram que a sua inclusão nos
mitos e lendas japonesas fosse consumada, por forma a se legitimarem perante a
população.[16] Uma das mais importantes lendas refere-se à origem do Japão, atribuída
aos kami Izanagi e Izanami. Segundo a lenda, foi a partir destes dois que nasceram os
três kami maiores: Amaterasu, deusa do Sol e senhora dos céus; Susanoo, deus dos
oceanos; e Tsukuyomi, o deus da escuridão e da Lua.[28] Em determinado dia,
Amaterasu e Susanoo discutiram e, embriagado, Susanoo destruiu tudo à sua passagem.
Amaterasu ficou tão assustada que se escondeu numa caverna, recusando-se a sair, tendo
o mundo ficado privado de luz. Com o propósito de fazê-la sair, um kami feminino,
Ame-no-Uzume-no-Mikoto, realizou uma dança erótica acompanhada pelo regozijo da
miríade dos deuses reunidos em assembleia. No momento em que Amaterasu perguntava
o que tinha acontecido, revelaram-lhe a existência de uma kami mais poderosa, Ame-no-
Uzume, que tinha pendurado um espelho numa árvore, por forma a que Amaterasu
ficasse atraída por ele. Lentamente ela se aproximou do espelho que tinham colocado à
sua frente.[29] A surpresa de ver o seu próprio reflexo[30] foi tão grande que Amaterasu
ficou deslumbrada e algum tempo depois a luz voltou a iluminar a Terra. Assim, o
espelho Yata no Kagami passou a fazer parte da Regalia Imperial do Japão.[31]
O segundo elemento das três joias da coroa japonesa é descrito posteriormente na
mesma lenda. Susanoo foi banido pelos distúrbios que havia causado e, enquanto
caminhava pelas terras de Izumo, ouviu uma cobra (ou dragão)[32][33] de oito cabeças,
chamada Yamata no Orochi, que atormentava os moradores locais. Susanoo assassinou a
cobra embriagando-a com saque e de seguida cortando-lhe as cabeças. Na cauda da
cobra, Susanoo encontrou uma espada e decidiu oferecer à sua irmã em sinal de paz.
Esta espada é, pois, o segundo ícone das insígnias imperiais.[31]
A terceira e última insígnia é uma magatama (miçanga em forma de curva) que
Amaterasu deu ao seu neto Ninigi-no-Mikoto, quando este recebeuo cargo de governar
o submundo. A joia, por sua vez, foi entregue ao seu neto, o imperador Jimmu, o
primeiro imperador do Japão. Desta forma, subvencionados na crença popular, os
governantes de Yamato legitimaram o processo pelo qual o Japão seria governado sob um sistema imperial, fortemente apoiado pela
crença no xintoísmo.[31]
Nakatomi no Kamatari,
personagem decisiva no período
Hakuhō ao contribuir para a
derrota do clã Soga e para a
criação das Reforma Taika e do
Código Omi. Em virtude do seu
trabalho recebeu o apelido
Fujiwara
Izanagi (direita) e Izanami
(esquerda) criando o submundo.
Pintura de Eitaku Kobayashi
Estabelecimento do sistema imperial
O período Nara (奈良時代, Nara-jidai?) teve origem em 710, quando a capital
foi transferida para Heijō-kyō - próxima da província de Nara - prolongando-se
até finais de 794, quando a capital foi novamente transferida para Heian-kyō,
atual Quioto.[2] A nova capital foi inspirada em Changan, antiga capital da
China durante a dinastia Tang.[34][35] Neste período, o governo financiou a
construção de inúmeros templos na capital e na província, com o intuito de
obter apoio religioso. Assim, a implementação em definitivo do budismo e do
confucionismo foi imposta. A influência cultural chinesa tornou-se mais
evidente, refletindo-se na literatura. É nesta época que surgem os primeiros
registos históricos compilados pela corte imperial - o Kojiki (712) e o
Nihonshoki (720). Nasce então a poesia japonesa, o waka, e em 759 é
compilada a primeira coleção de poesia do Japão, o Man'yōshū.[34]
Apesar de tudo, o novo sistema chinês não foi bem recebido pela sociedade japonesa. Disputas entre os membros da família imperial,
o clã Fujiwara e os monges budistas eram frequentes. Fujiwara no Fuhito, filho de Kamatari e burocrata supremo dentro da corte,
compilou então o Código Yoro em 720, por forma a revisar o anterior Código Taihō. Contudo, no mesmo ano, o burocrata morreu,
gerando uma fragmentação de poderes entre os seus filhos, o que adiaria a publicação do código para o ano de 757. Esta mudança de
poderes foi a fonte de conflitos entre o príncipe Nagaya e os quatro filhos de Fuhito (Muchimaro, Fusasaki, Maro e Umakai). Em
729, estes acusaram falsamente Nagaya de corrupção, e ele foi condenado à pena de morte, vindo posteriormente a cometer suicídio.
Os filhos de Fuhito morreram após um surto de varíola, que foi atribuída a uma suposta maldição lançada pelo príncipe antes de
morrer. Isto fez com que o Imperador Shomu se transferisse para várias cidades, declaradas sucessivamente capitais do país entre 740
e 745.[36]
Após a abdicação do trono por parte do imperador Shomu em 749, o clero budista tomou o poder com o apoio da Imperatriz Koken,
que, apesar de ter abdicado do trono em 758, continuou a exercer controlo sobre a corte, favorecida por um importante monge
chamado Dokyo, ao qual outorgava poder político. Isso fez com que o clã Fujiwara e o imperador Junnin intentassem um golpe de
estado em 764, tentativa esta falhada, provocando a deposição do imperador e a execução de Fujiwara no Nakamaro, líder da
conspiração. A imperatriz retomou então o trono com o nome Imperatriz Shotoku, continuando com a permuta de poder para Dokyo,
que chegou inclusive a ser nomeado por um oráculo como sucessor a imperador.[37] Mais tarde, em 770, a imperatriz morreu de
varíola e Dokyo fugiu para o exílio, o que motivou profundas alterações políticas. Os monges budistas foram, entretanto, excluídos
do governo, seguindo-se a suspensão dos apoios governamentais à religião. As medidas impostas pelo imperador Konin (770-781),
assim como pelo imperador Kanmu (781-806), fizeram com que a corte imperial abandonasse Nara, com o intuito de se afastar dos
templos budistas. A corte foi então transferida para Nagaoka-kyō em 784. Passados dez anos, esta foi novamente deslocada para a
nova capital Heian-kyō ("Capital da Paz e Tranquilidade").[34][35]
Com o nascimento do estado unificado de Silla, a ameaça de uma invasão da Coreia contra o Japão desvaneceu-se, e então a corte de
Nara focou a sua atenção nos habitantes do nordeste de Honshu, designados de emishi (蝦夷 ? "bárbaros"), com quem tiveram
numerosas altercações. Em 774, eclodiu uma grande revolta, conhecida como a guerra dos trinta e oito anos. Nela, os emishi
empregaram um sistema de "guerra de guerrilhas" e o uso de uma espada com lâmina curva, que lhes conferia uma significante
vantagem de combate - com um melhor desempenho rotativo, ao contrário da espada reta do exército da corte imperial de Nara,
tornando-se assim mais eficientes. Em 796, com ajuda de Sakanoue no Tamuramaro, os emishi conseguiram a vitória sobre a corte
imperial. Sakanoue recebeu então o nome de Seii Taishōgun (征夷大将軍? "Grande General Apaziguador dos Bárbaros"),[38] -
expressão mais tarde empregue para designar o líder dos samurais.[39]
O sistema de recrutamento de camponeses terminou em 792, ao se reconhecer que a principal força militar viera dos chefes e dos
seus soldados e não dos camponeses, que não possuíam a formação adequada e disciplina suficientes para os campos de batalha.[39]
Período Nara
Daibutsu-den, dentro do complexo de
Tōdai-ji. Este templo budista foi financiado
pela corte Imperial durante o período Nara
Período Heian
O período Heian (平安時代, Heian jidai?) teve início em 794, indo até 1185, com o
estabelecimento do primeiro regime xogum na história do país - Xogunato Kamakura.
Neste período, a rede estatal chinesa foi adaptada às necessidades japonesas, e uma
cultura própria e sofisticada emergiu.[34] Com o declínio do sistema burocrático dos
códigos Taika e Taihō, a instituição imperial foi fortalecida durante os primeiros anos do
reinado do Imperador Kanmu. Contudo, depois da sua morte em 806, a assimilação
cultural com a China foi progressivamente desprezada e em 838 deram-se como
finalizadas quaisquer relações com a Dinastia Tang. Além disso, com o desaparecimento
do antigo sistema político, o clã Fujiwara começou um novo processo de adopção dos
altos escalões hierárquicos do governo, estabelecendo estreitos laços matrimoniais com
a família imperial a partir da primeira metade do século IX. Líderes do clã
posicionaram-se de forma a se tornarem regentes (Sesshō e Kanpaku) dos imperadores,
enquanto que outros membros do clã Fujiwara conseguiram monopolizar altos cargos,
como o Conselho de Estado (Daijō-kan).[34][35] Os oficiais de gama média e baixa
foram distribuídos hereditariamente por outros clãs aristocráticos. Em finais do século X
e começos do século XI, os Fujiwara governaram de facto o Japão e apenas uma pequena percentagem de imperadores regeram por
conta própria, uma vez que quando assumiam o trono, eram forçados pelos líderes do clã a abdicar do mesmo ainda muito jovens,
cedendo assim as decisões administrativas aos regentes e ao Daijō-kan.[34]
O budismo esotérico das escolas de Tendai e Shingon tornou-se bastante popular durante este período, levando a que aristocratas
procurassem a "salvação" através de cerimónias e rituais budistas em tais instituições religiosas. Até então, mobilizada pela escrita
chinesa, a cultura japonesa sofreu um significativo aprimoramento, tendo como ponto central a corte imperial. O aperfeiçoamento
literário foi expressivo com a criação do Kana, uma escrita silábica, que se ajustava com a fonética japonesa. Novos géneros
literários foram estabelecidos como romances (monogatari) - salientando-se o livro Genji Monogatari de Murasaki Shikibu escrito
por volta do ano 1000 - seguidos pelos jornais, ensaios e outros documentos pessoais feitos por cortesãos como Makura no Soshi de
Sei Shonagon, escrito também por volta do ano 1000.[34]
Em 860 já poderia ser vista grande parte das características dos futuros samurais nos camposde batalha - hábeis cavaleiros no uso do
arco e flecha, bem como de katanas.[40][41] Estes militares a cavalo possuíam total confiança do "Trono do Crisântemo, estando
encarregues da segurança das cidades, assim como dos confrontos contra as revoltas que se sucedessem.[40]
No entanto, o sistema público de terras que se estendia sobre as províncias estava prestes a entrar em colapso. Em inúmeros locais
foram criadas terras privadas (shōen), as quais eram utilizadas em primeira instância pela aristocracia e pelos grandes templos. Com a
suspensão de registos familiares e a alocação de terras de cultivo no século X, os terrenos do estado foram ultimados enquanto áreas
privadas.[34] Assim, os proprietários destes terrenos elegiam os clãs e camponeses locais como seus administradores, o que resultou
na transferência do poder das terras para estes. Contudo, a existência de numerosas propriedades privadas reduziu significativamente
os impostos, chegando ao ponto em que a própria família imperial se viu forçada a adquirir terras privadas para assegurar a sua
renda.[42]
O processo de descentralização sofrido pelo governo fez com que a administração local apresentasse dificuldades, resultando numa
quebra da lei e ordem públicas.[34] Durante o século IX, o Japão sofreu uma grave crise económica e social como resultado de pragas
e fomes acompanhadas pela má nutrição em massa, epidemias e aumento da mortalidade. Com isto, numerosos distúrbios, motins e
revoltas começaram a surgir em inícios do século X. O governo tomou então a decisão de conceder amplos poderes aos governantes
de cada região, sendo que estes passaram a ter permissão para recrutar tropas de combate, que faziam uso do sabre japonês (katana),
de arqueiros (Kyujutsu) e cavalaria, alistando ainda agricultores enquanto seus simpatizantes que atuavam contra as crescentes
Ilustração de uma cena do Genji
Monogatari. Durante o período
Heian, a aristocracia foi o centro
da cultura, política e sociedade
japonesa
Consolidação da aristocracia
Ascensão da classe samurai
rebeliões conforme sua vontade. Isto veio a conceder um enorme poder político aos
governadores. Foi durante este período que se documentou pela primeira vez a palavra
"samurai", ou seja, “aqueles que servem”, isto num contexto puramente militar.[42][43]
O primeiro grande teste de equilíbrio sobre o sistema ocorreu no ano de 935, quando
uma revolta contra o governo central de Quioto, liderada pelo samurai Taira no
Masakado, descendente do príncipe Takamochi, começou a tomar graves proporções. A
princípio, a corte Heian considerou que o incidente que envolvia Masakado seria apenas
uma revolta da localidade, até que este veio a auto-proclamar-se "o novo imperador".
Respondendo a tal situação, a corte enviou um exército provincial para sufocar a revolta,
originando na morte do líder por decapitação em 940.[43] A partir deste momento e
dependendo da sua origem social, estes líderes de guerreiros começaram a definir uma
aristocracia em cada região, sendo-lhes confiado o poder, o qual passou a ser dominado
por um grupo elitista de guerreiros.[44]
Alguns aristocratas que não conseguiram cargos importantes no poder viram-se forçados
a emigrar para outras províncias, assumindo a liderança sobre os guerreiros samurai do
respectivo local. Um exemplo foram os clãs Taira, Minamoto e Fujiwara, que exerciam
na capital. Estes possuíam guerreiros que os protegiam - tal como nos templos budistas,
onde existiam monges armados (sohei) que guardavam defensivamente as suas próprias
propriedades.[42] Minamoto no Yoriyoshi, viu-se envolvido num marcante conflito da
época denominado de Guerra Zenkunen ou "guerra dos primeiros nove anos" entre 1051
e 1062. Esta foi a primeira guerra que ocorreu no país desde a batalha contra os emishi.
A disputa começou quando Abe no Yoritoki, descendente dos emishi e membro do clã
Abe, não entregou os impostos à corte imperial. Yoriyoshi teria sido enviado para
resolver o problema pessoalmente.[44] Yoriyoshi e Yoritoki chegaram de forma pacifica
a um acordo, contudo um conflito interno eclodiu no clã Abe e Yoritoki foi morto. Com
este facto, foi declarada guerra entre Abe no Sadato, filho de Yoritoki, e Minamoto. Só em 1062 é que Yoriyoshi conseguiu vencer os
Abe na batalha de Kawasaki, tendo transportado a cabeça do rebelde até Quioto como sinal de vitória. Minamoto no Yoshiie, filho de
Yoriyoshi, combateu lado a lado com o seu pai durante todo o conflito, ganhando grande reputação pelas suas proezas militares. Isso
lhe valeu o apelido de Hachimantarō ou "o filho primogénito de Hachiman, o deus da guerra".[44]
Enquanto que a crise económica e a instabilidade política iam causando confrontações entre os clãs Fujiwara, Taira e Minamoto,
tanto dentro como fora da corte, na segunda metade do século X, a família imperial restaurou o seu poder político com a ascensão ao
trono do Imperador Go-Sanjo (1068 - 1073). Este impediu o clã Fujiwara do controlo de decisões administrativas; regulou os shōen;
decidiu implementar reformas económicas sobre os obsoletos ritsuryo; e estabeleceu um sistema monárquico designado de insei
(governo enclaustrado), em que o governante nominal de todos os governos e unidades administrativas não possuía um poder prático,
senão o de simplesmente articular todos os processos. Apenas os conselheiros detinham o poder real. O imperador, ao momento de
abdicar do trono, retirar-se-ia para um templo budista, contudo mantinha a posição de regente sobre o seu sucessor, preenchendo o
vazio de poder que deixava o clã Fujiwara entre disputas internas e faccionárias. O seu sucessor, o Imperador Shirakawa (1073 -
1087), foi quem aplicou o sistema insei na sua máxima expressão ao governar enquanto imperador aposentado por mais de quarenta
anos até 1129. Assim, Shirakawa governava sobre três imperadores que não passavam de títeres do governo.[45] O imperador Toba
(1107 - 1123) havia também adoptado o sistema insei, administrando o país por mais de três décadas até à sua morte em 1156. Toba
exerceu influência sobre outros três imperadores. Neste período houve, contudo, contradições entre o imperador reinante e o
aposentado, dando lugar à autoridade militar para governar o país sobre a autoridade civil.[46]
Em 1083 eclodiu novamente um conflito armado em que Minamoto estaria envolvido, agora na Guerra Gosannen, que teve origem
sobre as diferenças entre os líderes dos antigos dirigentes e aliados dos clãs Minamoto e Kiyowara. Depois de uma feroz batalha por
três anos consecutivos, em que a corte se recusou a auxiliar o clã Minamoto, este conseguiu, contudo, sair vitorioso. Quando Yoshiie
foi a Quioto com a finalidade de conseguir uma recompensa, tal desejo foi recusado pela corte, que recriminou os impostos em atraso
que o mesmo devia, dando assim início a um claro distanciamento entre a corte e Yoshiie. Enquanto isso, os seus rivais, os Taira,
Mon do clã Minamoto, um dos
protagonistas do período Heian
Mon do clã Taira, inimigo do clã
Minamoto e um dos clãs mais
importantes do período Heian
desfrutavam cada vez mais de uma boa relação com a corte imperial devido às suas façanhas na região oeste do país.[47] A rivalidade
entre os clãs Minamoto e Taira foi se intensificando e tornou-se cada vez mais evidente. Em 1156, depois da morte do imperador
Toba, teve início um conflito entre os dois clãs, quando Minamoto no Yoshitomo se juntou a Taira no Kiyomori contra o seu pai
Minamoto no Tameyoshi e o seu irmão Minamoto no Tametomo, durante a revolta de Hogen. A batalha foi breve, Tameyoshi acabou
por ser executado e Tametomo castigado com o desterro. Esta revolta pôs em causa o poder do sistema insei, quando o retirado
Imperador Sutoku foi vencido pelo governante Imperador Go-Shirakawa, e também sentenciou o destino final do clã Fujiwara, que
foi banidodo poder. Assim, o domínio foi monopolizado exclusivamente pelos clãs Taira e Minamoto.[48]
Em 1159, houve outro confronto, conhecido como Rebelião Heiji, onde Yoshitomo enfrentou Kiyomori. A superioridade do clã Taira
era de tal forma proeminente que os membros do clã Minamoto fugiram para se salvarem. Os Taira perseguiram-nos e Yoshimoto foi
capturado e morto. Dos membros do grupo inicial da família Minamoto, restava um número insignificante deles, tendo o clã sido
aniquilado quase por completo. Em 1167 Taira no Kiyomori recebeu do imperador o título de Daijō Daijin (Primeiro Ministro), o
qual constituía o mais alto posto que o imperador poderia conceder, tornando-se então o governante do país e o primeiro governador
militar da história do Japão. Entretanto, na tentativa de aderir ao poder, Kiyomori entrou um conflito com o imperador Go-
Shirakawai, que intentava exercer controlo através do sistema insei, em 1158. No ano 1177, o imperador planeou um golpe de estado
que acabou por fracassar, o que resultou consequentemente no seu exílio e na supressão do seu poder político. Kiyomori nomeou em
1178 como herdeiro ao trono o seu neto ainda criança, que em 1180 assumiu o poder com o nome de imperador Antoku. Isto motivou
a ira dos opositores do clã Taira, dando origem às Guerras Genpei.[48]
As Guerras Genpei (源平合戦, Genpei kassen ou Genpei gassen?) foram uma
série de guerras civis que evolveram os clãs mais influentes da acção política
do país, designadamente os clãs Taira e Minamoto. Estas guerras ocorreram
entre 1180 e 1185.[49] Em 1180, instalaram-se no país duas revoluções
independentes, que envolveram duas gerações distintas do clã Minamoto. Uma
das revoluções sucedeu-se em Quioto e foi chefiada pelo veterano Minamoto
no Yorimasa, enquanto que a outra ocorreu na província de Izu, comandada
pelo jovem Minamoto no Yoritomo. Ambas as revoltas foram apaziguadas
com relativa facilidade. Na província de Izu, Yoritomo foi forçado a fugir de
Kanto, enquanto que em Quioto, Yorimasa foi vencido na batalha de Uji, onde cometeu seppuku antes de ser capturado.[50]
Durante dois anos, ambos os lados foram se envolvendo em pequenos conflitos. Em 1183, os Taira decidiram enfrentar Minamoto no
Yoshinaka, primo de Yoritomo. Depois de derrotar os Taira na batalha de Kurikara, Yoshinaka dirigiu-se com o seu exército para o
local onde se encontrava Yoritomo. As tropas de Yoshinaka e de Yoritomo estavam envolvidas na batalha de Uji em 1184. Yoshinaka
perdeu o confronto e tentou escapar, contudo foi capturado em Awazu, onde foi decapitado. Com esta vitória, o corpo principal dos
Minamoto focou os seus esforços em derrotar os seus principais inimigos, os Taira.[50] Yoshitsune dirigiu então o seu exército ao
encontro do clã em nome do seu irmão mais velho, Yoritomo, que permanecera em Kamakura. Por fim, Minamoto reivindicou a
vitória na Batalha de Dan no Ura. Entretanto, Yoritomo ordenou que os seus homens perseguissem o seu irmão Minamoto no
Yoshitsune, pois este era considerado como uma forte ameaça e essencialmente um rival. Yoshitsune foi derrotado e morto na batalha
de Koromogawa em 1189.[51]
Em 1192, Minamoto no Yoritomo auto-proclamou-se xogum[51] - denominação esta que até então tinha sido apenas temporária, e
tornou-se um título militar de alto nível. Com isto foi instituiu o xogunato enquanto figura permanente, que duraria cerca de 700 anos
até à restauração Meiji. Com o novo ideal xogum, o imperador converteu-se num mero espectador quanto às questões políticas e
económicas do país,[49] enquanto que os samurais se tornaram efectivos.[51]
Guerras Genpei
Cena das Guerras Genpei (painel do
século XVII)
Período Kamakura
Yoritomo estabeleceu o povo costeiro de Kamakura como a principal sede do
xogunato, tendo assim este período recebido o seu nome. A corte imperial
concedeu a Yoritomo o poder de nomear os seus próprios vassalos de
protectores provinciais (Jito) e mordomos (shugo), responsáveis pela gestão
das propriedades privadas. Em paralelo, a corte imperial continuou elegendo
funcionários provinciais, assim como proprietários de imóveis enquanto
administradores da respectiva terra. Posto isto, a estrutura política durante o
período Kamakura apresentou uma dualidade, pois enquanto a administração
civil era subvencionada pela corte imperial, a administração feudal era
custeada pelo xogunato.[52]
Após apenas três xoguns do clã Minamoto, e depois da morte do último, o clã
não possuía outros herdeiros. Hōjō Masako, viúva de Yoritomo, tomou então a
decisão de adoptar uma criança de um ano de idade, descendente de uma
família do clã Fujiwara, e nomeou-o xogum. Assim, o clã Hōjō se perpetuaria
no poder por várias décadas ao eleger uma criança a xogum a qual foi
descartada assim que cumpriu vinte anos de idade, aproveitando-se de um
estado fantoche para exercer o controlo do país.[53] Por este motivo, em 1219,
o aposentado imperador Go-Toba, que procurava restaurar o poder imperial
que detinham antes do estabelecimento do xogunato, acusou os Hōjō de
malfeitoria. As tropas imperiais mobilizaram-se, dando lugar à guerra Jōkyū
(1219-1221), a qual culminaria com a terceira batalha de Uji. Durante este conflito, as tropas imperiais foram derrotadas e o
imperador Go-Toba exilado. Com a derrota de Go-Toba, confirmou-se o governo dos samurais sobre o país.[54]
Depois de Kublai Khan reclamar o título de imperador da China, decidiu
invadir o Japão com a finalidade de submeter o país ao seu domínio. Esta foi a
primeira oportunidade dos samurais para testarem as suas forças contra
inimigos estrangeiros.[55]
A primeira invasão ocorreu em 1274, quando as tropas mongóis
desembarcaram em Hakata (actual Fukuoka). Durante esta batalha as tropas
japonesas enfrentaram uma técnica bastante diferente no uso do arco e flecha
daquilo a que estavam acostumados. Os mongóis arremessavam flechas a
grandes distâncias, gerando "nuvens de setas", enquanto que os arqueiros
japoneses efectuavam um tiro único e de curta distância contra os oponentes.
Outra grande diferença entre as duas formas de combate encontrava-se no uso
de catapultas do exército mongol. Entretanto, durante a noite do dia da batalha,
uma forte tempestade danificou significativamente a frota invasora, obrigando-
a a regressar à Coreia para rearmar o seu exército. Depois da retirada do
exército inimigo, os japoneses tomaram uma série de medidas preventivas,
como foi exemplo a construção de muros nos pontos mais vulneráveis da
costa, assim como o posicionamento de um guarda efectivo em cada um
deles.[56]
A segunda tentativa de invasão teve lugar em 1281.[57] Os samurais
efectuaram ataques aos navios inimigos, tais como a pequenas balsas que tinham uma capacidade limitada de transportar cerca de
doze guerreiros,[58] isto com o propósito de impedir que as tropas inimigas apeassem na costa. Após uma semana de combates, um
emissário imperial foi requerido para solicitar a Amaterasu, a deusa do sol, que intercedesse pelo exército japonês.[57] Um tufão
atingiu a frota mongol e a afundou quase por completo. Isso deu origem ao mito do Kamikaze (神風 , lit. "Vento Divino"?),[55]
Minamoto no Yoritomo, fundador do
Xogunato Kamakura em 1192.
Estabeleceu o primeiro regime militar em
que os samurais governavam
Invasões mongóis do Japão
Um samurai atacado por diversos
arqueiros e explosivos lançados por
catapultas durante as invasões dos
mongóis contra o Japão
Samurais atacam barcos mongóis durante
a invasão de 1281
considerado como um sinal de que o Japão teria sido escolhido pelos deuses e, portanto, estes seriam responsáveis pela sua
segurança[59] e sobrevivência das forças japonesas.[60] Os poucos sobreviventes mongóis decidiram aposentar-se, determinando a
vitória do Japão.[57]
No início do século XIV o clã Hōjō, que se encontrava em decadência,enfrentou uma tentativa de restauração imperial, agora sob a figura do
imperador Go-Daigo (1318-1339). Tendo conhecimento de tais eventos
políticos, o clã Hōjō enviou um exército de Kamakura, para impedir o sucesso
do imperador. Frente a esta situação Go-Daigo fugiu para Kasagi, levando a
regalia imperial com ele. O imperador Go-Daigo procurou refugio por entre os
monges guerreiros que o acolheram e se prepararam para um possível ataque
inimigo.[61]
Após tentativas de negociação entre os Hōjō e o imperador para que este
abdicasse do poder, e uma vez a sua recusa, decidiu-se então que outro
membro da família imperial subisse ao trono. Contudo, visto que o imperador
havia levado consigo a insígnia real, não foi possível realizar a tradicional
cerimónia.[61] Kusunoki Masashige - um importante guerreiro samurai que
veio a tornar-se um modelo de referência para os futuros samurais da época[62]
- combateu contra o imperador Go-Daigo num yamashiro (castelo japonês). No entanto, com a superioridade numérica do exército do
imperador somada à vantagem da topografia do local, foi possível constituir uma eficaz defesa contra o ataque. Em 1332, o castelo
desmoronou e Masashige decidiu retirar-se para dar continuidade à batalha no futuro. O imperador foi capturado e levado para a sede
dos Hōjō localizada em Quioto, tendo sido mais tarde exilado nas ilhas Oki.[63]
Construído um castelo em Chihaya, o qual possibilitava uma defesa superior comparada com o último, o exército liderado por
Masashige foi atacado pelos Hōjō, porém a ofensiva do clã foi imobilizada. A forte defesa de Masashige motivou o imperador Go-
Daigo a retomar novamente a batalha em 1333. Tomando conhecimento do retorno do imperador, os Hōjō decidiram enviar um dos
seus principais generais, Ashikaga Takauji. Porém, Ashikaga decidiu aliar-se ao exército do imperador e definiu o lançar de um
ataque juntamente com o exército ao quartel-general dos Hōjō em Rokuhara.[63]
A traição de Ashikaga trouxe graves consequências aos regentes, e o exército do general foi dizimado. Entretanto, golpe definitivo
surgiu pouco depois,[64] quando um guerreiro chamado Nitta Yoshisada se uniu aos partidários imperiais, aumentando as suas forças.
Nitta e o seu exército partiram para Kamakura e venceram os Hōjō.[65][66]
O período Muromachi (室町時代, Muromachi-jidai?) envolve a era do xogunato Ashikaga (足利幕府, Ashikaga bakufu?), sob o
regime militar feudal que se encontrava em vigor desde 1336 até 1573. O referente período deve o seu nome à área onde o terceiro
xogum Yoshimitsu havia estabelecido a sua residência. Depois de ter auxiliado o imperador Go-Daigo a conquistar novamente o seu
trono, Ashikaga Takauji acreditava receber uma recompensa substancial pelos seus serviços. No entanto, por considerar que a
retribuição não seria o suficiente e tendo em conta a insatisfação da classe samurai com este novo governo, decidiu então revoltar-
se.[65][66] Descendente do clã Minamoto, Ashikaga podia ascender ao trono imperial. Assim, com o intento de impedir tal
acontecimento, o imperador decidiu agir rapidamente, enviando um exército contra Takauji, que o seguiu até à ilha Kyushu. Porém
Takauji não foi derrotado e regressou ao trono em 1336. O imperador ordenou então que Masashige enfrentasse as tropas rebeldes em
Minatogawa (agora Kobe), mas foi novamente derrotado, resultando na vitória decisiva para Takauji. Masashige decidiu cometeu
seppuku antes de ser capturado pelo exército de Takauji. Entretanto, o xogum nomeou o príncipe imperial Yutahito de imperador
(Imperador Komyo). Go-Daigo foi para a cidade de Yoshino e, durante os seguintes 50 anos, duas cortes imperiais foram efetivas: a
Corte do Sul em Yoshino e a Corte do Norte em Kyoto.[67] Esta pendência ficou conhecida como período Nanboku-chō (南北朝時
代, Nanbokuchō-jidai?, literalmente "Cortes do Norte e do Sul"). A situação durou até 1392, graças às habilidades diplomáticas de
Restauração Kemmu
Estátua de Kusunoki Masashige em
Tóquio, um samurai de suma importância
nas guerras Nanbokuchō
Período Muromachi
um dos maiores governantes da história do Japão, o xogum Ashikaga
Yoshimitsu, quando as duas linhagens se reconciliaram e a Corte do Sul
cedeu.[66]
Com a divisão do governo imperial perdeu-se todo o poder político efetivo,
uma vez que a Corte do Norte recebia o apoio do xogunato e a Corte do Sul
controlava apenas alguns territórios do Japão. O Xogunato Ashikaga erigiu
enquanto governo central, apesar de ter sido um governo bastante débil, ao
contrário do Xogunato Kamakura.[66] Isto deveu-se ao facto de os guardas das
províncias do Japão não serem simples oficiais, pois tinham poder suficiente
para organizarem grupos elitistas de samurais e exércitos baseados no conceito
entre senhor e vassalo, que foi progredindo até aos senhores feudais que
detinham um controlo independente sobre várias regiões. Este novo tipo de
líder foi chamado de daimió (大名? lit. "Senhor das Terras").[66][68]
Após um breve período de relativa estabilidade, desenvolveu-se uma certa abstinência política durante o xogunato de Ashikaga
Yoshimasa, neto do famoso Yoshimitsu Ashikaga. Yoshimasa havia-se dedicado por longo prazo às questões artísticas e culturais,
pelo que se encontrava completamente ignoto sobre a situação económica e política do país. Com isto, os proprietários aproveitaram-
se deste oportuno momento e começaram uma disputa interna pelo poder e pelas terras, acontecimento que ficou conhecido como a
Guerra de Ōnin (応仁の乱, Ōnin no Ran?). De uma disputa entre Hosokawa Katsumoto e Sōzen Yamana escalou para uma guerra
que envolveu todo o país, incluindo o Xogunato Ashikaga e uma série de daimyos de várias regiões do Japão. Este período da história
que se estabeleceu entre 1467 e 1568 ficou conhecido como o período Sengoku (japonês: 戦国時代, sengoku jidai). É justamente
neste clima de instabilidade e inúmeros conflitos que a participação dos samurais teve significante importância.[69]
Das figuras mais importantes deste período destacam-se Takeda Shingen e Uesugi Kenshin, cuja lendária rivalidade serviu de
inspiração para várias obras literárias. Os exércitos de Shingen e Kenshin enfrentaram-se nas famosas batalhas de Kawanakajima
(1553 - 1564). Apesar de a maioria das batalhas não passarem de meras guerrilhas, a quarta batalha de Kawanakajima, que ocorreu
em 1561, teve grande importância na aplicação de várias tácticas de combates. Esta batalha resultou em grandes perdas para ambos
os lados, distinguindo-se de qualquer outra batalha do período Sengoku. O confronto corpo a corpo entre os dois líderes resultou num
desfecho em igualdade de circunstâncias no final do combate.[70]
A guerra derrubou a ordem do estado antigo, assim como o sistema de territórios privados, contudo esclareceu a capacidade da classe
guerreira e camponesa perante tais eventualidades, uma vez que teriam sido instituídas entidades autónomas locais. Da mesma forma,
as cidades edificadas nas principais vias de circulação do Japão passaram a ser administradas por cidadãos armados. Os daimyos que
conseguiram agrupar estas localidades autónomas ao seu poder político obtinham um maior estatuto e poder. Esta dinâmica, com o
surgimento de novos centros políticos e económicos através do país, fez com que a sociedade do período Sengoku se tornasse
bastante diferente da que anteriormente existia, onde o poder estava antes concentrado apenas na capital.[71]
Com estes excessivos confrontos internos pelo desejo de mais poder e mais terras, era só uma questão de tempo até que um poderoso
daimyo tentasse alcançar Kyoto, com o objetivo de derrubar o xogum, como aconteceu em 1560. Acompanhado por um imenso
exército, Imagawa Yoshimoto (1519-1560) marchou em direcção à capital com a finalidade de derrubar o então líder.[71] No entanto,
ele não contava em enfrentar as tropas de Oda Nobunaga, um daimyo secundário que se encontrava em desvantagemem relação a
Imagawa numa proporção de doze soldados para um. Yoshimoto, confiante do seu poder militar, havia celebrado a vitória antes
mesmo de a batalha terminar. Oda Nobunaga conseguiu atacá-lo quando este se encontrava desprevenido durante uma das suas
habituais celebrações na Batalha de Okehazama. Enquanto Yoshitomo saia da sua tenda justo à causa da agitação que ocorria no
exterior, foi capturado e em seguida morto nesse mesmo local. Nobunaga passou então de um simples daimyo para uma figura de
destaque na conjuntura política e militar do país.[71]
O Kinkakuji, o "Templo do Pavilhão
Dourado", é um símbolo da cidade de
Kyoto. Foi construído pelo Xogum
Ashikaga Yoshimitsu em 1397
Período Sengoku (1467-1568)
Apesar do proeminente estado de guerra, o desenvolvimento de vários factores
culturais no Japão foi evidente neste período na arquitetura, pintura, música e
poesia. O terceiro xogum Yoshimitsu foi um importante promotor das artes no
Japão, aspecto este fulcral que estimulou a origem da cultura Kitayama durante
o seu reinado, que perdurou entre a segunda metade do século XIV e inícios do
século XV. Este período ficou marcado pelo surgimento dos teatros Noh e
Kyogen e pela distinta construção do pavilhão Kinkaku-ji (em japonês 金閣寺,
Templo do Pavilhão Dourado).[67][72] Na segunda metade do século XV, o
oitavo xogum, Ashikaga Yoshimasa, promoveu a cultura Higashiyama,[73]
onde o zen budismo e a estética wabi-sabi influenciaram a harmonização
cultural entre a corte imperial e a classe samurai, assim como incentivaram o
florescimento de expressões artísticas, como o surgimento da cerimónia do chá
(chadō ou sadō), a Ikebana, o Kōdō, o renga, entre outras.[72]
Durante a fase final do período de Sengoku deu-se a chegada dos primeiros
europeus, oriundos de Portugal, ao Japão. Isto ocorreu em 1543, quando um navio de portugueses aportou na costa da ilha de
Tanegashima (a sul de Kyushu). As armas de fogo trazidas pelos exploradores portugueses foram as primeiras a serem introduzidas
no Japão. Em 1549, o jesuíta espanhol Francisco Xavier chegou a Kyushu e destacou-se como um importante difusor do cristianismo
no Japão. Nos anos seguintes, comerciantes portugueses, holandeses, ingleses e espanhóis chegaram ao Japão enquanto missionários
jesuítas, franciscanos e dominicanos. Com isto, os visitantes europeus denominados de nanban (南蛮 literalmente: "Bárbaros do
Sul") desembarcaram na região sul do arquipélago japonês e rapidamente desenvolveram um conceito elementar relativamente aos
japoneses, considerando-os enquanto sociedade feudal, providos de um grande desenvolvimento urbanístico e uma sofisticada
tecnologia pré-industrial.[72]
As armas de fogo trazidas pelos portugueses foram uma importante inovação tecnológica e militar que ocorreu neste período. A
produção deste tipo de armas começou a ser efectiva em inúmeras áreas do Japão, tendo sido um factor decisivo com a utilização do
Arcabuz na batalha de Nagashino em 1575. O cristianismo espalhou-se pelo país muito rapidamente, sobretudo a oeste do
arquipélago, refletindo-se na conversão religiosa por parte de alguns daimyos da região. No entanto, as autoridades japonesas
consideraram o cristianismo como uma eventual ameaça, que poderia facilmente desencadear uma possível conquista europeia sobre
o Japão. Assim, foi proibida a prática desta doutrina religiosa em toda a nação, recorrendo-se à violência como método exemplar e
impiedoso. Isto resultou no corte gradual entre as relações comerciais do Japão com o resto do mundo (excepto com a China e Países
Baixos) nos começos do período Edo.[72]
Em 1573 Oda Nobunaga (1534 - 1582) marchou em direção a Kyoto para derrotar o xogum Ashikaga Yoshiaki. Este acontecimento
marcou o início do que é denominado de período Azuchi-Momoyama (安土桃山時代,, Azuchi Momoyama jidai?), o qual recebeu o
nome de dois emblemáticos castelos da época, nomeadamente os castelos Azuchi-jō e Fushimi-Momoyama. Uma semana depois,
após conseguir a retirada do xogum Yoshiaki, Oda Nobunaga convenceu o imperador a alterar o nome da era para Tenshō enquanto
símbolo do estabelecimento de um novo sistema político. Da mesma forma, o imperador concedeu-lhe o título de Udaijin (太政大
臣? lit. "Grande ministro do estado") tendo assim permanecido por quatro anos.[74]
Nobunaga nasceu em 1534 na província de Owari e até 1560 havia sido um daimyo secundário. Em 1560, alcançou fama e
reconhecimento ao vencer o vasto exército de Imagawa Yoshimoto durante a batalha de Okehazama. Depois de colaborar com a
ascensão de Yoshiaki ao poder, Nobunaga lançou uma campanha com o propósito de tomar o controlo da parte central do país. Em
1570 derrotou os clãs Azai e Asakura, durante a batalha de Anegawa, e em 1575 derrotou a lendária cavalaria do clã Takeda na
batalha de Nagashino. Outros dos seus principais inimigos foram os monges guerreiros Ikko-ikki, membros da seita budista de Jōdo-
Desenvolvimento cultural e contacto com o ocidente
Grupo de Nanban portugueses.Biombo de
Kano Domi (finais do século XVI)
Período Azuchi-Momoyama
Oda Nobunaga
Shinshu, uma rivalidade que perdurou durante doze anos, dez dos quais
persistiu o mais duradouro cerco da história, o cerco da fortaleza Ishiyama
Hongan-ji.[75]
Em 1576, Nobunaga mandou construir o castelo de Azuchi, o qual se veio a
tornar o seu local de operações militares. Em 1582, Oda dominava quase toda
a parte central do Japão e as suas principais vias, entre as quais as estradas
Tōkaidō e Nakasendo. Assim, decidido a estender o seu domínio territorial
para oeste, dois dos seus principais generais ficaram encarregues de completar
a tarefa; enquanto que Toyotomi Hideyoshi pacificaria a parte sul da costa
oeste do Mar Interior de Seto, em Honshu, Akechi Mitsuhide marchou para o
litoral norte do Mar do Japão. Durante o verão do mesmo ano, Hideyoshi
encontrava-se detido no cerco do Castelo de Takamatsu, controlado pelo clã
Mōri. Hideyoshi solicitou reforços a Nobunaga, que respondeu à solicitação e
ordenou que Mitsuhide avançasse com o seu exército para apoiar Hideyoshi.
Contudo, contrariamente ao acordo inicial, Nobunaga permaneceu no templo
Honnō-ji para sua própria segurança. Ocorrente da situação Mitsuhide, decidiu
então regressar a Kyoto para atacar e incendiar o templo no que ficou
conhecido como o Incidente de Honnō-ji. Como resultado, Nobunaga acabou
por cometer seppuku.[76]
Toyotomi Hideyoshi (1536 - 1598)[76] teve um importante papel político e militar no
Japão. Distinto pela sua destreza no campo de batalha, acabou por se tornar num dos
principais generais do clã Oda.[77]
Durante o Incidente de Honnō-ji, Hideyoshi encontrava-se no castelo Takamatsu
quando recebeu a notícia da morte do seu mestre. Imediatamente realizou tréguas
com o clã Mori e regressou a Kyoto numa marcha forçada para defrontar o exército
do recém auto-nomeado xogum Akechi Mitsuhide. O confronto ocorreu nas margens
do rio Yodo, perto do pequeno povoado designado Yamazaki, onde a batalha recebeu
o seu nome. Hideyoshi saiu vitorioso e Mitsuhide foi obrigado a partir em retirada,
porém acabou por ser assassinado por um grupo de camponeses, pondo fim ao seu
governo de apenas 13 dias.[77]
O facto de ter vingado a morte do seu antigo mestre concedeu-lhe a previsível
oportunidade de se tornar a mais alta autoridade militar do país. Derrotou e
enfrentou todos os rivais que contra ele se opuseram, por cerca de dois anos. Em
1585, e depois de ter garantido o controlo sobre o centro do Japão, dirigiu-se para
oeste, conquistando territórios para além do escopo que Nobunaga havia
conseguido.[78] Em 1591, depois de unificar o Japão, Hideyoshi tentou conquistar a China. Para isso, o regente solicitou o apoio da
dinastia Joseon da Coreia, para que garantisse uma passagem seguraaté à China. Porém, o governo coreano negou tal assistência. A
Coreia foi então palco de duas invasões massivas por parte das tropas japonesas entre 1592 e 1598, originando na morte de
Hideyoshi, que durante todo esse tempo havia permanecido no Japão.[79]
Uma vez que Hideyoshi não possuía descendência real e nem sequer provinha de qualquer um dos históricos clãs japoneses, não lhe
foi nunca concedido o título de xogum. Em compensação, recebeu uma designação de menor importância em 1595, nomeadamente a
de Kanpaku (関白? regente) e posteriormente a de Daijō Daijin (太政大臣?) em 1586. Finalmente adoptou o título de Taikō (太閤?
"Kanpaku retirado").[80]
Oda Nobunaga depôs ao xogum Ashikaga
Yoshiaki terminando assim o Xogunato
Ashikaga
Toyotomi Hideyoshi
Retrato de Toyotomi Hideyoshi
Tokugawa Ieyasu (1542-1616)[81] passou a maior parte da sua infância como
refém na corte de Imagawa Yoshimoto, uma vez que o seu clã era feudatário
dos Imagawa. Após a vitória de Oda Nobunaga sobre Yoshimoto, inúmeros
daimyo retiraram-se do país e outros tornaram-se independentes ou
declararam-se aliados do clã Oda, como o ocorrido com o próprio Ieyasu.[82]
Sob as ordens de Nobunaga em 1564, leyasu combateu contra os Ikko-Ikki da
província de Mikawa. Em 1570 lutou na batalha de Anegawa ao lado das
forças de Nobunaga. Em 1572 foi obrigado a participar na batalha de
Mikatagahara - um dos seus maiores desafios da sua vida militar - onde o seu
exército foi derrotado pela cavalaria de Takeda Shingen, que viria a morrer no
ano seguinte depois de sofrer um tiro de arcabuz.[82] Em 1575, Tokugawa
Ieyasu esteve presente na batalha de Nagashino onde o clã Takeda foi
derrotado e, a partir de então, concentrou-se somente na consolidação da sua
posição militar, mesmo depois de Toyotomi Hideyoshi adquirir o controlo do
país.[83]
Uma vez que o feudo de Ieyasu se situava no centro do Japão, este evitou assistir a campanhas de pacificação em Shikoku e Kyushu.
Apesar de tudo, foi forçado a enfrentar o clã Hōjō tardio (後北条氏 , Go-Hōjō-shi?) no Cerco de Odawara (1590). Alcançada a
vitória sobre os Hōjō, Hideyoshi concedeu a Ieyasu as terras penhoradas, transferindo a capital para Edo, actual Tóquio). A sua nova
localização em Kyushu, possibilitou-lhe evitar participar nas invasões japonesas na Coreia, guerra esta que exauriu
significativamente os exércitos dos seus principais rivais.[84]
Após a morte de Hideyoshi, Tokugawa Ieyasu começou a estabelecer uma série de alianças com importantes figuras do país através
de casamentos combinados. Contudo, Ishida Mitsunari, um dos cinco bugyō (奉行 ? magistrado), desenvolveu alianças contra
Ieyasu.[85]
A 22 de agosto de 1599, enquanto Ieyasu se preparava para enfrentar o clã de um rebelde daimyo chamado Uesugi Kagekatsu,
Mitsunari decidiu agir sob a ajuda de vários apoiantes, incluindo outros bugyō e três dos quatro tairō (大老? lit. "Grande ancião").
Assim, haviam criado uma suposta conspiração contra Ieyasu para o assassinarem, acusando-o de treze distintas funções ilegais e
condenáveis.[85] Entre as acusações destacam-se acções ilícitas, dando em matrimónio filhos e filhas com poder político. Ieyasu foi
inclusivamente incriminado de ter tomado posse do castelo de Osaka, antiga residência de Hideyoshi, como que se a ele pertencesse.
Enviada uma carta a Ieyasu, este interpretou-a como uma declaração de guerra. Praticamente todos os daimyos do país se alistaram
para o confronto, tanto o "Exército do Oeste" de Mitsunari como o "Exército do Leste" de Ieyasu.[86]
Os dois exércitos enfrentaram-se naquela que é conhecida a Batalha de Sekigahara (関ヶ原の戦い, Sekigahara no tatakai?), que
teve lugar na vila Sekigahara (da província de Gifu) a 21 de outubro (15 de setembro) no antigo calendário chinês.[87] Ieyasu saiu
vitorioso, depois de vários generais do "Exército do Leste" decidirem mudar de lado no decorrer do conflito. Ishida Mitsunari foi
forçado a fugir, no entanto acabou por ser capturado e decapitado em Kyoto.[88] Com esta vitória, Ieyasu tornou-se a maior figura
política e militar do país.
Tokugawa leyasu
Retrato de Tokugawa Ieyasu
Batalha de Sekigahara
Vitória de Ieyasu durante a Batalha de Sekigahara, dando início ao Xogunato Tokugawa, que permaneceu mais de
250 anos no poder
O Período Edo (江戸時代, Edo-jidai?), também
conhecido como Período Tokugawa (徳川時代 ,
Tokugawa-jidai?) é um período da história do
Japão que se estende desde 1603 até 1868. Esta
época define o Xogunato Tokugawa, também
denominado pelo seu nome original japonês Edo
bakufu (江戸幕府?), o qual foi o último xogunato
que deteve poder no Japão.
Em 1603, Ieyasu foi oficialmente nomeado
xogum pelo imperador Go-Yozei, ocupando o
lugar por apenas dois anos, pois em 1605 havia
decidido abdicar da posição em favor do seu filho Hidetada. Adquirindo o título de Ōgosho (大御所? "Xogum enclausurado"),
Ieyasu manteve assim o controlo governamental do país.[89] Enquanto isso, Ōgosho foi compelido a enfrentar a ameaça de Toyotomi
Hideyori, uma vez que alguns partidários alegavam que este seria o legítimo sucessor do governo. Assim, inúmeros samurais e ronins
se aliaram a Hideyori, contrapondo-se ao xogunato, o que resultou em duas batalhas abreviadas do Cerco de Osaka. Em 1614, sob a
liderança de Ōgosho Ieyasu e Xogum Hidetada, os Tokugawa comandaram um imenso exército até ao castelo de Osaka,
acontecimento este denominado de "O cerco de inverno de Osaka".[90] Sugere-se que Ieyasu havia realizado um acordo com
Yodogimi, mãe de Hideyori, consentindo que as tropas de Tokugawa regressassem a Sunpu. Contudo, Hideyori recusou-se a
abandonar novamente o castelo, tendo sido cercado, situação esta que ficaria conhecida como "Cerco de verão de Osaka".[91] Por
fim, em finais de 1615, o castelo de Osaka foi destruído durante a batalha de Tennōji[92], onde inúmeros defensores morreram no
confronto, incluindo o próprio Hideyori, que cometeu seppuku. Com o clã Toyotomi exterminado, o domínio dos Tokugawa sobre o
Japão estava agora livre de sérias ameaças.[93]
A unificação do país durante o período Azuchi-Momoyama permitiu ao Japão tornar-se um país mais pacífico. No período Edo a
estrutura social havia-se consolidado, estabelecendo-se três classes sociais; a classe samurai governante, a agrícola e a do cidadão
(artesãos, mercadores e comerciantes). A partir do período Momoyama, a pacificação e o aumento de produção de ouro e prata
concederam condições de vida mais estáveis sobre as classes sociais por cerca de dois séculos e meio, beneficiando um
desenvolvimento de habilidades profissionais sobre a população em geral.[94] A classe samurai foi organizada de acordo com um
sistema administrativo eficiente e legal, assegurando avanços em vários campos da erudição, enquanto que os agricultores e cidadãos
Período Edo
Recepção dos daimyos no Castelo de Edo com a aplicação da
política sankin kōtai, que lhes permitiu o controlo do xogunato,
forçando-os a adquirir dupla residência que variou entre Edo e Han,
o "sequestro" das suas famílias em Edo e o custo de transporte
entre os dois locais.Biombo de Kyosai Kiyomitsu (1847).
comuns adquiriram condições de vida mais favoráveis. No século XVII, a produção de arroz duplicou e tornou-se significante a sua
extensão no mercado de cada cidade. Com o desenvolvimento industrial, foi alcançado um elevado nível de prosperidade em
inúmeras cidades e o poder económico dos comerciantes depressa ultrapassou o dos samurais.[95][96]
Quando Ieyasu assumiu o poder, o Japão
encontrava-se no esplendor do período comercial
Nanban, e apesar do comércio com a Europa ter
sido autorizado, as acções políticas do governante
encontravam-se sob conspecto. Em 1614, Ieyasu
realizou a primeira viagem transoceânica para o
Ocidente com a embarcação à vela galeão San
Juan Bautista, numamissão liderada por Hasekura
Tsunenaga. Entre 1604 e 1636, o xogunato havia
então permitido várias permutas comerciais em
diversas regiões da Ásia, utilizando-se de 350
Shuinsen.
Contudo, a contínua expansão do cristianismo era
considerada um "problema" por parte do
xogunato, visto serem cada vez mais evidentes as relações comerciais entre daimyos cristãos de Kyushu e comerciantes europeus.
Assim, a percepção de que a presença espanhola e portuguesa no Japão iria facilmente desencadear um processo de conquista
semelhante ao ocorrido no Novo Mundo era manifestamente provável. Calculoso, o xogunato considerou que a atividade dos
europeus era um frontispício que ocultaria a intenção de uma conquista política. Em 1612, o regime obrigou a que os vassalos e
residentes de propriedades do clã Tokugawa repudiassem o cristianismo. Então, em 1616 foi restringido o comércio fora das cidades
de Hirado e Nagasaki; em 1622 foram executados 120 missionários; em 1624 os espanhóis foram desapossados do arquipélago do
Japão e em 1629 foram executados milhares de pessoas que se converteram ao cristianismo.[96]
Durante o governo do terceiro xogum Tokugawa, Iemitsu, foi registada a primeira grande fome do período, que perdurou desde 1630
até 1640 e 1641.[97] Isto resultou em inúmeros protestos por parte dos agricultores em 1632, 1633 e 1635. A rebelião Shimabara de
1637 até 1638 foi a consequência mais dramática da deteriorada relação com o governo devido a esta crise,[98] onde camponeses
católicos enfrentaram o numeroso exército do governo. No entanto, e apesar deste protesto não se fundamentar em motivos religiosos
nem políticos, este acontecimento aparentemente motivou Iemitsu a restringir definitivamente o cristianismo no Japão, ao emitir uma
ordem em 1639 que proibiu a prática da religião no país. Assim, sacerdotes portugueses ficaram impedidos de entrar no Japão, assim
como japoneses interditos de saírem do país - processo este controlado sob a consequência de pena de morte.[99] Durante este período
de isolamento, conhecido como sakoku (鎖国 ?), as relações comerciais com todas as nações europeias foram obstruídas, com
excepção dos Países Baixos, que permitiria comércio ativo apenas em Dejima. Todavia, o Japão continuou a manter relações
comerciais com a China e Coreia, ainda que limitadas.[100]
Com o xogunato, Tokugawa estabeleceu uma estrutura de poder equilibrada, conhecida como Bakuhan (o xogunato e os feudos), em
que o referente regime governava diretamente a cidade de Edo (sede do governo militar), enquanto que os daimyos governavam os
seus feudos.[101] Depois da pacificação, vários samurais haviam perdido os seus bens essenciais e suas terras, o que refletiu numa
redução do número de daimyos (cerca de 260 até ao século XVIII), uma vez consideradas as limitadas escolhas a eles disponíveis -
ou deixavam suas espadas tornando-se agricultores, ou se tornavam vassalos de um daimyo ou de um xogum (hatamoto). Os daimyos
foram também parcialmente controlados pelo xogunato quando imposta a política Sankin-kōtai (1635-1862), em que as famílias dos
daimyos eram obrigadas a viver na cidade de Edo, enquanto que estes estariam submetidos ao dever de alternar as suas residências
Sakoku
Vista do porto de Nagasaki e da ilha de Dejima (abaixo do centro).
Observam-se dois barcos holandeses (à direita) e vários juncos
chineses estacionados no porto e um cerca de Dejima. O Império
Chinês e os Países Baixos foram os únicos a comercializar com
Japão durante o sakoku.Pintura de 1820.
Sociedade e política
anualmente entre Edo e o seu feudo, causando custos adicionais para manter duas habitações e compensando distâncias significantes
entre estas. Assim, os daimyos estavam limitados no poder económico e militar, evitando-se assim qualquer tentativa de revolta
contra o xogunato.[102]
Além dos membros do bakuhan, o imperador e os cortesãos (kuge) tiveram também uma posição privilegiada. Abaixo destes
encontravam-se as "quatro classes sociais" (身分制 , mibunsei?), ou seja, os samurais no topo da tabela (com cerca de 5% da
população), depois os agricultores (com cerca de 80%), seguindo-se os artesãos e por último os comerciantes. Os agricultores eram
forçados a viver nos campos, enquanto que os samurais, os artesãos e os comerciantes viviam nas cidades (jōkamachi) que se
situavam ao redor do castelo do daimyo, estando subordinados ao seu feudo. À parte deste sistema existiam ainda os eta e os hinin,
que eram vistos como os Dalit (os "intocáveis" ou "impuros").
O Japão foi parcialmente influenciado pelas técnicas e ciências ocidentais do
rangaku (蘭学? "aprendizagem holandesa") a partir de fontes bibliográficas
que os holandeses deixaram na ilha de Dejima. Os campos de estudo
envolviam a medicina, geografia, astronomia, arte, ciência, línguas, física e
mecânica. Durante o governo do xogum Tokugawa Yoshimune em 1720,
houve uma proeminente flexibilização na introdução de livros estrangeiros no
país, o que proporcionou a tradução destes para a língua japonesa, levando
consequentemente ao aumento adicional desta área de estudo. No início do
século XIX existiu uma proeminente troca cultural entre o Japão e a Holanda.
Um exemplo encontra-se num facto conhecido em que o Dr. Philipp Franz von
Siebold havia ensinado medicina ocidental pela primeira vez em 1824 a
estudantes japoneses, com permissão do xogunato.[103] Contudo, este decidiu
reverter o seu apoio aos estudos ocidentais (rangaku) em 1839, ao promulgar o
decreto de lei bansha no goku. Isto provocou a repressão de vários estudiosos
que questionavam os efeitos do sakoku e do edital de repulsão de embarcações
estrangeiras em 1825. Em 1842, estes editais expiraram, e o rangaku passou a
ser ensinado novamente, até se tornar obsoleto com a abolição do sakoku uma
década depois.
Nesta época, o neoconfucionismo tornou-se o principal movimento intelectual
uma vez adoptado pelo xogunato. Esta filosofia exerceu uma maior atenção na
vida secular do homem e da sociedade, tendo como resultado um pensamento
racionalista e humanista. Em meados do século XVII este sistema filosófico
chinês tornar-se-ia na principal corrente filosófica do país, estabelecendo bases
nas escolas kokugaku (国学 ? "aprendizagem nacional") que rejeitavam o
estudo de textos budistas e chineses, favorecendo antes a investigação
filosófica dos clássicos japoneses.[96]
Com a expansão do neoconfucionismo a classe samurai mostrou um maior interesse na história japonesa e no cultivo das artes, dando
origem ao bushido (caminho do guerreiro). Houve também um florescimento cultural da classe trabalhadora, através do chōnindō,
onde a educação, a alfabetização e o estudo da aritmética se estenderam para a população em geral.[96]
Uma das consequências deste estilo de vida mais culto foi o surgimento do ukiyo (浮世? "mundo flutuante"), um estilo de vida
adoptado pela classe média que valorizava a diversão e o entretenimento como meios pelos quais se alcançava o prazer e o bem-estar,
o qual produziu um florescimento cultural na era Genroku (1688 - 1704 conhecida também como cultura Genroku): onde o bunraku
, o kabuki , a gueixa , a cerimónia do chá, a música, a poesia e a literatura se converteram numa parte desse mundo, originando
Cultura
Kaitai Shinsho, tratado de anatomia
publicado em 1774, sendo uma tradução
para a língua japonesa do livro holandês
Ontleedkundige Tafelen, desenvolvido por
estudiosos rangaku
A Grande Onda de Kanagawa, uma
xilogravura de 1832 do mestre japonês
Hokusai, especialista em ukiyo-e
também representações artísticas como o ukiyo-e. Este estilo teve início no século XVII através de Hozumi Harunobu, e teve como
principais representantes Kitagawa Utamaro e Torii Kiyonaga, conseguindo o seu esplendor com pintores como Utagawa Hiroshige e

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