Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
III Curso de Verão em FARMACOLOGIA 14 a 19 de Fevereiro de 2011 2 SUMÁRIO FARMACOCINÉTICA ............................................................................................................... 3 FARMACOLOGIA DE PRODUTOS NATURAIS ...................................................................... 23 Produtos com ação sobre o trato gastrointestinal .......................................................... 23 Sistema cardiovascular .................................................................................................... 34 SISTEMA NERVOSO CENTRAL ............................................................................................. 44 Doença de Parkinson ....................................................................................................... 44 Aprendizagem e memória ............................................................................................... 50 Transtornos de humor e de ansiedade ............................................................................ 55 Drogas de abuso .............................................................................................................. 81 INFLAMAÇÃO ...................................................................................................................... 89 RESPOSTA FEBRIL ................................................................................................................ 94 TOXICOLOGIA ...................................................................................................................... 99 Introdução à toxicologia .................................................................................................. 99 Toxicologia reprodutiva ................................................................................................. 107 Toxicologia ambiental .................................................................................................... 116 Toxicologia, toxinologia e metabolismo ........................................................................ 123 3 FARMACOCINÉTICA Aline Stolf Arturo Dreifuss Francislaine LíveroVieira INTRODUÇÃO À FARMACOLOGIA A farmacologia pode ser definida como o estudo das substâncias que interagem com sistemas vivos por meio de processos químicos, ligando-se especificamente a moléculas reguladoras e ativando ou inibindo processos corporais normais. FARMACOCINÉTICA A farmacocinética é o estudo do movimento de uma substância química, em particular, um medicamento no interior de um organismo vivo, ou seja, estudo dos processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção. Para produzir seus efeitos característicos, uma substância precisa estar presente em concentrações adequadas em seus locais de ação. Embora as concentrações obtidas sejam dependentes da dose administrada, elas também dependem da magnitude e velocidade dos processos supracitados. Em uma ampla visão, a compreensão da farmacocinética pode aumentar a segurança e eficácia da terapêutica medicamentosa. Um mesmo medicamento pode produzir um efeito terapêutico ou tóxico, dependendo da dose. Ao aumentar a concentração podem verificar-se efeitos tóxicos. Surge assim, o conceito de índice terapêutico, que é o fator que relaciona a concentração na qual o fármaco produz efeitos tóxicos (dose tóxica) com a concentração na qual o fármaco é terapêutico (dose terapêutica). 4 Assim, para que um fármaco seja seguro, é preciso que ele tenha um índice terapêutico elevado. Por outras palavras, um fármaco seguro é aquele que precisa ser administrado numa alta concentração para ter um efeito tóxico. Ainda é importante ressaltar que a farmacocinética estabelece estreita relação com a farmacodinâmica, que determina o efeito ou resposta terapêutica, e é o resultado dos fenômenos que ocorrem após a administração de um medicamento. Ambos os fenômenos dependem de características do fármaco, das características do indivíduo e, o mais importante, da interação entre estes dois fatores: fármaco e indivíduo. Outros conceitos importantes na farmacocinética: Depuração - É a medida da eficácia do organismo na eliminação do fármaco. É um conceito importante a ser levado em consideração quando se planeja um esquema racional de administração prolongada de um fármaco. Em níveis mais simples, a depuração é a taxa de eliminação por todas as vias normalizadas de acordo com a concentração do fármaco em algum líquido biológico. A depuração através de vários órgãos de eliminação é aditiva. A eliminação do fármaco pode ser decorrente dos processos que ocorrem nos rins, no fígado e em outros órgãos. Em conjunto, tais depurações serão iguais à depuração sistêmica total. As outras vias de eliminação podem incluir a saliva e o suor, a distribuição para o intestino e a metabolização em outros locais Volume de distribuição - É a medida do espaço aparentemente disponível no organismo para conter o fármaco. Relaciona a concentração de fármaco no organismo com a concentração no sangue e no plasma, dependendo do líquido medido. Este volume não se refere necessariamente a um volume fisiológico identificável, mas apenas ao volume de líquido que seria necessário para conter todo o fármaco no organismo na mesma concentração em que se encontra no sangue ou no plasma. O volume de distribuição varia com o grau de ligação às 5 proteínas plasmáticas, o coeficiente de partição do fármaco no tecido adiposo, o grau de ligação em outros tecidos. O volume de distribuição de determinada substância pode variar de acordo com a idade, sexo, existência de doença e composição orgânica. Meia-Vida – É o tempo que leva para a concentração plasmática ou a concentração da substância no corpo ser reduzida a 50%. Biodisponibilidade – mede a fração do fármaco que ao ser administrado a um organismo vivo atinge de forma inalterada a circulação sanguínea. Um conceito mais abrangente considera ainda a biodisponibilidade como a quantidade do medicamento que atinge não só a circulação sanguínea, mas também o seu local de ação (biofase). As fases farmacocinéticas, esquematizadas na figura 1, são explicadas com mais detalhes a seguir. 6 Figura 1. Fases farmacocinéticas pelas quais as drogas passam ao serem administradas a um organismo. 1. ABSORÇÃO, BIODISPONIBILIDADE E VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DOS FÁRMACOS A absorção é definida como a passagem de uma droga de seu local de administração para o plasma sanguíneo. As moléculas dos fármacos se movimentam pelo organismo através da corrente sanguínea e através do processo de difusão (molécula a molécula por curtas distâncias). Nestes fenômenos, são de vital importância a constituição das membranas celulares, o pH do meio, o pK do medicamento e o transporte transmembrana. Os medicamentos, em sua maioria, são compostos orgânicos com propriedades de ácidos fracos ou bases fracas, portanto, em solução aquosa apresentam-se parcialmente ionizados. A proporção entre a parte ionizada e a não ionizada de um medicamento será determinada pelo pH do meio onde ele se encontra dissolvido e da constante de dissociação do medicamento. Quando o pH de uma solução aquosa de um ácido ou uma base estiver ajustado de modo que metade de um determinado medicamento exista nesta solução na forma não ionizada e metade na forma ionizada, este pH representa a constante de dissociação ou o pK do composto. A parte não ionizada das moléculas de um medicamento tem característica menos polar e mais lipossolúvel que a parte ionizada. Como as membranas celulares são predominantemente lipídicas, a parte não ionizada, isto é, lipossolúvel,é mais facilmente absorvida. Conclui-se, portanto que as cargas de elétrons existentes na molécula de um medicamento têm primordial importância na determinação da velocidade de sua absorção através das membranas celulares e das barreiras tissulares. Substâncias químicas sem carga (apolares) não sofrem influência do pH do meio em que estão dissolvidas, mantendo-se sempre apolares. Essas substâncias atravessam qualquer membrana biológica. 7 Para o grupo dos ácidos orgânicos, o pH do meio é o fator que determina a velocidade de absorção. Em pH ácido, a concentração hidrogeniônica da solução é alta e os ácidos orgânicos dissolvidos neste meio estão na sua forma molecular, sem carga e portanto lipossolúveis. Desse modo são mais bem absorvidos no estômago. Medicamentos que contém em sua estrutura um grupamento do tipo amina terciária, ou seja, uma base fraca, ficam sem carga em meio contendo poucos prótons, como o fluido encontrado no duodeno. Essa forma é suficientemente apolar para ser absorvida neste local. As barreiras celulares precisam ser ultrapassadas para que o fármaco chegue ao seu local de ação. Essa passagem de moléculas, ou seja, a absorção propriamente dita, pode ocorrer pelos seguintes processos: difusão simples; difusão aquosa; difusão mediada por carreador; e endocitose. Tais processos, no entanto, também são importantes para a distribuição de drogas (segunda fase farmacocinética), conforme descrito a seguir. a) Difusão simples: a membrana biológica funciona como uma estrutura inerte e porosa, que as moléculas transpõem por simples difusão. Neste caso, a polaridade da molécula assume grande importância. As moléculas do soluto distribuem-se da região em que estejam mais concentradas para as regiões menos concentradas. Para que esse processo ocorra é necessário que as moléculas sejam apolares e apresentem peso molecular compatível com a camada dupla lipídica a ser atravessada. b) Difusão aquosa (poros): moléculas pequenas e hidrossolúveis podem se mover através das membranas celulares por canais aquosos que ficam inseridos na bicamada lipídica. O diâmetro dos canais é variável. Nos capilares os canais são grandes (4 a 8 nm), ao passo que no endotélio intestinal e na maioria das membranas celulares o diâmetro é de apenas 0,4 nm. A permeabilidade às substâncias químicas através dos canais é importante na excreção renal, na 8 remoção de substâncias químicas do líquido cerebroespinal e na passagem de substâncias químicas através da membrana sinusoidal hepática. c) Difusão mediada por carreador: além dos transportes mencionados, as membranas celulares possuem outros mecanismos de transporte de substâncias que são fundamentais para a passagem de moléculas, como aminoácidos, neurotransmissores, açúcares, íons de metais e algumas drogas. Em geral, drogas pouco lipossolúveis podem atravessar a membrana através de carreadores protéicos, ou seja, proteínas transmembranas que se ligam a uma ou mais moléculas da droga ou íons, sofrem uma modificação na sua conformação e os liberam do outro lado da membrana. Esse sistema pode operar de modo passivo ou ativo. c1) Passivo ou Difusão facilitada: ocorre sem gasto de energia e é mediado por um carreador. O substrato se move a favor do gradiente de concentração. A velocidade de difusão é consideravelmente maior que a da difusão simples. Ex: entrada de glicose nas células. c2) Trasporte ativo: a substância é movida através de carreadores contra o gradiente de concentração, necessitando de energia derivada da hidrólise de ATP ou de outras ligações ricas em energia. Na maior parte dos casos este processo exibe alto grau de especificidade estrutural e estereoquímica. Assim, durante o transporte, se duas substâncias correlatas se oferecerem ao mesmo tempo uma poderá inibir o transporte da outra. d) Endocitose: envolve a invaginação de uma parte da membrana celular, formando uma pequena vesícula contendo componentes extracelulares. Na seqüência, o conteúdo da vesícula pode ser liberado no interior da célula. Exigem energia celular e não utilizam transportadores. 9 1.1 PRINCIPAIS VIAS DE ADMINISTRAÇÃO DE FÁRMACOS A escolha da via de administração é determinada principalmente pelas propriedades do fármaco (como por exemplo, grau de ionização, solubilidade) e pelos objetivos terapêuticos (início de ação rápido ou lento, ação sistêmica ou local). As principais vias de administração de drogas são: enteral (oral, retal, sublingual) e parenteral (subcutânea, intramuscular, endovenosa ou intravascular). Há outras vias também importantes: intratecal, intranasal, inalatória, tópica, transdérmica e intraperitonial. ENTERAL a) Administração oral: É a via de administração mais utilizada devido principalmente à adesão do paciente ao tratamento e a fatores econômicos. É utilizada como uma forma de acesso à circulação sistêmica através do trato gastrointestinal. Entretanto, alguns fatores importantes como a motilidade gastrintestinal, a presença de alimentos, o fluxo sanguíneo esplâncnico, o tamanho das partículas, a formulação e fatores físico-químicos devem ser considerados. Além disso, boa parte dos fármacos administrada via oral entra na circulação porta e passa pelo fígado, onde pode sofrer algum tipo de modificação (metabolismo de primeira passagem), o que pode comprometer a quantidade de fármaco biodisponível no local de ação. Outra desvantagem da via em questão é a irritação gástrica de algumas formulações. Devido às necessidades terapêuticas, as preparações farmacêuticas são formuladas de modo a produzir as características de absorção desejadas. Assim, as cápsulas podem ser elaboradas de modo a permanecer intactas por algumas horas, após a ingestão, para retardar a absorção. Da mesma forma, os comprimidos podem ter um revestimento resistente com a mesma finalidade. b) Administração sublingual: É usada quando é necessária uma resposta rápida, uma vez que a região sublingual é extremamente irrigada e conectada aos 10 vasos de bom calibre. Utilizada principalmente se o fármaco for instável ao pH gástrico ou sofrer metabolização hepática. De modo geral, os fármacos administrados via sublingual são apresentados na forma de comprimidos pequenos que se dissolvem rapidamente. Um bom exemplo é a nitroglicerina (trinitrato de glicerila), um fármaco utilizado no tratamento da angina, é eficaz via sublingual devido a sua lipossolubilidade e característica não-iônica, assim sua absorção é rápida. c) Administração retal: A administração retal é utilizada para fármacos cujo efeito pode ser local (ex: hemorróidas) ou sistêmico. A absorção por via retal muitas vezes é irregular e incompleta, mesmo assim essa via pode ser útil em pacientes incapazes de receber fármaco pela via oral (por exemplo, se a droga induzir vômito, ou se o paciente já estiver em crise emética ou em coma). Outra vantagem é que o fármaco não sofre ação das enzimas digestivas e do pH gástrico, nem efeito de primeira passagem (embora possa sofrer em parte). PARENTERAL Essas vias podem ser usadas para administração de fármacos que são degradados pelo suco gástrico ou que não são absorvidas pelo TGI. Pode ser a via de escolha para administração de fármacos em pacientes inconscientes ou quando se deseja um efeito rápido. a) Administração intravascular ou endovenosa: A administração endovenosa é a via mais rápida e mais precisa para administração de um fármaco. Possibilita a administração de grandes volumes em infusão lenta e de substâncias irritantes devidamente diluídas. É imprópria para substâncias oleosas ou insolúveis. b) Administração subcutânea: É usada para fármacos cujo objetivo seja uma absorção lenta e constante.Os medicamentos são absorvidos por difusão, 11 atravessando os poros e fenestrações existentes nos capilares e vasos linfáticos. Pode ocorrer dor e necrose quando utilizadas substâncias irritantes. c) Administração intramuscular: Fármacos administrados por essa via geralmente apresentam um efeito mais rápido que a administração oral, mas a taxa de absorção depende muito do local de injeção e de fatores fisiológicos, especialmente do fluxo sanguíneo local. As drogas comumente utilizadas podem ser preparadas na forma de soluções aquosas (absorção rápida) ou preparações de depósito especiais (absorção lenta). É adequada para volumes moderados. OUTRAS VIAS a) Administração tópica: Pode ser utilizada para administrar fármacos sobre as membranas mucosas como, por exemplo, conjuntiva, orofaringe, nasofaringe, vagina, cólon e uretra. Além disso, alguns fármacos podem ser aplicados sobre a pele íntegra, dependendo da preparação (cremes e pomadas). De modo geral, a absorção é proporcional à área da aplicação, mas os efeitos podem ser locais ou sistêmicos. b) Administração transdérmica: Tem-se aumentado o uso de formas de administração transdérmica, em que o fármaco é incorporado a uma embalagem presa com fita adesiva a uma área de pele fina. Essas embalagens adesivas produzem um estado de equilíbrio estável e têm diversas vantagens, especialmente a facilidade de retirada no caso de efeitos indesejáveis. A velocidade de absorção pode variar de acordo com as características físicas da pele e físico-químicas do fármaco. Geralmente, o método é mais recomendado para certos fármacos relativamente lipossolúveis. Alguns exemplos são: nitroglicerina (para angina), escopolamina (contra enjôo de viagem), nicotina (para a cessação do hábito de fumar) e clonidina (contra hipertensão). 12 c) Administração inalatória: É a via usada para anestésicos voláteis e gasosos (efeito sistêmico) ou em medicamentos utilizados para o tratamento de distúrbios respiratórios (ação mais localizada no trato respiratório). O início da ação é rápido, pois o fármaco tem contato com toda a mucosa do trato respiratório e rapidamente é absorvido. d) Administração intranasal: Essa via pode ser usada tanto para se obter um efeito local (como, por exemplo, o tratamento da rinite alérgica) quanto para a obtenção de efeito sistêmico (algumas preparações terapêuticas usadas para tratamento de enxaqueca). e) Administração intratecal: Usada quando o objetivo é um efeito rápido e local de fármacos nas meninges e no eixo cérebro-espinhal. Pode ser utilizada no tratamento de infecções agudas e no tratamento da leucemia linfocítica aguda. f) Administração intraperitoneal: Essa via é muito utilizada na experimentação animal, em laboratórios de pesquisa. A absorção é rápida devido à grande superfície de absorção da cavidade abdominal. Há, porém, um grande risco de infecção e, por isso, não é utilizada para a administração de drogas em seres humanos. 1.2 FATORES QUE ALTERAM A ABSORÇÃO DE FÁRMACOS a) Metabolismo hepático de primeira passagem: Um fármaco absorvido pelo trato gastrintestinal, antes de chegar à circulação sistêmica, passa pelo sistema porta-hepático. Se o fármaco for metabolizado pelo fígado, a quantidade de moléculas na circulação sistêmica pode ser alterada, comprometendo a biodisponibilidade da droga no local de ação. 13 b) Solubilidade do fármaco: Fármacos muito hidrofílicos são incapazes de atravessar a membrana celular e fármacos muito hidrofóbicos são insolúveis nos líquidos orgânicos (ambiente aquoso). Para que ocorra a absorção de um fármaco é preciso que ele seja hidrofóbico, entretanto deve ter certa solubilidade em soluções aquosas. c) Instabilidade química: Alguns fármacos podem ser destruídos quando expostos às enzimas digestivas do trato gastrintestinal. Outras drogas podem ser instáveis em pH ácido, isso compromete a sua administração pela via oral, devido à acidez do ambiente gástrico. d) Vias de administração: A escolha da via é fundamental para o efeito desejado, pois a velocidade e a eficiência de absorção estão diretamente relacionadas à via de administração. e) Fluxo sanguíneo no local de absorção: Quanto maior o fluxo sanguíneo no local de absorção, mais rápido o fármaco chega à circulação sistêmica. f) Natureza da formulação do fármaco: Alguns fatores como tamanho das partículas, forma do sal, polimorfismo do cristal e presença de excipientes (aglutinantes e dispersantes) podem influenciar na facilidade de dissolução e, conseqüentemente, alterar a velocidade da absorção. g) Área de superfície de absorção: Quanto maior a área de superfície de absorção, maior será a velocidade da absorção. i) Concentração: Quanto mais concentrado o fármaco, maior a velocidade de absorção. 14 2. DISTRIBUIÇÃO A distribuição é o processo pelo qual um fármaco abandona reversivelmente a corrente circulatória, passando para o interstício e/ou interior das células. Depende do fluxo sanguíneo, da permeabilidade capilar, das características químicas (polaridade/hidrofobicidade) do composto e do grau de ligação do fármaco às proteínas plasmáticas. Os principais compartimentos de distribuição dos fármacos são: o plasma, o líquido intersticial, o líquido intracelular, o líquido transcelular e a gordura. O líquido extracelular compreende o plasma sanguíneo (cerca de 4,5% do peso corporal), o líquido intersticial (16%) e a linfa (1,2%). O líquido intracelular (30- 40%) é a soma do conteúdo de líquido de todas as células do corpo. O líquido transcelular (2,5%) compreende os líquidos cefalorraquidiano, intra-ocular, peritoneal, pleural e sinovial, bem como as secreções digestivas. O feto também pode ser considerado como um tipo especial de compartimento transcelular. Para penetrar nos compartimentos transcelulares a partir do compartimento extracelular, um fármaco deve atravessar uma barreira celular, sendo a barreira hematoencefálica um exemplo particularmente importante no contexto da farmacocinética. A barreira hematoencefálica consiste numa camada contínua de células endoteliais unidas por zônulas de oclusão. Conseqüentemente, o cérebro é inacessível a muitos fármacos de ação sistêmica, incluindo muitos agentes antineoplásicos e alguns antibióticos. A ocorrência de inflamação, como a meningite, pode comprometer a integridade da barreira, possibilitando a entrada de substâncias normalmente impermeantes no cérebro. As moléculas de fármacos podem ser encontradas na forma livre ou ligadas em cada compartimento de líquido corporal, porém apenas o fármaco livre é capaz de mover-se entre os compartimentos e exercer seus efeitos farmacológicos, ser metabolizada e excretada. Assim, o padrão de equilíbrio da distribuição entre os vários compartimentos depende da: 15 • Permeabilidade através das barreiras teciduais; • Ligação no interior dos compartimentos; • Partição de pH; • CPOA (coeficiente de partição óleo-água). O Volume de distribuição (Vd) é definido como volume de líquido necessário para conter a quantidade total (Q) do fármaco no corpo, na mesma concentração presente no plasma (Cp). Assim, Vd = Q/Cp. Fármacos que são moléculas muito grandes ficam confinados ao compartimento plasmático, uma vez que não conseguem atravessar com facilidade a parede capilar. A retenção de um fármaco no plasma após a administração de uma dose única reflete sua forte ligação às proteínas plasmáticas e, geralmente, um baixo Vd. Os fármacos insolúveis em lipídios estão confinados principalmente ao plasma e ao líquido intersticial; a maioria não penetra no cérebro após a administração aguda. Já os fármacos lipossolúveis alcançam todos os compartimentose podem acumular-se no tecido adiposo, apresentando alto Vd. Os compartimentos orgânicos nos quais o fármaco se acumula são seus reservatórios potenciais. Quando um fármaco armazenado está em equilíbrio com sua concentração plasmática ele é liberado à medida que a concentração plasmática cai, assim, a concentração plasmática do agente no seu local de ação é mantida e os seus efeitos farmacológicos são prolongados. Dentre os reservatórios dos fármacos citam-se as proteínas plasmáticas (albumina, β- globulina e glicoproteína), os reservatórios celulares (musculatura e outras células), o tecido adiposo, os ossos e os componentes transcelulares (líquor, humor aquoso, líquidos articulares). Como a ligação dos fármacos às proteínas plasmáticas é um processo não muito seletivo, muitos agentes com características físicas semelhantes podem competir uns com os outros e com substâncias endógenas por outros locais de ligação. 16 Os fármacos ácidos se ligam principalmente à albumina, e os fármacos básicos, com freqüência, à β-globulina e a uma glicoproteína ácida. Uma grande taxa de ligação às proteínas faz com que o sangue atue como reservatório circulante do fármaco. À medida que o fármaco livre é eliminado do organismo, uma quantidade de fármaco é deslocada para os tecidos, onde será distribuído para substituir o fármaco livre eliminado. A fração do fármaco total no plasma que está ligada às proteínas plasmáticas é determinada pela concentração do fármaco, por sua afinidade pelos locais de ligação e pelo número de locais de ligação. A ligação de um fármaco às proteínas plasmáticas limita-se à concentração nos tecidos e nos seus locais de ação, porque apenas a forma livre está em equilíbrio através das membranas. Além disso, a ligação limita a filtração glomerular porque este processo não modifica de imediato a concentração plasmática do fármaco livre (a água também é filtrada). Não obstante, a ligação com as proteínas plasmáticas geralmente não limita a biotransformação ou a secreção tubular renal, porque tais processos reduzem a concentração de fármaco livre e isto é seguido rapidamente de dissociação do complexo fármaco- proteína. A distribuição dos fármacos para o sistema nervoso central (SNC) a partir da corrente sanguínea é especial, principalmente porque sua entrada no líquido cefalorraquidiano e no espaço extracelular é pequena. No cérebro, a estrutura do capilar é contínua, não havendo fendas. Portanto, para ultrapassar a barreira hematoencefálica, os fármacos precisam transpor as células endoteliais dos capilares do SNC. A taxa de difusão dos fármacos para o SNC é proporcional à lipossolubilidade da forma não-ionizada do fármaco, podendo, portanto, ser afetada pelo pH sanguíneo. A transferência potencial dos fármacos através da placenta é importante porque eles podem provocar anomalias congênitas. Os fármacos que atravessam a placenta fazem-no basicamente por difusão simples. Os agentes lipossolúveis não-ionizados penetram facilmente no sangue fetal a partir da circulação materna. A penetração é menor no caso dos agentes com dissociação elevada e baixa 17 lipossolubilidade. Desse modo, a noção de que a placenta é uma barreira contra os fármacos é inexata. A distribuição dos fármacos no leite materno também é importante, não somente pela quantidade eliminada, mas porque os fármacos excretados são possíveis causas de efeitos farmacológicos indesejados no lactente. Muitos fármacos presentes no sangue da lactante são detectáveis em seu leite. A concentração final dos compostos específicos no leite depende de muitos fatores, incluindo a quantidade de fármaco no sangue materno, sua lipossolubilidade, seu grau de ionização e a extensão de sua secreção ativa. Como exemplos dos efeitos da transferência placentária de drogas, pode-se citar o uso de anticonvulsivantes, cuja incidência de malformações em recém-nascidos expostos é de 4 a 6%, comparado com 2 a 4% na população geral. Ainda, o fentanil, anestésico opióide utilizado por via epidural em cesariana, na dose de 0,10 mg, apresenta taxa de transferência placentária na ordem de 90%, o que indica cautela no uso de doses repetidas em analgesia durante o trabalho de parto. 3. BIOTRANSFORMAÇÃO DE FÁRMACOS NO ORGANISMO A biotransformação (metabolização) enzimática de fármacos em metabólitos mais polares e menos lipossolúveis aumenta sua excreção e reduz seu volume de distribuição. Tal biotransformação ‘alivia’ a carga de substâncias químicas estranhas e é essencial à sobrevida do organismo. Em geral, as reações de biotransformação geram metabólitos mais polares que são mais facilmente eliminados do organismo. Contudo, em alguns casos, são produzidos metabólitos com atividade biológica potente ou com propriedades tóxicas. Os sistemas enzimáticos participantes da biotransformação dos fármacos concentram-se principalmente no retículo endoplasmático liso do fígado, embora todos os tecidos tenham alguma atividade metabólica. Outros órgãos com capacidade metabólica significativa são: os rins, o epitélio gastrointestinal e os 18 pulmões. Maiores detalhes dos mecanismos metabólicos de biotransformação estão contemplados no capítulo “Toxicologia, Toxinologia e Metabolismo”. Os fármacos absorvidos pelo intestino estão sujeitos ao metabolismo de primeira passagem ou pré-sistêmico, anteriormente mencionado. O fígado (ou algumas vezes a parede intestinal) extrai e metaboliza alguns fármacos com tanta eficiência que a quantidade do fármaco que chega à circulação sistêmica é consideravelmente menor do que a quantidade absorvida. Esse processo é significativo para muitos fármacos clinicamente importantes e é inconveniente na prática porque é necessária uma dose muito maior do fármaco quando este é administrado por via oral do que quando é administrado por outras vias e também porque ocorrem variações individuais acentuadas na extensão do metabolismo de primeira passagem de determinado fármaco, resultando numa situação imprevisível quando esses fármacos são administrados por via oral. O metabolismo dos fármacos envolve dois tipos de reações bioquímicas, conhecidos como reação de fase I e reações de fase II, que de forma variada podem ocorrer seqüencialmente: a) Reações de fase I (catabólicas): ocorrem no retículo endoplasmático e introduzem ou expõem um grupo funcional (grupo reativo) no composto original, convertendo-o em um metabólito mais polar. As reações que ocorrem nessa fase são: reações de oxidação, hidrólise e redução. As reações oxidativas são catalisadas por um complexo enzimático denominado citocromo P450. Essas enzimas são freqüentemente denominadas enzimas “microssomais” e para atingir essas enzimas o fármaco deve atravessar a membrana plasmática do hepatócito. As moléculas polares fazem isso mais lentamente do que as moléculas não polares, exceto quando existem mecanismos específicos de transporte, de modo que o metabolismo hepático é, em geral, menos importante para fármacos polares do que para os fármacos lipossolúveis, com excreção de maior proporção do fármaco na forma inalterada na urina. As reações hidrolíticas não envolvem enzimas microssômicas hepáticas, mas ocorrem no plasma e em muitos tecidos, 19 inclusive no citoplasma dos hepatócitos. As reações de redução envolvem enzimas microssômicas. Os produtos dessa reação são, com freqüência, mais reativos quimicamente, e, portanto, paradoxalmente, algumas vezes mais tóxicos ou carcinogênicos do que o fármaco original. A produção de um metabólito ativo influencia diretamente na posologia da administração. Isso porque, apesar de o fármaco original já ter sido metabolizado, seu efeito farmacológico permanece devido ao metabólito. Como estratégica terapêutica, pode-se administrar a chamada pró-droga,que consiste de uma substância sem atividade que, após o metabolismo da fase I, adquire atividade terapêutica. b) Reações de conjugação da fase II (anabólicas): As reações dessa fase envolvem a conjugação, que normalmente resulta em compostos inativos. Ocorrem no citoplasma e determinam a formação de uma ligação covalente entre um grupo funcional do composto original e um composto endógeno, em geral, muito polar. Entre os compostos endógenos estão: o ácido glicurônico, o sulfato, o glutation, aminoácidos, o acetato, e outros. Esses conjugados altamente polares são excretados com rapidez na urina e nas fezes. Entre todas as reações de conjugação a mais importante é a glicuronidação, catalisada pela enzima UDP– glucoronil-transferase. Entre os principais fatores que afetam a biotransformação de fármacos podemos citar: indução enzimática (como exemplo o etanol que aumenta a atividade dos sistemas microssomais de oxidação e conjugação, podendo aumentar a toxicidade de um fármaco), inibição enzimática, polimorfismo genético, idade, estado nutricional, doenças agudas ou crônicas. Ainda, a inibição das enzimas responsáveis pela biotransformação pode potencializar o efeito do fármaco. Um exemplo de biotransformação de drogas pode ser visto na figura 2. 20 Figura 2. Reações de fase I e fase II na biotransformação da Aspirina. 4. EXCREÇÃO DE FÁRMACOS NO ORGANISMO A excreção dos fármacos é o processo que envolve a saída destes por meio da urina, do ar exalado, da bile e fezes, do leite materno, do suor e da saliva. Como já dito anteriormente, os rins são os principais órgãos envolvidos neste processo, pois são responsáveis pela eliminação dos compostos lipossolúveis (após os processos de biotransformação previamente descritos) e dos compostos não voláteis. A excreção de fármacos e metabólitos na urina envolve três processos: • Filtração Glomerular: Consiste na filtração do plasma, através das paredes capilares do glomérulo em cada néfron, até o túbulo contorneado proximal. Apenas são filtrados os compostos de peso molecular 21 baixo a moderado. Outros fatores também são importantes, como o tamanho, carga e estrutura das moléculas, bem como o débito cardíaco do paciente. Também importa o fato do composto estar ou não ligado a proteínas plasmáticas, pois apenas poderão ser filtradas as moléculas livres no plasma. • Secreção Tubular Ativa: Acontece no túbulo proximal logo depois da filtração glomerular. Consiste na adição ao túbulo proximal de vários compostos polares como ácidos e glicuronatos (ou glicuronídeos), por via da secreção tubular ativa mediada por um carreador e com gasto energético. Existem também carreadores específicos para as bases orgânicas, no entanto os sistemas carreadores são relativamente não-seletivos. Isto confere um caráter de competitividade dos íons orgânicos de carga semelhante pelo transporte. • Reabsorção Tubular Passiva: O último passo na excreção renal dos fármacos é a reabsorção tubular passiva, que é responsável pelo retorno ao sangue de vários fármacos bem como de grandes quantidades da água previamente filtrada. O fator mais importante que determina este retorno à circulação é a lipossolubilidade das moléculas, o que explica que os fármacos lipossolúveis devam passar pelos processos de biotransformação antes de serem excretados. Também é importante a reabsorção tubular passiva dos fármacos ionizados, sendo de grande importância para eles o pH urinário em comparação ao pH sanguíneo. Os ácidos fracos são excretados com maior rapidez quando a urina tubular fica alcalina, principalmente porque se tornam mais ionizadas e a reabsorção passiva diminui. A alcalinização e acidificação da urina têm efeitos opostos na excreção das bases fracas. Outros órgãos de importância nos processos de excreção dos fármacos são os pulmões e o sistema gastrintestinal. O primeiro é particularmente importante para substâncias voláteis, usualmente em forma dos seus compostos originais intactos. Também pode acontecer de alguns metabólitos dos fármacos (geralmente glicuronídeos) serem secretados para a bile após os processos de biotransformação hepáticos, chegando ao trato gastrintestinal e sendo excretados junto com as fezes. Ocasionalmente, no interior do trato gastrintestinal podem 22 acontecer reações de hidrólise que liberem novamente o fármaco ativo para a luz intestinal para ser novamente reabsorvido para o sangue, conformando a denominada circulação entero-hepática. Por último deve-se enfatizar a importância da excreção de fármacos pelo leite materno, pois eles podem ser transmitidos ao lactante, com possíveis efeitos tóxicos ou prejudiciais. A excreção das drogas pelo suor e pela saliva tem importância menor do que as outras formas de eliminação, pois a proporção do fármaco excretado é mínima. Deste modo, o ciclo farmacocinético se completa. Ou seja, a droga é administrada por determinada via, absorvida para chegar na circulação, pela qual é distribuída a diversos órgãos (inclusive local-alvo), biotransformada e finalmente eliminada do organismo. Referências BRUNTON L.L., LAZO J.S., PARKER K.L. GOODMAN & GILMAN. As bases farmacológicas da terapêutica. 11ª edição. Editora Mc Graw Hill, Rio de Janeiro, 2006. FUCHS, F. D. WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica: Fundamentos da Terapêutica Racional. 3ª edição, Editora: Guanabara Koogan, Rio de Janeiro, RJ, 2004. KATZUNG, B.G. Farmacologia básica e clínica. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. RANG, H.P.; DALE, M.M.; TITTER, J. M. Farmacologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. SPINOSA, H.S.; GORNIAK, S.L.; BERNARDI, M.M. Farmacologia aplicada à Medicina Veterinária. 3ª edição. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. CAVALLI, R.C., BARALDI, C.O., CUNHA, S.P. Transferência placentária de drogas. Rev Bras Ginecol Obstet. 2006; 28(9): 557-64. 23 FARMACOLOGIA DE PRODUTOS NATURAIS PRODUTOS COM AÇÃO SOBRE O TRATO GASTROINTESTINAL Lígia Moura Burci Luísa Mota da Silva Por definição, úlceras são lesões da mucosa gastrointestinal que consistem na perda circunscrita de tecido, penetrando na camada muscular da mucosa. Quando formadas no estômago são chamadas úlceras estomacais ou gástricas e quando formadas no duodeno são chamadas de úlceras duodenais. Contudo, tanto as úlceras gástricas como as úlceras duodenais são comumente chamadas de úlceras pépticas. A úlcera péptica é uma doença heterogênea, com múltiplos fatores envolvidos em sua gênese. As hipóteses mais prováveis da causa das doenças ulcerosas agrupam fatores genéticos, estilo de vida (fatores emocionais, estresse, dieta alimentar, ingestão de álcool), tabagismo, consumo de antiinflamatórios não esteroidais (AINEs), infecção por Helicobacter pylori, entre outros (CARVALHO, 2000). Nos últimos anos, distúrbios gastrointestinais como úlceras pépticas, refluxo gastroesofágico, síndrome de Zollinger-Ellison e gastrite têm assumido decididamente altas proporções nas populações, tornando-se um importante foco de investigação experimental e clínica. Nesse sentido, o estudo de produtos naturais que apresentem ação sobre o TGI assume interesse social, terapêutico, botânico, empresarial e acadêmico na tentativa de obtenção de protótipos para o desenvolvimento de novos fármacos bem como na validação da segurança, eficácia e mecanismos de ação de plantas medicinais. 1. Fisiologia Gástrica 24 Anatomicamente o estômago pode ser dividido em fundo, corpo e antro pilórico, sendo limitado por dois sistemas de esfíncteres: o esfíncter esofagiano, localizado na parte superior do estômago e o esfíncter pilórico ou piloro, na parte inferior ou distal do estômago (Fig. 1) (HOGBENet al, 1974). Figura 1. Divisão anatômica do estômago humano. (www.commonswikimedia.org/wiki/File:Estomago.svg) Funcionalmente, a mucosa gástrica pode ser dividida em duas regiões glandulares, denominadas de mucosa oxíntica e mucosa antral. A mucosa oxíntica é mais extensa, ocupando o corpo e o fundo, e é o sítio da secreção de ácido clorídrico (HCl). É formada por glândulas oxínticas, cujo principal tipo celular é a célula parietal ou oxíntica, responsável pela secreção de HCl e fator intrínseco (associado a absorção de vitamina B12). Outras células que se encontram nesta glândula são células principais produtoras de pepsinogênio (o pró-zimógeno da pepsina), células D produtoras de somatostatina e células do tipo enterocromafins (ECL), as quais liberam histamina (para revisão ver JAIN et al 2006). As glândulas da mucosa antral apresentam os mesmos tipos celulares que as glândulas oxínticas, exceto pela ausência de células parietais e presença de células G produtoras de gastrina (LLOYD e DEBAS, 1994). No colo glandular, predominam as células produtoras de muco, que protegem a mucosa gástrica da ação corrosiva das secreções originadas pelas glândulas produtoras de ácido (para revisão ver JAIN et al 2006). 25 A inervação do estômago pode ser extrínseca ou intrínseca. A inervação extrínseca é mediada por fibras parassimpáticas do nervo vago que terminam no plexo mioentérico da parede do estômago; e a inervação intrínseca compreende o sistema nervoso entérico (SNE). O SNE é formado pelo plexo mioentérico ou de Auerbach, que inerva as camadas musculares e é responsável pela regulação motora (peristaltismo), e pelo plexo submucoso ou de Meissner, que inerva a mucosa e regula a absorção e as secreções gastrintestinais (GUYTON & HALL, 2006; LACERDA et al, 2004; CHRISTENSEN et AL, 2005). Embora o sistema nervoso entérico não dependa de inervação extrínseca para funcionar, a estimulação dos sistemas parassimpático e simpático pode ativar, ou inibir, ainda mais as funções gastrointestinais (GUYTON & HALL, 2002). 2. Secreção ácida O suco ácido gástrico é uma mistura das secreções das células epiteliais e glândulas gástricas e compreende o HCl, pepsina, fator intrínseco, muco, bicarbonato, água e sais (BERNE ET AL., 2004). A regulação da secreção ácida gástrica é um processo complexo mediado por mecanismos: • neurais - o neurotransmissor é liberado dos terminais nervosos - acetilcolina, • hormonais ou endócrinos: o neurotransmissor alcança a célula através do fluxo sanguíneo – gastrina • parácrinos :a liberação do transmissor ocorre dentro da circulação local ou no fluido intersticial - histamina. Resumidamente, a secreção ácida gástrica pode ser regulada da seguinte maneira: 1) A acetilcolina, liberada de neurônios pós-ganglionares do nervo vago interage com receptores muscarínicos M3 das células parietais, estimulando diretamente a secreção do ácido. Em adição, a acetilcolina também interage com receptores 26 muscarínicos M1 das células parácrinas, mastócitos e ECL promovendo a liberação de histamina, que por sua vez estimula diretamente a célula parietal. 2) A gastrina, sintetizada e estocada nas células G, tem sua secreção para a corrente sanguínea estimulada pelos aminoácidos dos alimentos. A gastrina interage com receptores CCK2 nas células parietais e estimula diretamente a produção de ácido. Além disso, pode atuar indiretamente por interagir com receptores CCK2 presentes nas células ECL, resultando na liberação de histamina. 3) A histamina, originária de neurônios histaminérgicos, mastócitos ou células ECL, quando liberada estimula diretamente a secreção ácida através da interação com receptores H2 das células parietais. Por outro lado, a histamina pode inibir indiretamente a secreção ácida ao interagir com receptores H3 presentes nas células D secretoras de somatostatina, o principal inibidor da secreção ácida gástrica (POMMIER et al, 2003, SCHUBERT, 2005). A H+/K+/ATPase é a enzima responsável pela secreção ácida gástrica. Os prótons para a formação do ácido são gerados nos canalículos intracelulares pela ação da anidrase carbônica. O Cl- é transportado ativamente para dentro dos canalículos que se comunicam com a luz das glândulas gástricas e consequentemente com a luz do estômago. O K+ acompanha o Cl-, sendo trocado pelo H+ intracelular, com gasto energético fornecido pela catalisação do ATP. O bicarbonato formado a partir de CO2 e H2O pela anidrase carbônica dissocia-se para formar H+ e HCO3-, o qual é trocado por CL- na membrana apical. Nas células parietais em repouso, a bomba de H+/K+/ATPase é armazenada em tubulovesículas citoplasmáticas. Quando os receptores das células parietais são estimulados por seus agonistas, são gerados segundos mensageiros, que através de cascatas de fosforilação farão com que as tubulovesículas contendo as enzimas se fundam com a membrana apical, permitindo que a enzima 27 transmembrânica se torne ativa. Na ausência do estímulo as bombas são recicladas de volta para o compartimento citoplasmático (SCHUBERT, 2005). 3. Úlcera gástrica A úlcera gástrica é um dos distúrbios mais comuns que afetam o sistema gastrintestinal. Pode ser definida como uma lesão na mucosa do trato digestivo, que se estende através da camada muscular da mucosa até a submucosa, ou ainda mais profundamente (CONTRAN et al., 1996). Nessa lesão profunda tanto os componentes do tecido epitelial e conectivo, incluindo miofibroblastos subepiteliais, células do músculo liso, vasos e nervos, podem ser destruídos (MILANI E CALABRÒ, 2001). As úlceras provavelmente resultam de diferentes mecanismos patogênicos e, independente de sua etiologia, são formadas quando ocorre um desequilíbrio entre fatores agressores da mucosa, sejam eles endógenos (HCl e pepsina) ou exógenos (etanol, AINEs, fumo), e os fatores protetores da mucosa gástrica (muco, bicarbonato, prostaglandinas, fluxo sanguíneo, óxido nítrico) (Revisado por GLAVIN E SZABO, 1992). Teoricamente, este desequilíbrio ocorre em 3 condições: (i) com a redução dos mecanismos de defesa, (ii) com o aumento dos fatores agressores ou (iii) com a associação de ambos (CHAPADEIRO et al., 1987). Os mecanismos de defesa que atuam na porta de entrada dos xenobióticos no organismo são diversos, e entre eles encontram-se: • Os mastócitos e macrófagos residentes na lamina própria que atuam como células sinalizadoras da presença de substâncias estranhas. Essas células são capazes de liberar uma grande quantidade de mediadores inflamatórios e citocinas que podem alterar o fluxo sanguineo da mucosa e aumentar o recrutamento de granulócitos para a região afetada (HAGABOAM et al, 1993). • O epitélio que é especializado de forma a manter sempre as suas funções como barreira ao ácido gástrico e a outros agressores. A grande capacidade de proliferação do epitélio lhe confere habilidade de reparação ao 28 dano epitelial e contribui para a resistência da mucosa gástrica às lesões (WALLACE, 2001). • O muco também tem importante papel na prevenção da agressão mecânica ao epitélio, e fornece um microambiente sobre a área lesionada, que é rapidamente restituída (WALLACE et al, 2001), atua principalmente como barreira física. • O fluxo sanguineo contribui para a proteção gástrica por fornecer à mucosa: oxigênio, bicarbonato, substâncias nutritivas e por remover o dióxido de carbono, íons hidrogênio e difundir agentes tóxicos do lúmen gástrico (SORBYE & SVANES, 1994). • As prostaglandinas apresentam efeito na motilidade, secreção e citoproteção do trato gastrintestinal. A secreção do muco e bicarbonato, a vasodilatação e a rápida regeneração epitelial são alguns dos componentes de defesa da mucosa que são regulados pelasprostaglandinas (WALLACE & GRANGER, 1996). • O óxido nítrico apresenta papel chave na perfusão e regulação vascular por promover a vasodilatação pela sinalização da célula muscular lisa via cGMP (SHAH et al, 2004). A produção constitutiva de NO é importante para manter a barreira protetora da mucosa gastrintestinal, e esse mecanismo protetor é devido à sua capacidade de aumentar o fluxo sanguíneo da mucosa e estabilizar a influência dos mastócitos (ALICAN et al, 1996). O sintoma mais comum da úlcera gástrica é uma sensação de dor tipo queimação. A dor geralmente ocorre entre as refeições e algumas vezes durante a noite, podendo durar minutos ou horas e geralmente é aliviada quando o paciente se alimenta ou faz uso de anti-ácidos. Outros sintomas menos comuns incluem náusea, vômitos, perda do apetite e peso. 4. Farmacoterapêutica da úlcera péptica As drogas utilizadas no tratamento das úlceras ou distúrbios ácido-pépticos promovem a cicatrização da lesão. Podem ser utilizados vários tipos de fármacos 29 isolados, ou em associações. As terapias estão diretamente ligadas à diminuição da secreção ácida. � Antagonistas de receptores H2 – cimetidina, ranitidina, famotidina, nizatidina - Os antagonistas H2 agem competindo com a histamina pela ligação com o receptor H2, o que também contribui para a diminuição da secreção ácida gástrica. Recentemente, essa classe de fármacos vem sendo substituída pelos inibidores da bomba de prótons, contudo devido ao seu custo mais acessível ainda é utilizada. � Inibidores da bomba de prótons (H+ /K+ APTase) – Omeprazol, lansoprazol, rabeprazol, esomerazol, pantoprazol. Atualmente estes são os fármacos de primeira escolha. Após a sua absorção se difundem até as células parietais onde se acumulam nos canalículos secretores de ácido. (BRUNTON, L., et al, 2007). Devido ao seu mecanismo de ação diminuem a secreção de HCl pela mucosa gástrica. Em casos de secreção ácida aumentada a mesma retorna ao nível normal com a administração desses inibidores irreversíveis da bomba de prótons (SCHUBERT, 2005), que podem ser associados ou não a antimicrobianos (depende da presença de H. pylori). � Antiácidos – são fármacos utilizados de forma a aumentar as defesas da mucosa. São usados para aliviar a pirose e o desconforto abdominal. Neutralizam o ácido secretado, e são rapidamente absorvidos devido à sua alta solubilidade em água. Podem ser utilizados de forma isolada (hidróxido de alumínio, hidróxido de magnésio, magaldrato - hidróxido de alumínio e magnésio), em forma de misturas de antiácidos ou associados a outros fármacos. � Análogos de Prostaglandinas – Misoprostol, análogo sintético da PGE1. Atua protegendo a mucosa gástrica através de efeitos que incluem: estimulação de secreção de muco e bicarbonato e aumento do fluxo sanguíneo no estômago (BRUNTON, L., et al , 2007). O misoprostol aumenta a produção de muco no estômago, contudo provoca também um aumento acentuado na contração de músculos lisos, principalmente no útero, o que culminou com vários 30 abortos provocados pela sua utilização, e por isso a sua retirada de mercado e restrição de uso. � Outros – Sucralfato, trata-se de um polímero que adere às células epiteliais e à área lesada formando uma barreira física de proteção, além de estimular a produção local de prostaglandinas e fator de crescimento epidérmico (BRUNTON, L., et al, 2007). � Tratamento da infecção por Helicobacter Pylori- os principais tratamentos indicados para a erradiação da bactéria e para a recuperação da mucosa gástrica podem ser divididos em: • Terapia tripla – com a utilização de um inibidor da bomba de próton, um antibiótico e um antiprotozoário. • Terapia quádrupla – com a utilização de um inibidor da bomba de prótons, um antiprotozoário, um antibiótico e um antiácido; • Terapia quádrupla – com a utilização de um antagonista de receptor H2, um antiácido, um antiprotozoários, e um antibiótico (BRUNTON, L., et al, 2007). AULA PRÁTICA Determinação da atividade anti-úlcera no modelo de lesões gástricas induzidas por etanol em ratos 1. Introdução Alguns estudos recentes têm relatado uma hipergastrenemia causada por inibidores irreversíveis da bomba de próton e que pacientes H. pylori em tratamento com esses inibidores apresentam mudanças no padrão da gastrite, com ativação de neutrófilos no corpo gástrico, contribuindo “in vivo” para a inflamação causada por essa bactéria. Devido a esses problemas com o uso crônico de inibidores da bomba é importante o estudo de novas drogas para o tratamento de desordens ácido-pépticas. 31 A atividade anti-úlcera de uma substância desconhecida pode ser avaliada em animais de experimentação frente a diferentes modelos de indução de lesão gástrica, os quais podem envolver medicamentos (ácido acetilsalicílico, AINEs), estresse ou agentes necrotizantes da mucosa (etanol). Devido ao fato de esses agentes provocarem a lesão gástrica por diferentes mecanismos para a validação de uma planta medicinal é necessário o estudo da ação anti-ulcera do extrato nos diferentes modelos, contudo, por não ser possível o estudo de todos, para a aula o modelo selecionado foi o modelo animal de úlcera induzida por etanol, o qual se confirma como um método simples de produção experimental de úlcera aguda gástrica em ratos. 2. Animais Ratos: Rattus norvegicus, variedade Wistar, adultos, fêmeas, pesando de 150 a 300g. Os animais são provenientes do Biotério Central da Universidade Federal do Paraná (UFPR). E antes do procedimento deverão ser mantidos em uma sala com umidade e temperatura controladas (22 ± 2°C), em um ciclo de claro-escuro de 12h (7:00-19:00 h). Água será fornecida à vontade aos animais durante todos os experimentos. Os procedimentos utilizados devem estar de acordo com as normas do CEEA (Comitê de Ética em Experimentação Animal) da UFPR. 3. Material e Drogas � Seringas; � Cânulas para gavagem; � Material cirúrgico � Placas de isopor; � Alfinetes; � Água; � Etanol; � Omeprazol (40 mg/kg); � Máquina fotográfica; � Programa Image Tool em computador para a avaliação da área de lesão gástrica. � Extrato hidroalcoolico de Vochysia bifalcata dose de 100mg/kg 32 4. Procedimentos � Separar os animais em quatro grupos: Controle Negativo, Controle Positivo, Grupo Teste, e Grupo Naive. Em cada grupo deve haver 5 animais que deverão ser mantidos em jejum de alimentos sólidos por 24 horas, com água disponível ad libitum; � Os animais de cada grupo deverão ser tratados com: � Grupo Controle Negativo: água � Grupo Controle Positivo: omeprazol � Grupo Teste: extrato da planta � Grupo Naive: água � 1 hora após o tratamento se fará a indução das lesões gástricas através da administração de 0,5ml de Etanol P.A. por via oral com o auxílio de uma sonda de gavagem; � 1 hora após a administração do etanol, os animais devem ser sacrificados, tendo seus estômagos removidos para a inspeção das lesões gástricas. Referências ALICAN, I.; KUBES, P. A critical role for nitric oxide in intestinal barrier function and dysfunction. The American Journal of Physiology. V. 270, p. 225- 237, 1996. BRUNTON, L., et al. Goodman & Gilman’s – Manual of Pharmacology and Therapeutics. 11.ed. 2007 CHAPADEIRO, E.; LOPES, E. R.; RASO, P.; TAFURI, W. L. Bogliolo PATOLOGIA. 4 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1987. CHRISTENSEN, J.; COELHO, J. C. U.; GONÇALVES, C. G.; GROTH, A. K. Distúrbios da Motilidade do Intestino Grosso e Síndrome do Intestino Irritável. In: Aparelho Digestivo Clínica e Cirúrgica. p. 886-901, 2005. CONTRAN, R.S.; KUMAR, V.; ROBBINS, S.L. Patologia Estrutural e Funcional. 5 ed. Rio de Janeiro: Editora GuanabaraKoogan, 1996. 33 GLAVIN, G. B.; SZABO, S. Experimental gastric mucosal injury: laboratory models reveal mechanisms of pathogenesis and new therapeutic strategies. Faseb. Journal, v. 6, p. 825-831, 1992. HAGABOAM, C.M.; BISSONNETTE, E.V.; CHIN, B.C.; BEFUS, A.D.; WALLACE, J.L. Prostaglandins inhibit inflammatory mediator release from rat mast cells. Gastroenterology, v. 104, p. 122-129, 1993. JAIN, K.S.; SHAH, A.K. et al. Recent advances in proton pump inhibitors and management of acid-peptic disorders. Bioorganic & Medicinal Chemistry. V. 15, p. 1181-1205, 2007. LACERDA, A. F.; LIMA, M. J. R.; MIRANDA, M. E. Anatomia, fisiologia e anomalias congênitas do intestino grosso. In: CASTRO, L. de P.; Gastroenterologia. v. 2. Ed. Medsi. Rio de Janeiro, 2004. MILANI, S.; CALABRÒ, A. Role of growth factors and their receptors in gastric ulcer healing. Microscopy Research and Technique, v. 53, p. 360-71, 2001. POMMIER, B.; MARIE CLAIRE, C.; DA NASCIMENTO, S. et al. Further evidence that the CCk2 receptor is coupled to two transduction pathways using site directed mutagenesis. Journal of Neurochemistry, v.85, p.454-461, 2003. SCHUBERT, M.L. Gastric secretion. Current Opinion in Gastroenterology. V.20, p. 519-525, 2004. SORBYE, H.; SVANES, K. The role of blood flow in gastric mucosal defence, damage and healing. Digestive diseases. V.5, p. 305-317, 1994. Wallace, J. L.; Granger, D. N. The cellular and molecular basis of gastric mucosal defense. Faseb. Journal, v. 10, p. 731 - 740, 1996. Wallace, J. L. Mechanisms of protection and healing: current knowledge and future research. American Journal of Medicine, v. 110, n. 1A, p. 19S-23S, 2001 Wikimedia Commons, Disponível em: www.commonswikimedia.org/wiki/File:Estomago.svg 34 FARMACOLOGIA DE PRODUTOS NATURAIS SISTEMA CARDIOVASCULAR Sandra Crestani Priscila de Souza Rita de Cássia M.V.A.F. da Silva Aspectos Fisiológicos da Pressão Sanguínea e Hipertensão Arterial O sistema cardiovascular consiste no sangue, coração e vasos sanguíneos. Para que o sangue possa atingir as células corporais e trocar materiais com elas, ele deve ser constantemente propelido ao longo dos vasos sanguíneos. A função básica deste sistema é a de levar material nutritivo e oxigênio às células, além de transportar produtos finais do metabolismo e hormônios de uma parte do corpo a outra. Assim, o sistema cardiovascular compõe-se das seguintes estruturas: a) coração; b) vasos arteriais; c) microcirculação; d) vasos venosos; e) vasos linfáticos. A oferta e manutenção do fluxo sanguíneo aos tecidos do organismo, que constituem os objetivos funcionais fundamentais do aparelho cardiovascular, estão na dependência básica de um determinado volume de sangue e de certo gradiente de pressão existente no interior do órgão. O sangue é ejetado a cada batimento cardíaco do ventrículo esquerdo para a aorta, de onde flui rapidamente para os órgãos através de grandes artérias de condução. Sucessivas ramificações levam, através de artérias musculares, a arteríolas e capilares, onde ocorrem trocas gasosas e de nutrientes. Os capilares coalescem para formar vênulas pós-capilares, vênulas e veias cada vez maiores, levando o sangue, através da veia cava, ao coração direito. O sangue desoxigenado ejetado do ventrículo direito percorre a artéria pulmonar, os capilares pulmonares e as veias pulmonares de volta ao átrio esquerdo. Pequenas artérias musculares e arteríolas 35 são os principais vasos de resistência, enquanto as veias são vasos de capacitância que contêm uma grande fração do volume sanguíneo total. Em termos de função cardíaca, portanto, as artérias e as arteríolas regulam a pós- carga, enquanto as veias e os vasos pulmonares regulam a pré-carga dos ventrículos. Ver representação ilustrativa (figura 1). Figura 1. Esquema simplificado do sistema cardiovascular. O aparelho circulatório é formado por um sistema fechado de vasos sanguíneos, cujo centro funcional é o coração. Fonte: http://pasuzana.pbworks.com/ . 36 Diversos são os mecanismos reguladores cardiovasculares, que atuam isoladamente ou combinadamente, com o propósito final de garantir adequado volume de sangue circulante e pressões arterial e venosa as mais estáveis possíveis dentro dos limites fisiológicos, visando a manutenção do fluxo sangüíneo tissular. Assim, o volume sangüíneo e a pressão circulatória são as duas variáveis hemodinâmicas que se constituem nos alvos finais da regulação cardiovascular. Em seres humanos, a pressão sanguínea varia constantemente, porém, raramente desvia dos valores referenciais (120 mm Hg para a pressão sistólica e 80 mm Hg para a diastólica) mais do que 10 a 15% durante o dia. Isto é possível porque o organismo possui mecanismos de controle que conseguem promover uma resposta adequada frente às ocasiões que a alteram. Os mecanismos de regulação da pressão arterial podem ser responsivos em curto, médio e longo prazo. Em curto prazo (resposta em segundos), esse controle é desempenhado pelos barorreceptores, quimiorreceptores e sistema nervoso central (SNC). Os rins exercem o controle da pressão arterial em longo prazo (horas ou dias). E em médio prazo (minutos), a regulação ou modulação ocorrem principalmente por ação dos sistemas hormonais (sistema renina- angiotensina, sistema calicreína-cinina, vasopressina e mediadores endoteliais). Ver esquema representativo (figura 2). 37 Figura 2. Os principais sistemas de regulação da pressão arterial incluem a divisão simpática do sistema nervoso, o sistema renina-angiotensina-aldosterona e autacóides derivados do endotélio tonicamente ativos. Fonte: Sociedade Brasileira de Hipertensão, 2010 Alterações em um ou ambos os mecanismos de controle da pressão arterial (neural e/ou humoral), poderão resultar em elevação dos níveis pressóricos, instalando-se assim um quadro de hipertensão arterial. Para adultos, quando ultrapassa a máxima de 130 mm Hg e a mínima de 85 mm Hg. A hipertensão arterial é uma doença altamente prevalente em nosso meio, atingindo cerca de 20% da população adulta com mais de 18 anos, chegando a alcançar índices de 50% nos idosos, estando entre as principais causas de morbidade e mortalidade em muitos países do mundo. Associa-se frequentemente a alterações funcionais e/ou estruturais dos órgãos-alvo (coração, encéfalo, rins e vasos sanguíneos) e a alterações metabólicas, com consequente aumento do risco de eventos cardiovasculares fatais e não-fatais. 38 É importante salientar que existem causas orgânicas para a hipertensão arterial, que são responsáveis por 10 a 15% na população em geral. Em indivíduos jovens ou crianças, esse número sobe para mais de 80%. As causas orgânicas, e potencialmente curáveis, de hipertensão arterial são: causas renais, particularmente uma obstrução da artéria renal, provocando baixa perfusão renal, estímulo da renina, etc. A obstrução pode ser derivada de um hipodesenvolvimento ou adquirida por uma trombose ou arteriosclerose; os indivíduos podem ser curados por cirurgia, sendo a artéria substituída por uma prótese. O feocromocitoma, um tumor de células cromafins secretoras de catecolaminas que existem no córtex das supra-renais, provoca crescimento desordenado dessas células e grande secreção de catecolaminas na circulação, fazendo com que haja aumento da pressão arterial e vermelhidão em vários momentos do dia; são picos de hipertensão, com vermelhidão e sensação de angústia. Não é o que acontece em um indivíduo hipertenso, que apresenta os sintomas continuamente. Os outros 85% dos casos de hipertensão arterial são idiopáticos, ou seja, não se sabe a causa, mas apenas os fatores derisco. Pressão arterial persistentemente elevada leva à hipertrofia do ventrículo esquerdo e remodelação das artérias de resistência, com estreitamento da luz. A resistência vascular periférica elevada põe em ação várias respostas fisiológicas envolvendo o sistema cardiovascular, o sistema nervoso e o rim. Tais círculos viciosos constituem potenciais alvos para ataque farmacológico. A remodelação das artérias de resistência em resposta à elevação da pressão reduz a proporção entre o diâmetro da luz e a espessura da parede e aumenta a resistência vascular periférica. O papel dos fatores de crescimento celulares (inclusive a angiotensina II) e inibidores do crescimento (p.ex., óxido nítrico) na evolução destas alterações estruturais é de grande importância para o uso terapêutico de fármacos como os inibidores da enzima conversora de angiotensina. 39 O tratamento envolve medidas não-farmacológicas, como redução da ingestão de sal e gorduras da dieta, redução do peso e do consumo do álcool, prática de exercícios, seguidas pela introdução gradual de fármacos, iniciando com aqueles que tenham benefício comprovado e que tenham a menor probabilidade de produzir efeitos colaterais. Anti-hipertensivos Figura 3. Diagrama mostrando os principais mecanismos envolvidos na regulação da pressão arterial. Fonte: Adaptado de RANG & DALE, 2007 Dentre os anti-hipertensivos que são utilizados na clínica para o tratamento da hipertensão e suas complicações, destacam-se os diuréticos, os beta- bloqueadores, os bloqueadores de canais de cálcio, os inibidores da enzima conversora de angiotensina, os bloqueadores de receptor da angiotensina II, os antagonistas da aldosterona e os inibidores de renina. Ver ilustração (figura 3). Do ponto de vista fisiopatológico, a hipertensão é uma doença que envolve mudanças persistentes em pelo menos uma das variáveis hemodinâmicas (débito cardíaco, rigidez arterial, ou resistência periférica) que determinam a mensuração da pressão arterial. Cada uma dessas variáveis tem um potencial alvo terapêutico, e é provável que alterações nestas variáveis também contribuam 40 para a heterogeneidade da resposta farmacológica dos pacientes com hipertensão. Além disso, o tratamento atual adota estratégias que visam não só focar na redução da pressão arterial, mas também em normalizar a estrutura e função vascular. A redução da pressão arterial tem sido associada com uma redução em cerca de 40% do risco de ataques súbitos e em cerca de 20% de redução do risco de infarto do miocárdio. Além disso, as diretrizes de práticas clínicas atuais identificam a redução da pressão arterial como prioridade no tratamento de pessoas com hipertensão. Porém, uma das maiores dificuldades encontradas nas terapias farmacológicas refere-se ao fato de que alguns pacientes mostram-se refratários aos tratamentos convencionais, além de outros apresentarem grande número de efeitos adversos, tornando cada vez mais necessário o avanço das pesquisas em foco de novas alternativas terapêuticas, assim, uma opção tradicionalmente bem aceita provém dos produtos naturais, especialmente aqueles habitualmente utilizados devido ao grande apelo popular. Estes produtos podem representar, potencialmente, uma fonte alternativa no fornecimento de novas estruturas químicas, assim como um recurso ativo na forma de fitoterápico padronizado e eficaz. Como exemplos relevantes de medicamentos obtidos de plantas, podemos mencionar a digoxina (Digitalis sp.), o quinino (casca da Chinchona sp), a pilocarpina (Pilocarpus jaborandi), a vincristina e a vinblastina (Catharanthus roseus), dentre outros. É muito restrito o número de produtos naturais com atividade comprovada sobre o sistema cardiovascular. Um dos poucos exemplos são o pó e o extrato das raízes da Rauwolfia serpentina Benth. ex Kurz usados principalmente em países asiáticos por sua ação hipotensora, devido a presença do alcalóide reserpina, um simpaticolítico, outrora comercializado, e muito usado como anti-hipertensivo. Atualmente encontra-se em desuso devido a elevada prevalência de efeitos colaterais, sendo mais utilizado como ferramenta experimental. 41 No departamento de Farmacologia da UFPR, o grupo de pesquisa “Farmacologia e Toxicologia Pré-Clínica de Produtos Naturais”, desenvolve trabalhos com o objetivo de estudar plantas medicinais utilizadas popularmente com base em informações etnofarmacológicas e etnobotânicas, buscando contribuir com a verificação da sua eficácia, em conjunto com a determinação da toxicidade e do estudo dos mecanismos de ação destes produtos. AULA PRÁTICA Modelos experimentais em farmacologia cardiovascular: Efeito do composto XY (produto natural) sobre a pressão arterial de ratos anestesiados Material: pinças, tesouras, sistema de registro de pressão arterial, cateteres, cânulas, seringas, agulhas, pipetas de precisão e bomba de infusão. Sais e drogas: heparina, solução salina isotônica, acetilcolina, composto XY, N- ω-Nitro-L-Arginina Metil Ester (L-NAME). Animais: 02 ratos Wistar, machos, peso entre 250-300 gramas. Procedimento para o registro direto da pressão arterial em ratos anestesiados. Os animais deverão ser anestesiados e permanecer sob anestesia profunda durante todo o período de experimentação. Para isso, será utilizada a mistura de cetamina (100 mg/kg) e xilazina (20 mg/kg), administrada pela via intramuscular e suplementada a intervalos de 45–60 minutos, se necessário pela via intramuscular, intraperitoneal ou intravenosa. Uma vez anestesiados os animais devem ser fixados em decúbito dorsal. Em todos os protocolos, a veia femoral esquerda será localizada e dissecada para inserção de uma agulha 42 conectada a um cateter de polietileno (PE20). Imediatamente após a canulação da veia femoral, 0,1 mL de heparina sódica diluída em 100 mL de solução salina isotônica, será injetada pela via intravenosa (300 uL) para prevenir a formação de coágulos e a obstrução das cânulas. A canulação da veia femoral também se destina à administração das drogas a serem empregadas neste estudo. Todos os animais serão submetidos à traqueostomia e mantidos sob respiração espontânea. A artéria carótida esquerda de cada animal será localizada e cuidadosamente isolada do nervo vago e tecidos adjacentes. Com auxílio de linha de sutura, o fluxo sangüíneo da artéria carótida será interrompido na altura de sua extremidade distal, enquanto o fluxo em sua extremidade proximal será temporariamente suprimido pela compressão com uma pinça curva. Utilizando-se uma tesoura oftalmológica, um pequeno corte será realizado na região medial da porção da artéria carótida clampeada, servindo como via para inserção de um catéter de polietileno (PE 20), devidamente heparinizado, que será firmemente conectado à artéria e conectado ao transdutor de pressão interligado ao polígrafo computadorizado da ADI instruments para a mensuração continua da pressão arterial. Após a preparação dos animais, conforme descrito anteriormente, e a primeira parte do protocolo experimental finalizada (item a), a veia femoral contra- lateral àquela utilizada para a administração em bolus será igualmente canulada e conectada a uma bomba de infusão contínua. Os animais receberão infusão contínua com L-NAME; 7 mg/kg/min (correspondente a 10 µl/min) até elevação e estabilização da pressão (item b). Após esse período serão administradas, as substâncias em teste (item c). Os registros serão obtidos por meio de transdutores de pressão acoplados a um amplificador de sinais (Modelo ML 130, MacLab ADI19 Instruments, EUA) conectados a um computador Macintosh contendo um software específico de integração (Chart v4.0, PowerLab/MacLab, ADI Instruments,EUA). 43Observação: Após a canulação, os animais devem ter a pressão arterial registrada por pelo menos 15 minutos antes da administração de qualquer substância. Ao final dos experimentos, todos os animais serão sacrificados através de uma overdose de tiopental (superior a 40 mg/Kg, i.v.). Animal 1: a. Administrar acetilcolina (10 nmol/kg, i.v.) b. Administrar L-NAME (infusão 7 mg/kg/min, i.v.) c. Administrar acetilcolina (10 nmol/kg, i.v.) Animal 2: a. Administrar composto XY (30 mg/kg, i.v.) b. Administrar L-NAME (infusão 7 mg/kg/min, i.v.) c. Administrar composto XY (30 mg/kg, i.v.) Bibliografia: BRUNTON L. L., LAZO J.S., PARKER K.L. Goodman & Gilman. As bases farmacológicas da terapêutica. 11ª edição. Editora Mc Graw Hill, Rio de Janeiro, 2006. GUYTON, A.C., HALL, J.E. Tratado de Fisiologia Médica. Elsevier, 11ª edição. 2006. RANG, H.P.; DALE, M.M.; TITTER, J. M. Farmacologia. 5 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007. VI Diretrizes Brasileiras de Hipertensão - Sociedade Brasileira de Hipertensão, 2010. 44 SISTEMA NERVOSO CENTRAL DOENÇA DE PARKINSON Janaína Barbiero Ronise Martins Santiago A doença de Parkinson (DP) é o segundo distúrbio neurodegenerativo mais comum depois da doença de Alzheimer com elevada prevalência nas últimas décadas de vida. Em 1817, o médico inglês James Parkinson descreveu a DP em um ensaio que ele denominou de “Ensaio da paralisia agitante” que mais tarde recebeu seu nome. O início da doença manifesta-se em média aos 55 anos de idade e a sua incidência aumenta marcadamente com o envelhecimento e ainda, é aproximadamente 1.5 vezes maior no homem que nas mulheres em todas as idades. Há quatro classificações de parkinsonismo: 1) parkinsonismo primário (DP idiopática), que é a forma mais comum de parkinsonismo; 2) parkinsonismo secundário, causado por drogas indutoras de parkinsonismo, como por exemplo, antagonistas dopaminérgicos, e pós-encefalite; 3) parkinsonismo associado a outros distúrbios neurológicos como, por exemplo, paralisia supraventricular progressiva e atrofia de múltiplos sistemas; 4) distúrbios neurodegenerativos que apresentam o parkinsonismo como uma de suas características, por exemplo, doença de Huntington e doença de Wilson. A causa da DP idiopática ainda é desconhecida, mas sabe-se que diversos fatores estão envolvidos, tais como o estresse oxidativo, erros no enovelamento de proteínas como a parkina, ubiquitina e a-sinucleína, neuroinflamação, envelhecimento, fatores genéticos, dentre outros. 1. Sinais e Sintomas da Doença de Parkinson 45 São observados na DP sinais característicos conhecidos como “sinais cardinais” da doença. Estes sinais resumem-se principalmente em tremores em repouso, instabilidade postural, bradicinesia e rigidez, todos confluindo para uma severa alteração na marcha do paciente. O tremor parkinsoniano é o sintoma inicial em cerca de 60-70% dos pacientes, sendo a característica mais evidente da DP, embora não seja necessariamente a mais incapacitante, uma vez que pode ser suprimido pela execução de movimentos voluntários e reduzido com o uso de anticolinérgicos. Pacientes com DP também apresentam dificuldades na programação e execução de movimentos, e em estágio mais avançado exibem dificuldade em iniciar movimentos. Da mesma forma, o desempenho desses pacientes em tarefas que requerem a realização de movimentos seqüenciais e simultâneos é prejudicado. A rigidez muscular pode ser definida como um aumento da resistência da articulação durante um movimento passivo e frequentemente é relatada pelos pacientes como “sensação de dureza” e capacidade reduzida de relaxar os músculos dos membros. A instabilidade postural é um sintoma comum da DP e compromete a capacidade do paciente de manter o equilíbrio durante as tarefas diárias, tais como levantar, andar e curvar-se, aumentando o risco de quedas do paciente (MORRIS, 2000). Além dos prejuízos motores, pacientes com DP apresentam outros sintomas como ansiedade, depressão, distúrbios do sono, fadiga, constipação, distúrbio olfatório e declínio cognitivo (FAHN e SULZER, 2004; YANAGISAWA, 2006; ZIEMSSEN e REICHMANN, 2007). É importante salientar que atualmente a literatura mostra que grande parte desses sinais e sintomas não-motores possuem um peso quase igual aos sinais e sintomas motores no que diz respeito à qualidade de vida do paciente. Diante disso, inúmeros estudos têm voltado suas atenções no intuito de entender as relações entre os aspectos motores e não- motores assim como os sistemas de neurotransmissão responsáveis pela regulação dessas funções, então comprometidas pela doença. 46 2. Fisiopatologia da Doença de Parkinson A DP consiste em uma degeneração progressiva de neurônios dopaminérgicos que apresentam seus corpos celulares na substância negra pars compacta (SNpc) e projetam seus axônios em direção ao estriado dorsal. Acredita-se que a redução nos níveis de dopamina estriatais seja a principal responsável pelas alterações motoras oriundas da neurodegeneração da SNpc. Embora essa teoria explique a ocorrência das alterações motoras, ela vem sendo questionada por inúmeros pesquisadores que tem demonstrado que há morte de neurônios em outras regiões não-dopaminérgicas que antecedem os acontecimentos nigrais. Em resumo, neurônios noradrenérgicos do lócus coeruleus, colinérgicos do tronco encefálico, serotoninérgicos dos núcleos da rafe, glutamatérgicos do córtex entorrinal e da formação hipocampal, morrem antes dos neurônios dopaminérgicos da SNpc. A partir dessas descobertas recentes têm-se postulado a ocorrência de diferentes estágios (seis no total) para a DP, sendo que durante os três primeiros observam-se apenas alterações não-motoras, e apenas nos três últimos estágios (a neurodegeneração da SNpc apenas no quarto estágio) detectam-se os sinais e sintomas motores clássicos (BRAAK ET AL., 2003). 3. Modelos Animais da Doença de Parkinson Existem diversos modelos animais para o estudo da DP, dentre eles estão o modelo da 6-OHDA, MPTP, rotenona, paraquat, LPS e reserpina. Além desses modelos farmacológicos, há também modelos que utilizam animais transgênicos, como por exemplo, animais nocaute para o transportador de dopamina. Tais modelos são bastante importantes para o desenvolvimento de novos agentes antiparkinsonianos, mas também como ferramenta na elucidação da patogênese da DP. AULA PRÁTICA CIRURGIA ESTEREOTÁXICA: infusão de toxinas na SNpc de ratos 47 A cirurgia estereotáxica é um procedimento eficaz para atingir, precisamente, áreas individualizadas do encéfalo com menor lesão possível de estruturas adjacentes. Esta manobra também é utilizada para a introdução de cânulas guia para que posteriormente, ocorra a aplicação rápida e/ou repetidamente de microquantidades de drogas diretamente na estrutura desejada. O aparelho estereotáxico é composto basicamente por barras ajustáveis as quais irão formar um conjunto que irá fixar a cabeça do rato. A barra esquerda ou direita inicialmente é mantida fixa, sendo posicionada no conduto auditivo externo com cautela. Em seguida, a barra que ficou móvel é posicionada na mesma região da orelha direita/esquerda, fixando completamente a cabeça do animal. Para a fixação da barra dos incisivos, é necessário abrir a boca do animal, inserindo a barra e fixando o focinho. A assepsia pode ser feita após a cabeça estar devidamente presa. O aparelho estereotáxico possui também uma torre capaz de locomover-se sobre um sistema de coordenadas tridimensionais e alcançar qualquer ponto do encéfalo, alvo da cirurgia, com a precisão de décimos de milímetros. Nesta torre é acoplada a cânula que será introduzida. Animais: ratos Wistar machos,
Compartilhar