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A CONSTRUÇÃO DO EU NA MODERNIDADE CAP 8 O EU E O NÃO EU **Séc XVII : nossa forma atual de relação com a loucura surgiu nesse século. A questão é que antes desse século, ou em culturas ocidentais, a forma de se compreender o que se passava com essas pessoas era diferente. **Antes do séc XVII ou em culturas não ocidentais: o “louco” era tomado como um visionário, ou como um possesso pelo demônio, ou como um bobo, e não era afastado do convívio social. *A perda da razão por um homem não produzia o efeito de medo que passou posteriormente a gerar. *Porque surgiu o medo da loucura? **No mundo medieval a ordem do mundo e todas as certezas era dada por algo externo ao próprio homem : Deus. Se um homem via coisas que ninguém mais via, ou pensava o que ninguém mais pensava, isso era um problema dele que não afetava aos demais. ***Ao fim da Idade Média e depois de Descartes (Séc VII) a situação mudou totalmente: o ponto de referência do homem é sua crença em um “eu” pensante objetivo e consciente. Portanto, qualquer coisa que pudesse pôr em questão a lucidez e a estabilidade do eu, seria tomada como altamente ameaçadora. (por isso o “afastamento” do louco) **O afastamento do louco: serve mais aos outros do que a ele. Não há qualquer expectativa de tratamento. Trata-se simplesmente de um isolamento por medo do contágio. *O louco será tratado como um animal, como alguém que perdeu a alma, pois esta identifica-se com o eu e sua racionalidade. ** Foucaut ( 1926-1984, filósofo e historiador francês): mostra que os hospícios eram os antigos leprosários da Idade Média, o que mostra a associação feita com aquele mal terrível e contagioso. **Não se pode pensar em um eu louco, se há loucura, o eu submergiu. Desenha-se novamente aquela referência à pintura barroca com o estilo do claro/escuro: não há razão relativa, ou se é são e dono de seu eu, ou se é louco e alienado absolutamente. ***Outra referência sobre o que habita o espaço excluído ao eu é a obra do filósofo inglês Thomas Hobbes ( 1588-1679), matemático e filósofo inglês):Em sua principal obra Leviathan tenta sistematizar idéias a respeito da natureza humana e do Estado. *Acredita que o homem deve seguir o caminho da racionalidade. O eu social sobrepõe-se sobre a natureza humana, que deve ser dominada totalmente. *Visão naturalista da natureza humana: em um estado de natureza, isto é, na ausência de um poder constituído ou de compromissos entre os homens que determinasse o que pertence a quem, todo homem teria o direito de fazer tudo o que quisesse. *Em Hobbes, o homem é visto como um ser egoísta, movido pela busca do prazer e pela fuga dos perigos da morte. Isso o levará a ser violento, e a entrar em guerra. ( a sociabilidade não faria parte da natureza humana ) *Uma paz duradoura só poderia ser conquistada por um esforço da razão para apreender as leis naturais e a constituição de um poder centralizado e coercitivo que subjugasse as inclinações individuais. *Mesmo que não haja um Estado constituído é possível a realização de acordos entre indivíduos. Aqui surge a idéia de “contrato” (os homens renunciam ou transferem direitos mutuamente, ou a um soberano a quem caberá a função de legislar, de definir o que é bom, e o que é mau, e o que cabe a cada homem) **Com a instituição desse poder ( o Estado), todas as inclinações individuais estão canalizadas e direcionadas. O Estado ( que legisla e julga) contem as vontades como as margens de um rio contém suas águas evitando sua dispersão. ***Concluindo: o nascimento da nossa representação moderna da loucura é contemporâneo ao momento de maior afirmação do “eu” enquanto sujeito consciente e livre para conhecer a verdade. CAP 9 OS MORALISTAS DO SÉCULO XVII ***Na medida em que a referência moral gradativamente vai deixando de ser a Igreja, e a própria concepção de auto controle refere-se cada vez menos a Deus, é na própria sociedade que se produzirão normas e mecanismos de vigia sobre seu cumprimento. **Os moralistas: são pessoas dedicadas à observação do comportamento humano . Trata-se de uma série de autores que procuraram codificar as regras de conduta do ser humano. O termo também se aplica a autores que denunciam as hipocrisias e farsas na ação de muitos homens. Alguns desses autores: **La Fontaine( 1621-1695, fabulista francês): suas fábulas costumam conter uma “moral da história”, de conteúdo edificante. Por trás de sua obra há uma concepção de certo e errado que ele procura impor. Existe um tom irônico presente nas fábulas, mas o autor é cuidadoso e não denuncia frontalmente ninguém. **La Rochefoucauld( 1613-1680 moralista francês) : Sua forma de expressão foi a “máxima”, um texto pequeno , em geral de um único parágrafo que funciona como um provérbio.Suas idéias apontam que o principal motor da vida humana é sua vaidade, ou seja o amor a seu próprio eu. Ele denuncia com humor irônico o quanto o eu é pretencioso e iludido sobre si mesmo. **O séc XVII: é o século em que mais é apresentado como tema “a afirmação e construção do eu”, quer para levá-lo ao seu ponto mais alto, quer para denunciar esse novo soberano. Seleção de máximas e reflexões de La Rochefoucald *As faltas da alma são como feridas do corpo: por mais cuidado que se tome em curá-las, a cicatriz aparece sempre, e elas estão sempre em perigo de reabrir. *A loucura nos segue por tido o tempo da vida. Se alguém parece sábio, é apenas porque suas loucuras são proporcionais à sua idade e à sua fortuna. *Se há homens cujo ridículo nunca apareceu , é porque não se procurou bem. *Nós ganharíamos mais em nos deixar ver tais como somos, que em tentar parecer o que não somos. CAP 10 O PÚBLICO E O PRIVADO ***Séc XVII: a partir da disposição do “eu’ como centro do mundo no século XVII, é considerado como o século da inauguração da Modernidade. **No séc XVII : o eu passou a ser tomado como centro do mundo: a própria essência do homem foi identificada à sua racionalidade e consciência. O eu é a totalidade da experiência humana. **No séc XVIII : o eu deixará de ser tomado como totalidade, e tomará o aspecto de uma apresentação social, uma auto-imagem cultivada e civilizada ( “o público”) que encobre algo mais que habita e constitui as pessoas e que elas procuram manter em segredo (“o privado”). *******O espaço da privacidade: só foi tornado possível desde que a crença em um Deus onipresente e onisciente deixou de dominar a experiência do homem ocidental. A privacidade abarcará todo um universo de desejos e pensamentos anti-sociais, que devem ser ocultos pela etiqueta e pelas boas maneiras. **A Modernidade: o que interessa ao Estado é manter o controle sobre as ações dos homens; seu pensamento pode permanecer em total liberdade. **O séc XVIII: é o século das luzes ( século em que a razão , livre de qualquer coerção moral ou religiosa, estendeu-se sobre todo e qualquer objeto) , com os desdobramentos do racionalismo cartesiano. *É também o século do artifício, da manutenção de uma imagem social. ( a etiqueta e a multiplicação das regras de conduta que servem para que se estabeleça uma hierarquia entre as pessoas). ***Destaques para : ***a obra de Françóis de Sade (1740-1814, escritor francês) Para Sade todo princípio moral universal é uma quimera. Se a virtude se apóia na religião, ela não se apóia em nada, desde que Sade sustenta que Deus não existe. A única instância a que se pode apelar é a natureza, à qual o homem pertence, como qualquer outro animal. ***Poderia se pensar que Sade pregou uma revolução dos costumes, já que não haveria qualquer fundamento legítimo para a moral. Porém, ele diz que se saíssemos por aí mostrando nossos desejos, seríamos presos ou mortos. Ele prega uma hipocrisia social: quando em público, devemos jogar o jogo social, pagar impostos, cumprir mossa obrigações civis e mantermos um comportamento adequado à nossa cultura. *** Porém, quando retirados à vida privada, não haveria qualquer motivo para abrir mão de nossosdesejos. A alcova é o lugar preservado para o “crime” ( sexualidade e prazer) ***O pensamento de Sade é amoral por desqualificar toda tentativa de fundamentar um critério absoluto de moral. ***a obra de Amadeus Mozart (1756-1791,compositor austríaco) Boa parte de suas obras é composta por peças leves, gostosas, facilmente recordáveis; ele compunha para a corte e devia fazer músicas agradáveis. Por outro lado sua obra possui também momentos de inspiração profunda e densa, quase romântica. Peças essas que exigiam maior concentração do público e não se prestam a concertos em parques. Nelas, está contida a vida mais íntima, privada, de Mozart. ***o romance As Ligações perigosas ( Chauderlos de Lacios, 1741-1803, escritor francês) representa o distanciamento entre, de um lado, a construção e manutenção de uma imagem social e, de outro, o universo perverso oculto sob as máscaras .Seu formato é uma troca de cartas, o que é um artifício comum na época- assim como o do diário íntimo-, dando ao leitor a impressão prazerosa de estar invadindo um território privado, e assim, proibido. O século das Luzes – o ILUMINISMO: ***Foi um movimento cultural da elite européia do séc XVIII que procurou mobilizar o poder da Razão , a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. ***Promoveu o intercâmbio intelectual e foi contra a intolerância e os abusos da Igreja e do Estado. ***Principais representantes: Spinoza; John Locke; Isaac Newton; Voltaire; Rosseau; Kant; Adam Smith ***Esta forma de pensamento tinha o propósito de “jogar luzes” nas trevas em que se encontrava grande parte da humanidade. *** Fazia uma forte crítica ao absolutismo ao defender a liberdade econômica, política e social. ***O Iluminismo é um conceito que sintetiza diversas tradições filosóficas, sociais, políticas, correntes intelectuais e atitudes religiosas. *** Os iluministas admitiam que os seres humanos estão em condição de tornar esse mundo melhor, mediante a introspecção, o livre exercício das capacidades humanas e o engajamento político-social. ***Princípios e idéias do Iluminismo*** *Liberdade de expressão; *tolerância, *primado da razão; *crença na evolução e no progresso; *crítica à religião; *individualismo CAP 12 A AUTO CRÍTICA DA RAZÃO Séc XVIII: Inicia-se um processo de crise de noção de subjetividade afirmada até o século anterior. No interior da própria racionalidade iluminista, a razão será tomada como objeto de investigação e suas pretensões quanto a possibilidade de alcançar a verdade plena será posta em cheque. ***Com Immanuel Kant ( 1724-1804, filósofo alemão : o próprio pensamento será tomado como objeto de investigação. (a razão pensa por si própria), Trata-se de investigar as possibilidades , os limites da razão, impostos pela sua própria constituição. Nosso conhecimento sobre o mundo seria condicionado e formatado por nossas estruturas cognitivas. ( nunca temos acesso às coisas em si, mas apenas aos fenômenos, ou seja, ao mundo tal como somos capazes de apreendê-los, como se dá para nós) Isto não significa que a razão é inútil ou que devesse deixar de procurar compreender o mundo. Ela deve aprender a manter-se em seus limites, dentro dos quais poderá produzir conhecimento confiável.ela deverá procurar produzir hipóteses, modelos teóricos através dos quais seja possível organizar e dar sentido aos fenômenos. Os princípios a que se chega não possuem o caráter de absoluto. Eles são relativos, provisórios, e apontam para um limite circunstancial da razão, que poderão ser abandonados e ultrapassados. O eu encontra-se com uma visão positiva de suas possibilidades, mas já não tão onipotente. REFERÊNCIA SANTI, A CONSTRUÇÃO DA MODERNIDADE
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