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Trabalho 
 De
 Sociologia
INTRODUÇÃO
 O assunto drogas permeia quase todos os campos de debates, sem distinção de classe social nem nível intelectual. Entretanto, o proibicionismo sobre as drogas está arraigada na sociedade em geral de maneira tão incrustada que nem mesmo permite que o diálogo com a corrente oposta ocorra, o que caracteriza uma verdadeira cegueira ideológica . As pessoas em geral tomam o assunto como um tabu. 
Diante dessa realidade social, pretende-se neste n trabalho construir uma visão crítica sobre essas substâncias, sobre as pessoas que lançam mão delas e sobre a sociedade em que essas relações ocorrem, para conseguirmos realizar esse objetivo é necessário que tenhamos em mente a interdisciplinaridade que envolve o assunto. Por esse motivo neste trabalho procura-se compreender a visão outras áreas do conhecimento, como a psicanálise, a sociologia e a criminologia.
Drogas, um olhar sociológico. 
A droga, por si só, é uma substância ou ingrediente químico qualquer que por sua natureza produz determinado efeito. Os gregos da antiguidade nos legam um conceito muito exemplificativo do que é a droga. Trata-se da palavra phármakon. Para eles, essa palavra designava uma substância dotada de duplo efeito: remédio e veneno. Nota-se, que a expressão phármakon não se refere a substâncias inócuas e nem a substâncias puramente venenosas. Ela designa um composto que naturalmente congrega em si potencial de cura ou de ameaça. O que faz phármakon assumir um ou outro efeito no organismo é a proporção de sua dose que pode ser curativa ou mortífera.
 XIBERRAS traz para a atualidade esse mesmo sentido para as drogas. Afirma a antropóloga que todas as substâncias psicotrópicas trazem potencialmente em si o poder de decuplicar as capacidades humanas ocasionando sensações caracterizadas pela euforia ou disforia. Entretanto, após a transição de um consumo moderado para a utilização intensiva, ou seja, quando o usuário perde o controle sobre o produto, esses efeitos assumem uma relação oposta, pois aquelas capacidades que antes se encontravam sobre potenciadas agora passam a sofrer uma constante perda ou diminuição, o que caracteriza a passagem do remédio para o veneno.
Não obstante, a definição do que seja a droga não é uma tarefa fácil, sendo empreendida por diversas áreas do conhecimento, cada qual tendo uma visão distinta sobre o tema. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), droga é qualquer substância capaz de modificar a função dos organismos vivos, resultando em mudanças fisiológicas ou de comportamento. Para farmacologia, todo produto capaz de desenvolver uma atividade farmacológica, independente de sua toxidade, seria considerado droga. Outros conceitos também foram criados levando-se em consideração as características desses produtos. Todavia, esse tema também não é uníssono e gera grandes discussões.
Quase sempre a pessoa começa a usar a droga através do melhor amigo, o colega de carteira da escola, o namorado ou namorada. No inicio é oferecida de graça, se ele aceita, “o amigo” vai estar em seu caminho para oferecer outras drogas até que a dependência se instala e ai o produto passa a custar dinheiro. Nesse ponto a pessoa já se tornou escrava da droga e do seu fornecedor, que nem sempre é o traficante maior, mas age em seu nome, faz o seu trabalho.
Em termos de classificações, uma das primeiras adotadas sobre os efeitos eufóricos que a droga causa subdivide-se em cinco grandes famílias, as quais, para XIBERRAS, constituem a abordagem mais completa para qualquer reflexão acerca dos psicotrópicos e seus efeitos.
 Quanto aos seus efeitos podem ser usadas como os grupos que se dividem em narcóticos, sedativos, estimulantes, alucinógenos e substâncias químicas, ou, segundo uma visão farmacológica, classificadas em hipnóticos, ansiolíticos, neuropiléticos, psicoestimulantes, antidepressivos e psicodélicos. Todas essas espécies congregam muitas semelhanças e ao mesmo tempo se confundem. 
Isso porque, os efeitos das drogas não são únicos e podem variar substancialmente conforme a quantidade consumida e conforme a própria pessoa do usuário.
Todavia, há um tipo de classificação que requer maior atenção devido à proposta deste trabalho. Trata-se da classificação jurídica que reduz todas as drogas em dois grandes grupos: as lícitas e as ilícitas.
Embora as outras contenham também falhas, sem dúvida, essa é a mais problemática delas. Isso porque, não se consegue vislumbrar razão lógica que determine qual substância será considerada lícita, qual será considerada ilícita. Embora se possa imaginar que o critério adotado seja o da lesividade à saúde humana (perspectiva médica), isso não se sustenta, pois substâncias como o álcool e o ilícitas, hoje não são mais. Da mesma forma, existem outras substâncias menos lesivas que essas duas e, mesmo assim, são consideradas proscritas. Isso nos conduz à conclusão de que o único critério adotado é o político e moral.
No Brasil, o que distingue quais drogas são consideradas ilícitas é a Lista F de substâncias do ANEXO I da Portaria nº 344/98 da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), a qual é atualizada por Resoluções da Diretoria Colegiada (RDC), sendo que a última alteração deu-se em 26 de outubro de 2006 (RDC nº 44/10). Portanto, é dessa Portaria que a Lei de Drogas de 2006 se vale para definir para quais as substâncias que se aplicam seus tipos penais (artigo 1º, § Único). Com efeito, temos que a parte integradora de diversos tipos penais são criados e alterados por atos do poder executivo, ou seja, é uma lei penal em branco que necessita o complemento de uma medida administrativa para sua formação. Contudo, as medidas dessa espécie não seguem o rigoroso procedimento de criação de uma lei penal, embora produza os mesmos efeitos incriminadores. Tal situação coloca em dúvida a constitucionalidade da Lei, pois o princípio da Reserva Legal Absoluta confere legitimidade somente às leis penais oriundas do poder legislativo, órgão idôneo e democrático para produzir tipos incriminadores que destituirão do cidadão sua liberdade.
Na Holanda, a classificação jurídica dada pela Lei Holandesa do Ópio é diferente, pois agrupa as drogas em duas classes: as de risco inaceitável à saúde, chamadas “drogas pesadas” (compreendendo nesse grupo a heroína, cocaína, anfetaminas, LSD, etc) e aquelas que oferecem riscos menores, as “drogas leves” (como por exemplo, a maconha e o haxixe). 
Retornando à questão das drogas propriamente ditas, em síntese, temos os múltiplos saberes que se projetam para entender as drogas redundam em diversas classificações desse produto. Essas diversas classificações, sem dúvida, não são suficientes para nos dar uma compreensão satisfatória sobre as drogas. Como dito, os efeitos delas são variáveis conforme a quantidade, forma de usar, frequência e, sobretudo, conforme a pessoa do usuário. A droga, o sujeito e o contexto sociocultural são indissociáveis, de modo que os efeitos resultantes do uso variam também conforme as predisposições psicológicas, os saberes e as expectativas dos consumidores. Portanto, para Portanto, para uma melhor compreensão, passemos a analisar o sujeito que se droga.
Desde uma visão cartesiana, nossos sentidos corporais são os únicos veículos capazes de nos inserir na realidade externa do mundo. O psiquismo humano depende dessa realidade, no entanto, somente toca nela por intermédio de si mesmo, de seu corpo.
 Assim, a realidade que percebemos não é outra coisa senão aquilo que capturamos por nossos órgãos sensíveis e transmitimos através de nosso sistema nervoso e, por fim, processamos e interpretamos por intermédio de nosso cérebro. A droga cumpre o papel de atuar intervindo em alguma fase desse processoe assim modificar a experiência da realidade vivenciada pelo usuário. Por conseguinte, o efeito da droga é resultante do intercâmbio entre ela própria e o usuário. Logo, reconhecermos a impossibilidade de trabalharmos com fórmulas prontas quando tratamos da relação do homem com as drogas, pois cada sujeito fará sua própria “costura” com a substância utilizada.
Em relação às individualidades referentes ao consumo de drogas, existem dois grandes grupos: os usuários e os toxicômanos, ou dependentes. O usuário pode consumir a droga esporadicamente ou mesmo com certa frequência, contudo, ela nunca se transforma na razão máxima de sua vida. O toxicômano, por sua vez, é compelido por uma força física e psíquica muito poderosa a lançar mão sobre essa substância, de modo que elas passam a ser o valor soberano na regulação de suas existências em detrimentos de outros como os laços familiares, afetivos e profissionais. Ou seja, a diferenciação de um grupo para o outro se concentra na dimensão compulsão máxima de sua vida. O toxicômano, por sua vez, é compelido por uma força física e psíquica muito poderosa a lançar mão sobre essa substância, de modo que elas passam a ser o valor soberano na regulação de suas existências em detrimentos de outros como os laços familiares, afetivos e profissionais.
 Ou seja, a diferenciação de um grupo para o outro se concentra na dimensão compulsiva que marca a ingestão desses produtos.
Pode ocorrer de um sujeito ter muitos anos de consumo cotidiano, dele ser física e psiquicamente dependente, mesmo assim, não significa que esse sujeito seja um toxicômano, um viciado, pois o uso de drogas em sua vida pode ser tão somente um comportamento a mais, integrante de certos códigos para a toxicomania acaba gerando uma homogeneização, criando “valas comuns” conceituais que, do ponto de vista da psicanálise, nada contribui para o avanço da questão.
 Do ponto de vista social, essa vala comum destinada ao usuário de drogas gera um perverso efeito, o estigma, nos termos que nos foi legado pela criminologia da reação social e que está impregnado no pensamento da coletividade. O senso comum visualiza o uso de drogas como um comportamento diferente, desviante da “norma social” vigente. Essa mesma norma social não permite a existência desses comportamentos dentro da pureza de sua normalidade, pois considera que o “anormal” afeta o bom funcionamento de uma sociedade. Assim, ao nomear os sujeitos que usam drogas, ao “enquadrá- los” como “drogados” fazem com que essas pessoas encontrem um lugar para elas dentro dessa ordem, uma espécie de depósito onde sobrepomos as diferenças, os desviados. Lembrando que não são apenas de muros e celas que se erguem os grandes depósitos, pois a forma mais perversa de segregação é aquela formada por nossas próprias concepções teóricas.
Aliado a essa perspectiva, verifica-se que existe na sociedade uma cultura do medo e do pânico oriunda da violência cada vez mais recorrente nos grandes centros. Ressalta-se que essa violência é, em grande parte, uma violência simbólica, ou seja, não necessariamente formada por fatos concretos, mas sim por sensações sociais devido à proliferação do pânico veiculada pela mídia. Essa situação conduz a disseminação do preconceito aos grupos minoritários (desviantes) os quais a sociedade associa como responsáveis por essa onda de violência. Aqui também são inseridos os usuários de drogas, pessoas demonizadas sobre as quais se deposita “todos os males” da sociedade e a responsabilidade por todo caos existente. Assim, transformam os usuários de drogas em verdadeiros bodes-expiatórios da atualidade.
Interessante notar que a criminalização atinge somente a parcela vulnerável da sociedade, a amarga massa de pessoas sem profissões, rejeitados pelo mercado de trabalho, descartáveis, ou mesmo aqueles que possuem alguma ocupação, mas mesmo assim enquadram-se dentro do “biótipo de suspeito”. Por outro lado, os “cidadãos de bem”, protegidos por esse manto simbólico, realizam suas práticas tóxicas imunes, a tal ponto que ALVES considera que o delito de porte de drogas para o consumo é o crime que provavelmente apresenta as maiores cifras ocultas, ressaltando que, se diferente fosse, se a repressão atingisse também as classes mais favorecidas (“se houvesse repressão as festas dos filhos e dos pais de classe média”), o objetivo antiproibicionista já teria sido alcançado. Ou seja, a seletividade é estrutural e está presente em qualquer âmbito de atuação do poder punitivo, bem como e principalmente nos crimes relativo às drogas.
Condutas de origens variadas, mas que não implicam, necessariamente, dano algum para terceiros. Nesse rol também se inclui a proibição as drogas que, por sinal, é considerada a proibição mais bem organizada, sistematizada e financiada do mundo.
Essa proibição organizada e legalizada tornou-se um fenômeno global por conta dos Estados Unidos que iniciou a repressão aos entorpecentes internamente (a famosa Lei Seca) e, na sequência, sob o seu arrimo, foram realizadas diversas sessões e convenções promovidas pelas Nações Unidas sendo que a primeira delas foi a “Convenção Única sobre Estupefacientes de 1961 que buscava uma ação coordenada e universal entre os países signatários, ditando a política internacional de controle de drogas.
Dez anos depois, é promulgado o Convênio Sobre Substâncias Psicotrópicas e, após dois anos, em 1971, o presidente estadunidense Nixon 
declara a guerra contra as drogas (war on drugs), modelo que se acentuou a partir do governo Reagan com o término da Guerra Fria (essa sucessão de guerras talvez demonstre uma necessidade de manter e gerir certos conflitos que sustentam as respectivas indústrias de controle).
Por derradeiro, temos a Convenção das Nações Unidas contra o Tráfico Ilícito de Estupefacientes e Substâncias Psicotrópicas de 1988, conhecida como “Convenção de Viena”. Mantendo no seu núcleo essencial o binômio proibição/repressão, a Convenção buscou tratar o fenômeno das drogas como um problema mundial e uniforme a fim de obter um consenso entre os governos para haver uma harmonização legislativa. O modelo “war on drugs ”foi também reconhecido e consagrado por ela como política de controle e difusão de drogas ilícitas.
Ainda, cabe ressaltar que, após a Convenção de Viena, em 1998 foi realizada a Sessão Especial sobre Drogas, oportunidade em que foi apresentado o Programa das nações Unidas para o Controle Internacional de 
Drogas (PNUCID), intitulado de “1998-2008: Um Mundo Sem Drogas. Podemos Conseguir”. O quase cômico título do programa demonstra o quanto ele foi falho. Não por nada que, na época e com racionalidade, o New York Times classificou-o como uma mera “reciclagem de políticas irrealistas”.
 objetivo de “um mundo sem drogas” não foi concretizado. Entretanto, a consagração da guerra às drogas, essa sim foi implementada. A expressão “guerra contra as drogas” é explicativa por si mesma e evoca um duplo efeito. 
Primeiramente, a principal característica de uma guerra é seu estado de exceção. Na guerra, qualquer medida excepcional é admitida, mesmo que ela seja excrescente, mesmo que contrarie princípios legais consagrados, mesmo que sacrifique direitos fundamentais do homem. Na guerra, qualquer medida pode ser tomada se necessária para combater o inimigo comum. A guerra é um estado de exceção.
 No segundo efeito, a expressão evoca um expansionismo do poder militar/industrial com emprego de tecnologia própria, espionagem e toda sorte de estratégias bélicas, nos termos de uma guerra clássica. O inimigo que deve ser agora combatido não é maiso comunista, o inimigo-público, o Grande Satã disseminador do mal. Agora, esses inimigos são, além de meras plantas e substâncias químicas que são as drogas, pessoas que produzem, transportam, vendem e consomem essas substâncias, pessoas que na maior parte das vezes nem mesmo portam armas, o que demonstra a assimetria desse “combate” que se realiza.
Além disso, esta famigerada guerra esconde uma gama de objetivos latentes como o aumento do poder de ingerência e controle do Estado. Nesse sentido, em nome do combate às drogas, diversos direitos e garantias fundamentais são suprimidos, o que é deveras perigoso quando aplicado em prol de interesses políticos (associa-se grupos dissidentes com tráfico de drogas e permite repressão institucional contra eles). Da mesma forma, o proibicionismo atua como uma forma de sujeição dos países aos Estados Unidos através de sua política de certificação, ou seja, se o país não é um bom combatente às drogas, se ele não é um país certificado, além de não receber auxílios, será taxado como “conivente com o tráfico” e sofrerá diversas sanções econômicas por parte dos Estados Unidos. Além de tudo isso, a redução da complexa questão das drogas a uma simples guerra é uma eficiente forma de encobrir a incapacidade estatal de lidar com outros problemas. Sabe-se que a diminuição do uso problemático de drogas não depende tão somente de um sistema de saúde eficiente, mas também, principalmente, de um intensivo trabalho de assistência social, sem falar na questão da desigualdade social, diretamente relacionada com o uso problemático de drogas. Portanto, a guerra às drogas assume um importante papel para o Estado: encobrir sua impotência de lidar com a questão de forma eficiente e vender à sociedade uma imagem de que este mesmo Estado está operando constante e diligentemente em resolver seus problemas e propiciar melhor qualidade de vida à população.
Por fim, não se pode negar o interesse econômico que se esconde atrás da política proibicionista. O tráfico de drogas movimenta altas soma de dinheiro por diversos países, passando por bancos privados no processo de “lavagem” a fim de retornarem à economia. Igualmente, a proibição torna as drogas escassas no mercado, atuando, portanto, como reguladora de preços e engordando ainda mais os lucros relacionados ao mercado da droga.
Não por outros motivos que GIACOMOLLI considera as drogas um fenômeno transnacional, multifuncional e multidimensional de poder, pois coloca Estados Nacionais em estado de crise, golpeia a economia de países produtores e coloca em cheque os sistemas judiciais
Todo esse contexto repressivo que foi visto também se aplica ao Brasil, signatário das três convenções das Nações unidas que versam sobre o tema. 
Não obstante, o primeiro registro de uma preocupação legislativa no nosso país concernente ao uso de drogas é encontrado nas Ordenações Filipinas, entretanto, a primeira legislação que pode ser considerada de fato brasileira deu-se com o Código Penal republicano de 1890. Esse Código sofreu variações por conta de alguns decretos que modificaram o dispositivo até que, em 1940, foi promulgado o vigente Código Penal que regulou novamente a matéria trazendo em seu artigo 281 a seguinte redação: “Importar ou exportar, vender ou expor à venda, fornecer, ainda que título gratuito, transportar, trazer consigo, ter em depósito, guardar, ministrar ou de qualquer maneira entregar a consumo substância entorpecente. Pena: 1 a 5 anos de reclusão, e multa de 02 a 10.000 cruzeiros”. Na sequência, uma série de leis alteraram esse dispositivo, culminando na Lei 6.368/76, lei que perdurou por quase 30 anos no ordenamento, prevento tratamentos tão somente punitivos aos usuários e traficantes.
 No ano de 2002 entrou em vigor a Lei 10.409 que, por conta do veto do então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, somente entrou em vigor a parte procedimental, descartando-se a toda alteração material. Ou seja, a Lei de 2002 não passou de um mero acidente de percurso no histórico das legislações sobre drogas.
 A tão esperada alteração da parte material somente deu-se com o advento da atual Lei de Drogas, a Lei 11.343 de 2006 que mudou radicalmente a até então vigente Lei 6.368/76, trazendo como principal alteração a descarceirização do crime de porte para consumo. 
Assim sendo, ao usuário, em nenhuma hipótese serão aplicadas penas privativas de liberdade, todavia, outras sanções penais a esse delito foram cominadas, de modo que foi mantida a lógica repressiva.
Essa mesma Lei também formalizou uma série de medidas para que se reconheça o usuário como sujeito de garantias, devendo ser tratado com e dignidade. Ressalta-se o artigo 4º, inciso I (respeito à autonomia da vontade), artigo 19, inciso II e VI (realização de atividades de prevenção que evitem o preconceito, a estigmatização e que reconheçam o “não-uso”, o “retardamento do uso” e a redução de riscos) e artigo 20 (realização de atividades à usuários e dependes para melhoria da qualidade de vida, redução de riscos e danos). Especificamente em referência ao delito de porte para consumo, tem-se que o sujeito passivo é o próprio Estado. Isso porque, o bem jurídico que esse delito tutela é a saúde pública, pois o uso dessas substâncias coloca os sujeitos em risco de tornarem-se viciados e do vício das drogas tornar-se uma epidemia social.
Esta foi a evolução histórica das legislações de drogas no país e o panorama geral do tratamento previsto aos usuários atualmente. Cumpre salientar que a visão humanitária que esta Lei dispensou acabou por não passar de letra morta. Isso porque, uma vez mantida a conduta como crime, mesmo que não prevendo penas privativas de liberdade, as consequências da criminalização continuam se operando sobre os usuários. Mas continua sendo fomentado no imaginário popular a identificação do usuário de drogas com subculturas criminais, continuam essas pessoas sendo isoladas, rotuladas e silenciadas devido à clandestinidade de suas atividades. Com efeito, resta claro que o atendimento humanitário somente será viável após a retirada da questão do uso da esfera criminal.
Ainda assim, ao tratarmos de uma conduta criminalizada, necessário é termos em mente o bem jurídico que ela se pretende tutelar, pois este é o elemento normogenético de qualquer tipo penal, é o ponto fundamental e estrutural da análise das condutas delitivas.
 Na Lei de Drogas, o bem jurídico que se pretende tutelar com a punição do usuário é, como já vista anteriormente, a saúde pública. Todavia, este é um bem de difícil definição tendo em vista sua formulação genérica e vaga que acaba estendendo a tutela do direito penal a âmbitos indefinidos e incertos. 
Não obstante, a conduta de usar drogas ofende somente a saúde individual daquele que lança mão dessas substâncias. Os efeitos lesivos que a droga pode causar ao organismo circunscrevem-se somente a integridade física do usuário, sendo falacioso falar que ofendem a saúde pública.
Sustentar a proteção desse bem jurídico criminalizando as drogas é presumir abstratamente que todo aquele que entrar em contato com essas substâncias tornar-se-á um doente, trata-se de uma presunção de lesão, ou seja, de um crime de perigo abstrato, uma criminalização que não se sustenta diante de um direito penal mínimo.
Redução de danos
Considerar o usuário como um ser consciente das suas vontades e a dependência da droga como resultado de um contexto social. Essa perspectiva mais recente - e mais polêmica - tem guiado a implantação de algumas políticas públicas, tanto no Brasil como no exterior. Nesses casos, as políticas públicas se focamno oferecimento de emprego, abrigo e alternativas às drogas para justamente reduzir os danos à saúde dos usuários.
 
Conclusão
Conclui-se com esse trabalho, que o ser humano é, por sua natureza, um ser psicoativo. Assim sendo, sempre estará em busca de novas sensações e de novas e mais eficazes formas de alterar sua consciência, seja através das drogas, das artes, do misticismo, enfim, da maneira que cada pessoa considerar mais adequada conforme desejo que se almeja. Por esse motivo o uso de drogas sempre fez parte da história da humanidade. Entretanto, nas últimas décadas essas substâncias passaram a serem caçadas com detentoras de todo mal da humanidade, principalmente devido ao impulso dos Estados Unidos e das Nações Unidas, de modo que praticamente todos os países do mundo incorporaram em seus ordenamentos legislações repressivas às drogas. 
Nosso país também está inserido nesse contexto, de modo que uma série de leis penais sobre drogas já estiveram em vigor em nosso território. 
Atualmente embora tenha descarceirizado o delito de porte para consumo, manteve-o na esfera penal, ou seja, continuamos a operar dentro de uma lógica proibicionista, em detrimento de diversas garantias e direitos dos cidadãos, o que, sem dúvidas, não condiz com o Estado Democrático de Direitos que é anunciado em nossa Constituição. Diante disso, necessário se faz retirar a conduta de porte para consumo pessoal da esfera do direito penal, porquanto não é um policial nem um juiz que será capaz de ajudar aquele cidadão que tem suas práticas tóxicas. Para realizar esse auxílio com efetividade existem as práticas de redução de danos, essas sim, respeitando a liberdade de cada indivíduo conseguem construir um futuro melhor para esses sujeitos, com ou sem a droga.

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