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Controle Jurisdicional do ato Administrativo Militar

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ALEXANDRE CARVALHO DE ARAÚJO 
 
 
 
 
 
 
 
CONTROLE JURISDICIONAL DO ATO ADMINISTRATIVO 
DISCIPLINAR MILITAR 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia 
apresentada ao Departamento de Estudos da 
Escola Superior de Guerra como requisito à 
obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de 
Política e Estratégia. 
 
Orientador: Cel Juaris Weiss Gonçalves 
 
 
 
 
 
 
 
 
Rio de Janeiro 
2013 
 
 
 
C2013 ESG 
Este trabalho, nos termos de legislação 
que resguarda os direitos autorais, é 
considerado propriedade da ESCOLA 
SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É 
permitido a transcrição parcial de textos 
do trabalho, ou mencioná-los, para 
comentários e citações, desde que sem 
propósitos comerciais e que seja feita a 
referência bibliográfica completa. 
Os conceitos expressos neste trabalho 
são de responsabilidade do autor e não 
expressam qualquer orientação 
institucional da ESG 
 
_________________________________ 
Assinatura do autor 
 
 
 
 
 
 
Biblioteca General Cordeiro de Farias 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Araújo, Alexandre Carvalho de. 
Controle jurisdicional do ato administrativo disciplinar militar / 
Alexandre Carvalho de Araújo. - Rio de Janeiro : ESG, 2013. 
 
48 f. 
 
Orientador: Cel Juaris Weiss Gonçalves. 
Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao 
Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito 
à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e 
Estratégia (CAEPE), 2013. 
 
 
1. Disciplina Militar. 2. Direito Militar. 3. Administração Pública. 4. 
Habeas Corpus. I. Título 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A minha família pelos ensinamentos, 
incentivo e compreensão. 
 
 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
Ao Coronel Juaris Weiss Gonçalves por ter me orientado na elaboração 
deste trabalho. 
Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos ministrados ao longo do 
CAEPE 2013. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESUMO 
 
Esta monografia aborda o controle jurisdicional do ato administrativo 
disciplinar militar como mecanismo fundamental do Estado Democrático de Direito 
para coibir possíveis arbitrariedades que a autoridade militar possa cometer no 
exercício do poder disciplinar. O objetivo deste estudo é, por meio da análise da 
legislação e do entendimento doutrinário e jurisprudencial, encontrar a limitação do 
controle jurisdicional do ato administrativo disciplinar militar, particularmente quando 
o Poder Judiciário é instado a se manifestar em sede de habeas corpus. A 
metodologia adotada comportou uma pesquisa realizada em legislação, bibliografia, 
tais como livros e artigos doutrinários, e documentos, tais como decisões retiradas 
de repositórios jurisprudenciais, sejam impressos ou disponibilizados na rede 
mundial (internet). O campo de estudo delimitou-se ao processo disciplinar militar 
positivado no Regulamento Disciplinar do Exército. Discorre sobre aspectos que 
legitimem o controle jurisdicional do ato administrativo (Estado Democrático de 
Direito, separação dos Poderes, conceitos e princípios da Administração Pública, 
supremacia do interesse público versus legalidade, inafastabilidade do Poder 
Judiciário) com intuito de mostrar os fundamentos do indigitado controle. Discorre 
também sobre o processo preconizado pelo Regulamento Disciplinar do Exército e 
sobre o habeas corpus. Por último, analisa a plausibilidade de cabimento de habeas 
corpus em relação a punições disciplinares militares e a consequente limitação do 
controle jurisdicional, bem como a competência para processar e julgar. Os 
principais tópicos são: liberdade individual de locomoção, hierarquia e disciplina 
militares, razoabilidade na dosimetria da pena, mérito da decisão administrativa 
versus controle jurisdicional. A conclusão revela a limitação do controle jurisdicional 
do ato administrativo disciplinar militar, particularmente quando o Poder Judiciário é 
instado a se manifestar em sede de habeas corpus, bem como são oferecidas 
recomendações e sugestões para aprimoramento do processo disciplinar militar. 
 
 
 
Palavras chave: Controle jurisdicional. Processo disciplinar militar. Habeas Corpus. 
 
 
ABSTRACT 
 
This monograph deals with judicial review of military disciplinary administrative act as 
fundamental mechanism of the Democratic State of Law to curb possible 
arbitrariness that the military authority may commit in the exercise of disciplinary 
power. The objective of this study is, through the analysis of relevant legislation, 
doctrine and understanding of jurisprudence to date, to find the limits of judicial 
review of military disciplinary administrative act, particularly when the Judiciary is 
urged to decide in case of Habeas Corpus Action. The adopted methodology 
employed a research into legislation, bibliography, such as books and doctrinal 
articles, and documents, such as judgments found in repositories of jurisprudence, 
whether printed or made available on the worldwide web (internet). The field of study 
was delimited to the military disciplinary procedures established in the Disciplinary 
Regulations of the Army. This study discusses aspects that legitimize the judicial 
review of administrative act (Democratic State of Law, separation of Powers, 
concepts and principles of Public Administration, supremacy of public interest versus 
legality, non-obviation of Judiciary jurisdiction) in order to show the basics of 
mentioned control. Also it elaborates on the procedures established in the 
Disciplinary Regulations for the Army and it covers habeas corpus. Finally, it 
examines the plausibility of acceptance of habeas corpus in relation to military 
disciplinary punishments and consequent limits of judicial review, as well as the 
competence to prosecute and judge. The main topics are: individual freedom of 
movement, military hierarchy and discipline, reasonableness in dosimetry of the 
penalties, the merits of administrative decision versus judicial review. The conclusion 
reveals the limits of judicial review of military disciplinary administrative act, 
particularly when the Judiciary is urged to decide in case of Habeas Corpus Action, 
as well as presents recommendations and suggestions for improvement of the 
military disciplinary procedures. 
 
 
 
Keywords: Judicial review. Military disciplinary procedures. Habeas Corpus. 
 
 
SUMÁRIO 
 
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 6 
2 CONTROLE JURISDICIONAL DO ATO ADMINISTRATIVO ...................... 9 
2.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO ...................................................... 9 
2.2 SEPARAÇÃO DOS PODERES .................................................................... 10 
2.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ........................................................................ 11 
2.4 ATO ADMINISTRATIVO ............................................................................... 11 
2.5 SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO E LEGALIDADE ....................... 12 
2.6 JURISDIÇÃO ÚNICA .................................................................................... 14 
2.7 LIMITAÇÕES AO CONTROLE JURISDICIONAL DO ATO 
 ADMINISTRATIVO ....................................................................................... 15 
2.7.1 Conceito jurídico indeterminado ............................................................... 17 
2.7.2 Princípios ....................................................................................................19 
3 PROCESSO DISCIPLINAR MILITAR .......................................................... 21 
3.1 HIERARQUIA E DISICPLINA ....................................................................... 21 
3.2 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DISCIPLINAR MILITAR .............................. 21 
4 HABEAS CORPUS ...................................................................................... 33 
4.1 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL ............................................................ 33 
4.2 FUNDAMENTO LEGAL ................................................................................ 34 
4.3 PROCESSO E PROCEDIMENTO ................................................................ 34 
4.4 EXAME DE PROVA ...................................................................................... 35 
4.5 CABIMENTO DE HABEAS CORPUS EM RELAÇÃO A 
 PUNIÇÕES DISCIPLINARES MILITARES ................................................... 37 
4.5.1 Competência para processar e julgar habeas corpus em 
 relação a punições disciplinares militares ............................................... 42 
5 CONCLUSÃO. .............................................................................................. 44
 REFERÊNCIAS ............................................................................................ 46 
 
 
 
 
6 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
No Estado Democrático de Direito a existência de um controle realizado pelo 
Poder Judiciário sobre os atos emanados da Administração Pública é fundamental 
para coibir possíveis arbitrariedades que a autoridade pública possa cometer no 
exercício dos poderes administrativos. 
Destarte, ao emanar atos administrativos disciplinares, assim como em 
qualquer outra atividade administrativa, a autoridade pública deve se pautar pela 
legalidade e pelos princípios da Administração Pública, sob pena de o ato ser 
anulado pelo Poder Judiciário, segundo reza o ordenamento jurídico brasileiro. 
Por outro lado, a independência e a harmonia dos Poderes, previstos na 
Constituição Federal, exigem que se imponham limitações ao controle jurisdicional 
do ato administrativo, seja disciplinar ou não. 
Em consequência, há limitações quanto ao controle jurisdicional sobre atos 
administrativos que, como no caso perquirido, tenham a finalidade específica de 
aplicar uma punição ao militar, em decorrência de conduta por ele perpetrada, a qual 
foi apurada e tipificada como transgressão disciplinar, punição esta resultante de um 
processo instaurado e conduzido pela autoridade competente, no exercício do poder 
administrativo disciplinar militar. 
No âmbito militar há ainda uma particularidade quanto ao controle 
jurisdicional, pois, ainda no exercício do poder disciplinar, há a possibilidade de a 
autoridade militar aplicar uma punição ao transgressor que tenha por consequência 
limitar a liberdade de locomoção do indivíduo, prisão disciplinar é o exemplo mais 
característico, liberdade esta garantida constitucionalmente por meio do instituto 
jurídico do habeas corpus. 
Acontece, porém, que o artigo 142, parágrafo 2º, da Constituição Federal, 
prescreve que “não caberá habeas corpus em relação a punições disciplinares 
militares”. O dispositivo a princípio teria o condão de proibir a apreciação judicial de 
punições disciplinares militares que cerceiam a liberdade de locomoção do 
transgressor. Entretanto, constata-se que, mesmo com a vedação constitucional 
expressa, há a impetração do instituto jurídico e a apreciação da punição disciplinar 
militar pelo Poder Judiciário. 
O problema a ser solucionado é revelar, a despeito da vedação 
constitucional, se é aceitável o cabimento de habeas corpus em relação às punições 
7 
 
disciplinares militares e, em caso afirmativo, encontrar a limitação do controle 
jurisdicional do ato administrativo disciplinar militar. 
Assim, o presente trabalho tem por objetivo geral solucionar o problema 
acima exposto, por meio da análise da legislação e do entendimento doutrinário e 
jurisprudencial no tocante à limitação do controle jurisdicional do ato administrativo 
disciplinar militar, particularmente quando o Poder Judiciário é instado a se 
manifestar em sede de habeas corpus impetrado contra punição disciplinar militar 
cerceadora da liberdade de locomoção do transgressor. 
A citada análise adquire importância na medida em que tem o potencial de 
apontar aspectos jurídicos a serem observados pelas autoridades militares, a fim de 
se evitar falhas nos processos disciplinares e consequentes demandas judiciais, 
proporcionando maior segurança e estabilidade das decisões administrativas. 
A hipótese a ser verificada como solução do problema repousa no 
entendimento de que o artigo 142, parágrafo 2°, da Constituição Federal, não deve 
ser interpretado literalmente, mas sistematicamente com os demais dispositivos e 
princípios constitucionais, em especial os direitos e garantias fundamentais 
individuais, restando cabível o habeas corpus em relação a punições disciplinares 
militares com vistas ao controle jurisdicional do ato administrativo punitivo aplicado 
pela autoridade militar, desde que a apreciação judicial verifique apenas aspectos 
ligados à legalidade e aos princípios administrativos. 
A fim de verificar a hipótese como solução do problema, desenvolver-se-á o 
trabalho no sentido de destacar os princípios e dispositivos legais que limitam o 
controle jurisdicional dos atos administrativos; no de descrever o processo disciplinar 
militar; no de identificar os fundamentos da interpretação doutrinária e jurisprudencial 
para o artigo 142, parágrafo 2°, da Constituição Federal. Ao final do 
desenvolvimento deverá haver fundamentação suficiente para a confirmação ou não 
da hipótese. 
Como limitação do trabalho, a descrição do processo disciplinar militar 
restringir-se-á àquele positivado no Regulamento Disciplinar do Exército, o qual 
possui estrutura normativa de tipificação de conduta e de cominação de pena 
semelhante às estruturas normativas positivadas nos regulamentos disciplinares das 
demais Forças. 
Como metodologia adotada, os resultados estarão fundamentados em 
pesquisa realizada em legislação, bibliografia, tais como livros e artigos doutrinários, 
8 
 
e documentos, tais como decisões retiradas de repositórios jurisprudenciais, sejam 
impressos ou disponibilizados na rede mundial (internet). 
Apresentar-se-á o desenvolvimento do trabalho em três capítulos. 
O primeiro capítulo abordará o controle jurisdicional do ato administrativo. 
Para tanto, a fim de apresentar uma base teórica e geral para solução do problema, 
discorrer-se-á sobre os fundamentos do citado controle, quais sejam, o Estado 
Democrático de Direito e a separação dos Poderes. Em seguida discorrer-se-á sobre 
conceitos e princípios da Administração Pública e sobre aspectos do ato 
administrativo. Evidenciar-se-á nesse ponto a oposição da supremacia do interesse 
público em face da legalidade. Comentar-se-á sobre o sistema adotado no Brasil de 
jurisdição única em decorrência da inafastabilidade do Poder Judiciário. Por fim, 
discorrer-se-á sobre as limitações ao controle jurisdicional do ato administrativo e a 
relação do tema com os conceitos jurídicos indeterminados, bem como com os 
princípios da razoabilidade, moralidade administrativa, princípios gerais do direito e 
supremacia do interesse público. 
O segundo capítulo abordará o processo disciplinar militar. Para tanto, 
apresentar-se-ão os conceitos de hierarquia e disciplina, base das Instituições 
Militares. Em seguida, descrever-se-á o processo disciplinar segundo o regulamento 
do Exército. 
O terceiro capítulo abordará o habeas corpus. Para tanto, discorrer-se-á 
sobre os fundamentosconstitucional e legal deste instituto jurídico, bem como 
processo, procedimento e exame de prova. Em seguida, apresentar-se-á o 
entendimento sobre a plausibilidade de cabimento de habeas corpus em relação a 
punições disciplinares militares, as limitações do controle jurisdicional, bem como a 
competência para processar e julgar. 
Por fim, a conclusão encerrará o trabalho onde se apresentarão 
considerações finais sobre o assunto desenvolvido, revelar-se-á a confirmação ou 
não da hipótese em face dos resultados obtidos, bem como serão oferecidas 
recomendações e sugestões para aprimoramento do processo disciplinar militar. 
9 
 
2 CONTROLE JURISDICIONAL DO ATO ADMINISTRATIVO 
 
O objetivo deste capítulo é apresentar aspectos relacionados ao controle 
jurisdicional do ato administrativo ou, em outras palavras, ato emanado da 
Administração Pública. Faz-se mister estabelecer que no presente trabalho o termo 
controle jurisdicional se refere àquele controle realizado pelo Poder Judiciário no 
exercício da função judicial propriamente dita (função jurisdicional do Poder 
Judiciário), ou seja, a possibilidade do Poder Judiciário de dizer o direito no caso 
concreto por meio dos processos judiciais. Outrossim, o ato administrativo no 
presente trabalho se refere àquele emanado pelo Poder Executivo no exercício da 
função executiva propriamente dita (função administrativa do Poder Executivo). 
O controle do Poder Judiciário sobre atos da Administração Pública decorre 
da separação dos Poderes que, por sua vez, é um princípio que tem sua origem na 
concepção do Estado de Direito, cujo conceito evoluiu desde a fase liberal até os 
dias de hoje para consolidar o que se denomina Estado Democrático de Direito. 
 
2.1 ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO 
 
A instituição do Estado Democrático brasileiro está juridicamente 
fundamentado, inicialmente, no preâmbulo da Constituição Federal (1988, p. 11). 
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional 
Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o 
exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-
estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de 
uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia 
social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução 
pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a 
seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 
 
O mesmo princípio constitucional volta a ser citado no artigo 1º da 
Constituição Federal (1988, p. 13), estabelecendo que o Brasil constitui-se em 
Estado Democrático de Direito. 
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel 
dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado 
Democrático de Direito e tem como fundamentos: 
I - a soberania; 
II - a cidadania; 
III - a dignidade da pessoa humana; 
IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; 
V - o pluralismo político. 
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de 
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. 
10 
 
 
Segundo Silva (2006, p. 112) o Estado de Direito era um conceito 
tipicamente liberal caracterizado por postulados básicos, quais sejam, submissão ao 
império da lei, divisão de poderes e enunciado e garantia dos direitos individuais. 
Posteriormente o conceito liberal deu lugar ao conceito social de Estado de Direito 
na medida em que este se volta precipuamente para a afirmação dos direitos 
sociais. Dessas características infere-se que o Estado de Direito é aquela estrutura 
política em que o exercício do poder por seus detentores está limitado pelas normas 
do seu próprio ordenamento jurídico. Por sua vez, o Estado Democrático se funda no 
princípio da soberania popular, isto é, a efetiva participação do povo nos assuntos 
públicos. O Estado Democrático visa, assim, realizar o princípio do poder que emana 
do povo como garantia geral dos direitos fundamentais da pessoa humana. Por fim, 
o Estado Democrático de Direito não é simplesmente a reunião formal de princípios 
do Estado de Direito e Estado Democrático. Mais do que isso, O Estado 
Democrático de Direito possui a tarefa fundamental de instaurar um regime 
democrático que realize materialmente a justiça social. 
 
2.2 SEPARAÇÃO DOS PODERES 
 
A Constituição Federal (1988, p. 13) estabelece no artigo 2º os Poderes por 
meio dos quais é manifestada a vontade estatal para consecução de seus objetivos. 
É afirmado no mesmo dispositivo que os Poderes são independentes e harmônicos 
entre si. É o princípio da separação de Poderes. 
Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário. 
 
Consagra a Constituição Federal (1988, p. 60) no artigo 60 a separação dos 
Poderes como sendo cláusula pétrea, ou seja, norma constitucional estabelecida 
pelo constituinte originário proibida de ser alterada pelo constituinte derivado. 
Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: 
[...] 
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a 
abolir: 
[...] 
III - a separação dos Poderes; 
 
Segundo Silva (2006, p. 106), na Constituição Federal as expressões “o 
Legislativo, o Executivo e o Judiciário” possuem duplo sentido, isto é, exprimem as 
11 
 
funções legislativa, executiva e jurisdicional e indicam os respectivos órgãos os 
quais estão discriminados ao longo do texto da própria Constituição Federal. Quanto 
à expressão “independentes e harmônicos entre si”, explica o autor seu significado 
aduzindo primeiramente que, no exercício das atribuições que lhe sejam próprias, 
não precisa o titular de um determinado Poder consultar o titular de outro nem 
necessita de sua autorização. Porém, há uma faceta quanto à harmonia entre os 
Poderes que torna essa independência relativa. Nesse diapasão o autor infere que 
“há interferências, que visam ao estabelecimento de um sistema de freios e 
contrapesos, à busca do equilíbrio necessário à realização do bem da coletividade e 
indispensável para evitar o arbítrio e o desmando de um em detrimento do outro e 
especialmente dos governados”. 
É exatamente a separação dos Poderes, entendido esse princípio como um 
sistema de freios e contrapesos, que serve de fundamento para a existência do 
controle do Poder Judiciário sobre os atos emanados da Administração Pública. Por 
outro lado, é evidente que esse controle não pode ocorrer sem que haja limitações 
ao Poder Judiciário. Para tanto, necessita-se perquirir conceitos e princípios da 
Administração Publica. 
 
2.3 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 
 
A Administração Pública é a estrutura executiva do Estado para consecução 
de seus objetivos. Por isso que o conceito de Administração Pública relaciona-se 
com o conceito de Governo, porém dele difere essencialmente. Para Silva (2006, 
p. 107) a vontade do Estado é vontade humana expressa por meio de seus órgãos, 
os quais podem ser classificados em supremos (constitucionais) ou dependentes 
(administrativos). 
Os órgãos supremos possuem a incumbência do exercício do poder político, 
cujo conjunto se denomina Governo ou órgãos governamentais. Os órgãos 
dependentes não possuem a incumbência do exercício do poder político, 
desempenham as suas funções através de agentes públicos em plano hierárquico 
inferior, portanto são dependentes do Governo e seu conjunto se denomina 
Administração Pública ou órgãos administrativos. 
 
2.4 ATO ADMINISTRATIVO 
12 
 
 
Segundo Meirelles (2001, p. 59) a Administração Pública não pratica atos de 
governo, haja vista estes serematos resultantes do exercício de faculdade de opção 
política, mas tão-somente pratica atos de execução, com maior ou menor autonomia 
funcional, segundo a competência do órgão e de seus agentes. Esses atos são os 
chamados atos administrativos. 
Adverte ainda o autor que, apesar de a Administração Pública ser mero 
instrumental de que dispõe o Estado para por em prática as opções políticas do 
Governo, tem ainda a Administração Pública poder de decisão, porém somente na 
área de sua atribuição e dentro dos limites legais de competência executiva. No 
exercício do poder administrativo, o agente público se pauta pelos princípios que 
regem a matéria. 
A Constituição Federal (1988) dedica o Capítulo VII do Título III à 
Administração Pública e explicita no artigo 37 os princípios que regem a matéria. 
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes 
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos 
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e 
eficiência e, também, ao seguinte: 
[...] 
 
A Lei nº 9784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo 
administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, explicita outros tantos 
princípios no artigo 2º. 
Art. 2
o
 A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da 
legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, 
moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse 
público e eficiência. (BRASIL, 1988). 
 
Desses princípios faz-se mister, para fundamentar os limites do controle 
jurisdicional do ato administrativo, confrontar principalmente o princípio da 
supremacia do interesse público com o da legalidade. 
 
2.5 SUPREMACIA DO INTERESSE PÚBLICO E LEGALIDADE 
 
Segundo Di Pietro (2001, p. 217), o direito administrativo nasceu e 
desenvolveu-se baseado na oposição da supremacia do interesse público em face 
da legalidade. É a bipolaridade do direito administrativo. Se por um lado os direitos 
individuais devem ser protegidos diante do Estado, razão que serve de fundamento 
ao princípio da legalidade, por outro a Administração Pública deve possuir 
13 
 
prerrogativas e privilégios para alcançar a satisfação de interesses públicos, seja 
para limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do bem-estar coletivo 
(poder de polícia), quer para a prestação de serviços públicos. Se por um lado 
protege-se a liberdade do indivíduo impondo restrições à Administração Pública, por 
outro lado resguarda-se a autoridade da Administração Pública conferindo-lhe 
prerrogativas. 
Consequentemente, para proteger a liberdade do indivíduo, sujeita-se a 
autoridade pública à observância da lei. É a aplicação à Administração Pública, do 
princípio da legalidade. Da mesma forma, para resguardar a autoridade da 
Administração Pública, necessária à consecução de seus fins, são-lhe conferidos 
prerrogativas e privilégios que assegura a supremacia do interesse público sobre o 
particular. 
Nesse diapasão, Meirelles (2001, p. 80) afirma que os fins da Administração 
Pública resumem-se num único objeto, qual seja, o bem comum da coletividade 
administrada. Assim, o autor alerta que do princípio da supremacia do interesse 
público decorre a indisponibilidade do interesse público, entendendo que a 
Administração Pública não pode dispor nem renunciar a poderes que a lei lhe deu 
para exercer a tutela do interesse público, pois o titular é o Estado e somente ele 
poderá autorizar a Administração Pública a dispor ou renunciar de tal interesse. 
Aduz ainda o autor que, como consequência da indisponibilidade do 
interesse público, o poder do administrador público é insuscetível de renúncia pelo 
seu titular e, por isso, reveste-se ao mesmo tempo do caráter de dever para com a 
coletividade administrada. É o poder-dever de agir da autoridade pública que o deve 
exercer na conformidade do princípio da legalidade. 
Segundo Di Pietro (2001, p. 60) no direito brasileiro o princípio da legalidade 
é imposto à Administração Pública no artigo 37, caput, da Constituição Federal, e 
completa-se com a regra do artigo 5º, inciso II, segundo a qual “ninguém será 
obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude da lei”. Observa a 
autora que o primeiro dispositivo não define o conteúdo do princípio, porém o 
segundo dispositivo tem um conteúdo muito preciso, que impede a Administração de 
impor obrigações ou proibições por iniciativa própria, isto é, para fazê-lo depende de 
fundamento legal. 
Meirelles (2001, p. 82) afirma que o princípio insculpido no caput do artigo 
37, da Constituição Federal, significa que o administrador público está, em toda a 
14 
 
sua atividade funcional, sujeito aos mandamentos da lei e às exigências do bem 
comum, e deles não se pode afastar ou desviar, sob pena de praticar ato inválido. 
Essa afirmação dá ensejo à máxima de que a Administração Pública só pode fazer o 
que a lei permite, enquanto o particular pode fazer tudo que a lei não proíbe. 
Infere-se da assertiva do autor que o princípio da legalidade deve então ser 
visto no sentido amplo do conceito. De fato, a Lei nº 9784, de 29 de janeiro de 1999, 
estabelece no inciso I do parágrafo único do artigo 2º que nos processos 
administrativos serão observados, entre outros, os critérios de atuação do 
administrador público conforme a lei e o Direito, isto é, legalidade significa observar 
não só a lei no sentido estrito, mas também a conformação da atuação do 
administrador público aos princípios administrativos. 
A eficácia de toda atividade administrativa está condicionada ao 
atendimento da Lei e do Direito. É o que diz o inc. I do parágrafo único do 
art. 2º da Lei 9.784/99. Com isso, fica evidente que, além da atuação 
conforme à lei, a legalidade significa, igualmente, a observância dos 
princípios administrativos. (MEIRELLES, p. 82). 
 
Mais adiante Meirelles (2001, p. 83) apresenta o conceito de legitimidade: 
Além de atender à legalidade, o ato do administrador público deve 
conformar-se com a moralidade e a finalidade administrativas para dar plena 
legitimidade à sua atuação. Administração legítima só é aquela que se 
reveste de legalidade e probidade administrativas, no sentido de que tanto 
atende às exigências da lei como se conforma com os preceitos da 
instituição pública. 
 
Infringindo as normas legais ou os princípios, o agente público vicia o ato 
administrativo de ilegitimidade e tem por consequência sujeitá-lo à anulação pela 
própria Administração Pública ou pelo Poder Judiciário. 
 
2.6 JURISDIÇÃO ÚNICA 
 
Além do princípio constitucional da separação de poderes, o controle 
jurisdicional do ato administrativo tem fundamento também no artigo 5º, inciso 
XXXV, da Constituição Federal, o qual estabelece que “a lei não excluirá da 
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direitos”, conhecido como 
princípio da inafastabilidade do Poder Judiciário. 
Em decorrência também da separação de poderes e da inafastabilidade do 
Poder Judiciário é que se afirma que o Brasil adotou o sistema de jurisdição única. O 
outro sistema conhecido é denominado contencioso administrativo. Neste, somente 
15 
 
a Administração Pública pode rever seus atos e decidir de forma definitiva, fazendo 
destarte coisa julgada, vedada a interferência do Poder Judiciário. Diferentemente 
do contencioso administrativo, na jurisdição única, todos os interesses, quer do 
administrado, quer da Administração Pública, se sujeitam a uma única jurisdição 
definitiva: a do Poder Judiciário. Meirelles (2001, p. 52) esclarece que isso não 
significa que se negue à Administração Pública o poder de decisão, o que se lhe 
nega é ocaráter de decisão definitiva, a qual é própria das decisões judiciais que 
fazem coisa julgada. 
 
2.7 LIMITAÇÕES AO CONTROLE JURISDICIONAL DO ATO ADMINISTRATIVO 
 
O controle jurisdicional do ato administrativo tem por limitação a legalidade e 
a legitimidade do ato administrativo, sendo vedado ao Poder Judiciário pronunciar-se 
sobre o mérito, substituindo-se à Administração Pública, em face do fundamento 
constitucional da separação de Poderes. 
A competência do Judiciário para a revisão de atos administrativos 
restringe-se ao controle da legalidade e da legitimidade do ato impugnado. 
Por legalidade entende-se a conformidade do ato com a norma que o rege; 
por legitimidade entende-se a conformidade com os princípios básicos da 
Administração Pública, em especial os do interesse público, da moralidade, 
da finalidade e da razoabilidade, indissociáveis de toda atividade pública. 
[...]. O que não se permite ao Judiciário é pronunciar-se sobre o mérito 
administrativo, ou seja, sobre a conveniência, oportunidade, eficiência ou 
justiça do ato, porque, se assim agisse, estaria emitindo pronunciamento de 
administração, e não de jurisdição judicial. (MEIRELLES, 2001, p. 666). 
 
Porém, em relação ao mérito do ato administrativo, Meirelles (2001, p. 146) 
observa inicialmente que é um conceito de difícil fixação, porém não deixa o autor de 
esclarecer que se consubstancia na valoração dos motivos e na escolha do objeto 
do ato, feitas pela Administração Pública, porém somente quando está autorizada a 
decidir sobre oportunidade, conveniência ou justiça do ato a realizar. 
Neste caso, está o administrador público exercendo o poder discricionário ao 
valorar motivos e escolhendo o objeto do ato a ser produzido. Em contraposição, há 
atos vinculados em que a Administração Pública, ao atuar, tão-somente atende 
imposições legais para produzi-los. Nas lições de Di Pietro (2001, p. 66): 
[...] hipótese em que se diz que o poder da Administração é vinculado, 
porque a lei não deixa opções; ela estabelece que, diante de determinados 
pressupostos, a Administração deve agir de tal ou qual forma. [...]. Em 
outras hipóteses, o regramento não atinge todos os aspectos da atuação 
administrativa; a lei deixa certa margem de liberdade de decisão diante do 
caso concreto, de tal modo que a autoridade poderá optar por uma dentre 
16 
 
várias soluções possíveis, todas válidas perante o direito. Nesses casos, o 
poder da Administração é discricionário, porque a adoção de uma ou outra 
solução é baseada em critérios de mérito [...]. 
 
Mais restrito quanto à margem de liberdade de decisão, Mello (2006, p. 48) 
conceitua discricionariedade ressaltando que a adoção da solução pelo 
administrador público deve ser baseada também em critérios de razoabilidade para 
consecução da finalidade legal: 
Discricionariedade, portanto, é a margem de liberdade que remanesça ao 
administrador para eleger, segundo critérios consistentes de razoabilidade, 
um, dentre pelo menos dois comportamentos cabíveis, perante cada caso 
concreto, a fim de cumprir o dever de adotar a solução mais adequada à 
satisfação da finalidade legal, quando por força da fluidez das expressões 
da lei ou da liberdade conferida no mandamento, dela não se possa extrair 
objetivamente, uma solução unívoca para a situação vertente. 
 
Então, no exercício do poder discricionário o administrador público, diante 
das soluções possíveis, todas válidas perante o direito, tem o dever de adotar a 
solução mais adequada à satisfação da finalidade legal. Mello (2006, p. 15) afirma 
que há na verdade um dever discricionário: 
Tomando-se consciência deste fato, deste caráter funcional da atividade 
administrativa (por isto se diz “função administrativa”), desta necessária 
submissão da administração à lei, percebe-se que o chamado “poder 
discricionário” tem que ser simplesmente o cumprimento do dever de 
alcançar a finalidade legal. Só assim poderá ser corretamente entendido e 
dimensionado, compreendendo-se, então, que o que há é um dever 
discricionário, antes que um “poder discricionário”. Uma vez assentido que 
os chamados poderes são meros veículos instrumentais para propiciar ao 
obrigado cumprir o seu dever, ter-se-á da discricionariedade, 
provavelmente, uma visão totalmente distinta daquela que habitualmente se 
tem. 
 
Observa o autor que, em face do dever de adotar a solução mais adequada, 
o Poder Judiciário deve apreciar o ato administrativo, com vistas ao seu controle, 
ainda que haja discricionariedade outorgada pela lei ao administrado público: 
Em suma: casos haverá em que, para além de qualquer dúvida, qualquer 
sujeito em uma intelecção normal, razoável (e assim, também a fortiori, o 
Judiciário) poderá concluir que, apesar da discrição outorgada pela norma, 
em face de seus termos e da finalidade que anima, dada situação ocorrida 
não comportava senão uma determinada providência, ou então que, mesmo 
comportando mais de uma, certamente não era aquela que foi tomada. 
(MELLO, 2006, p. 41). 
 
O autor ressalta ainda que o Poder Judiciário não deve adentrar questão de 
mérito do ato administrativo, pois, neste caso, se apresentam ao administrador mais 
de uma solução que atendem a finalidade legal e, consequentemente torna-se 
impossível ser objetivamente reconhecida qual delas seria a única adequada: 
17 
 
Sem dúvida, perante inúmeros casos concretos (a maioria, possivelmente) 
caberão dúvidas sobre a decisão ideal e opiniões divergentes poderão 
irromper, apresentando-se como razoáveis e perfeitamente admissíveis. 
Nestas hipóteses a decisão do administrador haverá de ser tida como 
inatacável, pois corresponderá a uma opção de mérito; [...]. (MELLO, 2006, 
p. 40). 
 
Quanto ao conceito de mérito, aduz o autor que: 
Mérito é o campo de liberdade suposto na lei e que, efetivamente, venha a 
remanescer no caso concreto, para que o administrador, segundo critérios 
de conveniência e oportunidade, se decida entre duas ou mais soluções 
admissíveis perante ele, tendo em vista o exato atendimento da finalidade 
legal, dada a impossibilidade de ser objetivamente reconhecida qual delas 
seria a única adequada. (MELLO, 2006, p. 38). 
 
Nesse diapasão, Meirelles (2001, p. 666) afirma que o controle jurisdicional 
do ato administrativo é exato para os atos vinculados ou regrados, porém não é 
menos aplicável aos atos discricionários da Administração Pública. 
Nos atos discricionários, aduz o autor, há maior liberdade no modo e 
momento de sua prática, porém essa característica não fornece ao agente público o 
direito de agir arbitrariamente, seja atuando além de sua competência, seja atuando 
contrariamente a princípios administrativos, porquanto, nesses casos, está 
caracterizado o abuso de poder. 
O abuso de poder é conceituado por Meirelles (2001, p. 102) em termos de 
ocorrência quando a autoridade, embora competente para praticar o ato 
administrativo, ultrapassa o limite de suas atribuições ou se desvia das finalidades 
administrativas. 
Para fins didáticos, o abuso de poder reparte-se respectivamente em duas 
espécies: excesso de poder e desvio da finalidade. Assim é que o Poder Judiciário 
pode anular não só o ato praticado por agente público fora de sua competência, ou 
além dela, pois neste caso o agente incorre no excesso de poder, como também o 
ato que desatenda aos princípios administrativos, pois neste caso o agente incorre 
no desvio do poder. 
 
2.7.1 Conceito jurídico indeterminado 
 
Vezes há que o administrador público se depara com textos legais ou 
regulamentares nos quais a hipótese da norma (pressuposto de direito) contem 
noções vagas expressos em vocábulos plurissignificativos, de significados 
indeterminados, imprecisos, fluidos, que possibilitam a apreciação do fatoconcreto 
18 
 
(pressuposto de fato) segundo valoração da própria autoridade competente para 
emanar o ato administrativo. São os conceitos jurídicos indeterminados ou conceitos 
imprecisos. 
A expressão conceito jurídico indeterminado, embora bastante criticável, 
ficou consagrada na doutrina de vários países, como Alemanha, Itália, 
Portugal, Espanha e, mais recentemente, no Brasil, sendo empregada para 
designar vocábulos ou expressões que não têm um sentido preciso, 
objetivo, determinado, mas que são encontrados com grande frequência 
nas normas jurídicas dos vários ramos do direito. Fala-se em boa fé, bem 
comum, conduta irrepreensível, pena adequada, interesse público, ordem 
pública, notório saber, notória especialização, moralidade, razoabilidade e 
tantos outros. (DI PIETRO, 2001, p. 97) 
 
O conceito jurídico indeterminado possui características de significação 
abstrata que varia no tempo e no espaço de acordo com as necessidades coletivas, 
bem como deve ser perquirida pelo administrador público, seja pela adequada 
interpretação, quando possível extrair determinada significação da norma legal ou 
regulamentar, seja pelo exercício do poder discricionário, quando mais de uma 
significação for possível de ser extraída da norma, desde que sempre pautado pelos 
princípios administrativos, em especial a razoabilidade. 
Em suma muitas vezes – exatamente porque o conceito é fluido – é 
impossível contestar a possibilidade de conviverem intelecções diferentes, 
sem que, por isto, uma delas tenha havida como incorreta, desde que 
quaisquer delas sejam igualmente razoáveis. (MELLO, 2006, p. 23). 
 
Seja o ato administrativo produzido por meio de interpretação ou por meio de 
discricionariedade do agente público quando diante da norma contendo conceito 
jurídico indeterminado, é evidente que este ato está sujeito ao controle do Poder 
Judiciário para que este verifique se a atuação do agente se pautou pela legalidade 
e pelos princípios administrativos, isto é, se o agente não cometeu desvio de 
finalidade na subsunção do caso concreto à norma. 
Induvidosamente, havendo litígio sobre a correta subsunção do caso 
concreto a um suposto legal descrito mediante conceito indeterminado, 
caberá ao Judiciário conferir se a Administração, ao aplicar a regra, se 
manteve no campo significativo de sua aplicação ou se o desconheceu. 
Verificado, entretanto, que a Administração se firmou em uma intelecção 
perfeitamente cabível, ou seja, comportada pelo conceito ante o caso 
concreto – ainda que outra também pudesse sê-lo – desassistirá ao 
Judiciário assumir est’outra, substituindo o juízo administrativo pelo seu 
próprio. (MELLO, 2006, p. 24). 
 
Observa-se que os conceitos jurídicos indeterminados são utilizados pelo 
legislador na concepção dos pressupostos de direito por ser impossível prever todos 
os pressupostos de fato que possam subsumir aos primeiros. Assim é que o 
legislador atribui ao administrador público, por meio de normas contendo conceitos 
19 
 
jurídicos indeterminados, a incumbência de interpretar esses conceitos segundo 
entendimento aceito pela coletividade, bem como, no caso de mais de uma 
possibilidade possível e válida para o direito, utilizar os critérios de oportunidade e 
conveniência, à luz da razoabilidade, e desta forma encontrar a solução mais 
adequada e atender às necessidades coletivas as quais estão em constante 
evolução. 
Em relação ao ato administrativo disciplinar, encontram-se conceitos 
jurídicos indeterminados nas hipóteses das normas que descrevem condutas ilícitas 
do direito administrativo disciplinar sancionador, tanto nos regulamentos disciplinares 
de servidores civis quanto nos regulamentos disciplinares militares. Exige-se, nestes 
casos, especial atenção da autoridade competente para apurar a transgressão 
disciplinar e aplicar a correspondente sanção, pois deve considerar todas as 
razoáveis possibilidades de interpretação do conceito jurídico indeterminado e 
subsumir o fato à norma. 
 
2.7.2 Princípios 
 
Di Pietro (2001, p. 233) cita os princípios da razoabilidade, moralidade 
administrativa, princípios gerais do direito e supremacia do interesse público como 
princípios de origem pretoriana que foram acolhidos pela Constituição Federal e que 
ampliam o controle jurisdicional do ato administrativo. 
O princípio da razoabilidade [...] permite ao Poder Judiciário invalidar, por 
inconstitucionalidade, leis e atos administrativos cujo conteúdo contenha 
discriminações injustificadas ou medidas que não guardem relação ou 
proporção com os fins objetivados pelo legislador. 
[...] 
O princípio da moralidade administrativa [...] exige da Administração Pública 
comportamentos compatíveis com o interesse público que lhe cumpre 
tutelar, voltados para os ideais expressos, agora, de forma muito nítida, no 
preâmbulo da Constituição; a moralidade tem que estar não só na intenção 
do agente, mas também e principalmente no próprio objeto do ato e na 
interpretação que da lei faça o Administrador para aplica-la aos casos 
concretos. (DI PIETRO, 2001, p. 233). 
 
Quanto aos princípios gerais do direito, positivados ou não, a autora aduz 
que há casos em que estes princípios podem reduzir a margem de opções do 
administrador público no exercício do poder discricionário citando, como exemplo, a 
aplicação do princípio do devido processo legal. 
20 
 
Quanto ao princípio da supremacia do interesse público, já abordado 
anteriormente, a autora aduz que a Administração Pública só pode atender aos 
interesses dos entes que exercem função administrativa quando não conflitarem 
com os interesses da coletividade. 
Esses princípios exigem que a ação do Poder Judiciário não se limite ao 
exame puramente formal da lei e do ato administrativo, mas que se amplie ao exame 
da atuação da autoridade administrativa conforme a lei e o Direito. 
21 
 
3 PROCESSO DISCIPLINAR MILITAR 
 
O objetivo deste capítulo é apresentar os princípios da hierarquia e da 
disciplina, bem como descrever o processo disciplinar militar no âmbito do Exército 
Brasileiro. 
 
3.1 HIERARQUIA E DISCIPLINA 
 
Os princípios basilares das Instituições Militares são a hierarquia e a 
disciplina assim expressas na Constituição Federal (1988, p. 99): 
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e 
pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, 
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade 
suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à 
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da 
lei e da ordem. 
 
A Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, que dispõe sobre o Estatuto dos 
Militares, traz as definições de hierarquia militar e disciplina: 
Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucional das Forças 
Armadas. A autoridade e a responsabilidade crescem com o grau 
hierárquico. 
§ 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, 
dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou 
graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela 
antigüidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é 
consubstanciado no espírito de acatamento à seqüência de autoridade. 
§ 2º Disciplina é a rigorosa observância e o acatamento integral das leis, 
regulamentos, normas e disposições que fundamentam o organismo militar 
e coordenam seu funcionamento regular e harmônico, traduzindo-se pelo 
perfeito cumprimento do dever por parte de todos e de cada um dos 
componentes desse organismo. 
 
O Decreto nº 4.346, de 26 de agosto de 2002, que aprova o Regulamento 
Disciplinar do Exército (R-4 ou, em sua sigla mais utilizada, RDE)e dá outras 
providências, repete literalmente as definições estabelecidas no Estatuto dos 
Militares e acrescenta que são manifestações essenciais de disciplina a correção de 
atitudes, a obediência pronta às ordens dos superiores hierárquicos, a dedicação 
integral ao serviço e a colaboração espontânea para a disciplina coletiva e a 
eficiência das Forças Armadas. 
 
3.2 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DISCIPLINAR MILITAR 
 
22 
 
O processo disciplinar militar é espécie do gênero processo administrativo, 
porém reveste-se de características próprias decorrentes da finalidade de apuração 
de transgressão disciplinar e do âmbito de aplicação da punição disciplinar, qual 
seja, âmbito militar. 
A Lei nº 9784, de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo 
administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, estabelece no artigo 69 
que os processos administrativos específicos, e o processo disciplinar militar é 
específico pela sua finalidade e pelo seu âmbito de aplicação, continuarão a reger-
se por lei própria, aplicando-se ao processo específico apenas subsidiariamente os 
preceitos daquela Lei. 
O arcabouço legal que fundamenta o processo disciplinar militar é a 
Constituição Federal, o Estatuto dos Militares e o Regulamento Disciplinar do 
Exército. 
A Constituição Federal (1988, p. 19), no artigo 5º, inciso LXI, ao preconizar 
que ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e 
fundamentada de autoridade judiciária competente, ressalva os casos de 
transgressão militar ou crime propriamente militar, e delega aos diplomas legais a 
incumbência de defini-los. 
No caso da incumbência de definição das transgressões militares, o diploma 
legal primeiro é a Lei nº 6.880, de 9 de dezembro de 1980, que dispõe sobre o 
Estatuto dos Militares. Porém, observa-se no artigo 42 que o Estatuto, por sua vez, 
delega essa incumbência a outros diplomas legais, no momento em que preconiza 
que a violação das obrigações ou dos deveres militares constituirá crime, 
contravenção ou transgressão disciplinar, conforme dispuser a legislação ou 
regulamentação específicas. Observando mais além, percebe-se que o Estatuto 
delega a incumbência de definir, colocados em termos de especificar e classificar, as 
transgressões disciplinares militares aos regulamentos disciplinares das Forças 
Armadas. 
Art. 47. Os regulamentos disciplinares das Forças Armadas especificarão e 
classificarão as contravenções ou transgressões disciplinares e 
estabelecerão as normas relativas à amplitude e aplicação das penas 
disciplinares, à classificação do comportamento militar e à interposição de 
recursos contra as penas disciplinares. 
 
23 
 
Da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal verifica-se que o 
estabelecido no artigo 47 do Estatuto dos Militares suscitou questionamentos sobre 
a constitucionalidade do RDE, porém a questão não foi julgada no mérito. 
EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade contra o Decreto no 
4.346/2002 e seu Anexo I, que estabelecem o Regulamento Disciplinar do 
Exército Brasileiro e versam sobre as transgressões disciplinares. 2. 
Alegada violação ao art. 5o, LXI, da Constituição Federal. 3. Voto vencido 
(Rel. Min. Marco Aurélio): a expressão ("definidos em lei") contida no art. 5o, 
LXI, refere-se propriamente a crimes militares. 4. A Lei no 6.880/1980 que 
dispõe sobre o Estatuto dos Militares, no seu art. 47, delegou ao Chefe do 
Poder Executivo a competência para regulamentar transgressões militares. 
Lei recepcionada pela Constituição Federal de 1988. Improcedência da 
presente ação. 5. Voto vencedor (divergência iniciada pelo Min. Gilmar 
Mendes): cabe ao requerente demonstrar, no mérito, cada um dos casos de 
violação. Incabível a análise tão-somente do vício formal alegado a partir da 
formulação vaga contida na ADI. 6. Ausência de exatidão na formulação da 
ADI quanto às disposições e normas violadoras deste regime de reserva 
legal estrita. 7. Dada a ausência de indicação pelo decreto e, sobretudo, 
pelo Anexo, penalidade específica para as transgressões (a serem 
graduadas, no caso concreto) não é possível cotejar eventuais vícios de 
constitucionalidade com relação a cada uma de suas disposições. Ainda 
que as infrações estivessem enunciadas na lei, estas deveriam ser 
devidamente atacadas na inicial. 8. Não conhecimento da ADI na forma do 
artigo 3º da Lei no 9.868/1999. 9. Ação Direta de Inconstitucionalidade não-
conhecida. 
 
(ADI 3340, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. 
GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 03/11/2005, DJ 09-03-2007 
PP-00025 EMENT VOL-02267-01 PP-00089) 
 
Assim sendo, no artigo 1º o RDE estabelece as finalidades daquele 
regulamento disciplinar, em consonância com o mandamento legal. 
Art. 1
o
 O Regulamento Disciplinar do Exército (R-4) tem por finalidade 
especificar as transgressões disciplinares e estabelecer normas relativas a 
punições disciplinares, comportamento militar das praças, recursos e 
recompensas. 
 
No artigo 2º o RDE estabelece o âmbito de aplicação de suas disposições 
regulamentares. 
Art. 2
o
 Estão sujeitos a este Regulamento os militares do Exército na ativa, 
na reserva remunerada e os reformados. 
§ 1
o
 Os oficiais-generais nomeados ministros do Superior Tribunal Militar 
são regidos por legislação específica. 
§ 2
o
 O militar agregado fica sujeito às obrigações disciplinares 
concernentes às suas relações com militares e autoridades civis. 
 
Quanto à finalidade de especificar as transgressões disciplinares (e também 
de classificar, conforme ordena o Estatuto), o RDE inicialmente conceitua o que é 
transgressão disciplinar no artigo 14. 
Art. 14. Transgressão disciplinar é toda ação praticada pelo militar contrária 
aos preceitos estatuídos no ordenamento jurídico pátrio ofensiva à etica, 
aos deveres e às obrigações militares, mesmo na sua manifestação 
24 
 
elementar e simples, ou, ainda, que afete a honra pessoal, o pundonor 
militar e o decoro da classe. 
 
Posteriormente, no artigo 15, o RDE especifica as transgressões 
disciplinares como sendo as ações elencadas no Anexo I daquele Regulamento. 
Quanto à finalidade de estabelecer normas relativas a punições 
disciplinares, o RDE estabelece em vários de seus dispositivos o procedimento a ser 
seguido quando da instauração de um processo administrativo disciplinar. 
Depreende-se dos dispositivos a preocupação do legislador em balizar o RDE nos 
princípios institucionais da hierarquia e da disciplina, nos princípios da Administração 
Publica, bem como garantir ao suposto transgressor todas as oportunidades de 
exercer e seu direito de contraditório e ampla defesa. 
A notícia de ocorrência de transgressão disciplinar pode ser dada por todo 
militar que tiver conhecimento de fato contrário à disciplina. Este deverá participá-lo 
ao seu chefe imediato, por meio de documento escrito claro, preciso e conciso, 
qualificar os envolvidos e as testemunhas e discriminar bens e valores. O local, data 
e hora da ocorrência devem ser precisos e as circunstâncias que envolverem o fato 
devem ser caracterizadas sem que sejam tecidos comentários ou emitidas opiniões 
pessoais. 
A autoridade, a quem a parte disciplinar é dirigida, deve dar a solução no 
prazo máximo de oito dias úteis, devendo, obrigatoriamente, ouvir as pessoas 
envolvidas, obedecidas as demais prescrições regulamentares. Caso não seja 
possível solucionar a questão no prazo de oito dias úteis, o motivo disto deverá ser 
publicado em boletim e, neste caso, o prazo será prorrogado para trinta dias úteis. 
Ao fim do prazo a autoridade, se for a competente para tal, deve decidir pela 
instauração do processo disciplinar ou não. Se não for a autoridade competentepara 
tal, deve encaminhar ao superior imediato. Se não for o caso de instauração de 
processo disciplinar, deve verificar ainda se o fato enseja a instauração de inquérito 
ou sindicância. 
Quanto à competência para a aplicação, o RDE estabelece que é definida 
pelo cargo e não pelo grau hierárquico. 
Art. 10. A competência para aplicar as punições disciplinares é definida 
pelo cargo e não pelo grau hierárquico, sendo competente para aplicá-las: 
I - o Comandante do Exército, a todos aqueles que estiverem sujeitos a este 
Regulamento; e 
II - aos que estiverem subordinados às seguintes autoridades ou servirem 
sob seus comandos, chefia ou direção: 
25 
 
a) Chefe do Estado-Maior do Exército, dos órgãos de direção setorial e de 
assessoramento, comandantes militares de área e demais ocupantes de 
cargos privativos de oficial-general; 
b) chefes de estado-maior, chefes de gabinete, comandantes de unidade, 
demais comandantes cujos cargos sejam privativos de oficiais superiores e 
comandantes das demais Organizações Militares - OM com autonomia 
administrativa; 
c) subchefes de estado-maior, comandantes de unidade incorporada, 
chefes de divisão, seção, escalão regional, serviço e assessoria; ajudantes-
gerais, subcomandantes e subdiretores; e 
d) comandantes das demais subunidades ou de elementos destacados com 
efetivo menor que subunidade. 
 
Uma vez decidindo a autoridade competente pela instauração do processo 
disciplinar, ela deverá seguir o procedimento preconizado pelo RDE, descrito a 
seguir. Este procedimento foi concebido pelo legislador a fim de padronizar a 
apuração de transgressões disciplinares, tendo em vista assegurar ao suposto 
transgressor o direito do contraditório e da ampla defesa, bem como auxiliar a 
autoridade competente na tomada de decisão justa, serena e imparcial, referente à 
aplicação de punição disciplinar. 
Art. 35. O julgamento e a aplicação da punição disciplinar devem ser feitos 
com justiça, serenidade e imparcialidade, para que o punido fique 
consciente e convicto de que ela se inspira no cumprimento exclusivo do 
dever, na preservação da disciplina e que tem em vista o benefício 
educativo do punido e da coletividade. 
§ 1º Nenhuma punição disciplinar será imposta sem que ao transgressor 
sejam assegurados o contraditório e a ampla defesa, inclusive o direito de 
ser ouvido pela autoridade competente para aplicá-la, e sem estarem os 
fatos devidamente apurados. 
§ 2º Para fins de ampla defesa e contraditório, são direitos do militar: 
I - ter conhecimento e acompanhar todos os atos de apuração, julgamento, 
aplicação e cumprimento da punição disciplinar, de acordo com os 
procedimentos adequados para cada situação; 
II - ser ouvido; 
III - produzir provas; 
IV - obter cópias de documentos necessários à defesa; 
V - ter oportunidade, no momento adequado, de contrapor-se às acusações 
que lhe são imputadas; 
VI - utilizar-se dos recursos cabíveis, segundo a legislação; 
VII - adotar outras medidas necessárias ao esclarecimento dos fatos; e 
VIII - ser informado de decisão que fundamente, de forma objetiva e direta, 
o eventual não-acolhimento de alegações formuladas ou de provas 
apresentadas. 
§ 3º O militar poderá ser preso disciplinarmente, por prazo que não 
ultrapasse setenta e duas horas, se necessário para a preservação do 
decoro da classe ou houver necessidade de pronta intervenção. 
 
O procedimento se inicia com a entrega do Formulário de Apuração de 
Transgressão Disciplinar (FATD), conforme modelo previsto no RDE, ao militar 
arrolado como suposto transgressor. A partir de então o militar arrolado terá três dias 
26 
 
úteis para apresentar por escrito (de próprio punho ou impresso) e assinado, suas 
alegações de defesa. 
Este prazo para a apresentação das alegações de defesa pode ser 
prorrogado justificadamente conforme discricionariedade da autoridade competente, 
em caráter excepcional, sem comprometer a eficácia e a oportunidade da ação 
disciplinar. Pode ser concedido, ainda, pela mesma autoridade, prazo para que o 
interessado possa produzir as provas que julgar necessárias à sua defesa. 
As justificativas ou razões de defesa serão apresentadas por escrito, de 
próprio punho ou impresso, de forma sucinta, objetiva e clara, sem conter 
comentários ou opiniões pessoais e com menção de eventuais testemunhas. Se 
desejar, o suposto transgressor poderá anexar documentos que comprovem suas 
razões de defesa e aporá sua assinatura e seus dados de identificação. Pode ainda 
ocorrer de o suposto transgressor não desejar apresentar razões defesa. Neste 
caso, deverá manifestar esta intenção, de próprio punho. Se o militar não 
apresentar, dentro do prazo, as razões de defesa e não manifestar a intenção de 
não apresenta-las, a autoridade que estiver conduzindo a apuração do fato 
certificará no FATD, juntamente com duas testemunhas, que o prazo para 
apresentação de defesa foi concedido, mas o militar permaneceu inerte. 
Cumpridas as etapas anteriores, a autoridade competente para aplicar a 
punição concluirá pela procedência ou não das acusações e das alegações de 
defesa. Uma vez a autoridade competente concluindo pela procedência das 
acusações, ela julgará a transgressão com base em análise que considere a pessoa 
do transgressor, as causas que a determinaram, a natureza dos fatos ou atos que a 
envolveram e as consequências que dela possam advir. 
Para tanto, o RDE elenca causas que justificam a falta e circunstâncias que 
atenuam ou a agravam a pena que devem ser levadas em conta no julgamento. 
Art. 18. Haverá causa de justificação quando a transgressão for cometida: 
I - na prática de ação meritória ou no interesse do serviço, da ordem ou do 
sossego público; 
II - em legítima defesa, própria ou de outrem; 
III - em obediência a ordem superior; 
IV - para compelir o subordinado a cumprir rigorosamente o seu dever, em 
caso de perigo, necessidade urgente, calamidade pública, manutenção da 
ordem e da disciplina; 
V - por motivo de força maior, plenamente comprovado; e 
VI - por ignorância, plenamente comprovada, desde que não atente contra 
os sentimentos normais de patriotismo, humanidade e probidade. 
Parágrafo único. Não haverá punição quando for reconhecida qualquer 
causa de justificação. 
Art. 19. São circunstâncias atenuantes: 
27 
 
I - o bom comportamento; 
II - a relevância de serviços prestados; 
III - ter sido a transgressão cometida para evitar mal maior; 
IV - ter sido a transgressão cometida em defesa própria, de seus direitos ou 
de outrem, não se configurando causa de justificação; e 
V - a falta de prática do serviço. 
Art. 20. São circunstâncias agravantes: 
I - o mau comportamento; 
II - a prática simultânea ou conexão de duas ou mais transgressões; 
III - a reincidência de transgressão, mesmo que a punição anterior tenha 
sido uma advertência; 
IV - o conluio de duas ou mais pessoas; 
V - ter o transgressor abusado de sua autoridade hierárquica ou funcional; e 
VI - ter praticado a transgressão: 
a) durante a execução de serviço; 
b) em presença de subordinado; 
c) com premeditação; 
d) em presença de tropa; e 
e) em presença de público. 
 
Segundo esses critérios e desde que não haja causa de justificação, a 
autoridade a qual couber aplicar a pena deve classificar a transgressão disciplinar 
em leve, média e grave, sendo que será sempre classificada como "grave" a 
transgressão disciplinar que constituir ato que afete a honra pessoal, o pundonor 
militar ou o decoro da classe. 
Art. 6
o
 Para efeito deste Regulamento, deve-se, ainda, considerar: 
I - honra pessoal: sentimento de dignidade própria, como o apreço e o 
respeito de que é objeto ou se torna merecedor o militar, perante seus 
superiores, pares e subordinados; 
II - pundonor militar: deverde o militar pautar a sua conduta como a de um 
profissional correto. Exige dele, em qualquer ocasião, alto padrão de 
comportamento ético que refletirá no seu desempenho perante a Instituição 
a que serve e no grau de respeito que lhe é devido; e 
III - decoro da classe: valor moral e social da Instituição. Ele representa o 
conceito social dos militares que a compõem e não subsiste sem esse. 
 
O RDE acolhe a tese de que a pena tem caráter de resposta institucional à 
sociedade, quanto à preservação dos preceitos constitucionais da hierarquia militar e 
disciplina castrense, por meio da punição ao transgressor disciplinar (caráter 
repreensivo da pena). Observa-se também que o RDE tem como crença a 
recuperação disciplinar do transgressor (caráter educativo da pena) e a prevenção 
contra nova ocorrência do fato (caráter preventivo da pena), na medida em que 
preconiza que a punição disciplinar deve ter em vista o benefício educativo ao 
punido e à coletividade a que ele pertence. 
Nesse diapasão, uma vez classificada a transgressão, a autoridade 
competente deve estabelecer a punição disciplinar ao transgressor dentre as que 
estão sujeitos os militares, quais sejam, em ordem de gravidade crescente: a 
28 
 
advertência, o impedimento disciplinar, a repreensão, a detenção disciplinar, a prisão 
disciplinar, o licenciamento e a exclusão a bem da disciplina. Advertência é a forma 
mais branda de punir, consistindo em admoestação feita verbalmente ao 
transgressor, em caráter reservado ou ostensivo. Impedimento disciplinar é a 
obrigação de o transgressor não se afastar da OM, sem prejuízo de qualquer serviço 
que lhe competir dentro da unidade em que serve. Repreensão é a censura enérgica 
ao transgressor, feita por escrito e publicada em boletim interno. Detenção disciplinar 
é o cerceamento da liberdade do punido disciplinarmente, o qual deve permanecer 
no alojamento da subunidade a que pertencer ou em local que lhe for determinado 
pela autoridade que aplicar a punição disciplinar. Prisão disciplinar consiste na 
obrigação de o punido disciplinarmente permanecer em local próprio e designado 
para tal. Licenciamento e exclusão a bem da disciplina consistem no afastamento, ex 
officio, do militar das fileiras do Exército, conforme prescrito no Estatuto dos 
Militares. 
Para tanto, a autoridade competente deve pautar-se nas normas de 
dosimetria da pena preconizadas pelo RDE, dentre as quais a punição disciplinar 
deve ser proporcional à gravidade da transgressão, dentro de determinados limites: 
para a transgressão leve, de advertência até dez dias de impedimento disciplinar, 
inclusive; para a transgressão média, de repreensão até a detenção disciplinar; e 
para a transgressão grave, de prisão disciplinar até o licenciamento ou exclusão a 
bem da disciplina. O RDE estabelece que as punições disciplinares de detenção e 
prisão disciplinar não podem ultrapassar trinta dias e a de impedimento disciplinar, 
dez dias. 
O RDE estabelece ainda, no Anexo III, a punição disciplinar máxima que 
cada autoridade pode aplicar ao transgressor. Observa-se que a aplicação da 
punição classificada como "prisão disciplinar" somente pode ser efetuada pelo 
Comandante do Exército ou comandante, chefe ou diretor de OM. 
Diante de todas essas normas para dosar a punição que será imposta ao 
transgressor, verifica-se que o RDE relaciona as transgressões disciplinares no 
Anexo I sem fazer menção à sua gravidade, deixando, portanto, totalmente à 
autoridade competente julgar, abstrata e subjetivamente, se a descrição se refere a 
uma transgressão leve, média ou grave. 
29 
 
Após ouvir o militar e julgar suas justificativas ou razões de defesa, a 
autoridade competente lavrará no FATD, de próprio punho, sua decisão, a qual será 
publicada em Boletim Interno, encerrando o processo de apuração. 
Uma vez distribuído o Boletim Interno da OM a que pertence o transgressor, 
publicando a aplicação da punição disciplinar e especificando as datas de início e 
término, dar-se-á o início do cumprimento de punição disciplinar. Nenhum militar 
deve ser recolhido ao local de cumprimento da punição disciplinar antes da 
distribuição do boletim que publicar a nota de punição. No caso das punições 
disciplinares que cerceiam a liberdade do transgressor, a contagem do tempo de 
cumprimento da punição disciplinar tem início no momento em que o punido for 
impedido, detido ou recolhido à prisão e termina quando for posto em liberdade. O 
militar poderá ser preso disciplinarmente, por prazo que não ultrapasse setenta e 
duas horas, se necessário para a preservação do decoro da classe ou houver 
necessidade de pronta intervenção. 
Contra o ato da autoridade competente que aplicar a punição disciplinar 
podem ser impetrados os recursos regulamentares peculiares do Exército. São 
recursos cabíveis segundo o RDE o pedido de reconsideração de ato e o recurso 
disciplinar. Ressalta-se que a tramitação destes recursos deve ter tratamento de 
urgência em todos os escalões. É também importante ressaltar que não só o militar 
que se julgue, mas também aquele que julgue subordinado seu, prejudicado, 
ofendido ou injustiçado por superior hierárquico tem o direito de recorrer na esfera 
disciplinar. 
Com relação ao recurso de reconsideração de ato, preconiza o RDE que: 
Art. 53. Cabe pedido de reconsideração de ato à autoridade que houver 
proferido a primeira decisão, não podendo ser renovado. 
§ 1º Da decisão do Comandante do Exército só é admitido o pedido de 
reconsideração de ato a esta mesma autoridade. 
§ 2º O militar punido tem o prazo de cinco dias úteis, contados a partir do 
dia imediato ao que tomar conhecimento, oficialmente, da publicação da 
decisão da autoridade em boletim interno, para requerer a reconsideração 
de ato. 
§ 3º O requerimento com pedido de reconsideração de ato de que trata este 
artigo deverá ser decidido no prazo máximo de dez dias úteis, iniciado a 
partir do dia imediato ao do seu protocolo na OM de destino. 
§ 4º O despacho exarado no requerimento de pedido de reconsideração de 
ato será publicado em boletim interno. 
 
Preconiza ainda o RDE, sobre o recurso de reconsideração de ato, que o 
militar que o requerer, se necessário para preservação da hierarquia e disciplina, 
30 
 
poderá ser afastado da subordinação direta da autoridade contra quem formulou o 
recurso disciplinar, até que seja ele julgado. 
Com relação ao recurso disciplinar, preconiza o RDE que: 
Art. 54. É facultado ao militar recorrer do indeferimento de pedido de 
reconsideração de ato e das decisões sobre os recursos disciplinares 
sucessivamente interpostos. 
§ 1º O recurso disciplinar será dirigido, por intermédio de requerimento, à 
autoridade imediatamente superior à que tiver proferido a decisão e, 
sucessivamente, em escala ascendente, às demais autoridades, até o 
Comandante do Exército, observado o canal de comando da OM a que 
pertence o recorrente. 
§ 2º O recurso disciplinar de que trata este artigo poderá ser apresentado no 
prazo de cinco dias úteis, a contar do dia imediato ao que tomar 
conhecimento oficialmente da decisão recorrida. 
§ 3º O recurso disciplinar deverá: 
I - ser feito individualmente; 
II - tratar de caso específico; 
III - cingir-se aos fatos que o motivaram; e 
IV - fundamentar-se em argumentos, provas ou documentos comprobatórios 
e elucidativos. 
§ 4º Nenhuma autoridade poderá deixar de encaminhar recurso disciplinar 
sob argumento de: 
I - não atendimento a formalidades previstas em instruções baixadas pelo 
Comandante do Exército; e 
II - inobservância dos incisos II, III e IV do § 3o. 
§ 5º O recurso disciplinar será encaminhado por intermédio da autoridade a 
que estiver imediatamente subordinado o requerente,no prazo de três dias 
úteis a contar do dia seguinte ao do seu protocolo na OM, observando-se o 
canal de comando e o prazo acima mencionado até o destinatário final. 
§ 6º A autoridade à qual for dirigido o recurso disciplinar deve solucioná-lo 
no prazo máximo de dez dias úteis a contar do dia seguinte ao do seu 
recebimento no protocolo, procedendo ou mandando proceder às 
averiguações necessárias para decidir a questão. 
§ 7º A decisão do recurso disciplinar será publicada em boletim interno. 
Art. 55. Se o recurso disciplinar for julgado inteiramente procedente, a 
punição disciplinar será anulada e tudo quanto a ela se referir será 
cancelado. 
Parágrafo único. Se apenas em parte, a punição aplicada poderá ser 
atenuada, cancelada em caráter excepcional ou relevada. 
 
O RDE cita também que a instalação, o funcionamento e o julgamento dos 
Conselhos de Disciplina e Conselhos de Justificação obedecerão à legislação 
específica. O dispositivo refere-se a conselhos que, uma vez instalados, funcionam 
seguindo processo disciplinar próprio, com aspectos diferentes do processo 
disciplinar sumário, até então apresentado no RDE, para apuração de determinadas 
transgressões disciplinares e consequente julgamento do transgressor, desde que 
este também possua qualificações específicas, conforme a seguir discorrido. 
O Conselho de Disciplina, previsto no Decreto nº 71.500, de 5 de dezembro 
de 1972, é destinado a julgar da incapacidade do Guarda-Marinha, do Aspirante-a-
Oficial e das demais praças das Forças Armadas com estabilidade assegurada, para 
31 
 
permanecerem na ativa, criando-lhes, ao mesmo tempo, condições para se 
defenderem. Este Conselho também pode ser aplicado ao Guarda-Marinha, ao 
Aspirante-a-Oficial e às demais praças das Forças Armadas, reformados ou na 
reserva remunerada, presumivelmente incapazes de permanecerem na situação de 
inatividade em que se encontram. 
Art . 2º É submetida a Conselho de Disciplina, " ex officio ", a praça referida 
no artigo 1º e seu parágrafo único. 
I - acusada oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social 
de ter: 
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo; 
b) tido conduta irregular; ou 
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou decoro da 
classe; 
II - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares, por se tornar 
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de 
funções militares a ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de 
fatos que motivem sua submissão a processo; 
III - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação 
especial concernente à segurança do Estado, em tribunal civil ou militar, a 
pena restritiva de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em 
julgado a sentença; ou 
IV - pertencente a partido político ou associação, suspensos ou dissolvidos 
por força de disposição legal ou decisão judicial, ou que exerçam atividades 
prejudiciais ou perigosas à segurança nacional. 
Parágrafo único. É considerada entre os outros, para os efeitos deste 
decreto, pertencente a partido ou associação a que se refere este artigo a 
praça das Forças Armadas que, ostensiva ou clandestinamente: 
a) estiver inscrita como seu membro; 
b) prestar serviços ou angariar valores em seu benefício; 
c) realizar propaganda de suas doutrinas; ou 
d) colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou 
doloso, em suas atividades. 
 
Conselho de Justificação, previsto na Lei nº 5.836, de 5 de dezembro 
de1972, é destinado a julgar, através de processo especial, da incapacidade do 
oficial das Forças Armadas - militar de carreira - para permanecer na ativa, criando-
lhe, ao mesmo tempo, condições para se justificar. Este Conselho também pode ser 
aplicado ao oficial da reserva remunerada ou reformado, presumivelmente incapaz 
de permanecer na situação de inatividade em que se encontra. 
Art. 2º É submetido a Conselho de Justificação, a pedido ou "ex officio" o 
oficial das forças armadas: 
I - acusado oficialmente ou por qualquer meio lícito de comunicação social 
de ter: 
a) procedido incorretamente no desempenho do cargo; 
b) tido conduta irregular; ou 
c) praticado ato que afete a honra pessoal, o pundonor militar ou o decoro 
da classe; 
II - considerado não habilitado para o acesso, em caráter provisório, no 
momento em que venha a ser objeto de apreciação para ingresso em 
Quadro de Acesso ou Lista de Escolha; 
32 
 
III - afastado do cargo, na forma do Estatuto dos Militares por se tornar 
incompatível com o mesmo ou demonstrar incapacidade no exercício de 
funções militares a ele inerentes, salvo se o afastamento é decorrência de 
fatos que motivem sua submissão a processo; 
IV - condenado por crime de natureza dolosa, não previsto na legislação 
especial concernente a segurança do Estado, em Tribunal civil ou militar, a 
pena restrita de liberdade individual até 2 (dois) anos, tão logo transite em 
julgado a sentença; ou 
V - pertencente a partido político ou associação, suspensos ou dissolvidos 
por força de disposição legal ou decisão judicial, ou que exerçam atividades 
prejudiciais ou perigosas à segurança nacional. 
Parágrafo único. É considerado, entre outros, para os efeitos desta Lei, 
pertencente a partido ou associação a que se refere este artigo o oficial das 
Forças Armadas que, ostensiva ou clandestinamente: 
a) estiver inscrito como seu membro; 
b) prestar serviços ou angariar valores em seu benefício; 
c) realizar propaganda de suas doutrinas; ou 
d) colaborar, por qualquer forma, mas sempre de modo inequívoco ou 
doloso, em suas atividades. 
 
Observa-se que a Constituição Federal estabelece no artigo 142, inciso VI, 
que o oficial só perderá o posto e a patente se for julgado indigno do oficialato ou 
com ele incompatível, por decisão de tribunal militar de caráter permanente, em 
tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guerra. Em consonância com o 
mandamento constitucional, a Lei nº 5.836, de 5 de dezembro de1972, aponta o 
Superior Tribunal Militar como sendo o tribunal competente para julgar o oficial 
culpado e declará-lo indigno do oficialato ou com ele incompatível, determinando a 
perda de seu posto e patente. 
É importante ressaltar que no processo de apuração e julgamento das 
transgressões disciplinares por meio do Conselho de Disciplina e pelo Conselho de 
Justificação, tal como no processo disciplinar sumário, anteriormente apresentado no 
RDE, deve ser garantida ao suposto transgressor a oportunidade de exercer o direito 
do contraditório e da ampla defesa, bem como ser assegurada a observância dos 
demais princípios norteadores da Administração Pública e das Instituições Militares. 
33 
 
4 HABEAS CORPUS 
 
O objetivo deste capítulo é apresentar aspectos relacionados ao habeas 
corpus, haja vista que, apesar da vedação constitucional insculpida no artigo 142, 
parágrafo 2º, da Constituição Federal, o qual prescreve que “não caberá habeas 
corpus em relação a punições disciplinares militares”, é garantia constitucional e, 
portanto, constitui meio pelo qual o militar transgressor requer perante o Poder 
Judiciário a prestação jurisdicional quando não se conforma com a punição 
disciplinar, cerceadora de sua liberdade de locomoção, aplicada por seu superior 
hierárquico. Constitui assim uma via de controle jurisdicional do ato administrativo e 
servirá, no presente trabalho, para se analisar os limites do indigitado controle sobre 
os atos da autoridade militar de caráter disciplinar punitivo. 
 
4.1 FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL 
 
A Constituição Federal dedica o Titulo II aos direitos e garantias 
fundamentais e, neste título, o Capítulo I é dedicado aos direitos e deveres 
individuais e coletivos. Neste

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