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ISSN 2176-1396 O ESTÁGIO SUPERVISIONADO NO CURSO DE PEDAGOGIA EM ESPAÇOS NÃO ESCOLARES COMO LÓCUS DE PESQUISA: NOVAS CONFIGURAÇÕES, VELHOS DESAFIOS Joseval dos Reis Miranda1 - UFPB Grupo de Trabalho - Práticas e Estágios nas Licenciaturas Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo: Este artigo originou-se de nossa experiência e pesquisa que buscou analisar e socializar nossas práticas e também as nossas reflexões sobre o Estágio supervisionado como lócus de pesquisa em espaços não escolares. Tivemos como objetivo geral analisar o estágio supervisionado em espaços não escolares como espaço de pesquisa para a formação do pedagogo e como objetivo específico analisar as possibilidades e os desafios frente à realização do estágio em espaço não escolar no curso de Pedagogia. Esse trabalho pautou-se na contribuição teórica e metodológica de autores como Sanz Fernández (2006), Pimenta (2014), Libâneo e Pimenta (1999), Zabalza (2014), Silva e Miranda (2008), Lima (2012), Frison (2004, 2006), André (2005, 2006, 2012) e outros que fizeram a tessitura dos eixos estágio, pedagogia, pesquisa e espaço não escolar. Ainda pautamos nossas reflexões nas informações advindas de observações participantes, da análise documental das diretrizes curriculares do curso de Pedagogia e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. Os resultados das reflexões acerca do campo do estágio supervisionado no espaço não escolar mostram que é possível oferecer uma proposta de vivência pedagógica diferenciada criando possibilidades de atuação; ratificam a necessidade desse espaço de estágio para a formação profissional e para a construção da identidade docente do pedagogo diante das demandas da contemporaneidade; mostram o quanto já avançamos em possibilidades de atuação e de aberturas para estágio nos espaços não escolares para o pedagogo. Enfim, a nossa expectativa é que as ponderações aqui mencionadas provoquem “novas” reflexões/socializações, com vistas ao aperfeiçoamento e à criação de novas possibilidades e configurações para o estágio supervisionado em espaços não escolares. Palavras-chave: Estágio supervisionado e pesquisa. Pedagogia. Espaço não escolar. 1 Doutor em Educação e professor da Universidade Federal da Paraíba – Centro de Ciências Aplicadas e Educação, Departamento de Educação. E-mail: josevalmiranda@yahoo.com.br 36943 Primeiras palavras... Na atualidade percebemos os avanços da sociedade em vários campos do saber e nas suas várias dimensões. Ao pensarmos no que diz respeito à área da educação, presenciamos expansão da educação, ampliação da Educação Básica, movimentos em prol da Educação e da escola pública, maior produção intelectual, maior organização dos profissionais da educação, entre outros aspectos. Entretanto, ainda somos testemunhas da precária e frágil formação dos professores, da descontinuidade ou da falta de políticas públicas educacionais, bem como altas taxas de fracasso escolar. Diante disso, a nossa reflexão no presente artigo busca trazer elementos que contribuam para a discussão da formação no curso de Pedagogia, tendo como tema central da nossa análise as questões do estágio supervisionado como lócus de pesquisa em espaços não escolares. Inicialmente apresentamos algumas considerações sobre o estágio supervisionado como espaço de pesquisa. Em seguida, tecemos ponderações sobre o espaço não escolar para logo mais apresentarmos possibilidades de atuação nesse espaço para o curso de Pedagogia. Assim, esperamos que a leitura do presente artigo possa favorecer a construção e reconstrução de conhecimento para o campo de estágio supervisionado em espaços não escolares, pois são reflexões que vêm se tornando uma exigência para o fazer docente frente às demandas da contemporaneidade. Reflexões sobre o estágio Supervisionado Nunca se falou tanto em educação e acerca do processo de escolarização como nas últimas décadas. Assuntos como Plano Nacional de Educação, formação de professores, Currículo e Base Nacional Comum, escola de tempo integral e outros constituem-se temas atuais da agenda educacional brasileira. Todos esses aspectos possuem uma íntima relação com a formação de professores e necessitam ser repensados com urgência. Repensar a formação de professores é imprescindível. Porém, alguns elementos fundamentais devem ser mencionados como o currículo da formação de professores, as disciplinas pedagógicas desse currículo e também o local do estágio supervisionado nesses cursos de formação. Aqui, neste texto, tomamos como ponto específico das reflexões as questões do estágio supervisionado entendido como momento de tomada de conhecimento, vivência, pesquisa, reflexão e avaliação sobre a prática pedagógica por parte do estudante da 36944 licenciatura, tanto para aqueles que ainda não têm contato com o trabalho pedagógico como professores, como também para aqueles que já são docentes. Contudo, para aqueles que já exercem a docência, o estágio supervisionado é um momento mais singular, ainda de se repensar, de reconstruir e de “experienciar” as suas práticas pedagógicas. Nesse sentido, são oportunas as palavras de Bondía (2002, p. 25) sobre o sujeito da experiência: O Sujeito da experiência é um sujeito ‘ex-posto’. Do ponto de vista da experiência, o importante não é nem a posição (nossa maneira de pormos), nem a ‘o-posição’ (nossa maneira de opormos), nem a ‘pro-posição’ (nossa maneira de propormos), mas a ‘ex-posição’, nossa maneira de ‘expormos’, com tudo o que isto tem de vulnerabilidade e de risco. Por isso é in capaz de experiência aquele que se põe, ou se opõe ou se impõe, ou se propõe, mas não se ‘ex-põe’. É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega, nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem nada ocorre. Dessa forma, entendemos o estágio como momento da exposição para a construção de saberes e de práticas pedagógicas. Contudo, temos presenciado nos últimos anos, por meio da atuação no curso de Pedagogia e também em outras licenciaturas, que, quando é chegada a hora da realização do estágio supervisionado, há estudantes que buscam de qualquer maneira serem dispensados da prática de estágio e “fogem” dessa atividade o máximo que podem, talvez por insegurança nos aspectos teóricos e metodológicos da própria constituição docente vivenciados durante o currículo da própria formação. Não estamos nos referindo à Resolução CNE/CP nº 2 de 19/02/2002, que menciona, no Parágrafo Único do seu Art. IV, que o estudante que exerce atividade docente na Educação Básica poderá reduzir até 200 horas de atividades de estágio. Evidente que a resolução citada estabelece o direito ao aproveitamento das atividades exercidas pelos estudantes para a redução das horas de estágio, mas isso não significa que haja a possibilidade da não realização do estágio ou, nem mesmo, que seja possível “pular” etapas dos estágios durante o seu curso de formação. Desse modo, pensar o estágio supervisionado na atualidade nos cursos de formação de professores requer dos professores formadores olhares sensíveis para as demandas emanadas de uma sociedade, tanto para as questões de ensino quanto para as de aprendizagens. É preciso repensar ainda os espaços formativos de estágio, entre eles os não escolares; pensar os agentes do estágio e as contribuições do estágio para todos os envolvidos (escolas, espaços não escolares, estudantes, professores formadores e universidade). 36945 Refletir sobre o campo do Estágio Supervisionado implica também pensar essemomento formativo do estudante, a fim de ampliar a sua consciência sobre a própria prática, valorizando a docência, seja ele já um profissional docente ou não, pois [...] valorizar o trabalho docente significa dotar os professores de perspectivas de análise que os ajudem a compreender os contextos de análise que os ajude a compreender os contextos históricos, sociais, culturais, organizacionais nos quais se dá sua atividade docente (PIMENTA, 2014, p. 14). Nesse sentido, entendemos o estágio como um espaço na formação do estudante, não só para o exercício futuro da profissão, uma vez que é necessário viver o presente da/na vida acadêmica, desenvolvendo as várias dimensões da formação humana, social, política, histórica, afetiva, cultural, entre outras. São oportunas as palavras de Zabalza (2014, p. 99), pois para ele: [...] o estágio permite completar as aprendizagens disciplinares e enriquecê-las mediante a possibilidade de aplica-las em contextos profissionais reais. Porém, junto a isso, incorporam-se a formação outros elementos que têm a ver com a atitude intelectual, com a capacidade de trabalho em equipe, a capacidade de adaptar-se a situações novas e, às vezes, exigentes, a capacidade de comprometer-se e assumir responsabilidades, a capacidade de idealizar e empreender, entre outros. Diante disso, não podemos só pensar, de forma reducionista, o estágio como puro e simples preparo mecanicista e repodutivista para o trabalho. Segundo Lucena e Pimenta (2004), uma das concepções acerca do estágio supervisionado perpassa pela prática como imitação de modelos, sendo esta uma concepção na qual o ensino e a realidade apresentam-se estáticos, imutáveis e que o estagiário valoriza os instrumentos consagrados. Desse modo, apensar de tantas produções na área do estágio supervisionado, não seria difícil encontrarmos práticas de estágio acontecendo nesses moldes. A partir das produções de Lucena e Pimenta (2004, p.36), Piconez (2006, p.30), Miranda (2008, p.43), é imprescindível pensar o estágio como: Tempo de aprendizagem. Supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é profissional. Momento de formação profissional. Possibilita a profissionalização do estagiário (a). Como campo de constituição da identidade docente. Como eixo integrador da relação teoria – prática. Como espaço de articulação entre os componentes do curriculares da formação do estagiário (a). Espaço de aquisição de experiências novas e novas construções e ressignificações teóricas-metodológicas. Espaço problematizador da prática pedagógica. Possibilidade de conhecer o cotidiano da escola e as suas singularidades. 36946 Aproximação da realidade escolar. Assim, diante dessas evidências, podemos afirmar que a riqueza formativa do estágio consiste em possibilitar ao estudante: a aproximação do mundo da profissão à sua cultura, a compreensão do sentido e da natureza do trabalho a ser desenvolvido, a aquisição de conhecimentos e habilidades, reforçando ou modificando suas atitudes frente à constituição da sua identidade docente, seja no espaço escolar ou não escolar. Compreendendo o espaço não escolar como possibilidade de estágio Pensar o espaço não escolar como possibilidade de estágio para o curso de Pedagogia não é tão recente, porém a Resolução CNE/CP nº 1, de 15 de maio de 2006, que institui as diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia, apresenta e oficializa, em vários de seus artigos, a possibilidade de atuação em espaços não escolares. Nesse contexto, é preciso assinalarmos que por espaço não escolar entendemos que seja aquele local diferente da organização do ambiente escolar formal, mas onde pode também ocorrer uma ação educativa. Essa educação não escolar acontece fora dos muros da escola, com marcadores diferenciados, como por exemplo: objetivos, conteúdos, metodologias, técnicas, processos de avaliação e acompanhamento, sujeitos e recursos envolvidos. Já a educação formal utiliza padrões definidos e legitimados institucionalmente, como: presença e papel do professor, do currículo escolar, diretrizes e legislações específicas, metas, tempos, espaços, conteúdo específicos, obrigatoriedade, entre outros (SANZ FERNÁNDEZ, 2006). Nesse sentido, ainda que no que diz respeito ao espaço não escolar, o tempo das aprendizagens torna-se mais fluido e flexível, havendo respeito às diferenças e às capacidades de cada sujeito envolvido no processo. Criam, recriam-se os múltiplos espaços e tempos para as aprendizagens. É evidente que não se trata de colocar uma oposição entre o espaço formal e o não formal de educação, mas possibilitar e conhecer melhor as potencialidades do espaço não escolar em benefício das aprendizagens de todos e todas. Segundo Frison (2006, p. 07) [...] Entende-se por espaços não escolares a atividade educacional organizada e sistemática, realizada fora do sistema de ensino formal, visando proporcionar aprendizagem sistemática e continuada a educandos trabalhadores que foram assim denominados porque além de executarem tarefas do trabalho estão em constante processo de formação e aprendizagem no local de trabalho. 36947 Dessa forma, com base em Sanz Fernández (2006), convém ressaltarmos alguns elementos que podem ser estruturantes para o planejamento, para a execução e para a avaliação de ações e práticas de estágio no espaço não escolar: a) os agentes educativos - na conjuntura da educação não escolar, outros agentes educativos podem desempenhar esse papel, além do professor. Tudo isso, dependerá do contexto, por exemplo em locais como museus, jardins zoológicos, empresas etc. b) Conteúdos de aprendizagens não formal - são os conteúdos que não obedecem a uma prescrição do currículo escolar e não foram institucionalmente definidos no âmbito das disciplinas escolares. Os estudantes buscam conhecer e aprender pelo próprio interesse, pela curiosidade e pelo desejo sobre o assunto. c) Espaços não escolares de aprendizagens – espaços válidos para as aprendizagens, cuja função “não é a educação formal e nem lugares institucionalizados” (JACOBUCCI, 2008, p. 57). Ainda segundo Jacobucci (2008), esses espaços não escolares de atuação podem ser institucionais e não institucionais. Assim, temos: Institucionais: museus, estação ciências, empresas, hospitais e outros. Não institucionais: parques, praias, feiras e outros. d) O tempo – o calendário na educação não escolar não obedece a uma estruturação ou a limites definidos como acontece na educação formal. O tempo na educação não escolar não se reduz a um período determinado, pois existe a possibilidade de o ser humano nesses vários contextos de educação não escolar estar ressignificando saberes, impressões, representações, sentimentos e reações. Cada sujeito cria e vive o seu calendário de aprendizagens. e) Recursos nos espaços não escolares de aprendizagens – outros recursos para além dos livros e textos poderão ser utilizados nessa modalidade de educação. A utilização dependerá do espaço não escolar a ser trabalhado e da finalidade do estudo e das aprendizagens. f) Avaliação – sempre presente na vida do ser humano, não poderia ser diferente no espaço não escolar. Nesse contexto, a avaliação assume um caráter participativo, no qual todos os envolvidos podem opinar, é processual e pode ocorrer de forma individual e/ou coletiva. Podem ser utilizados instrumentos/procedimentos avaliativos como observação, registros, construção da memória e outros. 36948 Desse modo, o espaço não escolar, como campo e local de estágio para o pedagogo, busca solidificar um espaço de atuação para esse profissional. Não simplesmentepara ocupar uma função, mas para desempenhar, com respaldo teórico e metodológico, ações educativas em contextos não escolares. Significa conceber, planejar, desenvolver, avaliar e reorganizar ações do trabalho pedagógico nos contextos não escolares, as quais, muitas vezes, demandam o trabalho coletivo, o pensar e o agir de forma interdisciplinar. Diante disso, Frison (2006, p. 24) pontua; O Trabalho do pedagogo nos espaços não-escolares, no mundo contemporâneo, parte de pressupostos mais exigentes e complexos do que os das décadas passadas, demanda outras ações, embasadas em outro paradigma, porque estes ambientes educativos encontram-se sob forte pressão, exigem respostas alternativas e rápidas e privilegiam a lógica da aprendizagem auto-regulada. Ainda segundo Frison (2006, p.24), é preciso também pensar o perfil do pedagogo para atuar no espaço não escolar, pois [...] o perfil profissional não se configura mais pelas tarefas ou atividades exercidas isoladamente. Os desafios e problemas interdependentes encontrados, neste início de milênio, sinalizam a necessidade de encontrar soluções coletivas que possam beneficiar o maior número possível de pessoas. Assim, o estágio como componente curricular da formação profissional, aqui em especial no espaço não escolar, [...] possibilita pôr em prática muitas competências profissionais genéricas que fazem parte do catálogo de aprendizagens que correspondem à formação universitária: a observação, a análise das situações, a narração-descrição-análise das experiências, a apresentação de resultados, entre outros. Fazer as práticas não é sair da universidade para fazer qualquer coisa. É continuar aprendendo em um contexto não acadêmico (ZABALZA, 2014, p.115). Desse modo e diante do que foi mencionado, é preciso redimensionar o estágio como um espaço e tempo para as aprendizagens, buscando uma relação dialético-dialógica com alguém que já é profissional, possibilitando dessa maneira a profissionalização do estagiário, pois o período de estágio também se configura como um espaço de construção da identidade docente no espaço não escolar. 36949 O curso de Pedagogia e as suas possibilidades de inserção nos espaços não escolares Corroboramos o pensamento de Libâneo e Pimenta ao afirmarem que a Pedagogia é mais ampla que a docência e também por compreender as inúmeras possibilidades de atuação do pedagogo ao abranger outras instâncias para além da sala de aula. Nesse sentido, Libâneo e Pimenta (1999, p. 252) ressaltam que: A Pedagogia é uma reflexão teórica baseada nas práticas educativas e sobre elas. Investiga os objetivos sociopolíticos e os meios organizacionais e metodológicos de viabilizar os processos formativos em contextos socioculturais específicos. Todo educador sabe, hoje, que as práticas educativas ocorrem em muitos lugares, em muitas instâncias formais, não-formais, informais. Elas acontecem nas famílias, nos locais de trabalho, na cidade e na rua, nos meios de comunicação e, também, nas escolas. Não é possível mais afirmar que o trabalho pedagógico se reduz ao trabalho docente nas escolas. A ação pedagógica não se resume a ações docentes, de modo que, se todo trabalho docente é trabalho pedagógico, nem todo trabalho pedagógico é trabalho docente. Por exemplo, o MST faz um trabalho pedagógico, mas não necessariamente um trabalho docente, a não ser quando reúne suas crianças nas salas de aula para a escolarização formal ou os militantes para estudar o aprimoramento de práticas agrícolas, os direitos trabalhistas de lavradores etc. Ao compreendermos as várias possibilidades de atuação do pedagogo e as demandas para esse profissional na contemporaneidade, é que ratificamos a necessidade de uma formação teórica e metodológica consistente para uma atuação coerente e com qualidade social para todos e todas. Frison (2004, p. 88) menciona sobre as transformações sociais e o entendimento sobre a atuação nos espaços não escolares: [...] na escola, na sociedade, na empresa, em espaços formais ou não formais, escolares ou não escolares, estamos constantemente aprendendo e ensinando. Assim, como não há forma única nem modelo exclusivo de educação, a escola não é o único em que ela acontece e, talvez, nem seja o mais importante. As transformações contemporâneas contribuíram para consolidar o entendimento da educação como fenômeno multifacetado, que ocorre em muitos lugares, institucionais ou não, sob várias modalidades. Ainda acrescenta sobre a atuação de pedagogo no espaço não escolar, ressaltando que: Nos Espaços não-escolares, um dos desafios que se impõe ao pedagogo é desenvolver projetos voltados para o desenvolvimento de capacidades, de competências e de técnicas que tenham como ênfase a formação e a atualização dos sujeitos. O bom aproveitamento das estratégias de aprendizagem requer um sistema de auto-regulação fundamentado na reflexão crítica, na tomada de decisão, a partir do diálogo consigo mesmo e com a realidade. Nesta perspectiva, o pedagogo trabalha com o desenvolvimento de competências técnicas capazes de (re) orientar e potencializar a ação dos sujeitos. Esta ação implica participação do sujeito que é provocado a pensar sobre sua aprendizagem, que tem consciência de si mesmo e das necessidades do mundo que o rodeia. É importante desenvolver estratégias para sinalizar a necessidade de atualização constante. (FRISON, 2006, p. 25). 36950 Nesse sentido, a partir da nossa experiência e de pesquisas no desenvolvimento do estágio em espaços não escolares, das leituras e de estudos nessa área, podemos mencionar como possíveis campos de atuação de pedagogos: empresas, hospitais, sindicatos, Detran, abrigo de idosos, jardins zoológicos, praças, praias, museus, estação ciência, movimentos sociais, presídios, projetos culturais e/ou comunitários, centros culturais e outros. Vale ressaltar que em todos esses campos do exercício profissional, o pedagogo irá desenvolver funções nas quais ele buscará respaldo no campo de conhecimento da Pedagogia. Ou seja, desenvolvendo ações pedagógicas, por meio do planejamento, do acompanhamento, da execução e da avaliação de projetos, programas ou políticas de cunho pedagógico. Não apoiamos qualquer ação que seja caracterizada como desvio de função do pedagogo nesses espaços não escolares. Não poderíamos deixar de ressaltar a importância do trabalho interdisciplinar que o pedagogo poderá coordenar nesse espaço não escolar. Através da parceria e do trabalho coletivo, o pedagogo poderá contribuir para o desenvolvimento de ações pedagógicas nesses espaços. Entretanto, como a atuação do pedagogo em espaços não escolares é uma atividade recente, temos encontrados muitos empecilhos para a realização de estágios, tais como: a visão restrita de que pedagogo só deve estar na sala de aula, a falta de confiança na formação do pedagogo para atuar em espaços não escolares, o preconceito com o curso de Pedagogia e outros. Vale salientarmos que é importante, no estágio em espaço não escolar, conceber a realização desse estágio também como espaço de pesquisa. Pesquisar o cotidiano do espaço não escolar não é a mesma coisa que desenvolver uma pesquisa de cunho acadêmico ou cientifico, porém requer da formação do pedagogo, uma vez que [...] a concepção de professor-pesquisador apresenta formas concretas de articulação, tendo a prática como ponto de partida e como finalidade, sem que isto signifique a supremacia da prática sobre a teoria (ESTEBAN; ZACUUR, 2008, p. 20). Nesse sentido, o estágio concebido como espaço de pesquisa requer do estagiário o caminhar para a reflexão a partir da realidade. Assim, Pimentae Lima (2004, 46) expõem que: 36951 A pesquisa no estágio, como método de formação de futuros professores, se traduz, de um lado, na mobilização de pesquisas que permitam a ampliação e análise dos contextos onde os estágios se realizam; por outro lado, e em especial, se traduz na possibilidade de os estagiários desenvolverem postura e habilidades de pesquisador a partir das situações que observam. A partir desse entendimento, é preciso que os professores formadores que coordenam os estágios orientem os estudantes no sentido da palavra pesquisa e da formação como pesquisador para esse contexto. Segundo a professora Marli André (2005, 2006, 2012), para que um professor se torne um pesquisador é preciso: • Que haja uma disposição pessoal do professor para investigar. • Um desejo em questionar. • Uma formação adequada. • Que atue em ambiente institucional favorável à constituição de grupos de estudo. • Que tenha possibilidade de receber assessoria pedagógica. • Que tenha tempo e disponha de espaço para realizar a pesquisa. • Tenha possibilidade de acesso a materiais, fontes de consulta e bibliografia especializada. Dessa forma, a partir da leitura de Lima (2012), quando propõe “os caminhos do estágio”, podemos considerar como um possível percurso, com base na nossa experiência de estágio no espaço não escolar, as seguintes possibilidades operacionais para a realização desse estágio. 1. Pesquisa sobre quais espaços não escolares dispomos para a realização do estágio. 2. Contato com as instituições para a realização do estágio. 3. Observar se essas instituições já possuem convênio com a universidade. 4. Ofício solicitado das instituições vaga e aceitação para estagiários. 5. Estudo teórico metodológico sobre a atuação no espaço não escolar, bem como estudo específico sobre cada espaço não escolar, coordenado pelo professor de estágio. Por exemplo, quando desenvolvemos projeto no espaço do Hospital, realizamos estudos sobre a Pedagogia Hospitalar. Não podemos encaminhar o estagiário para o local de estágio sem estudos prévios sobre a sua possível atuação naquele espaço não escolar! 6. Encaminhamento do estagiário para espaço de estágio não escolar. 7. Realização de observação, mediante roteiro construído nas aulas, para conhecimento da realidade. Nessa etapa, o estagiário poderá utilizar também a entrevista com gestores, coordenadores, supervisores e outros funcionários para conhecer mais de perto a especificidade do local de estágio. Essa etapa não pode 36952 ser realizada em um período muito curto. É preciso conhecer para poder intervir futuramente. 8. Revisão do estudo teórico e metodológico sobre o espaço não escolar para a elaboração do projeto de intervenção com o acompanhamento do professor de estágio. Por exemplo, ao desenvolvermos o projeto no hospital, é o momento de o grupo rever as leituras e fundamentar sobre o trabalho naquele espaço. A partir daí elabora-se o projeto. 9. Elaboração do projeto de intervenção, pensando em todos os itens de um projeto: dados iniciais sobre a instituição (isso colhido na observação), justificativa, objetivos (geral e específicos), fundamentação teórica, procedimentos metodológicos, recursos, cronograma, avaliação e referências. Além, da elaboração dos planos de atividades diárias. No espaço não escolar, também se faz planejamento e planos! 10. Execução do projeto. É bom nessa fase registrar tudo com fotos, depoimentos em entrevistas, fazer anotações sobre as observações. Durante a execução do projeto é necessária a realização de reuniões de planejamento e de avaliação do que está sendo desenvolvido. É imprescindível também o acompanhamento do professor coordenador de estágio nesses momentos de execução do projeto. 11. Avaliação em sala de aula sobre o desenvolvimento do estágio após a sua conclusão. Roda de conversa, na qual todos pontuam os pontos fortes e os pontos que precisam ser repensados para os próximos estágios. Socialização também dos diversos grupos que estavam em outros espaços não escolares. 12. Construção da produção sobre o registro de estágio. Poderá ser desenvolvido em formato de: relatório, dossiê, portfólios, blogs, diários, webfólios e outros formatos que contribuam para a reflexão profissional formativa, por meio do estágio no espaço não escolar. 13. Socialização das práticas de estágio no espaço não escolar com outras turmas do curso de Pedagogia. Poderá ser apresentado em “banner” ou em comunicações orais. Assim, a partir da experiência compartilhada e das pesquisas realizadas, o estágio em espaço não escolar pode até se configurar um “novo” formato de estágio, devido a sua oficialização por meio das diretrizes do curso de Pedagogia, porém enfrenta velhos desafios, como: práticas artesanais, somente preenchimento de fichas, relatórios somente descritivos, 36953 treinamentos, desvinculação teoria da prática, coleta simples de dados, momento de ver falhas ou insuficiências nos outros, de fazer denúncias, de cumprir horários e outros equívocos que ainda persistem. Entretanto, estamos avançando em prol de uma formação crítica e reflexiva. Considerações finais Diante das evidências expostas e refletidas nessa pesquisa no que diz respeito às experiências no campo do estágio supervisionado em espaços não escolares, podemos ratificar a necessidade desse espaço de estágio para a formação profissional e para a identidade docente do pedagogo diante das demandas da contemporaneidade. Salientamos que é preciso ainda aprofundar os estudos e as experiências para a atuação do pedagogo em espaços não escolares, garantindo o seu exercício profissional, para que não se caracterize como um desvio de função. Não poderíamos deixar de mencionar que, à luz do diálogo tecido com os teóricos apresentados no decorrer deste trabalho, foi possível percebermos o quanto já avançamos em possibilidades de atuação e de espaços para o pedagogo no que diz respeito ao espaço não escolar. Porém, restam ainda alguns desafios, como já mencionamos, e entre eles a proposição, nos currículos dos cursos de Pedagogia, que possibilite essa formação, ou seja, a atuação de pedagogo em espaços não escolares. Assim sendo, a nossa experiência e a pesquisa desenvolvida com a atividade de estágio em espaço não escolar possibilitaram-nos algumas reflexões que foram tecidas ao longo do texto. Esperamos que tais reflexões e socializações possam provocar outros debates e construções, com vistas à construção de conhecimentos para o campo de estágio em espaço não escolar, para a Pedagogia e, acima de tudo, para a profissionalização e para construção da identidade do pedagogo. REFERÊNCIAS ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. Ensinar a pesquisar: como e para quê? IN: VEIGA, Ilma Passos Alencastro Veiga (Org.). Lições de Didática. Campinas, SP: Papirus, 2006, p. 123-134. ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. O Papel mediador da pesquisa no ensino de didática. IN: ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de; OLIVEIRA, Maria Rita Neto Sales (Orgs.). Alternativas no ensino de didática. 7.ed. Campinas, SP: Papirus, 2005, p.19-36. 36954 ANDRÉ, Marli. (Org.). O Papel da pesquisa na formação e na prática dos professores. 12.ed. Campinas, SP: Papirus, 2012. BONDÍA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação. 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