Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Este artigo aborda aspectos importantes sobre a nossa formação e nossa postura diante do tema racismo. Assim como no texto da Psicóloga Fernanda A. Pedroza, pudemos ver em uma recente pesquisa norte-americana, que investigou a percepção do racismo e seu impacto na saúde de negros americanos, ressaltou-se que ser vítima de racismo afeta a saúde mental de adultos de tal forma que esta experiência pode ser comparada a vivência de uma situação traumática. A pesquisa analisou 66 estudos anteriores que incluíram mais de 18.000 adultos negros. Concluiu-se que a somatização (aflição psicológica que se expressa como dor física), sensibilidade interpessoal e ansiedade são respostas comuns ao racismo e ao trauma. Pessoas que foram vítimas de racismo têm também maiores probabilidades de relatarem sofrimento mental no decorrer de suas vidas. Em 2002, o Sistema Conselhos de Psicologia, pensando sobre a postura dos psicólogos frente ao preconceito e à discriminação racial, estabeleceu a Resolução nº018/2002, que preconiza em seu art.1º que “os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos da profissão contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão sobre o preconceito e para a eliminação do racismo”. Há uma necessidade de se rever algumas das lógicas reproduzidas pela Psicologia brasileira, que precisa dar mais atenção ao problema do racismo No entanto, a realidade da população de rua e das pessoas negras que acabam necessitando de atendimento psiquiátrico e internações não é a única face do racismo como problema de saúde mental. O racismo vigente no Brasil causa prejuízos à autoestima e autonomia das pessoas negras e suas consequências são seríssimas em diversos âmbitos subjetivos e sociais. De uma forma ou de outra, esse conhecimento não é devidamente divulgado e, ao contrário de diversos outros temas relacionados à Psicologia, o conteúdo sobre o assunto é escasso até mesmo na internet. Além disso, as ações promovidas pela Psicologia brasileira, representada por seus órgãos responsáveis e instituições de ensino, são extremamente pontuais, tímidas e, quando ocorrem, limitadas ao âmbito acadêmico. Valter da Mata é psicólogo, mestre em Psicologia Social e professor universitário, além de ser membro da Comissão Nacional de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia. Ele está envolvido em diversas atividades e reivindicações para que a Psicologia dedique mais atenção ao problema do racismo no Brasil e fala abertamente sobre a necessidade de rever algumas das lógicas reproduzidas pela Psicologia brasileira. Em entrevista concedida à Fórum, da Mata discorre sobre o problema do racismo no Brasil e por que a Psicologia deve se debruçar para combatê-lo. Leia abaixo a entrevista na íntegra: A formação da Psicologia no Brasil passa por um momento de transformação, mas ainda muito lenta. As Instituições de ensino, aliadas à representação social do trabalho do psicólogo, continuam privilegiando o trabalho de clínica individual no consultório como o principal. Parece que ainda não se ligaram no contexto atual, onde cresceu assustadoramente o número de cursos de Psicologia em todo Brasil, além da necessidade de ocupação de postos nas mais diversas políticas públicas. Podemos dizer que somente no século XXI a Psicologia acordou para estudar o fenômeno do racismo e suas repercussões psicológicas. Por décadas psicólogos desenvolveram teorias que sustentaram e ratificaram o binômio superioridade/inferioridade das raças humanas. No Brasil, temos a forma mais sofisticada de racismo já elaborada, sem leis explícitas que ratifiquem a exclusão, é um racismo que vai sendo veiculado em doses às vezes homeopáticas, às vezes cavalares, no cotidiano. Os atores sociais vão assimilando essas crenças, que determinam lugares, justificam o status quo, dentre outras consequências. Cabe à Psicologia, juntamente com outros saberes, ajudar a decifrar esse enigma, essa ideologia perversa que aprisiona e produz sofrimento de diversas ordens. Cabe aos psicólogos enfrentarem o mito da democracia racial, dentre tantos outros mitos, para que possamos criar uma ciência e profissão realmente engajada na promoção dos direitos fundamentais, para a construção de uma sociedade equânime. https://www.revistaforum.com.br/digital/167/psicologia-e-racismo-o-desafio-de-romper-omissao/ (https://www.geledes.org.br/psicologia-e-negligencia-com-o-racismo/). Rhaysa Vasconcellos Ferreira Matrícula : 201502272521
Compartilhar