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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA Alessandra B. Ferreira Machado Controle da população microbiana nos alimentos Controle microbiológico nos alimentos Controle do desenvolvimento microbiano Eliminar riscos à saúde do consumidor e prevenir ou retardar o surgimento de alterações indesejáveis no alimento. Princípios básicos da conservação de alimentos 1. Minimizar a contaminação (Boas Práticas de Produção) 3. Inibição dos microrganismos (diminuição da temperatura e da atividade de água, aditivos químicos) 4. Inativação dos microrganismos (altas temperaturas, radiação) 2. Remoção dos microrganismos (lavagem, centrifugação e filtração) • É preciso reduzir a contaminação para aplicar os outros princípios (remoção, inibição, inativação) com eficiência. Produto manipulado de forma adequada, observando os cuidados para reduzir a contaminação, o número inicial de microrganismos é menor. Produto de melhor qualidade e mais seguro Princípios básicos da conservação de alimentos O controle microbiológico pode ser realizado pela: MORTE: Perda irreversível da capacidade de reprodução – ação microbiocida INIBIÇÃO: Inibe o crescimento – ação microbiostática Controle da população microbiana Fatores que influenciam o controle microbiano Número de microrganismos Características microbianas Condições ambientais Tempo de exposição Ação dos agentes de controle microbiano Danos à parede celular – morte celular por lise osmótica. Alteração da permeabilidade da membrana: perda da sua integridade, levando ao extravasamento do conteúdo intracelular. Danos as proteínas: Desnaturação de proteínas. Alteração do metabolismo celular. Danos aos ácidos nucléicos: Impede a replicação, transcrição e tradução. 1. Métodos mecânicos - remoção 2. Manutenção de condições atmosféricas desfavoráveis 3. Temperaturas elevadas 4. Temperaturas baixas 5. Desidratação 6. Radiação 7. Conservantes químicos 8. Alteração da pressão osmótica - Tecnologia de Barreiras (métodos combinados) - Métodos utilizados no controle da população microbiana nos alimentos Qual é o melhor método? Qual método devo escolher? 1. Remoção de microrganismos 1) Lavagem remoção de poeira e microrganismos Frutas e vegetais qualidade da água – atender a legislação vigente quanto a características físicas, químicas e microbiológicas 2) Sedimentação ou centrifugação tratamento de água (sedimentação) ou industrialização do leite (biocentrifugação – remoção de endósporos) 3) Filtração o líquido é filtrado sob pressão através de um filtro estéril (remove totalmente os micro-organismos) Sucos, água, refrigerantes, vinhos e cervejas 2. Manutenção de condições atmosféricas desfavoráveis • Ambientes nos quais o oxigênio é total ou parcialmente substituído por outros gases. • É utilizada como recurso tecnológico para aumentar a vida útil dos alimentos. Gases utilizados CO2 • Em concentração superior a 5% inibe fungos filamentosos, Pseudomonas, Acinetobacter. • Atmosfera de 10% é utilizada para prolongar o tempo de armazenamento de frutas. • Mecanismo de ação provável: diminuição de pH, interferência na atividade de enzimas microbianas. Óxidos de etileno e propileno • Controle de pragas na indústria de alimentos • Antifúngicos em frutas desidratadas, nozes e condimentos • Mecanismo de ação - atua sobre proteínas microbianas • Óxido de etileno - deixa resíduos potencialmente carcinogênicos • Óxido de propileno - menos volátil e com menor poder de penetração; não forma substâncias residuais tóxicas Gases utilizados Nitrogênio (N2) • Utilizado frequentemente nas embalagens e câmaras de armazenamento de matérias-primas e alimentos processados atividade antimicrobiana pouco significativa • Alimentos embalados a vácuo ou em atmosfera contendo CO2 ou N2 condições anaeróbias Gases utilizados 3. Temperaturas elevadas Temperaturas elevadas causam a desnaturação de proteínas e a inativação de enzimas necessárias ao metabolismo microbiano. Tratamento térmico varia com o microrganismo (célula vegetativa, endósporo) e com o ambiente durante o tratamento. Tipos: pasteurização e esterilização Uma das formas mais seguras para evitar a ocorrência de doenças de origem alimentar. 3. Temperaturas elevadas Pasteurização Objetivo destruição de microrganismos patogênicos (por exemplo, pasteurização do leite) ou destruição/redução do número de microrganismos deterioradores (pasteurização de sucos). Aplicado a alimentos ácidos ou muito ácidos (pH < 4,5), alimentos refrigerados ou congelados, alimentos que serão concentrados e desidratados. Pasteurização Binômio tempo/temperatura - Baixa temperatura/ tempo maior 63 °C/30’ - Alta temperatura/ tempo menor (HTST) 72 °C/15” Leite destrói microrganismos patogênicos (Mycobacterium tuberculosis, Coxiella burnetti, Brucella abortus), leveduras, fungos filamentosos e outras bactérias (Listeria monocytogenes, Campylobacter, Salmonella e Escherichia coli O157:H7). Não é método de esterilização Não inativa esporos e os termodúricos Leite deve ser mantido sob refrigeração Esterilização Destruição de todas as células vegetativas e endósporos Esterilização comercial visa a eliminação de endósporos de Clostridium botulinum - Envase em recipientes de metal ou vidro não estéreis Esterilização Aplicado em alimentos como leite, suco de frutas, massa de tomate Leite 140°C/5” leite longa vida (UHT – ultra high temperature) Envase asséptico 4. Temperaturas baixas Reduz atividade metabólica dos micro-organismos efeito microbiostático Refrigeração Temperatura utilizada inferior a 10 °C Micro-organismos de interesse psicrotróficos Alguns patógenos podem se multiplicar e sintetizar toxinas (Yersinia, Listeria) Outros métodos de conservação são empregados em conjunto com a refrigeração (embalagens a vácuo, salga, defumação). Congelamento Temperatura utilizada < -18 °C Reduz ou cessa a atividade microbiana Pode provocar a morte de microrganismos contaminantes Um dos melhores métodos para manutenção da cor, aroma e aparência de muitos alimentos Alimentos a serem congelados não devem apresentar sinais de deterioração Congelamento Congelamento lento temperatura desejada é atingida entre 3 e 72 h congelador doméstico Congelamento rápido temperatura é reduzida para -20 °C em menos de 3h imersão direta ou contato indireto do alimento com a substância refrigerante Formação de cristais de gelo pequenos Produto final de melhor qualidade Bloqueio/supressão do metabolismo ausência de adaptação a baixas temperaturas choque frio Preparo dos alimentos para o congelamento Etapas: seleção, lavagem, branqueamento e embalagem antes do congelamento. Branqueamento: breve imersão dos vegetais em água quente ou uso de vapor, com posterior resfriamento em água gelada. -Inativa enzimas que possam causar alterações indesejáveis durante armazenamento do alimento congelado. -Fixa a cor verde de certos vegetais. -Reduz o número de microrganismos nos alimentos. Vantagens e desvantagens do congelamento Reduziro conteúdo de água (Aa) inibir patógenos e deterioradores de alimentos. Umidade final em muitos alimentos pode alcançar 1 a 5% (Aa <0,6) Importância da qualidade do alimento a ser desidratado e da UR do ambiente durante armazenamento. Bactérias deterioradoras e patógenos em alimentos Aa > 0,9 dificilmente deterioram alimentos desidratados. Fungos filamentosos e leveduras maior parte da deterioração de produtos desidratados (limite de Aa = 0,6) 5. Desidratação Pré-tratamentos • Os alimentos que serão desidratados devem ser de boa qualidade; • Operações de lavagem, limpeza, retirada da casca, pele, entre outras, dependendo do tipo de alimento. Sistemas de secagem Natural: exposição do produto ao sol e vento (uvas, coco, peixes e carnes). Necessidade de alta temperatura e ar seco – não desenvolvimento microbiano. Controlada: empregada para reduzir o conteúdo de umidade a níveis aceitáveis para armazenamento. Existem vários sistemas de secagem, e a escolha depende da sensibilidade do alimento à injúria térmica, bem como das características de reidratação e os custos do processo. • Ar quente - vegetais e frutas • Spray drying - líquidos e semi-líquido • Liofilização - café, chá e outros extratos, vegetais e frutas, carnes e produtos do mar, comidas preparadas, produtos lácteos Emissão ou propagação da energia ou partículas através do espaço ou da matéria. 1983 FDA aprovou a irradiação como método de controle microbiano em condimentos alternativa a aditivos químicos. 6. Radiação Radiação não-ionizante • maior do que o da radiação ionizante, menos energética. • Pouco penetrante, os microrganismos devem ser expostos diretamente. Radiação ionizante • mais curto que o da radiação não ionizante, mais energética. • Grande poder de penetração. • Principal efeito: ionização da água, formação dos radicais reativos. 1) Radiação ionizante Energia suficiente para produzir íons e espécies moleculares reativas a partir das moléculas com as quais colidem raios X e raios γ Reações secundárias a água presente no alimento sofre radiólise e são formadas espécies reativas de oxigênio 3 H2O H + OH + H2 + H2O2 2) Radiação ultravioleta (luz UV) Poderoso bactericida induz mutações letais no DNA (formação de dímeros de timina) Baixo poder de penetração Uso na conservação de alimentos é limitado Superfície de alimentos Esterilização de ar, embalagens e superfície de pães Destruição de Bacillus stearothermophilus em açúcar Redução da contaminação superficial de carnes mantidas em câmaras de refrigeração - Para a conservação de alimentos => radiações ionizantes => mais nocivos aos microrganismos. - Irradiação: proceso de aplicação de energia radiante a um alimento. Brasil - Arroz, carnes, abacate, abacaxi, banana, batata, cebola e peixes. Cuidados a serem tomados com o alimento antes da irradiação Os alimentos devem estar em bom estado de qualidade; Qualquer sujidade ou partícula deve ser removida; A embalagem deve proteger o alimento da contaminação pós- processamento; Conservante químico substância utilizada para prevenir ou retardar a deterioração microbiana Melhoram a textura, coloração ou sabor Número relativamente pequeno uso depende da aprovação (Anvisa, FDA) Dose diária aceitável quantidade do conservante que pode ser ingerida diariamente, sem danos à saúde 7. Conservantes químicos 1) Ácidos lipofílicos e derivados Ácido sórbico, benzóico e propiônico Usados na forma de sais mais solúveis e menor toxicidade Altamente eficientes contra fungos filamentosos e leveduras, ativos contra algumas bactérias 7. Conservantes químicos Conservador Utilização Microrganismos afetados Ácido benzóico /benzoatos Alimentos ácidos (sucos de frutas, geleias, molhos), margarinas Fungos filamentosos e leveduras Ácido sórbico e sorbatos Picles, queijos, bolos Fungos filamentosos, leveduras, Pseudomonas, S. aureus, Salmonella Ácido acético Conservante em vários tipos de alimentos Fungos filamentosos e bactérias Ácido propiônico e propionatos Pães, produtos de panificação, confeitaria, picles, chocolates, café, queijos Fungos filamentosos 2) Nitratos (NaNO3) e nitritos (NaNO2) Utilizados em soluções de cura - carnes e queijos Estabilizam a cor vermelha Inibem microrganismos deterioradores e patógenos Melhoram as características organolépticas do produto óxido nítrico • Óxido nítrico + miogloblina = nitrosomioglobina 7. Conservantes químicos 2) Nitratos (NaNO3) e nitritos (NaNO2) Nitrito inibe células vegetativas de C. botulinum e previne a germinação de endósporos que sobreviveram ao tratamento térmico Interfere com enzimas que apresentam Fe e S na sua estrutura impede a síntese de ATP Ponto negativo reação com aminas secundárias e produção de nitrosaminas compostos carcinogênicos. 7. Conservantes químicos 3) Bacteriocinas Nisina produzida por Lactococcus lactis Ativa principalmente contra bactérias Gram-positivas 1988 status GRAS pelo FDA Usada como aditivo alimentar em leite e produtos lácteos, alimentos infantis, enlatados, bebidas, carnes Baixa toxicidade Não altera sabor ou odor dos alimentos Mecanismo de ação - formação de poros na membrana celular. 7. Conservantes químicos Nisina – mecanismo de ação 4) Natamicina Produzida por Streptomyces natalensis Ativa contra fungos filamentosos e leveduras; ineficaz contra bactérias Mecanismo de ação ligação ao ergosterol Brasil conservação de queijos 7. Conservantes químicos 5) Dióxido de Enxofre e sulfitos Apresentam atividade antimicrobiana e previnem o escurecimento enzimático de alguns alimentos. SO2 é mais efetivo contra fungos filamentosos e leveduras. São usados no estado líquido, gasoso ou na forma de sais 7. Conservantes químicos 5) Dióxido de Enxofre e sulfitos • Mecanismo de ação provável: inibição de enzimas essenciais ao crescimento microbiano. Brasil • Açúcar refinado, batatas fritas congeladas, camarões e lagostas, cervejas, sucos, refrigerantes e vinhos. 8. Alteração da pressão osmótica Composto Mecanismo de ação Microrganismos afetados Utilização NaCl Diminuição Aa Principalmente bactérias, exceto as halotolerantes Carnes e presunto Açúcar Diminuição da Aa Principalmente bactérias Conservas de frutas, balas, leite condensado Desinfecção: Destruição de células microbianas vegetativas (patógenos ou não) em matéria inanimada. Não inativa endósporos. Ex.: métodos físicos (UV, água fervente ou vapor) ou químicos (desinfetantes). Antissepsia: redução do número de microrganismos, principalmente patogênicos, presentes em tecido vivo. Ex: antisséticos Sanitização: Redução de micro-organismos a níveis seguros, em objetos ou superfícies (utensílios alimentares, equipamentos industriais e ambientes hospitalares) Ex: aplicação de água em alta temperatura, uso de sanitizantes. Conceitos Métodos químicos Fenóis e derivados Biguanidas Halogênios Álcoois Agentes de superfície Peroxigênios Substâncias químicas de origem natural ou sintética usadaspara eliminar ou inibir o crescimento dos microrganismos. Características de um agente químico ideal 1) Efeito rápido, amplo espectro microbiano e ação prolongada 2) Estabilidade química, sendo solúvel em água e líquidos orgânicos 3) Ser inodoro (ou ter odor agradável) e ser incolor 4) Não produzir manchas • Fenol e agentes fenólicos: – Desnaturação de proteínas – Hexaclorofeno: derivado do fenol. Ativo em presença de matéria orgânica – Desinfetante – usado para desinfecção de superfícies, artigos metálicos e de vidro. – Anti-séptico – em sabões, sprays e cosméticos. • Biguanidas: – Ruptura da membrana citoplasmática; – Antissepsia da pele e mucosas (clorexidina); – Bactericida, fungicida e atóxico. • Halogênios (iodo e cloro): – Agentes oxidantes. – Iodo: Antisséptico efetivo – Cloro: Desinfecção de água e utensílios. • Álcoois: – Desnaturação de proteínas e solubilização de lipídeos de membrana. – Mais efetivo: 70% – Desinfecção de superfícies – Antissepsia - pele • Agentes de superfície: – Sabões e detergentes não iônicos: • Remoção mecânica dos microrganismos • Alguns podem ter antimicrobianos (Triclosan) – Detergentes aniônicos: • Lauril sulfato de sódio - inativação de enzimas – Detergentes catiônicos: • Quaternário de amônio - inibição enzimática, desnaturação protéica e ruptura da membrana plasmática. Cepacol/cloreto de benzalcônio • Peroxigênios: – Ozônio – desinfecção da água – H2O2 – antisséptico fraco, bom desinfetante. – Ácido peracético – desinfetante (vários materiais e instrumentos).
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