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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA DEPARTAMENTO DE PARASITOLOGIA, MICROBIOLOGIA E IMUNOLOGIA Alessandra B. Ferreira Machado Doenças bacterianas veiculadas por alimentos e água Doença de origem alimentar • As doenças de origem alimentar atingem um grande número de pessoas – intoxicações e infecções. • Segundo OMS – problema de saúde mundial • Grande parte é causada pela ingestão de alimentos contaminados manipulados no próprio domicílio. • Falhas na manipulação, higienização • e conservação de alimentos. Doença de origem alimentar Patógenos veiculados por alimentos Rota fecal-oral de transmissão de patógenos entéricos Principais causas de surtos de doenças de origem alimentar Sintomas e manifestações da doença variam entre os indivíduos Idade, estado nutricional, sensibilidade individual, quantidade de alimento ingerido Patógenos veiculados por alimentos Problemas causados por patógenos em alimentos Bactérias Gram-positivas formadoras de endósporos dependendo do • Bacilos Gram positivos • Anaeróbios obrigatórios • Causa botulismo • Amplamente distribuído na natureza - solo e água • Animais têm papel na distribuição dos esporos • Surtos – produtos cárneos, conservas vegetais e mel Clostridium botulinum Clostridium botulinum Toxinas - Neurotoxinas A, B, C, D, E, F e G - São destruídas pelo calor (80°C por 10 minutos). - Podem ser absorvidas pela corrente sanguínea através das mucosas respiratória e do TGI. - Está entre as substâncias mais tóxicas na natureza. • Crescimento vegetativo não ocorre em pH < 4,5 • Temperatura de crescimento entre 12 e 50°C • Aw mínima > 0,94 Em alimentos processados a vácuo tratados termicamente, as células vegetativas são destruídas, mas os endósporos bacterianos podem sobreviver Os endósporos germinam e a toxina é produzida Palmito - acidez em torno de 5,6 - 6,2. Inibição do crescimento de C. botulinum: - Salmoura da conserva deve permanecer com pH abaixo de 4,3 (ácido cítrico) - Tratamento térmico adequado (esterilização comercial). Processamento industrial do palmito Processamento industrial do palmito primeiros casos na Europa) Botulismo Botulismo Mecanismo de ação da toxina Tratamento e medidas de controle • Bacilos Gram positivos • Aeróbios e mesófilos • Síndrome diarreica e síndrome emética • Amplamente distribuído na natureza - solo, poeira, água • Contaminam arroz, vegetais, carnes, laticínios Bacillus cereus Síndrome diarreica • Enterotoxina termolábil • Período de incubação: 8 a 16 h • Sintomas: náusea, diarréia intensa, dores abdominais. • Associada a ingestão de alimentos a base de cereais e e purê de batatas, vegetais, carnes, massas, sorvete, leite Síndrome emética Enterotoxina termorresistente (pré-formada) Mais grave que a diarreica Período de incubação curto: 1 a 6 h Sintomas: náuseas, vômitos e mal estar geral. Associada a ingestão de alimentos a base de cereais e e purê de batatas. Doenças - características Medidas de controle Bactérias Gram-positivas não formadoras de endósporos • Cocos Gram positivos • Anaeróbios facultativos • Mesófilos • Enterotoxinas são produzidas entre 10 e 45° C; • Tolera faixa de pH entre 4 e 9,8 • Aw mínima para crescimento - 0,86 • Tolerantes a alta concentração de NaCl e a nitratos Staphylococcus aureus • Homem – mucosa nasal, pele, pêlos - reservatório de S. aureus. • Portadores assintomáticos e manipuladores de alimentos - importantes fontes de contaminação. Staphylococcus aureus • Enterotoxinas: A, B, C, D, E e F • Resistentes a enzimas proteolíticas • Termorresistentes (>30 minutos a 100ºC) Enterotoxinas - características • S. aureus provoca intoxicação pela ingestão de alimento contendo toxinas pré-formadas. • No intestino, as toxinas (superantígenos) ativam uma resposta inflamatória geral - destruição tecidual, gastroenterite e significativa perda de fluidos (diarreia e vômitos). • Sintomas: náusea, vômito, dores abdominais, diarreia, sudorese e prostração. Doenças - características Características da doença • Período de incubação: 1 a 6 h. • Duração dos sintomas: 1 a 2 dias (desaparece à medida que a toxina é eliminada do corpo). • Muito comum no Brasil – falta de higiene dos manipuladores de alimentos. • Produtos assados contendo cremes, tortas, salada de batata, frango, molhos, atum e presunto são alimentos comuns envolvidos na intoxicação estafilocócica. Doenças - características Tratamento e medidas de controle • Tratamento sintomático - reposição de líquidos. • Quando alimentos assados são refrigerados imediatamente após o preparo, geralmente permanecem seguros, uma vez que o crescimento é reduzido em temperaturas baixas. • Evitar este tipo de intoxicação – deve-se evitar a contaminação com S. aureus, pois o tratamento térmico posterior não destrói as enterotoxinas. Tratamento e medidas de controle Listeria monocytogenes • Bastonete Gram-positivo • Anaeróbio facultativo • Movimenta-se por flagelos peritríquios Listeria monocytogenes • Atividade de água: 0,920 • Faixa de pH: 4,5 a 9,5 • Psicrotróficos: 2,5 a 44°C • Suporta repetidos ciclos de congelamento e descongelamento • Problema na indústria da carne: sobrevive aos níveis recomendados de nitrato de sódio e cloreto de sódio. Rocourt & Bille, 1997 Listeria monocytogenes Doença - Listeriose • Rara em indivíduos que não apresentam nenhuma condição predisponente. • Recém-nascidos, idosos, pacientes transplantados ou em hemodiálise, portadores de câncer, hepatite crônica, diabetes, AIDS. • Em gestantes: aborto, nascimento prematuro, natimorto e septicemia neonatal. • Sintomas dependem do estado do hospedeiro. Ingestão Acidez do estômago Intestino Sistema sanguíneo Tecido Placenta Resíduos α-D-galactose na superfície bacteriana ligam-se aos receptores α-D-galactose das células Listeriolisina Internalinas Cauda de actina (actA) Fosfolipases Fatores de Virulência Doença - características • Fase entérica da doença, sintomatologia é semelhante a da gripe, acompanhada de diarreia e febre moderada. Pode ser assintomática. • Em casos mais severos pode levar à meningite, acompanhada por mudanças de consciência, desordem de movimentos e em alguns casos paralisia do nervo cranial. • Incubação: 1 dia a várias semanas. • Alimentos frequentemente envolvidos: leite cru, queijos, carnes, frango, frutos do mar, frutas e produtos vegetais. Doença - características • Controle do local de processamento do alimento – prevenir a entrada no ambiente da indústria de alimentos. • Desinfecção do ambiente e equipamentos. • Construção – impedir a entrada de animais, poeira e insetos • Evitar o contato do produto final com a matéria-prima – contaminação cruzada. • Boas práticas de fabricação. • Administração de antibióticos a mulheres grávidas e pacientes imunocomprometidos que ingeriram alimento contaminado Medidas de controle e tratamento Bactérias Gram-negativas Escherichia coli • Bacilos Gram negativos • Não esporulados • Anaeróbiosfacultativos • Síndromes: gastroenterites, disenteria, síndrome urêmica hemolítica, septicemia, pneumonias, meningite • Habitat: TGI de homem e animais • Quando isolada em água e alimentos - condições higiênicas insatisfatórias - indicador de contaminação fecal Patotipos de Escherichia coli E. coli enterotoxigênica – ETEC E. coli enteropatogênica – EPEC E. coli enteroinvasiva – EIEC E. coli enterohemorrágica – EHEC E. coli enteroagregativa - EAEC Patotipos de Escherichia coli E. coli enterotoxigênica (ETEC) • Alimentos ou água contaminada • Causa diarréia infantil e do viajante. • Fímbrias (CFA=> colonization factor antigens) se aderem específicamente ao epitélio do intestino delgado. • Toxinas ST (termoestáveis) e LT (termolábeis) • Estimulam o sistema adenilato ciclase intestinal, induzindo ao aumento de cAMP, o que leva a perda de fluidos e eletrólitos - diarreia aquosa. • Diarreia não sanguinolenta, sem exsudatos inflamatórios , similar a da cólera. E. coli enteropatogênica (EPEC) • Alimentos e água contaminados. • Possuem plasmídeos com genes que codificam um fator de aderência - adesão à mucosa intestinal. •A bactéria se adere ao epitélio do intestino e destrói as microvilosidades • Gastroenterite - diarreia geralmente em crianças. E . coli enteroinvasiva (EIEC) •Água e alimentos contaminados • A bactéria se adere, invade, destrói as células epiteliais do cólon e se espalha lateralmente. • Causa diarréia aquosa com sangue e leucócitos (disenteria). • Acomete crianças e adultos. E . coli enterohemorrágica (EHEC) • Contágio por alimentos contaminados. • Dose infecciosa baixa (<100 bactérias). • Causa desde diarreias leves até colites hemorrágicas (diarreia sanguinolenta). • Pode produzir síndrome urêmica hemolítica - dano renal. •Toxinas - inibe síntese protéica. • E. coli O157:H7 - alimentos mal cozidos E. coli entero-hemorrágica O157:H7 aderida às microvilosidades intestinais E. coli enteroagregativa (EAEC) • Bactérias caracterizam-se por aglutinação, tipo arranjo de parede de tijolo. • Formação de biofilme sobre as células epiteliais • Lesão da mucosa, secreção de muco. • A diarréia - geralmente em crianças e é persistente (+ de14 dias). • Manutenção das boas condições higiênicas para reduzir o risco de contaminação dos alimentos. • Manipulação adequada dos alimentos e a purificação da água impedem a disseminação de E. coli patogênicas. • Alimentos bem cozidos, principalmente carnes - reduz o risco de infecções por estes microrganismos. • EUA – irradiação da carne moída como forma de promover a eliminação ou redução de bactérias associadas a infecções, especialmente E. coli patogênicas. Medidas de controle • Bacilos Gram-negativos • Não produtores de esporos. • Anaeróbios facultativos • pH ótimo de crescimento: 7,0 (4-9), algumas estirpes são resistentes ao ácido • Temperatura ótima de crescimento: 35 a 37°C (5 – 45 °C) • Atividade de água: valores abaixo de 0,94 são inibitórios • Febre tifoide, entérica e salmonelose Salmonella Patogênese – febre tifoide e entérica Ingestão e passagem pelo estômago Penetração nas células epiteliais intestinais Invasão da lâmina própria e entrada na corrente linfática Microrganismos são fagocitados pelos macrófagos Multiplicação e destruição dos macrófagos Bactéria na corrente circulatória (podem atingir vários orgãos) infecção sistêmica Doenças podem ser divididas em 3 grupos: 1. Febre tifoide (S. typhi) - Transmitida pela água e alimentos contaminados com material fecal humano. Sintomas mais graves, febre alta, diarreia, vômitos e septicemia. Duração dos sintomas: 1 a 8 semanas. 2. Febre entérica (S. paratyphi) – semelhante à tifoide, mas com sintomas mais brandos. Duração dos sintomas: no máximo 3 semanas. Doenças 3. Salmoneloses (demais espécies de Salmonellas - S. enteritidis e typhimurium) – sintomas como diarreia, febre, dores abdominais e vômitos. Período de incubação: 12 a 36 horas. Duração dos sintomas: 1 a 4 dias. • Tratamento térmico adequado • Não consumir ovos crus ou mal cozidos • Controle dos portadores assintomáticos • Evitar contaminação cruzada • Febre tifoide e entérica - antimicrobianos Prevenção e tratamento • Bacilos Gram-negativos • Anaeróbios facultativos • Temperatura: 10 a 48°C; • Não resistentes ao calor. • Habitat natural: TGI de homem e primatas • S. dysenteriae – shigelose ou disenteria Shigella dysenteriae Shigelose • Baixa dose infecciosa – 10 e 100 células. • Sintomas: 1 a 3 dias após a infecção (Int. delgado – enterotoxina – diarreia aquosa) . • Cólicas abdominais, febre e fezes sanguinolentas e com pus. • Geralmente autolimitada. • Antibioticoterapia recomendada para reduzir o risco de disseminação secundária (outras pessoas). Doenças Íleo terminal e cólon Patogênese • Bacilos Gram-negativos • Anaeróbios facultativos • Móveis • Halotolerantes • Habitat: TGI de homens e animais, água oceânicas e costeiras • Alimentos envolvidos - moluscos, peixe, ostras, algas, palmitos, coco fresco. • Vibrio cholerae • Sete pandemias registradas. • Incubação: 6 horas a 5 dias • Sintomas: diarreia moderada ou intensa, dores abdominais, câimbras, náuseas, vômitos, tonturas. Autolimitada (1 a 5 dias). • Casos mais severos: perda de mais de 1 litro de fezes por hora, levando à perda rápida de líquidos e morte na ausência de terapia. Cólera Produzida por Vibrio cholerae Aumento da secreção de líquidos e eletrólitos pelas células intestinais - intensa diarreia acompanhada de vômitos Enterotoxina Toxina colérica Enterotoxina – Vibrio cholerae Aumento da secreção de líquidos e eletrólitos pelas células intestinais – diarreia intensa Vibrio cholerae Diarreia intensa tr a n s m is s ã o • Bastonetes Gram-negativos • Anaeróbios facultativos • Móveis • Psicrotróficos • Habitat: Ambiente terrestre e águas de lagos, nascentes e rios, homem e outros animais. Yersinia enterocolitica Crescimento: • Temperatura: -2°C a 45°C – ótimo de 22°C a 29°C • • Resistente ao congelamento. • Não sobrevive à pasteurização. • pH: faixa entre 4,5 e 9; • Salinidade: crescimento a 5%. Yersinia enterocolitica Ocorrência em Alimentos: • Tortas, carne, frutos do mar, vegetais, leite e outros produtos alimentícios. Gastroenterite • Sintomas: febre, diarréia, fortes dores abdominais, vômitos, dor de cabeça. Vários dias após a ingestão dos alimentos. • Toxina termoestável – ST (20’/100°C). • Resistente a lipases e proteases: estimula a adenilato-ciclase e a resposta cAMP no intestino. Yersinia enterocolitica • Bastonete fino, espiral, flagelo polar em uma ou ambas as extremidades; • Microaerófilo (3 a 6% de O2); • Não crescem na presença de 3,5% NaCl ou a 25°C. • Habitat: intestino de aves, roedores e gado. Campylobacter jejuni Gastroenterite • Enterotoxina termoestável: aumenta níveis de cAMP, provoca acúmulo de fluidos no lúmen intestinal. Citotoxina • Sintomas: dores abdominais ou câimbras, diarreia, mal estar, dor de cabeça e febre.• Autolimitada. 1 a 4 dias • Casos graves: fezes sanguinolentas e colite ulcerativa. Doença • Saneamento básico adequado • Boas práticas de higiene • Cocção adequada de alimentos marinhos • Água tratada e leite pasteurizado e/ou processado • Refrigeração e congelamento adequados Prevenção Vibrio, Yersinia e Campylobacter Reduzir as intoxicações e infecções de origem alimentar Quais são as prioridades e estratégias?
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