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Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul 4 de setembro de 2017 2ª Câmara Criminal Agravo de Execução Penal - Nº 0027055-20.2017.8.12.0001 - Campo Grande Relator – Exmo. Sr. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques Agravante : Elquer Oliveira Duarte DPGE - 1ª Inst. : Carlos Eduardo Oliveira de Souza (OAB: 988703DP) Agravado : Ministério Público Estadual Prom. Justiça : Regina Dörnte Broch E M E N T A – AGRAVO EM EXECUÇÃO – REVOGAÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL – DESCUMPRIMENTO DAS CONDIÇÕES – AUSÊNCIA DE DESIGNAÇÃO DE AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO – AFRONTA AOS PRINCÍPIOS DA AMPLA DEFESA E DO CONTRADITÓRIO – NULIDADE DECRETADA – RECURSO PROVIDO. É nula a decisão que revoga o livramento condicional, em razão do descumprimento das condições, sem antes designar audiência de justificação, conforme determina o artigo 143 da LEP, por violar os princípios do contraditório e da ampla defesa. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os juízes da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, na conformidade da ata de julgamentos, prover, unânime. Campo Grande, 4 de setembro de 2017. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques - Relator Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul R E L A T Ó R I O O Sr. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques. Trata-se de agravo criminal interposto pelo apenado Elquer Oliveira Duarte, qualificado nos autos, contra decisão proferida pelo Juiz de Direito da 2ª Vara de Execução Penal desta Capital que revogou o livramento condicional sem a designação de audiência de justificação (fls. 20-21). Alega que, em homenagem aos princípios do contraditório e da ampla defesa, a revogação do livramento condicional não pode ser procedida sem a realização de prévia audiência de justificação. Pede a reforma da decisão, determinando-se a designação da audiência de justificação para decidir sobre a revogação do livramento condicional. O órgão ministerial, em sede de contrarrazões, pugnou pelo improvimento do agravo (fls. 27-32). Em juízo de retratação, a decisão foi mantida (fl. 33). No parecer, a Procuradoria-Geral de Justiça manifestou-se no mesmo sentido (fls. 41-45). V O T O O Sr. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques. (Relator) O agravante objetiva com o presente recurso a reforma da decisão que revogou o livramento condicional sem a designação de audiência de justificação (fls. 20-21). Consta na decisão ora combatida, in verbis (fl. 20): “De fato, comprova-se nos autos que o sentenciado, enquanto cumpria pena em livramento condicional, deixou de comprovar o cumprimento das condições mínimas impostas quando da concessão do livramento, em especial ocupação lícita, endereço certo e comparecimento em juízo. Foi oportunizada a justificação ou retorno ao cumprimento, mas o reeducando tomou rumo ignorado. Como é sabido, o descumprimento de qualquer das condições impostas quando da concessão do benefício, enseja a revogação facultativa do livramento condicional (art. 87 do CP). O descumprimento perdura desde dezembro de 2015. Destarte, nos termos do artigo 87 do Código Penal, REVOGO o livramento condicional antes concedido ao sentenciado que passará a cumprir sua reprimenda em regime aberto, não devendo ser computado como tempo de cumprimento de pena o período em que esteve em livramento (artigo 142 da LEP). Expeça-se Mandado de Prisão (regime semiaberto). Nos termos do art. 3º, inciso XII, da Resolução nº 137/2011 do CNJ, a data limite presumida para o seu cumprimento será até 13/12/2027. (…).” Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul Verifica-se que o agravante, enquanto cumpria pena em livramento condicional, descumpriu as condições impostas de comparecer bimestralmente ao Patronato Penitenciário a fim de comprovar ocupação lícita, residência fixa e tratamento contra o uso de dependência química junto ao CAPS, tendo, por fim, mudado de residência sem prévia comunicação ao juízo (fls. 10 e 20). Diante disso, nos termos do art. 87 do CP, o magistrado revogou o benefício do livramento condicional, determinando que o apenado passasse a cumprir sua pena no regime aberto, expedindo mandado de prisão. Desta forma, verifica-se que a decisão de fls. 20-21 (fls. 303-304 da guia de recolhimento n. 0002226-95.2010.8.12.0008), ao revogar o livramento condicional, sem antes designar audiência para que o agravante justificasse o descumprimento das condições, nos termos do art. 143 da LEP, feriu os princípios da ampla defesa e do contraditório. Nesse sentido, narra Norberto Avena (Execução Penal esquematizado, 1ª ed., 2014, p. 310): “Veja-se que, tanto nas hipóteses de revogação obrigatória (art. 86 do CP) como nos casos de revogação facultativa (art. 87 do CP), impõe a lei a prévia oitiva do condenado, sob pena de nulidade da decisão revogatória por violação aos princípios do contraditório, ampla defesa e devido processo legal (art. 143 da LEP). A regra, como se vê, é cogente. Também, já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que não basta a intimação da defesa técnica para que se manifeste sobre a causa de revogação, sendo necessária a oitiva prévia do condenado, que deverá ser intimado a comparecer a juízo para expor suas justificativas antes que seja determinada a revogação da liberdade condicional. Evidentemente, se não for ele localizado ou se, apesar de intimado, não comparecer a juízo, deverá suportar o ônus decorrente de seu silêncio, possibilitando-se ao juiz revogar o benefício.” A respeito: AGRAVO EM EXECUÇÃO. LIVRAMENTO CONDICIONAL. PRÁTICA DE NOVO DELITO. FALTA GRAVE. NECESSIDADE DE AUDIÊNCIA DE JUSTIFICAÇÃO. A prática de fato doloso no período de livramento condicional configura falta grave, que implica em imposição dos consectários legais. Necessidade da prévia oitiva do apenado. Audiência de justificação que se faz necessária. Artigo 118 , § 2º da Lei de Execução Penal . Recurso provido. (Agravo Nº 70059494625, Sétima Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jucelana Lurdes Pereira dos Santos, Julgado em 05/06/2014) Diante do exposto, contra o parecer, dou provimento ao agravo para anular a decisão que revogou o livramento condicional, ante o descumprimento das condições que estava compromissado, determinando que o Juízo da Execução Penal designe audiência de justificação para oitiva do agravante, com sua prévia intimação, bem como de seu defensor, tudo nos termos do art. 143 da LEP. Tribunal de Justiça do Estado de Mato Grosso do Sul D E C I S Ã O Como consta na ata, a decisão foi a seguinte: PROVERAM, UNÂNIME. Presidência do Exmo. Sr. Des. Carlos Eduardo Contar Relator, o Exmo. Sr. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques. Tomaram parte no julgamento os Exmos. Srs. Des. Luiz Gonzaga Mendes Marques, Des. José Ale Ahmad Netto e Des. Carlos Eduardo Contar. Campo Grande, 04 de setembro de 2017. jcm
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