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Arte Barroca no Brasil: uma época. Não é possível discorrer sobre a estética predominante no Brasil do período colonial sem reportar-nos à Renascença, porque o Barroco é sua conseqüência direta. Renascença é a fase das grandes descobertas, em todos os sentidos. O homem descobre a antigüidade clássica e redescobre sua própria dignidade. A Renascença é um estado de espirito, um substrato, que se derrama pelas artes visuais, pela literatura e pela música, impondo uma nova concepção de vida. Em decorrência de seu espirito renovador, surge o Barroco, — o barrueco da pérola de forma irregular. A dificuldade natural em receber noticias do Velho Mundo, em matéria de arte, predestinou sua insta1ação e expansão. E assim como esse novo estilo aqui chegou atrasado, também perdurou por mais tempo pelas mesmas razões, pois algumas igrejas do Barroco Mineiro foram concluídas em pleno século XIX, como a igreja de S. Francisco de Assis, de Ouro Preto, terminada em 1890. Com as descobertas de Vasco da Gama, Colombo, Alvares Cabral e Magalhães, corria a boca pequena na Europa que abaixo da linha do Equador não existia o pecado. E pensando assim — multas vezes — o colonizador que vinha para o Brasil imbuía-se de uma mentalidade especial. Podia pecar, contanto que louvasse corn destreza a Deus Nosso Senhor. Esse espirito reflete-se no poema de CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, Vôo sobre as igrejas, dedicado ao ALEIJADINHO, quando diz:- “. . .e esse tropel de desejos essa Ânsia de ir para o céu e de pecar mais na terra”. Talvez essa mentalidade gerasse a profusão de capelas e de igrejas surgidas nas cidades pioneiras. E havia, sem dúvida, o verdadeiro fervor religioso, em abono do barroquismo brasileiro, herdado de Portugal, levantando igrejas para cantar a major glória de Deus. E havia, também, a preocupação da morte. Essa inquietação fúnebre exigia sepultamentos no interior dos templos e cemitérios sagrados, ao redor das igrejas. Todos almejavam obter em vida o benefício divino para se garantir na vida eterna. O Barroco produziu, um conflito na alma humana. E a luta entre o temporal e o espiritual. “Daí o caráter eminentemente profano da arte religiosa do Barroco, muito embora expressão de vivências religiosas, autenticas e vivíssimas. Procuramos a Deus: mas aceitamos todas as coisas do mundo”... comenta J0A0 CAMILLO DE OLIVEIRA TORRES. Realmente, a interpretação barroca precipitou toda una angústia: o homem quer merecer a vida eterna, mas quer gozar a vida temporal. E o anirno religioso atraves do profano. E o duelo entre o corpo e a alma. 0 cat6lico procura conciliar o dualismo em que vive, transformando os seus templos em esplendorosos sal5es de festas. Ele quer se redirnir, mas nao consegue esquecer o secular, ensejando a imensa teatralidade das igrejas barrocas. Jayme Cortesão, na obra Alexandre de Gusmão e o Tratado de Tordesilhas, referindo-se ao Barroco em Portugal e seus efeitos sociais na época, diz que todas as expressões e aspectos exteriores da vida obedeciam, então, ao mesmo estilo, o Barroco. O Barroco brasileiro, de importação lusa, é todo uma forma absolutista, dominando a Colônia por todos os meios, incluindo o aspecto religioso. Com propriedade afirma EDUARDO ETZEL que “a igreja e seu fausto foram o recurso e a via que o homem daquele tempo teve para suavizar acusações, por vezes implacáveis, de um superego severo” (4). Consubstanciando todos os princípios que compõem o Barroco, JOAO CAMILLO DE OLIVEIRA TORRES define: “a consciência da dualidade entre espirito-corpo, rei-povo, forma e matéria, graça e natureza, eis o Barroco”. A Metrópole e a Igreja, de mãos dadas, geriam os destinos do homem. RONALD DE CARVALHO, referindo-se ao prestigio indisputável da Igreja, observa que, “quando o povo desejava deslumbrar-se ante o fulgor de uma obra de arte, penetrava, contrito, a nave majestosa da Igreja. Deparava-se-lhe ali tudo quanto o gosto mais fino da época seria capaz de exigir. Lá estavam as imagens carinhosamente esculpidas, os altares lavrados por mãos inábeis mas piedosas, as jóias e as pedrarias que recamavam os santos de maior devoção, os castiçais de graciosas canduras, os vasos de ouro e prata, os cibórios, os hissopes que aspergiam água benta, por entre nuvens de incenso, os candelabros suspensos do teto por grossas correntes de metal brunido, brilhantes do reflexo furta-cor dos pingentes de cristal, os mantos de seda, as rendas, os brocados e os veludos das vestimentas clericais. Era o templo, simultaneamente, lugar de orar e admirar. Na Casa do Senhor resplandecia também o museu do povo”. Desse modo, as igrejas barrocas eram verdadeiramente cinematográficas, tal a sua intenção artística e social, como revela HAUSER em sua citada obra. E o cinematográfico sugeria delicias celestiais e delicias terrenas, arrebatando os fiéis. Havia ainda um outro aspecto desejado no barroco brasileiro das igrejas: a catequese e a propaganda da fé. O estilo ajustava-se, esplendidamente, as intenções, pois comunicava, ensinava, influía. O certo é que o estilo barroco no Brasil não foi somente a técnica de uma nova estética: foi muito mais do que isso, foi religião, política, teatro, literatura, música, norma de vida, terapia grupal, poder. Uma época. No final do século XVII tem inicio na orla marítima a construção de igrejas no estilo predominante na Europa. No planalto paulista são erguidas algumas igrejas, modestas, mas refletindo já o barroquismo em voga. Em São Paulo, apesar de que os Bandeirantes foram os descobridores do ouro nas Minas Gerais, a pobreza não permitia o esplendor em seus templos. Tudo era pobre e sem pretensões. LUGIO COSTA, em A Arquitetura Jesuítica no Brasil, Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1941, citado por EDUARDO ETZEL, declara: “São Paulo, Estado que tem fama de ser pobre em arte colonial, ainda conserva despreocupadamente — como jóias de família, sem valor — os dois únicos exemplares do gênero existentes no país. São os dois retábulos das capelas de Nossa Senhora da Conceição e de Santo Antônio, esta no município de São Roque”. Todavia, se São Paulo não possui riqueza colônia em sua igrejas e conventos, em Santos surgiram opulentos templos no decorrer do séc. XVIII. Não possuem, é verdade, as igrejas santistas da época, o transbordamento barroco das igrejas mineiras. As belas igrejas barrocas do Convento de Santo Antonio do Valongo, do Convento do Carmo e da Ordem III do Carmo, para não citar outras de menor expressão estilistica, foram levantadas graças ao espirito religioso da população e do espirito social dominante naquele período. Sem sombra de dúvida, Santos possui um Barroco muito mais rico e cuidado do que São Paulo .Corno explicar-se essa defasagem, se São Paulo já era cabeça de província por ocasião da edificação dos templos santistas? A resposta vem com a pujança da vila de Santos no século XVIII, como informa o historiador PEDRO TAQUES DE ALMEIDA PAES LEME. UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SANTOS Prof. Carlos Eduardo de Carvalho e Silva Finochio � EMBED PBrush ��� _1105971175/ole-[42, 4D, 46, 4A, 00, 00, 00, 00]
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