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52 5 Blocos de Fundação João Crisóstomo dos Santos Neto Introdução Os blocos podem ser caracterizados como um elemento de fundação, que apresenta uma base geralmente em planta quadrada ou retangular, que têm a função de distribuir as cargas proveniente dos pilares aos elementos de fundações profundas, tais como as estacas e os tubulões. O dimensionamento dos blocos de fundação é semelhante ao das sapatas, diferenciando-se pelo fato de se ter cargas concentradas no bloco devido à reação das estacas. O comportamento estrutural e o dimensionamento dos blocos dependerá da sua classificação quanto à rigidez, tendo como base os mesmos critérios das sapatas. Dessa forma, os blocos são classificados como flexíveis ou rígidos. Objetivos Após a leitura dos conteúdos apresentados nesse capítulo, espero que você seja capaz de: Verificar a importância dos blocos de fundação; Observar o comportamento estrutural dos blocos de fundação; Dimensionar um bloco de fundação sobre duas estacas Esquema 5.1 Blocos de Fundação 5.1.1 Comportamento Estrutural dos Blocos 5.2 Método das Bielas 5.2.1 Inclinação das Bielas 5.3 Bloco de Fundação sobre duas estacas 5.4 Conclusão 53 5.1 Blocos de Fundação De acordo com a NBR 6118 (2014), os blocos de fundação podem ser caracterizados como estruturas de volume, responsável por transmitirem às estacas e aos tubulões as cargas neles resultantes. Os blocos podem ser classificados como rígidos ou flexíveis, conforme critério idêntico ao das sapatas. Figura 23: Blocos de Fundação Fonte: Autor (2017) Os blocos de fundação podem ser dimensionados para n estacas. A capacidade de carga desse elemento de fundação e a característica do solo influenciarão no número de estacas necessárias. No caso de pequenas edificações, onde a carga proveniente do pilar é pequena, geralmente utiliza-se uma ou duas estacas. Já para as grandes obras, é comum que se utilize mais de duas estacas. 5.1.1 Comportamento Estrutural dos Blocos Ainda de acordo com a NBR 6118 (2014), os blocos de fundação rígidos são caracterizados pelo: trabalho a flexão nas duas direções, mas com trações essencialmente concentradas nas linhas sobre as estacas; 54 forças transmitidas do pilar para as estacas essencialmente por bielas de compressão, de forma e dimensões complexas; trabalho ao cisalhamento também em duas direções, não apresentando ruínas por tração diagonal, e sim por compressão das bielas, analogamente às sapatas; A NBR 6118 (2014) estabelece que para os blocos de fundação flexíveis, deve ser realizada uma análise mais completa, que vai desde a distribuição dos esforços junto às estacas, dos tirantes de tração, até a verificação da punção. 5.2 Método das Bielas O Método das Bielas é caracterizado por admitir no interior do bloco uma treliça espacial que é constituída de: barras tracionadas (tirantes), situado no plano médio das armaduras. Esse plano é horizontal e localiza-se acima do plano de arrasamento das estacas; barras comprimidas e inclinadas (bielas). As bielas tem suas extremidades de um lado na intersecção com as estacas do outro na interseção com o pilar. Nos casos de blocos de fundação submetidos a cargas não centradas, o método das bielas também poderá ser utilizado, desde que se trabalhe, nas formulações de equilíbrio de forças, com a estaca mais carregada. 5.2.1 Inclinação das Bielas O bloco de fundação deve permitir a ancoragem das barras longitudinais dos pilares, bem como ter altura necessária para que seja possível a transmissão direta do carregamento, que vai desde a base do pilar até o topo das estacas, através das bielas comprimidas. Dessa forma, é recomendado que o ângulo de inclinação das bielas obedeça o seguinte critério: 40º ≤ α ≤ 55º 5.3 Bloco de Fundação sobre duas estacas Primeiramente, deve ser verificada a força atuante nas estacas, conforme figura a seguir: 55 Figura 24: Força atuante nas estacas Fonte: Autor (2017) Para determinar a força máxima que atua nas estacas, é necessário utilizar a seguinte expressão: Re,max = 1,02 ∙ Nk 2 + My e onde: 1,02 = coeficiente relacionado ao peso próprio do bloco e do solo, sobre o bloco. Após, calcula-se a força atuante sobre o bloco. Para isso, deve-se multiplicar a força máxima pela quantidade de estacas utilizada e pelo coeficiente de majoração de segurança (1,4). Nk = Re,max ∙ n Nd = Nk ∙ 1,4 56 Em seguida, deve-se calcular a altura do bloco. Para que as bielas comprimidas não apresentem risco de ruptura por punção, deve-se obedecer a condição de que 40º ≤ α ≤ 55º, conforme já explicado anteriormente. Pode-se determinar o ângulo α através da seguinte expressão: Tg α = d e 2 ∙ap 4 onde: ap = dimensão do pilar e = distância entre os centros das estacas. Dessa forma, tendo como base a variação do ângulo α, dMÍN e dMÁX podem ser determinados utilizando as seguintes expressões: dMÍN = 0,5 ( e - ap 2 ) dMÁX = 0,71 ( e - ap 2 ) Segundo a NBR 6118 (2014), é necessário que o bloco de fundação tenha uma altura que seja capaz de permitir a ancoragem da armadura de arranque dos pilares. Para isso, devemos considerar a tabela a seguir: Tabela 09: Comprimento de ancoragem CONCRETO SEM GANCHO COM GANCHO C15 53Ø 37Ø C20 44Ø 31Ø C25 38Ø 26Ø C30 33Ø 23Ø C35 30Ø 21Ø C40 28Ø 19Ø C45 25Ø 18Ø C50 24Ø 17Ø Fonte: ABNT – NBR 6118 (2014) 57 É importante ressaltar que a armadura longitudinal vertical do pilar estará ancorada no interior do pilar, desde que: d > lb onde: lb = comprimento de ancoragem do pilar. Quando d < lb, podemos fazer um “colarinho”, que consiste no alargamento da seção do pilar sobre o bloco, no intuito de aumentar a altura para a ancoragem da armadura do pilar. Figura 25: Colarinho Fonte: Autor (2017) A altura total do bloco será determinada por: h = d + d’ 58 Sendo que d’ é igual a: d’ = 5 cm (ou) d’ = aest 2 onde: aest = √π 2 ∙ Ø Após a determinação da altura do bloco de fundação, deve-se fazer a verificação das tensões atuantes. Para isso, inicia-se com o cálculo da tensão limite: σcd,lim = 1,4 ∙ Kr ∙ fcd onde: Kr = coeficiente que considera a perda de resistência do concreto ao longo da sua vida útil, em função das cargas permanentes. Esse coeficiente varia de 0,9 a 0,95. Para eliminar a chance de esmagamento do concreto, as tensões atuantes nas estacas e no pilar devem ser inferiores à tensão limite. Após o cálculo da tensão limite, deve-se calcular a tensão de compressão na biela relativa à estaca: σcd,est = Nd 2 ∙ Ae ∙ (senα)² onde: Ae = área da estaca. 59 Após o cálculo da tensão atuante no pilar, deve-se calcular a tensão de compressão na biela relativa ao pilar: σcd,pil = Nd Ap ∙ (senα)² onde: Ap = área do pilar. Após a verificação das tensões atuantes, inicia-seo cálculo da armação necessária para o bloco de fundação. A armadura principal, que fica disposta sobre o topo das estacas, pode ser encontrada através da seguinte equação: As = 1,15 ∙ Nd 8 ∙ d ∙ fyd (2e-ap) Segundo a NBR 6118 (2014), as armaduras de laterais (pele) e superior são obrigatórias em blocos de fundação com duas ou mais estacas dispostas em uma única linha. Em casos de blocos com grande volume, é necessária uma análise da necessidade de armaduras complementares. A armadura superior pode ser determinada como uma parcela de 20% da armadura principal: As, sup = 0,2 ∙ As Já a armadura de pele pode ser obtida através da expressão abaixo: As, pele = 0,075 ∙ B onde: B = largura do bloco. 60 Exemplificando Dimensione as armaduras de um bloco para um pilar de 25 x 35 cm, com carga igual a 750 kN, sobre duas estacas com capacidade de carga de 400kN e diâmetro de 35 cm. Considere ainda: - Mx = 430 kN - My = 460 kN - Classe de Concreto: C25 - Diâmetro das barras do pilar: 20 mm - Kr: 0,95 → Determinar as dimensões do bloco: → Determinar a força máxima que atua nas estacas: Re,max = 1,02 ∙ Nk 2 + My e → Re,max = 1,02 ∙ 750 2 + 460 90 Re,max = 387,61 kN → Determinação da força sobre o bloco Nk = Re,max ∙ n → Nk = 387,61 ∙ 2 → Nk = 775,22 kN Nd = Nk ∙ 1,4 → Nd = 775,22 ∙ 1,4 → Nd = 1085,31 kN 52 → Determinação da altura do bloco dMÍN = 0,5 ( e - ap 2 ) → dMÍN = 0,5 ( 90 - 35 2 ) → dMÍN = 36,25 cm dMÁX = 0,71 ( e - ap 2 ) → dMÁX = 0,71 ( 90 - 35 2 ) → dMÍN = 51,48 cm d’ = AEST 5 → d’ = 1 5 ∙ √π 2 ∙ Ø → d’ = 1 5 ∙ √π 2 ∙35 → d’ = 6,2 cm d’ = 7 cm (adotado) h = 55 cm (adotado) d = h – d’ → d = 55 – 7 → d = 48cm dMÍN < d < dMÁX → 36,25 cm < 48 cm < 51,48 cm (OK) lb = 31Ø → lb = 26 ∙ 2 → lb = 52cm d = 48cm < lb = 52cm (NÃO OK) Como d < lb, deve-se fazer um “colarinho”, que consiste no alargamento da seção do pilar sobre o bloco, no intuito de aumentar a altura para a ancoragem da armadura do pilar. 53 α = 54,89º → (OK) → Verificação das tensões: - Tensão limite σcd,lim = 1,4 ∙ Kr ∙ fcd → σcd,lim = 1,4 ∙ 0,95 ∙ 2,5 1,4 σcd,lim = 2,375 kN/cm² - Tensão atuante na estaca σcd,est = Nd 2 ∙ Ae ∙ (senα)² → σcd,est = 1085,31 2 ∙ π ∙35² 4 ∙ (sen54,89)² σcd,est = 0,843 kN/cm² σcd,lim > σcd,est → (OK) - Tensão atuante no pilar σcd,pil = Nd Ap ∙ (senα)² → σcd,pil = 1085,31 (35 ∙ 45) ∙ (sen54,89)² σcd,pil = 1,030 Kn/cm² σcd,lim > σcd,pil → (OK) 54 → Determinação da armadura do bloco: - Armadura principal As = 1,15 ∙ Nd 8 ∙ d ∙ fyd (2e-ap) → As = 1,15 ∙ 1085,31 8 ∙ d ∙ 43,48 (2 ∙ 90 - 45) As = 10,09 cm² - Armadura Superior As, sup = 0,2 ∙ As → As, sup = 0,2 ∙ 10,09 → As, sup = 2,02 cm² - Armadura de Pele As, pele = 0,075 ∙ B → As, pele = 0,075 ∙ 55 → As, pele = 4,125 cm²/m 5.4 Conclusão Neste capítulo, foram apresentados os critérios que devem ser considerados no momento do dimensionamento dos blocos de fundação. Os blocos de fundação podem ser dimensionados para n estacas. A capacidade de carga desse elemento de fundação e a característica do solo influenciarão no número de estacas necessárias. Resumo Neste quinto capítulo, finalizamos o nosso estudo referente ao blocos de fundação dando destaque: à conceituação dos blocos de fundação; ao comportamento estrutural dos blocos de fundação; ao estudos do método das bielas ao dimensionamento de um bloco de fundação sobre duas estacas. 55 Referências ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6122 – Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro, 1996. HACHICH, Waldemar et al. Fundações: Teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Pini, 1998. 751 p. MILITITSKY, Jarbas; CONSOLI, Nilo; SCHNAID, Fernando. Patologia das Fundações. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2008.244 p. REBELLO, Yopanan. Fundações: guia prático de projeto, execução e dimensionamento. São Paulo: Zigurate, 2008. 240 p. VELLOSO, Dirceu; LOPES, Francisco. Fundações. 1. ed. São Paulo: Oficina de Textos, 2010. 583 p.
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