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p. 1 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II HIPERTENSÃO ARTERIAL Persistência dos níveis de PA acima de limites de normalidades para idade-sexo-percentil de estatura em 3 medidas realizadas em visitas diferentes, com equipamento e técnica adequadas. Incidência: 1% da população pediátrica; 10% dos adolescentes; 15 a 20% da população adulta; 60% da população acima de 60 anos. O aumento de incidência de HA na infância, provavelmente está relacionado com a prática sistemática de medição da PA em consultas pediátricas de rotina. Além disto, também podemos relacionar ao aumento dos índices de obesidade e sobrepeso na infância e a mudança de hábitos de vida no mundo contemporâneo. Diagnóstico: Geralmente a HA na infância é assintomática; Geralmente achado ocasional em consulta de rotina; Medir a PA em todas crianças acima de 3 anos no mínimo 1 vez ao ano; Medir a PA em crianças abaixo de 3 anos com fator de risco para HA. Diagnóstico: quando no mínimo a média de 3 medidas de PA, em situações diferentes e adequadas for igual ou superior ao percentil 95 nas tabelas de referência. DIAGNÓSTICO CRIANÇAS (PA sistólica e/ou diastólica) PA normal Abaixo do percentil 90 Pré-Hipertensão Entre o percentil 90 e 95 Hipertensão Nível 1 (moderada) Acima do percentil 95 Hipertensão Nível 2 (grave) 5 mmHg acima do percentil 99 Hipertensão Primária: Hipertensão leve ou moderada; Assintomática sem repercussão; Períodos de normalização ou diminuição significativa da PA; Geralmente história familiar positiva; Comum obesidade ou sobrepeso associado. Hipertensão Secundária: Geralmente hipertensão grave persistente com componente diastólico; Em torno de 80% dos casos são devidos a nefropatia; Em torno de 10% dos casos são doenças renovasculares; 2% dos casos associados à coarctação de aorta. p. 2 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Fatores de risco para HA em pediatria: História familiar de HA ou nefropatia; História pregressa de doença renal e/ou cardiovascular; Crianças obesas ou com sobrepeso; Crianças sedentárias; Crianças diabéticas; Crianças portadoras de dislipidemias; Crianças ou adolescentes que fumam; Histórias de complicações perinatais (KTU – cateterismo umbilical, BDP - broncodisplasia, admissão em UTI); Uso de alguns medicamentos ou drogas. Drogas potencialmente hipertensivas: Corticoides; Anticoncepcionais orais; Anfetaminas; Drogas ilícitas (cocaína); Inibidores de apetite; Anabolizantes; Descongestionantes sistêmicos. Técnica de medida de PA em pediatria: Preferencialmente em braço D; Criança sentada com braço no mesmo nível do precórdio; Manguito apropriado; Preferencialmente em repouso por 3 a 5 minutos; Reduzir o estresse e a ansiedade da criança o máximo possível; Medir a PA no mínimo 2 vezes e usar a média das medidas. Escolha adequada do manguito: Largura em torno de ¾ da medida do comprimento do braço, com relação de 40% entre a largura do manguito e a circunferência do braço no seu ponto médio; NA PRÁTICA: o manguito deve deixar livre a fossa anticubital (no mínimo 2 cm acima da prega do cotovelo) com o comprimento suficiente para circundar o braço, com o mínimo de superposição. Medição: 1ª medida: insuflar o manguito até 20 mmHg acima do ponto em que desaparece o pulso radial. 2ª medida: insuflar o manguito até 20 mmHg acima da pressão sistólica encontrada na 1ª medida. A desinsuflação deve ser bem lenta. O estetoscópio deve ser colocado na fossa anticubital, suavemente (sua borda não pode ficar sob o manguito). A PA diastólica corresponde ao desaparecimento de sons. Recomendações para medições em recém-nascidos e lactentes: A criança deve estar deitada; Usar preferencialmente aparelhos com doppler ou monitores de pressão. p. 3 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Fatores que interferem na medida adequada da PA: Manguito inadequado. Dificuldade na ausculta dos sons (barulho, choro, criança mamando). Pressão excessiva do estetoscópio sobre a artéria braquial. Medidas seriadas de PA sem respeitar o intervalo entre elas (2 a 3 minutos). Não desinsuflar totalmente o manguito entre 2 medidas. Não realizar o método palpatório como estimativa prévia da pressão sistólica. MAPA (Monitorização Ambulatorial da PA): Medidas seriadas da PA durante 24 horas (20 a 30 minutos em vigília e 30 a 60 minutos durante o sono), com um manguito no braço não dominante conectado a um aparelho programado para medir PA. Indicado na hipertensão limítrofe, hipertensão do avental branco, suspeita de hipertensão mascarada, avaliação de drogas hipotensoras, hipotensão sintomática. IMPORTÂNCIA: o Na identificação de picos hipertensivos esporádicos. o Na identificação de labilidade pressórica. o Na hipertensão desencadeada por atividades diárias. o Na identificação de pacientes sem descenso noturno fisiológico da PA. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA CONGESTIVA Síndrome clínica caracterizada pela incapacidade do coração em manter débito adequado às necessidades de O2 e nutrientes dos tecidos e órgãos com congestão sistêmica isolada ou associada a congestão pulmonar. ICC aguda: Sinais e sintomas de início rápido; Estado descompensado devido ao desequilíbrio entre a função miocárdica adequada e os mecanismos compensatórios; Nestes casos faz-se uso de diuréticos; Exemplo: insuficiência em crianças por alto volume de soro, acima da capacidade de homeostase, faz o tratamento com furosemida. ICC crônica: Estado compensado; Evolui para piora progressiva da função miocárdica e morte prematura dos miócitos (musculatura vascular se torna cada vez mais flácida e mais frágil); Nestes casos também usa-se diurético, porém ele já vem em uso de diuréticos e outras drogas para ICC. Esse quadro clínico, por ser mais complicado, qualquer hipovolemia pode ser extremamente grave, devendo-se retirar o líquido lentamente. Principais causas de ICC em RN: Cardiomiopatia por asfixia perinatal (normalmente 100% reversível); Cardiopatias congênitas; Miocardite das infecções congênitas (TORCHS): toxoplasmose, rubéola, coxsackie, herpes simples e sífilis; Hipoglicemia (devido à desidratação); p. 4 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Anemia grave (o volume de sangue circulante se torna menor, levando à uma taquicardia e uma exaustão cardíaca); Hipóxia; Hipocalcemia; RNPT: sobrecarga hídrica, hipertensão pulmonar por BDP e PCA devem sempre ser avaliados. Obs.: o PCA pode fechar espontaneamente nos primeiros dias de vida, caso não feche, existem drogas que auxiliam. Patognomônio para coarctação de aorta: diferença de pulsos dos membros inferiores em comparação com os membros superiores. Principais causas de ICC em lactentes: Cardiopatias congênitas; Miocardites; Miocardiopatias metabólicas. Principais causas de ICC em pré escolar: Cardiopatias congênitas; Miocardite virótica (muitas crianças aparecem com um quadro gripal, com ausência de febre, contudo muito taquicárdica, o que faz com que muitas vezes as mesmas passem sem diagnóstico). Principais causas de ICC em escolar e adolescente: Febre reumática (estreptococo beta hemolítico do grupo A: tratamento adequado são 10 dias com amoxicilina, 30 doses de 8/8 ou 20 doses de 12/12, na impossibilidade de via oral trata-se com penicilina benzatina). A profilaxia para febre reumática é feita com dose única de penicilina benzatina. Glomerulonefrite (hipervolemia e hipertensão); Miocardite viral; Miocardiopatias. Fatores agravantes para ICC: Anemia (muito critério na suplementação de pacientes com ICC); Febre; Sepses/infecções localizadas (leva ao hipermetabolismo e ao hipercatabolismo); Desnutrição (multifatorial); Broncoespasmo (fechamento dos brônquios com aumento da pressão e consequentemente aumento do trabalho cardíaco); Hipóxia; Acidose; Distúrbios metabólicos; Hipervolemia; Atividade física intensa. A PRINCIPAL CAUSA DE ICC NA INFÂNCIA SÃO AS CARDIOPATIAS CONGÊNITAS ESTRUTURAIS. A taquidispneia é o sinal mais importante de insuficiência cardíaca esquerda e congestão pulmonar; p. 5 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II A taquipneia com ou sem esforço respiratório é o sinal mais frequente de ICC na infância; A taquicardia sinusal apesar de inespecífica é um sinal muito frequente em ICC na infância. Principais sinais por faixa etária (recém-nascido): Taquicardia (FC ≥ 180); Taquipneia (FR ≥ 60); Esforço respiratório; Broncoespasmo; Hepatomegalia. Principais sinais por faixa etária (lactente): Taquicardia (FC≥ 160) /Presença de B3; Taquipneia (FR≥ 50); Esforço respiratório; Dificuldade para mamar; Sudorese cefálica; Broncoespasmo; Dificuldade de ganhar peso. Dificuldade para mamar e sudorese cefálica podem ocorrer em pacientes pediátricos sem ICC. Principais sinais por faixa etária (pré-escolares): Taquicardia (FC≥120-130)/Presença de B3; Taquipneia (FR≥35); Esforço respiratório; Dificuldade de ganhar peso; Desnutrição; Hepatomegalia. Principais sinais por faixa etária (escolar e adolescente): Taquicardia (FC≥ 120) /Presença de B3; Taquipneia (FR ≥ 30); Esforço respiratório; Hepatomegalia; Ingurgitamento jugular; Edema de membros inferiores. O DIAGNÓSTICO DE ICC É BASICAMENTE CLÍNICO SENDO OS EXAMES COMPLEMENTARES IMPORTANTES NA IDENTIFICAÇÃO DA CAUSA DA ICC E NA DETERMINAÇÃO DOS FATORES PRECIPITANTES E AGRAVANTES DO QUADRO. Exames Complementares: RADIOGRAFIA DE TÓRAX: Importante para avaliar a cardiomegalia (ICT) presente na grande maioria dos casos e também a congestão pulmonar. ECOCARDIOGRAMA: Importante no diagnóstico da cardiopatia de base e no diagnóstico e acompanhamento da disfunção miocárdica. ECG: Inespecífico na ICC. Importante para identificar arritmias. p. 6 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II GASOMETRIA: Para determinar a presença de acidose metabólica e/ou hipóxia (preferencialmente monitorar a saturimetria). EXAMES LABORATORIAIS: Para determinação de fatores agravantes e/ou precipitantes. ENZIMAS CARDÍACAS: No acompanhamento do sofrimento miocárdico (principalmente a fração MB da CPK). ICT (Índice cardiotorácico): Para melhor avaliação da presença de cardiomegalia. VALORES NORMAIS: o RN: ˂ 0,65; o Lactente: ˂ 0,55; o Criança maior: ˂ 0,50. AMOXICILINA Penicilina semissintética; ATB mais usado na pediatria; Indicação: infecções leves e moderadas causadas por agentes gram + e gram – (possuindo um melhor espectro para gram +); Em infeções graves ou leves que a via oral esteja comprometida seu uso é contraindicado; Primeira escolha na OMA; Útil nas faringites, sinusites, pneumonias, ITU e profilaxia de endocardites. Dose: 30-40 mg/Kg/dia a 80-90 mg/kg/dia (dobrar a dose considerando dois tipos de resistência bacteriana: estafilo-resistente e haemofilos-resistente): o Administrar a dose se baseando na infecção; o Sem contar as resistências deve se considerar a dose de 30-60 mg/kg/dia; Apresentações: Comprimido: o 875 mg de 12/12 horas. o 500 mg de 8/8 horas. Apresentações: Suspensão oral: o 5ml/250 mg (8/8 horas) – SUS. o 5ml/500 mg (8/8 horas). o BDs: 5ml/200 mg – 5 ml/400 mg (12/12 horas) Obs.: quando prescrever ATB na apresentação de suspensão oral lembrar de orientar o responsável a descartar, após o tratamento, o resto do medicamento. Prescrição: Paciente, 10 kg, 1 ano e meio, no primeiro episódio de otite. Mãe relata criança saudável, sem vacinas prévias, DNPM adequado, otoscopia: opacificação da membrana timpânica com leve abaulamento, sem demais achados no exame físico. Vou dar dose de 40 mg/kg/dia x 10 kg = 400 mg Administrar 3 vezes ao dia: 400/3 = 133 mg dose 8/8 horas 5 --------------250 X --------------133 X= 2,6 ml p. 7 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Uso oral: 5ml/250mg 1) Amoxacilina ------------------------- 100 ml Administrar 3,0 ml de 8 em 8 horas ou 2,5 ml de 8 em 8 horas 90 ml os 10 dias de tratamento, como é para criança pede-se 100 ml CRISE EPILÉTICA NA INFÂNCIA É um dos problemas neurológicos mais comuns na infância. Mais comum em crianças menores de 2 anos e idosos acima de 65 anos. Corresponde a uma situação onde ocorre descargas excessivas e síncronas de uma população neuronal. Também denominadas crises convulsivas ou convulsão. Podem ocorrer devido a um evento agudo de origem neurológica (ex: queda com a cabeça e formação de um hematoma; hipoglicemia que levará a pouca oxigenação) ou um evento agudo de origem sistêmica. Podem ocorrer de modo isolado ou de modo recorrente configurando a epilepsia. A epilepsia é um distúrbio cerebral crônico, de várias etiologias, caracterizado pela ocorrência de crises epilépticas. Classificação Internacional das crises epilépticas: Estabelecida em 1981 pela Liga Internacional Contra a Epilepsia. Considera 3 grupos de crises: o Crises parciais ou focais (podem ser simples e complexas). o Crises generalizadas. o Crises epilépticas não classificáveis. Classificação das convulsões: Parciais e generalizadas. Tipo de crise pode ajudar quanto a: o Causa; o Prognóstico; o Medicação. Convulsão Parcial Simples: Pode haver aura. Duração de 10-20 segundos. Diagnóstico diferencial: TICS (envolvem face e ombros, podem ser suprimidos temporariamente). Convulsão Parcial Complexa: Alteração do nível de consciência. Aura em 1/3 dos casos. o Indicam um início focal da convulsão. p. 8 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Automatismos são comuns (mandar beijos, mastigar, engolir...). A propagação das descargas pode resultar em generalização secundária com uma convulsão tônico-clônica. Convulsão Generalizada: Ausência (pequeno mal). o Simples (típicas): Parada súbita da atividade motora e da fala, com expressão facial nula e piscar de olhos. Maiores de 5 anos. Prevalece em meninas. Duração: menor que 30 segundos. Aura: nunca. O estado pós-ictal é questionável. Depois da convulsão, paciente retorna a fazer o que estava fazendo sem nem perceber. Convulsões tônico-clônicas generalizadas: o Podem ter aura: sugerem descarga inicial localizada. o Perda de consciência. o Fase tônica: grito, olhos viram e corpo contrai, cianose (apneia). o Fase clônica: podem morder a língua (tomando cuidado com as vias aéreas e descontrole do esfíncter vesical). o Atendimento pré-hospitalar: Colocar o paciente em decúbito lateral; Pescoço e mandíbula posicionados (hiperextensão); Não forçar a abertura da boca. o Estado pós-ictal: Sono profundo por 30min a 2h; Vômitos e cefaleia bifrontal. o Causas: Febre; Idiopática; Fadiga ou estresse; Drogas: teofilina, ritalina e etc. CONVULSÃO FEBRIL OU CRISEFEBRIL Crise associada a febre sem evidências de infecção do SNC ou de outras doenças neurológicas. É o problema neurológico mais comum na infância. Incidência: 2 a 5% na população infantil. Faixa etária: 3 meses a 5 anos. Pico entre 14 e 18 meses. o 90% dos casos ocorre antes dos 3 anos. o 4% antes dos 6 meses. p. 9 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o 6% após os 3 anos. Fisiopatologia: Ainda indefinida. Fatores fundamentais: a idade, a genética e a temperatura (subida brusca). Mecanismo genético: também é desconhecido. Crise Febril Simples: Crise epiléptica generalizada. Duração inferior a 15 minutos. Não se repete nas primeiras 24 horas. Não apresenta sinais pós-ictais (sonolência, criança molenga). 4 vezes mais comum que a crise febril complexa ou atípica. Crise Febril Complexa ou Atípica: Crise epiléptica tipo parcial complexa (raramente simples). Duração superior a 15 minutos. Repetição nas primeiras 24 horas criança deve ficar em observação. Apresenta sinais pós-ictais. Diagnóstico: Essencialmente clínico. É necessário a exclusão de doença neurológica aguda. Deve ser afastada a possibilidade de infecção do SNC, distúrbios metabólicos e entre outros. Exames complementares são usados para diagnóstico etiológico da febre. O ECG e os exames de neuroimagem não devem ser feitos de rotina. O exame do líquor deve ser realizado em todo lactente menor de 12 meses de acordo com a AAP (isto devido a inespecificidade dos sintomas nessa faixa etária, devendo excluir o diagnóstico diferencial de meningite). Aspectos relevantes: O fator preditivo mais importante para a ocorrência da primeira CF é a história familiar. As CF são benignas sendo muito raras sequelas neurológicas. Risco de recorrência da CF: De 25% a 50% sendo na maioria de 6 a 12 meses após primeira crise. Fatores de risco: Idade menor que 12 meses. p. 10 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II CF em parentes de primeiro grau. Febre baixa com duração menor a 1 horas antes da primeira crise (casos mais graves). Risco de Epilepsia Futura: Pouco maior que na população geral (de 1 a 5 %). Fatores preditivos: o Crises complexas; o História familiar de epilepsia; o Anormalidades neurológicas. Tratamento: No momento da crise: o Manter a permeabilidade das vias aéreas superiores; o Manter o controle da temperatura – dipirona EV; o Tratamento medicamentoso da crise convulsiva (se necessário, pois normalmente a crise já passou ao atendimento). RN: fenobarbital venoso; Criança: benzodiazepínico (Diazepam) aplicável lentamente até a interrupção da crise. Tratamento profilático: o Não diminui o risco de epilepsia. o Pode ser usado em pacientes que apresentem fatores de risco para recorrência. o Pode ser contínuo ou intermitente. Tratamento profilático contínuo: o Fenobarbital, Valproato de sódio por 2 anos (pouco utilizado atualmente). Tratamento intermitente: o Benzodiazepínicos durante os episódios febris. Mioclonia maligna: invasão de massa temporal na medula em um membro, apresentando-se como uma hipoclonia. Classificação da infância em grupos etários Período neonatal: 0 a 28 dias. Lactente: 28 dias a 2 anos. Pré-escolar: 2 a 4 anos. p. 11 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Escolar: 5 a 10 anos. Adolescente: 11 a 19 anos. PARACETAMOL E DIPIRONA Paracetamol (acetaminofen): Apresentação: o Comprimido 500mg/750mg; o Cápsula: 650 mg; o Gotas: 100 mg/ml (5mg/gota) ou 200 mg/ml (10mg/gota); o Suspensão oral: 160 mg/5ml. Dose crianças: 10-15mg/kg/dose x 4 a 5 doses (recém-nascido não é recomendado oferecer em intervalos menores que 6h). o Dose máxima: 4g/dia, contudo esta não é aceitável para criança, sendo assim para crianças aceita-se dose máxima de 500mg/dia. Indicações: diminuição de febre, alívio de dores leves e moderadas, resfriados comuns, dor de dente, dor de garganta e reações pós-vacinais. Efeitos colaterais (dose-dependente): hepatoxicidade, tontura, sedação e náuseas. o Em caso de efeito colateral pode-se fazer uso do antídoto que é o acetilcisteína, contudo seu uso não é comum, demonstrando que são poucos os efeitos colaterais. Dipirona: Apresentação: o Gotas: 25 mg/gota, frasco 500mg/ml em geral a dose é 0,5 gotas/kg; o Comprimido: 500mg ou 1 grama; o Solução oral: 50mg/ml; o Ampola: 2 ml ou 5 ml (500mg/ml); o Supositório infantil: 300mg. Doses: o Via oral: dose 10 – 15 mg/kg (máximo 4x ao dia); Lactente: 10 mg/kg (máximo 4x ao dia); Pré-escolar: 15 mg/kg (máximo 4x ao dia); Dose idade escolar: 25 mg/kg (máximo 4x ao dia). o EV: 0,03 ml/kg/dose (15 mg/kg/dose) – Ampola 500 mg/ml. Efeitos colaterais: náuseas, vômitos, dor abdominal, erupção cutânea. o Antigamente era condenado pelo risco de aplasia de medula. Obs: tomar cuidado com os sintomáticos, pois normalmente eles são referenciados em doses e não dia. Exercício: bebê, 9 meses, 8 kg, febre + convulsão. 1) Manter vias aéreas pérvias. 2) Abaixar a temperatura (dipirona) - Via EV (absorção imediata e sem risco de aspiração) – 0,24 EV (dose) De modo geral - apresentação suspenção oral: 200mg/mL = 10mg/gota 1 gota/kg/dose. 100mg/mL = 5mg/gota 2 gotas/kg/dose. p. 12 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II 3) Medicar o convulsão (benzodiazepínico é a primeira linha para crise convulsiva, mas para recém-nascido a droga de escolha é o fenobarbital venoso) – Neste caso faz-se uso de Diazepam. Intoxicações exógenas (medidas iniciais) O grande problema são as intoxicações domésticas nos pacientes pediátricos. As intoxicações podem ser definidas como as consequências clínicas e/ou bioquímicas da exposição aguda a substâncias químicas encontradas no ambiente (ar, água, alimentos, plantas, animais peçonhentos ou venenosos) ou isolados (pesticidas, medicamentos, produtos de uso industrial ou de uso domiciliar). Um corpo estranho pode ser considerado uma intoxicação. o As substâncias mais envolvidas são os medicamentos e plantas domésticas. A maioria das intoxicações ocorre em casa. Em crianças menores de 5 anos quase sempre são devidas ao espírito explorador. Em crianças maiores de 9 anos e principalmente adolescentes investigar a possibilidade de tentativa de autoextermínio. Classificação: As toxisíndromes são: o Síndrome anticolinérgica; o Síndrome anticolinesterásica; o Síndrome narcótica; o Síndrome depressiva; o Síndrome simpatomimética; o Síndrome extrapiradimal; o Síndrome metemoglobinêmica. Diagnóstico: Clínico: o Anamnese. o Exame físico: geral, SNC (pode dar muitos indícios da urgência e da emergência), respiratório e cardiovascular. Laboratorial: o Gerais (hemograma, gasometria, coagulograma, eletrólitos, ureia, creatinina e ECG). o Screenning toxicológico (algumas substâncias podem ser dosadas no sangue, urina, conteúdo gástrico). Tratamento: Medidas gerais: o Estabilização das funções vitais – sempre garantir vias aéreas. Tratamento específico: p. 13 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Diminuição da absorção do agente tóxico (considerar a via de contato – ocular, cutâneo, inalatório ou por ingestão). Esvaziamento gástrico; Uso de carvão ativado (lavagem – seu principal efeito colateral é a constipação); Uso de laxantes. o Aumento da eliminação do tóxico já absorvido: Diurese forçada; Alcalinização do pH urinário; Diálise (peritoneal ou hemodiálise – o grande número de tentativas de extermínio fica nos pacientes psiquiátricos em uso de lítio, que não são dialisáveis); Uso de antídotos (restritos a algumas intoxicações). Normas de prevenção: Princípio básico: proteger as crianças menores e educar as crianças maiores e os adultos. Guardar toda substância tóxica fora do alcance das crianças. Guardar toda substância tóxica em seu recipiente original. Eliminar os medicamentos quando fora de uso ou deixar fora do alcance das crianças. Nunca oferecer medicamentos referindo como guloseimas ou “gostoso”. Trancar todos os inseticidas. Ler as instruções antes de usar um produto químico. Nunca reutilizar recipientes de produtos tóxicos. Conhecer as plantas tóxicas da região. QUESTÕES EM AULA: 1 ano e 3 meses chega ao PA, febre de 37,9 graus, sonolento, mãe relata abalos no domicílio que cessaram no caminho do hospital. Responda: 1) Qual primeira medida a ser feita neste caso? R: Olha via área (pois o paciente está sonolento) 2) Diagnóstico provável? R: Crise convulsiva. Obs.: não pode afirmar que é febril porque o enunciado não eliminou uma doença de base, é de suma importância que isso seja investigado antes. MONILÍASE ORAL = Candidíase oral Micose de mucosa oral causada pela Candida Albicans. Tratada com oral tópico, nistatina ou cetoconazol. Limpar, esperar 30 min e passar a pomada. Nistatina usa- se 4 vezes ao dia e cetoconazol 2 vezes ao dia. p. 14 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Lesões assemelham a nata de leite, por isso deve-se tentar retirar; comum em RN. ESTADO DE MAL EPILÉTICO Conceito: emergência médica, caracterizada por uma crise convulsiva que persiste ou se repete com intervalo maior ou igual a trinta minutos (tempo necessário para perda da auto regulação do fluxo sanguíneo cerebral e da homeostase). O estado de mal epiléptico refratário é definido como persistência do estado de mal epiléptico apesar do uso adequado de 2 fármacos (benzodiazepínico com fenitoína ou fenobarbital). Incidência: 41 pacientes/100 mil habitantes. Em aproxidamente 50% dos casos de mal epilético é a primeira manifestação convulsiva do indivíduo. Fisiopatologia: podemos dividir as alterações neurofisiológicas em 2 fases: o Fase 1: aumenta a demanda metabólica cerebral com aumento no fluxo sanguíneo cerebral aumenta a PA, glicemia, sudorese, temperatura axilar e salivação. o Fase 2: inicia após 30 minutos de atividade convulsiva. Falha na auto regulação cerebral fluxo sanguíneo cerebral diminui, pressão intracraniana aumenta, e a PA diminui. Evolui para um quadro de hipóxia/inóxia cerebral. Respiratório: hipopneia/apneia. ESTADO GRAVE, MEDICAR IMEDIATAMENTE NEUTROPENIA FEBRIL Febre: no contexto da neutropenia, entende-se por uma única medida de temperatura axilar ≥ a 38,5 graus ou uma temperatura axilar ≥ a 38 graus por uma hora seguida ou em dois episódios com intervalo de, no mínimo 12h. Por que a febre ocorre? Geralmente é uma resposta imunológica. Temperatura normal: 36,5 a 37,4 graus. Neutropenia: refere-se a contagem global de neutrófilos menor que 500 ou menores que 1000 com previsão de queda em 48 horas. A gravidade da neutropenia em relação as infecções está diretamente relacionada ao número total de neutrófilos, sendo considerado de alto risco p. 15 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II infeccioso as contagens ≤ a 100 (quanto mais baixo, mais grave estará o paciente). Baixo risco: neutropenia menor que 5 dias. Intermediário: neutropenia entre 6 e 9 dias. Alto risco: neutropenia maior que 10 dias. Exame Clínico: Inspeção cuidadosa: o Pele, mucosas e fâneros; o Região genital, anal e oral; o Locais de inserção de cateteres; o Locais de punção medular, arterial e venosa; o Sítio cirúrgico. Importante lembrar: sinais inflamatórios clássicos podem estar bastante diminuídos. Propedêutica: Devem ser solicitados exames para localização do foco e diagnóstico etiológico. Solicitar: de acordo com as queixas e prováveis focos em um progressivo de complexidades. Exames de imagem: RX, TC, RM. Exames laboratoriais: exames gerais para monitoramento tanto do quadro como dos efeitos das drogas (função renal, função hepática). Monitorar a glicemia considerando marcador prognóstico de vários protocolos (infecções graves cursam com distúrbios glicêmicos). Exame de cultura: deve ser realizado o maior número possível de culturas para orientar posteriormente o tratamento S/N. A BUSCA DA ETIOLOGIA NÃO PODE COMPROMETER O INÍCIO PRECOCE DA TERAPIA APROPRIADA PRINCIPALMENTE NOS CASOS CLASSIFICADOS COMO ALTO RISCO INFECCIOSO. A febre alta não determina o risco, o risco está relacionado com os dias de neutropenia febril. p. 16 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Febre persistente após 35 dias: Clínica estável continuar ATB inicial; Piora critérios mudar ATB e acrescentar vancomicina. NEONATOLOGIA Nascimento: 38 a 42 semanas; Idade cronológica: tempo desde a data do nascimento (ex: nasceu com 38 semanas, no 01/10, assim no dia 20/03 estará com 5 meses e 20 dias); Idade corrigida: quantas semanas nasceu até 40 semanas (ex: 5 meses e 6 dias); o Deve-se corrigir a idade até 1 ano, e depois se necessário. o Pode-se considerar atraso até 2 anos. o Importante para explicar a mãe sobre os marcos do desenvolvimento e orientação sobre os cuidados gerais. o Em relação a vacinação do pré-termo as restrições estão ligadas ao peso do recém-nascido, a vacinação é realizada pela idade cronológica (ex: BCG não realizar em criança abaixo de 2kg). Algumas dicas: Recém-nascido: do nascimento até 28 dias de vida (inclusive). Classificação do RN pelo peso de nascimento (PN): o RNBPN: peso de nascimento entre 1000g e 2500g (independente da IG); o RNMMBPN: menor que 1000g; o RNMBPN: menor que 1500g (não consta no CID-10); o RNMGPN: maior que 4500g. Classificação do RN quanto a idade gestacional (IG): o Recém-nascido pré-termo: IG menor que 37 semanas. A CID-10 classifica em dois subgrupos: Imaturidade extrema: IG de 28 semanas. RN de 28 a 36 semanas (grupo mais estável – só pré- termo). De 36 semanas a 36 semanas e 6 dias é pré-termo tardio. o Recém-nascido a termo: 37 a 41 semanas. o Recém-nascido pós-termo: 42 semanas e um dia. Quando emitir atestado de óbito fetal? Quando é considerado um aborto? No óbito fetal, se a gestação teve duração igual ou superior a 20 semanas, ou o feto com peso igual ou superior a 500 gramas, ou estatura igual ou superior a 25 centímetros. Tempo e estresse influenciam na maturidade fetal: PIG: pequeno para idade gestacional; AIG: adequado para idade gestacional; GIG: grande para idade gestacional. Classificar: pelo peso, idade gestacional e correlação idade gestacional/peso. p. 17 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II DISTÚRBIO RESPIRATÓRIO DO RECÉM-NASCIDO Ter em mente a maternidade de referência, sendo controlado por uma central de regulação que determinará para onde os pacientes deverão ser encaminhados. Os recém-nascidos com distúrbios respiratórios deveriam nascer se eles tiverem predição de fator de risco ou diagnóstico pré-estabelecido (ex.: hérnia), preferencialmente em um local onde eles possam ficar. Durante a vida intrauterina ocorre o desenvolvimento estrutural, bioquímico e neuromuscular do sistema respiratório. O conhecimento das etapas que envolvemeste desenvolvimento é indispensável para compreender a fisiologia respiratória do RN que aliada as características do RN, condições de parto, quadro clínico e sua evolução determina as bases fisiopatológicas das principais causas de insuficiência respiratória no período neonatal levando ao diagnóstico diferencial de várias doenças. Desenvolvimento do sistema respiratório: DESENVOLVIMENTO ESTRUTURAL: Inicia-se precocemente na gestação e termina aos oito anos de idade pós natal. Fase embrionária: período de 4 a 6 semanas de gestação. Desenvolvimento da laringe e traqueia. A traqueia se subdivide em 2 ramos que são os brônquios direito e esquerdo. Fase pseudoglandular: período de 7 a 16 semanas de gestação. Desenvolvimento das vias aéreas inferiores (brônquios com cartilagem em suas paredes e bronquíolos sem). Após 16 semanas os brônquios e bronquíolos só crescem em tamanho. Também ocorre o desenvolvimento da membrana pleural e vasos linfáticos pulmonares. Neste período é formado o diafragma que é derivado das membranas pseudoperitoniais. Fase canalicular: período de 17 a 26 semanas de gestação. Formação da estrutura básica de trocas gasosas, desenvolvimento dos capilares e início da dissipação do tecido conectivo. Em torno da 20ª semana podem ser detectadas células epiteliais (pneumócitos tipo l e ll) responsáveis pela produção de surfactante. Fase sacular: período de 27 a 35 semanas de gestação. Aumento importante das áreas de interfase ar-sangue. Também ocorre aumento do volume pulmonar. A partir de 30 semanas já são evidenciadas estruturas alveolares que a partir de 36/37 semanas estarão bem desenvolvidas. Fase alveolar: período de 27 a 35 semanas de gestação até 3 anos pós termo. Evolução das estruturas saculares para alveolares. Com 40 semanas de gestação temos em torno de 50 milhões de alvéolos. Este número aumenta até 300 milhões com 3 anos de idade mantendo até a idade adulta. p. 18 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II DESENVOLVIMENTO DO LÍQUIDO INTRA PULMONAR: Ao redor de 28 semanas de idade gestacional(IG) os pneumócitos tipo l começam a secretar líquido para dentro das estruturas aéreas. Este líquido desempenha papel importante no desenvolvimento normal do pulmão. Esta produção é interrompida por volta de 32 semanas de IG. A eliminação posterior deste liquido é lenta, através da reabsorção para o interstício. As contrações do trabalho de parto aceleram esta reabsorção. Logo após o nascimento com a expansão pulmonar o restante do líquido é reabsorvido rapidamente. DESENVOLVIMENTO DA MATURIDADE BIOQUÍMICA: A maturidade bioquímica depende da presença de surfactante. Todo metabolismo do surfactante ocorre no pneumócito tipo ll, incluindo a sua síntese, a reciclagem e o seu catabolismo. O surfactante desempenha um papel importante na fisiologia respiratória, atuando na ↓ da tensão superficial ar-água no interior do alvéolo, prevenindo o colapso alveolar no final da expiração. O surfactante atua recrutando uniformemente as unidades alveolares; dificultando a formação de edema pulmonar; estabilizando as vias aéreas não cartilaginosas; ↓ a viscosidade do muco; ↑ a atividade ciliar, antibacteriana e antinflamatória. O surfactante é constituído por 90% de lípides (fosfolipídios, gordura neutra e colesterol) e 10% de proteína. DESENVOLVIMENTO VASCULAR: O sistema respiratório é suprido pelas artérias brônquicas que tem como função fornecer oxigênio para as vias aéreas, pleura e tecido conectivo e as artérias pulmonares responsáveis pelas trocas gasosas. As artérias e veias pulmonares pré acinares já estão presentes na 16ª semana de IG. O número de artérias pulmonares aumenta 12 vezes após o meio da gestação sem elevação do fluxo sanguíneo. Este fluxo permanece baixo até o nascimento quando a melhor oxigenação, a distensão do pulmão e outros mecanismos diversos diminuem a resistência vascular pulmonar com ↑ do fluxo sanguíneo pulmonar. A manutenção da resistência pulmonar é a base fisiopatológica da síndrome de hipertensão pulmonar persistente. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL DOS DISTÚRBIOS RESPIRATÓRIOS DO RN: O diagnóstico etiológico da IR no RN deve levar em consideração os seguintes aspectos: Antecedentes maternos; Condições e tipo de parto; Características do RN; Início e evolução dos sintomas; Exame clínico e complementares. p. 19 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II TTRN (taquipneia transitória do recém-nascido): Sinais clínicos presentes desde o nascimento decorrentes da reabsorção inadequada do líquido intra alveolar. Taquipneia com FR de 80 a 100 bpm. Tiragem intercostal, retração esternal, cianose, necessidade de O2. Melhora nas 1ª 24h de vida e resolução da taquipneia até 48h de vida. Síndrome do Pulmão Úmido: Sinais clínicos presentes desde o nascimento decorrentes da reabsorção inadequada do líquido intra alveolar. Ocorre em RN pré termo. Taquipneia, gemência, tiragem intercostal, batimentos de aletas nasais. Quadro clínico e radiológico pode ser confundido com DMH (doenças das membras hialinas) porém de resolução em 24h. DHM (doenças da membrana hialina): A doença da membrana hialina é uma das causas mais frequentes de IR no RN, de etiologia ainda desconhecida, porém ligada a prematuridade e a filhos de mães diabéticas que seriam os fatores predisponentes. Acredita-se que a deficiência de surfactante, seja a principal causa desta síndrome. Os achados radiológicos nesta síndrome são característicos e a radiografia de tórax mostra um padrão micro nodular difuso quase que imperceptível na fase inicial, as radiografias devem ser executadas em boas condições técnicas para poder avaliar o quadro; logo vem o padrão granular difuso. Atualmente é possível o diagnóstico de doença de membrana hialina através da ultrassonografia a qual evidencia uma área de hiperecogenicidade retroepática ou retroesplênica, considerado este achado como característico, porém o diagnóstico radiológico permanece como padrão-ouro. p. 20 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II DBP (displasia broncopulmonar): A displasia broncopulmonar está relacionada a RN submetidos a terapia com oxigênio. Novos estudos mostram que o uso de oxigênio independente da concentração, resulta em dano alveolar. Estudo em modelo animal sugere que a deficiência das proteínas do surfactante contribui na fisiopatologia da DBP. Os achados radiológicos nas fases iniciais evidenciam apenas uma hipotransparência pulmonar difusa devido ao edema pulmonar generalizado; mais tarde surge um padrão nodular grosseiro e, finalmente, o desenvolvimento de cistos que no começo são relativamente pequenos tornando-se grandes e irregulares principalmente nas bases; estes cistos, dependendo do tamanho são conhecidos como bolhas da displasia broncopulmonar do tipo III e IV e tem como característica o colabamento durante a expiração. SAM (síndrome de ativação macrofágica): Ocorre quando o RN devido a uma hipóxia intrauterina libera mecônio que é aspirado para dentro dos pulmões antes do nascimento; causando quadros clínicos graves. Incide mais frequentemente em RN pós termo e em deprimidos graves com dificuldade respiratória. Os achados radiológicos podem variar de acordo com a quantidade de mecônio aspirado, sendo que nos casos graves se observa extensas áreas de infiltrados nodulares grosseiros e difusos, alternando com áreas hiperaeradas e de hiperdistensão alveolar. Estes infiltrados nodulares representam áreas de atelectasias focais ou segmentares; dependendo da quantidade demecônio aspirado. A resolução radiológica se faz de maneira rápida e surpreendem; nos casos graves podem surgir complicações como pneumotórax, pneumomediastino e pneumonite química. p. 21 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II p. 22 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II ASSISTÊNCIA AO RN EM SALA DE PARTO Diretrizes Científicas da Reanimação neonatal: O programa de reanimação neonatal (PRN) segue as diretrizes da Academia Americana de Pediatria (AAP) e da Associação Americana para o Coração (AHA), para a Reanimação Cardiopulmonar e para o Cuidado Cardiovascular ao Recém Nascido. Tais diretrizes baseiam-se no consenso do Comitê Internacional de Reanimação (ILCOR) a respeito de evidencias científicas, publicado originalmente em novembro de 2005. Segundo a OMS (1995) a asfixia neonatal é responsável por 19% das mortes em RN por ano em todo mundo. Aproximadamente 10% dos neonatos necessitam de alguma assistência para iniciar a respiração logo após o nascimento. Destes 1% necessita de manobras de reanimação mais agressivas para sobreviver. 90% dos RN ao nascimento fazem a transição da vida intra para extra uterina com pouca ou nenhuma assistência iniciando respirações espontâneas regulares e a transição do padrão cardiovascular fetal para o neonatal. FISIOLOGIA DO NASCIMENTO: Durante o período fetal: Todo oxigênio utilizado pelo feto provém do sangue materno. Pulmões fetais estão expandidos com os alvéolos preenchidos por líquido. Os vasos sanguíneos dos pulmões fetais são muito contraídos devido a pO2 baixa. A contração dos vasos praticamente impede a chegada de sangue oxigenado nos pulmões para o canal arterial ligado diretamente a aorta. p. 23 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Após o nascimento: O líquido alveolar é absorvido substituído por ar (O2 = 21%) com difusão de O2 para os vasos pulmonares vizinhos que relaxam. Os vasos umbilicais ao serem clampados promovem o aumento da pressão sanguínea sistêmica. Relaxamento dos vasos pulmonares + aumento da pressão nos vasos sanguíneos = diminuição do fluxo através do canal arterial. Se baixo aporte de O2 a função do miocárdio é comprometida implicando em baixo débito e queda da pressão sanguínea com reflexo em todos os tecidos e comprometimento da oxigenação cerebral o que pode levar a uma lesão irreversível. São sinais de comprometimento por baixo suprimento de O2: o Hipotonia muscular; o Depressão do estímulo de respirar; o Bradicardia; o Hipotensão arterial; o Taquipneia; o Cianose. OBJETIVO: Estabelecer um diagnóstico rápido e manobras terapêuticas apropriadas imediatamente após o nascimento devido ao alto risco de asfixia durante o trabalho de parto e nos primeiros minutos de vida quando o recém-nascido pode apresentar parada cardíaca e apneia, prevenindo lesão cerebral e doenças neonatais subsequentes. Portanto, evitar a HIPÓXIA. CAUSAS DE HIPÓXIA AO NASCIMENTO: Durante o trabalho de parto: o Interrupção do fluxo sanguíneo umbilical (compressão do cordão umbilical); o Insuficiência das trocas placentárias (descolamento de placenta); p. 24 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Perfusão inadequada do lado materno (hipertensão arterial materna- DHEG); o Incapacidade de insuflar os pulmões (mal formações congênitas- cardiopatias, obstrução de vias aéreas, etc). Após o nascimento: o Mal formações (síndromes, etc); o Prematuridade (Doença de Membrana Hialina, etc); o Aspiração de líquido amniótico meconial; o Uso de drogas maternas (anestesia geral, dolantina, etc). DEVERÁ SEMPRE EXISTIR UMA BOA COMUNICAÇÃO ENTRE OBSTETRAS, ANESTESISTAS E PEDIATRAS. ABC da reanimação: O ABC da reanimação é o mesmo para RNs, crianças e adultos. Os RNs logo ao nascer encontram-se molhados e a perda de calor é grande. Logo na reanimação de RN torna-se importante manter a temperatura corporal e evitar a perda de calor durante a reanimação. ABC da reanimação: AIRWAY: via aérea pérvia (posicionar e aspirar) BREATHING: respiração (estimular a respiração) CIRCULATION: avaliar FC e cor Manter temperatura: Secar o recém-nascido com compressa estéril e colocar sob calor radiante. Posicionamento: Colocar o recém-nascido em decúbito dorsal sem flexionar ou hiperextender. Aspirar vias aéreas: Aspirar com pêra ou aspirador. Primeiro a boca. Avaliar a frequência respiratória, movimentos respiratórios e choro. Avaliar a frequência cardíaca: Auscultar com o estetoscópio. Avaliar a cor: Observar cianose. BOLETIM DE APGAR: É feito através da observação clínica, verificando: o Frequência cardíaca; p. 25 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Frequência respiratória, choro; o Cor da pele; o Reflexos; o Tônus muscular. Método objetivo de quantificar a vitalidade do RN. Método padronizado para documentar a transição do ambiente intra-uterino para o extra uterino. NÃO É UTILIZADO PARA DETERMINAR A NECESSIDADE DE REANIMAÇÃO OU O FLUXO DA REANIMAÇÃO. Os procedimentos de reanimação modificam os valores do boletim de Apgar. O boletim deve ser avaliado no 1º, 5º minuto. Se o valor de 5º minuto for inferior a 7 reavaliar a cada 5 minutos até no máximo 20 minutos. Prematuridade e Alto Risco ao nascimento: Características do RNPT: Deficiência de surfactante pulmonar. Imaturidade neurológica (pode ↓ o estímulo central para respirar). Fraqueza muscular. Maior perda de calor que o RNT. Maior risco de sepses primária. Fragilidade dos capilares do cérebro. Pequeno volume sanguíneo (maior risco de hipovolemia). Imaturidade tecidual (↑ risco de lesões por O2). IMPORTANTE: O parto e o atendimento ao RN em sala de parto cursam com a presença de muito sangue e outras secreções corporais o que aumenta a possibilidade de contaminação por agentes infecciosos. Todo profissional envolvido na reanimação deve seguir as precauções universais apropriadas de acordo com a legislação pertinente. p. 26 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II REFLUXO GASTROESOFÁGICO (RGE) Fluxo retrógrado e repetido de conteúdo gástrico para o esôfago. Comum na infância. Evolução benigna na maioria dos casos. A presença de regurgitações é muito frequente. p. 27 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Constitui causa frequente de consultas pediátricas. Epidemiologia: Uma das principais condições gastroenterológicas entre as crianças. Predomínio no sexo masculino, sem significância estatística. Entre crianças com regurgitações frequentes apenas 2% necessitarão de investigação. Classificação do RGE: Fisiológico ou patológico; Primário ou secundário; Oculto. Refluxo fisiológico: Resultante da imaturidade dos mecanismos de barreira anti-refluxo. Pode cursar com crises de apneia. Em crianças maiores e adultos pode ocorrer no período pós-prandial devido ao relaxamento transitório do esfíncter esofágico inferior (EEI). As regurgitações iniciam entre o nascimento e o quatro mês de vida, diminuindo após seis meses com a introdução de dieta sólida e adoção de postura mais ereta pela criança. Geralmente resolução espontânea até dois anos. Crescimento normal, sem outros sintomas ou complicações associadas. Refluxo patológico: Os vômitos e regurgitações não melhoram após seis meses de vida. Não respondem às medidas posturais e dietéticas. Repercussões clínicas como déficit do crescimento, dor abdominal, irritabilidade, hemorragias digestivas, broncoespasmo, pneumonias de repetição, complicações otorrinolaringológicas, sintomas e sinais sugestivos de esofagite. Refluxo oculto: Presença de sinais de esofagite como irritabilidade e choro constante sem a presença de vômitos e regurgitações. Refluxo primário: Resulta de disfunção da junção esofagogástrica. Refluxo secundário: Estenose congênita do esôfago, fístula traqueoesofágica, atresia de esôfago, distúrbios da deglutição, estenose hipertrófica do piloro, úlcera gástrica ou duodenal, pâncreas anular, pseudo-obstrução intestinal, alergia alimentar (proteína do leite de vaca), infecção urinária, parasitoses intestinais, doenças genético-metabólicas, asma, fibrose cística e alterações do sistema nervoso. Manifestações clínicas: Específicas: ruminação, vômitos, regurgitações, eructação. p. 28 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Relacionadas a esofagite: dor, anemia, sangramentos. Em lactentes, são observados choro excessivo, irritabilidade, distúrbios do sono, agitação e recusa da dieta. Na criança maior disfagia, pirose, dor torácica do tipo angina, dor e queimação na região epigástrica, odinofagia, sialorreia e dor abdominal recorrente. Respiratórias: broncoespasmo e pneumonias de repetição; Otorrinolaringológicas: laringites, sinusites, otites. Diagnóstico: História clínica completa. Exames complementares. o Radiografia de esôfago, estômago e duodeno (REED). o Ultrassonografia do esôfago. o Monitoração do pH do esôfago (pHmetria). Tratamento: Medidas Gerais: Orientação aos pais. Recomendações dietéticas. Postura. Tratamento medicamentoso (redutores da acidez gástrica). Tratamento cirúrgico (fundoplicatura gástrica). p. 29 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II - Triviral: sarampo + caxumba + rubeola. - Tetraviral: sarampo + caxumba + rubeola+ varicela. - Pentavalente: difteria + tétano + coqueluche + hepatite B + Haemophilus influenza tipo B. - Febre amarela: não autorizada antes de 6 meses. Entre 6 e 9 meses, apenas se o médico autorizar e a criança estiver em área de risco. Não deve ser tomada junto com a triviral ou a tetraviral. Sendo que o recomendado é tomar a de febre amarela e aguardar 30 dias para que se vacinar para as demais citadas. Crianças e adolescentes com forte alergia ao ovo só podem receber a injeção após avaliação médica criteriosa e dentro de um ambiente com condições de atendimento de emergência. p. 30 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II PESO DE MENINOS: 2 anos de 6 meses: 13 kg. 3 anos: 14,5 kg. 3 anos e 6 meses: 15kg. 4 anos: 16,5 kg. 4 anos e 6 meses: 17 kg. 5 anos: 18,5 kg. 5 anos e 6 meses: 19 kg. 6 anos: 20,5 kg. 7 anos: 23 kg. 8 anos: 25 kg. 9 anos: 28 kg. 10 anos: 31 kg. PESO DE MENINAS: 2 anos de 6 meses: 13 kg. 3 anos: 14 kg. 3 anos e 6 meses: 15kg. 4 anos: 16 kg. 4 anos e 6 meses: 17 kg. 5 anos: 18 kg. 5 anos e 6 meses: 19 kg. 6 anos: 20 kg. 7 anos: 22,5 kg. 8 anos: 25 kg. 9 anos: 28 kg. 10 anos: 32 kg. p. 31 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II MANIFESTAÇÕES DEMARTOLÓGICAS COMUNS NA INFÂNCIA DERMATITE DE FRALDAS: Causada pelo contato da pele com urina e fezes retidas pelas fraldas e plásticos. Irritação da pele + maceração + retenção de suor. Mais intenso nas superfícies convexas, poupa dobras. Infecção secundária: Candida, Bacillus faecallis, Proteus, Pseudomonas, Staphylococcus, Streptococcus. Fatores predisponentes: dermatite seborreica e atópica. Tratamento: emolientes espessos como barreira e preparações com óxido de zinco que tem ação anti- inflamatória. Casos graves: hidrocortisona 1% por curto período. Não usar alta potência: oclusão aumenta efeitos colaterais sistêmicos, locais e granuloma glúteo infantil. DERMATITE ATÓPICA: Doença eczematosa crônica cíclica caracterizada por limiar de reatividade cutânea anormal. Início principalmente na infância, a partir dos 3 meses de vida. 30% asma ou rinite associada. 15% apresentam surtos de urticária. 70% antecedentes familiares de atopia. Clínica depende da idade. Clínica: Critérios Maiores: o Prurido: manifestação constante em todas as fases. o Morfotopografia: presença de lesões nas localizações típicas para a idade: Criança: eczema agudo/subagudo em fronte e região malar. Adulto: eczema crônico nas dobras. o Cronicidade e recidivas frequentes. Critérios menores: podem estar presentes: o HP ou HF de atopia. o Dermografismo branco. o Xerodermia/ictiose. o Hiperlinearidade palmar. o Pitiríase alba. o Ceratose pilar. o Dupla prega infraorbitária de Dennie-Morgan. o Sinal de Hertoghe: madarose caudal. o Tendência a dermatoses crônicas das mãos. o Infecções cutâneas de repetição. p. 32 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Tendência a alterações oculares: catarata e ceratocone. Da Infantil: o Entre 3 e 6 meses até 2 anos. o Predomínio segmento cefálico. Início região malar, podendo disseminar-se para restante da face, couro cabeludo, pescoço, superfícies extensoras dos membros e área das fraldas. o Lesões vésico-secretantes-crostosas. o Prurido é uma constante (leve a insuportável). o Infecção secundária é complicação frequente. o Após segundo ano de vida: menos da metade resolução espontânea. Pré-Puberal: o Após segundo ano de vida. o Continuação do eczema infantil ou surge alguns anos após remissão deste. o Acometimento de superfícies flexoras: dobras poplíteas e antecubitais; pescoço, punho, transição nádega/coxa. o Lesões crônicas: liquenificadas e escoriadas com períodos de eczema agudo. o Infecção secundária é menos frequente. Tratamento: Orientações. Cuidados gerais com ambiente, vestuário, banho, corte de unhas, hidratação, alimentos. Medicação tópica: Corticoides e imunomoduladores. Alcatrões (coaltar, LCD). Antibióticos tópicos. Medicação sistêmica: Antibióticos. Anti-histamínicos. Corticoide. Imunomoduladores e imunossupressores. Psicoterapia. HERPES SIMPLES NÃO GENITAL Gengivoestomatite herpética primária Mais comum em crianças, o tempo de incubação entre a exposição e o aparecimento dos sintomas é de 3 a 10 dias. Pode variar de um quadro discreto, com algumas lesões vesicoerosivas e subfebris até quadros graves como erupção vesiculosa com febre alta, adenopatias e comprometimento do estado geral. Com o rompimento das vesículas, p. 33 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II formam-se exulcerações, logo recobertas por placas esbranquiçadas: a gengiva fica edemaciada, a alimentação torna-se difícil e a faringe pode ser comprometida. Tratamento: Aciclovir (acicloguanina): 200 mg, 5 vezes ao dia, com intervalos aproximado de quatro horas, omitindo-se a administração noturna. O tratamento é por 5 dias, mas pode ser estendido. VARICELA: Primoinfecção pelo VZV, caracterizada pelo aparecimento de vesículas em base eritematosa na pele e nas mucosas. De distribuição universal, a infecção ocorre geralmente na infância, mas também acomete adolescentes e é frequente em imunodeprimidos (herpes-zóster generalizado). Altamente contagiante, sua transmissão viral é aérea; o período de incubação é de 2 a 3 semanas e, em geral, confere imunidade por toda a vida. O quadro inicia-secom mal-estar, febre moderada e pequenas manchas eritematosas nas quais surgem vesículas de 1 a 3 mm, de conteúdo purulento e que, pelo dessecamento, formam crostas. A erupção é mais extensa no tronco, com menor número de lesões nas extremidades e uma característica importante é a evolução por surtos com lesões em vários estágios evolutivos. Há lesões na mucosa. Em cerca de uma semana, a febre desaparece e deixam de aparecer novas lesões, permanecendo somente as crostas, que se eliminam em alguns dias. Excepcionalmente, a varicela em crianças pode determinar febre elevada. Tratamento: Repouso, paracetamol ou dipirona para controle da febre; não é indicado usar ácido acetilsalicílico em crianças pelo risco da síndrome de Reye. Topicamente, limpeza das lesões com água boricada. Para o prurido, anti-histamínicos. Formas graves de varicela devem ser tratadas com aciclovir oral ou intravenoso. PAPILOMAVÍRUS Verrugas: p. 34 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Proliferações epiteliais na pele e mucosas causadas por diversos tipos de HPV, têm ubiquidade e ocorrem em qualquer idade, porém são mais comuns em crianças e adolescentes. O contágio é direto ou indireto, particularmente pela exposição em piscinas, recintos esportivos, praias e outros locais; são autoinoculáveis; o tempo de incubação é variável, em torno de três meses. As verrugas, de acordo com o estado imunitário, podem involuir espontaneamente ou aumentar em número e tamanho. Verrugas vulgares: São as mais comuns. A lesão é pápula ou nódulo, de consistência firme, hiperqueratótica, com superfície dura, em que observam-se com frequência pontos escuros ou pretos, que correspondem a alças capilares trombosadas. As verrugas vulgares ocorrem em qualquer área da pele, porém são mais encontradas no dorso das mãos e nos dedos; nestes, podem estar no leito ungueal ou nas dobras periungueais. Verrugas plantares: Como decorrência da pressão do corpo, essas verrugas são poucos salientes. O aspecto é de uma área central anfractuosa envolta por um anel hiperqueratótico; por esse aspecto, a verruga plantar é conhecida vulgamente como olho de peixe. Em virtude da pressão, a proliferação epitelial penetra na derme, tornando-se muito dolorosa e, muitas vezes, dificultando a deambulação. Verrugas planas: São pápulas planas de 1 a 5 mm de diâmetro, levemente amareladas e ligeiramente salientes que ocorrem principalmente em crianças e adolescentes, por isso a denominação verruga plana juvenil. São, em geral, numerosas, entre dezenas e centenas, e localizam-se preferencialmente na face, no dorso das mãos e nos antebraço. Tratamento: Verrugas vulgares: Terapia sistêmica: não há até agora medicação VO efetiva. Terapia tópica: há numerosos recursos e procedimentos. Eletrocoagulação: tratamento eletivo das verrugas vulgares. Recidivas são raras e devem ser retratadas com a mesma técnica. Ácido salicílico (16,5%) e ácido láctico (14,5%) em colódio flexível. Nitrogênio líquido. Imiquimode. Imunoterapia de contato: uso eventual em lesões resistentes. p. 35 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Nunca fazer: cirurgia com exérese e sutura, por disseminar localmente o vírus em redor da lesão retirada. Radioterapia está definitivamente condenada pela dose alta necessária e consequente radiodermite. IMPETIGOS: São infecções piogênicas primárias da pele, contagiosas, superficiais, produzidas por estafilococos e estreptococos. Acometem preferencialmente a face e os membros superiores, embora, com disseminação por autoinoculação, possam comprometer qualquer região. Utiliza-se o termo impetiginização quando o impetigo complica uma dermatose preexistente; nesse caso, em geral é de natureza estafilocócica. É bem mais frequente em crianças e nos meses de mais calor. lmpetigo não bolhoso: Nos países em desenvolvimento prevalece o S. pyogenes. A localização preferencial é em torno do nariz e da boca e nas extremidades. Ocorre no local de pequenos traumatismos como escoriações, queimaduras e picadas de insetos. Inicialmente ocorre mácula eritematosa que evolui rapidamente para bolha e/ou vesícula efêmeras de paredes finas, porém a crosta resultante é espessa e de coloração amarelada (lembra mel-melicérica). Pode lembrar a queimadura de cigarro. Não há tendência à circinação. Sintomas gerais normalmente estão ausentes e pode ser acompanhado de linfadenite-satélite. Não há elevação de antiestreptolisina O (ASLO). lmpetigo bolhoso: De etiologia exclusivamente estafilocócica. Não há necessidade de solução de continuidade cutânea para o aparecimento das lesões. Ocorre mais em neonatos (diferentemente do anterior) e também em crianças. Tem como características clínicas a formação de vesículas que rapidamente se transformam em bolhas grandes que sofrem processo de pustulização. As crostas resultantes são finas e acastanhadas e, por vezes, tomam aspecto circinado. As localizações preferenciais são face, períneo, nádegas e extremidades. Cura sem sequelas. Tratamento: na maioria das piodermites, sobretudo nas agudas, o tratamento com antibióticos deve ser iniciado imediatamente. Os tratamentos locais devem p. 36 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II ser feitos e incluem limpeza com água e sabão. É recomendável o uso de antissépticos ou com um antibiótico de uso exclusivamente local. Não se devem usar localmente antibióticos de uso geral, pela grande possibilidade de desenvolvimento de hipersensibilidade, o que impediria o paciente de utilizar, no futuro, um antibiótico de valor. Nos casos mais extensos, antibioticoterapia sistêmica é mandatória e cepas de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA) comunitário devem ser consideradas. SÍNDROME DA PELE ESCALDADA ESTAFILOCÓCICA: Doença bolhosa superficial produzida pela toxina esfoliativa esfoliatina do Staphylococcus aureus do grupo 2. Acomete basicamente crianças, apresentando, na maioria das vezes, curso benigno. Duas exotoxinas participam na patogênese da SSSS: toxina esfoliativa A (ETA) e toxina esfoliativa B. A infecção primária inicia-se, em geral, na conjuntiva, na nasofaringe, no ouvido, no trato urinário ou na pele, seguida de rash eritematoso escarlatiforme, mais pronunciado nas flexuras. A formação de bolhas flácidas ocorre em cerca de 24 a 48 h, de preferência nas flexuras e ao redor de orifícios, e, ao se romperem, originam extensas áreas exulceroexsudativas, de maneira que o paciente assemelha-se a um grande queimado: quadro cutâneo com febre, exantema e exulceração superficial, sendo que na periferia vê-se os retalhos da bolha. Tratamento: O paciente deve ser hospitalizado e a antibioticoterapia iniciada com a finalidade de erradicar o foco de infecção. Penicilina semissintética. O controle hidroeletrolítico deve ser rigoroso para evitar complicações. O prognóstico nas crianças é muito bom. A terapêutica local deve consistir em compressas e cremes de barreira. PERIPORITE: É a estafllococcia das glândulas sudoríparas écrinas. Atinge crianças (abscessos do lactente). Caracteriza-se por nódulos inflamatórios que supuram e abrem-se para o exterior, eliminando pus cremoso. Em geral, se sucede à miliária. Localizações frequentes são: pescoço, nádegas, tronco e coxas. p. 37 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II O tratamento consiste em evitar o calor e no uso de antibiótico tópico ou sistêmico, na dependência do caso. PITIRÍASE VERSICOLOR: Clínica: As lesões são inicialmente arredondadas, pois surgem a partir da estrutura pilossebácea; no entanto, podem confluir, tornando difícil, por vezes, diferenciar a pele sadia da pele acometida. A localização mais frequente da PV é em áreas de maior concentração de glândulas sebáceas, ou seja, na metade superior do tronco e dos braços. Entretanto, pode ocorrer na face, no abdome, nas nádegas e até mesmo nos membros inferiores. As recidivas ocorrem mais frequentemente em pacientes com peles oleosas ou que fazem uso contínuo de produtos oleosos. Em geral, as lesões são hipocrômicas descamativas, mas podem ser hipercrômicas ou eritematosas, daí o nome versicolor. Surgindo ao redor do pelo (gotada). Alguns pacientes referem prurido, sobretudo após exposição solar, quando então são eritematosas. Sinal de Zireli ou do estiramento: esticando-se distalmente a pele aparecem escamas furfuráceas. Tratamento: Tratamento: antifúngico tópico (15 a 30 dias), sendo os imidazólicos uma boa escolha. Em geral, recomenda-se novo tratamento cerca de 2 meses após, a fim de evitar recidivas, que são frequentes. Pode-se usar também AAS e enxofre para secar as lesões. Terbinafina tópica. Em casos extensos ou recidivas opta-se por medicação sistêmica associada ao tratamento tópico: o Itraconazol 100 mg, 2 vezes por 5 a 7 dias. o Fluconazol 300 mg por semana por 2 semanas. o Cetoconazol 200 mg/dia durante 10 a 15 dias. Independente da fonte tem que tratar o couro cabeludo: o Cetoconazol shampoo. O uso de bucha no banho é bastante eficaz, pois auxilia na remoção mecânica do fungo que está presente na camada córnea. Nos pacientes com recorrências frequentes, deve-se fazer profilaxia por um período de 6 meses, iniciando-se 30 dias após finalizado o tratamento. o Manter shampoo e um tópico 1 vez por semana. o Não resposta ao tópico, usar sistêmico 1 vez por mês. o Não respostas as outras opções entrar com Roacutan. p. 38 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II DERMATOFITOSE DO CORPO (TINEA CORPORIS): Lesões anulares eritematoescamosas, com bordas circinadas, isoladas ou confluentes, uma ou várias com crescimento centrífugo, de modo que a parte externa é mais ativa; por vezes pode ter aspecto concêntrico (centro evolui para cura e borda fica em atividade). 4 a 6 semanas de tratamento. Quase sempre opta-se por tratamento tópico de curto período. O prurido está sempre presente. São localizações usuais os braços, a face e o pescoço DERMATOFITOSE MARGINADA (TINEA CRURIS): Caracteriza-se por lesão eritematoescamosa. Presente na região inguino-crural e virilha (área úmida e sede de micoses). Lesões semelhantes a da corporis, porém a borda pode se apresentar com mais ondulações e reintranciais. Muito pruriginosa e, por isso, a liquenificação é frequente. Tratamento é por 6 a 8 semanas, normalmente tópico, em casos extensos usa- se tratamento sistêmico. DERMATOFITOSE DO COURO CABELUDO (TINEA CAPITIS): A dermatofitose capitis (tinea do couro cabeludo) é quase exclusiva da criança e regride espontaneamente com a puberdade. Tratamento sistêmicos são preferências, em geral usa-se Terbinafina. DOENÇAS EXANTEMÁTICAS DA INFÂNCIA SARAMPO: Doença viral exantemática aguda causada pelo Paramyxovirus. Grupo etário: o 95% dos casos em pacientes com menos de 15 anos. p. 39 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Mais da metade dos casos em paciente com menos de 5 anos. Sintomas: o Febre; o Coriza; o Tosse; o Conjuntivite; o Exantema maculopapular. Transmissão: o Secreção ocular; o Vias respiratórias; o Contato direto; o Gotículas de Flugge. Imunidade placentária: dura de 4-6 meses podendo chegar até 15 meses. Fases da doença: o Período de incubação: 9 a 12 dias assintomáticos; o Período catarral: 3 a 5 dias. Febre elevada; Sintomas oculares; Coriza; Enantema de Koplik- desaparece em 4-6 dias. Fases da doença: Período exantemático- aparece no 4º dia da doença e permanece de 6 a 7 dias. Após 36 horas que aparece Koplik: o Exantema morbiliforme. o Sinais catarrais intensificam. o Pneumonite intersticial (evolução benigna). Linfadenopatia generalizada (casos moderados ou graves). Período de convalescença: 1 a 2 semanas: o Atenuação gradativa dos exantemas e demais sintomas. o Descamação furfurácea. Tratamento: Sarampo sem complicações: o Repouso; o Antitérmicos; o Higiene copiosa; o Dieta branda; o Umidificar vias aéreas. Sarampo com complicações: o Tratar as complicações. Profilaxia de contato: Isolar os doentes até o 5º dia do exantema. Contactantes: p. 40 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Se dentro do hospital = isolamento específico para as crianças; o Não vacinados: Até 3 dias de exposição = vacinar; Após 3 dias, <1 ano e imunossuprimido = gamaglobulina 0,25 mL/Kg IM + vacinar após 3 - 6 meses Vacinados: o Se tiver tomado vacina apenas 1 vez depois dos 15 meses = revacinar. ESCARLATINA: Agente: Estreptococo beta-hemolítico do grupo A (Streptococcus pyogenes). Reação do organismo às toxinas produzidas pelo estreptococo. Doença bacteriana → faringite estreptocócica. Hipersensibilidade à toxina eritrogênica. Período de incubação: 2 a 7 dias. Incidência: 5 a 15 anos. Transmissão: Gotículas respiratórias → tosse ou espirro. Saliva → beijos ou bebidas compartilhadas. Mãos contaminadas com secreções respiratórias. Manifestações clínicas: Início brusco com febre alta. Calafrios. Vômitos. Dor abdominal. Cefaleia. Rash cutâneo: exantema inicia-se no pescoço e tronco. Dispersão craniocaudal. Mais intenso nas axilas e região inguinal. Pele áspera, em “lixa”. SINAL DE PASTIA: SINAL DE FILATOV: Exacerbação do exantema em dobras: Palidez perioral p. 41 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II DESCAMAÇÃO LAMELAR: LÍNGUA EM FRAMBOESA: Diagnóstico: Clínico. Cultura da secreção da orofaringe - Swab → acusam a presença de estreptococo beta-hemolítico. Hemograma: leucocitose, neutrofilia, eosinofilia. Prova terapêutica: melhora evidente em 24 horas após tratamento com penicilina. Tratamento: Penicilina benzatina, injeção única, via IM. Amoxicilina, 10 dias, VO. Analgésicos e antitérmicos. Complicações: Formação de abscesso na orofaringe ou infecções em outros órgãos, como pulmões, rins e coração. Meningite. Artrite. Pneumonia. Sinusite. RUBÉOLA: Sintomas: o Duas a três semanas após a exposição. o Febre baixa. o Cefaleia. o Exantema. o Adenomegalia. o Exantema: maculopapular → erupção cutânea → área vermelha e plana na pele com pápulas pequenas e confluentes. o Acometimento crânio-caudal. o Dor intensa no início das erupções. p. 42 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II o Linfadenopatia ou adenomegalia → Aumento do gânglio linfático. o Até 7 dias antes do exantema - iníciodoloroso. o Generalizada - retroauricular e occipital. o Gânglios palpáveis por semanas. Diagnóstico: Isolamento do vírus do material de nasofaringe ou da urina. Pesquisa de anticorpos da classe IgG e de IgM contra rubéola no soro. Gânglios típicos aumentados seguidos de erupções com início crânio-caudal e resolução em cerca de 3 dias. Prevenção: Tríplice viral: protege contra sarampo, caxumba e rubéola. Vacina de vírus vivo e atenuado. Todas as mulheres e homens até 49 anos também devem ser vacinados, independentemente de história pregressa da doença. DOENÇA DE KAWASAKI: Fase Clínica: Fase aguda: 1 a 2 semanas. Compreende febre e os demais critérios diagnósticos, além de achados clínicos associados, como miocardite, derrame pericárdico, meningite asséptica, artrite e/ou artralgia. Fase subaguda: 4 semanas. Inicia-se quando a febre, o rash e a linfadenopatia apresentam resolução. Ocorrem irritabilidade, anorexia, conjuntivite, descamação periungueal, trombocitose, aneurismas coronarianos. Risco de morte súbita é maior. Fase de convalescença: 6 a 8 semanas. Começa quando os sinais clínicos desaparecem e vai até a normalização da velocidade de hemossedimentação (VHS). Quadro Clínico: Sintomas principais: Febre tipicamente alta em picos e remitente, com má resposta a antipiréticos e com duração maior que 5 dias. Exantema polimorfico, sendo mais frequente o rash maculopapular ou micropapular difuso, sem vesículas e bolhas. É mais proeminente no tronco e nas extremidades. Alterações orais, sendo frequentes lábios eritematosos e fissurados, língua em framboesa e eritema difuso da orofaringe. A conjuntivite bilateral, não exsudativa. Alterações de extremidades, são observados edema do dorso de mãos e pés, eritema palmo-plantar. A partir de 10 dias, descamação laminar que se inicia na região periungueal. Linfadenopatia unilateral. p. 43 GABRIELA CARVALHO ABREU PEDIATRIA II Um achado bastante característico da DK é a irritabilidade, pode ser decorrente de cefaleia causada por meningite asséptica. Por ser um processo de vasculites sistêmica, todos os órgãos podem ser acometidos, com frequência e intensidade variadas. Alterações cardíacas: Coronarites são as lesões mais características. Podem se manifestar com simples dilatações ou com formação de sacos aneurismáticos, como estenoses e tortuosidades das coronárias. Miocardite se caracteriza por taquicardia, abafamento de bulhas, alterações no ECG. Quando grave, leva a arritmias e até morte, pode deixar sequelas. Quando ocorre acometimento valvar, a mitral é a mais acometida, mas o quadro regride com o tempo. Diagnóstico: Tratamento: Imunoglobulina Endovenosa (IGEV): Indicada nos primeiros 7 a 10 dias, para diminuir prevalência de anormalidades coronarianas e a duração dos sintomas. Infusão única de IGEV 2g/kg durante 10- 12h associado com AAS 80-100mg/kg VO. Efeitos colaterais: cefaleia, febre, calafrios, hipotensão, leucopenia, neutropenia ou proteinúria. Evolução: A maioria dos pacientes tem boa evolução e bom prognóstico. Necessário acompanhamento com ecocardiograma. Os aneurismas regridem na maior parte dos casos, mas as estenoses são progressivas. Os aneurismas gigantes e persistentes evoluem mais frequentemente com estenose. Fatores de risco para lesões cardíacas: idade acima de 8 anos e abaixo de 1 ano, sexo masculino, contagem de leucócitos superior a 15.000, níveis de PCR muito elevados, contagem de plaquetas muito baixa e níveis baixos de albumina.
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