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Responsável pelo Conteúdo: Profa. Esp. Débora Cabrera Novaes Revisão Textual: Profa. Vera Lidia de Sa Cicaroni 5 Nesta unidade vamos conhecer os conceitos de História, Educação e Pedagogia e as diversas tendências do pensamento educacional, relacionando a história de vida e o contexto histórico no qual viveram os autores estudados, para compreender a sua concepção de mundo e de educação dentro da época em que estão inseridos. Faremos também algumas indicações importantes de leitura para que você compreenda melhor o que procuramos apresentar no texto. Não deixe de fazer essas leituras, com certeza você irá achá-las bem interessantes! A Importância da História da Educação Renascimento – Reforma - Século XVI História da Educação Nesta unidade, vamos abordar os temas relacionados às concepções de História, Educação e de Pedagogia, estudando suas interdependências dentro do contexto histórico, político, econômico e social e refletindo sobre a importância de estudar a História da Educação para a formação do pedagogo Renascimento: Humanismo - Séculos XV E XVI 6 Existe apenas um tipo de Educação ou existem vários tipos de Educação? A relação entre Homem, Educação, Trabalho e História pode ser interpretada da seguinte forma: a História é a interpretação da ação transformadora do homem através do tempo; o Trabalho é a ação transformadora do homem sobre a natureza; a Educação é a ação transformadora do conhecimento. Existem vários tipos de Educação. Quando se pensa em Educação, imagina-se, em um primeiro momento, uma sala de aula com alunos e professores interagindo. É certo ou errado pensar dessa forma? O que você pensa sobre o assunto? Na realidade a Educação existe em todos os lugares e acontece a todo tempo. Ela é livre e pode ser expressa por meio de gestos, modos de agir, problematização de ideias, crenças, trabalho, família. Contemplando-a dentro de âmbito maior, verifica-se que a Educação se desenvolve de acordo com a geração e a cultura em que o indivíduo está inserido. Muitas vezes a Educação se processa associada à cultura de um povo. Antigamente a Educação era passada entre gerações através de exemplos de comportamentos e crenças que seguiam as tradições. Por exemplo: embora os índios não possuíssem escolas nas tribos, os ensinamentos dos antepassados eram transmitidos para os mais novos; por meio desse tipo de Educação o conhecimento era repassado de geração para geração. Sob esse ponto de vista, pode-se dizer que a Educação é um ponto chave dentro da produção de crenças e está intrinsecamente ligada à cultura de cada sociedade. Entretanto é preciso considerar também a existência da Educação com vistas ao desenvolvimento intelectual. Nesse caso, podemos falar sobre a Educação dada nas escolas, que é mais sistematizada, imposta por um sistema centralizador de poder, e que, muitas vezes, utiliza esse poder para controlar o saber e, assim, reforçar a desigualdade social. Fonte: http://www.reemediagoo.com 7 Conceito de Educação segundo a LDB 9394/ 96: “A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais” Examinando o assunto, é possível discutir a importância da História para a Educação e concluir que, na verdade, é a de denunciar as formas ideológicas que utilizam a Educação como instrumento de poder. É através da História da Educação que podemos analisar e questionar a realidade educacional, por meio de investigações e estudos, tornando, assim, a ação educacional mais clara e transparente. Somente agindo de forma reflexiva, criticando os valores novos e os decadentes, teremos condições para responder a questões como: ”Que tipo de homem queremos formar?” 8 O homem é feito de tempo, ou seja, o homem faz a história e é feito de história. Conhecer o homem é uma forma de situá-lo no tempo e no espaço, acompanhado de seus costumes, línguas e valores próprios do espaço e do tempo em que está inserido. A Educação deve ser concebida em um sentido mais amplo do que aquele que imaginamos. Ela está presente em vários aspectos de nossa vida, e é preciso ter ciência de que existem vários tipos de educação que atuam sobre o ser humano. Nós recebemos educação desde que nascemos, nos mais simples ensinamentos, mas ela também pode ocorrer de forma sistematizada ou intelectualizada; o importante é que sempre deverá estar de acordo com a cultura em que estamos inseridos. De acordo com Brandão, A educação pode existir livre e, entre todos, pode ser uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum, como saber, como ideia, como crença, aquilo que é comunitário, como bem, como trabalho ou como vida, é também uma geração do modo de vida dos grupos sociais. (BRANDÃO, p25) A Educação participa do processo de produção de crenças e ideias, envolvendo as trocas e contribuindo para a formação dos grupos sociais. Fonte: http\\.www.fotofree.com 9 Pedagogia É a ação do homem quando ele transmite ou modifica a herança cultural de forma crítica, ou seja, a pedagogia pode ser entendida como uma teoria crítica da Educação. História História é uma palavra de origem grega, que significa investigação, informação. “A história é um profeta com o olhar voltado para trás: pelo que foi e contra o que foi, anuncia o que será”. (Eduardo Galeano) O primeiro recurso de que a História se valeu para explicar fatos e os aspectos gerais da condição humana foi o mito, relato simbólico transmitido pela tradição oral. Por exemplo: nas sociedades tribais da África, não existiam investigações e o conceito de História era apenas passado de geração para geração, dentro de um mesmo contexto. Eles acreditavam que os fenômenos eram criação dos mitos, atribuída a deuses. Assim como os índios, acreditavam e cultuavam os seus deuses, entre eles o Sol, a Lua, o trovão, etc. As crianças, nessas sociedades, aprendiam imitando o comportamento dos adultos nas atividades diárias e nas cerimônias dos rituais. Para esses povos, os acontecimentos da vida da comunidade não eram significativos, porque eles relacionavam o passado aos tempos primordiais, em que os deuses realizavam seus feitos extraordinários. Vendo por esse olhar, fazer história é recontar os mitos. Nessas sociedades os adultos ocupavam-se da caça e da pesca, do pastoreio e da agricultura, e as crianças aprendiam “para a vida e por meio da vida”, sem que houvesse alguém destinado a ensiná-las, pois o saber era universal e todos os membros da tribo tinham o mesmo conhecimento. 10 O homem primitivo era guerreiro por sua natureza, e daí decorriam os valores apreciados pela comunidade e que eram objetos da educação. Com as transformações ocorridas nas tribos, como a invenção dos barcos, por exemplo, surgia a necessidade de certa especialização, pois a construção de um barco implicava em conhecimentos não adquiridos pela e em sociedade. Dessa forma foi preciso que alguém aprendesse a construir esse barco. Assim, o saber passou a não ser mais universal, mas,sim, um privilégio de quem aprendeu a construir o barco. Os gregos também acreditavam na concepção dos deuses como criadores e condutores do destino do homem. Na sociedade grega cultivavam-se diversas religiões. Para melhor entender a história da Grécia, ela pode ser dividida em quatro períodos. 1- Tempos Homéricos (Séc. XII ao VIII a. C.) Aristocracia proprietária de terras; Sistema escravista. 2- Período Arcaico (Séc. VIII e VI a. C.) Período marcado pela aparição da filosofia, que surge como uma forma de problematizar e discutir a realidade, e não questioná-la através do mito, “Deuses”. Sócrates Os principais filósofos : Sócrates, Platão e Aristóteles. Surgimento das cidades-estados, também denominadas “Polis”. 10% da população participavam da democracia. Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:Socrates _Louvre.jpg 11 3- Período Clássico (Séc. IV e V a.c) Apogeu da civilização Grega; Surgimento da Escrita e da Escola; Criação da arte e da literatura; Surgimento dos sofistas – denominados professores da sabedoria, que, por exigirem remuneração para ensinar, não eram bem vistos pelos filósofos. 4- Período Helenístico (Séc. III e II a.c) Junção entre Grécia e Roma; Apropriação, pelos romanos, do território e da cultura grega após a morte de Alexandre, em 323 a.C.; Conhecimentos como gramática, filosofia, geometria, aritmética, música são passados como educação. A Pedagogia Grega e a Concepção de Educação para os Filósofos O termo “pedagogo”, de origem grega, tem a seguinte explicação etimológica: Paidagogos Pai (criança), dagogos (conduzir) Refere-se ao escravo que acompanhava a criança à escola. A educação grega estava voltada, em um primeiro momento, para o desenvolvimento do belo, para a formação do indivíduo de acordo com o ideal de beleza, priorizando a educação física direcionada para os esportes. Com a aparição dos filósofos, surgiram alguns questionamentos sobre a existência humana. Após se descobrir que o homem seria capaz de projetar o seu próprio destino, a preocupação voltou-se para a formação desse homem. 12 Os filósofos gregos pensavam em algumas questões importantes sobre a Educação. Sócrates, por exemplo, questionava os seguintes aspectos: O que é melhor ensinar? Como é melhor ensinar? Para que ensinar? Para Sócrates, a sabedoria começava com o reconhecimento da própria ignorância, e isso ele reflete na sua famosa frase: “Só sei que nada sei.” Sócrates não deixou nenhuma obra escrita; quem escreveu sua trajetória foi Platão, seu amigo e discípulo. Sócrates acreditava que, para absorver o conhecimento, seria necessário definir rigorosamente o que se fala, através dos conceitos. Exemplo: para se compreender o enunciado “Diante dos atos de coragem”, é preciso descobrir o que é coragem, e, quando isso se dá, chegamos à definição do seu conceito; só, então, compreendemos o seu significado. Para ele, a Educação deve estar voltada para a vida moral; o diálogo; a capacidade de pensar; a análise do conteúdo. Já Platão acreditava que a educação não serviria apenas se alcançar o conhecimento de fora para dentro, mas também para despertar, no indivíduo, o que ele já sabia. Para Aristóteles, a Educação tinha a finalidade de ajudar o homem a alcançar a plenitude e a realização do seu ser; ele acreditava que o elemento essencial para se desenvolver a Educação devia estar na natureza, no hábito e na razão. Com base nessa reflexão, os gregos descobriram a especificação histórica e iniciaram um processo no qual pensavam em escrever somente o que achavam ser verdade. 13 A história passou a ser vista como mestra da vida, levando os homens a compreenderem o seu próprio destino, ou seja, o homem era entendido como resultado da produção da sua própria cultura. “O homem se insere no tempo: o presente humano não se esgota na ação que realiza, mas adquire sentido pelo passado e pelo futuro”. (Aranha, 1996) Em 323 a.C., os romanos apropriaram-se do território e da cultura grega. Vamos entender como foi esse processo. A Educação Romana A história de Roma pode ser dividida em três períodos políticos: Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Colosseum_in_Rome,_Italy_-_April_2007.jpg 14 1- Realeza (de 753 a 509 a.C.) Desenvolvimento do comércio; Realeza em que os reis tinham uma vida mais rural; Substituição da posse de terra pela propriedade privada e surgimento da divisão de classes (plebeus e aristocratas); Aristocracia de nascimento denominada (patrícios); Aristocracia determinada pela riqueza, através do enriquecimento dos plebeus. Os plebeus eram os camponeses, comerciantes, artesãos. 2- República (de 509 a 27 a. C.) Os patrícios no comando de cargos políticos; O enriquecimento da plebe; A criação das escolas elementares, que recebiam as crianças dos 7 aos 12 anos; Educação mais moral que intelectual; 3- Império (de 27 a.C. a 476 d.C.) Desenvolvimento cultural e urbano; No século I a. C., estímulo à criação de escolas municipais em todo o Império, por iniciativa do Estado. Aparição do cristianismo, destinado apenas aos escravos e plebeus; Em 313, permissão para o culto ao cristianismo; Final do séc. IV, estabelecimento do cristianismo como religião oficial; Educação no Império: privilégio da elite dominante; Objetivo do conhecimento estabelecido: dar respostas a questões práticas da sociedade; Educação heróico–patrícia: preparação do guerreiro, aos 16 anos, com o encaminhamento do jovem para a formação militar ou política; Decadência do Império. 15 Idade Média Fonte: http://openphoto.net A FORMAÇÃO DO HOMEM DE FÉ Com a decadência do Império, a religião passou a predominar, exercendo influência política e espiritual Período de mil anos (de 476 a 1453); Alta Idade Média (período em que surge à formação religiosa e começa existir a razão); Baixa Idade Média (burgueses viviam nas cidades, chamadas “burgos”, denominação da qual se origina o termo “burguês”, que significa o homem da cidade); O escravismo e o feudalismo; Predomínio da agricultura e do artesanato; A Sociedade: na Idade Média, a nobreza era composta por Marqueses, Condes, Viscondes, Barões e Cavalheiros; 16 A Educação Os monges eram os únicos letrados; foram eles os responsáveis pelas traduções das obras gregas, que foram escondidas pela Igreja. Para os Servos, destinava-se uma formação cristã, com base na poesia, história e música. A Pedagogia e a Religião Filosofia dos padres da Igreja, que perdurou do séc. II ao V. Duas filosofias predominaram nesse período: a Filosofia “Patrística” e a Filosofia “Escolástica”. A Filosofia “Patrística” é a filosofia elaborada pelos padres da Igreja. A Pedagogia era traduzida através da religião, formando os homens iluminados, ou seja, os bons cristãos. A educação surgiu com um único fundamento: o da salvação da alma para a vida eterna. A principal figura desse período foi Santo Agostinho (354-430). Para Santo Agostinho, o saber não é transmitido ao aluno, pois a verdade é uma experiência que não vem do exterior, mas sim de dentro de cada um. Toda educação é uma autoeducação, possibilitada pela iluminação divina. A Filosofia “Escolástica”: escolas cristãs - do séc. IXa XIV. O termo “escolástico” vem de “escola”, “autoridade – Papa”. Era o início do período das trevas. A Escolástica é a mais alta expressão da filosofia cristã medieval. O método escolástico era constituído por: leitura, comentários, questões, discussões sobre o livro sagrado: a “Bíblia”. 17 “Os parâmetros de educação na Idade Média se fundam na concepção do homem como criatura divina, de passagem pela Terra e que devem cuidar, em primeiro lugar, da salvação da alma e da vida eterna” (Arruda, 1996, p. 73). A principal figura deste período foi São Tomás de Aquino (1225 -1274). Para ele, a Educação é uma atividade que torna realidade aquilo que é potencial, processo que o próprio educando desenvolve com o auxílio do mestre, atualizando as suas próprias potencialidades. RENASCIMENTO – REFORMA - Século XVI O espírito renovador manifesta-se, na religião, através de Martinho Lutero (1483- 1546), e faz surgir, na Alemanha, a Reforma Protestante, com ideais de mudanças. Martinho Lutero (1483-1546) nasceu em uma modesta família de mineradores, seguiu seus estudos religiosos num mosteiro agostiniano, porém, em uma viagem à Itália, em 1510, ficou impressionado com a corrupção dominante nas esferas de poder do clero. A repugnância por tudo o que viu fê-lo afastar-se da Igreja Católica. Em 1517, publicou 95 teses sobre os abusos e as pretensões da Igreja oficial, iniciando uma tormentosa relação com Roma. A Reforma valorizava a religiosidade interior e o princípio da liberdade de leitura do texto sagrado, resultando, para todo cristão, a posse de instrumentos elementares de cultura e a necessidade de difundir essa posse em nível popular. O objetivo era o de estabelecer um vínculo direto entre Deus e o fiel. Em sua base, havia certa aversão pela hierarquia eclesiástica, considerada responsável pela desordem disciplinar e pela corrupção que dominava a Igreja em Roma; Martinho Lutero recebia o apoio dos nobres que estavam interessados no confisco do clero. 18 A Educação tornou-se importante instrumento para a divulgação da Reforma. Lutero priorizou a gratuidade da instrução para todos, defendendo uma educação pública, sob responsabilidade do Estado. Propunha uma Educação através de jogos, exercícios físicos, música (seus corais tornaram-se famosos), e recomendava o estudo da matemática e da história além de valorizar a literatura. “Se não existissem nem a alma nem o Paraíso nem o Inferno, e ainda se não se deve levar em consideração apenas as questões temporais, haveria igualmente necessidade de boas escolas masculinas e femininas, e isso para poder dispor de homens capazes de governar bem e mulheres em condições de conduzir bem suas casas.” (Martinho Lutero) Para Lutero, a lei de Deus não podia ser mantida através de punhos e armas, mas apenas com a cabeça e com os livros. Contra-Reforma Com a ruptura realizada pelos protestantes, mais precisamente por Martinho Lutero, a Igreja Católica procurou meios para reverter o quadro, pois estava perdendo os seus fiéis. Através de uma eleição, o Papa Paulo III Farnese convocou um concílio, chamado Concílio de Trento (1546-1563), com o intento de dar corpo às reivindicações. Esse Concílio reafirmava os princípios da fé e a supremacia Papal e determinava a criação de seminários para formar padres. O Concílio procurou determinar alguns pontos essenciais para a Igreja, como estudos bíblicos e teológico-filosóficos, com o objetivo de desenvolver as ordens religiosas. O objetivo era frear o avanço da heresia protestante e propagar a religião católica nos países do Novo Mundo. 19 Esse movimento teve grande influência tanto cultural quanto pedagógica, pois a Igreja passou a dar importância não só à educação eclesiástica, mas também à educação dos jovens descendentes dos grupos dirigentes. O elemento mais importante da Pedagogia, na Contrarreforma, foi a proliferação de modelos de colégios e internatos espalhados pelo mundo. As ordens iniciaram com 144 e chegaram a 1749 colégios. Em 1534, foi fundada a Companhia de Jesus, por Inácio de Loyola (1491-1556), um militar espanhol que, ao recuperar-se de um ferimento ocasionado em uma batalha, colocou- se a serviço da fé. A Pedagogia dos Jesuítas estava voltada ao preparo rigoroso da mente (memorização) e direcionava a formação para o magistério através de manuais, normas e informações bibliográficas. Em 1550, foi fundado o Colégio Romano, para a formação do mestre. O resultado dessa experiência definiu-se através do documento “Organização dos Planos de estudos”, chamado Ratio Studiorum. Um trecho desse documento mostra o manual de regras: “Repetições em casa. Todos os dias, exceto os sábados, os dias feriados e os festivos, designe uma hora de repetição aos nossos escolásticos para que assim se exercitem as inteligências e melhor se esclareçam as dificuldades ocorrentes. Assim um ou dois sejam avisados com antecedência para repetir a lição de memória, mas só por um quarto de hora; em seguida um ou dois formulem objeções e outros tantos respondam; se ainda sobrar tempo, proponham-se dúvidas. E para que sobre, procure o professor”. (Franca, 1952, p.145). Não davam importância à história, à geografia e à matemática, pois consideravam ciências vãs. 20 “Exclui-se da educação os conhecimentos históricos e os científicos, a menos que a história fosse deturpada de tal forma que ficasse irreconhecível ou a ciência fosse tão superficial, que mais parecesse uma brincadeira de salão”. (PONCE) Do fim do século XVI até o início do século XVIII, ninguém se atreveu a discordar da Companhia de Jesus. Em 1549, através de Manuel da Nóbrega, a Companhia de Jesus chegou a Salvador com o objetivo de criar a escola de ler e escrever, promover a catequese dos índios e propiciar educação aos filhos de colonos e formação de novos sacerdotes e da elite intelectual. Por interesses políticos, os jesuítas foram expulsos de vários países, e o Papa Clemente XIV extinguiu a Companhia de Jesus em 1773. O Sistema educacional sofreu uma desestabilização, porque os jesuítas possuíam muitos colégios. RENASCIMENTO: HUMANISMO - Séculos XV e XVI Época de transição – educação, religião, ciência, produção filosófica A Renascença europeia foi o período compreendido entre os séculos XV e XVI e tem esse nome por representar a retomada dos valores greco-romanos. Houve uma retomada das fontes da cultura grega, sem a intermediação dos comentadores da Igreja. A curiosidade era aguçada para a observação direta dos fatos, com redobrado interesse pelo corpo e pela natureza. Foram ampliados os conhecimentos da anatomia, na medicina, com a prática da dissecação de cadáveres humanos, até então proibida pela Igreja. 21 Intensificou-se a criação nas artes em geral, como pintura, arquitetura, escultura e literatura. A Itália destacou-se como centro da nova produção cultural. Esse período da história distinguiu-se pela busca da individualidade, caracterizada pelo poder da razão de cada um para estabelecer seu próprio caminho. O homem foi buscar, na ciência, a explicação para a sua existência, buscando fundamento em uma cultura mais rica de conhecimentos, acesso à qual, na Idade Média, lhe foi negado. A educação procurou bases não religiosas, a fim de se tornar instrumento adequado para a difusão dos valores burgueses. Dentro do movimento humanístico destacam-se: Juan Luis Vives (1492-1540) - Humanista espanhol, que lecionou na Universidade de Oxford e escreveu uma copiosa obra pedagógica. Seu principaltrabalho foi o Tratado do Ensino. Embora tivesse escrito sobre a educação da mulher, considerava fundamental sua presença no lar. Recomendava o cuidado com o corpo e a atenção com o aspecto psicológico no ensino. Reconhecia a importância da observação dos fatos e da ação como meio de aprendizagem Erasmo de Rotterdam (1467-1536) - De origem holandesa, apesar de ser cristão pertencente à ordem dos Agostinianos, criticou severamente a Igreja corrupta e autoritária. Erasmo buscou, nos clássicos, as fontes da sabedoria grega, embora não desprezasse a ciência. 22 Defendia o respeito e o amadurecimento da criança e por isso criticava a educação vigente, excessivamente severa. Recomendava o cuidado com a graduação do ensino e o abandono das práticas de castigos corporais. Para Erasmo, as crianças deveriam aprender se divertindo, sem a preocupação com resultados imediatos. François Rabelais (1494-1553) - Frade beneditino e médico francês. Buscou resgatar o saber greco-latino, com igual cuidado pelos estudos da ciência, e criticou a tradição escolástica de maneira irônica e saborosa. Rabelais não escreveu uma obra propriamente pedagógica, mas, nos romances satíricos Gargantua e Pantagruel, deixou transparecer suas ideias a respeito da Educação. Michel de Montaigne (1533-1592) - Nasceu no castelo de Montaigne, propriedade da sua família; pertencia a uma família francesa da burguesia enriquecida com a posse de terras e propriedades, conseguindo, assim, um título de nobreza. Montaigne lia com facilidade as obras latinas. Ao descrever a si próprio e refletir sobre suas experiências, traçou o perfil da natureza humana, apresentando o homem com suas interrogações, dúvidas e contradições, o que encaminhou seu pensamento para certo ceticismo. Ceticismo é uma doutrina segundo a qual o homem nada pode conhecer com certeza; os céticos concluem pela suspensão do juízo e pela dúvida permanente. “Só nos esforçamos por guarnecer a memória, deixando de lado, e vazios, juízo e consciência. Assim como os pássaros vão, às vezes, em busca de grão que trazem aos filhotes sem sequer sentir-lhe o gosto, vão nossos mestres pilhando a ciência nos livros e a trazendo na ponta da língua tão somente para vomitá-la e lançá-la ao vento. Tudo se submeterá ao exame da criança e nada se lhe enfiará na cabeça por simples autoridade e crédito”. (Montaigne, 1972. p. 71-78) Pode-se perceber, em seu trabalho, a defesa de uma vida laica, diferente do que ensinavam os monges da Idade Média. Na esfera da Educação, Montaigne critica o trabalho com a memória. 23 A Importância da História da Educação Através dessa visão histórica, foi possível verificar que a trajetória da Educação passa por vários contextos, em sua maioria relacionados com a política do período em que estão inseridos, portanto uma das principais ideias, ao se estudar a história da Educação, é situá-la dentro dos períodos históricos, para que se possa entender o processo educacional, uma vez que este sempre se vincula à política de cada período. Sendo assim podemos dizer que a Educação é um ato político, porque é intencional. Como exemplo, podemos mencionar como o tema da abolição dos escravos foi tratado em diferentes períodos. Durante muito tempo, a escola tradicional ensinou que a abolição dos escravos foi fruto da ação dos abolicionistas (geralmente brancos) que culminou com a assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888, pela qual a princesa Isabel outorga a liberdade aos negros. Não havia nenhuma menção à ação de Zumbi e de seus companheiros nos Quilombos dos Palmares, nem a centenas de outros gestos de rebeldia que desapareceram da memória do país como “irrelevantes”. Hoje esse quadro já foi revisto e Zumbi está presente em muitos livros didáticos. O objetivo é justamente este: que façamos uma reflexão crítica desse ensino histórico, 24 A importância da HISTÓRIA para a Educação é a de denunciar as formas ideológicas que utilizam a Educação como instrumento de poder. Dessa forma, podemos levantar questionamentos e elaborar análises da realidade educacional, por meio de investigações, tornando, assim, a ação educacional mais clara. A história nos traz o conhecimento dos fatos antigos e dos novos, dando-nos ferramentas para que a ideia de uma educação inovadora não fique apenas no papel, não seja apenas uma intenção e, sim, uma reforma concreta para a educação atual. A importância do estudo da história, para o pedagogo, está justamente na identificação dessas fases, para que se possa entender os fatos ocorridos no passado e como eles afetam o nosso presente, e, através desse entendimento, aprender o que é possível fazer no sentido de contribuir para que, no futuro, possamos ter a Educação tão sonhada por todos, que vise a uma transformação social. O estudo da História da Educação implica na investigação de ordem econômica, política e social do país, pois é dessa forma que vamos compreender a problemática educacional. 25 A bibliografia e os filmes indicados nesta unidade auxiliarão no entendimento dos temas abordados. É importante que a leitura da bibliografia indicada seja da obra original. Indicação de leitura: capítulo I: “Educação, educações aprender com o índio”. In: BRANDÃO. C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2005. Bibliografia: BRANDÃO. C. R. O que é educação. São Paulo: Brasiliense, 2005. NEGRÃO, Ana Maria, M. O método pedagógico dos jesuítas: o Ratio Studiorum. Rev. Bras. Educ., Ago 2000, no.14, p.154-157. ISSN 1413-2478. Disponível em: http://ref.scielo.org/fx28mb Filmografia: 1- O nome da Rosa. Disponível em: http://www.youtube.com/user/stelaup 2- Martinho Lutero. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=eezenm7Tlps 26 ARANHA, M.L. A história da educação e da pedagogia: Geral e Brasil. 3.ed. São Paulo: Moderna, 2006. BRANDÃO. C. R. O que é educação. 5ª ed. São Paulo: Brasiliense, 2005. CAMBI, F. História da pedagogia. São Paulo: UNESP, 1999. FRANCA S.J., Leonel. O método pedagógico dos jesuítas: o "Ratio Studiorum": Introdução e Tradução. Rio de Janeiro: Livraria Agir Editora, 1952. PONCE, A. A educação do homem burguês In Educação e Luta de classes. 20ª ed. São Paulo: Corte, 2003. p. 113-149. 27 _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ _________________________________________________________________________________ 28
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