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GARANTIA DOS DIREITOS DAS CRIANÇAS NO MUNICÍPIO DE BELÉM PA

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UMA ANÁLISE DA GARANTIA DOS DIREITOS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES NO 
MUNICÍPIO DE BELÉM-PA 
 
 
RESUMO: 
 
A presente pesquisa teve como objetivo principal realizar uma análise das ações desenvolvidas pela 
FASEPA e SDSDH/DDCA- PMB-PA e compreender como as mesmas atendem ao princípio da 
proteção e garantia de direitos desses sujeitos no município de Belém. Como instrumentos de coleta 
de dados empíricos foram construídas entrevistas semiestruturadas, pensando nos sujeitos 
diretamente envolvidos nas execuções das políticas públicas implementadas. O percurso 
metodológico da pesquisa foi estabelecido em três etapas. A primeira classifica-se como 
exploratória, na direção de um dos objetivos específicos do projeto: Foi realizada uma pesquisa 
bibliográfica-documental sobre o objeto de estudo, que se constitui em espaço de atuação 
profissional do Serviço Social, as políticas públicas e a garantia de direitos da criança e 
adolescentes na forma legal e em seguida procederam-se as sistematizações do conteúdo. Na 
segunda foram realizadas as entrevistas semiestruturadas, a sistematização e o início das análises. A 
pesquisa encontra-se em sua 3ª etapa e os resultados obtidos permitem o alcance parcial de um dos 
objetivos específicos proposto no projeto de pesquisa: Identificar as ações exitosas desenvolvidas 
nas duas Instituições Governamentais. É importante salientar que, embora haja uma grande 
mobilização por parte dos profissionais para cumprir a demanda de trabalho, observou-se no 
decorrer da pesquisa que existem vários entraves os quais dificultam a efetivação satisfatória de 
acordo com o que é programado. Entre eles se destacam: A pouca mão de obra designada a 
realização das ações práticas; dificuldade em conseguir multiplicadores para as ações nos espaços 
físicos (locais) onde são feitas as atividades de sensibilização. 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: Princípio da proteção, Políticas públicas, Garantia de direitos, 
Sensibilização. 
 
 
 
 
 
 
 
 
A REVIEW OF THE GUARANTEE OF THE RIGHTS OF CHILDREN AND 
ADOLESCENTS IN THE CITY OF BELÉM-PA 
 
 
 
 
 
ABSTRACT: 
 
 
 
The present study aimed to carry out an analysis of the actions developed by FASEPA and 
SDSDH/BIJ PMB--PA and understand how they meet the principle of the protection and guarantee 
of rights for these subjects in the city of Belém. Data collection instruments of empirical data were 
constructed structured interviews, thinking on the subjects directly involved in the execution of 
public policies implemented. The methodology of the survey was established in three steps. The 
first to be classified as exploratory, in the direction of one of the specific project objectives: We 
conducted a survey of the literature-documentary about the object of study, which is in an area of 
professional activity of Social Service, public policies and the guarantee of the rights of children 
and adolescents in a legal manner and then proceeded to the systematizations of content. In the 
second were made the semi-structured interviews, the systematization and the beginning of the 
analysis. The survey is in its 3rd stage and the results obtained allow the partial scope one of the 
specific objectives proposed in the research project: Identify the actions successful developed in 
two government institutions. It is important to stress that, although there is a huge mobilisation on 
the part of professionals to meet the demand for labor, it was observed during the study that there 
are various obstacles which hinder the realization is satisfactory in accordance with what is 
programd. Among them are: The lack of labor assigned to carry out the practical actions; difficulty 
in getting multipliers for the actions in physical spaces (locations) where they are made the 
activities to raise awareness. 
 
 
 
 
 
KEYWORD: Principle of the protection, Public policies, Guarantee of rights, Awareness. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
Este trabalho é resultado parcial da pesquisa que teve como objetivo principal realizar uma 
análise das ações desenvolvidas no atendimento à criança e ao adolescente em Instituições Publicas 
e Privadas, mais especificamente pela Fundação de Atendimento Socioeducativo do Estado do Pará 
(FASEPA) e Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos / Divisão dos Direitos da 
Criança e do Adolescente da Prefeitura Municipal de Belém do Pará (SDSDH/DDCA- PMB-PA), a 
fim de compreender como as mesmas atendem ao princípio da proteção e garantia de direitos desses 
sujeitos no município de Belém , Estado do Para. Buscamos conhecer a estrutura da política 
estadual e municipal, os planos, os programas, as ações das instituições públicas com recorte na 
Secretaria de Assistência Social e das instituições privadas que são cadastradas no Conselho 
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (COMDAC), criado pela Lei nº 8.155 de 
22.07.2002 na gestão do então Prefeito Augusto Resende, que dispõe sobre a Política Municipal dos 
Direitos da Criança e do Adolescente em Belém do Pará. 
 Inicialmente, no estudo bibliográfico, com a leitura de autores que tratam sobre a assistência 
e proteção à infância no Brasil, percebemos que a infância brasileira foi tardiamente reconhecida. 
Até o final do século XIX o atendimento à infância era realizado principalmente pela Igreja ou 
através de ações de caridade. Ao final do século XIX e início do século XX, reflexões referentes às 
condições da infância são discutidas em meio aos juristas, médicos e advogados. Os discursos 
foram fundamentados na nova ordem republicana que acreditava que o cuidado para com a infância 
seria uma das formas de mudar a ordem social e alcançar um projeto de civilização desejado a 
nação brasileira. 
 No decorrer do século XX, houve intervenções do Estado com a constituição de novas leis e 
políticas sociais voltadas ao amparo do “menor”, com instituições de acolhimento e recolhimento. 
O atendimento era focalizado na formação para o trabalho, pois o mundo laboral seria a única forma 
de salvaguardar estas crianças nas concepções vigentes. Em 1988 se instituiu a nova Constituição 
Federal de 1988 (CF/88), no qual os direitos da criança e do adolescente também são assegurados. 
Só a partir da CF /88 e da regulamentação do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 
(ECA/90), a legislação reconhece à criança como cidadão assegurando os direitos fundamentais que 
concedidos ao seu desenvolvimento, tornando-se prioridade nas ações da União, do Estado e do 
Município. 
 Foi fundamental neste período de mudanças paradigmática a participação das organizações 
 
 
em defesa do direito da infância, contribuindo para que a Nova Constituição assegurasse os direitos 
da criança e do adolescente. A implementação das políticas sociais para o atendimento à Criança e 
ao Adolescente foi marcada por articulações e histórias de lutas em defesa da infância, que 
continuam até os dias de hoje, vinte e sete (27) anos após o ECA. 
 
2. DISPOSIÇÃO DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES NOS DISTRITOS 
ADMINISTRATIVOS 
 
O Município de Belém, também foi marcado por muitas lutas e organizações dos 
movimentos sociais e de organizações não governamentais (ONG’s) que se destacaram em defesa 
deste público, antes e pós Estatuto. Hoje o sistema de garantia de direitos no município é 
constituído do Conselho Municipal de Direitos Humanos, Conselhos Tutelares, instituições públicas 
e privadas, com um amplo e complexo serviço de proteção social. A composição do COMDAC se 
faz de forma paritária e atualmente está composta por 12 entidades registradas no atendimento à 
criança e ao adolescente.
A cidade de Belém (PA) é oficialmente dividido em 71 bairros distribuídos por oito (8) 
Distritos Administrativos (DA), por onde a Prefeitura de Belém destina as diretrizes do 
planejamento para a cidade em geral: O Distrito Administrativo de Belém (DABEL) engloba 8 
bairros e o norte da Cremação, estando no Sudoeste de Belém, em que estes representam juntos a 
área mais valorizada da cidade, devido a concentração e a complexidade de serviços (Restaurantes, 
supermercados, farmácias, hospitais, shoppings, escolas, etc), representando o centro da cidade com 
grande concentração de famílias de classe média e alta, onde a verticalização e o custo de vida é 
elevado, assim como também é responsável pela maior agitação da vida noturna de Belém. 
O Distrito Administrativo do Guamá (DAGUA) engloba 6 bairros da cidade e parte de 
alguns bairros do DABEL, onde estes estão entre os mais populosos da cidade. Uma parte 
significativa da população dessa área é de baixa renda, onde há diversas áreas de ocupação 
espontânea ou Aglomerados Subnormais (IBGE, 2010), principalmente ao longo das principais 
avenidas, como a Bernado Sayão, Perimetral e Cipriano Santos, sendo acompanhada com a carência 
de saneamento básico (tratamento de esgoto doméstico e água canalizada potável), culminando na 
frequência de doenças relacionados a transmissão pela água. 
O Distrito Administrativo da Sacramenta (DASAC) engloba 7 bairros e está no Sudoeste de 
Belém. A maior parte destes está na microbacia hidrográfica do Una, sendo entrecortado por 
 
 
diversos afluentes da Baía de Guajará. É uma área que também possui um índice de violência 
relativamente alto, mais acentuado nos bairros do Barreiro e Sacramenta. A área mais próxima do 
DABEL (Telégrafo/Fátima/Sacramenta/Pedreira) começou a experimentar uma intervenção mais 
acentuada pela Prefeitura nos anos 80, através do Projeto Macrodrenagem, proporcionando uma 
redução dos alagamentos, mas que não contemplou todos os bairros. 
O Distrito Administrativo do Entroncamento (DAENT) engloba 9 bairros e está na porção 
centro-oeste de Belém. Esta corresponde uma área de expansão da cidade através da avenida 
Augusto Montenegro e da BR-316, com elevado crescimento demográfico principalmente dos 
bairros Águas Lindas, Aurá, Guanabara e Mangueirão. 
O Distrito Administrativo do Bengui (DABEN) é constituído por 7 bairros, estando no 
noroeste da cidade. A maior parte deles são de classe baixa, com grandes extensões de aglomerados 
subnormais (IBGE, 2010). Porém, dois bairros têm tido destaque no cenário imobiliário e 
consequentemente valorização espacial: Parque Verde e Coqueiro. Estes representam juntos, a 
principal área de expansão da cidade, através de instalação edifícios de médio-alto padrão, 
condomínios fechados, shopping center, supermercados, entre outros, localizados essencialmente na 
Av. Augusto Montenegro e nas redondezas da Av. Independência. 
O Distrito Administrativo de Icoaraci (DAICO) engloba os seguintes bairros: Agulha, Águas 
Negras, Maracacuera, Paracuri, Tenoné, Cruzeiro e Ponta Grossa, todos pertencentes ao chamado 
Distrito de Icoaraci, uma área de ocupação humana remota, que busca a sua autonomia em relação 
ao município de Belém. É caracterizado por bairros de classe baixa, com grande concentração de 
"aglomerados subnormais (IBGE, 2010). Possui uma orla com serviços de alimentação e vestuário 
em geral, assim como tendo indústrias relacionadas a pesca e madeira, sendo famoso no artesanato 
em cerâmica indígena. 
O Distrito Administrativo de Outeiro (DAOUT) engloba os seguintes bairros: Água Boa, 
Itaiteua, Brasília e São João do Outeiro, assim como ilhas na baía de Guajará. É conhecida como 
ilha de Caratateua, no qual as suas praias representam o seu potencial turístico, notadamente nas 
férias de julho, quando sua população chega a quintuplicar. 
O Distrito Administrativo de Mosqueiro (DAMOS) engloba os seguintes bairros: Vila, 
Aeroporto, Maracajá, Natal do Murubira, Praia Grande, Farol, Bonfim, Ariramba, Marahu, 
Mangueiras, São Francisco, Carananduba, Sucurijuquara, Caruara, Baía do Sol e Paraíso. É uma 
ilha fluvial a 70 km do centro de Belém, no qual o seu acesso se dá através da uma rodovia estadual 
 
 
pelo município de Benevides, sendo muito movimentada por causa de seus 17 km de praia de água 
doce, com boa infraestrutura e fácil acesso. 
 
 
Figura 01. Mapa dos Distritos Administrativos de Belém/PA 
 
 
Fonte // Autores: ftp://geoftp.ibge.gov.br/malhas_digitais/ 
 
 
Verificou-se no DAGUA, região mais populosa da cidade, os dados mais excludentes no 
decorrer da pesquisa em campo, já que a maioria das crianças que estão em situação de rua vivem 
neste DA, aproximadamente 57% dessa população. A realidade da cidade de Belém é marcada pelas 
desigualdades sociais históricas, sendo uma das capitais que possui o maior índice de concentração 
de renda. Existem bairros em Belém que o IDH compara-se com da Austrália, país com 0,935 em 
2014 o mais alto índice no Relatório da ONU. Por outro lado, alguns bairros possuem IDH 
comparado ao do Paraguai com 0,679 em 2014. 
 Com a segunda parte do trabalho concluído foi possível conhecer a estrutura parcial das 
políticas sociais de proteção e de garantia dos direitos das crianças e dos adolescentes no município. 
Identificamos as ações realizadas na Secretaria de Assistência Social e das instituições privadas 
registradas no Conselho de Direitos Humanos, bem como as políticas implementadas e os planos 
existentes no município. Portanto, este trabalho foi fundamental para poder aproximar da realidade 
do atendimento à criança e ao adolescente no Estado e Município, os seus avanços e retrocessos, no 
sistema de garantia de direitos. 
 
3. A “DOUTRINA DA PROTEÇÃO INTEGRAL” CONSIDERA A CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE SUJEITOS DE DIREITOS, E NÃO MAIS OBJETO DE PROTEÇÃO 
PERANTE A LEI 
 
A inspiração de reconhecer proteção especial para a criança e o adolescente não é nova. Já a 
Declaração de Genebra de 1924 determinava a necessidade de proporcionar à criança uma proteção 
especial. 
Os direitos humanos é a dignidade do indivíduo, independentemente do seu pertencimento a 
uma nacionalidade específica. Quando falamos em direitos inalienáveis, estamos reconhecendo que 
os direitos não são atrelados à nacionalidade. 
Como Piovesan (1998) declarou: Uma indicação direta, disso é a crença de que os governos 
que historicamente privaram grupos inteiros de seus direitos, em primeiro lugar, negaram a 
humanidade e, em seguida, a sua cidadania social. 
Uma das barreiras enfrentadas pelas crianças foi a percepção de que estas eram seres 
humanos comparativamente inferiores, e que a elas poderiam ser negados direitos fundamentais até 
atingirem a maturidade, período no qual obteriam o status de seres humanos completos. A rejeição 
ao pensamento de que as crianças são desprovidas de certos direitos veio se aperfeiçoando ao longo 
 
 
dos tempos, em especial a partir da Declaração dos Direitos da Criança, em 1924, tendo sido 
eliminada por completo na Convenção dos Direitos de Criança em 1989. 
Outro autor que refletiu sobre os direitos das crianças foi Barroso Filho (2011) que afirmou 
que: [...] Os tratados sobre direitos humanos, incluindo-se a Convenção, têm sido questionados por 
refletir uma percepção ocidental a respeito das leis, negligenciando a riqueza legal e cultural de 
tradições não ocidentais. Embora se possa concordar em parte com essa ressalva, é importante 
assinalar que os tratados multilaterais sobre direitos humanos foram delineados por representantes 
oficiais dos distintos países, assim como por inúmeras organizações não governamentais. Além 
disso, ao longo do processo de criação desses
tratados, são oferecidos oportunidades para que os 
participantes se manifestem. 
Dessa forma, uma análise cuidadosa para a criação dos tratados sobre cada termo e frase 
utilizados, considerando que o objetivo é traçar leis que possam ser aplicadas universalmente, mas 
que, ao mesmo tempo, sejam flexíveis. 
O reconhecimento global dos direitos humanos é uma das dimensões mais importantes na 
construção de um sistema de valores compartilhados. A extensão dos regimes de direitos humanos 
perpassa os cidadãos mais vulneráveis como as minorias éticas, raciais e religiosas, assim como 
mulheres e crianças, postulando que todos, segundo a lei, apresentam o mesmo direito à proteção. 
 
A criação de Alto Comissariado para os Direitos Humanos é um desenvolvimento mais 
recente, que sublinha a importância dos países em implementar e monitorar esse sistema de 
valores globais, compartilhados e consensual (AMARAL E SILVA, 2005, p.45). 
 
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é outro instrumento de tutela, decorrente das 
diretrizes traçadas em termos de direitos humanos, e voltado para a realização da justiça em face de 
tão relevante setor da sociedade. Cury (2005, p.17) disse que: O ECA tem por objetivo “a proteção 
integral da criança e do adolescente, de tal forma que cada brasileiro que nasce possa ter assegurado 
seu pleno desenvolvimento, desde as exigências físicas até o aprimoramento moral e religioso.” 
De acordo com a denominação do novo ordenamento, o art.2º do Estatuto refere-se à sua 
competência em razão da pessoa: Em princípio, o menor de 18 anos. Dentro do conceito menor, 
distingue a situação da criança e do adolescente, entendendo, para os efeitos da lei, como criança a 
pessoa até 12 anos e adolescente aquela entre os 12 e os 18 anos de idade. 
 
 
 
 
 
4. EVOLUÇÃO LEGISLATIVA NO ATENDIMENTO DA CRIANÇA E DO 
ADOLESCENTE NO BRASIL 
 
A doutrina civil brasileira adotou o instituto do pátrio poder, com a Consolidação das Leis 
Civis e o princípio da supremacia paternal. Assim, qualquer filho, enquanto menor, estava 
sob o regime da lei pátria, assim pais teriam o poder como também dever com os filhos. O 
Código Civil de 1916 discutia sobre os sujeitos hipossuficientes no ramo do Direito de 
Família, adotava a família clássica fundada no casamento, passa para uma sociedade civil, 
eram tidos como referência de uma sociedade juridicamente organizada. (ROSA, 2007) 
 
Com a implantação do sistema capitalista, o ensino educacional ganhou mais destaque, pois 
as indústrias exigiam um nível proveniente de uma boa formação profissional e intelectual, e assim 
leva as crianças e adolescentes a uma nova função, servir como fontes de exploração de consumo. 
Com a evolução da sociedade, vários povos começaram a tratar com maior importância os 
direitos das crianças e dos adolescentes, proporcionando o mínimo de proteção. 
Em 1923 pelo Decreto n.º 16.273, foi fixada a idade da responsabilidade penal em quatorze 
anos, eliminando o critério do discernimento como pressuposto à retribuição ao infrator. No ano 
seguinte, surgiu o primeiro juizado de Menores no Brasil, situado no Distrito Federal, juntamente 
com o juizado criou-se os abrigos destinados a recolher e educar os infratores e os abandonados. 
Sandrini (1997) afirma que: Esse desenvolvimento marca o reconhecimento da necessidade 
da retirada da questão do menor de um tratamento meramente penitenciário, sustentado pela 
necessidade de implantar um modelo pedagógico-tutelar, no qual a educação substituísse a punição.
 Então, entende-se que com o desenvolvimento na legislação juvenil, o menor começa a ser 
observado como um indivíduo que precisa de proteção e educação por se tratar de uma parte mais 
vulnerável, e assim deixa de ter tratamento meramente punitivo em situações insalubres em 
penitenciárias. 
 Ainda, apesar de se verificar na prática o tratamento punitivo aos adolescentes cometendo 
ato ilícito, o início do século XX foi marcado pelos debates acerca da delinquência juvenil e da 
criança e do adolescente abandonados. Dessa forma, em 1926, originou o Código de Menores, 
conhecido como Código “Mello Mattos”, o qual foi consolidado em 1927. 
Jesus (2006) esclarece que: A Lei n.º 4.242∕21 servia como base ao Código de Menores 
brasileiro. O advento do Decreto n.º 17.943, de 12 de outubro de 1927 veio para consolidar os 
esforços dos especialistas que lutavam por uma legislação específica, tal como o juiz José Cândido 
A. Mello Mattos, conhecido como apóstolo da infância, merecidamente homenageado pelo diploma 
legal. 
 O desenrolar dos capítulos do Código de Menores apresentava que o menor abandonado ou 
 
 
delinquente, de ambos sexos, menor de 18 anos, serão regidos pelas medidas de assistência e 
proteção do Código. 
Um dos primeiros capítulos do Código versava sobre a regulamentação do trabalho infanto-
juvenil, prevendo que nenhum desses menores transcorresse nas ruas, lugares públicos ou trabalho 
noturno. Previa, também, sobre o pátrio poder, a suspensão aos pais, por abuso de autoridade, 
negligência ou incapacidade de exercer seu poder dos deveres paternos. 
A sociedade, ao observar os erros contidos no Código de Menores, na busca de satisfazer as 
lacunas e aperfeiçoar a lei conforme a necessidade foi marcada por debates em busca de mudanças. 
Enfatiza Rosa (2007, pp. 41-44) que: 
 
A década de 50 foi marcada pelos debates que visavam a reformulação da legislação 
infanto-juvenil. O desejo de normas mais democráticas cresceu com a Declaração Universal 
dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a 20 de 
novembro de 1959, mas foi interrompida pelo golpe militar de 1964. Nesse ano, foi criada a 
Fundação Nacional do Bem-estar do Menor (FUNABEM). [...] A Funabem, na prática, 
aumentou o problema que deveria remediar. A história da instituição é repleta de notícias 
de desmando, castigos cruéis e motins. Ao contrário do que pretendia, ela ficou conhecida 
como um instrumento de ameaça e escola do crime. 
 
Assim, a legislação infanto-juvenil tinha se mostrado inadequada e ineficiente, causando a 
insatisfação. A solução nacional para o grave problema de proteção ao menor seria a mudança 
completa do sistema até o momento adotado, e assim preencher os defeitos conforme a necessidade. 
Significa que a nova fundação visava assegurar aos programas direcionados à integração do menor 
na comunidade, valorizar a família e criar maior proximidade com o convívio familiar. 
Em 1979, foi promulgado o novo Código de Menores, substituindo o Código de Mello 
Mattos. A nova legislação foi muito criticada pela apressada elaboração, devido o Ano 
Internacional da Criança. 
Em meados dos anos 80, aumenta a presença de menores nas ruas, em busca de melhores 
possibilidades de sobrevivência, passando a instituir um dos mais graves problemas sociais 
enfrentados pelo país. Cita Jesus (2006) que os adolescentes que já foram crianças em situação 
irregular misturaram-se com novas crianças, desceram o morro e tomaram a rua, nomeando-os 
como os meninos de rua. 
O Código Penal de 1980 regia a inimputabilidade aos menores de nove anos, aqueles entre 
nove e quatorze anos, agindo sem discernimento, não seriam considerados criminosos. Todavia, 
agir com discernimento na prática de delitos, eram recolhidos em estabelecimento disciplinar. Aos 
maiores de quatorze e menores de dezessete anos a pena de cumplicidade passou a ser obrigatória. 
 
 
Por outro lado, novamente a aplicação da lei passaria por impedimentos devido à falta de estrutura 
pública. 
O I Seminário Latino Americano de Alternativas Comunitárias de Atendimento a Meninos e 
Meninas de Rua, realizado em 1984, teve
como princípio o de idealizar o movimento e conclamar a 
sociedade e as crianças excluídas para participarem da construção de alternativas para garantir seus 
plenos direitos. 
O Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua contou com uma forte interação que 
possibilitou transformar em norma constitucional as ideias tratadas na Convenção Internacional dos 
Direitos da Criança, prevendo que: 
 
“É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao 
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao 
lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência 
familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, 
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” (Art. 227 do Título VIII, 
Capítulo VII da Constituição Federal de 1988) 
 
Colocando como indispensável para a formação do indivíduo: O direito à vida, à saúde, à 
alimentação, à educação, entre outros já citados, como direitos fundamentais à criança e ao 
adolescente. Constitui dever da família, da sociedade e do Estado garantir esses direitos. 
Com a previsão constitucional, os Direitos da Criança e do Adolescente passaram a ser 
prioridade absoluta da família, sociedade e do Estado. Em 1990 foi elaborado o Estatuto da Criança 
e do Adolescente substituindo o Código de Menores de 1979. 
O novo texto constitucional reafirma à criança e o adolescente como sujeito de direitos em 
sua condição própria de pessoas em desenvolvimento. Essa mudança de paradigmas representa uma 
opção pela abrangência social do adolescente em conflito com a lei, e não apenas mais um objeto de 
intervenção e castigos como no passado. 
Após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que estabelece a 
proteção integral, não sendo mais um meio de controle e repressão aos jovens em situação ilegal, 
mas constitui uma união de direitos a serem assegurados com prioridade, sem discriminação ou 
privilégios a criança e ao adolescente. Foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança 
(CONANDA), onde compete elaborar as normas gerais da política nacional de atendimento à 
criança e ao adolescente. 
 
Em 1996, a Resolução n.º 50 do CONANDA apoiou a implementação e fundação do 
Sistema de Informação para a Infância e Adolescentes (SIPIA) em todos os municípios 
 
 
brasileiros. Sendo também regulamentada a Resolução de n.º 75, de 22 de outubro de 2001, 
que traça parâmetros para a criação e funcionamento dos Conselhos Tutelares (art. 131 do 
ECA), que são órgãos autônomos, não jurisdicionais e de competência municipal, 
designados em zelar pelo cumprimento dos direitos das crianças e dos adolescentes. Todas 
essas ampliações foram decorrentes do art. 88 do Estatuto. (ISHIDA, 2010) 
 
No ano de 2006, visando concretizar os progressos da nova legislação e colaborar para a 
eficaz da cidadania dos adolescentes em conflito com a lei, a Secretaria Especial dos Direitos 
Humanos da Presidência da República (SEDH) e o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do 
Adolescente (CONANDA), elaboraram e organizaram a proposta do Sistema Nacional de 
Atendimento Socioeducativo (SINASE), com objetivo de desenvolver uma ação socioeducativa 
baseada nos princípios dos direitos humanos. 
O SINASE foi recentemente aprovado pela Lei n.º 12.594, de 18 de janeiro de 2012, que 
apresenta inovações à aplicação e execução de medidas socioeducativas aos adolescentes autores de 
ato infracional, como também implementar as políticas públicas específicas destinadas ao combate 
na violência infanto-juvenil. 
 
5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 
 
O reconhecimento da criança foi tardiamente percebido na história. Só foi visível nos 
últimos três séculos, e de forma lenta. A infância era vista, anteriormente, como um tempo 
“vazio” na vida do ser humano, no qual, logo cedo devia assumir responsabilidades e 
atitudes de adultos para superar esta fase da vida. As transformações que marcaram com a 
industrialização capitalista, contribuíram nas mudanças dos conceitos sobre a infância. 
(GOMIDE, 1998) 
 
 
O autor Faleiro (1986, p. 15) nos fala que: [..] “Na era industrial capitalista do século XIX, o 
conceito de infância adquire novos significados e uma dimensão social até então inexistente no 
mundo ocidental” e continua o mesmo afirmando que: 
 
“A criança deixa de ser objeto de interesse, preocupação e ação no âmbito privado da 
família e da Igreja, para tornar-se uma questão de cunho social, de competência 
administrativa do Estado.” (FALEIRO apud DRAIBE, 1990) 
 
No Brasil a mudança no conceito e na atenção à infância tornou-se visível no final do século 
XIX e inicio do século XX, com a ascensão das ideias republicanas. Inicialmente, os cuidados 
visavam apenas à infância pobre, e era realizada pela Igreja, com suas ações de caridade e 
 
 
acolhimento à criança pobre e abandonada. 
 Devido ao número de crianças abandonadas, no período colonial, foram instaladas as 
conhecidas Rodas dos Expostos, onde as mães podiam deixar seus filhos de forma que não fossem 
identificadas e não abandoná-los nas ruas. Inicialmente foram implantadas três rodas no país: a de 
Salvador (1726), Rio de janeiro (1738) e no caso da Província do Pará, a Roda dos Expostos não foi 
criada visto que governo provincial buscou alternativas imediatas para recolher as crianças que 
eram abandonadas na Santa Casa de Misericórdia do Pará. 
 
Somente, durante o primeiro governo republicano de Justo Chermont, conforme o Decreto 
estadual n° 291, de 20 de novembro de 1890, houve, pode‐se dizer, a primeira intervenção 
do Estado, com ampla reforma dos estatutos regimentais, junto à Irmandade da Santa Casa, 
que passa a se chamar Associação Civil de Caridade Santa Casa de Misericórdia do Pará. 
Motivações político-religiosas diminuíram a influência da Igreja Católica e ampliaram o 
poder do Estado no Pará. (HAMOY, 2008) 
 
A Santa Casa de Misericórdia do Pará tornou‐se assim uma instituição de assistência aos 
velhos, enfermos, órfãos e crianças abandonadas, instituição de natureza particular, que recebia 
ajuda da Província por sua larga tradição de caridade. Para acolher as crianças desvalidas, criou‐se 
no século XIX, em Belém do Pará, por exemplo, o Colégio Nossa Senhora do Amparo para atender 
a meninas desvalidas e o Instituto de Educandos de Artífices para atender os meninos desvalidos, 
ambas com instrução primária e profissional. 
 
Instituições de caráter educacional e assistencial surgiram de Norte a Sul do país, ao longo 
do século XIX, como as Casas e os Institutos de Educandos Artífices, as colônias agrícolas, 
o Asilo para Meninos Desvalidos no Rio de Janeiro, os recolhimentos e asilos para meninos 
e meninas órfão‐desvalidos, entre outras iniciativas (RIZZINI, 2009). 
 
 No caso da história social das crianças desvalidas no Pará como a criação do Instituto de 
Proteção e Assistência à infância (IPAI), resulta de uma política social, educacional, econômica e 
antropologicamente pauta no progresso e nas ideias de civilização e modernidade. Para esta nova 
sociedade, que tenta superar a ideia de que a Amazônia é terra de índio e que estava à margem da 
história, como dizia Euclides da Cunha, era preciso transformar as crianças em cidadãos úteis para o 
desenvolvimento da nação. 
O Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Pará era uma instituição filantrópica que 
foi reconhecida como de utilidade pública em 1912. Esta foi indubitavelmente a grande obra de 
Ophir de Pinto Loyola. Ali consolidou cada vez mais sua política na assistência médico‐social à 
infância e fez valer os seus princípios em relação ao desenvolvimento
saudável da criança. Na 
 
 
atuação como diretor do Instituto de Proteção e Assistência à Infância do Pará e da Santa Casa de 
Misericórdia do Pará irradiava suas ideias, suas denúncias, seus projetos, sua influência no campo 
da proteção à infância na Amazônia paraense. 
 
Sem dúvida, Ophir de Pinto Loyola foi um defensor da assistência médico‐social‐
educacional às crianças pobres, desvalidas, órfãs, maltratadas, abusadas, defeituosas e 
enjeitadas. Um homem de ciência, à frente de seu tempo, imprimindo uma marca própria na 
sua atuação como médico pediatra. Iniciou uma intensa atuação a favor da higiene infantil e 
de uma “verdadeira” Puericultura (medicina moderna) no atendimento da criança desvalida 
no Pará. (HAMOY, 2008) 
 
No final do século XIX, reflexões referentes às condições da infância passaram a ser 
debatidos em meio aos juristas, médicos, advogados, conhecidos também como a elite letrada do 
país. Os discursos eram fundamentados na nova ordem republicana e eugenista, que acreditavam 
que o cuidado com a infância seria uma das formas de mudar a ordem social e alcançar um projeto 
de civilização desejado ao novo Brasil. O discurso eugenista da nova ordem social nas primeiras 
décadas do século XX, foi utilizado também para com a infância pobre, que passa a ser alvo de 
discursos moralistas. As campanhas realizadas pela medicina higienista vinculava a limpeza urbana 
paralelo à necessidade de atender às crianças pobres e a preocupação em discipliná-los. 
Assim nos afirma Trassi, 
 
Assim, questões relacionadas à saúde serviram de base para discussões e implementação de 
políticas em torno da ordem social, as quais envolviam reformas relacionadas a paisagens 
urbanas cuidados relativos ao controle social das crianças, principalmente, a abandonada e 
pobre, que eram vistas como um organismo nocivo à nova ordem que se desenvolvia. 
(2006, p.57) 
 
 
Com a Constituição de 1988, e posteriormente com o Estatuto da Criança e do Adolescente 
(ECA/90), estabeleceu uma nova postura em relação à infância no país. A criança e o adolescente 
passaram a ser sujeitos de direitos e em processo de desenvolvimento físico, psíquico e social. 
Sendo necessário à atenção da Família, da Sociedade e do Estado, na garantia de sua proteção 
social, e a instituição de organismos de defesa e proteção, como os conselhos: de Direitos e o 
Tutelar. 
Na cidade de Belém do Pará, foco de muitas lutas e organizações em defesa deste público, 
foi instituído, o Conselho Municipal de Defesa e Promoção dos Direito da Criança e do Adolescente 
de Belém (COMDAC) através da lei nº 7584 pelo então Prefeito Augusto Rezende no dia 31 de 
julho de 1992. Tornou-se “o instrumento mais importante da Política de Proteção Integral à Infância 
 
 
e à Juventude por ser o indutor e condutor de todo o processo que objetiva, em última síntese, fazer 
acontecer o Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente na Cidade das 
Mangueiras (Belém do Pará). 
Amparado pela Lei Municipal Lei nº 9.115 de 08 de junho de 2015 que altera as Leis nº 
8155 e 7584, foram reestruturados os Conselhos Tutelares nos referidos DA. No ano de 2015 foi 
implementado pelo COMDAC, a Política de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do 
Adolescente na Cidade de Belém (PA). Em 2016 aprovou-se a Política Municipal de Proteção 
Especial às Crianças e aos Adolescentes. 
 
5.1 AS AÇÕES EXITOSAS DESENVOLVIDAS NAS DUAS INSTITUIÇÕES 
GOVERNAMENTAIS 
 
Em Belém do Pará, o Fundo Municipal da Criança e do Adolescente (FIA) fica vinculado 
administrativa e operacionalmente à Fundação Papa João XXIII (FUNPAPA) destinando-se as 
ações de proteção à criança e ao adolescente. Este Fundo é utilizado para o financiamento de 
projetos nas seguintes áreas e segmentos: 
 
A) Proteção Social Básica: 
I. Prevenção e enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes 
II. Prevenção e enfrentamento violência doméstica contra crianças e adolescentes 
III. Prevenção ao uso e envolvimento no trafico de drogas 
IV. Prevenção e enfrentamento á gravidez na adolescência 
B) Promoção de Direitos da Criança e do Adolescente: 
I. Protagonismo de crianças e adolescentes 
 
No ano de 2017, dez (10) projetos foram financiados pelo FIA a instituições não 
governamentais, sendo disponibilizados para o Plano de Aplicação o total de R$ 580.000,00 
(quinhentos e oitenta mil reais). Em relação, as instituições governamentais identificamos que na 
Secretaria de Assistência Social são executados alguns programa de média e alta complexidade, 
como: Liberdade Assistida; Programa Erradicação do Trabalho Infantil (PETI), através dos Centros 
de Referência de Assistência Social e do Centro de Referência Especializada de Assistência Social.
 O Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente (CEDCA/PA) é um orgão 
normativo, deliberativo, controlador das ações em todos os níveis de política de atendimento no 
 
 
Estado do Para, observado a composição partidária de seus membros nos termos do Artigo 88, 
inciso II da Lei nº 8.069/1990. O Conselho Estadual responde pela implementação da prioridade 
absoluta à promoção dos direitos de defesa da criança e do adolescente, levando em consideração as 
peculiaridades do Estado. 
O Centro de Internação do Adolescente Masculino (CIAM-Sideral), uma UASE localizado 
no Conjunto Ariri Bolonha, Rua Central s/ nº e uma das Unidades da Fundação de Atendimento 
Socioeducativo do Pará (FASEPA), que atende adolescentes e jovens autores de ato infracional com 
idade entre 12 e 17 anos, conforme Artigo 121 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 
A realidade do CIAM-Sideral está voltado, principalmente aos valores e ao acolhimento, 
através de programas que visam à melhoria no atendimento socioeducativo e a reintegração 
novamente na sociedade do público atendido. Quanto aos projetos realizados nesse Centro de 
Internação, pode-se destacar a Campanha “Respeite a Vida” e a “Caminhada Anual”, onde 
adolescentes que cumprem medidas de liberdade assistida e seus familiares, recebem orientação e 
uma melhor conscientização sobre a realidade vivenciada pelos mesmos nessa UASE em Belém do 
Pará. 
No Centro POP de Icoaraci, os moradores em situação de rua têm um espaço de referência 
para o convívio grupal, social e para o desenvolvimento de relações de solidariedade, afetividade e 
respeito. No horário de 8h às 16h, uma equipe multidisciplinar leva assistência com serviços de 
abordagem de rua, cuidados com higiene e alimentação, triagem (para identificar as necessidades), 
investigação social (cadastro e entrevista), encaminhamento para a rede de Proteção Social e de 
Saúde, emissão de documentos e outras atividades. 
 O trabalho de encaminhamento para a rede de serviços intersetorial faz parte da articulação 
realizada pela Prefeitura Municipal de Belém (PMB) e o Centro POP de Icoaraci entre educação, 
saúde e proteção social. Exemplo disso foi o termo de cooperação assinado recentemente entre 
Defensoria Pública e PMB, firmado com outras instituições para garantir a eficácia do processo de 
registro civil tardio e resgatar a cidadania da população que vive em situação de rua na capital 
paraense. 
No município existe oito (8) Conselhos Tutelares, órgão permanente e autônomo, não 
jurisdicional encarregado pela sociedade de zelar pelos direitos da criança e do adolescente, sendo 
mantido pelo poder municipal. Em entrevista a quatro (04) conselheiros tutelares e visita a cinco 
(05) dos Conselhos Tutelares (CT) do município foi possível perceber a precariedade do espaço e a 
falta de equipamentos e segurança para os conselheiros. Percebemos não haver por parte do poder 
 
 
público municipal empenho
para resolução dos problemas existentes neste órgão, onde em alguns 
CT’s foram parcialmente suspenso suas atividades por falta de segurança nas entidades, sendo 
restabelecido no dia seguinte após a volta do serviço da guarda municipal. 
O Município de Belém (PA) possui um Plano Plurianual Municipal intitulado “Belém 
Criativa: Belém do Bem” foi concebido a partir do Planejamento de Governo que definiu a 
Dimensão Estratégica, tendo como balizador 03 (três) Eixos Estratégicos: (1) Melhoria da qualidade 
de vida e justiça social; (2) Ordenamento, infraestrutura urbana e crescimento sustentável; e (3) 
Gestão e governança com transparência, que agregam as diretrizes para a atuação do setor público, 
com a prestação de serviços, a condição da garantia dos direitos sociais, econômicos e políticos, o 
acesso digno aos espaços urbanos e a qualidade na gestão pública. 
A Proteção Social Especial de Média Complexidade no Município de Belém volta-se ao 
atendimento e acompanhamento especializado e sistemático de famílias e indivíduos que 
vivenciaram violações de direitos, mas que mantêm os laços familiares e comunitários preservados. 
No quadriênio 2013 - 2016, foi realizado o atendimento especializado por meio de 5 Centros de 
Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), 02 Centros POP e 01 Centro Dia para 
Pessoas com Deficiência, que juntos atenderam um total de 11.512 famílias (FUNPAPA, dados até 
out./2016). Outra medida importante relativa ao atendimento e encaminhamentos pelo Serviço de 
Proteção e Atendimento Especializado a Famílias e Indivíduos (PAEFI), diz respeito à posição de 
frente exercida pela FUNPAPA na ação intersetorial “Pacto Belém pela Vida”. 
Implantado em 2014, o programa é direcionado ao combate do uso indevido de álcool, crack 
e outras drogas que, vinculado ao Programa Federal “Crack é Possível Vencer”, do qual o 
Município de Belém é signatário, sintetiza todas as ações locais para o enfrentamento desse grave 
fenômeno social. Até outubro de 2016, o programa atendeu 729 famílias, das quais 497 foram 
encaminhadas para comunidades terapêuticas e 232 para os Centros de Assistência Psicossocial 
(CAPS). 
 A Proteção Social Especial de Alta Complexidade garante o acolhimento às famílias e/ou 
indivíduos com vínculos familiares e/ou comunitários rompidos ou extremamente fragilizados, 
garantindo-lhes proteção integral e acesso a demais direitos. Atualmente essa ação é efetivada por 2 
serviços sócio assistenciais: O Serviço de Acolhimento Institucional e o Serviço de Proteção em 
Situação de Calamidades Públicas e Emergências. No período de 2013 a 2016 foram atendidas 
cerca de 6.198 pessoas. Atenção especial foi direcionada à política de proteção da criança e do 
adolescente que durante o quadriênio 2013 e 2017, apresentou um avanço significativo a partir das 
 
 
atividades desenvolvidas em parceria com o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) 
com a implantação da Plataforma dos Centros Urbanos (PCU). 
 Ao assumir o processo de implantação da PCU em Belém, a Prefeitura ratificou o 
compromisso da gestão municipal na adoção de um modelo de desenvolvimento inclusivo que 
reduza as desigualdades intraurbanas, que afetam a vida de crianças e adolescentes, promovendo 
ações na garantia dos direitos e melhor acesso à educação de qualidade, saúde, proteção, 
salvaguarda e oportunidades de participação. Para monitorar a evolução positiva da redução das 
desigualdades, a PCU adota 10 indicadores oficiais aferidos pela equipe técnica local de forma 
desagregada nos 8 distritos administrativos de Belém. (PPA/2018-2021) 
Na questão sobre as atividades desenvolvidas pelas entidades publicas e privadas registradas 
no COMDAC que se torna concreto o atendimento cumprimento dos direitos da criança e do 
adolescente assegurados em leis, são elas: Fundação Papa João XXIII (FUNPAPA); Fundação 
Cultura do Município de Belém (FUMBEL); Secretaria Municipal de Assuntos Jurídicos (SEMAJ); 
Secretaria Municipal de Educação (SEMEC); Secretaria Municipal de Saúde (SESMA); Secretaria 
Municipal de Finanças (SEFIN); Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Belém 
(APAE); Centro Comunitário São Paulo; Instituto Felipe Smaldone; Centro Comunitário Nossa 
Senhora do Perpetuo Socorro; Lar Fabiano de Cristo e Sociedade Unidos Venceremos. 
Surgiu uma diversidade de ações com o público alvo, onde as atividades mais citadas foram: 
Danças regionais e percussão sendo citada por oito (08) das instituições; Oficina de leitura e arte 
por nove (09) instituições; Qualificação profissional é realizada em sete (07) entidades; Reforço 
escolar em cinco (05); Cidadania e roda de diálogo em seis (10) dez; Esporte e lazer realizada em 
cinco (05) entidades; Capoeira e informática em quatro (04) das entidades. 
 Outras citadas foram: geração de renda (02); atendimento básico a saúde (03); ensino pré-
escolar (02); acompanhamento judicial (04) oficinas e palestras (07); inclusão a rede de ensino (02); 
encaminhamentos aos serviços de saúde (03); atividade religiosa e oração (02), hortas comunitárias 
(03); artesanato (04); visita domiciliar (03); tratamento odontológico (04); formação política (03); 
organização juvenil (02). Como podemos ver a uma diversidades de atividades, porém prevalecem 
as atividades socioeducativas. 
As entidades privadas que não são auto sustentáveis, são financiadas por instituições 
públicas, o maior financiador das entidades é o município que financia atividades em cinco (05) 
delas; quatro (04) recebem apenas financiamento da esfera estadual; três (03) apenas da esfera 
federal; três (03) recebem do governo municipal e estadual; duas (02) recebem do município e da 
 
 
esfera federal; duas (02) recebem da esfera estadual e federal; e apenas três (03) recebe 
financiamento das três esferas. Três (03) das entidades recebem financiamentos de entidades 
estrangeiras (ONGs, associações, organizações religiosas, governos e empresas internacionais). É 
um número significativo, pois nos últimos anos as entidades estrangeiras estão priorizando outros 
países mais pobres, como os africanos e latino americanos. 
Das entidades que responderam o questionário em relação ao eixo de atuação, quatro (04) 
atuam no eixo de Prevenção e erradicação do trabalho infantil e proteção do adolescente 
trabalhador. Três (03) no atendimento a criança e ao adolescente em situação de rua; três (03) na 
atenção à violência doméstica e sexual contra crianças e adolescentes; duas (02) medidas 
socioeducativas em meio aberto; duas (02) na prevenção e tratamento ao uso de drogas; uma (01) 
no acolhimento institucional; e três (03) das entidades assinalaram dois eixos de atuação. Com estas 
informações temos dados parciais para entender a dinâmica das instituições públicas e privadas em 
Belém (PA). 
 
 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 
Neste estudo parcial identificamos que o município de Belém do Pará possui um amplo 
sistema de garantia de direitos de proteção à criança e ao adolescente. No entanto, percebemos a 
fragilidade na rede de proteção impedindo que a política e os planos sejam implementados, 
monitorados e avaliados. 
Para melhor eficácia da política e dos planos será necessário o seu monitoramento e 
avaliação, estas ações devem ser tão importantes quanto à execução das políticas, é interdependente 
e contribuirá com a revisão e o replanejamento de ações através de um projeto de intervenção em 
fase de elaboração findando com a construção de encaminhamentos as esferas governamentais 
competentes capazes de contribuir com a melhoria das condições de vida da infância belenense. 
 Há uma preocupação individual por partes das instituições privadas em divulgar seu trabalho 
e garantir a
sua sustentabilidade, já que necessita demonstrar aos financiadores aonde os recursos 
foram aplicados de maneira exitosa na melhoria das condições de vida e emancipação de quem 
utiliza de seus programas. Os espaços de articulações como fóruns e redes, são ocupados por poucas 
instituições. 
 Torna-se necessário fortalecer estes espaços, principalmente das organizações não 
 
 
governamentais, cobrando do poder público municipal ações eficazes de enfrentamento as violações 
aos direitos da infância, na execução dos planos municipais e a prioridade na política de 
atendimento à criança e ao adolescente recifense. O município precisa garantir uma estrutura física 
e material adequado aos oitos (08) Conselhos Tutelares de forma que possam realizar as suas 
atribuições, com qualidade e segurança. É preciso intersetorialização das atividades das secretarias 
municipais na atenção a infância. As entidades também precisam articular suas ações, pois não 
basta apenas cobrar do município. 
 É imprescindível implantar um sistema de monitoramento para acompanhar os avanços e 
retrocessos da política de atenção a criança e ao adolescente em Belém (PA), as ações públicas e da 
sociedade civil organizada. Sendo indispensável fortalecer a rede de proteção integral, garantir que 
o município priorize a infância e a família em seus projetos municipais, investindo mais em 
educação, saúde, cultura, assistência social, geração de trabalho e renda e assim enfrentar a 
realidade de milhares de criança e adolescentes belenenses, em situação de rua, de trabalho infantil, 
vítima de violência sexual e doméstica, analfabetas ou com baixos rendimentos escolares, entre 
outros problemas sociais existentes. 
Concluímos afirmando que este estudo parcial desta temática merece mais atenção da 
investigação acadêmica e que a política municipal e estadual que cuida da proteção da criança e do 
adolescente necessitam ser bem analisados pela sua dinâmica e complexidade, projetando sua 
aplicação e seus desdobramentos de forma exitosa para o público para que se destina. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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