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Notas Matema´tica para Economia I Felipe Rivero e Thiago Salvador Revisado por: Maria Emilia Neves, Juliana Coelho e Yuri Ki Universidade Federal Fluminense Instituto de Matema´tica e Estat´ıstica Departamento de Ana´lise 2016 F. Rivero e T. Salvador 2 Matema´tica para Economia I Suma´rio 1 Limites 5 1.1 Noc¸a˜o intuitiva de limite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5 1.2 Propriedades dos limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 1.2.1 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.3 Continuidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23 1.4 Limites envolvendo infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.4.1 Limites infinitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 1.4.2 Limites no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36 1.4.3 O nu´mero e . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 1.5 Ass´ıntotas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44 2 Derivac¸a˜o 55 2.1 Noc¸a˜o intuitiva de derivada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55 2.1.1 Coeficiente Angular da Reta Tangente ao Gra´fico de uma Func¸a˜o . 55 2.1.2 Taxa de Variac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 2.1.3 A Derivada de uma Func¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 2.2 Regras ba´sicas de derivac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 2.2.1 Regra da cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 2.3 Derivac¸a˜o Impl´ıcita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 2.3.1 Taxas Relacionadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 2.4 Exponenciais e trigonome´tricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 3 SUMA´RIO SUMA´RIO 2.4.1 Derivadas de func¸o˜es exponenciais e de func¸o˜es logar´ıtmicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 2.4.2 Derivadas de func¸o˜es trigonome´tricas . . . . . . . . . . . . . . . . . 88 2.5 Regra da func¸a˜o inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 2.6 Derivadas de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 2.7 Regra de L’Hoˆpital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101 2.7.1 Outras formas inderteminadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107 3 Aplicac¸o˜es 119 3.1 Fun. crescente e decrescente . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119 3.2 Extremos relativos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 3.3 Concavidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 133 3.4 Esboc¸o de gra´ficos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138 3.5 Problemas de Otimizac¸a˜o . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141 4 Va´rias varia´veis 147 4.1 Definic¸a˜o e exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 147 4.2 Derivadas parciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 4.2.1 Derivadas parciais de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . 153 4.3 Regras da Cadeia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 4.3.1 Diferenciac¸a˜o impl´ıcita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 4.4 Extremos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163 4.4.1 O teste da Derivada Segunda . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165 4.5 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168 Revisa˜o 181 F. Rivero e T. Salvador 4 Matema´tica para Economia I Cap´ıtulo 1 Limite de func¸o˜es de uma varia´vel real O conceito de limite e´ o ponto de partida para definir todos os outros conceitos do Ca´lculo, como os de continuidade, derivada e integral. Nesse cap´ıtulo vamos discutir o que sa˜o os limites e como podem ser calculados. Tambe´m vamos estudar o conceito de continuidade. 1.1 Noc¸a˜o intuitiva de limite De maneira geral, o processo de determinar o limite consiste em investigar o compor- tamento do valor da imagem f(x) de uma func¸a˜o f a` medida que sua varia´vel independente x se aproxima de um nu´mero, que pode ou na˜o pertencer ao domı´nio de f . Vamos supor que um estudo de mercado sobre uma empresa estima que o investimento de x milho˜es de reais geram um benef´ıcio dado pela func¸a˜o abaixo f(x) = x2 + x− 2 x− 1 . Os trabalhadores da empresa querem saber o valor estimado do benef´ıcio quando ha´ um investimento de 1 milha˜o de reais. Embora a func¸a˜o f na˜o seja definida em x = 1, podemos avaliar f(x) para valores de x muito pro´ximos de 1. Para fazer isto, podemos observar a tabela a seguir, x 0.9 0.95 0.99 0.999 1 1.001 1.01 1.05 1.1 f(x) 2,9 2,95 2,99 2,999 – 3,001 3,01 3,05 3,1 5 1.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE LIMITE CAPI´TULO 1. LIMITES Os valores da func¸a˜o na tabela sugerem que: • f(x) se aproxima do nu´mero 3 a` medida que x se aproxima de 1 de ambos os lados. Portanto, os benef´ıcios se aproximam de 3 milho˜es de reais quando o investimento se aproxima de 1 milha˜o. • Podemos obter valores para f(x) ta˜o pro´ximos de 3 quanto quisermos, bastando para isso tomar valores de x suficientemente pro´ximos de 1. Esse comportamento pode ser descrito, intuitivamente, dizendo que o limite de f(x) quando x tende a 1 e´ igual a 3 e abreviado por lim x→1 f(x) = 3 ou lim x→1 x2 + x− 2 x− 1 = 3 Na Figura 1.1 podemos observar que o gra´fico de f(x) = x2 + x− 2 x− 1 e´ uma reta com um ’buraco’ no ponto (1, 3), e os pontos (x, y) = (x, f(x)) no gra´fico se aproximam desse buraco a` medida que x se aproxima de 1 de ambos os lados. Figura 1.1: Gra´fico de f(x) = x2 + x− 2 x− 1 [Video] F. Rivero e T. Salvador 6 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE LIMITE Temos a seguinte definic¸a˜o (informal) de limite: Definic¸a˜o 1.1 Seja f uma func¸a˜o definida em um intervalo aberto em torno de um ponto c, exceto possivelmente em c. Se o valor de f(x) fica arbitrariamente pro´ximo de um valor L para todos os valores suficientemente pro´ximos de c, dizemos que f tem limite L e escrevemos lim x→c f(x) = L ou f(x) x→c−−−→ L Ao definirmos limite, admitimos que f(x) e´ definida para todos os valores de x nas proximidades de c, mas na˜o necessariamente em x = c. A func¸a˜o na˜o precisa nem existir em x = c, e, mesmo que exista, seu valor f(c) neste ponto pode ser diferente do limite quando x tende a c. Na Figura 1.2 o limite de f(x) quando x → c, e´ igual a L, embora as func¸o˜es se comportem de forma bastante diferente em x = c. (a) f(c) e´ igual ao limite L (b) f(c) e´ diferente de L (c) f(c) na˜o esta´ definido Figura 1.2: Diferentes comportamentos de limites F. Rivero e T. Salvador 7 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES A Figura 1.3 mostra os gra´ficos de duas func¸o˜es que na˜o teˆm limite quando x tende a c. O limite na˜o existe na figura (a) porque os limites laterais sa˜o diferentes, isto e´, f(x) se aproxima de 5 quando x tende a c pela direita e se aproxima de 3 (um valor diferente) quando x tende a c pela esquerda. A func¸a˜o da figura (b) na˜o tem limite (finito) quando x tende a c porque os valores de f(x) aumentam indefinidamente a` medida que x se aproxima de c. Dizemos que func¸o˜es como a da figura (b) teˆm um limite infinito quando x tende a c. Limites laterais e limites infinitos sera˜o estudados mais adiante. (a) Limites laterais distintos (b) Limite infinito Figura 1.3: Limites laterais e limite infinito Vamos apresentar a seguir uma definic¸a˜o precisa de limite, conceito que foi introduzido informalmente na Definic¸a˜o1.1. Definic¸a˜o 1.2 Seja f uma func¸a˜o com valores reais definida num intervalo aberto em torno de un valor c, exceto possivelmente em c e seja L um nu´mero real. Dizemos que o limite de f quando x tende a c e´ L se para todo nu´mero ε > 0 existe um nu´mero δ > 0 tal que |f(x)− L| < ε para todo x verificando |x− c| < δ. 1.2 Propriedades dos limites Seria muito trabalhoso calcular cada limite por meio de uma tabela, como fizemos na sec¸a˜o anterior. O nosso objetivo agora e´ introduzir propriedades (teoremas) que permitam simplificar o ca´lculo dos limites de func¸o˜es alge´bricas. F. Rivero e T. Salvador 8 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES O Teorema 1.1 a seguir, se refere aos limites de duas func¸o˜es lineares elementares. Teorema 1.1 Sejam c e k nu´meros reais. Enta˜o, i) lim x→c k = k. ii) lim x→c x = c. O Teorema 1.2 mostra como calcular limites de func¸o˜es que sa˜o combinac¸o˜es aritme´ticas de func¸o˜es cujos limites ja´ conhecemos. Teorema 1.2 Se L, M , c e k sa˜o nu´meros reais, f e g func¸o˜es reais com valores reais e lim x→c f(x) = L e lim x→c g(x) = M , enta˜o: i) lim x→c (f(x)± g(x)) = lim x→c f(x)± lim x→c g(x) = L±M . ii) lim c→c (f(x) · g(x)) = lim x→c f(x) · lim x→c g(x) = L ·M . iii) lim x→c (k · f(x)) = k · lim x→c f(x) = k · L. iv) lim x→c (f(x))n = ( lim x→c f(x) )n = Ln onde n ∈ N. v) Se M 6= 0, enta˜o lim x→c f(x) g(x) = lim x→c f(x) lim x→c g(x) = L M . vi) lim x→c n √ f(x) = n √ lim x→c f(x) = n √ L onde n e´ um nu´mero natural ı´mpar maior que 1, ou n e´ um nu´mero natural par e L > 0. Exemplo 1.1 Vamos calcular os seguintes limites usando o teorema anterior: 1. lim x→5 7. Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.1, lim x→5 7 = 7 2. lim x→−3 (x− 5). Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.1 e as propriedades i) e ii) do Teorema 1.2, lim x→−3 (x− 5) = lim x→−3 x− lim x→−3 5 = −3− 5 = −8. F. Rivero e T. Salvador 9 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES 3. lim x→2 (x3 + 2x+ 5) Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.1 e as propriedades i), ii) e iii) do Teorema 1.2, lim x→2 (x3 + 2x+ 5) = lim x→2 x3 + lim x→2 2x+ lim x→2 5 = ( lim x→2 x )3 + 2 lim x→2 x+ lim x→2 5 = 23 + 2 · 2 + 5 = 17 4. lim x→4 (3x2 − 5). Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.1 e as propriedades i), ii) e iii) do Teorema 1.2, lim x→4 (3x2 − 5) = lim x→4 (3x2)− lim x→4 5 = 3 ( lim x→4 x )2 − lim x→4 5 = 3 · 42 − 5 = 43 Aplicando os Teoremas 1.1 e 1.2 podemos determinar facilmente o limite de func¸o˜es polinomiais e de algumas func¸o˜es racionais. Teorema 1.3 Sejam p(x) e q(x) func¸o˜es polinomiais. i) lim x→c p(x) = p(c). ii) Seja r(x) = p(x) q(x) uma func¸a˜o racional e q(c) 6= 0, enta˜o lim x→c r(x) = r(c). Observac¸a˜o: Os limites 2, 3 e 4 do Exemplo 1.1 podem ser calculados diretamente aplicando o Teorema 1.3. Exemplo 1.2 Vamos calcular os limites abaixo usando os teoremas anteriores: 1. lim x→0 (x5 − 3x4 + 2x2 + 7). Soluc¸a˜o: Como p(x) = x5− 3x4 + 2x2 + 7 e´ uma func¸a˜o polinomial, pelo Teorema 1.3 lim x→0 p(x) = p(0) e, portanto, lim x→0 (x5 − 3x4 + 2x2 + 7) = 05 − 3 · 04 + 2 · 02 + 7 = 7. F. Rivero e T. Salvador 10 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES 2. lim x→0 x− 2 x+ 8 . Soluc¸a˜o: Chamando de p(x) = x − 2 e de q(x) = x + 8 e observando que q(0) = 8 6= 0 podemos aplicar o Teorema 1.3, obtendo lim x→0 x− 2 x+ 8 = 0− 2 0 + 8 = −2 8 = −1 4 3. lim x→−1 2x+ 1 x2 + 3x . Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.3 com p(x) = 2x+ 1 e q(x) = x2 + 3x, lim x→−1 2x+ 1 x2 + 3x = 2(−1) + 1 (−1)2 + 3(−1) = 1 2 4. lim x→−2 4 √ x2 − 4x+ 4. Soluc¸a˜o: Pelo Teorema 1.3, lim x→−2 (x2 − 4x+ 4) = (−2)2 − 4 · (−2) + 4 = 16. Usando agora a propriedade iv) do Teorema 1.2, lim x→−2 4 √ x2 − 4x+ 4 = 4 √ lim x→−2 (x2 − 4x+ 4) = 4 √ 16 = 2. 5. lim x→−1 3 √ 5x− 3. Soluc¸a˜o: Analogamente ao exemplo anterior, lim x→−1 3 √ 5x− 3 = 3 √ lim x→−1 (5x− 3) = 3 √ 5 · (−1)− 3 = 3√−8 = −2. 6. lim x→5 √ 5x x+ 4 . Soluc¸a˜o: Sendo agora de p(x) = 5x e q(x) = x+ 4 e observando que q(5) = 9 6= 0, pelo Teorema 1.3 obtemos que lim x→5 5x x+ 4 = 3 · 5 5 + 4 = 25 9 . Enta˜o, pelo Teorema 1.2, lim x→5 √ 5x x+ 4 = √ lim x→5 5x x+ 4 = √ 25 9 = √ 25√ 9 = 5 3 . F. Rivero e T. Salvador 11 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES Vamos estudar agora o limite da func¸a˜o f(x) = x2 − 4 x− 2 quando x → 2. Um primeiro estudo mostra que tanto o numerador quanto o denominador tende para zero quando x→ 2, portanto na˜o podemos aplicar o Teorema 1.3. Habitualmente, nestes casos precisamos de uma simplificac¸a˜o. Observamos que para todos os valores de x tais que x 6= 2 temos x2 − 4 x− 2 = (x− 2)(x+ 2) x− 2 = ��� �(x− 2)(x+ 2) ���x− 2 = x+ 2. Portanto, a func¸a˜o f(x) e´ igual a` func¸a˜o h(x) = x+2 para todos os valores x pro´ximos de 2 mas diferentes de 2. Como para o ca´lculo dos limites na˜o precisamos do valor no mesmo ponto (ver Definic¸a˜o 1.1), enta˜o temos lim x→2 x2 − 4 x− 2 = limx→2(x+ 2) = 4, onde podemos usar o Teorema 1.3 para o ca´lculo do segundo limite. Podemos sintetizar a observac¸a˜o anterior no seguinte teorema: Teorema 1.4 Se lim x→c h(x) = L e f(x) e´ uma func¸a˜o tal que f(x) = h(x) para todos os valores de x pertencentes a algum intervalo ao redor de c, excluindo o valor x = c, enta˜o lim x→c f(x) = lim x→c h(x) = L. Exemplo 1.3 Vamos calcular os seguintes limites usando o Teorema 1.4. Para cada um deles vamos precisar de um estudo pre´vio, bem fazendo uma fatorac¸a˜o bem usando alguma outra te´cnica. 1. lim x→1 x2 + x− 2 x− 1 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o f(x) = x2 + x− 2 x− 1 na˜o esta´ definida em x = 1 pois tanto o numerador quanto o denominador sa˜o iguais a zero quando x = 1. Fatorando o numerador temos x2 + x− 2 = (x− 1)(x + 2). Portanto, para todos os valores x reais tais que x 6= 1, f(x) = x2 + x− 2 x− 1 = (x− 1)(x+ 2) x− 1 = ��� �(x− 1)(x+ 2) ���x− 1 = x+ 2. Logo, lim x→1 x2 + x− 2 x− 1 = limx→1(x+ 2) = 1 + 2 = 3. F. Rivero e T. Salvador 12 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES 2. lim x→3 x2 − x− 6 x2 − 4x+ 3 Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = x2 − x− 6 x2 − 4x+ 3 na˜o esta´ definida para o valor x = 3, pois o numerador e o denominador sa˜o iguais a zero cuando x tem valor de 3. Fatorando o numerador obtemos x2−x−6 = (x−3)(x+2); fatorando o denominador obtemos x2 − 4x + 3 = (x − 3)(x − 1). Logo, para todos os valores x reais tais que x 6= 3 obtemos f(x) = x2 − x− 6 x2 − 4x+ 3 = (x− 3)(x+ 2) (x− 3)(x− 1) = ��� �(x− 3)(x+ 2) ��� �(x− 3)(x− 1) = x+ 2 x− 1 . Enta˜o, lim x→3 x2 − x− 6 x2 − 4x+ 3 = limx→3 x+ 2 x− 1 = 3 + 2 3− 1 = 5 2 . 3. lim x→−2 4− x2 2x+ 4 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o f(x) = 4− x2 2x+ 4 na˜o esta´ definida para x = −2 pois tanto o numerador quanto o denominador sa˜o zero quando x = −2. Fatorando o numerador temos 4 − x2 = (2 − x)(2 + x). Portanto, para todos os valores x reais tais que x 6= −2, f(x) = 4− x2 2x+ 4 = (2− x)(2 + x) 2(x+ 2) = (2− x)����(2 + x) 2��� �(x+ 2) = 2− x 2 . Logo, lim x→−2 4− x2 2x+ 4 = lim x→−2 2− x 2 = 2− (−2) 2 = 2. 4. lim x→−2 x3 + 2x2 3x+ 6 Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = x3 + 2x2 3x+ 6 na˜o esta´ definida para o valor x =−2, pois o numerador e o denominador sa˜o iguais a zero cuando x = −2. Fatorando o numerador obtemos x3 + 2x2 = x2(x+ 2). Enta˜o, para todos os valores x reais tais que x 6= −2 obtemos f(x) = x3 + 2x2 3x+ 6 = x2(x+ 2) 3(x+ 2) = x2��� �(x+ 2) 3��� �(x+ 2) = 1 3 x2. Assim, lim x→−2 x3 + 2x2 3x+ 6 = lim x→−2 1 3 x2 = 1 3 · (−2)2 = 4 3 . F. Rivero e T. Salvador 13 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES 5. lim x→−1 x2 + x x2 + 3x+ 2 Soluc¸a˜o: Enta˜o a func¸a˜o f(x) = x2 + x x2 + 3x+ 2 na˜o esta´ definida para o valor x = −1 pois tanto o numerador quanto o denominador sa˜o zero quando x tem valor de −1. Fatorando o numerador temos que x2 + x = x(x + 1) e fatorando o denominador obtemos x2 + 3x + 2 = (x + 2)(x + 1). Portanto, para todos os valores x reais tais que x 6= −1, f(x) = x2 + x x2 + 3x+ 2 = x(x+ 1) (x+ 2)(x+ 1) = x��� �(x+ 1) (x+ 2)��� �(x+ 1) = x x+ 2 . Portanto, lim x→−1 x2 + x x2 + 3x+ 2 = lim x→−1 x x+ 2 = −1 −1 + 2 = −1. 6. lim x→0 (x+ 1)2 − 1 x Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = (x+ 1)2 − 1 x na˜o esta´ definida para o valor x = 0, pois o numerador e o denominador se aproximam ao zero cuando x tende para 0. Calculando o produto nota´vel no numerador e fatorando depois obtemos (x+1)2−1 = (x2 + 1 + 2x)− 1 = x2 + 2x = x(x+ 2). Logo, para todos os valores x reais tais que x 6= 0 obtemos f(x) = (x+ 1)2 − 1 x = x(x+ 2) x = �x(x+ 2) �x = x+ 2. Enta˜o, lim x→0 (x+ 1)2 − 1 x = lim x→0 (x+ 2) = 2. 7. lim x→1 1− x 1−√x Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o f(x) = 1− x 1−√x na˜o esta´ definida para o valor x = 1 pois tanto o numerador quanto o denominador tem valor de zero quando x = 1. Quando aparece uma raiz no denominador ou no numerador, multiplicamos para obter uma identidade nota´vel da forma (a + b)(a − b) = a2 − b2. Mas, para na˜o mudar a func¸a˜o, precisamos multiplicar tanto o numerador quanto o denominador por o mesmo fator1. 1Multiplicar e dividir pelo mesmo fator e´ como multiplicar por 1. F. Rivero e T. Salvador 14 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES Assim, f(x) = 1− x 1−√x = ( 1− x 1−√x )( 1 + √ x 1 + √ x ) = (1− x)(1 +√x) 1− x . Para todo valor x 6= 1, podemos simplificar a expressa˜o anterior f(x) = 1− x 1−√x = (1− x)(1 +√x) 1− x = ��� �(1− x)(1 +√x) ���1− x = 1 + √ x. Logo, lim x→1 1− x 1−√x = limx→1 ( 1 + √ x ) = 1 + √ 1 = 2. 8. lim x→4 √ x− 2 x− 4 Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = √ x− 2 x− 4 na˜o esta´ definida para o valor x = 4, pois o nu- merador e o denominador sa˜o zero cuando x = 4. Analogamente, vamos multiplicar a func¸a˜o por √ x+ 2√ x+ 2 , obtendo f(x) = √ x− 2 x− 4 = (√ x− 2 x− 4 )(√ x+ 2√ x+ 2 ) = ( √ x− 2)(√x+ 2) (x− 4)(√x+ 2) = x− 4 (x− 4)(√x+ 2) . Assim, para todo valor x 6= 4, f(x) = √ x− 2 x− 4 = x− 4 (x− 4)(√x+ 2) = ���x− 4 ��� �(x− 4)(√x+ 2) = 1√ x+ 2 . Portanto, lim x→4 √ x− 2 x− 4 = limx→4 1√ x+ 2 = 1√ 4 + 2 = 1 4 . 9. lim x→3 √ x+ 6− 3 x− 3 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o f(x) = √ x+ 6− 3 x− 3 na˜o esta´ definida para o valor x = 3 pois tanto o numerador quanto o denominador sa˜o iguais a zero quando x = 3. F. Rivero e T. Salvador 15 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES Multiplicando numerador e denominador por √ x+ 6 + 3 obtemos f(x) = √ x+ 6− 3 x− 3 = (√ x+ 6− 3 x− 3 )(√ x+ 6 + 3√ x+ 6 + 3 ) = ( √ x+ 6)2 − 9 (x− 3)(√x+ 6 + 3) = x− 3 (x− 3)(√x+ 6 + 3) . Enta˜o, para todo valor real x distinto de 3 temos f(x) = √ x+ 6− 3 x− 3 = x− 3 (x− 3)(√x+ 6 + 3) = ���x− 3 ��� �(x− 3)(√x+ 6 + 3) = 1√ x+ 6 + 3 . Logo, lim x→3 √ x+ 6− 3 x− 3 = limx→3 1√ x+ 6 + 3 = 1√ 3 + 6 + 3 = 1 6 . 1.2.1 Limites laterais Quando uma func¸a˜o e´ definida apenas de um lado de um nu´mero c, ou quando uma func¸a˜o se comporta de forma diferente de cada lado de um nu´mero c, e´ mais natural, ao definir o limite, exigir que a varia´vel independente tenda para c apenas do lado que esta´ sendo considerado. Essa situac¸a˜o e´ ilustrada no seguinte exemplo: Exemplo 1.4 Seja a func¸a˜o f(x) = { 3x− 2 se x < 3 5− x se x ≥ 3 . A Figura 1.4 mostra que o valor de f(x) tende a 7 quando x tende a 3 para valores menores que 3, isto e´, f(x) tende a 7 quando x tende a 3 pela esquerda. Denotamos esse fato simbolicamente como lim x→3− f(x) = 7 A figura mostra, tambe´m, que o valor de f(x) tende a 2 quando x tende a 3 para valores maiores que 3, isto e´, f(x) tende a 2 quando x tende a 3 pela direita. Simbolicamente temos lim x→3+ f(x) = 2 F. Rivero e T. Salvador 16 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES Figura 1.4: Gra´fico de f(x). [Video] Estes limites sa˜o chamados de limites laterais e podemos definir como: Definic¸a˜o 1.3 Seja f(x) uma func¸a˜o real com valores reais. Chamamos de limite late- ral a` esquerda quando x tende ao valor c ao limite da func¸a˜o quando x se aproxima de c somente por valores menores ao valor c. Se L e´ o valor do limite lateral a` esquerda da func¸a˜o f(x), enta˜o denotamos por lim x→c− f(x) = L. Analogamente, chamamos de limite lateral a` direita quando x tende ao valor c ao limite da func¸a˜o quando x se aproxima de c somente por valores maiores ao valor c. Se L e´ o valor do limite lateral a` direita da func¸a˜o f(x), enta˜o denotamos por lim x→c+ f(x) = L. O teorema a seguir estabelece a relac¸a˜o entre limites laterais e limites. Teorema 1.5 O lim x→c f(x) existe e e´ igual a L se e somente se os limites laterais sa˜o iguais, ou seja lim x→c− f(x) = lim x→c+ f(x) = L. No Exemplo 1.4, como lim x→3− f(x) 6= lim x→3+ f(x), conclu´ımos que lim x→3 f(x) na˜o existe. Observac¸a˜o: Limites laterais teˆm todas as propriedades enumeradas na Sec¸a˜o 1.2. F. Rivero e T. Salvador 17 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES Exemplo 1.5 Seja f(x) = { 4x+ 7 se x < −1 x2 + 2 se x ≥ −1 . Determinar, caso existir, limx→−1 f(x). Soluc¸a˜o: Como a func¸a˜o tem distintas fo´rmulas a` esquerda e a` direita do valor x = −1, vamos calcular os limites laterais. Se eles tiveram o mesmo valor, enta˜o existira´ o limite. Caso contra´rio, o limite na˜o existira´. Para calcular os limites laterais vamos usar os teoremas 1.1, 1.2 e 1.3 da Sec¸a˜o 1.2. Assim, para obter o limite a` esquerda de −1 da func¸a˜o f(x) usamos a expressa˜o de f(x) para x < −1, obtendo lim x→−1− f(x) = lim x→−1− (4x+ 7) = 4 · (−1) + 7 = 3. Do mesmo modo, para calcular o valor do limite a` direita de −1 de f(x), usamos o valor da expressa˜o da func¸a˜o para os valores x ≥ −1. Logo, lim x→−1+ f(x) = lim x→−1 (x2 + 2) = (−1)2 + 2 = 3. Como lim x→−1− f(x) = lim x→−1+ f(x) = 3, pelo Teorema 1.5 existe o limite de f(x) quando x→ −1 e lim x→−1 f(x) = 3. A Figura 1.5 mostra a func¸a˜o f(x) e os limites laterais quando x tende a −1 pela esquerda e pela direita. Figura 1.5: Limites laterais de f(x) quando x→ −1− e x→ −1+.[Video] F. Rivero e T. Salvador 18 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES Exemplo 1.6 Seja g(x) = x2 + 1 se x < 2 2 se x = 2 9− x2 se x > 2 . Determinar, caso existir, lim x→2 f(x). Soluc¸a˜o: Como a func¸a˜o tem distintas fo´rmulas a` esquerda e a` direita do valor x = 2, vamos calcular os limites laterais. Primeiro vamos calcular o limite a` esquerda usando a fo´rmula para os valores de x menores que2. lim x→2− g(x) = lim x→2− (x2 + 1) = 22 + 1 = 5. Analogamente, para calcular o valor do limite lateral a` direita de x = 2, usamos a fo´rmula de g(x) para os valores maiores que 2. Assim, lim x→2+ g(x) = lim x→2+ (9− x2) = 9− 22 = 5. Como lim x→2− g(x) = lim x→2+ g(x) = 5, pelo Teorema 1.5 existe o limite de g(x) quando x→ 2 e lim x→2 g(x) = 5. A Figura 1.6 mostra a func¸a˜o g(x) e os limites laterais quando x tende a 2 pela esquerda e pela direita. Figura 1.6: Limites laterais de g(x) quando x→ 2− e x→ 2+. [Video] Observac¸a˜o: Neste caso o valor da func¸a˜o no ponto x = 2 e´ distinto do valor do limite quando x→ 2. F. Rivero e T. Salvador 19 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES Exemplo 1.7 Seja h(x) = { x+ 1 se x ≤ 3 3x− 7 se x > 3 . Determine, caso existam, os seguintes limites: 1. lim x→0 h(x) 2. lim x→3 h(x) 3. lim x→5 h(x) Soluc¸a˜o: 1. Como a func¸a˜o h(x) tem a mesma fo´rmula a` esquerda e a` direita do valor x = 0, o ca´lculo do limite e´ feito aplicando o Teorema 1.3. Assim, lim x→0 h(x) = lim x→0 (x+ 1) = 0 + 1 = 1. Logo, lim x→0 h(x) = 1. 2. Como a func¸a˜o h(x) tem distintas fo´rmulas a` esquerda e a` direita do valor x = 3, vamos calcular os limites laterais. Vamos calcular o limite a` esquerda. Para isso usamos a fo´rmula para os valores x < 3. lim x→3− h(x) = lim x→3− (x+ 1) = 3 + 1 = 4. Agora vamos calcular o limite a` direita usando a fo´rmula para os valores x > 3. lim x→3+ h(x) = lim x→3+ (3x− 7) = 3 · 3− 7 = 2. Como lim x→3− h(x) 6= lim x→3+ h(x), na˜o existe o limite lim x→3 h(x). 3. Como a func¸a˜o h(x) tem a mesma fo´rmula a` esquerda e a` direita do valor x = 5, o ca´lculo do limite e´ feito aplicando o Teorema 1.3. Assim, lim x→5 h(x) = lim x→5 (3x− 7) = 3 · 5− 7 = 8. Logo, lim x→5 h(x) = 8. A Figura 1.7 mostra a func¸a˜o h(x) e os limites anteriores. F. Rivero e T. Salvador 20 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES Figura 1.7: Limites de i), ii) e iii) de h(x). [Video] Vamos ver um problema aplicado a` Economia. Exemplo 1.8 Os organizadores de um evento esportivo estimam que se o evento e´ anun- ciado com x semanas de antecedeˆncia, a receita obtida sera´ R(x) milhares de do´lares, onde R(x) = 15x− x2 − 50. O custo de divulgac¸a˜o do evento para x semanas e´ C(x) milhares de do´lares, onde C(x) = x− 5. O lucro para os organizadores e´ definido como a diferenc¸a entre a receita e o custo. Portanto, a func¸a˜o lucro L(x) e´ dada por L(x) = R(x)− C(x) = (15x− x2 − 50)− (x− 5) = 14x− 45− x2. A Figura 1.8 mostra o gra´fico da func¸a˜o lucro, onde somente precisamos mostrar os valores de L(x) para valores positivos de x porque na˜o tem sentido considerar dias negativos. F. Rivero e T. Salvador 21 Matema´tica para Economia I 1.2. PROPRIEDADES DOS LIMITES CAPI´TULO 1. LIMITES Figura 1.8: Gra´fico da func¸a˜o lucro L(x) Vemos que para o valor x = 7 a func¸a˜o lucro atinge seu valor ma´ximo, com um valor de L(7) = 4. Logo o lucro ma´ximo ma´ximo e´ de $4.000 e e´ atingido com uma divulgac¸a˜o de 7 semanas. A relac¸a˜o entre receita e custo e´ definida por Q(x) = R(x) C(x) = 15x− x2 − 50 x− 5 e pode ser interpretada como o aumento da receita dependendo do custo. Se avaliamos a func¸a˜o Q(x) no valor ma´ximo para o lucro, obtemos que Q(7) = 15 · 7− 72 − 50 7− 5 = 6 2 = 3. Enta˜o, para x = 7 o valor da receita e´ o triplo do custo, isto e´, R(7) = 3C(7). Substituindo na definic¸a˜o da func¸a˜o lucro obtemos L(7) = R(7)− C(7) = 3C(7)− C(7) = 2C(7). Logo, o lucro ma´ximo e´ o dobro do custo. Vamos estudar agora o que acontece quando queremos determinar R(5). Como nesse valor lucro e receita tem valor 0, precisamos calcular o limite da func¸a˜o R(x) quando x→ 5. Vamos fatorar a func¸a˜o. Assim, para todo valor x distinto de 5, obtemos 15x− x2 − 50 x− 5 = −(x− 5)(x− 10) x− 5 = −����(x− 5)(x− 10) ���x− 5 = 10− x. F. Rivero e T. Salvador 22 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.3. CONTINUIDADE Portanto, lim x→5 R(x) = lim x→5 (10− x) = 10− 5 = 5, e a` medida que nos aproximamos da quinta semana, a receita e´ cinco vezes maior do que o custo, ou seja, que R(5) = 5C(5) e L(5) = R(5)− C(5) = 5C(5)− C(5) = 4C(5). Mas como o valor do custo para x = 5 e´ zero, enta˜o o lucro tambe´m tem valor 0. 1.3 Continuidade Na linguagem comum, um processo cont´ınuo e´ aquele que ocorre sem interrupc¸o˜es ou mudanc¸as repentinas, isto e´, pequenas variac¸o˜es na varia´vel correspondem pequenas variac¸o˜es nas imagens. Intuitivamente, dizemos que uma func¸a˜o e´ cont´ınua se podemos desenhar o seu gra´fico sem interrupc¸o˜es, buracos ou pulos. Formalmente, a definic¸a˜o de continuidade e´ expressa utilizando a noc¸a˜o de limite da seguinte maneira: Definic¸a˜o 1.4 Seja c um valor de R. Uma func¸a˜o real f e´ cont´ınua em c se, i) f(c) e´ definida, ii) lim x→c f(x) existe, iii) lim x→c f(x) = f(c). Dizemos que uma func¸a˜o f e´ cont´ınua num intervalo de R se ela e´ cont´ınua em todos os valores do intervalo, isto e´, si para todo valor c no intervalo, f e´ cont´ınua em c. Observac¸a˜o: Uma func¸a˜o f sempre e´ cont´ınua no seu domı´nio D(f). Na Figura 1.1 (pa´g 6), na Figura 1.2 (b) e (c) (pa´g. 7) e na Figura 1.3 (pa´g. 8) temos exemplos de func¸o˜es na˜o cont´ınuas. Exemplo 1.9 Verifique se as func¸o˜es abaixo sa˜o cont´ınuas em x = −2 1. f(x) = x3 − 2x+ 1 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o esta´ definida para o valor x = −2 e que f(−2) = −3. Aplicando o Teorema 1.3, lim x→−2 f(x) = lim x→−2 (x3 − 2x+ 1) = (−2)3 − 2 · (−2) + 1 = −3. F. Rivero e T. Salvador 23 Matema´tica para Economia I 1.3. CONTINUIDADE CAPI´TULO 1. LIMITES Como lim x→−2 f(x) = f(−2), enta˜o f(x) e´ cont´ınua no valor x = −2. Na Figura 1.9 (a) podemos olhar o gra´fico da func¸a˜o f(x). 2. g(x) = x2 + 1 x+ 1 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o esta´ definida para o valor x = −2 e que g(−2) = −5. Se calculamos o limite de g quando x→ −2 obtemos lim x→−2 g(x) = lim x→−2 x2 + 1 x+ 1 = (−2)2 + 1 −2 + 1 = −5, onde aplicamos o Teorema 1.3. Como lim x→−2 g(x) = g(−2), enta˜o g(x) e´ cont´ınua no valor x = −2. Na Figura 1.9 (b) podemos olhar o gra´fico da func¸a˜o g(x). iii) h(x) = x+ 7 se x < −2 5 se x = −2 3− x se x > −2 Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o esta´ definida para o valor x = −2 e que h(−2) = 5. Para calcular o limite de h quando x → −2 precisamos calcular os limites laterais porque a func¸a˜o tem distintas fo´rmulas a` esquerda e a` direita de x = −2. Assim, o limite a` esquerda de h e´ lim x→−2− h(x) = lim x→−2−2 (x+ 7) = −2 + 7 = 5, e o limite a` direita de h e´ lim x→−2+ h(x) = lim x→−2+ (3− x) = 3− (−2) = 5, onde aplicamos o Teorema 1.3 para ambos os casos. Como lim x→−2 h(x) = h(−2), enta˜o h(x) e´ cont´ınua no valor x = −2. Na Figura 1.9 (c) podemos olhar o gra´fico da func¸a˜o h(x). F. Rivero e T. Salvador 24 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.3. CONTINUIDADE (a) Continuidade de f no valor x = −2 (b) Continuidade de g no valor x = −2 (c) Continuidade de h no valor x = −2 Figura 1.9: Gra´ficos das func¸o˜es do Exemplo 1.9 [Video] Vimos na Sec¸a˜o 1.2 que, se p(x) e q(x) sa˜o func¸o˜es polinomiais, enta˜o lim x→c p(x) = p(c) e lim x→c r(x) = r(c) se q(c) 6= 0. De acordo com esses resultados e pela definic¸a˜o de conti- nuidade, temos: Teorema 1.6 Uma func¸a˜o polinomial e´ cont´ınua em todos os nu´meros reais. Teorema 1.7 Uma func¸a˜o racional e´ cont´ınua em todos os nu´meros nos quais e´ definida. Exemplo 1.10 1. A func¸a˜o f(x) = 3x2 − x+ 5 e´ cont´ınua em todo R. 2. A func¸a˜og(x) = x+ 1 x− 2 e´ cont´ınua em D(g) = R − {2}, porque o denominador da func¸a˜o tem valor zero para x = 2. F. Rivero e T. Salvador 25 Matema´tica para Economia I 1.3. CONTINUIDADE CAPI´TULO 1. LIMITES 3. A func¸a˜o h(x) = x− 2 x2 + 1 e´ cont´ınua em R porque o denominador nunca se anula. Exemplo 1.11 Verificar a continuidade das seguintes func¸o˜es nos valores dados. 1. f(x) = { x2−4 x−2 se x 6= 2 1 se x = 2 , em x = 2. Soluc¸a˜o: Temos que f(2) = 1 e, portanto, f esta´ definida para x = 2. Agora vamos calcular o limite da func¸a˜o quando x tende ao valor 2. Como o numerador e o denominador tem valor zero quando x = 2, vamos fatorar a func¸a˜o. Assim, para x 6= 2, x2 − 4 x− 2 = (x− 2)(x+ 2) x− 2 = ��� �(x− 2)(x+ 2) ���x− 2 = x+ 2. Portanto, lim x→2 f(x) = lim x→2 (x+ 2) = 2 + 2 = 4. Como f(2) 6= lim x→2 f(x), a func¸a˜o e´ descont´ınua em x = 2. 2. g(x) = x2 − 1 se x < 4 15 se x = 4 3x+ 3 se x > 4 , em x = 4. Soluc¸a˜o: Como o valor de g(4) = 15, a func¸a˜o esta´ definida em x = 4. Agora vamos calcular o limite da func¸a˜o quando x → 4. Como a func¸a˜o tem distintas fo´rmulas a` esquerda e a` direita, vamos calcular os limites laterais. Assim, lim x→4− g(x) = lim x→4− (x2 − 1) = 42 − 1 = 15, e lim x→4+ g(x) = lim x→4+ (3x+ 3) = 3 · 4 + 3 = 15. Portanto, como lim x→4− g(x) = lim x→4+ g(x) = 15, enta˜o lim x→4 g(x) = 15. Alia´s, como g(4) = lim x→4 g(x), a func¸a˜o e´ cont´ınua em x = 4. F. Rivero e T. Salvador 26 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.3. CONTINUIDADE 3. h(x) = {√ x+ 4 se x ≥ 0 x− 2 se x < 0 , em x = 0. Soluc¸a˜o: Tem-se que a func¸a˜o h esta´ definida para o valor x = 0 e que h(0) = 2. Vamos calcular o limite da func¸a˜o quando x → 0 calculando os limites laterais. Pelas propriedades dos limites do Teorema 1.2, obtemos lim x→0− h(x) = lim x→0− √ x+ 4 = √ lim x→0 (x+ 4) = √ 4 = 2. Vamos calcular agora o limite a` direita de zero. lim x→0+ h(x) = lim x→0+ (x− 2) = 0− 2 = −2. Como os limites laterais tem valores distintos, enta˜o lim x→0 h(x) na˜o existe e, portanto, a func¸a˜o na˜o e´ cont´ınua em x = 0. Na Figura 4.3 podemos observar os gra´ficos das func¸o˜es f , g e h do Exemplo 1.11. Exemplo 1.12 Seja f(x) = { x3−1 x−1 se x 6= 1 α se x = 1 . Determine o valor de α para que f seja cont´ınua em todos os nu´meros reais. Soluc¸a˜o: Pela Definic¸a˜o 1.4, precisamos que f(1) = lim x→1 f(x). Enta˜o vamos calcular o limite e dar esse valor para α. Como o numerador e o denominador teˆm valor zero quando x vai para 1, vamos fazer uma fatorac¸a˜o. Assim, para todo valor x 6= 1, obtemos x3 − 1 x− 1 = (x− 1)(x2 + x+ 1) x− 1 = ��� �(x− 1)(x2 + x+ 1) ���x− 1 = x 2 + x+ 1. Logo, lim x→1 f(x) = lim x→1 (x2 + x+ 1) = 12 + 1 + 1 = 3. Portanto, se α = 3, enta˜o f(1) = lim x→1 f(x) e a func¸a˜o sera´ cont´ınua para x = 1. Usualmente o custo de produzir uma determinada mercadoria depende do nu´mero de unidades produzidas. Esa relac¸a˜o e´ dada pela func¸a˜o de custo, que denotamos por C(x), onde x representa o nu´mero de unidades produzidas. F. Rivero e T. Salvador 27 Matema´tica para Economia I 1.3. CONTINUIDADE CAPI´TULO 1. LIMITES (a) Descontinuidade de f no valor x = 2 (b) Continuidade de g no valor x = 4 (c) Descontinuidade de h no valor x = 0 Figura 1.10: Gra´ficos das func¸o˜es do Exemplo 1.11 [Video] Exemplo 1.13 O custo de impressa˜o de x centenas de livros educativos, em milhares de reais, para uma editora e´ dado pela func¸a˜o de custo C(x) = { x2 + 1 se x ≤ 16 252 + 100 x+ √ x se x > 16 Vamos verificar que a func¸a˜o custo dada e´ cont´ınua. Como a func¸a˜o esta´ definida por duas fo´rmulas, teremos que estudar a continuidade de cada uma delas e o ponto de unia˜o de ambas. • Para os valores x < 16, a func¸a˜o x2 + 1 e´ cont´ınua porque e´ uma func¸a˜o polinomial. Portanto, a func¸a˜o C(x) e´ cont´ınua para tudo x < 16. • O domı´nio da func¸a˜o 252 + 100 x+ √ x e´ o conjunto dos nu´meros reais estritamente F. Rivero e T. Salvador 28 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.3. CONTINUIDADE positivos, isto e´ D = {x no R : x > 0}. Como a func¸a˜o custo esta´ definida desta maneira para todo valor x > 16, enta˜o C(x) e´ cont´ınua para todo x > 16. • Vamos estudar agora a continuidade no valor x = 16. Temos que C(16) = 162 +1 = 257. Agora precisamos calcular o limite de C(x) quando x → 16 usando os limites laterais. Assim o limite a` esquerda e´ lim x→16− C(x) = lim x→16 (x2 + 1) = 162 + 1 = 257, e o limite a` direita e´ lim x→16+ C(x) = lim x→16 ( 252 + 100 x+ √ x ) = 252 + 100 16 + √ 16 = 257. Portanto lim x→16 C(x) = 257 = C(16) e a func¸a˜o C(x) e´ cont´ınua para todo x em R. Na Figura 1.11 temos o gra´fico da func¸a˜o C(x). Figura 1.11: Gra´fico da func¸a˜o custo C(x) do e Exemplo 1.13 F. Rivero e T. Salvador 29 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4 Limites envolvendo infinito 1.4.1 Limites infinitos Na Sec¸a˜o 1.1 calculamos o limite L dos valores f(x) de uma func¸a˜o quando x tende para um nu´mero real c, isto e´, lim x→c f(x) = L onde L e´ um nu´mero real. Pode ocorrer que, a` medida que x se aproxime de um nu´mero c, os valores de f(x) tornem-se muito grandes (em valor absoluto). Esse fato pode ser ilustrado pelos seguintes exemplos. Exemplo 1.14 Seja f(x) = 1 (x− 1)2 . Essa func¸a˜o na˜o e´ definida para x = 1, mas pode- mos analisar o comportamento dos valores de f(x) quando x esta´ a` esquerda ou a` direita desse nu´mero. Para x pro´ximo de 1, o denominador e´ muito pequeno, o que significa que o quociente e´ muito grande. A tabela abaixo mostra o aumento de f(x) a` medida que x→ 1. x 0,9 0,99 0,999 1 1,001 1,01 1,1 f(x) 100 10.000 1.000.000 – 1.000.000 10.000 100 Observamos que quando x se aproxima de 1 pela esquerda ou pela direita, os valores de f(x) aumentam. Se admitirmos que esses valores possam crescer ilimitadamente, diremos que: • O limite de f(x) = 1 (x− 1)2 quando x tende a 1 pela esquerda e´ mais infinito e indicaremos por lim x→1− f(x) = +∞. • O limite de f(x) = 1 (x− 1)2 quando x tende a 1 pela direita e´ mais infinito e indi- caremos por lim x→1+ f(x) = +∞. Como a func¸a˜o tem o mesmo comportamento a` direita e a` esquerda de 1 conclu´ımos que lim x→1 f(x) = +∞. A Figura 1.12 (a) mostra um esboc¸o do gra´fico da func¸a˜o f . Podemos indicar de forma ana´loga, o comportamento de uma func¸a˜o cujos valores decrescem ilimitadamente. F. Rivero e T. Salvador 30 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Exemplo 1.15 Vamos considerar a func¸a˜o g(x) = x (x+ 3)2 . A tabela a seguir mostra os valores de g(x) para alguns valores de x na vizinhanc¸a de −3. x - 3,1 -3,01 - 3,001 - 3 - 2,999 - 2,99 - 2,9 g(x) -310 - 30.100 - 3.001.000 – - 2.999.000 - 29.900 -290 Vemos que os valores de g(x) sa˜o negativos e muito grandes em valor absoluto para valores de x pro´ximos de −3, isto e´, os valores de g(x) decrescem ilimitadamente a` medida que x se aproxima de −3 pela esquerda ou pela direita. Escrevemos, nesse caso, que lim x→−3− g(x) = −∞ e lim x→−3+ g(x) = −∞. Como os limites laterais sa˜o iguais podemos afirmar que lim x→−3 g(x) = −∞. O gra´fico de g aparece na Figura 1.12 (b). Uma definic¸a˜o formal deste limite infinito e´: Definic¸a˜o 1.5 Dizemos que a func¸a˜o real f com valores reais tem limite +∞ (−∞) quando x tende ao valor c se para todo valor δ > 0 existe um valor M > 0 (M < 0) tal que f(x) > M (f(x) < M) para todo valor x verificando |x− c| < δ. Exemplo 1.16 Seja agora a func¸a˜o h(x) = 2 x−1 . Olhando a Figura 1.12 (c), vemos que a` medida que x se aproxima de 1 pela esquerda, os valores de h(x) decrescem ilimita- damente, isto e´, lim x→1− h(x) = −∞. Vemos, tambe´m, que quando x se aproxima de 1 pela direita, os valores de h(x) crescem ilimitadamente, ou seja, lim x→1+ h(x) = +∞. Como a func¸a˜o tem comportamento distinto a` esquerda e a` direita de 1, conclu´ımos que na˜o existe limite de h(x) quando x→ 1. O seguinte teorema estabelece o ca´lculo de limites infinitos, Teorema 1.8 Se lim x→c+ f(x) = L, L 6= 0 e lim x→c+ g(x) = 0 enta˜o, lim x→c+ f(x) g(x) = ±∞, com o sinal dependendo dos sinais de L e de g(x) a` direita de c. F. Rivero e T. Salvador 31 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES (a) Limite infinito de f no valor x = 1 (b) Limite infinito de g no valor x = −3 (c) Distintos limites laterais para h no valor x = 1 Figura 1.12: Gra´ficas das func¸o˜es do Exemplo 1.14, Exemplo 1.15 e Exemplo 1.16 [Video] Observac¸a˜o: O Teorema 1.8 anterior pode ser enunciado para o limite a` esquerda de c com as mesmas concluso˜es. A existeˆncia do limite em c depende da igualdade dos limites laterais. Exemplo 1.17 Calcular os seguintes limites, 1. lim x→5+ 9− x x− 5 . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = 9 − x e g(x) = x − 5, enta˜o temos que lim x→5+ f(x) = 4 e lim x→5+ g(x) = 0. Pelo Teorema 1.8, o limite vai ser +∞ ou −∞. Vamos determinar o sinal do limite. Para isso precisamos fazer um estudo do sinal do numerador f(x) e do denominador g(x) para os valores a` direita de x = 5. F. Rivero e T. Salvador 32 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Assim, para qualquer valor x < 9, f(x) e´ sempre positivo. Para todo valor x > 5, o valor de g(x) e´ positivo. Como estamos calculando o limite a` direita para x = 5, enta˜o g(x) e´ sempre positivo. Portanto, como ambos f(x) e g(x) sa˜o positivos a` direita de 5, concluimos que lim x→5+ 9− x x− 5 = +∞. 2. lim x→2− −3x x− 2 . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = −3x e g(x) = x − 2, enta˜o temos que lim x→2− f(x) = 6 e lim x→2− g(x) = 0. Pelo Teorema 1.8, o limite vai ser +∞ ou −∞. Vamos determinar o sinal do limite. Precisamos estudar os valores a` esquerda de x = 2. Assim, para qualquer valor positivo de x, temos que f(x) < 0. Para todo valor x < 2, o valor de g(x) e´ negativo. Como estamos calculando o limite para valores a` esquerda de 2, enta˜o g(x) < 0. Portanto, como f(x) e g(x) sa˜o negativos, concluimos que lim x→2− −3x x− 2 = +∞. 3. lim x→0− x2 + 1 x2 + x . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = x2 + 1 e g(x) = x2 + x, enta˜o temos que lim x→0− f(x) = 1 e lim x→0− g(x) = 0. Pelo Teorema 1.8, o limite vai ser +∞ ou −∞. Vamos determinar o sinal do limite. Precisamos estudar os valores a` esquerda de x = 0. Temos que o valor de f(x) = 0 e´ sempre positivo para qualquer x em R. Fatorando g(x) temos que g(x) = x(x+ 1) e, como e´ um produto de dois elementos, sera´ positivo se ambos tivessem o mesmo sinal e negativo se tivessem sinais opostos. Como estamos estudando o sinal a esquerda de 0, enta˜o x < 0. Por outro lado, (x + 1) e´ positivo quando x > −1. Enta˜o temos que g(x) < 0 quanto x tende a 0 pela esquerda. Assim, lim x→0− x2 + 1 x2 + x = −∞. 4. lim x→−2+ 1− x x+ 2 . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = 1− x e g(x) = x+ 2, enta˜o temos que lim x→−2+ f(x) = −3 e lim x→−2+ g(x) = 0. Pelo Teorema 1.8, o limite vai ser +∞ ou −∞. F. Rivero e T. Salvador 33 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES Para determinar o sinal do limite precisamos estudar os valores a` direita de x = −2. Para todo x < 1, temos que f(x) > 0 e para x > −2, o valor de g(x) e´ positivo. Como estamos calculando o limite para valores a` direita e pro´ximos de −2, enta˜o f(x) e g(x) sa˜o positivas. Logo, concluimos que lim x→−2+ 1− x x+ 2 = +∞. 5. lim x→0 5 x3 − x2 . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = 5 e g(x) = x3 − x2, enta˜o temos que lim x→0 f(x) = 5 e lim x→0 g(x) = 0. Fatorando g(x) obtemos que g(x) = x2(x − 1) e a func¸a˜o e´ negativa para todo valor x < 1 (x2 e´ sempre positivo). Como f(x) no zero e´ positiva e g(x) e´ negativa para todo valor numa vizinhanc¸a de zero, enta˜o 5 x3 − x2 < 0 para todo valor x perto de zero a` esquerda e a` direita. Pelo Teorema 1.8, conclu´ımos que os limites laterais sa˜o −∞ e, portanto, lim x→0 5 x3 − x2 = −∞. 6. lim x→−1 x− 2 x+ 1 . Soluc¸a˜o: Sendo f(x) = x−2 e g(x) = x+1, enta˜o lim x→−1 f(x) = −3 e lim x→−1 g(x) = 0. Vamos estudar o sinal de g(x) numa vizinhanc¸a de −1. Temos que se x < −1, enta˜o g(x) e´ negativo e se x > −1, enta˜o g(x) e´ positivos. Logo, aplicando o Teorema 1.8, lim x→−1− x− 2 x+ 1 = +∞, lim x→−1+ x− 2 x+ 1 = −∞. Como os limites laterais sa˜o distintos, enta˜o concluimos que na˜o lim x→−1 x− 2 x+ 1 na˜o existe. Os gra´ficos das func¸o˜es do Exemplo 1.17 esta˜o esboc¸ados na Figura 1.13. F. Rivero e T. Salvador 34 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO (a) Gra´fico da func¸a˜o 9− x x− 5 (b) Gra´fico da func¸a˜o −3x x− 2 (c) Gra´fico da func¸a˜o x2 + 1 x2 + x (d) Gra´fico da func¸a˜o 1− x x+ 2 (e) Gra´fico da func¸a˜o 5 x3 − x2 (f) Gra´fico da func¸a˜o x− 2 x+ 1 Figura 1.13: Gra´ficas das func¸o˜es do Exemplo 1.17 F. Rivero e T. Salvador 35 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4.2 Limites no infinito Estamos interessados, agora, em conhecer o comportamento dos valores f(x) de uma func¸a˜o quando x cresce ou decresce ilimitadamente. Vamos calcular alguns valores de f(x) = 1 x quando x cresce ilimitadamente. x 10 100 1000 10.000 100.000 1.00.000 f(x) 0,1 0,01 0,001 0,0001 0,00001 0,000001 Observamos que, a` medida que x cresce ilimitadamente, os valores de f(x) se aproxi- mam de zero, isto e´, lim x→0 f(x) = 0. De modo geral, temos: Teorema 1.9 Se n e´ um nu´mero inteiro positivo e c e´ um nu´mero real enta˜o lim x→±∞ c xn = 0. O teorema anterior mostra que se temos um termo que tende para infinito no nu- merador e un termo constante no numerador, enta˜o o limite do quociente tende para zero. Observac¸a˜o: O Teorema 1.9 pode ser usado para outras func¸o˜es ale´m de xn que aumentam indefinidamente quando x→ ±∞. O Exemplo 1.18 mostra algumas delas. Para o ca´lculo de limites no infinito de func¸o˜es polinomiais e de func¸o˜es racionais temos os seguintes teoremas: Teorema 1.10 Seja n un nu´mero inteiro positivo, a0, . . . , an nu´meros reias e p(x) = a0 + a1x+ a2x 2 + · · ·+ anxn uma func¸a˜o polinomial. Enta˜o, lim x→±∞ p(x) = lim x→±∞ anx n. Note que o teorema nos diz que o limite no infinito de um polinoˆmio depende somente do termo de grau maior. Quando os valores de x aumentan muito, o valor de um polinoˆmio se aproxima ao valor do seu termo dominante porque o valor dos outros termos e´ muito menor em comparac¸a˜o. Observac¸a˜o: Da mesma maneira que acontece com o Teorema 1.9, o Teorema 1.10 pode ser usado para func¸o˜es na˜o polinoˆmiais com termos dominantes que aumentam ou diminuem ilimitadamente quando a varia´vel vai para ±∞. Alguns exemplos aparecem no Exemplo 1.18. F. Rivero e T. Salvador 36 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Teorema 1.11 Sejam n e m nu´meros inteiros positivos, a0, . . . , an e b0, b1, . . . , bm nu´meros reais e p(x) = a0 + a1x+ a2x 2 + · · ·+ anxn e q(x) = b0 + b1x+ b2x2 + · · ·+ bmxm func¸o˜es polinomiais. Enta˜o, lim x→±∞ p(x) q(x) = lim x→±∞ anx n bmxm = lim x→±∞ an bm xn−m. O teorema diz que o limite no infinito de um quociente de dois polinoˆmiose´ determi- nado pelos termos de maior grau de cada um deles. Assim, se o numerador e denominador sa˜o do mesmo grau, enta˜o para valores (absolutamente) grandes de x o limite e´ a raza˜o entre os coeficientes das condic¸o˜es dominantes. Se o denominador e´ de grau mais elevado do que o numerador, o limite e´ 0. Finalmente, se o grau do numerador excede o grau do denominador, o limite e´ infinito. O sinal depende do sinal dos coeficientes dos termos dominantes. Exemplo 1.18 Vamos calcular os seguintes limites no infinito aplicando os teoremas anteriores 1. lim x→+∞ 5 x4 Soluc¸a˜o: Chamando de c = 5, pelo Teorema 1.9 tem-se que o limite e´ zero. lim x→+∞ 5 x4 = 0. 2. lim x→−∞ 2 3x5 Soluc¸a˜o: Chamando de c = 2 3 , pelo Teorema 1.9 tem-se que o limite e´ zero. lim x→−∞ 2 3x5 = 0. 3. lim x→+∞ 7 2 √ x Soluc¸a˜o: Apesar de que √ x na˜o ser um polinoˆmio, temos que cresce ilimitadamente quando x → +∞. Portanto, temos um quociente onde o numerador e´ constante e o denominador tende para infinito. Logo, lim x→+∞ 7 2 √ x = 0 F. Rivero e T. Salvador 37 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES 4. lim x→−∞ (1− x2 + x3 + 3x4 − 2x7) Soluc¸a˜o: Aplicando o Teorema 1.10, lim x→−∞ (1− x2 + x3 + 3x4 − 2x7) = lim x→−∞ −2x7 Como x7 x→−∞−−−−→ −∞, enta˜o −2x7 x→−∞−−−−→ +∞. Assim, lim x→−∞ (1− x2 + x3 + 3x4 − 2x7) = +∞ 5. lim x→−∞ (2x5 + x2 − 4) Soluc¸a˜o: Pelo Teorema 1.10, lim x→−∞ (2x4 + x2 − 4) = lim x→−∞ 2x4 Como x4 x→−∞−−−−→ +∞ porque x4 sempre e´ positivo, enta˜o lim x→−∞ (2x4 + x2 − 4) = +∞ 6. lim x→+∞ (x3 − 3x2 + x− 7) Soluc¸a˜o: Usando o Teorema 1.10, lim x→+∞ (x3 − 3x2 + x− 7) = lim x→+∞ x3 Como x3 x→+∞−−−−→ +∞, enta˜o lim x→+∞ (x3 − 3x2 + x− 7) = +∞ 7. lim x→+∞ ( √ x− 5x2 + 8) Soluc¸a˜o: A func¸a˜o f(x) = √ x − 5x2 + 8 na˜o e´ polinomial porque tem um termo com um exponente fraciona´rio2, mas o valor do limite de f(x) quando x → ±∞ e´ como o valor do limite de x2. 2Lembrar que √ x = x 1 2 F. Rivero e T. Salvador 38 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Assim, lim x→+∞ ( √ x− 5x2 + 8) = lim x→+∞ −5x2 = −∞ porque x2 e´ sempre positivo para todo valor de x real e, portanto, −x2 e´ sempre negativo. 8. lim x→−∞ (x3 − cos(x) + 15) Soluc¸a˜o: Neste caso, a func¸a˜o f(x) = x3 − 3 cos(x) + 15 na˜o e´ um polinoˆmio pois o termo 3 cos(x) e´ uma func¸a˜o trigonome´trica limitada ja que seus valores sempre ficam entre 1 e −1, mas o valor do limite de f(x) quando x→ ±∞ e´ o mesmo que o valor do limite de x3. Enta˜o, temos que lim x→−∞ (x3 − cos(x) + 15) = lim x→−∞ x3 = −∞ porque x3 e´ negativo para valores negativos de x. 9. lim x→+∞ 2x− 5 7x+ 8 Soluc¸a˜o: Vamos usar o Teorema 1.11. Sendo p(x) = 2x− 5 e q(x) = 7x+ 8, onde os termos de grau maior sa˜o 2x e 7x respetivamente. Logo, lim x→+∞ p(x) q(x) = lim x→+∞ 2x 7x = lim x→+∞ 2�x 7�x = lim x→+∞ 2 7 = 2 7 10. lim x→−∞ 2x3 − 3x+ 5 4x5 − 2 Soluc¸a˜o: Sendo p(x) = 2x3−3x+5 e de q(x) = 4x5−2, pelo Teorema 1.11, temos lim x→−∞ 2x3 − 3x+ 5 4x5 − 2 = limx→−∞ 2x3 4x5 = lim x→−∞ 2��x 3 4x��� 2 5 = lim x→−∞ 2 4x2 Usando agora o Teorema 1.10, lim x→−∞ 2 4x2 = 0. Logo, lim x→−∞ 2x3 − 3x+ 5 4x5 − 2 = limx→−∞ 2 4x2 = 0 F. Rivero e T. Salvador 39 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES 11. lim x→+∞ x4 − 3x+ 5 2 + 4x− x2 Soluc¸a˜o: Sejam p(x) = x4− 3x+ 5 e q(x) = 2 + 4x− x2. Usando o Teorema 1.11, lim x→+∞ x4 − 3x+ 5 2 + 4x− x2 = limx→+∞ x4 −x2 = limx→+∞ x��� 2 4 (−1)��x2 = lim x→+∞ (−x2). Assim, pelo Teorema 1.10, lim x→+∞ x4 − 3x+ 5 2 + 4x− x2 = limx→+∞(−x 2) = −∞. 12. lim x→−∞ 3− 2x+ x2 − 4x3 x3 + 5x2 + 4 Soluc¸a˜o: Usando o Teorema 1.11, temos lim x→−∞ 3− 2x+ x2 − 4x3 x3 + 5x2 + 4 = lim x→−∞ −4x3 x3 = lim x→−∞ −4��x3 ��x 3 = lim x→−∞ (−4) = −4. 13. lim x→−∞ x3 + 3x2 − 5 8− 5x− x2 Soluc¸a˜o: Sejam p(x) = x3 + 3x2 − 5 e de q(x) = 8− 5x− x2. Pelo Teorema 1.11, temos lim x→−∞ x3 + 3x2 − 5 8− 5x− x2 = limx→−∞ x3 −x2 = limx→−∞ x��� 1 3 (−1)��x2 = lim x→−∞ (−x) = +∞. Na Economia, o custo me´dio e´ o custo por unidade para produzir uma certa quanti- dade, isto e´, o custo total dividido pelo nu´mero de unidades produzidas. Se o custo para producir uma quantidade x e´ dado pela func¸a˜o C(x), enta˜o a func¸a˜o custo me´dio C e´ dada por C(x) = C(x) x . Exemplo 1.19 Vamos voltar ao Exemplo 1.13 e calcular os limites no infinito para as func¸o˜es custo C(x) e custo me´dio C(x). Lembre-se que a func¸a˜o de custo e´ C(x) = { x2 + 1 se x ≤ 16 252 + 100 x+ √ x se x > 16 F. Rivero e T. Salvador 40 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Para calcular o limite de C(x) quando x → +∞, so´ precisamos estudar o valor da func¸a˜o para valores de x muito grandes, isto e´, precisamos calcular o seguinte limite: lim x→+∞ ( 252 + 100 x+ √ x ) . Neste caso, na˜o podemos usar o Teorema 1.11 porque na˜o temos um quociente de polinoˆmios, mas podemos deduzir o limite usando argumentos similares. Na expressa˜o 100 x+ √ x o numerador e´ constante e o denominador cresce indefinidamente quando x → +∞. Logo, lim x→+∞ 100 x+ √ x = 0. Usando as propiedades dos limites do Teorema 1.2 da Sec¸a˜o 1.2, temos lim x→+∞ C(x) = lim x→+∞ ( 252 + 100 x+ √ x ) = lim x→+∞ 252 + lim x→+∞ 100 x+ √ x = 252 + 0. Assim, quando aumenta muito o nu´mero de livros impressos, o custo da impressa˜o e´ de aproximadamente R$252.000. Que acontece com o custo me´dio? Na Figura 1.14 podemos ver o gra´fico da func¸a˜o C(x) Para calcular o limite do custo me´dio por livro impresso quando a editora quer um nu´mero grande de exemplares, precisamos calcular lim x→+∞ C(x) = lim x→+∞ C(x) x = lim x→+∞ ( 252 x + 100 x(x+ √ x) ) . Acontece o mesmo problema com o ca´lculo do limite ja´ que na˜o temos uma relac¸a˜o de dois polinoˆmios, mas podemos fazer um razoc´ınio ana´logo. Temos que a func¸a˜o 100 x(x+ √ x) e´ um quociente onde o numerador e´ constante e o denominador cresce ilimitadamente quando x aumenta. Logo, lim x→∞ 100 x(x+ √ x) = 0. Usando agora o Teorema 1.9 e o Teorema 1.2, obtemos lim x→+∞ C(x) = lim x→+∞ ( 252 x + 100 x(x+ √ x) ) = lim x→+∞ 252 x + lim x→+∞ 100 x(x+ √ x) = 0 + 0 = 0. Enta˜o temos que o custo me´dio por livro tende para zero quando aumentamos o nu´mero de livros impressos. F. Rivero e T. Salvador 41 Matema´tica para Economia I 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO CAPI´TULO 1. LIMITES Figura 1.14: Gra´fico da func¸a˜o custo me´dio C(x). 1.4.3 O nu´mero e O nu´mero irracional e, tambe´m conhecido como nu´mero de Euler3 ou nu´mero de Neper4, e´ un nu´mero com um valor aproximado de 2.718281828459045235360287. E´ um nu´mero importante em ca´lculo que aparece como base dos logaritmos naperianos ou naturais. E´ definido como o limite da func¸a˜o f(x) = ( 1 + 1 x )x quando x→∞. 3Leonhard Paul Euler (1707–1783) foi um grande matema´tico e f´ısico su´ıc¸o de l´ıngua alema˜ que passou a maior parte de sua vida na Ru´ssia e na Alemanha. Fez importantes descobertas em campos variados em ca´lculo, mecaˆnica, o´ptica, astronomia e grafos. E´ considerado um dos mais proeminentes matema´ticos do se´culo XVIII. 4John Napier (1550 –1617) foi um matema´tico, f´ısico, astroˆnomo, astro´logo e teo´logo escoceˆs.Na decodificac¸a˜o dos logaritmos naturais, Napier usou uma constante que, embora na˜o a tenha descrito, foi a primeira refereˆncia ao nota´vel ”e”, descrito quase 100 anos depois por Leonhard Euler. F. Rivero e T. Salvador 42 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.4. LIMITES ENVOLVENDO INFINITO Observando a func¸a˜o f poder´ıamos pensar que o limite teria valor de 1 porque x−1 tende para 0 quando x tende para infinito, mas a tabela a seguir mostra que o limite na˜o e´ esse. x 10 100 1000 10000 100000 1000000 f(x) 2.59374 2.70481 2.71692 2.71815 2.71827 2.71828 Logo, lim x→∞ ( 1 + 1 x )x = e. Vamos ver um exemplo econo´mico de composic¸a˜o cont´ınua de interesse onde o nu´mero e tem um papel importante. Suponha que uma quantidade de dinheiro e´ investido e os juros sa˜o compostos apenas uma vez. Se P0 e´ o investimento inicial e r e´ a taxa de juros (expresso como um decimal), o saldo P1 apo´s adicionar os juros sera´ de P1 = P0 + P0r = P0(1 + r), isto e´, multiplicamos o investimento inicial por 1 + r. Usualmente, os bancos computam os juros mais de uma vez por ano. Se o ca´lculo e´ feito em k vezes por ano, enta˜o os juros sa˜o divididos entre as k parcelas, obtendo que o balanc¸o no primeiro periodo e´ de P1 = P0 + P0 r k = P0 ( 1 + r k ) . Suponhamos agora que calculamos de novo os juros para nosso novo valor P1. Agora, com uma taxa de juros de r e chamando de P2 ao saldo final apo´s adicionar os juros, temos que P2 = P1 + P1 r k = P1 ( 1 + r k ) = P0 ( 1 + r k )2 . No final do primeiro ano, o balanc¸o final depois de k periodos e´ de P0 = P0 ( 1 + r k )k . Repetindo un nu´mero t de anos, temos que o valor do investimento P dependendo to tempo e´ P (t) = P0 ( 1 + r k )kt , pois calculamos os juros tk vezes no total. Podemos observar como o valor do investimento aumenta a` medida que aumenta o nu´mero de parcelas. A questa˜o natural agora seria estudar que acontece quando o ca´lculo F. Rivero e T. Salvador 43 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES e´ instantaˆneo, isto e´, quando o nu´mero de parcelas e´ arbitrariamente grande. Portanto, queremos calcular o limite de P0 ( 1 + r k )kt quando k →∞. Vamos escrever a fo´rmula anterior de uma forma ja´ vista anteriormente. Se chamamos de 1 x = r k , enta˜o k = rx. Logo, P (t) = P0 ( 1 + r k )kt = P0 ( 1 + 1 x )xrt = P0 [( 1 + 1 x )x]rt Como x aumenta quando k aumenta, temos que ( 1 + 1 x )x tende para o nu´mero e quando x, e portanto k, aumenta indefinidamente. Assim, se os juros sa˜o calculados instantaneamente, P (t) = lim x→∞ P0 [( 1 + 1 x )x]rt = P0 [ lim x→∞ ( 1 + 1 x )x]rt = P0e rt, chegando a uma func¸a˜o exponencial de base e. 1.5 Ass´ıntotas horizontais e ass´ıntotas verticais Os limites que envolvem valores infinitos de x ou f(x) podem ser usados para descre- ver retas conhecidas como ass´ıntotas, que esta˜o frequentemente associadas a gra´ficos de func¸o˜es racionais. Em particular, dizemos que uma func¸a˜o f possui uma ass´ıntota vertical em x = a se f(x) aumenta ou diminui ilimitadamente quando x tende para a pela direita ou pela esquerda. Exemplo 1.20 Considerando a func¸a˜o f(x) = 2x x− 1 , cujo gra´fico esta´ esboc¸ado na Fi- gura 1.15, verificamos, por exemplo, que lim x→1+ f(x) = +∞. Enta˜o a reta x = 1 e´ uma ass´ıntota vertical do gra´fico da func¸a˜o f . Quando f(x) tende para um valor finito b quando x aumenta ou diminui ilimitada- mente, dizemos que a reta y = b e´ uma ass´ıntota horizontal do gra´fico de f . No Exemplo 1.20 anterior, lim x→±∞ f(x) = 2. Enta˜o a reta y = 2 e´ uma ass´ıntota hori- zontal do gra´fico de f . F. Rivero e T. Salvador 44 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.5. ASSI´NTOTAS Figura 1.15: Gra´fico da func¸a˜o f(x) e suas ass´ıntotas. De modo geral, temos as seguintes definic¸o˜es: Definic¸a˜o 1.6 Seja f uma func¸a˜o real com valores em R. A reta x = a e´ chamada de ass´ıntota vertical do gra´fico de f se algum dos limites lim x→a± f(x) = ±∞ se verifica. Quando o valor de x se aproxima de a, o valor da func¸a˜o tende para o infinito. Como o valor da func¸a˜o aumenta ou diminui ilimitadamente, o gra´fico tende para o infinito na direc¸a˜o do eixo y no valor a. Definic¸a˜o 1.7 Seja f uma func¸a˜o real com valores no R. A reta y = b e´ chamada de ass´ıntota horizontal da func¸a˜o f se algum dos limites lim x→±∞ f(x) = b se verifica. Observac¸a˜o: Para localizar as poss´ıveis ass´ıntotas verticais do gra´fico de uma func¸a˜o racional f tal que f(x) = p(x) q(x) , onde p e q sa˜o polinoˆmios, devemos procurar valores tais que q(a) = 0 e p(a) 6= 0. Para achar as ass´ıntotas horizontais devemos calcular os limites de f quando x → ±∞. Se algum desses limites existe (e´ finito), enta˜o o valor do limite determina a ass´ıntota horizontal. F. Rivero e T. Salvador 45 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES Exemplo 1.21 Vamos achar as ass´ıntotas das seguintes func¸o˜es: 1. f(x) = x2 x2 − 4 Soluc¸a˜o: Para calcular as poss´ıveis ass´ıntotas verticaies vamos determinar os va- lores onde o denominador na˜o esta´ definido. Como x2 − 4 = (x + 2)(x− 2), enta˜o sera´ zero se x = −2 ou x = 2. De fato, temos que o domı´nio da func¸a˜o f e´ D(f) = R− {−2, 2}. Vamos estudar os limites laterais nesses valores. • Para x = 2 temos que o numerador e´ um valor fixo e positivo e o denominador e´ zero. Portanto, pelo Teorema 1.8 os limites laterais tendem para ±∞. Vamos calcular o sinal deles. Para valores a` esquerda e perto de 2, x2 − 4 < 0 e para valores a` direita e perto de 2, x2−4 > 0. Como o numerador e´ sempre positivo, enta˜o lim x→2− f(x) = −∞, lim x→2+ f(x) = +∞. • Para x = −2 temos tambe´m que o numerador e´ um valor fixo e positivo e o denominador e´ zero. De novo, pelo Teorema 1.8 os limites laterais tendem para ±∞. Vamos calcula´-los. Para valores a` esquerda e perto de -2, x2 − 4 > 0 e para valores a` direita e perto de -2, x2 − 4 > 0. Como o numerador e´ sempre positivo, enta˜o lim x→−2− f(x) = +∞, lim x→−2+ f(x) = −∞. Logo x = 2 e x = –2 sa˜o ass´ıntotas verticais do gra´fico de f . Vamos estudar agora a existeˆncia de ass´ıntotas horizontais. Vamos calcular o limite no ±∞ para f . Pelo Teorema 1.11, obtemos lim x→±∞ x2 x2 − 4 = limx→±∞ x2 x2 = lim x→±∞ ��x 2 ��x 2 = lim x→±∞ 1 = 1. Logo temos que lim x→±∞ x2 x2 − 4 = 1 e, portanto, y = 1 e´ ass´ıntota horizontal do gra´fico de f Na Figura 1.16 podemos ver o gra´fico de f e suas ass´ıntotas. F. Rivero e T. Salvador 46 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.5. ASSI´NTOTAS Figura 1.16: Gra´fico da func¸a˜o f(x) = x2 x2 − 4 2. g(x) = 2x√ x2 + 4 Soluc¸a˜o: Temos que o denominador nunca tem valor zero porque x2 + 4 e´ sempre positivo. Portanto o dominio da func¸a˜o e´ D(g) = R e na˜o existem ass´ıntotas verticais. Vamos estudar agora a existeˆncia de ass´ıntotas horizontais estudando o limite da func¸a˜o g quando x→ ±∞. Apesar de na˜o ter um polinoˆnio no denominador, temos que o limite no infinito de √ x2 + 4 e´ como o limite de √ x2. Mas agora temos que ter cuidado com o sinal do limite. Como o valor de x2 sempre e´ positivo, enta˜o o limite quando x→ ±∞ de √x2 + 4 sempre sera´ +∞. Se fize´ssemos a simplificac¸a˜o √x2 = x estaremos cometendo um erro no ca´lculo do limite pois lim x→−∞ x = −∞. Vamos introducir a func¸a˜o valor absoluto, que denotamos por f(x) = |x| para determinar as assinto´tas horizontais da func¸a˜o h. A func¸a˜o valor absoluto e´ definida por |x| = { x se x ≥ 0 −x se x< 0 Logo, lim x→+∞ √ x2 + 4 = lim x→+∞ √ x2 = lim x→+∞ |x| = lim x→+∞ x = +∞, F. Rivero e T. Salvador 47 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES e lim x→−∞ √ x2 + 4 = lim x→−∞ √ x2 = lim x→−∞ |x| = lim x→−∞ (−x) = +∞, Voltando para o ca´lculo do limite de g temos, lim x→+∞ g(x) = lim x→+∞ 2x√ x2 + 4 = lim x→+∞ 2x√ x2 = lim x→+∞ 2x |x| . Logo, lim x→+∞ 2x |x| = limx→+∞ 2x x = lim x→+∞ 2�x �x = 2, e lim x→−∞ g(x) = lim x→−∞ 2x |x| = limx→−∞ 2x −x = limx→+∞ 2�x (−1)�x = −2. Logo y = 2 e y = −2 sa˜o ass´ıntotas horizontais do gra´fico de g. Na Figura 1.17 podemos ver o gra´fico de g e suas ass´ıntotas. Figura 1.17: Gra´fico da func¸a˜o g(x) = 2x√ x2 + 4 3. h(x) = x2 + 4 x Soluc¸a˜o: Temos que a func¸a˜o h na˜o esta´ definida para o valor x = 0 e, portanto, seu domı´nio e´ D(h) = R+. F. Rivero e T. Salvador 48 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.5. ASSI´NTOTAS Logo a poss´ıvel ass´ıntota vertical poderia ser x = 0. Vamos estudar os limites laterais. Como o valor do numerador para x = 0 e´ positivo e o valor do denominador e´ zero, enta˜o pelo Teorema 1.8 os limites laterais sera˜o ±∞. Como o sinal de denominador e´ negativo se x < 0 e positivo se x > 0, enta˜o lim x→0− h(x) = −∞, lim x→0+ h(x) = +∞. Portanto, x = 0 e´ ass´ıntota vertical do gra´fico de h Se calculamos os limites no infinito, pelo Teorema 1.11 obtemos lim x→±∞ x2 + 4 x = lim x→±∞ x2 x = lim x→±∞ x�2 �x lim x→±∞ x = ±∞. Logo na˜o existem ass´ıntotas horizontais. Na Figura podemos ver o gra´fico de h e suas ass´ıntotas. Figura 1.18: Gra´fico da func¸a˜o h(x) = x2 + 4 x F. Rivero e T. Salvador 49 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES Relac¸a˜o de exerc´ıcios - 1: Limite de func¸o˜es de uma varia´vel real 1. Determine os limites (a) lim x→1 5− 3x− x2 (b) lim x→3 5x2 − 7x− 3 (c) lim x→2 x2 + 2 + 1 x2 + 2x (d) lim t→ 5 2 4t2 − 25 2t− 3 (e) lim x→2 2− x2 4x (f) lim x→ 1 2 x2 + 1 1 + √ 2x+ 8 (g) lim y→−2 y3 − 5y y + 3 (h) lim x→1 3 √ 27x3 + 4x− 4 x10 + 4x2 + 3x (i) lim u→1 √ 4− u2 u+ 3 (j) lim t→−1 t2 + 4t+ 3 t2 − 1 (k) lim t→1 √ 8t+ 1 t+ 3 (l) lim x→ 8 3 9x2 − 64 3x− 8 (m) lim x→−7 x2 − 49 x+ 7 (n) lim x→−3 3 √ x− 4 6x2 + 2 (o) lim x→−3 x2 + 4x+ 3 x+ 3 (p) lim y→0 (3 + y)2 − 9 y (q) lim x→0 √ x+ 2−√2 x (r) lim y→3 3− y 3−√3y (s) lim z→3 z − 3√ z + 1 + 5 (t) lim z→−1 3z3 − 2z2 − 4z + 1 z − 1 (u) lim y→0 y2 + 2y + 1 y + 5 (v) lim x→0 x3 − x x (w) lim u→2 u− 2 3u2 − u3 (x) lim x→−3 9− x2 x+ 3 2. Calcule-se os limites laterais (a) lim x→2+ x3 − 2x+ 5 (b) lim x→0+ √ x (c) lim r→−3+ r2 − 9 3− r (d) lim r→1+ r2 + 2r − 3 r − 1 F. Rivero e T. Salvador 50 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.5. ASSI´NTOTAS 3. Verifique se as func¸o˜es sa˜o cont´ınuas nos valores dados (a) f(x) = { 5 + x se x ≤ 3 9− x se x > 3 em x = 3. (b) f(x) = −1 se x < 0 x− 1 se 0 ≤ x < 1 1 se x ≥ 1 em x = 0 e x = 1. (c) f(x) = { 3 + x se x ≤ 1 3− x se x > 1 em x = 1. (d) g(x) = { 2x− 1 se x < 1 x2 se x ≥ 1 em x = 1. (e) g(x) = { 2− x se x > 1 x2 se x ≤ 1 em x = 1. (f) f(x) = x 2 − 2x− 3 x+ 1 se x 6= 1 −4 se x = 1 em x = −1. (g) f(y) = y2 − 9 y − 3 se y 6= 3 2 se y = 3 em y = 3. (h) h(z) = 3 + z2 se z < −2 0 se z = −2 11− z2 se z > −2 em z = −2. 4. Determine o valor de a para que f(x) seja cont´ınua no valor indicado. (a) f(x) = 9− x 2 3x+ 9 se x 6= −3 a se x = −3 em x = −3. (b) f(x) = { ax+ 5 se x > 1 x2 − 3x+ 4 se x ≤ 1 em x = 1. (c) f(x) = 4x 2 − 36 5x− 15 se x 6= 3 a se x = 3 em x = 3. (d) f(x) = x 2 − 4 x+ 2 se x 6= −2 ax+ 10 se x = −2 em x = −2. 5. Determinar os valores de α e β para que as func¸o˜es seguintes sejam cont´ınua em R. (a) h(x) = x− 3 se x < 1 α se x = 1 x2 − β2 x2 − 3x+ 2 se x > 1 (b) z(x) = 3(x2 + αx) x2 − x− 2 se x < −1 −x3 se −1 ≤ x < 1 β 2 √ x se x ≥ 1 F. Rivero e T. Salvador 51 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES 6. Determine, no caso de existir, os seguintes limites (a) lim y→1+ 2y y − 1 (b) lim y→2− y2 y − 2 (c) lim y→0+ √ 4 + 3y2 5y (d) lim y→2− y2 + 1 y + 2 (e) lim y→2+ y2 + 1 y + 2 (f) lim y→2+ 1 2− y (g) lim y→5+ 1− y (y − 5)2 (h) lim y→1− 3 + y (y − 1)2 (i) lim y→3+ 1 y − 3 (j) lim y→−2 y2 + 1 y + 2 (k) lim y→−7+ y − 7 y + 7 (l) lim y→0 1 y3 (m) lim y→0 −1 y2 (n) lim y→−1− 1 2y + 2 (o) lim y→−8− 3y (y + 8)2 (p) lim y→4 5 y − 4 7. Calcular os limites (a) lim x→∞ 2x4 − 7x+ 1 (b) lim w→−∞ 2 + 5w − w2 + 4w3 (c) lim y→∞ 6y − 10y2 (d) lim s→−∞ −s5 + s3 + 9 (e) lim t→∞ 4 t5 (f) lim u→∞ 3 −10u2 (g) lim x→∞ −7 2x2 (h) lim x→∞ x+ 2 x+ 4 (i) lim x→∞ 2x4 + x2 + 4 −x2 − 2x+ 7 (j) lim y→−∞ y2 − 3y + 1 3y3 + 1 (k) lim y→−∞ 6y4 − 1 −5y3 (l) lim r→∞ 1 + r2 1− 2r (m) lim t→−∞ 5 + t− 7t2 t3 + 2t− 1 (n) lim y→∞ 4y + 1 4− y (o) lim s→−∞ 2s+ 3 6s+ 7 (p) lim w→−∞ 2 + 3w − w3 5 F. Rivero e T. Salvador 52 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 1. LIMITES 1.5. ASSI´NTOTAS 8. Depois de va´rios estudos sobre a populac¸a˜o de uma pais, se estima que a populac¸a˜o em t anos desde agora sera´ de p = 0.2t2 + 1500 milhares de pessoas e que o PIB do pais sera´ de de E = √ 9t2 + 0.5t+ 179 bilho˜es de reais. Se a renda per capita e´ determinada como o quociente entre o PIB e populac¸a˜o, determinar a tendeˆncia da renda per capita quando t→ +∞. Dica: Cuidado com as unidades. 9. Un produtor determina que depois de t meses produzindo um novo produto o n´ıvel de produc¸a˜o sera´ dado pela func¸a˜o p(t) = 6t2 + 5t (t+ 1)2 . O que acontece com a produc¸a˜o quando para valores muito grandes de t?. 10. Ache as ass´ıntotas horizontais e verticais das seguintes func¸o˜es (a) f(x) = 7x 2x− 5 (b) F (x) = −2 (x− 1)2 (c) g(y) = 1− 2x 3 + 5x (d) G(y) = 3x2 + 1 2x2 − 7x (e) h(t) = 3t√ 2t2 + 1 (f) f(z) = √ z z − 2 (g) F (x) = −2x√ x2 + 4 (h) l(y) = y + 2√ 1− y F. Rivero e T. Salvador 53 Matema´tica para Economia I 1.5. ASSI´NTOTAS CAPI´TULO 1. LIMITES F. Rivero e T. Salvador 54 Matema´tica para Economia I Cap´ıtulo 2 Derivada de func¸o˜es de uma varia´vel real Vamos iniciar esse cap´ıtulo considerando dois problemas aplicados: o primeiro consiste em determinar o coeficiente angular (inclinac¸a˜o) da reta tangente em um ponto do gra´fico de uma func¸a˜o e o segundo em estudar a variac¸a˜o de uma gra´fica da relac¸a˜o entro a percen- tagem de desemprego e a porcentagem correspondente da inflac¸a˜o. Essas duas aplicac¸o˜es, aparentemente ta˜o diversas, va˜o conduzir ao mesmo conceito: o de derivada. Mais adi- ante, definiremos a derivada como o limite de uma func¸a˜o. Isso vai permitir aplicar o conceito de derivada a qualquer quantidade ou grandeza que possa ser representada por uma func¸a˜o. 2.1 Noc¸a˜o intuitiva de derivada: interpretac¸a˜o geome´trica e taxa de variac¸a˜o 2.1.1 Coeficiente Angular da Reta Tangente ao Gra´fico de uma Func¸a˜o Vamos supor que P e´ um ponto no gra´fico de uma func¸a˜o real f e queremos determinar a reta tangente, que chamaremos de t, ao gra´fico de f em P . Sabemosque uma reta no plano e´ determinada quando conhecemos seu coeficiente angular e um ponto pertencente a ela. Precisamos calcular, enta˜o, o coeficiente angular da reta t. A ideia para obter esse coeficiente angular e´ aproximar a reta tangente por retas secantes, usando limites no final para obter o coeficiente angular. Vamos escolher outro ponto Q no gra´fico de f e trac¸ar uma reta (secante) passando por P e Q. Tomando Q bem pro´ximo de P , podemos fazer com que o coeficiente angular da reta secante se aproxime do coeficiente angular da reta tangente com qualquer precisa˜o 55 2.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE DERIVADA CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O desejada. Vamos supor que P = (x0, f(x0)) e´ um ponto no gra´fico de f e que a abscissa de Q esteja a uma distaˆncia de ∆x1 de x0. Desse modo, a abscissa de Q e´ x0 + ∆x. Como Q pertence ao gra´fico de f , a ordenada de Q e´ f(x0+∆x). Assim, Q = (x0+∆x, f(x0+∆x)). Na Figura 2.1 temos o gra´fico de f e os pontos P e Q. Chamando por ∆y a distaˆncia entre f(x0) e f(x0+∆x), isto e´ ∆y = f(x0+∆x)−f(x0), o coeficiente angular ms da reta secante, que chamaremos de s e´ (ver Sesa˜o 3 da Revisa˜o) ms = ∆y ∆x = f(x0 + ∆x)− f(x0) (x0 −∆x)− x0 = f(x0 + ∆x)− f(x0) ∆x . Se fizermos ∆x tender a zero, o ponto Q se movera´ sobre a curva y = f(x) (curva do gra´fico da func¸a˜o f) e tendera´ ao ponto P . Ale´m disso, a reta secante s ira´ girar em torno de P e tendera´ para a reta tangente t. Logo, quando ∆x → 0, o coeficiente angular ms de s tende para o coeficiente angular mt de t, ou seja, mt = lim ∆x→0 f(x0 + ∆x)− f(x0) ∆x . No video associado a` Figura 2.1 podemos ver ese fato. Essas considerac¸o˜es levam para a seguinte definic¸a˜o Definic¸a˜o 2.1 Seja f : R→ R uma func¸a˜o real definida em um intervalo contendo x0 e seja y0 = f(x0) a imagem de x0. Se o limite m = lim ∆x→0 f(x0 + ∆x)− f(x0) ∆x , existe (e´ finito), dizemos que a reta no plano xy contendo o ponto (x0, y0) e tendo coefi- ciente angular m e´ a reta tangente ao gra´fico de f no ponto (x0, y0). Observac¸a˜o: Se f e´ cont´ınua em x0 e lim ∆x→0 f(x0 + ∆x)− f(x0) ∆x = ±∞, dizemos que a reta vertical x = x0 e´ a reta tangente ao gra´fico de f em (x0, y0). 1A notac¸a˜o ∆x e´ usada para escrever uma variac¸a˜o pequena de un valor. Neste caso, como a variac¸a˜o e´ feita no eixo x, denotamos por ∆x. F. Rivero e T. Salvador 56 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O 2.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE DERIVADA Figura 2.1: Reta secante ao gra´fico da func¸a˜o f que pasa pelos pontos P e Q [Video] Exemplo 2.1 Escreva a equac¸a˜o da reta tangente ao gra´fico de f(x) = x2 + 4x no ponto (1, 5). Soluc¸a˜o: Para obter a reta tangente precisamos calcular aos coeficientes mt e b da fo´rmula y = mx+ b, onde m e´ o coeficiente angular e b a ordenada na origem (ver Sesa˜o 3 da Revisa˜o). Logo, pela Definic¸a˜o 2.1, m = lim ∆x→0 f(1 + ∆x)− f(1) ∆x = lim ∆x→0 (1 + ∆x)2 + 4(1 + ∆x)− (12 + 4 · 1) ∆x = lim ∆x→0 (∆x)2 + 6∆x ∆x = lim ∆x→0 (∆x)�2 + 6��∆x ��∆x = lim ∆x→0 (∆x+ 6) = 6. F. Rivero e T. Salvador 57 Matema´tica para Economia I 2.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE DERIVADA CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O Logo temos que y = 6x+ b. Como a reta tangente passa pelo ponto (1, 5), temos que 5 = 6 · 1 + b⇔ b = −1, e a reta tangente ao gra´fico de f(x) no ponto (1, 5) e´ y = 6x− 1. Na Figura 2.2 podemos ver a func¸a˜o f(x) e a reta tangente obtida. Figura 2.2: Reta tangente ao gra´fico da func¸a˜o f que pasa pelo ponto (1, 5) 2.1.2 Taxa de Variac¸a˜o Vamos considerar que estamos monitorando o valor de um ativo na Bolsa de Valores ao longo de um intervalo de tempo (um dia, uma semana, um meˆs...) dado pela func¸a˜o V (t) e queremos determinar a taxa de variac¸a˜o do valor num instante do intervalo, isto e´, informac¸a˜o de se o prec¸o esta´ aumentando ou diminuindo muito ou poco nesse instante. Olhando a Figura 2.3, que pode representar o valor do ativo, podemos observar como a inclinac¸a˜o da reta tangente oferece essa informac¸a˜o. F. Rivero e T. Salvador 58 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O 2.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE DERIVADA Figura 2.3: Inclinac¸a˜o da reta tangente en va´rios pontos da func¸a˜o V (t) Quando o valor aumenta, a reta tem inclinac¸a˜o positiva e quando diminui, a inclinac¸a˜o e´ negativa e suas inclinac¸o˜es sa˜o maiores quanto mais aumenta ou diminui o valor. Assim, podemos definir a taxa de variac¸a˜o de uma func¸a˜o num ponto como o coeficiente angular da reta tangente nesse ponto. Definic¸a˜o 2.2 Seja y = f(x). A taxa de variac¸a˜o (instantaˆnea) de y em relac¸a˜o a x quando x tem o valor x0 e´ dada por lim ∆x→0 f(x0 + ∆x)− f(x0) ∆x . Exemplo 2.2 Suponha que o custo semanal, em reais, para a fabricac¸a˜o de x geladeiras seja dado pela func¸a˜o C(x) = 8.000 + 400x–0.2x2 com 0 ≤ x ≤ 400. Determine a taxa de variac¸a˜o da func¸a˜o custo em relac¸a˜o a` x quando x = 250. F. Rivero e T. Salvador 59 Matema´tica para Economia I 2.1. NOC¸A˜O INTUITIVA DE DERIVADA CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O Soluc¸a˜o: Se chamamos de C ′(x) a taxa de variac¸a˜o de C em relac¸a˜o a x, precisamos determinar C ′(250). Logo, C ′(250) = lim ∆x→0 C(250 + ∆x)− C(250) ∆x = lim ∆x→0 8.000 + 400(250 + ∆x)− 0, 2(250 + ∆x)2 − 95.500 ∆x = lim ∆x→0 8.000 + 100.000 + 400∆x− 12.500− 100∆x− 0, 2(∆x)2 − 95.500 ∆x = lim ∆x→0 300∆x− 0, 2(∆x)2 ∆x = lim ∆x→0 300��∆x− 0, 2(∆x)�2 ��∆x = lim ∆x→0 (300− 0, 2∆x) = 300. Resposta: Para um n´ıvel de fabricac¸a˜o 250 geladeiras, a taxa de variac¸a˜o do custo e´ R$300 por geladeira. 2.1.3 A Derivada de uma Func¸a˜o Vimos nas sec¸o˜es 2.1.1 e 2.1.2 que o problema de determinar o coeficiente angular da reta tangente ao gra´fico de uma func¸a˜o em um ponto dado e o problema de encontrar a taxa de variac¸a˜o de uma varia´vel em relac¸a˜o a` outra sa˜o ambos resolvidos pelo ca´lculo do mesmo limite, que e´ a base de um dos conceitos fundamentais do Ca´lculo, a derivada, definida a seguir. Definic¸a˜o 2.3 Dada uma func¸a˜o f(x), a func¸a˜o definida por f ′(x) = lim ∆x→0 f(x+ ∆x)− f(x) ∆x e´ chamada de (func¸a˜o) derivada de f(x). F. Rivero e T. Salvador 60 Matema´tica para Economia I CAPI´TULO 2. DERIVAC¸A˜O 2.2. REGRAS BA´SICAS DE DERIVAC¸A˜O Exemplo 2.3 Calcular a (func¸a˜o) derivada de f(x) = x2 + 4x. Soluc¸a˜o: Vamos aplicar a definic¸a˜o de derivada como limite do incremento: f ′(x) = lim ∆x→0 f(x+ ∆x)− f(x) ∆x = lim ∆x→0 (x+ ∆x)2 + 4(x+ ∆x)− (x2 + 4x) ∆x = lim ∆x→0 ��� ��(x2 + 4x) + (∆x)2 + 2x∆x+ 4∆x−�����(x2 + 4x) ∆x = lim ∆x→0 (∆x)�2 + 2x��∆x+ 4��∆x ��∆x = lim ∆x→0 (∆x+ 2x+ 4) = 2x+ 4. Observac¸o˜es: i) O limite indicado na Definic¸a˜o 2.3 pode existir para alguns valores de x e deixar de existir para outros. Se o limite existe (e´ finito) para x = a, dizemos que a func¸a˜o e´ deriva´vel (diferencia´vel) em a. ii) A notac¸a˜o f ′ usada na definic¸a˜o anterior tem a vantagem de enfatizar que a derivada de f e´ uma func¸a˜o de x que esta´ associada de certa maneira com a func¸a˜o f dada. Se a func¸a˜o e´ apresentada na forma y = f(x), com a varia´vel dependente expl´ıcita, enta˜o o s´ımbolo y′ e´ usado em lugar de f ′(x). A derivada de y = f(x) e´ tambe´m indicada por df dx ou dy dx e algumas vezes por Dxy ou Dxf . Como ja´ mostramos nas sec¸o˜es anteriores, a derivada tem uma interpretac¸a˜o geome´trica e outra como taxa de variac¸a˜o. Assim: • Interpretac¸a˜o Geome´trica: A derivada f ′(x) expressa o coeficiente angular da reta tangente a` curva y = f(x) em func¸a˜o da coordenada x do ponto de tangeˆncia (desde que o limite exista). • Taxa de Variac¸a˜o: A derivada f ′(x) expressa a taxa de variac¸a˜o (instantaˆnea) de y = f(x) em relac¸a˜o a x. 2.2 Regras ba´sicas de derivac¸a˜o
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