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www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 1 SIMULADO DE APROFUNDAMENTO 2 – XXII EXAME DE ORDEM O Ministério Público Estadual, em sua peça acusatória, denunciou Paulo, Renato e Nestor pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico, constantes nos artigos 33 e 35 da Lei 11.343/2006, respectivamente. A exordial acusatória informa que no dia 20 de agosto de 2015, no pátio do Posto Nove, à noite, policiais militares avistaram os agentes no local indicado praticando traficância de substância conhecida como cocaína, prendendo-os em flagrante delito e conduzindo-os para a delegacia competente. Em sede policial, Paulo e Renato não quiseram se manifestar, exercendo seu direito ao silêncio. Nestor, todavia, foi ouvido, relatando que estava no local para comprar a substância entorpecente, por ser usuário e não traficante. Com base nas informações colhidas na fase inquisitorial e nas perícias realizadas, o representante do parquet ofereceu denúncia em desfavor dos agentes, tendo o juiz notificado os acusados para apresentação da defesa prévia. Após a apresentação da referida peça, o Juiz da 2ª Vara de Entorpecentes da Comarca de Gama, Estado Delta, recebeu a exordial, vez que, no entendimento do magistrado, a inicial cumpriu todos os requisitos constantes no artigo 41 do Código de Processo Penal. Depois disso, com anuência das partes e no intuito de garantir a ampla defesa, determinou modificação do procedimento, com base no artigo 400 do Código de Processo Penal, citando ainda o agente para oferecimento da resposta à acusação. Após a realização das defesas, foi realizada a audiência de instrução e julgamento. Neste momento, foram ouvidas as testemunhas Ingrid, Hugo e Ernani. A primeira agente informou não ter conhecimento dos fatos, pois não conhecia os envolvidos. A segunda testemunha, todavia, informou ser usuária de entorpecentes há 05 anos, sempre adquirindo a substância na “boca de fumo” do Posto Nove, pois era o local em que a droga era de melhor qualidade e acessibilidade. Informou ainda conhecer Paulo e Renato, pois eram eles que sempre estavam na “boca de fumo”, desconhecendo o terceiro envolvido nos autos. A última testemunha, policial militar que realizou o flagrante, informou que o denunciado Nestor foi encontrado no local do crime com cerca de R$ 20,00 (vinte) reais na carteira e que, no momento da apreensão, estava com aproximadamente 0,4 gramas de cocaína, quantidade considerada ínfima para tráfico. Após a oitiva das testemunhas, realizados os interrogatórios, o primeiro a ser ouvido foi Paulo, confessando a prática delitiva. O segundo interrogado foi Renato, também confessando a prática do crime, mas informando não manter contato com os outros denunciados. Nestor foi o terceiro interrogado e ratificou o informado em sede policial, sendo categórico ao afirmar que é apenas usuário habitual e jamais se envolveu na mercancia de qualquer entorpecente, não tendo, ainda, qualquer tipo de envolvimento com os demais denunciados. Por fim, informou não ter antecedentes criminais, nunca ter sido processado nem condenado e possuir residência e emprego fixos, conforme documentação juntada ao processo. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 2 As perícias foram devidamente juntadas aos autos e, diante da complexidade do caso, o juiz permitiu a manifestação das partes por escrito. A acusação sustentou a comprovação dos delitos, em virtude das perícias. A defesa, por sua vez, teve vista dos autos em 18 de maio de 2016, quarta-feira. Em face da situação hipotética, na condição de advogado constituído por Nestor, redija a peça processual adequada à defesa de seu cliente, alegando AS TESES DEFENSIVAS pertinentes. Date o documento no último dia do prazo para protocolo. (Valor: 5,0) GABARITO COMENTADO Endereçamento correto (Valor: 0,4) EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DE ENTORPECENTES DA COMARCA DE GAMA ESTADO DELTA Processo número: Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação dos Memoriais, nos termos do artigo 403, §3º Código de Processo Penal (Valor: 0,9) Nestor, já qualificado nos autos do processo às folhas ( ), por seu advogado e bastante procurador que a esta subscreve, conforme procuração anexa, vem, muito respeitosamente a presença de Vossa Excelência, com fundamento no art. 403, parágrafo 3º, do Código de Processo Penal apresentar os seus MEMORIAIS pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos. Exposição dos fatos (Valor: 0,2) 1. Dos Fatos O réu foi denunciado porque teria supostamente cometido os crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico, previstos nos artigos 33 e 35 da Lei 11.343/2006, respectivamente. Na audiência de instrução e julgamento, testemunhas foram ouvidas, dentre elas Hugo que informou ser usuário de drogas há 05 anos, sempre adquirindo a substância na “boca de fumo” do Posto Nove, pois era o local em que a substância era de melhor qualidade e acessibilidade. Informou ainda conhecer Paulo e Renato, pois eram eles que sempre estavam na “boca de fumo”, desconhecendo o terceiro envolvido nos autos, no caso, o ora defendente. Ernani, policial militar que realizou o flagrante, também foi ouvido e informou que o denunciado Nestor foi encontrado no local do crime com cerca de R$ 20,00 (vinte) reais na carteira e que, no momento da apreensão, estava com cerca de 0,4 gramas de cocaína, quantidade considerada ínfima para tráfico. O réu, em seu interrogatório, ratificou o informado em sede policial, sendo categórico ao afirmar que é apenas usuário habitual e jamais se envolveu na www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 3 mercancia de qualquer entorpecente, não tendo, ainda, qualquer tipo de envolvimento com os demais denunciados. Finda a fase instrutória, o Parquet requereu a condenação do agente nos exatos termos da denúncia, sendo a defesa intimada para se manifestar. Preliminares (Valor: 0,3) - Indicação da preliminar de ausência de justa causa para o exercício da ação penal, com fundamento no artigo 395, III do Código de Processo Penal. (Valor: 0,3) 2. Da Preliminar Preliminarmente, cumpre esclarecer a falta de justa causa para o exercício da ação penal, nos termos do artigo 395, III do Código de Processo Penal, o que já deveria ter acarretado a rejeição liminar da peça acusatória. Mérito (Valor: 2,0) - Desenvolvimento fundamentado acerca da inocorrência do crime de tráfico de drogas, por ausência de justa causa. (Valor: 0,8) - Desenvolvimento fundamentado acerca da inocorrência do crime de associação para tráfico. (Valor: 0,6) - Desenvolvimento fundamentado acerca da desclassificação para o delito constante no artigo 28 da Lei 11.343/2006. (Valor: 0,4) - Desenvolvimento fundamentado acerca da condenação no mínimo legal e a consequente diminuição da pena constante no art. 33, §4º da Lei 11.343/2006, impondo o regime de cumprimento de pena mais favorável ao agente. (Valor: 0,2) 3. Do Mérito Cumpre esclarecer ao douto julgador a manifesta ausência de justa causa para o exercício da ação penal. Conforme ensinamento pela melhor doutrina, para a configuração da justa causa são necessários dois requisitos: prova da materialidade do fato e indícios suficientes de autoria. Prova é a certeza inequívoca da ocorrência do fato. Já os indícios se configuram como indicativosde que o acusado tenha efetivamente participado da empreitada criminosa, seja como autor ou partícipe. No caso concreto, restou claro não existirem indícios suficientes de autoria, nem prova da materialidade do crime. Conforme noticiam os autos, não há qualquer depoimento testemunhal ou outro tipo de prova que leve a demonstrar ter o acusado praticado as condutas descritas na exordial acusatória. As testemunhas prestaram depoimentos em juízo nada sabendo informar acerca do crime questionado, apenas indicando que os outros dois denunciados eram que faziam parte da empreitada criminosa, nada tendo o terceiro denunciado a ver com o caso analisado. Inclusive, uma das testemunhas que é policial militar informou que o material apreendido em mãos do terceiro denunciado era ínfimo para a caracterização do crime de tráfico. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 4 Além disso, Excelência, para a caracterização do delito constante no artigo 35 da Lei 11.343/2006, já é uníssono em nossa Jurisprudência a necessidade de dolo de se associar com estabilidade e permanência, sendo certo que a reunião ocasional de duas ou mais pessoas não se enquadra ao tipo de associação para o tráfico. O fato dos agentes estarem no mesmo local não é suficiente para a caracterização do delito. Nesse caso, não há que se falar em justa causa para o exercício da ação penal porque, para a sua configuração, é necessário e imprescindível o binômio prova da materialidade do fato mais indícios suficientes de autoria. A ausência de qualquer um deles descaracteriza a justa causa. Ainda a título de informação, as provas trazidas aos autos claramente ratificam o envolvimento do denunciado somente como usuário, estando provado que este não concorreu de forma alguma para a prática dos crimes constantes na denúncia, devendo, por eles, ser absolvido. Como se não bastasse, a acusação não conseguiu demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram para que pudessem imputar a prática delituosa ao terceiro denunciado, não conseguindo, consequentemente, demonstrar que fora a conduta do acusado que causou a lesão ao bem juridicamente protegido. Além disso, em seu interrogatório, o processado explicou o motivo de estar no local onde foi preso. Numa simples análise do art. 28 e do art. 33 da lei nº 11.343/06 é notório a vontade do agente e a destinação para uso pessoal e o simples indício de materialidade do crime de tráfico de drogas não é argumento suficiente para a condenação pelo delito do art. 33 da referida lei. Para iniciar a ação penal bastam indícios, mas, para condenar é necessário prova. Com ele, foram encontrados 0,4 gramas de cocaína, material insuficiente para caracterizar o tráfico de entorpecentes, sendo a alegação de ser usuário corroborada pelos depoimentos testemunhais. Além do mais, trata-se de um réu primário e com residência fixa, emprego fixo e que não ostenta a atividade criminosa e, caso não entenda vossa Excelência pela absolvição do tráfico, que haja desclassificação para o uso. Conforme se observa do exposto, resta prevista a situação do denunciado como usuário de drogas, conduta elencada no art. 28 da Lei de Drogas, e não a de traficante, conforme aduzido na denúncia. Assim, as penas previstas para os usuários de drogas devem ser aquelas constantes no próprio artigo 28 da lei, não se imputando pena privativa de liberdade, cumprindo ainda observar que, em sendo desclassificada a conduta para a do art. 28 da Lei 11.343/06, insurge a incompetência desse juízo, devendo os autos serem remetidos ao juizado Especial Criminal, na forma do art. 48, §1°, da Lei 11.343/06, para fins da medida prevista no art. 76 da Lei 9.099/95 Outrossim, relevante assinalar, douto julgador, que não sendo acolhido os pleitos informados e, entendendo Vossa Excelência pelo reconhecimento da ocorrência do crime de tráfico, que aplique a pena no mínimo legal, aplicando-se ainda a diminuição da pena pelo constante no artigo 33, §4º da referida lei, iniciando o agente no regime de cumprimento de pena mais favorável. Pedidos (Valor: 1,0) - Pedido de absolvição pelo crime de tráfico de drogas, com fundamento no artigo 386, II e VII do Código de Processo Penal. (Valor: 0,3) www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 5 - Pedido de absolvição pelo crime de associação para o tráfico, com fundamento no artigo 386, V do Código de Processo Penal. (Valor: 0,3) - Pedido de anulação da instrução probatória em virtude da falta de justa causa para o exercício da ação penal. (Valor: 0,1) - Pedido de desclassificação para o crime de uso de drogas, constante no artigo 28 da Lei 11.343/2006. (Valor: 0,2) - Pedido de, em caso de condenação pelo tráfico de drogas, aplicação da pena no mínimo legal e a diminuição constante no artigo 33, §4º da referida lei, com aplicação do regime mais favorável ao agente. (Valor: 0,1) 4. Dos Pedidos Diante de todo exposto, requer-se a Vossa Excelência a absolvição do acusado pelos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico, com fundamento no artigo 386, incisos II, V e VII, do Código de Processo Penal. Além disso, em caso de não aceitação de tais pedidos, requer-se a anulação da instrução probatória face a ausência de justa causa para o exercício da ação penal, conforme previsão no artigo 395, III do Código de Processo Penal. Entendendo Vossa Excelência pela ocorrência de crime, que seja o delito desclassificado para o uso de drogas, previsto no artigo 28 da Lei 11.343/2006, com o consequente declínio da competência para o Juizado especial Criminal, conforme art. 48, §, 1°, da Lei 11.343/06. Ainda assim, caso o douto julgador decida por condenar o réu pelo tráfico de entorpecentes, que aplique o mínimo legal cominado à referida pena, diminuindo-a em virtude do constante no artigo 33, §4º da Lei 11.343/20006 e, consequentemente, que o réu inicie o regime de cumprimento de pena mais favorável. Estrutura correta (indicação de local, data, assinatura) – (Valor: 0,2) Nestes termos, Pede deferimento. Comarca Gama, Estado Delta, 23 de maio de 2016. Advogado, OAB. DISTRIBUIÇÃO DOS PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO 1. Endereçamento correto ao Juiz de Direito da 2ª Vara de Entorpecentes da Comarca de Gama Estado Delta. (0,4) 0,00 / 0,4 2. Indicação correta do dispositivo que dá ensejo à apresentação dos Memoriais - artigo 403, §3º do Código de Processo Penal (0,9) 0,00 / 0,9 3. Exposição dos Fatos. (0,2) 0,00 / 0,2 4. Indicação da preliminar de ausência de justa www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 6 causa para o exercício da ação penal (0,2), com fundamento no artigo 395, III do Código de Processo Penal (0,1) 0,00 / 0,2 / 0,3 5. Desenvolvimento fundamento acerca da inocorrência do crime de tráfico de drogas, por ausência de justa causa. (0,8) 0,00 / 0,8 5.1. Desenvolvimento fundamentado acerca da inocorrência do crime de associação para o tráfico. (0,6) 0,00 / 0,6 5.2. Desenvolvimento fundamento acerca da desclassificação para o delito constante no artigo 28 da Lei 11.343/2006. (0,4) 0,00 / 0,4 5.3. Desenvolvimento fundamentado acerca da condenação no mínimo legal e a consequente diminuição da pena constante no artigo 33, §3º da Lei 11.343/2006, (0,1) impondo o regime decumprimento de pena mais favorável ao agente. (0,1) 0,00 / 0,1 / 0,2 6. Pedido de absolvição pelo crime de tráfico de drogas (0,2), com fundamento no artigo 386 (0,1), incisos II E/OU VII do Código de Processo Penal. 0,00 / 0,2 / 0,3 6.1. Pedido de absolvição pelo crime de associação para o tráfico (0,2), com fundamento no artigo 386 (0,1), V do Código de Processo Penal. 0,00 / 0,2 / 0,3 6.2. Pedido de anulação da instrução probatória em virtude da falta de justa casa para o exercício da ação penal. (0,1) 0,00 / 0,1 6.3. Pedido de desclassificação para o crime de uso de drogas (0,2), constante no artigo 28 da Lei 11.343/2006. 0,00 / 0,2 6.4. Pedido de, em caso de condenação pelo tráfico de drogas, aplicação da pena no mínimo legal e a diminuição constante no artigo 33, §4º da referida lei, com aplicação do regime mais favorável ao agente. (0,1) 0,00 / 0,1 7. Data da Peça: 23 de maio de 2016 (0,2) 0,00 / 0,2 QUESTÃO 01 Amanda, maior e capaz, ao completar o oitavo mês de gestação decidiu praticar aborto em si mesma. Para isso, pediu ajuda a sua prima Laura, também maior e capaz, que adquiriu medicamento abortivo. Amanda ingeriu a substância abortiva, mas esta não teve nenhum efeito, pois a substância adquirida por Laura não tinha o condão, de forma absoluta, de praticar o aborto, mas tão somente de causar um efeito laxante. Com base exclusivamente nas informações, é possível tipificar a conduta praticada pelas agentes? (Valor: 1,25). Justifique sua resposta. GABARITO COMENTADO www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 7 A conduta de Amanda e de Laura não pode ser penalmente punível, uma vez que caracterizado o instituto do crime impossível por ineficácia absoluta do meio utilizado, nos moldes do artigo 17 do Código Penal Brasileiro. No crime impossível pela absoluta ineficácia do meio utilizado inexiste a situação de perigo ao bem jurídico tutelado, inviabilizando, assim, a produção do resultado. Assim, não há possibilidade de ocorrência da consumação do crime. Na casuística apresentada, Amanda ingeriu substância que não tem o condão de praticar nenhuma conduta delituosa em relação ao feto, por não ser a substância abortiva, mas sim laxante, caracterizando, assim, a ineficácia absoluta do meio utilizado. Laura, apesar de ter adquirido a substância, também não responde por nenhum crime, já que não há como tipificar no ordenamento jurídico a conduta praticada pela agente. DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO Não há crime por ineficácia absoluta do meio empregado OU aplica-se na casuística apresentada o instituto do crime impossível OU as agentes não respondem pelo crime em virtude do constante no artigo 17 do Código Penal (1,0). Nesse caso, não é possível consumação do delito. (0,25) 0,00 / 1,0 / 1,25 QUESTÃO 02 Walter, dono da Fazenda ABCD Propriedade e efetivo administrador, no período de 17/01/2017 a 30/01/2017, sujeitou Felipe e Bruno, trabalhadores da Fazenda, à convivência com escorpiões, aranhas, baratas, além de não ceder um local adequado para descanso, nem dar uma boa alimentação, apesar das horas demasiadas e exaustivas de trabalho. Tudo isso foi constatado pela fiscalização de grupo móvel do Ministério do Trabalho e Emprego que verificou, ainda, a existência de degradação dos trabalhadores referentes às péssimas condições sanitárias, de higiene, de água, alojamentos, além da ausência de equipamentos de proteção individual. Considerando as informações narradas, responda aos itens a seguir. A) qual o crime praticado, em tese, por Walter? (Valor: 0,60) B) qual a competência para o processamento e julgamento do feito? (Valor: 0,65) GABARITO COMENTADO A) Walter cometeu o crime de redução à condição análoga de escravo, com fundamento no artigo 149 do Código Penal. É, portanto, sujeito ativo do crime indicado. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 8 Para a caracterização do delito em análise, o agente submete alguém a trabalhos forçados ou jornadas exaustivas, bem como a condições degradantes de trabalho. Para configuração do crime do artigo 149 do Código Penal, não é necessário que se prove a coação física da liberdade de ir e vir ou mesmo o cerceamento da liberdade de locomoção, bastando a submissão da vítima “a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva” ou “a condições degradantes de trabalho”, condutas alternativas previstas no tipo penal. No caso em apreço, percebe-se que Walter, dono da Fazenda, sujeita os agentes a conviver com escorpiões, aranhas, não ter um local adequado para descanso, além de não possuir condições expressivas para a higiene pessoal, sem contar da ausência de equipamento de proteção individual para o trabalho, exigido em caráter exaustivo. B) A competência para o processamento e julgamento do feito é da Justiça Federal, conforme preceitua o artigo 109, V-A e VI da Constituição Federal. Isso porque, o legislador, apesar de estabelecer o crime como ofensa a liberdade pessoal, o ilícito não suprime somente o bem jurídico numa perspectiva individual. O delito ofende e afronta o princípio da dignidade da pessoa humana, além de ofender todo um sistema de organização do trabalho, o que faz a competência ser da Justiça Federal, conforme previsão no artigo supracitado. OBSERVAÇÃO: Ementa: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. TORTURA, CONSTRANGIMENTO ILEGAL, SEQUESTRO E CÁRCERE PRIVADO E REDUÇÃO A CONDIÇÃO ANÁLOGA À DE ESCRAVO. INCOMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL PARA PROCESSAR E JULGAR O FEITO EM RAZÃO DO CRIME PREVISTO NO ARTIGO 149 DO CÓDIGO PENAL. INEXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE QUE O DELITO EM QUESTÃO TERIA AFETADO A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO, TAMPOUCO OS INTERESSES DA UNIÃO. IMPOSSIBILIDADE DE REMESSA DOS AUTOS PARA A JUSTIÇA FEDERAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL INEXISTENTE. 1. Com o advento da Lei 10.803/2003, que alterou o tipo previsto do artigo 149 da Lei Penal, passou-se a entender que o bem jurídico por ele tutelado deixou de ser apenas a liberdade individual, passando a abranger também a organização do trabalho, motivo pelo qual a competência para processá-lo e julgá-lo é, via de regra, da Justiça Federal. Doutrina. Precedentes do STJ [...] (RHC 58160 / SP, Rel. Min. Leopoldo de Arruda Raposo, 5ª Turma, DJe em 18/08/2015). DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO A) O crime praticado foi o de redução à condição análoga a de escravo OU configura-se conduta descrita no art. 149 do Código Penal. (0,6) 0,00 / 0,6 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 9 B) A competência para o processamento e julgamento do feito é da Justiça Federal OU Aplica- se o disposto nos artigo 109 da Constituição Federal. (0,65) 0,00 / 0,65 QUESTÃO 03 Caio, utilizando o seu computador, mandou um vírus através de um e-mail para o computador de Mário e conseguiu a senha da conta bancária deste último. Com tal senha, Caio efetuou saques de R$ 1.000,00 (mil) reais da conta bancária da vítima no próprio caixa do banco, nos dias 01/05, 02/05, 03/05 e 04/05, todos do ano de 2016 e no mesmo horário. Caio somente sacou a quantia de R$ 1.000,00 (milreais) em virtude de este ser o limite de saque diário do banco, tendo obtido um valor total de R$ 4.000,00 (quatro mil) reais, que era o seu objetivo pretendido. Diante da situação apresentada, pergunta-se: I. Qual crime cometido por Caio? (Valor: 0,6). II. É possível a ocorrência de algum instituto jurídico no intuito de beneficiar a situação jurídica do agente? (Valor: 0,65) GABARITO COMENTADO I. As condutas cometidas por Caio enquadram-se no crime de furto qualificado pela fraude, nos termos do artigo 155, § 4º, II do Código Penal. No caso apresentado, Caio subtraiu para si coisa alheia móvel utilizando-se de meio fraudulento, qual seja, um vírus enviado por e-mail ao computador da vítima, tendo conseguido a senha da desta e subtraído a quantia total de R$ 4.000,00 (quatro mil) reais da conta corrente da vítima ao realizar em 4 dias diferentes, no mesmo caixa do banco e no mesmo horário, saques de R$ 1.000,00 (mil) reais, que correspondiam ao limite de saque diário. II. O instituto jurídico que pode utilizado visando à melhoria da situação jurídica de Caio é a de que ele cometeu crime continuado, devendo ser aplicada a pena de apenas um crime de furto qualificado por meio fraudulento, aumentada de um sexto a dois terços, nos termos do artigo 71 do Código Penal. No caso em concreto, Caio, mediante mais de uma ação, praticou quatro crimes de furto qualificado mediante fraude, crimes da mesma espécie, pois fazem parte do mesmo tipo penal, nas mesmas condições de tempo, lugar e maneira de execução, tendo em vista que, visando subtrair um valor total de R$ 4.000 (quatro mil) reais da conta corrente da vítima, enviou do seu computador um e-mail contendo um vírus ao computador da vítima, obtendo a senha da conta bancária e efetuado em quatro dias diferentes, no mesmo caixa e no mesmo horário, quatro saques de R$ 1.000,00 (mil) reais, pois este era o limite diário de saque. Desta forma, os furtos subsequentes devem ser vistos como continuação do primeiro. Assim, por uma ficção jurídica, estando presentes todos os requisitos do crime continuado, deve-se considerar que Caio praticou apenas um crime de furto www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 10 qualificado pelo emprego de meio fraudulento, aumentando-se a pena de um sexto a dois terços. DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO I. O crime cometido por Caio é o de furto qualificado pela fraude OU aplica-se o constante no artigo 155, § 4º, II do Código Penal. (0,6) 0,00 / 0,6 II. Aplicação do crime continuado OU instituto previsto no artigo 71 do Código Penal (0,55), devendo o agente responder como se tivesse praticado um crime, com aumento de pena (0,1) 0,00 / 0,55 / 0,65 QUESTÃO 04 Marcos foi condenado definitivamente a uma pena de 06 (seis) anos pela prática do crime maus-tratos, tipificado ao teor do artigo 136, §2º do Código Penal em janeiro de 2015. Em julho de 2016, computado o cumprimento de 01 ano e 06 meses de pena no regime semiaberto, não vislumbrou por parte da Vara das Execuções Penais manifestação para garantir os seus direitos. É fato ainda que sempre gozou de excelente comportamento carcerário, comportamento este comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional em que se encontra. Diante das informações fornecidas exclusivamente na questão, pergunta-se: A) Como advogado de Marcos, qual o principal direito que pode ser alegado em favor de seu constituinte? (Valor: 0,7) B) Caso o direito pleiteado seja indeferido pelo juízo, é possível o intento de alguma medida cabível privativa de advogado? (Valor: 0,55) Justifique sua resposta. A mera indicação do artigo não pontua. GABARITO COMENTADO A) Como advogado de Marcos, o principal direito que pode ser alegado em sua defesa é o instituto da progressão de regime, tipificado ao teor do artigo 112 da Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84. Conforme estabelece o artigo mencionado, a progressão de regime para os crimes comuns se dá quando o preso tiver cumprido um sexto da pena, bem como quando tiver bom comportamento carcerário. De acordo com as informações constantes no caso apresentado, Marcos cumpriu mais de sexto da pena a qual tinha sido condenado, ou seja, mais de um ano, sendo possível a progressão de regime para o mais benéfico. Ademais, apresenta bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional em que se encontra, conforme estabelece o próprio art. 112 da referida lei. www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 11 B) Caso o direito de progressão de regime seja indeferido pelo juízo da execução, caberá como medida privativa de advogado a interposição do agravo em execução, nos moldes do artigo 197 da Lei de Execuções Penais – Lei 7.210/84, no prazo de 5 (cinco) dias, conforme estabelece a Súmula 700 do Supremo Tribunal Federal. DISTRIBUIÇÃO DE PONTOS QUESITO AVALIADO FAIXA DE VALORES ATENDIMENTO AO QUESITO A) O principal direito a ser alegado é a possibilidade de progressão de regime OU direito aplicado constante no artigo 112 da Lei de Execuções Penais OU aplica-se o constante no artigo 112 da Lei 7.210/1984. (0,7) 0,00 / 0,7 A medida cabível em caso de indeferimento é o Agravo em Execução OU Recurso previsto no artigo 197 da Lei de Execuções Penais (0,45) com prazo de interposição de 05 dias OU no prazo estabelecido pela Súmula 700 do STF. (0,1) 0,00 / 0,45 / 0,55 www.cers.com.br OAB XXII EXAME DE ORDEM Direito Penal Geovane Moraes e Ana Cristina Mendonça 12
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