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2 Olá, desejamos as boas-vindas ao curso “Aspectos Jurídicos da Atuação Policial”! O curso é composto por três módulos. A divisão dos assuntos foi elaborada para facilitar o aprendizado e os conhecimentos serão apresentados gradativamente, mantendo correlação lógica entre as aulas e os módulos. A todo o instante, a proposta é buscar ligação entre os aspectos jurídicos e as experiências vivenciadas pelo aluno no cotidiano policial, possibilitando o desenvolvimento dos objetivos gerais e específicos traçados. Para que você tenha uma ideia do caminho a ser percorrido, observe os objetivos estabelecidos para o curso, traçados de acordo com a percepção de que sua aprendizagem deve servir de base para sua atuação profissional. Objetivo do curso Ao final do curso, você será capaz de: • Apontar os requisitos legais indispensáveis à realização da abordagem pessoal, domiciliar e veicular; • Reconhecer o valor e respeitar os direitos e garantias fundamentais da pessoa humana, na atividade da Segurança Pública; • Identificar os principais ilícitos penais correlacionados ao tema, eventualmente praticados por pessoas abordadas pela polícia; • Identificar os principais ilícitos penais correlacionados ao tema, eventualmente cometidos por policiais; • Identificar as implicações de ordem civil e administrativa durante uma abordagem mal sucedida; • Conhecer quais são as tendências das principais decisões do Poder Judiciário sobre a atuação policial; • Identificar os critérios e fundamentos para realização da abordagem policial; • Entender quais as motivações que levam ao policial a realizar uma abordagem (prevenção, orientação geral ao público, fundada suspeita, momento de atuação). 3 Estrutura do curso Este curso abrange os seguintes módulos: • Módulo 1 – Aspectos constitucionais e normas internacionais aplicados à atuação policial; • Módulo 2 – Atuação policial: da prevenção às ações de resgate da paz social e instrução criminal; • Módulo 3 – Implicações penais, civis e administrativas sobre a abordagem policial: responsabilidade do cidadão e do agente policial. 4 Apresentação do módulo Na Constituição de 1988 se encontram os objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, dentre eles o de construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como o de promover o bem de todos. Essa norma fundamental traça a estrutura essencial desse Estado, em especial no âmbito da segurança pública, conferindo-lhe atribuições (ex.: preservar a ordem pública, que consiste em manutenção e reestabelecimento; proteger pessoas e bens), assim como metas e limites para o cumprimento de suas tarefas e o exercício do poder. Dentro desse contexto, destaca-se a dignidade da pessoa humana, além de um catálogo de direitos e garantias fundamentais. Ao lado disso, é importante lembrar que o Brasil, nas suas relações internacionais, segue alguns princípios, dentre os quais destacam-se: a prevalência dos direitos humanos, a defesa da paz e a solução pacífica dos conflitos e a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade. Normalmente essas relações são firmadas por meio de acordos, tratados, convenções, dentre outros atos, regulados pelo Direito Internacional. Assim, considerando a atuação no âmbito da segurança pública, é importante destacar que você estudará algumas normas internacionais que possuem reflexo na atuação policial, bem como garantias não expressas na Constituição Brasileira, e que vinculam sua atividade ou recomendam a observação de algumas medidas, podendo ser ou não adotados pelo Brasil, por seu estado ou município. Neste módulo, você estudará as principais normas constitucionais e os atos normativos internacionais que cuidam das atividades de preservação da ordem pública e da proteção de pessoas e bens. Objetivo do módulo Ao final do módulo, você será capaz de: • Descrever o que é dever da sua instituição: identificar as normas constitucionais que tratam das ações de segurança pública, seus órgãos e atribuições; MÓDULO 1 ASPECTOS CONSTITUCIONAIS E NORMAS INTERNACIONAIS APLICADAS À SEGURANÇA PÚBLICA 5 • Identificar quais normas amparam suas atribuições: identificar as normas constitucionais, bem como os princípios relacionados aos direitos e garantias fundamentais que delimitam a atuação dos profissionais de segurança pública; • Compreender a necessidade de sua atuação (estatal) como instrumento de promoção da harmonia no seio da comunidade; • Nomear as restrições legais aos direitos humanos fundamentais; • Reconhecer as limitações constitucionais da sua atuação policial e as consequências dos desvios desses limites na extensão da responsabilidade; • Reconhecer o poder que o Estado dá a seus agentes para realizar abordagem; e, • Conhecer as normas internacionais que cuidam das ações policiais, com seus efeitos e alcance. Estrutura do Módulo Este módulo abrange as seguintes aulas: • Aula 1 – Visão constitucional sobre o papel dos órgãos policiais; • Aula 2 – Restrições constitucionais sobre a atuação policial; • Aula 3 – Reflexos das normas internacionais na atividade policial. Aula 1 – Visão constitucional sobre o papel dos órgãos policiais Como profissional, você sabe que a atividade policial integra as ações de segurança pública, e de acordo com os ensinamentos do professor Lazzarini (1999, p. 52), constitui-se como um aspecto da ordem pública, ao lado da tranquilidade e da salubridade pública. Tudo isso é concebido dentro de uma estrutura estatal para garantir uma convivência harmoniosa entre as pessoas. Quem de nós, profissionais de segurança pública, nunca disse “Estou aqui para garantir a ordem pública!”, quando na verdade nos referimos à segurança pública. Mas, no que a ordem pública difere de segurança pública? Não seriam a mesma coisa? 1.1 Segurança pública e ordem pública Uma explicação usual diz que, em linhas gerais, a segurança pública é causa da ordem pública, que se traduz em um estado antidelitual, livre, portanto, da violação dos bens e valores mais importantes para a coletividade (vida, integridade física, liberdade, patrimônio, etc.) e, por isso, tutelados pelas leis, que regulam o comportamento de todos. Nesse sentido, existe ordem pública, e, consequentemente, segurança pública, quando, por exemplo, no dia-a-dia o cidadão tem a liberdade para ocupar espaços públicos, transitar nas ruas a qualquer hora, sem sofrer qualquer tipo de prejuízo, violação ou dano (ex.: furto, roubo, sequestro, lesão corporal, homicídio etc.). 6 Para enriquecer essa noção, de acordo com Meirelles (Apud LAZZARINI, 1999, 93), ordem pública é: […] a situação de tranquilidade e normalidade que o Estado assegura – ou deve assegurar – às instituições e a todos os membros da sociedade, consoante às normas jurídicas legalmente estabelecidas [...] abrange e protege também os direitos individuais e a conduta lícita de todo o cidadão, para coexistência pacífica de toda a comunidade. Tanto ofende a violência contra a coletividade ou contra as instituições em geral, como os atentados aos padrões éticos e legais de respeito à pessoa humana [...] é situação fática de respeito ao interesse da coletividade e aos direitos individuais que o Estado assegura, pela Constituição e pelas leis, a todos os membros da comunidade.