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Informativo 834 STF

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Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 1 
Márcio André Lopes Cavalcante 
 
 
Processo excluído deste informativo por não terem sido concluídos em virtude de pedido de vista: RHC 132062/RS. 
 
 
ÍNDICE 
 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
EXTRADIÇÃO 
 Possibilidade de extradição de brasileiro naturalizado. 
 
AMICUS CURIAE 
 Impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em processo criminal de seu filiado. 
 
JULGAMENTO DE CONTAS DOS PREFEITOS 
 Competência para julgamento das contas dos Prefeitos e sua repercussão na inelegibilidade. 
 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
 Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, que foi anulado, participem da 
segunda comissão. 
 Desnecessidade de intimação do servidor após o relatório final. 
 Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD. 
 Ausência de transcrição integral de dados obtidos por meio de interceptação telefônica não gera nulidade. 
 
CONCURSO PÚBLICO 
 Surgimento de vaga durante o período validade do concurso e abertura de novo certame logo depois do primeiro 
concurso expirar. 
 
DIREITO PENAL 
PECULATO 
 Deputado Federal que utiliza do trabalho de assessor parlamentar para serviços particulares pratica crime de 
peculato? 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
AMICUS CURIAE 
 Impossibilidade de intervenção de partido político como amicus curiae em processo criminal de seu filiado. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 2 
DIREITO CONSTITUCIONAL 
 
EXTRADIÇÃO 
Possibilidade de extradição de brasileiro naturalizado 
 
É possível conceder extradição para brasileiro naturalizado envolvido em tráfico de droga 
(art. 5º, LI, da CF/88). 
STF. 1ª Turma. Ext 1244/República Francesa, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
Jean é francês nato. Na década de 80, ele veio para o Brasil e aqui viveu desde então, tendo se 
naturalizado brasileiro. 
Em 2009, Jean foi a Paris visitar familiares e amigos. Nesta ocasião, na França, envolveu-se com a prática 
de tráfico de drogas. 
Jean conseguiu retornar ao Brasil sem ser preso e aqui voltou a morar. 
Iniciou-se um processo criminal na Justiça francesa contra Jean, tendo ele sido condenado. 
Diante disso, a França pediu a extradição de Jean para cumprir pena naquele país. 
 
O pedido poderá ser aceito? É possível conceder a extradição neste caso mesmo Jean sendo brasileiro 
naturalizado e tendo cometido o crime após a naturalização? 
SIM. 
 
É possível conceder extradição para brasileiro naturalizado envolvido em tráfico de droga (art. 5º, LI, da 
CF/88). 
STF. Plenário. Ext 1244/República Francesa, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
O Brasil pode extraditar um brasileiro para outro país a fim de que ali responda a processo ou cumpra pena? 
Somente o naturalizado pode ser extraditado (o brasileiro nato nunca). 
Mesmo o brasileiro naturalizado, ele só poderá ser extraditado em duas hipóteses: 
a) por crime cometido antes da naturalização; ou 
b) por crime cometido depois da naturalização, se o delito praticado foi o tráfico ilícito de entorpecentes. 
 
Isso está previsto no art. 5º, LI, da CF/88: 
LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da 
naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na 
forma da lei; 
 
Jean possui um relevante trabalho cultural no Brasil, onde vive há mais de 30 anos, tendo residência fixa, 
ocupação lícita, mulher e filhos brasileiros. Tais circunstâncias podem servir para impedir a extradição? 
NÃO. A existência de circunstâncias favoráveis ao extraditando, como residência fixa, ocupação lícita e 
família estabelecida no Brasil, com mulher, três filhos e dois enteados, não são obstáculos ao deferimento 
da extradição. 
 
 
 
 
 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 3 
AMICUS CURIAE 
Impossibilidade de intervenção de partido político como 
amicus curiae em processo criminal de seu filiado 
 
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta prática 
do crime de peculato. 
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae. 
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se como 
amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação processual penal 
não admite, considerados os estritos termos do CPP. 
STF. 1ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado 
em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
JULGAMENTO DE CONTAS DOS PREFEITOS 
Competência para julgamento das contas dos Prefeitos e sua repercussão na inelegibilidade 
 
Para os fins do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das 
contas de Prefeito, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras 
Municipais, com auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente 
deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos vereadores. 
STF. Plenário. RE 848826/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Ricardo 
Lewandowski, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834). 
 
Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, 
competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe 
do Poder Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo. 
STF. Plenário. RE 729744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) 
(Info 834). 
 
COMPETÊNCIA PARA JULGAR AS CONTAS DOS PREFEITOS 
Lei da Ficha Limpa 
A LC 64/90, alterada pela LC 135/2010 (Lei da Ficha Limpa), prevê que os administradores que ocuparam 
cargos ou funções públicas e tiveram suas contas rejeitadas pelo "órgão competente" ficam inelegíveis 
pelo período de 8 anos. Veja: 
Art. 1º São inelegíveis: 
I - para qualquer cargo: 
(...) 
g) os que tiverem suas contas relativas ao exercício de cargos ou funções públicas rejeitadas por 
irregularidade insanável que configure ato doloso de improbidade administrativa, e por decisão 
irrecorrível do órgão competente, salvo se esta houver sido suspensa ou anulada pelo Poder Judiciário, 
para as eleições que se realizarem nos 8 (oito) anos seguintes, contados a partir da data da decisão, 
aplicando-se o disposto no inciso II do art. 71 da Constituição Federal, a todos os ordenadores de despesa, 
sem exclusão de mandatários que houverem agido nessa condição; 
 
 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 4 
Qual é o "órgão competente" para julgar as contas do Prefeito? Em se tratando de um Prefeito, qual 
será o "órgão competente" de que trata o art. 1º, I, "g", da LC 64/90? 
Havia duas correntes sobre o tema: 
1ª) Tribunais de Contas 2ª) Câmara dos Vereadores 
Se o Tribunal de Contas rejeitasse as contas do 
Prefeito, ele já se tornaria inelegível, nos termos 
do art. 1º, I, "g", da LC 64/90. 
 
Era a posição defendida pela maioria dos Tribunais 
de Contas e do Ministério Público eleitoral. 
 
Assim, quando o TCE rejeitava as contas de um 
Prefeito, a Justiça Eleitoral, com base nesta 
decisão, negava registro de candidatura a ele. 
A competência para julgar as contas do Prefeito é 
da Câmara Municipal. 
O papel do Tribunal de Contas é apenas o de auxiliar 
o Poder Legislativo municipal. Ele emite um parecer 
prévio sugerindo a aprovação ou rejeição das contas 
do Prefeito. Após, este parecer é submetidoà 
Câmara, que poderá afastar as conclusões do 
Tribunal de Contas, desde que pelo voto de, no 
mínimo, 2/3 dos Vereadores (art. 32, § 2º da CF/88). 
Logo, somente após a decisão da Câmara 
Municipal rejeitando as contas do Prefeito é que a 
Justiça Eleitoral poderá considerá-lo inelegível. 
 
Qual das correntes foi acolhida pelo STF? 
A segunda. O STF, ao apreciar o tema, fixou a seguinte tese em sede de repercussão geral: 
Para os fins do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das contas de 
Prefeito, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com auxílio 
dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de 
dois terços dos vereadores. 
STF. Plenário. RE 848826/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski, 
julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834). 
 
A Câmara Municipal é o órgão competente para julgar as contas de natureza política e de gestão. Essa é a 
interpretação que se extrai do art. 31, § 2º da CF/88: 
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle 
externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. 
(...) 
§ 2º - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente 
prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. 
 
A Constituição conferiu ao Poder Legislativo a função de controle e fiscalização das contas do chefe do 
Poder Executivo. Esta é uma função típica do Legislativo, ao lado da função legiferante. Isso se deve ao 
fato de que cabe a um Poder fiscalizar o outro. 
Esta fiscalização se desenvolve por meio de um processo político-administrativo, que se inicia no Tribunal 
de Contas, que faz uma apreciação técnica das contas e emite um parecer. No entanto, a decisão final 
cabe ao Poder Legislativo. 
A Câmara dos Vereadores representa a soberania popular e os contribuintes e, por isso, tem a legitimidade 
para este exame. Vale ressaltar que a Câmara Municipal tem, inclusive, poder de verificar a ocorrência de 
crimes de responsabilidade praticados pelo Prefeito, inclusive quanto à malversação do dinheiro público, 
nos termos do Decreto-lei 201/1967. 
 
Votos vencidos 
O julgamento foi por apertada maioria (6x5). 
Votaram pela competência das Câmaras Municipais: Ministros Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, 
Edson Fachin, Cármen Lúcia, Marco Aurélio e Celso de Mello. 
Votaram pela competência dos Tribunais de Contas: Ministros Luis Roberto Barroso, Teori Zavascki, Rosa 
Weber, Luiz Fux e Dias Toffoli. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 5 
 
Qual era o principal argumento dos votos vencidos? 
Para o Ministro Luis Roberto Barroso, que ficou vencido, o ato de fiscalizar a Administração Pública 
envolve duas espécies de prestação de contas: 
Contas de GOVERNO Contas de GESTÃO 
Também denominadas de contas de desempenho 
ou contas de resultado. 
Também chamadas de contas de ordenação de 
despesas. 
Ao prestar estas contas, o administrador tem 
como objetivo demonstrar que cumpriu o 
orçamento dos planos e programas de governo. 
 
Esta prestação de contas tem como objetivo 
avaliar não os gastos globais do governante, mas 
sim cada um dos atos administrativos que 
compõem a gestão contábil, financeira, 
orçamentária, operacional e patrimonial do ente 
público. 
Tais contas são referentes à atuação do chefe do 
Poder Executivo como agente político. 
Tais contas são referentes à atuação do chefe do 
Poder Executivo como administrador público. 
A competência para julgar as contas de governo é 
da respectiva Casa Legislativa (Poder Legislativo), 
após parecer prévio do Tribunal de Contas. 
Ex: no caso dos Prefeitos, a competência para 
julgar as contas de governo seria da Câmara dos 
Vereadores, após parecer prévio do Tribunal de 
Contas. 
A competência para julgar em definitivo as contas 
de gestão seria do Tribunal de Contas, sem a 
participação da Casa Legislativa. 
Assim sendo, se o Prefeito age como ordenador de 
despesas, suas contas de gestão devem ser 
julgadas de modo definitivo pelo Tribunal de 
Contas sem a intervenção da Câmara Municipal. 
Nas contas de governo, o Tribunal de Contas dá 
um parecer, mas a decisão final é da Casa 
Legislativa. 
Nas contas de gestão, o Tribunal de Contas julga 
em definitivo a regularidade ou não. Não há 
participação da Casa Legislativa neste exame. 
Fundamento constitucional: 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso 
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal 
de Contas da União, ao qual compete: 
I - apreciar as contas prestadas anualmente pelo 
Presidente da República, mediante parecer prévio 
que deverá ser elaborado em sessenta dias a 
contar de seu recebimento; 
 
Fundamento constitucional: 
Art. 71. O controle externo, a cargo do Congresso 
Nacional, será exercido com o auxílio do Tribunal 
de Contas da União, ao qual compete: 
II - julgar as contas dos administradores e demais 
responsáveis por dinheiros, bens e valores 
públicos da administração direta e indireta, 
incluídas as fundações e sociedades instituídas e 
mantidas pelo Poder Público federal, e as contas 
daqueles que derem causa a perda, extravio ou 
outra irregularidade de que resulte prejuízo ao 
erário público; 
 
Obs: as normas do art. 71 aplicam-se também aos Estados-Membros e Municípios por força do art. 75, “caput”, 
da CF/88. Esta argumentação desenvolvida no quadro acima não foi acolhida pela maioria dos Ministros. 
Segundo restou decidido ao final pelo STF, "a apreciação das contas de Prefeito, tanto as de governo quanto as 
de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo 
parecer prévio somente deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos vereadores." 
 
NATUREZA DO PARECER TÉCNICO DO TRIBUNAL DE CONTAS E DEMORA NA SUA APRECIAÇÃO PELA CÂMARA DOS VEREADORES 
Parecer técnico do Tribunal de Contas 
Conforme se observa pelo § 2º do art. 31 da CF/88, o Prefeito presta suas contas ao Tribunal de Contas e 
este, após examiná-las, emite um parecer opinando pela aprovação ou rejeição. Este parecer é enviado ao 
Poder Legislativo Municipal (Câmara dos Vereadores), que poderá acolher ou afastar as conclusões do 
Tribunal de Contas. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 6 
Se a Câmara Municipal decidir afastar as conclusões do parecer, ela precisará fazer isso por meio de um 
quórum qualificado, exigindo-se o voto de 2/3 dos Vereadores. Em outras palavras, se a Câmara quiser 
discordar do Tribunal de Contas, pode fazê-lo, mas desde que por, no mínimo, 2/3 dos Vereadores. Veja 
novamente a redação do dispositivo constitucional: 
Art. 31. A fiscalização do Município será exercida pelo Poder Legislativo Municipal, mediante controle 
externo, e pelos sistemas de controle interno do Poder Executivo Municipal, na forma da lei. 
(...) 
§ 2º - O parecer prévio, emitido pelo órgão competente sobre as contas que o Prefeito deve anualmente 
prestar, só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos membros da Câmara Municipal. 
 
Demora da Câmara Municipal para apreciar o parecer do Tribunal de Contas exarado pela rejeição 
Até aqui, tudo bem. Ocorre que, muitas vezes, o Tribunal de Contas emite o parecer reprovando as contas 
do Prefeito e o encaminha à Câmara Municipal, mas esta não julga as contas. 
Chega, então, o período eleitoral e o Prefeito solicita o registro de sua candidatura, seja para a reeleição, 
seja para outro cargo (ex: Deputado Estadual). Ele poderá concorrer mesmo havendo um parecer do 
Tribunal de Contas rejeitando as suas contas?O parecer do Tribunal de Contas produz efeitos enquanto 
não for rejeitado expressamente pela Câmara Municipal? 
 
Sobre este tema, também surgiram duas correntes: 
1ª) O parecer prévio do Tribunal de Contas que rejeita as contas do Prefeito deverá produzir efeitos até 
que a Câmara Municipal expressamente o afaste, pelo voto de 2/3 dos Vereadores. Esta corrente se baseia 
na redação literal do § 2º do art. 31. Veja: "... só deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos 
membros da Câmara Municipal". Assim, se há demora no julgamento pela Câmara Municipal e o parecer 
foi pela reprovação das contas, este Prefeito não poderia concorrer por incidir na Lei da Ficha Limpa. Esta 
era a posição defendida pela maioria dos Tribunais de Contas e do Ministério Público eleitoral. 
 
2ª) O parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa. Ele não tem 
caráter decisório. Logo, enquanto não houver o julgamento pela Câmara Municipal rejeitando as contas do 
Prefeito, não existe nenhum impedimento para que ele concorra às eleições. Mesmo que a Câmara 
demore a apreciar o parecer, não se pode considerar que as contas do Prefeito tenham sido rejeitadas. 
Isso porque não existe julgamento ficto das contas por demora no prazo da Câmara para apreciá-las. 
 
Qual foi a corrente adotada pelo STF? 
A segunda. O STF, ao apreciar o tema, fixou a seguinte tese em sede de repercussão geral: 
Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, competindo 
exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe do Poder Executivo 
local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo. 
STF. Plenário. RE 729744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834). 
 
A expressão “só deixará de prevalecer”, constante do § 2º do art. 31, deve ser interpretada de forma 
sistêmica, de modo a se referir à necessidade de quórum qualificado para a rejeição do parecer emitido 
pela Corte de Contas. Em outras palavras, esta expressão não quer dizer que o parecer irá prevalecer 
enquanto não houver decisão da Câmara Municipal. Ela apenas está dizendo que os Vereadores só 
poderão discordar do parecer pelo voto de 2/3. No entanto, enquanto não houver votação na Câmara, as 
contas ainda não foram julgadas, de forma que não se pode dizer que elas já tenham sido rejeitadas. 
Conforme já explicado, cabe exclusivamente ao Poder Legislativo o julgamento das contas anuais do chefe 
do Executivo. Logo, com mais razão não se pode conferir natureza jurídica de decisão, com efeitos 
imediatos, ao parecer emitido pelo Tribunal de Contas que opine pela desaprovação das contas do 
Prefeito. Enquanto não houver manifestação expressa da Câmara Municipal, o documento do Tribunal de 
Contas é um mero parecer opinativo. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 7 
 
A interpretação de que o parecer do Tribunal de Contas é conclusivo e produz efeitos imediatos e 
permanentes caso a Câmara Municipal não o examine no prazo ofende a regra do art. 71, I, da CF/88. 
Além disso, haveria uma espécie de julgamento ficto das contas, o que não é permitido pelo ordenamento 
jurídico por dois motivos: 
1) isso representaria uma delegação ao Tribunal de Contas, órgão auxiliar, de uma competência 
constitucional que é própria das Câmaras Municipais; 
2) estaria sendo criada uma sanção aos Prefeitos pelo decurso de prazo, punição esta inexistente na 
Constituição. 
 
A rejeição das contas tem o condão de gerar, como consequência, a caracterização da inelegibilidade do 
Prefeito, nos termos do art. 1º, I, “g”, da LC 64/1990. Diante disso, não se poderia admitir que o parecer 
opinativo do Tribunal de Contas tenha o condão de gerar tais consequências ao chefe de Poder local sem 
que haja aval do Poder Legislativo. 
 
Vale ressaltar, ainda, que, se o parecer do Tribunal de Contas for pela rejeição, mas a Câmara Municipal 
decidir aprovar as contas do Prefeito, afasta-se a sua inelegibilidade (ele poderá concorrer). No entanto, os 
fatos apurados no processo político-administrativo pela Corte de Contas podem dar ensejo à 
responsabilização civil, criminal ou administrativa do chefe do Poder Executivo, medidas que poderão ser 
tomadas pelo Ministério Público, por exemplo. 
 
Votos vencidos 
Ficaram vencidos os Ministros Luiz Fux e Dias Toffoli. Eles defendiam que o parecer prévio emitido pelo 
Tribunal de Contas produziria efeitos integralmente a partir de sua edição. A eficácia cessaria, porém, se e 
quando apreciado e rejeitado por deliberação de 2/3 dos Vereadores. Para tais Ministros, entendimento 
contrário teria a consequência prática de tornar o parecer emitido pelo órgão competente um nada 
jurídico, dado o efeito paralisante de omissão do Poder Legislativo. 
 
 
 
DIREITO ELEITORAL 
 
JULGAMENTO DE CONTAS DOS PREFEITOS 
Competência para julgamento e natureza do parecer exarado pelo Tribunal de Contas 
 
Para os fins do artigo 1º, inciso I, alínea g, da Lei Complementar 64/1990, a apreciação das 
contas de prefeito, tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras 
Municipais, com auxílio dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente 
deixará de prevalecer por decisão de dois terços dos vereadores. 
STF. Plenário. RE 848826/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Ricardo 
Lewandowski, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) (Info 834). 
 
Parecer técnico elaborado pelo Tribunal de Contas tem natureza meramente opinativa, 
competindo exclusivamente à Câmara de Vereadores o julgamento das contas anuais do chefe 
do Poder Executivo local, sendo incabível o julgamento ficto das contas por decurso de prazo. 
STF. Plenário. RE 729744/MG, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 10/8/2016 (repercussão geral) 
(Info 834). 
 
Veja comentários em Direito Constitucional. 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 8 
DIREITO ADMINISTRATIVO 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Inexistência de impedimento de que os membros da comissão do primeiro PAD, 
que foi anulado, participem da segunda comissão 
 
Importante!!! 
Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros 
da Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer 
impedimento ou prejuízo material na convocação dos mesmos servidores que anteriormente 
tenham integrado Comissão Processante, cujo relatório conclusivo foi posteriormente anulado 
(por cerceamento de defesa), para comporem a segunda Comissão de Inquérito. 
Assim, não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo 
administrativo disciplinar seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que 
havia sido anulada. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2013. 
 
O processo administrativo disciplinar dos servidores públicos federais encontra-se previsto nos arts. 143 a 
182 da Lei nº 8.112/90. 
 
O processo administrativo disciplinar (em sentido amplo) divide-se em: 
 sindicância; 
 processo administrativo disciplinar propriamente dito (PAD). 
 
O processo disciplinar se desenvolve nas seguintes fases: 
I - instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão; 
II - inquérito administrativo, que compreende instrução, defesa e relatório; 
III - julgamento. 
 
Portaria de instauração do PAD 
O PAD é instaurado por meio de uma portaria, na qual constarão os nomes de três servidores estáveis no 
serviço público, que irão formar a comissão que conduzirá os trabalhos do processo disciplinar. 
O objetivo principaldesta portaria de instauração é dar publicidade à constituição da comissão 
processante, ou seja, informar quem serão os servidores responsáveis pela instrução do feito. 
Somente após o início da instrução probatória a Comissão Processante poderá fazer o relato 
circunstanciado das condutas supostamente praticadas pelo servidor indiciado, capitulando as infrações 
porventura cometidas. 
Desse modo, a descrição minuciosa dos fatos se faz necessária apenas quando o servidor for indiciado (fase 
de indiciamento), após a fase instrutória, não sendo imprescindível que conste da portaria de instauração. 
 
Comissão processante 
O art. 149 prevê o seguinte: 
Art. 149. O processo disciplinar será conduzido por comissão composta de três servidores estáveis 
designados pela autoridade competente, observado o disposto no § 3º do art. 143, que indicará, dentre 
eles, o seu presidente, que deverá ser ocupante de cargo efetivo superior ou de mesmo nível, ou ter nível 
de escolaridade igual ou superior ao do indiciado. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 9 
 
Finalidade da comissão 
A função precípua da comissão é a apuração dos fatos, concluindo pela inocência ou responsabilidade do 
servidor (art. 165). 
 
Feitos os devidos esclarecimentos, imagine a seguinte situação hipotética: 
João, servidor público federal, respondeu a processo administrativo disciplinar, conduzido por três 
servidores estáveis (José, Pedro e Tiago). 
Ao final do inquérito administrativo, a comissão elaborou seu relatório. 
Relatório é o documento no qual a comissão expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a 
defesa apresentada pelo acusado. 
O relatório deve ser motivado e conclusivo, ou seja, precisa apontar se a comissão recomenda a absolvição 
do servidor ou a sua condenação, sugerindo a punição aplicável. 
Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento, segundo a estrutura 
hierárquica do órgão. 
Suponhamos que o relatório elaborado pela comissão recomendou a demissão de João. 
Ocorre que a autoridade competente decidiu anular o relatório por entender que, durante a instrução, a 
comissão negou um pedido de produção de prova formulado pelo servidor e que era importante para o 
esclarecimento dos fatos. Logo, a autoridade competente entendeu que houve cerceamento de defesa. 
Diante disso, a autoridade competente determinou a anulação do PAD e a realização de outro. 
 
Novo PAD com a mesma comissão 
Foi instaurado, então, um novo PAD contra João. Ocorre que os membros designados para a comissão 
processante foram os mesmos do primeiro, ou seja, José, Pedro e Tiago. 
O processo seguiu normalmente, foram produzidas as provas necessárias, inclusive aquela que havia sido 
indeferida. 
Ao final, a comissão processante elaborou um relatório recomendando novamente a demissão de João. 
Desta vez, o relatório foi acolhido pela autoridade competente e o servidor foi demitido. 
Diante deste cenário, João impetrou mandado de segurança contra a decisão alegando que o segundo PAD 
também foi nulo. Isso porque a comissão foi composta pelos mesmos integrantes da anterior, que foi 
anulada, a caracterizar a ausência de isenção, imparcialidade e impessoalidade, considerando que estes 
membros já tinham formulado um juízo de valor em relação ao acusado. 
 
A alegação do impetrante foi aceita pelo STF? Neste caso, existe impedimento de os membros da 
comissão do primeiro PAD (que foi anulado) participarem também da comissão do segundo processo? 
NÃO. 
 
Não há qualquer impeditivo legal de que a comissão de inquérito em processo administrativo disciplinar 
seja formada pelos mesmos membros de comissão anterior que havia sido anulada. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
Os arts. 18 e 20 da Lei nº 9.784/99 (Lei do Processo Administrativo) estabelecem os casos de impedimento 
ou de suspeição para os integrantes de comissão disciplinar: 
Art. 18. É impedido de atuar em processo administrativo o servidor ou autoridade que: 
I - tenha interesse direto ou indireto na matéria; 
II - tenha participado ou venha a participar como perito, testemunha ou representante, ou se tais 
situações ocorrem quanto ao cônjuge, companheiro ou parente e afins até o terceiro grau; 
III - esteja litigando judicial ou administrativamente com o interessado ou respectivo cônjuge ou 
companheiro. 
(...) 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 10 
Art. 20. Pode ser arguida a suspeição de autoridade ou servidor que tenha amizade íntima ou inimizade 
notória com algum dos interessados ou com os respectivos cônjuges, companheiros, parentes e afins até o 
terceiro grau. 
 
Não se vislumbra a alegada impossibilidade de participação dos membros da primeira comissão 
processante, pois esse fato não se enquadra em nenhuma das situações previstas nos artigos transcritos. 
 
O art. 169 da Lei nº 8.112/90, por sua vez, preconiza o seguinte: 
Art. 169. Verificada a ocorrência de vício insanável, a autoridade que determinou a instauração do 
processo ou outra de hierarquia superior declarará a sua nulidade, total ou parcial, e ordenará, no mesmo 
ato, a constituição de outra comissão para instauração de novo processo. 
 
O STF e o STJ, ao interpretarem este dispositivo, entendem que, quando ele diz "constituição de outra 
comissão", não exige que nesta outra comissão os membros sejam diferentes daqueles que compuseram a 
primeira. Em outras palavras, se o motivo pelo qual o primeiro PAD foi anulado não está relacionado com 
a isenção da comissão, não existe impedimento legal para que os membros da primeira participem da 
comissão que irá conduzir o segundo processo. 
Aplica-se aqui a mesma lógica que é utilizada no processo judicial: a anulação de uma decisão/sentença judicial 
não impede que o juiz que decidiu aprecie novamente a causa, salvo se o vício estava relacionado com ele. 
 
(...) Respeitados todos os aspectos processuais relativos à suspeição e impedimento dos membros da 
Comissão Processante previstos pelas Leis 8.112/90 e 9.784/99, não há qualquer impedimento ou prejuízo 
material na convocação dos mesmos servidores que anteriormente tenham integrado Comissão 
Processante, cujo relatório conclusivo foi posteriormente anulado (por cerceamento de defesa), para 
compor a segunda Comissão de Inquérito (...) 
STJ. 1ª Seção. MS 16.192/DF, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 10/04/2013. 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Desnecessidade de intimação do servidor após o relatório final 
 
Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório 
final de processo administrativo disciplinar. 
Inexiste previsão na Lei nº 8.112/1990 de intimação do acusado após a elaboração do 
relatório final da comissão processante. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013 (Info 523). 
 
Elaboração do relatório 
Como vimos acima, ao final do inquérito administrativo, a comissão processante elabora um relatório no 
qual expõe as suas conclusões sobre as provas produzidas e a defesa apresentada pelo acusado. 
Esse relatório será encaminhado à autoridade competente para o julgamento. 
 
Após o relatório ter sido produzido pela comissão, ele deverá ser apresentado ao servidor processado 
para que este possa impugná-lo? O servidor tem o direito de ser intimado do relatório final? Existe 
previsão na Lei nº 8.112/90 de alegações finais a serem oferecidas pelo servidor após o relatório final ter 
sido concluído? 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André LopesCavalcante | 11 
NÃO. 
 
Não é obrigatória a intimação do interessado para apresentar alegações finais após o relatório final de 
processo administrativo disciplinar. 
Inexiste previsão na Lei nº 8.112/1990 de intimação do acusado após a elaboração do relatório final da 
comissão processante. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
STJ. 1ª Seção. MS 18.090-DF, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 8/5/2013 (Info 523). 
 
Após o relatório da comissão, encerrando a fase de instrução, o processo disciplinar será remetido à 
autoridade que determinou a sua instauração para julgamento (art. 166 da Lei nº 8.112/1990), não 
existindo previsão de intimação das partes para apresentação de memoriais ou alegações finais, de modo 
que não há que se falar em ofensa à ampla defesa ou ao contraditório quando não oportunizada a referida 
apresentação (STJ. 3ª Seção. MS 14.450/DF, Rel. Min. Gurgel de Faria, julgado em 26/11/2014). 
A Lei nº 8.112/90 determina apenas que, quando a Comissão concluir os seus trabalhos, deverá 
encaminhar o respectivo relatório à autoridade que julgará o servidor, consoante consta dos arts. 166 e 
167 da Lei nº 8.112/90. A defesa escrita é apresentada antes da elaboração do Relatório. 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Empréstimo das interceptações telefônicas do processo criminal para o PAD 
 
A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal 
pode ser utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. 
Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas 
judicialmente em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo 
disciplinar. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente 
produzida em processo criminal? 
SIM. A jurisprudência do STJ e do STF são firmes no sentido de que é admitida a utilização no processo 
administrativo de “prova emprestada” do inquérito policial ou do processo penal, desde que autorizada 
pelo juízo criminal e respeitados o contraditório e a ampla defesa (STJ. 1ª Seção. MS 17.472/DF, Rel. Min. 
Arnaldo Esteves Lima, julgado em 13/6/2012). 
 
Este “empréstimo” da prova é permitido mesmo que o processo penal ainda não tenha transitado em 
julgado? 
SIM. É possível a utilização, em processo administrativo disciplinar, de prova emprestada validamente 
produzida em processo criminal, independentemente do trânsito em julgado da sentença penal 
condenatória. Isso porque, em regra, o resultado da sentença proferida no processo criminal não 
repercute na instância administrativa, tendo em vista a independência existente entre as instâncias (STJ. 
2ª Turma. RMS 33.628-PE, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 2/4/2013. Info 521). 
 
É possível utilizar, em processo administrativo disciplinar, na qualidade de “prova emprestada”, a 
interceptação telefônica produzida em ação penal? 
SIM, desde que a interceptação tenha sido feita com autorização do juízo criminal e com observância das 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 12 
demais exigências contidas na Lei nº 9.296/1996 (STJ. 3ª Seção. MS 14.140-DF, Rel. Min. Laurita Vaz, 
julgado em 26/9/2012). 
Ex.: a Polícia Federal, por meio de interceptação judicial deferida pelo juízo criminal, conseguiu captar 
conversa na qual determinado servidor público exige quantia para praticar certo ato relacionado com suas 
atribuições. Com base nessa prova e em outras constantes do inquérito, o MPF oferece denúncia contra 
esse servidor. A Administração Pública, por sua vez, instaura processo administrativo disciplinar. 
 
O STF também decidiu no mesmo sentido afirmando que: 
A prova colhida mediante autorização judicial e para fins de investigação ou processo criminal pode ser 
utilizada para instruir procedimento administrativo punitivo. 
Assim, é possível que as provas provenientes de interceptações telefônicas autorizadas judicialmente 
em processo criminal sejam emprestadas para o processo administrativo disciplinar. 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
 
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 
Ausência de transcrição integral de dados obtidos 
por meio de interceptação telefônica não gera nulidade 
 
Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é 
necessária a degravação integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem excertos 
suficientes a embasar o oferecimento da denúncia. 
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade das 
interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os eventuais 
trechos que considera pertinentes ao deslinde da controvérsia. 
O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao deferimento 
de todas as provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas impertinentes ou 
meramente protelatórias pela comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº 8.112/90). 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
João, servidor público federal, estava sendo investigado pela Polícia Federal que, com autorização judicial, 
realizou a interceptação de conversas telefônicas que ele manteve com diversas pessoas. 
Vale ressaltar que a investigação era muito grande e envolvia, além de João, dezenas de outros suspeitos. 
Depois que a operação policial foi deflagrada, instaurou-se processo administrativo disciplinar para apurar 
a conduta de João. 
A comissão processante requereu do juízo criminal o envio das interceptações telefônicas colhidas e o 
magistrado autorizou o envio apenas das gravações que estavam relacionadas com o servidor, deixando 
de remeter os demais diálogos envolvendo outros suspeitos. 
Os diálogos relacionados com João foram utilizados pela comissão processante que recomendou a sua 
demissão, o que foi acolhido pela autoridade competente. 
João impetrou mandado de segurança alegando cerceamento de defesa, considerando que não houve a 
degravação de todas as conversas telefônicas. 
 
O STF acolheu a tese de João? 
NÃO. 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 13 
Mesmo em matéria penal, a jurisprudência do STF e do STJ é no sentido de que não é necessária a 
degravação integral das escutas, sendo bastante que dos autos constem excertos suficientes a embasar 
o oferecimento da denúncia. 
O servidor processado, que também é réu no processo criminal, tem acesso à integralidade das 
interceptações e, se entender necessário, pode juntar no processo administrativo os eventuais trechos 
que considera pertinentes ao deslinde da controvérsia. 
O acusado em processo administrativo disciplinar não possui direito subjetivo ao deferimento de todas 
as provas requeridas nos autos, ainda mais quando consideradas impertinentes ou meramente 
protelatórias pela comissão processante (art. 156, §1º, Lei nº 8.112/90). 
STF. 1ª Turma. RMS 28774/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Roberto Barroso, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
 
CONCURSO PÚBLICO 
Surgimento de vaga durante o período validade do concurso e 
abertura de novo certame logo depois do primeiro concurso expirar 
 
Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro do 
número de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validadedo concurso, 
um servidor se aposentou, mas não houve autorização do Ministério do Planejamento para 
que o órgão federal fizesse o provimento desta vaga. Um mês após o fim do prazo de validade 
do concurso, a Administração Pública abriu novo concurso para este cargo. 
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque: 
 foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e 
 o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura do 
novo certame. 
 realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve manifestação do 
órgão competente se havia disponibilidade orçamentária para que este cargo fosse 
imediatamente provido. 
O mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo não gera 
direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a ele 
demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte da 
administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado. 
Assim, para o Tribunal, a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI. 
STF. 1ª Turma. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, 
julgado em 9/8/2016 (Info 834). 
 
Imagine a seguinte situação hipotética: 
A Administração Pública abriu concurso para 20 vagas. 
João ficou em 21º lugar. 
Os 20 candidatos aprovados dentro do número de vagas foram nomeados e tomaram posse. 
Antes do término da validade do concurso, um servidor deste mesmo cargo pediu a sua aposentadoria. 
Apesar disso, João não foi chamado. 
Um mês depois do fim da vigência do certame, a Administração publicou novo edital de concurso para 
este cargo. 
Diante deste cenário, João impetrou mandado de segurança afirmando que, como a vaga surgiu no prazo 
de validade do concurso, ele tinha direito subjetivo de ser nomeado. 
O impetrante sustentou, ainda, que as tratativas (negociações) entre a Administração Pública e a empresa 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 14 
que irá organizar o concurso começaram antes do prazo de validade do certame anterior se esgotar. Isso 
provaria que a Administração precisava da vaga e poderia tê-lo nomeado. 
 
A tese de João foi aceita pelo STF? 
NÃO. 
 
Sobre o tema "concurso público e direito subjetivo à nomeação", o STF, em sede de repercussão geral, 
fixou a seguinte tese: 
“O surgimento de novas vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo cargo, durante o prazo de 
validade do certame anterior, não gera automaticamente o direito à nomeação dos candidatos aprovados 
fora das vagas previstas no edital, ressalvadas as hipóteses de preterição arbitrária e imotivada por parte 
da administração, caracterizada por comportamento tácito ou expresso do Poder Público capaz de revelar 
a inequívoca necessidade de nomeação do aprovado durante o período de validade do certame, a ser 
demonstrada de forma cabal pelo candidato. 
Assim, o direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado em concurso público exsurge nas seguintes 
hipóteses: 
a) quando a aprovação ocorrer dentro do número de vagas dentro do edital; 
b) quando houver preterição na nomeação por não observância da ordem de classificação; e 
c) quando surgirem novas vagas, ou for aberto novo concurso durante a validade do certame anterior, e 
ocorrer a preterição de candidatos de forma arbitrária e imotivada por parte da administração nos termos 
acima." 
STF. Plenário. RE 837311/PI, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 09/12/2015 (repercussão geral) (Info 811). 
 
O candidato não foi aprovado no quantitativo de vagas previsto no edital, e, portanto, não tem direito 
líquido e certo à nomeação. 
O prazo de validade do concurso em que o candidato foi aprovado expirou antes da abertura do novo 
certame. Realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve manifestação do órgão 
competente se havia disponibilidade orçamentária para que este cargo fosse imediatamente provido. 
No caso concreto, tratava-se de um órgão público federal que só poderia prover a vaga decorrente da 
aposentadoria após uma autorização formal do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), 
conforme exigem os arts. 10, § 3º, e 11 do Decreto 6.944/2009. Ocorre que esta autorização não foi dada 
durante o prazo de validade do concurso do impetrante. 
Desse modo, não se pode falar que o candidato tenha sido preterido de forma arbitrária. 
Segundo o Tribunal, a mera existência de tratativas sobre a inauguração de novo concurso permite 
concluir que existia vaga, mas isso, por si só, não gera direito líquido e certo à nomeação. 
Vale ressaltar, ainda, que o mero surgimento de vagas ou a abertura de novo concurso para o mesmo 
cargo não gera direito subjetivo à nomeação do candidato aprovado fora do número de vagas, cabendo a 
ele demonstrar, de forma inequívoca, que houve preterição arbitrária e imotivada por parte da 
administração pública. No caso concreto, o STF entendeu que isso não ficou comprovado. 
Assim, para o Tribunal a situação não se enquadra nas hipóteses previstas no RE 837311/PI. 
 
Resumindo: 
Determinado candidato foi aprovado fora do número de vagas. Todos os aprovados dentro do número 
de vagas foram nomeados e empossados. Durante o prazo de validade do concurso, um servidor se 
aposentou, mas não houve autorização do Ministério do Planejamento para que o órgão federal fizesse 
o provimento desta vaga. Um mês após o fim do prazo de validade do concurso, a Administração Pública 
abriu novo concurso para este cargo. 
O STF entendeu que este candidato não possui direito líquido e certo à nomeação porque: 
 foi aprovado fora do número de vagas previsto no edital; e 
 o prazo de validade do concurso em que ele foi aprovado expirou antes da abertura do novo certame. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 15 
 realmente surgiu uma vaga decorrente da aposentadoria, mas não houve manifestação do órgão 
competente se havia disponibilidade orçamentária para que este cargo fosse imediatamente provido. 
STF. 1ª Turma. RMS 31478/DF, rel. orig. Min. Marco Aurélio, red. p/ o acórdão Min. Edson Fachin, julgado 
em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
 
DIREITO PENAL 
 
PECULATO 
Deputado Federal que utiliza do trabalho de assessor parlamentar 
para serviços particulares pratica crime de peculato? 
 
Importante!!! 
O servidor público (ex: um Deputado Federal) que se utiliza do trabalho de outro servidor 
público (ex: assessor parlamentar) para lhe prestar serviços particulares pratica crime de 
peculato (art. 312 do CP)? 
Situação 1. Servidor público que se utiliza da mão-de-obra de outro servidor público 
(normalmente seu subordinado) para, em determinados momentos, fazer com que este preste 
serviços particulares a ele. Esta conduta não configura peculato nem qualquer outro crime. 
Atenção: se o indivíduo que se utilizou do servidor público for Prefeito, ele cometerá o delito 
do art. 1º, II, do DL 201/67. 
Situação 2. Servidor público que utiliza a Administração Pública para pagar o salário de 
empregado particular. Aqui o chefe contrata um indivíduo supostamente para ser servidor 
público (cargo comissionado), mas, na verdade, ele manda que a pessoa contratada preste 
exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Esta conduta, em tese, configura 
peculato. Isso porque o dinheiro público está sendo desviado para o pagamento de um 
"servidor" que, formalmente está vinculado à Administração Pública, mas que, na prática, 
apenas executa serviços para outro servidor público no interesse particular deste último. 
Caso concreto: o Deputado Federal Celso Russomanno (PRB-SP) contratou para o cargo de 
secretária parlamentar, com remuneração paga pela Câmara dos Deputados,a senhora "SJ". 
Ocorre que, de acordo com a acusação, "SJ" trabalhava, na verdade, não na Câmara, mas sim na 
produtora de vídeo do Deputado, em São Paulo. Assim, para o MP, o Deputado utilizou a 
assessora para o exercício de atividade privada, embora recebendo pelos cofres públicos. A 2ª 
Turma do STF absolveu o réu. Segundo ficou decidido, "SJ", ainda que tenha exercido algumas 
atividades de interesse particular do Deputado na produtora, dedicou-se 
preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar no escritório político de Celso 
Russomano em São Paulo, atendendo cidadãos que se sentiam lesados em suas relações de 
consumo. Assim, a prova dos autos demonstrou que “SJ” exercia as atribuições inerentes ao 
cargo de assessora parlamentar, ainda que também, algumas vezes, desempenhasse outras 
atividades no estrito interesse particular do parlamentar. Dessa forma, pela prova colhida, a 
conduta do Deputado foi penalmente atípica, uma vez que consistiu no uso de funcionário 
público que, de fato, exercia as atribuições inerentes ao seu cargo para, também, prestar 
outros serviços de natureza privada. Em outras palavras, o caso de Russomano se enquadrou 
na situação 1 acima explicada. 
STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado 
em 9/8/2016 (Info 834). 
 
O caso concreto, com algumas adaptações, foi o seguinte: 
Segundo o Ministério Público, o Deputado Federal Celso Russomanno (PRB-SP) contratou para o cargo de 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 16 
secretária parlamentar, com remuneração paga pela Câmara dos Deputados, a senhora "SJ". 
Ocorre que, de acordo com a acusação, "SJ" trabalhava, na verdade, não na Câmara, mas sim na produtora 
de vídeo do Deputado, em São Paulo. 
Assim, para o MP, o Deputado utilizou a assessora para o exercício de atividade privada, embora 
recebendo pelos cofres públicos. 
Diante disso, o Ministério Público denunciou o parlamentar pela prática de peculato, na modalidade 
desvio, delito tipificado no art. 312, caput, do Código Penal: 
Art. 312. Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou 
particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio: 
Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa. 
 
Para o STF, houve a prática do crime imputado? 
NÃO. A 2ª Turma do STF, por apertada maioria, absolveu o Deputado afirmando que o fato não constitui 
infração penal (art. 386, III, do CP). Vejamos com calma os motivos da decisão: 
 
O servidor público (em nosso caso, um Deputado Federal) que se utiliza do trabalho de outro servidor 
público (ex: assessor parlamentar) para lhe prestar serviços particulares pratica crime de peculato (art. 
312 do CP)? 
Depende. É necessário fazer a seguinte distinção de condutas: 
Situação 1. Servidor público que se utiliza da mão-de-obra de outro servidor público (normalmente seu 
subordinado) para, em determinados momentos, fazer com que este preste serviços particulares a ele. Ex: 
João é assessor parlamentar e trabalha normalmente nesta função. No entanto, como João é contador, o 
Deputado Federal exige que ele, vez por outra, preste serviços de contabilidade na empresa privada 
mantida pela família do parlamentar. Repare que aqui o servidor trabalha para a Administração Pública, 
mas também presta serviços, no horário de expediente, para o agente. Esta conduta não configura 
peculato nem qualquer outro crime. Nesse sentido: STF. 1ª Turma. Inq 3776, Rel. Min. Rosa Weber, 
julgado em 07/10/2014. Atenção: se o indivíduo que se utilizou do servidor público for Prefeito, ele 
cometerá o delito do art. 1º, II, do DL 201/67: 
Art. 1º São crimes de responsabilidade dos Prefeitos Municipal, sujeitos ao julgamento do Poder Judiciário, 
independentemente do pronunciamento da Câmara dos Vereadores: 
(...) 
Il - utilizar-se, indevidamente, em proveito próprio ou alheio, de bens, rendas ou serviços públicos; 
 
A expressão “serviços públicos” abrange a mão-de-obra dos servidores públicos. 
Este art. 1º, II, do DL 201/67 somente se aplica, no entanto, para Prefeitos, não abrangendo Deputados 
Federais. Repare que a redação do DL é diferente do art. 312 do CP, considerando que este último não fala 
em “serviços públicos”. 
 
Situação 2. Servidor público que utiliza a Administração Pública para pagar o salário de empregado particular. 
Aqui o chefe contrata um indivíduo supostamente para ser servidor público (cargo comissionado), mas, na 
verdade, ele manda que a pessoa contratada preste exclusivamente serviços particulares ao seu superior. Ex: 
determinado Deputado Federal contrata Maria para ser babá de sua filha recém nascida. Ocorre que Maria 
não é contratada como empregada doméstica, mas sim como assessora parlamentar. Em outras palavras, 
Maria está na folha de pagamento da Câmara, mas, na verdade, desempenha unicamente a atividade de 
babá. Esta conduta, em tese, configura peculato (art. 312 do CP). Nesse sentido: STF. Plenário. Inq 2913 AgR, 
Rel. p/ Acórdão: Min. Luiz Fux, julgado em 01/03/2012. Isso porque o dinheiro público está sendo desviado 
para o pagamento de um "servidor" que, formalmente está vinculado à Administração Pública, mas que, na 
prática, apenas executa serviços para outro servidor público no interesse particular deste último. 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 17 
Usar servidor público em atividade privada X usar a Administração para pagar salário de empregado privado 
Existe, portanto, diferença entre usar funcionário público em atividade privada e usar a Administração 
Pública para pagar salário de empregado particular. O primeiro é conduta atípica (salvo para o Prefeito). O 
segundo configura peculato. 
A utilização dos serviços de um funcionário público por outro funcionário público no seu interesse 
particular não é conduta típica na órbita penal, por não encontrar perfeita subsunção ao art. 312 do CP. 
Este tipo penal descreve como criminosa a conduta consistente em apropriar-se ou desviar em proveito 
próprio ou alheio "dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel", público ou particular. 
A utilização, em proveito próprio ou alheio, dos serviços executados por quem é remunerado pelos cofres 
públicos não se configura em desvio ou apropriação de bem móvel. Não se pode, sob pena de malferir o 
princípio da taxatividade (art. 5º, XXXIX, da CF/88) ampliar o tipo penal para situações que estritamente 
não se amoldem a ele. 
Situação diversa ocorre quando o dinheiro público é desviado para o pagamento de empregado que, 
apenas formalmente, está vinculado à Administração Pública, mas que, na verdade, desempenha e 
executa serviços para outro servidor público no interesse particular deste último. 
O objeto material do peculato, nessas situações, é o valor desviado para o pagamento do salário. 
Nessas hipóteses, tem-se um pseudo funcionário público, que, na verdade, é um empregado privado de 
um outro funcionário, o qual está formalmente na condição de funcionário apenas como meio para o 
desvio do dinheiro público utilizado no pagamento de seus salários. 
(STF. 1ª Turma. Inq 3776, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 07/10/2014) 
 
Voltando ao caso concreto: 
As provas demonstram que "SJ", ainda que tenha exercido algumas atividades de interesse particular do 
Deputado na produtora, dedicou-se preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar no escritório 
político de Celso Russomano em São Paulo, atendendo cidadãos que se sentiam lesados em suas relações 
de consumo. 
De acordo com o art. 8º do Ato da Mesa 72/1997, da Câmara dos Deputados, o secretário parlamentar 
tem as seguintes atribuições: “redação de correspondência, discurso e pareceres do parlamentar; 
atendimento às pessoas encaminhadas ao gabinete; execução de serviçosde secretaria e datilográficos; 
pesquisas; acompanhamento interno e externo de assuntos de interesse do Parlamentar; condução de 
veículo de propriedade do parlamentar; recebimento e entrega de correspondência, além de outras 
atividades afins inerentes ao respectivo gabinete”. 
Essas atribuições, nos termos do art. 2º do referido ato normativo, devem ser desempenhadas no gabinete 
parlamentar na Câmara dos Deputados ou no Estado-Membro de representação do parlamentar, ou seja, 
no escritório político do parlamentar. 
O Min. Dias Toffoli destacou que Russomanno foi eleito em razão de sua atividade jornalística de mediar 
conflitos de consumo. Pontuou que ele realizava os atendimentos em sua própria produtora, onde 
também passou a funcionar seu gabinete político em São Paulo. Para o Ministro, as provas dos autos 
demonstram que "SJ" esporadicamente auxiliava nas atividades da produtora, concentrando seus serviços 
no atendimento aos consumidores descontentes (eleitorado do parlamentar). 
Assim, a prova dos autos demonstrou que “SJ” exercia as atribuições inerentes ao cargo de assessora 
parlamentar, ainda que também, algumas vezes, desempenhasse outras atividades no estrito interesse 
particular do parlamentar. 
Dessa forma, pela prova colhida a conduta do Deputado foi penalmente atípica uma vez que consistiu no 
uso de funcionário público que, de fato, exercia as atribuições inerentes ao seu cargo para, também, 
prestar outros serviços de natureza privada. 
 
Resumindo: 
O Deputado Federal Celso Russomanno (PRB-SP) contratou para o cargo de secretária parlamentar, com 
remuneração paga pela Câmara dos Deputados, a senhora "SJ". Ocorre que, de acordo com a acusação, 
"SJ" trabalhava, na verdade, não na Câmara, mas sim na produtora de vídeo do Deputado, em São 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 18 
Paulo. Assim, para o MP, o Deputado utilizou a assessora para o exercício de atividade privada, embora 
recebendo pelos cofres públicos. A 2ª Turma do STF absolveu o réu. Segundo ficou decidido, "SJ", ainda 
que tenha exercido algumas atividades de interesse particular do Deputado na produtora, dedicou-se 
preponderantemente ao cargo de secretária parlamentar no escritório político de Celso Russomano em 
São Paulo, atendendo cidadãos que se sentiam lesados em suas relações de consumo. Assim, a prova 
dos autos demonstrou que “SJ” exercia as atribuições inerentes ao cargo de assessora parlamentar, 
ainda que também, algumas vezes, desempenhasse outras atividades no estrito interesse particular do 
parlamentar. Dessa forma, pela prova colhida, a conduta do Deputado foi penalmente atípica, uma vez 
que consistiu no uso de funcionário público que, de fato, exercia as atribuições inerentes ao seu cargo 
para, também, prestar outros serviços de natureza privada. 
STF. 2ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado em 
9/8/2016 (Info 834). 
 
 
 
DIREITO PROCESSUAL PENAL 
 
AMICUS CURIAE 
Impossibilidade de intervenção de partido político como 
amicus curiae em processo criminal de seu filiado 
 
Determinado Deputado Federal estava respondendo a ação penal no STF pela suposta prática 
do crime de peculato. 
O partido político que ele integra requereu a sua intervenção no feito como amicus curiae. 
O STF indeferiu o pedido afirmando que a agremiação partidária, autoqualificando-se como 
amicus curiae, pretendia, na verdade, ingressar numa posição que a relação processual penal 
não admite, considerados os estritos termos do CPP. 
STF. 1ª Turma. AP 504/DF, rel. orig. Min. Cármen Lúcia, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, julgado 
em 9/8/2016 (Info 834). 
 
 
OUTRAS INFORMAÇÕES 
 
R E P E R C U S S Ã O G E R A L 
DJe de 8 a 12 de agosto de 2016 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 847.429-SC RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
Recurso extraordinário. Repercussão geral. Tributário. Serviço de coleta e remoção de resíduos domiciliares prestado mediante contrato de 
concessão. Natureza jurídica da contraprestação do serviço público (taxa ou tarifa). Possui repercussão geral a questão constitucional relativa à 
possibilidade de delegação, mediante contrato de concessão, do serviço de coleta e remoção de resíduos domiciliares, bem como a natureza 
jurídica da remuneração de tais serviços, no que diz respeito à essencialidade e à compulsoriedade. 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 956.304-GO RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
Direito Constitucional e Administrativo. Abono de permanência. Discussão sobre o momento da suspensão do pagamento do referido benefício, se a 
partir do protocolo do requerimento da jubilação ou do aperfeiçoamento do ato de aposentadoria. Matéria dotada de repercussão econômica e jurídica. 
Questão suscetível de repetição em inúmeros processos. Repercussão geral reconhecida. 
 
REPERCUSSÃO GERAL EM RE N. 964.659-RS RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
Direito Constitucional e Administrativo. Servidor público. Possibilidade de recebimento de remuneração inferior a um salário mínimo por servidor 
público que labora em jornada de trabalho reduzida. Repercussão geral reconhecida. 
 
 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 19 
C L I P P I N G D O D JE 
8 a 12 de agosto de 2016 
 
ADI N. 3.721-CE 
RELATOR: MIN. TEORI ZAVASCKI 
Ementa: CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. LEI COMPLEMENTAR 22/2000, DO ESTADO DO CEARÁ. CONTRATAÇÃO 
TEMPORÁRIA DE PROFESSORES DO ENSINO BÁSICO. CASOS DE LICENÇA. TRANSITORIEDADE DEMONSTRADA. 
CONFORMAÇÃO LEGAL IDÔNEA, SALVO QUANTO A DUAS HIPÓTESES: EM QUAISQUER CASOS DE AFASTAMENTO 
TEMPORÁRIO (ALÍNEA “F” DO ART. 3º). PRECEITO GENÉRICO. IMPLEMENTAÇÃO DE PROJETOS DE ERRADICAÇÃO DO 
ANALFABETISMO E OUTROS (§ ÚNICO DO ART. 3º). METAS CONTINUAMENTE EXIGÍVEIS. 
1. O artigo 37, IX, da Constituição exige complementação normativa criteriosa quanto aos casos de “necessidade temporária de excepcional interesse público” 
que ensejam contratações sem concurso. Embora recrutamentos dessa espécie sejam admissíveis, em tese, mesmo para atividades permanentes da 
Administração, fica o legislador sujeito ao ônus de especificar, em cada caso, os traços de emergencialidade que justificam a medida atípica. 
2. A Lei Complementar 22/2000, do Estado do Ceará, autorizou a contratação temporária de professores nas situações de “a) licença para tratamento 
de saúde; b) licença gestante; c) licença por motivo de doença de pessoa da família; d) licença para trato de interesses particulares; e ) cursos de 
capacitação; e f) e outros afastamentos que repercutam em carência de natureza temporária”; e para “fins de implementação de projetos educacionais, 
com vistas à erradicação do analfabetismo, correção do fluxo escolar e qualificação da população cearense” (art. 3º, § único). 
3. As hipóteses descritas entre as alíneas “a” e “e” indicam ocorrências alheias ao controle da Administração Pública cuja superveniência pode 
resultar em desaparelhamento transitório do corpo docente, permitindo reconhecer que a emergencialidade está suficientemente demonstrada. O 
mesmo não se pode dizer, contudo, da hipótese prevista na alínea “f” do art. 3º da lei atacada, que padece de generalidade manifesta, e cuja declaração 
de inconstitucionalidade se impõe. 
4. Os projetos educacionais previstos no § único do artigo 3º da LC 22/00 correspondem a objetivos corriqueiros das políticas públicas de educação praticadas 
no território nacional. Diante da continuada imprescindibilidade de ações desse tipo, não podem elas ficar à mercê de projetos de governo casuísticos, 
implementados por meio de contratos episódicos, sobretudo quando a lei não tratou de designar qualquer contingência especial a ser atendida. 
5. Ação julgada parcialmente procedente para declarar inconstitucionais a alínea “f” e o § único do art. 3ºda Lei Complementar 22/00, do Estado do 
Ceará, com efeitos modulados para surtir um ano após a data da publicação da ata de julgamento. 
*noticiado no Informativo 829 
 
ADI N. 4.603-RN 
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 9.450, de 31 de janeiro de 2011, do Estado do Rio Grande do Norte, a qual veda a 
cobrança, no âmbito daquele Estado, das tarifas de assinatura básica pelas concessionárias prestadoras de serviços de telefonia fixa e móvel. 
Competência privativa da União para legislar sobre telecomunicações. Violação do art. 22, IV, da Constituição Federal. Precedentes. 
Inconstitucionalidade formal. Procedência da ação. 
1. A Lei nº 9.450/11, do Estado do Rio Grande do Norte, ao proibir a cobrança de assinatura básica dos consumidores e usuários dos serviços de 
telefonia fixa e móvel, violou o art. 22, inciso IV, da Lei Maior, o qual dispõe ser da União a competência para legislar sobre telecomunicações. 
Precedentes: ADI nº 2.615/SC, Tribunal Pleno, Relator para acórdão o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 18/5/15; ADI nº 4.369/SP, Tribunal Pleno, 
Relator o Ministro Marco Aurélio, DJe de 3/11/14; ADI nº 3.847/SC, Tribunal Pleno, Relator o Ministro Gilmar Mendes, DJe de 9/3/12; ADI nº 
4.478/AP, Tribunal Pleno, Relator para acórdão o Ministro Luiz Fux, DJe de 30/11/11). 
2. Ação direta julgada procedente. 
*noticiado no Informativo 628 
 
ADI N. 4.649-RJ 
RELATOR: MIN. DIAS TOFFOLI 
EMENTA: Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 5.934 de 29 de março de 2011, do Estado do Rio de Janeiro. Possibilidade de 
utilização, no mês subsequente, dos minutos da franquia não utilizados no mês anterior. Telecomunicações. Competência legislativa privativa 
da União. Violação do art. 22, IV, da Constituição Federal. Precedentes. Inconstitucionalidade formal. Procedência da ação. 
1. A Lei nº 5.934/11 do Estado do Rio de Janeiro, ao dispor acerca da possibilidade de acúmulo das franquias de minutos mensais ofertados pelas 
operadoras de telefonia, violou o art. 22, inciso IV, da Lei Maior, que confere à União a competência privativa para dispor sobre telecomunicações. 
Precedentes. 
2. Ação direta julgada procedente. 
*noticiado no Informativo 642 
 
RHC N. 130.270-BA 
RELATORA: MIN. ROSA WEBER 
EMENTA: RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. PROCESSO PENAL. IMPETRAÇÃO NÃO CONHECIDA NO SUPERIOR 
TRIBUNAL DE JUSTIÇA POR INADEQUAÇÃO DA VIA ELEITA. APELAÇÃO NA AÇÃO PENAL. NULIDADE PROCESSUAL. 
SUSTENTAÇÃO ORAL. AUSÊNCIA DE INTIMAÇÃO DA DEFESA PARA A SESSÃO DE JULGAMENTO. INOCORRÊNCIA. WRIT 
SUCEDÂNEO DE RECURSO OU REVISÃO CRIMINAL. INVIABILIDADE. 
1. O Superior Tribunal de Justiça observou, por analogia, os precedentes da Primeira Turma desta Suprema Corte quanto à não admissão do habeas 
corpus em substituição ao recurso ordinário constitucional, não conhecendo do writ porque substitutivo do recurso especial. 
2. A sustentação oral, compreendida no direito à ampla defesa protegido constitucionalmente (art. 5º, LV, da Constituição Federal), configura sem 
dúvida importante instrumento para seu exercício, ainda que não reconhecida pela jurisprudência do STF como ato essencial à defesa. 
3. A intimação para a sessão de julgamento da apelação em nome de advogado regularmente constituído, com poderes para tanto, diante de 
requerimento para que todos os patronos dela constassem, notadamente o causídico não incluído, não conduz à decretação de nulidade do feito, 
ausente pedido de sustentação oral e não arguido vício seja nos embargos de declaração, seja nos recursos especial e extraordinário manejados na ação 
penal. Precedentes. 
4. Inviável a utilização do habeas corpus como sucedâneo de recurso ou revisão criminal. Precedente. 
5. Recurso ordinário em habeas corpus a que se nega provimento. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 20 
 
 
TRANSCRIÇÕES 
 
Com a finalidade de proporcionar aos leitores do INFORMATIVO STF uma compreensão mais 
aprofundada do pensamento do Tribunal, divulgamos neste espaço trechos de decisões que tenham 
despertado ou possam despertar de modo especial o interesse da comunidade jurídica. 
 
CNJ - Deliberação - Restrição a Direitos - Ausência de Notificação ao Prejudicado - Inadmissibilidade (Transcrições) 
 
MS 34180-MC/DF* 
 
RELATOR: Ministro Celso de Mello 
 
DECISÃO: Trata-se de mandado de segurança, com pedido de medida liminar, impetrado contra decisão proferida pelo E. Conselho Nacional de 
Justiça nos autos do Procedimento de Controle Administrativo nº 0002923-38.2014.2.00.0000, cujo voto vencedor, proferido pelo eminente 
Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, Presidente, está assim fundamentado: 
 
“Bem examinados os autos, é fundamental relembrar inicialmente que remoção e promoção são formas de movimentação do 
magistrado na carreira. A remoção ocorre no plano horizontal, entre entrâncias de igual classificação, e a promoção no plano vertical, entre 
entrâncias de diferentes níveis. 
Por outro lado, antiguidade e merecimento são critérios de provimento de cargo vago. A antiguidade é medida pelo tempo de carreira 
do magistrado, enquanto o merecimento é aferido a partir das condições estabelecidas no art. 93, II, ’a’, ‘b’, ‘c’ e ‘e’, da Constituição 
Federal. 
No caso dos autos, discute-se, essencialmente, se os magistrados mais antigos na carreira deveriam ter preferência para ocupar 
cargo novo em detrimento daqueles que estão em entrância de nível inferior. Em outras palavras, importa saber se deve haver precedência 
da remoção em relação à promoção por antiguidade. 
A Lei Orgânica da Magistratura Nacional (LC 35/79), recepcionada pela Constituição Federal, é omissa a esse respeito e prevê 
apenas que: 
 
‘Art. 81. Na Magistratura da carreira dos Estados, ao provimento inicial e à promoção por merecimento precederá a remoção’. 
 
De fato, quanto à promoção por antiguidade, não há disposição expressa na LOMAN, o que, de acordo com respeitável corrente 
adotada por alguns precedentes do CNJ, autorizaria a elaboração de Lei Complementar Estadual sobre a matéria ou mesmo a adoção 
discricionária, por ato interno do Tribunal local, da remoção para o preenchimento de cargos recém-criados. 
No entanto, não se pode ignorar que o Supremo Tribunal Federal já assentou que a movimentação dos magistrados na carreira é 
matéria reservada à lei complementar de iniciativa do STF (atualmente a LC 35/1979) e que os privilégios concedidos à antiguidade estão 
todos previstos no texto constitucional, não podendo o legislador ordinário ampliá-los. 
Refiro-me especificamente ao julgamento unânime da ADI 2.494/SC, relatada pelo Ministro Eros Grau, cujo voto reproduzo abaixo: 
‘ 
‘A requerente postula a declaração de inconstitucionalidade de preceito que determina a precedência da remoção de 
Juízes às promoções por antiguidade ou merecimento, no Estado de Santa Catarina. Suscita conflito entre o texto normativo do 
artigo 192 da Lei n. 5.624 e o artigo 93, ‘caput’, da Constituição do Brasil . 
2. Esta Corte, em pronunciamentos reiterados, assentou que, até o advento da lei complementar prevista no artigo 93, 
‘caput’, da Constituição de 1988, o Estatuto da Magistratura será disciplinado pelo texto da Lei Complementar n. 35/79, 
recebida pela Constituição [nesse sentido: ADI/MC n. 2370, Relator o Ministro SEPÚLVEDA PERTENCE, DJ de 09.01.2001; ADI 
n. 1503, Relator o Ministro MAURÍCIO CORRÊA, DJ de 18.05.2001; ADI n. 1422, Relator o Ministro ILMAR GALVÃO, DJ de 
12.11.1999; ADI n. 2753, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO, DJ de 11.04.2003]. 
3. Verificou-se no caso, efetivamente, violação do preceito veiculado pelo artigo 93 da CB/88. A lei atacada cuidou de matéria 
constitucionalmente reservada a lei complementar de iniciativa do Supremo Tribunal Federal [artigo93]. 
4. Há ainda outra questão a ser analisada. A lei complementar catarinense, ao acrescentar a promoção por antiguidade às 
hipóteses em que a remoção terá prevalência, fê-lo sem o devido respaldo legal. O artigo 81 da LOMAN estabeleceu que, na 
Magistratura de carreira dos Estados-membros, ao provimento inicial e à promoção por merecimento precederá a remoção. 
5. O Supremo entende que os privilégios concedidos à antiguidade estão no texto constitucional, não podendo o legislador 
ordinário ampliá-los [ADI n. 468, Relator o Ministro CARLOS VELLOSO DJ de 16/04/1993]. 
Julgo procedente o pedido para declarar inconstitucional a Lei Complementar n. 212, que conferiu nova redação ao artigo 192 
da Lei n. 5.624/79, do Estado de Santa Catarina’ (…). 
 
Assim, na medida em que é vedado à lei estadual, ou a qualquer outro ato normativo de hierarquia igual ou inferior, complementar 
a LOMAN a fim de especificar novos critérios de movimentação dos magistrados estaduais na carreira, forçoso concluir que, até que 
sobrevenha o Estatuto da Magistratura, o art. 81 da LOMAN deverá permanecer hígido, intacto, com seu limite e grau de abrangência 
circunscritos ao quanto nele estritamente consignado, sendo, pois, vedada a precedência da remoção sobre a promoção por antiguidade aos 
magistrados estaduais, sob pena de configuração de flagrante ilegalidade. 
…................................................................................................... 
Isso posto, dou provimento ao recurso para reconhecer a ilegalidade e anular os editais 12, 13 e 15 de 2014, determinando ao TJPI 
que, no concurso de provimento da 3ª Vara da Comarca de Campo Maior e das 9ª e 10ª Varas Cíveis da Comarca de Teresina, respeite a 
seguinte ordem: 1) promoção por antiguidade; 2) remoção; e 3) promoção por merecimento.” (grifei) 
 
Esta impetração mandamental sustenta-se, em síntese, nos seguintes fundamentos: 
 
“O CNJ, ao julgar o PCA em questão, alterou a orientação que vinha sendo adotada – firmada em face do próprio TJPI, em outro 
PCA –, para dar interpretação diversa ao art. 81 da LOMAN, porém, ao fazê-lo, não intimou os magistrados impetrantes, que serão afetados 
diretamente pela anulação dos respectivos editais em violação ao seu direito líquido e certo ao devido processo legal, assegurado pelo art. 
5º, LV, da CF, e pelo art. 94, do RICNJ. 
 
Informativo 834-STF (23/08/2016) – Esquematizado por Márcio André Lopes Cavalcante | 21 
O PCA em questão foi provocado pelo magistrado ULISSES GONÇALVES DA SILVA NETO, juiz de direito da Comarca de 
Esperantina, de entrância intermediária, que agira motivado pelo indeferimento do seu pedido de inscrição para concorrer ao provimento de 
uma das vagas objeto dos referidos editais – de entrância final –, pelo critério de promoção por antiguidade. 
O TJPI, agindo em conformidade com orientação do CNJ firmada no julgamento do PCA n. 0000920-52.2010.2.00.0000 – proposto e 
julgado anteriormente em face do próprio TJPI – publicou os editais em questão para provimento de cargos recém-criados da 3ª Vara de 
Campo Maior e da 9ª e 10ª Varas Cíveis de Teresina. 
Seguindo orientação do CNJ no referido PCA (0000920-52.2010.2.00.0000), cuja ementa reproduz-se abaixo para fins didáticos, o 
TJPI limitou a abertura dos cargos exclusivamente para remoção, por antiguidade: 
…................................................................................................... 
Diante desse cenário, e de uma tendência, inclusive, na jurisprudência deste eg. STF, no sentido de que a remoção pode preceder à 
promoção, não só em relação à hipótese aqui tratada – de primeiro provimento de cargo recém-criado –, mas de modo mais amplo, conforme decisão 
da 1ª Turma deste eg. Supremo no MS 25.125, de relatoria do em. Ministro Dias Toffoli, o em. Conselheiro Fabiano Silveira indeferiu a liminar 
em decisão de 21.05.2014: 
…................................................................................................... 
Posteriormente, em 09.07.14, o em. Relator julgou improcedente o pedido, monocraticamente, com base em julgamento do PCA 1021-
84.2013, no qual o Plenário do CNJ assentara que diante da omissão da Constituição Federal e da LOMAN, quanto à precedência da 
remoção em relação à promoção por antiguidade, e vice-versa, porém, considerando a alteração legislativa introduzida pela EC n. 45, ao 
acrescentar o inciso VIII-A ao art. 93 da CF, não há óbice para que cada Tribunal estabeleça a remoção como forma de provimento 
preferencial. 
…................................................................................................... 
Em 04.08.2014, foi interposto recurso administrativo pelo magistrado ULISSES GONÇALVES DA SILVA NETO. Seguiu-se, então, a 
intimação do TJPI para apresentar suas contrarrazões. 
O julgamento do recurso administrativo começou em 7.10.14, com a prolação do voto do em. Relator pela negativa de provimento ao 
recurso, mas foi suspenso em razão do pedido de vista do em. Ministro Presidente do CNJ, Ricardo Lewandowski: 
…................................................................................................... 
O julgamento foi retomado em 6.10.15, com o voto do em. Ministro vistor dando provimento ao recurso, porém, foi novamente 
suspenso em razão de vista conjunta dos Conselheiros Daldice Santana e Fernando Mattos: 
…................................................................................................... 
No curso dessa vista, em 27.10.15, o impetrante EDSON ALVES DA SILVA, ao tomar conhecimento do julgamento do PCA, ora 
impugnado, pelo CNJ, manifestou-se nos autos, informando a sua condição de juiz titular da 10ª Vara Cível de Teresina – para a qual fora 
removido por antiguidade pelo Provimento 29, de 19.12.14 –, bem como a necessidade de sua intimação e dos demais afetados, em 
decorrência de interesse direto na desconstituição dos editais e na anulação em cascata dos provimentos que se seguiram entre março de 
2014 e a presente data. 
Posteriormente, em 09.03.2016, já na iminência da complementação do julgamento – ultimado em 15.03.16 –, o impetrante EDSON 
ALVES DA SILVA, juntamente com diversos outros magistrados, afetados direta ou indiretamente, apresentaram manifestação conjunta com 
breves razões de mérito que não foram sequer examinadas pelo CNJ. 
Em 15.03.16 foi concluído o julgamento, por maioria, com a prevalência do voto vista do em. Ministro-Presidente, Ricardo 
Lewandowski, tendo ficado vencidos os Conselheiros Fabiano Silveira, relator, e Norberto Campelo: 
…................................................................................................... 
Acontece que o voto vencedor determinou a anulação pura e simples dos editais 12, 13 e 15 de 2014 e determinou ao TJPI que 
passasse a observar, no concurso de provimento da 3ª Vara da Comarca de Campo Maior Teresina e das 9ª e 10ª Varas Cíveis da Comarca 
de Teresina: ‘a seguinte ordem: 1) promoção por antiguidade; 2) remoção; e 3) promoção por merecimento’. Assim, atingindo diretamente, 
de modo abusivo e ilegal, a esfera de direito subjetivo dos impetrantes, que são os atuais ocupantes das respectivas varas. 
Daí a violação ao direito líquido e certo dos impetrantes ao devido processo legal, assegurado pelo art. 5º, LV, da CF, e pelo art. 94 
do RICNJ, na medida em que terão de retornar para suas antigas varas, com desdobramento na esfera de direito subjetivo daqueles que as 
ocupam atualmente – gerando, a partir daí, um efeito cascata –, ou ficarão no limbo, em disponibilidade até serem reaproveitados, o que 
violaria inclusive o princípio da inamovibilidade: 
....................................................................................................... 
Ora, sendo os impetrantes interessados diretamente na anulação dos atos impugnados no PCA, na medida em que seriam e serão 
afetados na sua esfera de

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