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Capítulo 3 O Enquadre no Processo Psicodiagnóstico

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Capítulo 3 - O Enquadre no Processo Psicodiagnóstico 
GARCIA ARZENO, M. E. Psicodiagnóstico Clínico: novas contribuições. Porto Alegre: 
Artes Médicas, 1995. 
 
Em todas as atividades clínicas, e entre elas se inclui o psicodiagnóstico, é necessário 
partir de um enquadre. 
O enquadre pode ser mais estrito, mais amplo, mais permeável ou mais plástico, 
conforme as diferentes modalidades do trabalho individual ou conforme as normas da 
instituição na qual se trabalhe. Varia de acordo com o enfoque teórico que serve como marco 
referencial predominante para o profissional, conforme a sua formação (seus antecedentes 
genealógicos, dizia Heinrich Racker), suas características pessoais e também conforme as 
características do consultante. 
Alguns profissionais afirmam que trabalham sem enquadre. Esta afirmação, no 
entanto, encerra uma falácia, pois essa posição de não-enquadre já é por si mesma uma forma 
de enquadre, em todo caso do tipo laissez-faire. Cada profissional assume um sistema de 
trabalho que o caracteriza, além das variáveis que possa introduzir no caso. 
A qualidade e grau da patologia do consultante nos obrigam a adaptar o enquadre a cada caso. 
Não é possivel trabalhar da mesma forma com um paciente neurótico, com um psicótico ou 
com um psicopata grave. Cada caso implica diferentes graus de plasticidade. Uma pessoa 
absolutamente dependente exigirá esclarecimentos permanentes do que deve ou não fazer, 
enquanto que outros sentirão nossas intervenções como interferências desagradáveis. Um 
psicopata precisa ser limitado constantemente. O psicótico exige de nossa parte uma total 
concentração, precisa ser limitado, mas também cuidado, protegido…e precisamos também 
proteger-nos. 
A idade do paciente também influi no enquadre escolhido. Com uma criança pequena, 
sentaremos para brincar no chão se ela assim o solicitar; mas não com um adulto. Com 
adolescentes, sabemos que precisamos ser mais tolerantes quanto à sua freqüência, sua 
pontualidade e suas resistências para realizar certos testes dos quais “não gostam”. Talvez 
queiram antes acabar de escutar uma música em seu toca-fitas, A escutaremos até ele dizer 
que podemos começar. Talvez fizéssemos o mesmo com uma criança ou com um adulto 
psicõtico. 
Conclusão: é impossível trabalhar sem um enquadre, mas não existe um único enquadre. 
Quando questionados sobre o enquadre que usamos, muitas vezes acontecerá que a reflexão 
vem a posteriori da prática clínica. Em primeiro lugar, agimos, e depois refletimos sobre 
como e por que trabalhamos daquela forma. Bion recomenda trabalhar com absoluta atenção 
flutuante e liberdade, e após terminada a sessão, então sim, é aconselhável tomar notas e 
pensar sobre o ocorrido. No psicodiagnóstico isto aplica-se principalmente à entrevista inicial. 
Nas seguintes já é necessário agir de outra forma para atingir nosso objetivo. 
Seja com um adolescente, um adulto ou com os pais de uma criança, a primeira entrevista nos 
dará subsídios que facilitarão o enquadre a ser escolhido. Seu comportamento, seu discurso, 
suas reações, são indicadores que nos ajudam a resolver que tipo de enquadre usaremos, se 
mais estrito ou mais permissivo. O enquadre inclui não somente o modo de formulação do 
trabalho mas também o objetivo do mesmo, a freqüência dos encontros, o lugar, os horários, 
os honorários e, principalmente, o papel que cabe a cada um. 
O papel do psicólogo não é o do que sabe enquanto que o do paciente é o do que não 
sabe. Ambos sabem algo e ambos desconhecem muitas coisas que irão descobrindo juntos. O 
que marca a assimetria de papéis é que o psicólogo dispõe de conhecimentos e instrumentos 
de trabalho para ajudar o paciente a decifrar os seus problemas, a encontrar uma explicação 
para os seus conflitos e para aconselhá-lo sobre a maneira mais eficiente de resolvê-los. 
Quando alguém chega pela primeira vez, eu pergunto: “Em que posso ajudá-lo?” e com a 
resposta obtenho a primeira chave sobre a forma de encarar o caso. Se a resposta for: “Venho 
porque estou preocupado, estou muito nervoso, não consigo dormir, não me concentro no 
trabalho e não sei por que isso acontece”, não provoca a mesma reação do que se responde: 
“Não sei, foi o médico que me mandou porque estou com úlcera e ele diz que é psicológico”. 
Perguntaríamos: “Mas você, o que pensa. Acha que o médico está certo?” Sua resposta pode 
ser afirmativa, o que abre uma perspectiva mais favorável, ou pode responder: “Não, eu não 
acredito nessas coisas”. Essa resposta deixa pouquíssima margem para encarar qualquer tipo 
de trabalho. Se o médico nos enviou seu paciente e espera receber um informe psicológico, 
devemos explicar-lhe que mesmo que ele não acredite faremos alguns testes para poder enviar 
ao médico uma resposta conforme o que ele espera de nós. 
Não sendo assim, é muito difícil realizar o psicodiagnóstico e quase é conveniente 
colocar que o prorrogaremos até que ele sinta a necessidade de fazê-lo, até que esteja mais 
convencido de que seu médico está com a razão. Do contrário, mesmo que ele faça de boa 
vontade o que lhe pedirmos, as conclusões que obtivermos não terão valor nenhum para ele, e 
a entrevista de devolução poderia tornar-se uma espécie de desafio no qual nós queremos 
convencê-lo de algo que ele se nega a aceitar. 
Sobre o assunto do enquadre cabe lembrar José Bleger, respeitado e prestigiado 
psicanalista argentino, que em seu artigo “El psicoanálisis dei encuadre psicoanalítico” (A 
psicanálise do enquadre psicanalítico) publicada na “Revista Argentina de Psicoanálisis” 
comenta que existem certos aspectos do enquadre que permanecem “mudos” até que alguma 
circunstância nos obriga a rompê-los, e então aparecem com clareza. 
Suponhamos que o terapeuta tenha sido sempre pontual, até que um dia um problema no 
trânsito o obriga a chegar vinte minutos mais tarde. O paciente está esperando furioso, quase o 
insulta e grita “porque o senhor deve estar aqui quando eu chego”. Se não houvesse surgido 
esta “ruptura” do enquadre, essa reação teria permanecido sempre encoberta pela seriedade do 
comportamento do terapeuta. 
Tanto Bleger como Donald Meltzer, em sua obra “El proceso psicoanalítico” (Paidós) 
(O processo psicanalítico), concordam em que tanto o profissional como o paciente trazem 
para o encontro um aspecto mais infantil e outro mais maduro. Se o contrato analítico (e o do 
psicodiagnóstico também) é feito sobre a base dos aspectos infantis de ambos, os resultados 
serão negativos e perigosos. Assim, por exemplo, a avareza de um profissional pode levá-lo a 
aceitar um enquadre fixado pelos pais, que podem ser horários exóticos, ou menos vezes por 
semana do que seria aconselhável em troca de poder receber ótimos honorários. O mesmo 
pode ocorrer entre a criança ou o adolescente e o profissional, se este aceitar condições de 
trabalho que eles impõem por um capricho. Suponhamos que a criança propõe brincar de 
quem escreve mais rapidamente o maior número de palavras que começam com uma letra 
determinada. E óbvio que o terapeuta será o vencedor. A náo ser em casos nos quais seja 
terapêutico fazer a criança passar por esta prova de realidade, aceitar o desafio é colocar-se à 
altura da criança onipotente que pode vencer o adulto em tudo. 
Em La entrevista psicológica (publicação interna da Faculdade de Filosofia e Letras da 
Universidade de Buenos Aires), coloca Bieger: 
Para obter o campo particular da entrevista que descrevemos, devemos contar com um 
enquadre fixo que consiste na transformação de certo conjunto de variávcis em constantes. 
Dentro deste enquadre inclui-se não somente a atitude técnica e o papel do entrevistador como 
o temos descrito nias também os objetivos, o lugar e a duração da entrevista.O enquadre 
funciona como um tipo de padronização da situação estímulo que oferecemos ao entrevistado, 
e com isso não pretendemos que deixe de agir como estimulo para ele mas que deixe de 
oscilar como variável para o entrevistador. Se o enquadre sofre alguma modificação (por 
exemplo, porque a entrevista é realizada em um lugar diferente) essa modificação deve ser 
considerada como uma variável sujeita á observação, tanto como o próprio entrevistado. Cada 
entrevista possui um contexto definido (conjunto de constantes e variáveis) devido ao qual 
ocorrem os emergentes e estes só fazem sentido e são significativos em relação e devido a 
esse contexto. O campo da entrevista também não é fixo, mas dinâmico, o que significa que 
está sujeito a uma mudança permanente, e a observação deve se estender do campo especifico 
existente a cada momento à continuidade e sentido dessas mudanças…Cada situação humana 
é sempre única e original, sendo assim também o será a entrevista, fias isto não se aplica 
somente aos fenómenos humanos mas também aos fenômenos da natureza, o que já era do 
conhecimento de Heráclito. Esta originalidade de cada acontecimento não impede o 
estabelecimento de constantes gerais, ou seja, das condições em que os fatos se repetem com 
maior freqüência. O individual não exclui o geral nem a possibilidade de introduzir a 
abstração e categorias de análise…a forma de observar bem é ir formulando hipóteses 
enquanto se observa, e no transcurso da entrevista verificar e retificar as hipóteses durante seu 
próprio transcurso em função das observações subseqüentes que, por sua vez, vão ser 
enriquecidas pelas hipóteses prévias. Observar, pensar e imaginar coincidem totalmente e 
fazem parte de um único processo dialético. 
Como vemos, Bleger enfatiza a importância do enquadre para manter o campo da 
entrevista de uma forma tal que uma série de variáveis (aquelas que dependem do 
entrevistador) se mantenham constantes. Isto contribui para uma melhor observação. 
Meltzer, de formação puramente kleiniana, enfatizou a importância do respeito ao enquadre, 
mas a sua idéia de enquadre defendia a atitude do terapeuta como a de uma tela de projeção 
(conceito de Paula Heimann) ou um espelho mudo, o que o conduziu a exageros ridiculos, 
suprimidos na atualidade. 
Segundo Bleger, o enquadre seria o fundo ou a base, e o processo analítico (nós o 
chamaríamos de processo psicodiagnóstico), a imagem do que, unindo ambos os conceitos 
(enquadre e processo) configuraria a situação analítica. O enquadre seria o fator constante, o 
que não é processo. O processo seria aquilo que é variável, o que se modifica. Isto é o que 
explica de que forma vai se desenvolvendo o processo terapêutico. No caso de um 
psicodiagnõstico podemos fazer uso destes conceitos. A situação não é a analítica. Mas, da 
mesma forma, precisamos observar o indivíduo para fazer um diagnóstico correto. Devemos 
ter certeza de que aquilo que surgir será material do paciente (variáveis por ele introduzidas) e 
não nosso. 
Como colocamos anteriormente, Bleger e Meltzer concordam ao afirmar que tanto o 
terapeuta como o paciente trazem um lado infantil e outro mais maduro. O enquadre, ponto de 
partida de importância decisiva para o processo psicodiagnóstico, tanto como para o 
terapêutico, se torna ainda mais complicado quando consideramos que cada um dos pais e de 
seus filhos também trazem ambos aspectos. Por isso, advertimos sobre o risco de que se 
estabeleçam situações nas quais são colocadas em jogo as partes infantis (primitivas e 
onipotentes) de cada um, inclusive do próprio profissional. 
Vejamos um exemplo. Uma senhora marcou uma consulta para uma menina de seis 
anos. Chamou minha atenção o fato de que me chamara de você desdé o início. Atualmente, 
este é um fato comum, mas não há quinze anos. Eu mantive a postura de chamá-la de senhora 
e disse-lhe que deveria comparecer com seu esposo à primeira entrevista. Ela negou-se 
terminantemente, alegando que ele viajava constantemente e não dava atenção à menina. 
Acrescentou ainda que ele “não acreditava nessas coisas” e que a deixava resolver esses 
assuntos. Esta senhora colocou-se no papel de “dona de casa” e colocou-me num papel tipo o 
de uma professorinha para a menina que estava com problemas na escola. Sua forma 
autoritária de dispor o contrário daquilo que eu solicitava já me fazia pensar em outros 
problemas além daqueles que ela colocava. Expliquei-lhe, sempre ao telefone, que eu tinha 
interesse em escutar a opinião do pai e que tudo o que fosse resolvido devia ser 
responsabilidade do pai e não somente da mãe. Mesmo assim, na hora marcada chegou 
sozinha e tentou constantemente estabelecer comigo uma aliança contra o marido, a quem ao 
mesmo tempo usava, dispondo, em seu lugar, das suas decisões e da sua situação financeira. 
Isto poderia ser produto do despeito de uma esposa abandonada, mas de fato impunha a mim a 
exclusão do marido. 
Além do mais, esclareceu que a menina era filha adotiva e que não devia sabê-lo 
nunca. Isto criou dificuldades intransponíveis para trabalhar, pois não só excluia o marido 
como também a própria filha. Devido à minha insistência, o marido assistiu à segunda 
entrevista e foi possível falar sobre a relação dos problemas de aprendizagem com os 
desentendimentos do casal e o fato de ocultarem da menina a verdade sobre a sua origem. O 
marido era, de fato, evasivo e resistente, mas não tanto quanto ela o fazia parecer, devido ao 
seu rancor de esposa e mãe frustrada. Eu insisti quanto à necessidade de contar à menina 
sobre a adoção e não aceitei vê-la enquanto eles não decidissem encarar a situação sem mais 
mentiras. Nunca mais ouvi sobre eles. 
Em outro caso semelhante, o resultado foi positivo, pois a consulta ficou centralizada 
na necessidade que eles tinham de uma ajuda externa para encarar a dificuldade do momento 
de dizer a verdade. Perto do final da primeira entrevista, costumamos explicar ao paciente (ou 
a seus pais) que deverá fazer alguns desenhos, inventar algumas estórias, etc, e que logo após 
nos reuniremos para conversar sobre os resultados. Quando está prevista uma entrevista 
familiar, devemos também adverti-lo com tempo. Geralmente não há resistência quando é dito 
que desejamos conhecer como é a família quando estão todos juntos. Durante a hora do jogo 
diagnóstico e das entrevistas familiares diagnósticas, nosso papel será o de um observador não 
participante. O mesmo acontece no momento de aplicar os testes. Somente após colher a 
produção espontãnea do individuo deveremos intervir mais ao fazer algum inquérito (como no 
Rorschach, TAT, CAT ou Phillipson) e inclusive algum exame de limites. 
Nosso papel é muito mais ativo durante a entrevista final, na qual o esperado é justamente que 
demos a nossa opinião sobre o que ocorre. A recomendação da estratégia terapêutica mais 
adequada deve ser formulada e devidamente fundamentada pelo profissional, dada a 
autoridade que o seu papel lhe confere. Quando, para o paciente, é muito difícil assimilar toda 
a informação que temos para dar-lhe, é aconselhável marcar mais uma ou duas entrevistas. 
É muito difícil definir o papel do psicólogo no momento da devolução de informação. 
Com alguns adultos ou adolescentes poderemos trabalhar com elasticidade e plasticidade, 
enquanto que com outros deveremos ser mais drásticos. Lembro um caso bem sério, de uma 
menina de quatorze anos que já havia passado por um aborto e duas fugas de seu lar com seus 
namorados. Toda vez que eu tentava mostrar a gravidade destes fatos, os pais, principalmente 
a mãe, desconsideravam minha opinião, dizendo que esses eram fatos habituais entre os 
adolescentes. Precisei então adotar um papel mais fechado e definido. Essasenhora era uma 
executiva importante e não soltou sua pasta durante toda a entrevista, como se isso definisse o 
seu papel: o de unia executiva. Usando essa linha de pensarnento estabelecida por ela, 
coloquei: “Bem, a senhora sabe mais do que eu sobre como administrar uma empresa, mas eu 
sei mais do que a senhora sobre o que é um adolescente, e posso afirmar que o caso da sua 
filha não é algo habitual nem inconseqüente. Mas ela é sua filha e não minha. Portanto, pode 
acreditar ou não em mim. Faça de conta que eu fiz nela um exame de sangue e lhe disse que 
está anêmica e a senhora me responde que é habitual na adolescência. O que acha? Quem está 
mais próxima da verdade? 
Este não é o meu modo habitual de trabalhar, mas a ética profissional orienta-nos a 
dizer a verdade, porque para isso somos consultados, e se em determinados casos precisamos 
fazer intervenções mais drásticas, é imprescindível fazê-lo, pelos pais, pela filha e por nós 
mesmos. Muitas vezes o processo psicodiagnóstico não acaba com a aceitação fácil de nossas 
conclusões. Os consultantes precisam tempo para pensar, para assimilar o que lhes foi dito. 
Muitas vezes também nós precisamos de tempo para ratificar e retificar as nossas hipóteses. 
De modo que algumas vezes é necessário modificar o enquadre inicial no que se refere ao 
número de entrevistas e deixar mais espaço para concluir o processo com maior clareza. 
Até aqui tenho feito uma descrição de meu trabalho particular. Quero agora dedicar um breve 
espaço ao enquadre no âmbito institucional. 
Cada instituição pode (e deve) fixar os limites dentro dos quais vai se desenvolver o 
trabalho do psicólogo. Por exemplo, a duração de cada entrevista, o tipo de diagnóstico que se 
espera, o modo de deixar registrado e arquivado o material, o tipo de informe final, etc. 
Mas o tipo de bateria que será usada e a sua seqüência é de responsabilidade exclusiva dos 
psicólogos. Eles decidirão de comum acordo o modus operandi. Do contrário, podem ocorrer 
situações ridículas, iatrogênicas e até legalmente objetáveis. 
Lembro como exemplo o caso de um grupo de psicólogos que me solicitou uma 
supervisão. No caso, o Questionário Desiderativo era indispensável para concluir o 
diagnóstico, mas os psicólogos me responderam que esse teste não era aplicado nessa 
instituição: assim fora estabelecido pelo Chefe de Serviço, médico psiquiatra. Em outra 
ocasião, tomei conhecimento de que em outro Serviço de Psicopatologia era proibido fazer 
testes porque “isso já passou de moda e é uma perda de tempo”. 
Como pode-se pretender que o profissional arrisque um diagnóstico e realize uma psicoterapia 
se ao mesmo tempo não lhe é dada a liberdade para usar os instrumentos cientificos dos quais 
precisa para esse fim? 
Os jovens psicólogos, ávidos por experiência clínica, não percebem essas armadilhas e 
tornam-se suas vítimas quando devem recorrer à supervisão para satisfazer as exigências da 
instituição.

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