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gravidez na adolescencia no municipio de manaus

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Prévia do material em texto

Ficamos, e agora? A gravidez na 
adolescência no Município de Manaus1 
 
 
Marília Carvalho Brasil2 
Carlos Augusto dos Santos3 
 
1. INTRODUÇÃO 
 
 
“Ficamos, e agora?” Esta expressão traduz um pensamento muito comum atualmente entre os 
adolescentes e nos remete a dois momentos vividos por este segmento da população manauara, mas 
também por inúmeros adolescentes espalhados pelo País. 
A primeira parte da expressão reflete o “ficar”, um estar junto, um simples namoro, que, na 
maioria das vezes, implica em um relacionamento sem grandes envolvimentos afetivos, algo sem muito 
compromisso, sem grandes responsabilidades e que se tornou muito freqüente entre os adolescentes 
brasileiros. Poderíamos arriscar dizer que se trata de um “estado de espírito” desta geração nascida ainda 
na metade da década de 80. Neste “ficar” repousa todas as crises, incertezas, alegrias e tristezas desta fase 
da vida, e que também se expressa em atos de uma juventude frente a uma sociedade cada vez mais 
individualizada, fragmentada e caótica. Todos estes fatores fazem parte desta trajetória de vida e que vem 
acompanhada, atualmente, de uma enorme carga de liberdade e sexualidade trazida de forma escancarada 
e avassaladora pela mídia e seus padrões de entretenimento. 
Na segunda parte da expressão nos deparamos com um dos possíveis resultados deste processo: a 
gravidez na adolescência. “E agora?” Esta indagação é permeada por dúvidas que assaltam os 
adolescentes, causa vertigem. O que implica uma gravidez e um filho num momento como este? Qual a 
reação dos pais, dos amigos, das pessoas mais próximas? O que fazer no momento presente? Como 
pensar o futuro que não sinaliza para um céu de brigadeiro? 
Se por um lado o comportamento reprodutivo das mulheres manauaras, nas últimas décadas, tem 
acompanhado a queda da fecundidade observada no Estado do Amazonas é, no entanto, nas idades mais 
jovens que observa-se um aumento acentuado nas proporções de nascimentos, fazendo parte do que 
podemos chamar de “rejuvenescimento” no padrão de fecundidade total. No que diz respeito à população 
adolescente, os dados do DATASUS apontam para um significativo aumento de nascimentos deste 
segmento populacional, situando-se em torno de 30% do total de nascidos vivos observados no Município 
de Manaus, em 1996. Comparativamente com os demais estados da Região Norte, estes percentuais são 
um dos mais elevados. Neste sentido, se pode antever os problemas socio-econômicos para estas jovens 
 
1
 Agradecemos às técnicos Maria de Lourdes Gióia (SEMSA de Manaus), Magali Pinheiro Neves e Edna 
(Ministério de Saúde- AM) pelas informações fornecidas quanto aos programas de atendimento aos 
adolescentes. 
2
 Diretora do Depto. Pesquisas Sociais do Instituto de Estudos Sobre a Amazônia (IESAM) da Fundação 
Joaquim Nabuco (FJN). 
3
 Pesquisador do IESAM/FJN. 
mães, que, não raramente, são forçadas a deixar as escolas, têm menores oportunidades futuras de 
emprego, além de acarretar outros problemas de ordem psicológica e médica. 
É diante destas questões que este trabalho objetiva a realização de um estudo da problemática da 
gravidez na adolescência em Manaus, levando-se em consideração a situação atual e as ações de políticas 
públicas de saúde através de programas específicos realizados pelos órgãos governamentais voltados para 
os adolescentes. Partimos da seguinte indagação: na cidade de Manaus a gravidez na adolescência é 
apenas um problema social ou, também, um problema de saúde pública pela dimensão que a envolve? 
Com este estudo espera-se estar contribuindo para a discussão da gravidez na adolescência e o 
desenvolvimento de ações de políticas públicas direcionadas para este segmento populacional. 
 
 
1. METODOLOGIA 
 
A metodologia utilizada buscará responder as duas indagações acima mediante uma análise da 
gravidez na adolescência e dos programas existentes no município quanto ao atendimento desta 
população. Para isso procuramos dividir este trabalho em quatro etapas que se interagem no momento da 
análise: 1ª) inicia-se com a evolução populacional do município de Manaus, procurando contextualizar, 
através de sua dinâmica demográfica, a cidade onde residem os adolescentes; 2ª) a seguir mostra-se as 
tendências da fecundidade e da gravidez na adolescência no Estado do Amazonas, bem como no 
município de Manaus. Este momento é importante para demonstrarmos como a gravidez na adolescência 
faz-se num movimento contrário à fecundidade das mulheres de outros grupos etários no estado e no 
próprio município; 3ª) apresenta-se os programas públicos de atendimento à população de adolescentes no 
município; e, 4ª) finalmente, como considerações finais, faz-se uma análise dos impactos desses 
programas neste segmento populacional . 
 
1.1 Fonte de Dados 
 
 Para a confecção deste trabalho foram utilizadas várias fontes de dados, como discriminamos 
abaixo: 
1) Dados dos censos demográficos de 1980 e 1991; 
2) Contagem Populacional de 1996; 
3) Dados de nascidos vivos do SINASC/DATASUS para os anos de 1994 a 1997; 
4) Pesquisa Nacional de Amostra Domiciliar de 1996; e, 
5) Dados do Programa de Atendimento Integral à Saúde da Mulher, Criança e Adolescente da Secretaria 
Municipal de Saúde de Manaus, 1998/2000. 
 
2. A EVOLUÇÃO POPULACIONAL DO MUNICÍPIO DE MANAUS4 
 
 
Antes de se discutir a problemática da gravidez na adolescência no Município de Manaus, será 
exposto rapidamente alguns aspectos da dinâmica demográfica manauense. 
No município de Manaus residiam, aproximadamente, 10% de toda a população 
na Região Norte e 50% de toda a população do Estado do Amazonas, em 1996. Apesar 
de seu crescimento demográfico vir apresentando descenso nas últimas décadas (4,3% 
a.a. nos anos 80 e 2,2% nos anos 90), ainda, assim, sua importância é inquestionável em 
relação ao Estado do Amazonas e à própria Região Norte. De forma que, em 1991, sua 
população já superava em termos absolutos a da capital paraense (Belém), que até então 
constituía-se no principal centro urbano da Região Norte (BRASIL, SANTOS, 
MOURA, 2000). 
Estima-se que, neste ano, a cidade de Manaus esteja contando com uma 
população de, aproximadamente, 1,3 milhão de habitantes. A quase totalidade dessa 
população reside na sua área urbana, apresentando, assim, um elevado grau de 
urbanização (99,4%), em 1996. No entanto, parcela significativa de sua população mora 
em condições precárias, como são os casos da população de baixa renda que residem 
nas margens dos igarapés e rios da cidade em “palafitas” ou “flutuantes”, onde o 
saneamento básico é bastante deficiente. A cidade apresenta uma característica peculiar, 
apesar da grande infra-estrutura de esgotamento sanitário instalado durante o ciclo da 
borracha, no “período do fausto”, estes equipamentos não acompanharam a expansão 
urbana e o crescimento da cidade, de forma que, em 1996, apenas 2,0% dos domicílios 
estavam ligados à rede geral. Assim, a grande maioria das residências manauaras ainda 
dispõem de fossa séptica (53,0%). 
Em relação às condições de abastecimento de água e à qualidade do tratamento, 
também a situação não é muito favorável. Em 1991, apesar de grande parte das 
residências possuírem algum tipo de canalização interna, o que se observa é que poucas 
estavam ligadas à rede geral, havendo um percentual significativo que dispunham de 
poços artesianos. Por outro lado, dos que estavam ligados a rede geral de abastecimento 
têm-se que considerar a qualidade do tratamento da água, situação bastante criticada 
pela população, conforme constantes reportagens veiculadas na imprensa local. 
 
4
 Este item baseia-se no artigo dos autores publicado no Caderno Especial do Jornal do Comércio de 15Em relação à distribuição por idade e sexo, em 1996, dois terços da população 
encontrava-se com idades entre 15 e 65 anos, ou seja, nas faixas etárias de maior 
produtividade, a chamada População Economicamente Ativa (PEA). A população 
adolescente representava 22,5% do total. Da mesma forma que na maioria dos grandes 
centros urbanos brasileiros, o número de mulheres residentes é muito superior ao de 
homens, contando, em 1997, com um contingente de 40 mil mulheres a mais no 
conjunto da população (IBGE, 1997). 
Outra questão importante a ser considerada, e que somente agora começa a ser um assunto 
emergente esboçada na população manauense, é o seu processo de envelhecimento. Enquanto, o país 
caminha para um rápido processo de envelhecimento populacional, decorrente da queda da mortalidade, 
que possibilitou um aumento na esperança de vida da população, associada à queda nas taxas de 
fecundidade, faz-se necessário que sejam encontradas soluções para um segmento da população que irá 
requerer e demandar não apenas emprego, mas também tratamento de saúde adequado, lazer, assistência 
previdenciária, dentre outras. Apesar dos manauaras ainda não terem entrado com afinco neste processo, 
também tem que ser começado a pensar nesta parcela da população a fim de evitar-se erros tão freqüentes 
no atendimento da mesma. 
A educação também é um fator importante a ser considerado. Os dados revelam 
situação preocupante, pois a maioria da população residente, em 1996, apresentava uma 
baixa escolaridade, apenas com o nível primário, e um número bastante reduzido com o 
nível superior (2,3%). 
A respeito dos componentes demográficos, o que chama atenção, inicialmente, é a rápida queda 
da fecundidade5, variável que está diretamente relacionada com a questão da gravidez na adolescência, 
cerne deste trabalho. Vale ressaltar, neste momento, que verificou-se forte declínio da taxa de 
fecundidade total do município, no período de 1960 a 1996. Da mesma forma que nas principais cidades 
brasileiras, esta redução da fecundidade manauense deu-se em todos os grupos etários. Este processo, que 
acreditamos ser semelhante aos já observados em outras cidades brasileiras, teria como principais fatores: 
maior participação feminina no mercado de trabalho, maior utilização de métodos contraceptivos 
(inclusive da esterilização feminina), mudanças de comportamentos quanto às questões de sexualidade, 
maior número de mulheres como chefes de domicílios, dentre outros. Esta queda guarda grande 
semelhança com aquela esboçada por Goldani quando da análise do regime demográfico brasileiro na 
década de 90 (GOLDANI, 1998). 
Em relação a mortalidade, as principais características observadas indicavam uma queda da 
mortalidade geral do município, no entanto apontavam ainda para uma elevada taxa de mortalidade 
infantil, altos percentuais de mortalidade decorrente de doenças infecciosas e parasitárias, de doenças 
 
de maio de 2000. 
5
 Poucos são os estudos sobre fecundidade especificamente para a Cidade de Manaus. A preocupação dos 
estudos normalmente recai sobre a Região Norte (NASCIMENTO, WONG, 1996). 
derivadas de problemas do período perinatal e de doenças dos aparelhos respiratório e circulatório. No 
período de 1990 a 1996, chama a atenção o aumento acentuado da mortalidade por causas externas, como 
os decorrentes de acidentes de transito e de homicídios, como vem ocorrendo na maioria dos centros 
urbanos brasileiros. Neste grupo de causas, podemos notar, também, um importante aumento na 
mortalidade de adolescentes. Manaus, como vemos, esta passando por um período de transição 
epidemiológica em relação às causas de mortalidade, situação semelhante a muitas cidades brasileiras. 
No que diz respeito à migração para a cidade de Manaus, verifica-se a manutenção da tendência 
observada na década de 80, constituindo-se numa cidade receptora de significativo contingente de 
migrantes. Em 1996, os principais fluxos migratórios eram de pessoas oriundas, principalmente, dos 
demais estados da Região Norte e da Região Nordeste. Do total dos fluxos imigratórios, observa-se 
também uma mobilidade territorial significativa proveniente do próprio estado, onde, aproximadamente, 
25% dos imigrantes eram de pessoas naturais do Amazonas. Em 1986, a maioria dessa população era 
oriunda dos municípios de Itacoatiara, Coari, Careiro, Parintins e Manacapuru. A motivação básica destes 
emigrantes restringiam-se à busca de empregos, melhores condições de vida e educacional (MELO, 
MOURA, 1990). Infelizmente, os dados referentes à procedência municipal dos migrantes não foram 
coletados na Contagem Populacional de 1996, o que não nos permite confirmar se a tendência se manteve 
ao longo deste período. 
A configuração populacional da cidade de Manaus, aponta para antigas questões e também para 
novos desafios. As antigas questões são aquelas observadas no restante do país, como a capacidade da 
geração de empregos, problemas de saúde, de educação e de habitação, entre outras, que atuam 
fortemente sobre a população. Os novos e urgentes desafios sinalizam para a construção de uma 
sociedade onde exista o respeito aos idosos, a busca de programas que reduzam as taxas de mortalidade e 
a violência, principalmente entre os jovens, possibilitando, deste modo, a melhoria da qualidade de vida 
para os habitantes do município. 
 Este panorama da atual situação demográfica de Manaus dá uma idéia das demandas porque 
passa o município. Com base neste quadro, como se insere a questão da gravidez na adolescência neste 
município? Para iniciarmos esta discussão, começaremos fazendo uma breve apresentação das taxas de 
fecundidade no Estado do Amazonas, seguida de uma análise do problema da gravidez na adolescência 
no município. 
 
 
3. TENDÊNCIAS DA FECUNDIDADE NO ESTADO DO AMAZONAS E NO MUNICÍPIO DE 
MANAUS 
 
 
 A fecundidade do Estado do Amazonas, desde a década de 60, era extremamente elevada em 
comparação com a do Brasil. Neste período, o número médio de filhos tidos nascidos vivos por mulher 
era de 8,5 filhos. Até 1991, reduziu-se pela metade o número de filhos que as mulheres em idade 
reprodutiva tiveram. Comparando-se esses valores entre as zonas urbana e rural, verifica-se que nas áreas 
rurais, apesar do declínio verificado, ainda permanece em nível elevado. Este valor corresponde ao 
observado para a área urbana em 1970, ou seja, apresenta uma defasagem de aproximadamente 20 anos 
em relação à área urbana (Tabela 1). 
 
Tabela 1. Estado do Amazonas - Taxa de fecundidade total da população total, urbana e 
rural e Grau de urbanização – 1970 a 1996. 
 
Período 
População Grau de 
Urbanização 
 Total Urbana Rural 
1970 8,46 6,71 10,14 42,53 
1980 6,76 5,44 9,43 59,91 
1991 4,15 3,52 6,53 71,45 
 1996(*) - 3,01 - 73,92 
Fonte: Censos demográficos de 1970/1991. 
Nota: (*) Os dados de 1996 são retirados da PNAD de 1996. Estes dados somente 
incluem as informações das áreas urbanas dos estados da Região Norte. 
 
 
As taxas específicas de fecundidade estaduais para o período de 1970 a 1991 são mostradas nos 
Gráficos 1 e 2. De acordo com estes dados, observa-se a queda da fecundidade ocorrida neste período. 
Houve uma redução extremamente importante em todos os grupos de idades, sendo que nas idades em 
que as mulheres tinham maior número de filhos, como são os casos dos grupos de 25 a 35 anos, a redução 
ocorreu de forma mais significativa. Isto foi tão relevante que inclusive verificou-se mudança no 
comportamento reprodutivo das amazonenses. Os grupos etários que, em 1970, apresentavam maior 
importância quanto ao número de filhos nascidos vivos (25-29 anos e 30-35 anos), perderam relevânciano cômputo geral, de forma que, em 1991, o grupo etário de 20-24 anos já apresentava-se como o mais 
significativo. Esta mudança observada mostra, claramente, que houve um “rejuvenescimento” na 
estrutura etária da fecundidade amazonense no período considerado. Ou seja, as mulheres com idades 
mais jovens passaram a ter número maior de filhos em comparação com as mulheres de grupos etários em 
que a fecundidade era tradicionalmente mais elevada, como os grupos de 25-29 e 30-34 anos. Situação 
esta condizente com a nova estrutura etária de fecundidade que as mulheres brasileiras nos mais diversos 
recantos do país vêm apresentando nas últimas décadas (SCHOR, 1998). 
À medida que a fecundidade vem declinando no Estado do Amazonas, o padrão reprodutivo vai 
aos poucos se modificando. Os grupos de idades em que as mães apresentavam antes maior número de 
nascidos vivos passam a perder lugar para os mais jovens. No inicio do período, os grupos etários de 
maior expressão eram os de 25 a 39 anos, posteriormente e, paulatinamente, estes grupos vão tendo 
menos importância no cômputo geral e vão surgindo outros que passam a ter relevância, como são os 
casos dos grupos de 15 a 19 e 20 a 24 anos. O aumento dessas faixas etárias no cômputo geral não é 
novidade, por sinal, acompanham a tendência de crescimento verificada para as demais regiões do país 
(SCHOR, 1998). 
No Município de Manaus observa-se também esta tendência de declínio da fecundidade. Entre o 
período de 1960 a 1996, verificou-se uma redução, em média, de 5,0 filhos por mulher. Os períodos de 
maior queda relativa foram as décadas de 60 e 80 e último qüinqüênio , que apresentaram redução 
superior a 20% (Tabela 2). Como a imensa maioria da população do Município de Manaus encontra-se 
na área urbana desde a década de 50, seria de se esperar que sua fecundidade fosse inferior a do estado 
como um todo, como de fato ocorre. 
 
Tabela 2. Município de Manaus - Taxa de fecundidade total da população 
total e Grau de urbanização – 1960/1996. 
 
Período 
População 
Total 
Variação Relativa 
TFT 
Grau de 
Urbanização 
1960 7,2 
- 87,75 
1970 5,7 
-20,83 91,03 
1980 4,7 
-17,54 96,59 
1991 3,1 
-34,04 99,51 
1996 2,2 
-29,03 99,38 
Fonte: MELO, M.L. de, MOURA, A. de. Migrações para Manaus. 
Recife: Editora Massangana, 1990; Censos demográficos de 
1970/1991; e PNAD 1996. 
 
 
O comportamento reprodutivo das mulheres manauaras no período de 1980 a 1996 acompanhou 
o observado no Estado do Amazonas (Gráfico 3). Ou seja, houve um declínio significativo nos níveis de 
fecundidade em todas as faixas etárias, sendo que um dos períodos de maior redução foi a década de 80. 
Por outro lado, da mesma maneira que no Estado, verifica-se uma mudança no comportamento 
reprodutivo das mulheres manauaras, de forma que as idades mais jovens passam a ter maior 
significância. Isto pode ser visto pelo grupo de 20 a 24 anos, que mostram como a fecundidade das 
mulheres manauaras “rejuvenesceu”. 
Isto é melhor verificado pelo Gráfico da fecundidade relativa (Gráfico 4), que mostra a 
proporção da fecundidade distribuída pelos diversos grupos etários. Conforme este gráfico, percebe-se 
que a proporção de filhos nascidos vivos das mulheres manauaras apresentaram decréscimo importante 
nos grupos etários a partir dos 25-29 anos. Por outro lado, verificou-se aumento expressivo dos grupos de 
20 a 24 e 15 a 19 anos. A maior variação observada entre 1980 e 1996 foi do grupo de adolescentes, que 
correspondeu a um aumento de 15%. Este crescimento da fecundidade na adolescência, no entanto, tem 
se verificado em todo o território nacional, porém a Região Norte apresenta uma das maiores incidências 
de gravidezes de menores de 20 anos, quando comparado com as demais regiões brasileiras. E, Manaus 
constitui-se entre as cidades nortistas de maior prevalência. Isto pode ser constatado até mesmo nas ruas 
da cidade, quando, ao se andar por elas, encontra-se com freqüência adolescentes grávidas. 
O aumento da fecundidade das adolescentes também pode ser constatado quando se analisa os 
dados do SINASC/DATASUS para o período de 1994 e 1997, como mostra a Tabela 3. Registrou-se um 
aumento significativo na proporção de nascimentos na população feminina de 10-19 anos, no período em 
questão. 
 
Tabela 3. Município de Manaus – Número de nascidos vivos segundo 
grupos de idades das mães – 1994/1997. 
Grupos de Período 
Idade da Mãe 1994 1995 1996 1997 
10 a 14 anos 1,26 1,46 1,30 1,34 
15 a 19 anos 25,86 28,50 28,01 28,36 
20 a 24 anos 32,90 33,62 33,25 34,10 
25 a 29 anos 20,12 20,21 19,75 20,14 
30 a 34 anos 9,49 9,33 8,98 9,49 
35 a 39 anos 3,77 3,60 3,65 3,48 
40 a 44 anos 0,86 0,88 0,69 0,85 
45 a 49 anos 0,12 0,06 0,05 0,07 
Idade ignorada 5,63 2,35 4,29 2,15 
Total 
 100,00 100,00 100,00 100,00 
Fonte: SINASC/DATASUS.1994/1997. 
Na cidade de Manaus, de todos os nascimentos registrados, em 1997, aproximadamente, trinta 
por cento eram de mães adolescentes. Estes dados, por si, além de serem preocupantes, na medida em que 
se pode vislumbrar as conseqüências de uma gravidez precoce na vida de uma pessoa tão jovem - 
acarretando problemas familiares, psicológicos, abandono dos estudos, dificuldade de conseguir emprego, 
etc., apenas para citarmos alguns aspectos desse tipo de gravidez – ainda nos remete para a ausência, e 
muitas vezes ao fracasso, de ações de políticas públicas voltadas para este segmento populacional. 
 
 
4. PROGRAMAS DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE ATENDIMENTO À ADOLESCENTES 
 
Esta situação apontada acima, nos remete invariavelmente para uma reflexão sobre as causas, 
conseqüências e possíveis soluções para este fenômeno que apresenta uma tendência de crescimento em 
todas as grandes cidades brasileiras. 
Aqui cabem duas ordens de indagação: 1º) O aumento das gravidezes em adolescentes no 
município de Manaus seria apenas um problema de natureza estritamente social? ou 2º) Além de ser um 
problema social, também seria um problema de saúde pública? 
Por problema social consideramos aqui todas as questões que envolvem sexualidade e que 
desembocam, em larga medida, nas causas e nas conseqüências de uma gravidez precoce. Neste caso, 
podemos citar algumas das causas mais freqüentes que estão associadas com as mudanças de 
comportamentos, como a maior liberdade sexual, uma iniciação sexual precoce, maior exposição da 
sexualidade através da mídia, etc., e, no caso do município de Manaus, da própria cultura existente na 
Região Amazônica proveniente da cultura indígena6. Como conseqüência, tem-se aqui também os 
 
6
 Aqui, entende-se por questão cultural uma maior liberdade sexual advinda da relação e do processo de 
miscigenação entre portugueses e povos indígenas (haja visto que a influência do negro na Região foi 
muito pequena), cuja cultura difere em termos de comportamento sexual. Entende-se que este processo, 
em mesclando-se com a cultura dos brancos, produziu uma forma de comportamento sexual muito mais 
liberalizada do que nas demais regiões do país. Neste sentido, a própria cultura dos nordestinos, em seus 
processo migratórios para a região também acabou por influenciando uma maior liberalidade, sobretudo 
problemas já clássicos para este tipo de questão, mencionado anteriormente, como os conflitos familiares, 
problemas psicológicos, abandono dos estudos, dificuldade de conseguir emprego, problemas médicos e 
de responsabilidade frente a este evento.Por problemas de políticas de saúde, estamos considerando todas aquelas ações governamentais, 
tanto de âmbito estadual e municipal, de atendimento a esta população de adolescentes. Como estes 
organismos atendem a este segmento populacional? Qual o seu alcance? Quais os resultados obtidos? 
 No município de Manaus existem dois programas que estão de uma forma ou de outra atuando 
sobre o comportamento reprodutivo do adolescente manauara, são eles: o Programa de Atendimento 
integral à saúde da mulher, da criança e do adolescente (PAISMCA) e o Programa saúde do adolescente 
(PROSAD-AM). 
 
 
4.1 O Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente 
 
A nível municipal não existe um programa específico de atendimento à saúde voltado 
diretamente para as mães adolescentes. Este atendimento é realizado através do Programa de Assistência 
Integral de Saúde da Mulher, da criança e do Adolescente, de âmbito municipal. 
 O PAISMCA7 é um programa da Secretaria Municipal de Saúde que se divide em sub-programas 
para o atendimento tanto de mulheres quanto de crianças e que esta dividido em: assistência à criança 
menores de 5 anos; controle de doenças diarreicas de crianças menores de 5 anos; controle das I.R.A’s de 
crianças menores de 5 anos; aleitamento materno até os seis primeiros meses da criança; controle de 
desnutrição em crianças de 6 a 59 meses; pré-natal; puérperas; assistência clínica ginecológica; e, 
planejamento familiar. Este programa atua tanto na área urbana, quanto na rural, porém sua cobertura 
nesta última é bastante reduzida. 
 Este programa atende mulheres em todas as faixas etárias, principalmente mulheres de baixa 
renda, como são os casos daquelas residentes nas Zonas Leste e Norte da cidade, áreas estas que se 
constituem na sua maioria em áreas de invasão e de ocupação, e que representam mais de 60% das 
mulheres assistidas por todo o programa. 
Entre as ações do PAISMCA, podemos verificar que algumas estão vinculadas mais diretamente 
ao problema da gravidez na adolescência, apesar de não atender especificamente este segmento 
populacional. Dentre eles, podemos citar o planejamento familiar, o pré-natal e o aleitamento materno. 
No entanto, mesmo nesses sub-programas a análise desta problemática é bastante precária haja visto que 
as informações disponíveis, na sua maioria, não contam com distribuições por faixas etárias. Isto ocorre 
porque a forma de tabulação dos dados deste programa não permite que tal seja feito, para isso seria 
 
para as pessoas adolescentes, fruto de uma tradição cultural que advém do processo cultural arraigado 
através dos senhores de engenho no período da escravidão. 
7
 Nunca é demais lembrar que o PAISM já foi alvo de inúmeras críticas pela sua forma de atuação, como 
podemos citar os trabalhos de CORRÊA, 1993; NORTE, BRITO, 1996; TORRES, 1996; CANNON, 
BOTTININ, 1998; FORMIGA FILHO, 1999. 
necessário obter nos postos de atendimento as fichas de inscrição e de avaliação da clientela assistida e 
fazer um novo plano tabular para que essa informações possam ser resgatadas. 
 
4.2 O Programa Saúde do Adolescente (PROSAD-AM) 
 
O Programa Saúde do Adolescente (PROSAD-AM), por sua vez, é um programa do Ministério 
da Saúde executado a nível estadual. Atende adolescentes nas faixas etárias de 13 a 18 anos, e que não 
sejam de grupo de risco. Por este critério, adolescentes de grupo de risco são todos aqueles que já tiveram 
algum problema com a polícia e/ou juizado de menores, drogados, etc. A atuação é feita tendo por base na 
prevenção e na orientação quanto aos problemas referentes à gravidez, ao conhecimento e ao uso de 
métodos contraceptivos, à sexualidade, à contaminação por doenças (como as doenças sexualmente 
transmissíveis, principalmente a AIDS), ao consumo de drogas, dentre outros. 
O programa é o único de órgãos governamentais que foi criado para atuar diretamente com a 
população adolescente no Estado do Amazonas, e, mas precisamente, no Município de Manaus. A 
implantação ocorreu a 6 (seis) anos no Posto de Atendimento Médico (PAM) da Unidade Codajás, 
localizado na área central da cidade é pertence a Secretaria Estadual de Saúde do Amazonas. 
O PROSAD do PAM-Codajás serve de referência no atendimento aos adolescentes de toda a 
cidade de Manaus. Inicialmente, o objetivo era atender apenas a população púbere da região 
administrativa em que está localizado o PAM, no entanto, devido a carência de instituições que atendam 
ao adolescente, passou a atender todo esse conjunto da cidade de Manaus. 
Atinge mensalmente, uma média, de 100 adolescentes que participam de várias atividades 
desenvolvidas no âmbito do programa. Desde que iniciou o atendimento ao público, foram inscritos um 
total de 987 menores, sendo em sua maioria do sexo feminino. Além dos adolescentes inscritos, também, 
foram atendidos, aproximadamente, 1.000 adolescentes, que buscaram o programa pelas mais diferentes 
razões (assistência médica, procura de conhecimentos sobre drogas, métodos contraceptivos, etc.), porém 
não passaram a fazer parte do mesmo. 
O adolescente chega ao PROSAD das mais diversas formas: através de informações fornecidas 
por outros adolescentes que participam ou já participaram do programa, por informações fornecidas no 
PAM-Codajás e pelo Programa Adolescer8. Para que o adolescente seja admitido no programa é realizado 
uma triagem cujo pré-requisito é a freqüência à escola. Posteriormente, é realizada uma entrevista (onde 
obtém-se informações como sexo, idade, relação com a família, condições sócio-econômicas, nível 
educacional e razões que o levaram a procurar o programa) e um exame médico. Após esta etapa, o 
adolescente passa a freqüentar as atividades que o programa oferece, inclusive passa a ter direito a 
acompanhamento médico periódico. São realizadas reuniões semanalmente nas quais são discutidos os 
mais variados assuntos de interesse dos adolescentes, como violência (principalmente o caso das 
 
8
 Projeto Adolescer é um programa financiado pela UNICEF com o intuito de realizar uma série de ações 
sócio-educativas e incrementar as atividades desenvolvidas pelo PROSAD-AM (Jornal do Médico, 1998). 
galeras9), sexualidade, contracepção e métodos contraceptivos, gravidez na adolescência, drogas e álcool, 
doenças sexualmente transmissíveis (especialmente a AIDS), etc. Essas reuniões funcionam pela técnica 
de dinâmica de grupo, em que os participantes podem se manifestar livremente a qualquer momento para 
fazer comentários, tirar dúvidas, etc. Quando o assunto requer informações mais especializadas ou que 
fogem a alçada dos técnicos do programa, são convidados profissionais de outras áreas para abordarem o 
tema proposto. 
Quando um adolescente ingressa no PROSAD, os país também são convidados a participarem, 
de forma que haja uma melhoria na comunicação entre país e filhos. As reuniões com os país ocorrem em 
dias diferentes das dos filhos, no entanto o processo ocorre de tal forma que cada tema abordado com os 
adolescentes também o seja com os seus país. Este procedimento permite que sejam tiradas possíveis 
dúvidas e/ou preconceito sobre o assunto, como são os casos da educação sexual, do uso de drogas, e 
também permitam que os país passem a entender melhor a forma como os adolescentes pensam. 
Atualmente o PROSAD, em parceria com o Projeto Adolescer, vem treinando adolescentes para 
servirem como agentes multiplicadores nas famílias, escolas e nas comunidades a que pertencem. 
Apesar do PROSAD vir apresentando relativo sucesso no atendimento aos adolescentes, ainda 
conta com uma estrutura bastante precária, principalmente devidoàs dificuldades financeiras, à falta de 
espaço físico adequado e à carência de profissionais multidisciplinares (como pedagogos, nutricionistas, 
pediatras, médicos, psicólogos, dentre outros). O programa funciona numa sala no PAM-Codajás cedida 
pela Secretaria Estadual de Saúde. Os principais programas disponíveis de atendimento à população que 
procuram este PAM são planejamento familiar, banco de leite, prevenção do câncer, pediatria e 
PROSAD, porém o que se observa é que não há uma integração efetiva desses sub-programas quando é 
feito o atendimento ao público, desta forma o atendimento passa a ser estanque. 
 
 
4. 3 Uma Breve avaliação do PAISMCA 
 
 
 
 Como não se dispõe de relatório do PROSAD, optou-se por fazer uma breve 
avaliação do PAISMCA. 
A primeira constatação ao se analisar o programa é sua situação extremamente deficitária quanto 
à sua proposta inicial. Isto pode ser verificado através do último relatório elaborado pela equipe de 
profissionais desse programa (SECRETARIA, 1999). Uma questão que tem que ser colocada, desde o 
início, é que ao se procurar analisar o grupo das adolescentes (10-19 anos), esta análise é, em parte, 
prejudicada porque: 1º) são poucos os sub-programas que apresentam informações por idade das 
pacientes; e 2º) o grupo das adolescentes encontra-se disposto nos grupos de <15 anos e 15 a 29 anos. 
Segundo esta classificação, como o grupo de 15-19 anos, geralmente, é o que apresenta, entre as 
 
9
 Galeras são grupos de adolescentes e/ou adultos jovens que se reúnem com o intuito de espancar pessoas 
que vão encontrando pelo caminho, tendo ou não motivo para isso. 
adolescentes, o maior número de filhos nascidos vivos e/ou gravidezes, as estimativas ficam bastante 
prejudicadas, já que não dispomos destas informações de forma desagregada. 
De todas as mulheres que foram atendidas no sub-programa de atendimento de pré-natal, a maior 
parcela, como já era de se esperar, referia-se às mulheres do grupo etário de 15-29 anos (Tabela 4). 
Entretanto, salta aos olhos a proporção de adolescentes abaixo dos quinze anos que procuraram, em 1998, 
este tipo de serviço. Aqui, nunca é demais lembrar, estamos falando de adolescentes que poderiam ser 
consideradas ainda como “meninas”. Infere-se que estes percentuais sejam ainda maiores, uma vez que 
pela centralização do programa, a imensa maioria das adolescentes grávidas acabam não procurando este 
tipo de atendimento. 
 
Tabela 4: Município de Manaus – Atendimento de Pré-natal por faixas de idade – 1998/2000 
Grupos Valores Absolutos Proporção 
de Idade 1998 1999 2000* 1998 1999 2000 
<15 anos 695 1.602 711 8,34 5,98 7,48 
15 a 29 anos 5.710 20.665 7.173 68,48 77,13 75,43 
30 a 49 anos 1.714 3.694 1.461 20,56 13,79 15,36 
>49 anos 219 832 165 2,62 3,10 1,73 
TOTAL 8.338 26.793 9.510 100,00 100,00 100,00 
Fonte: PAISMCA. Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. 1998/2000. 
Nota: Os dados referentes ao ano 2000 correspondem aos quatro primeiros meses do ano. 
 
 
Por outro lado, quando se procurou verificar o número de atendimentos demandados pelas 
adolescentes, os dados apontam para uma baixa procura por este serviço, levando-se em consideração o 
número total da população feminina que buscou todos os tipos de serviços oferecidos pelo programa. 
 Do total de mulheres atendidas no serviço de assistência clínica ginecológica, em 1999, 8,2% 
correspondiam a adolescentes menores de 15 anos. 
Um dado interessante a ser mencionado é o quando se observa que no mesmo período 
mencionado, 4.650 adolescentes menores de 15 anos procuraram o serviço de assistência e 1.602 o 
serviço de pré-natal. Em percentual representariam 36,5% do total daquelas que procuraram o programa. 
Aqui observa-se que o programa ainda não consegue atingir um maior número de adolescentes e que, 
estas, quando o procurar já encontram-se grávidas. Por outro lado, estas adolescentes residem 
principalmente nas áreas mais periféricas da cidade, ou seja, nas Zonas Leste e Oeste da cidade, que são 
as regiões mais populosas e carentes, o que vem corroborar com a idéia de que o número de gravidezes na 
adolescência seja ainda maior (SECRETARIA, 1999). 
Outro ponto que merece ser destacado, embora não se tenha informações por idade e assim 
verificar a influência sobre as adolescentes, é a utilização de métodos contraceptivos pelas mulheres 
atendidas no serviço de planejamento familiar do PAISMCA (Tabela 5). 
 
Tabela 5: Município de Manaus – Métodos contraceptivos usados pelas Mulheres atendidas no 
Planejamento Familiar – 1998/2000 
Métodos Contraceptivos Valores Absolutos Proporção 
Usados 1998 1999 2000* 1998 1999 2000 
Método natural 665 873 281 17,68 14,61 8,81 
Método barreira 1.426 1.416 869 37,92 23,69 27,23 
Método hormonal 1.392 3.222 1.649 37,01 53,91 51,68 
DIU 0 51 1 0,00 0,85 0,03 
Nenhum método 278 415 391 7,39 6,94 12,25 
Fonte: PAISMCA. Secretaria Municipal de Saúde de Manaus. 1998/2000. 
Nota: * Os dados referentes ao ano 2000 correspondem aos quatro primeiros meses do 
ano. 
 
A maioria das mulheres atendidas neste setor, em 1999, afirmaram utilizar-se de métodos de 
barreira ou hormonal (77,6%). Todavia, é interessante notar a existência de uma parcela significativa de 
mulheres que se utilizavam de métodos naturais (14,6%) e de mulheres que alegaram nunca terem 
utilizado qualquer tipo de método (6,9%). A utilização do DIU enquanto método contraceptivo foi 
relatado por menos de 1% das mulheres, isto ocorre por que a aplicação deste método somente é realizado 
por clínicas particulares. Assim, as mulheres que precisam utilizar este tipo de contraceptivo teriam que 
ser encaminhadas às clínicas particulares conveniadas. Este quadro apenas evidencia que 21,6% da 
população manauara ainda não se utiliza de um método seguro ou não faz uso de nenhum método. 
 
 
5. O IMPACTO DOS PROGRAMAS DE ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE NA CIDADE DE 
MANAUS - CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
 A avaliação a ser realizada nesta seção, baseada nas informações disponíveis, consiste em 
relacionar a dinâmica demográfica de Manaus, mas especificamente o componente fecundidade, e a 
atuação dos programas de atendimento aos adolescentes. 
 Se os dados da evolução populacional da cidade de Manaus nos remetem para uma tendência 
contínua da queda da fecundidade entre os mulheres maduras, por outro lado, salta aos olhos o aumento 
da gravidez na adolescência na cidade de Manaus. Cidade esta onde os problemas se avolumam, onde a 
deficiência de infra-estrutura, como saneamento básico e outros equipamentos sociais se expressam na 
carência de oportunidades para os adolescentes que ficam a mercê da incerteza. Falta de emprego, 
abandono escolar, aumento da violência, entre outros problemas, se tornaram freqüentes para esta 
população demonstrando, deste modo, a lentidão na tomada de decisão no desenvolvimento de ações de 
políticas públicas voltadas para este segmento populacional. Neste caso, o próprio número de programas 
destinados a esta população, por si só, já reflete o quanto ainda é precário o atendimento a esse segmento 
populacional. 
 Quando se procura analisar, apesar da deficiência de dados obtidos, o impacto das ações dos 
dois programas observa-se que os mesmos, em que pese a boa vontade dos seus funcionários e 
responsáveis, mostra-se ineficiente por vários motivos. 
 No caso do PAISMCA, as informações mostram que, apesar de sua descentralização, uma vez 
que o programa está implantado em todos os postos e hospitais da rede pública municipal, os adolescentes 
não buscam o programa e os que o fazem, no caso das adolescentes, fazem quanto já estão gravidas e em 
busca de auxilio para o pré-natal. No caso do PROSAD, este é ainda mais problemático na medida em 
que é centralizado na áreacentro-sul da cidade, fazendo com os segmentos populacionais mais carentes 
da cidade de Manaus (Zonas Leste e Oeste) não procurem este programa ou o procurem numa proporção 
bastante reduzida. 
 Outro aspecto que chama a atenção é o não atendimento e a exclusão de adolescentes 
considerados de risco nesses programas. Aqui caberia uma indagação: não seria este segmento 
populacional merecedor, de fato, de uma maior atenção por parte desses programas na medida em que 
são, justamente, os mais carentes e necessitados de informações e orientação, sobretudo no que se refere à 
sua sexualidade? 
É bem provável que, mesmo diante da experiência dos profissionais do setor, estes ainda não 
tenham atentado para o fato de que, para inúmeros jovem existe uma associação direta entre “doença” e 
“saúde”, sendo que, para muitos o fato de não estar doente faz com que não procurem este tipo de 
atendimento. 
 Por outro lado, os números de atendimentos indicam que o problema é muito mais grave do que 
aparenta, principalmente quando se constata que algo em torno de quase 9,0% das adolescentes que 
procuraram o programa de pré-natal, encontravam-se abaixo dos 15 anos. Infelizmente, não foi possível 
dispor de informações desagregadas para o grupo etário de 15 a 19 anos, que segundo vários estudos, são 
justamente o grupo de adolescentes que apresenta o maior número de nascidos vivos e/ou gravidezes 
(SCHOR, 1998; MELO, 1996, SILVA, 1996). 
Mas também encontram-se pontos positivos nas ações destes programas. Um deles, no caso do 
PROSAD, mostra que a participação dos pais destes adolescentes tem, por relatos dos mesmos, feito com 
que passasse a existir um maior diálogo entre pais e filhos tornando temas até então ásperos mais suaves. 
Por outro lado, o esforço em atrair esta população vai, aos poucos, mostrando que existe o interesse e a 
busca dos adolescentes por este tipo de programa. Assim, a análise que temos diante desta problemática e 
dos dados coletados é que a gravidez na adolescência na cidade de Manaus consiste em: 
1) um problema social na medida em que se verifica tanto o aumento no número destas gravidezes 
como na precocidade destas adolescentes, sobretudo para aquelas mais carentes e residentes nas áreas 
periféricas da cidade de Manaus cujas implicações já foram mencionadas preteritamente; 
2) Por outro lado, constitui-se também num problema de política pública de saúde diante da 
ausência, ou mesmo da ineficiência de ações mais agressivas de políticas públicas desenvolvidas 
tanto pelo Governo Estadual quanto pelo Municipal no atendimento deste segmento populacional. 
 
Diante deste quadro, poderíamos estar sinalizando com algumas medidas que, em nosso entendimento, 
poderiam ser realizadas na tentativa de reduzir dados tão alarmantes. 
1) Descentralização do PROSAD visando ampliar o número de adolescentes 
participantes do programa a serem atendidos em todas as regiões da cidade, uma vez 
que o número de adolescentes atendidos é reduzido diante da demanda real do 
conjunto desta população; 
2) Ampliação do quadro de profissionais destinados ao atendimento desta 
população. Neste ponto, uma das deficiências dos programas atuais consiste na falta 
de profissionais que possibilitem uma visão multidisciplinar da questão do 
adolescente em toda esta fase da vida; 
3) Campanha permanente de educação e orientação sexual nas escolas e locais 
públicos sobre o tema, uma vez que é grande o número de adolescentes em idade 
escolar que estão ausentes e não são atingidos pelos programas; 
4) Desenvolvimento de Programas de Educação Sexual e Orientação Sexual em 
todas as escolas públicas, e mesmo particulares, que abordem a questão de modo 
claro e objetivo. Esta é uma reclamação freqüente tanto dos adolescentes quanto de 
seus pais nas reuniões do PROSAD; 
5) Programa de Bolsa-Escola voltados para os adolescentes mais carentes da 
cidade; 
6) Programas efetivos de ações de políticas públicas que visem atender a demanda 
destes adolescentes com equipamentos sociais voltados não apenas para as questões 
de saúde, mas, também, de orientação para o mercado de trabalho, esportes, cultura 
e lazer. Estas políticas devem ser de caráter urgente uma vez que se trata de uma 
população com amplas carências. 
 
 Dentro destas políticas, não se pode deixar de levar em consideração um outro fenômeno que 
vem acometendo a cidade de Manaus que é o aumento da violência entre e contra os adolescentes. Outro 
dado importante de ser mencionado é o fato de haver um aumento significativo nos casos de violência 
sexual e da prostituição infantil na cidade. 
 Finalmente, esperamos que este trabalho venha a contribuir para os estudos 
sobre gravidez na adolescência na Região Norte e mas especificamente na cidade de 
Manaus. Terminamos pensando que a formulação da pergunta inicial poderia ser 
outra: “Ficaram, o que faremos agora?” Responder a esta pergunta, se por um lado 
implica em multiplicarmos nossas dores, por outro, como escreveu Hélio Pellegrino, 
significa multiplicarmos nossas esperanças. Acreditamos que as possíveis soluções para 
este problema não cabe apenas aos próprios adolescentes (através de atitudes 
responsáveis e respaldadas em conhecimentos e informações sobre sexualidade) e aos 
programas destinamos ao atendimento desta população (buscando uma maior 
eficiência), mas a sociedade em conjunto, uma vez que acreditamos que não existe uma 
saída para este problema que não seja coletiva. 
 
 
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Caxambu, Anais... São Paulo: ABEP, 1996. 
 
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Gráfico 1: Estado do Amazonas - Taxas Específicas de Fecundidade 
da População Total - 1970 a 1991
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
TEF
1970 1980 1991 Fonte: Censos Demográficos de 1970 a 1991. IBGE.
 
 
Gráfico 2: Estado do Amazonas - Taxas Específicas de Fecundidade 
da População Urbana - 1970 a 1996
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
Idades Médias 1970 1980 1991 1996 
Fonte: Dados dos Censos Demográficos de 1970 a 1991 e da PNAD. IBGE
 
Gráfico 3: Município de Manaus - Taxas Específicas de Fecundidade - 
1980 a 1996
0,00
0,05
0,10
0,15
0,20
0,25
0,30
0,35
0,40
0,45
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
Idades Médias
Taxas Específicas
1980 1991 1996 Fonte: Dados dos Censos Dem ográficos de 1980 e 1991 e do SINASC/DATASUS. 
 
 
 
Gráfico 4: Município de Manaus - Fecundidade Relativa
1980 a 1996
0
5
10
15
20
25
30
35
15-19 20-24 25-29 30-34 35-39 40-44 45-49
Grupos de Idades
1980 1991 1996 
Fontes: Dados dos Censos Demográficos de 1980 e 1991 e do SINASC/DATASUS.
Percentual

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