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Caso do Anão

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Caso do Anão
“Em 1991, uma conhecida empresa do ramo de entretenimento para jovens decidiu lançar em algumas discotecas de cidades da região metropolitana de e do interior, um inusitado certame conhecido como ‘arremesso de anão’ (lancer de nain), consistente em transformar um indivíduo de pequena estatura (um anão) em projétil a ser arremessado pela platéia de um ponto a outro da casa de diversão. Movido pela natural repugnância que uma iniciativa tão repulsiva provoca, o prefeito de uma das cidades (Monsang-sur-Orge) interditou o espetáculo, fazendo valer sua condição de guardião da ordem pública na órbita municipal. (...) A decisão administrativa do Prefeito se inspirou em uma norma de cunho supranacional, o art. 3º da Convenção Européia de Salvaguarda dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais. Insatisfeita, a empresa interessada, em litisconsórcio ativo com o deficiente físico em causa, o sr. Wackenheim, ajuizou ação perante o Tribunal Administrativo de Versailles, visando anular o ato do Prefeito. Alegou o deficiente, em seu arrazoado, que aderira voluntariamente ao programa, mediante remuneração. Logo, não havia por que se dizer que aquela era uma atividade aviltante, pelo menos sob o ângulo da dignidade pessoal. Por outro lado, na condição de desempregado, e inferiorizado no mercado de trabalho em razão da própria deficiência física, aquela atividade era para ele nada mais do que um meio de sobrevivência como outro qualquer. Proibi-lo de exercê-la significava, portanto, de seu ponto de vista pessoal, a privação do gozo de um direito inalienável: o direito ao trabalho. Razão pela qual ele argumentou que não há dignidade quando não se dispõe dos meios elementares de subsistência. Da parte da empresa, argumentou-se que a atividade pro ela patrocinada era lícita e conforme as normas de preservação da ordem pública, isto é, dela não resultava risco de ocorrência de distúrbios porque realizada em recinto fechado. Ademais, tratava-se de atividade semelhante a outras legalmente admitidas, como por exemplo, a exploração de anões em atividades circenses, na televisão, etc. O Conselho de Estado, porém, em última instância, entendeu que, em si mesma, a atividade era atentatória à dignidade da pessoa humana, podendo a administração proibi-la, pouco importando o fato de que o anão em causa aderira voluntariamente ao programa, frequentara cursos de treinamento para o espetáculo e tinha naquilo sua única fonte de sustento”. (Fonte: Joaquim Benedito Barbosa Gomes, “O poder de polícia e o princípio da dignidade da pessoa humana”, ADV-COAD: Seleções, n. 12, 1996, p. 17 e ss.).

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