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AN02FREV001/REV 4.0 1 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE FARMACOTERAPÊUTICA NA DOR E INFLAMAÇÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 2 CURSO DE FARMACOTERAPÊUTICA NA DOR, E INFLAMAÇÃO Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 3 SUMÁRIO 1 FARMACOTERAPÊUTICA DO PROCESSO INFLAMATÓRIO E DA DOR 1.1 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS 1.2 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS 1.3 FÁRMACOS ANALGÉSICOS OPIOIDES REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AN02FREV001/REV 4.0 4 1 FARMACOTERAPÊUTICA DO PROCESSO INFLAMATÓRIO E DA DOR A inflamação consiste em uma resposta dos organismos vivos a estímulos lesivos, desencadeando uma série de alterações funcionais e morfológicas nos tecidos. As causas da inflamação podem ser os agentes químicos (ácidos/bases, acetilcolina), agentes biológicos (reações imunológicas e patógenos) e agentes físicos (raios, queimadura solar e traumatismos). Os sinais clássicos da inflamação são calor, edema, rubor e dor, caso esses sinais venham a persistir podem ocasionar perda da função daquele tecido. A inflamação aguda é uma resposta inicial e imediata a um agente agressor. É caracterizada pela curta duração, pela exsudação e migração leucocitária. A inflamação crônica segue à inflamação aguda e caracteriza-se pela duração prolongada, semanas ou meses, o local inflamado apresenta linfócitos, macrófagos e ocorre intensa proliferação celular. As células envolvidas no processo inflamatório são: Mastócitos (receptores para IgE, C3a e C5a) que liberam a histamina; Leucócitos polimorfonucleares que secretam enzimas lisossomais; Monócitos e macrófagos que liberam enzimas, componentes do sistema complemento, eicosanoides, fator tecidual, interferon, interleucina- 1 e lipocortina; Plaquetas que liberam tromboxano A2, fator de ativação plaquetária, radicais livres e proteínas catiônicas pró-inflamatórias; Endotélio vascular libera óxido nítrico, prostaglandinas e endotelina. Os processos vasculares, aumento da permeabilidade, migração leucocitária, quimiotaxia e fagocitose se fazem por ação de substâncias químicas produzidas pelo organismo localmente ou provenientes da circulação que são chamadas de mediadores químicos ou mediadores inflamatórios (Figura 1). AN02FREV001/REV 4.0 5 FIGURA 1 – MEDIADORES INFLAMATÓRIOS E SEU PAPEL NO PROCESSO INFLAMATÓRIO FONTE: O autor. A principal alteração vascular que ocorre durante o processo inflamatório por meio da ação de mediadores inflamatórios e a vasodilatação levando ao aumento de fluxo sanguíneo proporcionando o rubor e calor, percebidos no local da injúria. A alteração da permeabilidade celular resulta na formação de lacunas endoteliais, reorganização do citoesqueleto por meio de retração endotelial, extravasamento de água, eletrólitos, proteínas, fibrina, fibrinogênio para o interstício, formando um fluido inflamatório extravascular com alta concentração de proteínas, de detritos celulares e de alta densidade, denominado exsudato. A migração leucocitária leva a chegada de leucócitos ao local da inflamação onde desempenham as seguintes funções: ingerir agentes ofensivos, destruição de patógenos, degradação do tecido necrótico e de corpos estranhos e indução da lesão tecidual por liberação de enzimas, AN02FREV001/REV 4.0 6 mediadores químicos e radicais tóxicos de oxigênio. Para exercer essas funções os leucócitos necessitam passar pelas etapas de: Rolagem, papel importante das selectinas L, E, P e integrinas VCAM-1 e ICAM-1; Ativação, papel das selectinas L, E, P e integrinas VCAM-1 e ICAM-1; Aderência; Transmigração, fenômeno de diapedese e quimiotaxia. No local da injúria, a membrana fosfolipídica é alvo de um processo de clivagem mediado pela enzima fosfolipase A2 e fosfolipase C. Essas fosfolipases são ativadas por uma variedade de mediadores intracelulares e extracelulares. A oxigenação de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa leva a formação de eicosanoides, compostos de vinte átomos de carbono com ligações insaturadas. O ácido araquidônico (AA) é o principal precursor de prostaglandinas em mamíferos formado a partir da clivagem da membrana. Esse precursor após estímulos mecânicos, físicos ou químicos, é oxidado por duas vias de reação catalisadas pelas enzimas ciclo-oxigenases (COX) e lipo-oxigenases (LOX). AN02FREV001/REV 4.0 7 FIGURA 2 - VIAS DE LIBERAÇÃO E METABOLISMO DO ÁCIDO ARAQUIDÔNICO. AA (ÁCIDO ARAQUIDÔNICO), EET (ÁCIDO EPOXIEICOSATRIENOICO), HETE (ÁCIDO HIDROXIEICOSATRETRAENOICO) FONTE: Katzung, 2003. As ciclo-oxigenases ou prostaglandina endoperóxido sintetases estão associadas à membrana fosfolipídica e transformam o ácido araquidônico em PGG2 e PGH2. Três isoformas foram identificadas, a COX-1 - enzima constitutiva, presente nas células em condições fisiológicas, principalmente nas células endoteliais, mucosa de estômago e rins; COX-2 - enzima induzida pela presença de citocinas, AN02FREV001/REV 4.0 8 fatores de crescimento ou LPS, expressa por diversos tipos celulares, como macrófagos, neutrófilos e eosinófilos e a COX-3 - variante catalítica da ciclo- oxigenase que se encontra distribuída principalmente no córtex cerebral, medula espinhal e coração e é a mais sensível a ação do acetoaminofeno (paracetamol) do que a COX-1 e COX-2. A lipo-oxigenase (5-LOX, 12-LOX e 15-LOX) atua no metabolismo do ácido araquidônico levando à formação de leucotrienos (LT), mediadores envolvidos na inflamação e na hipersensibilidade dolorosa, por aumentar a permeabilidade vascular e atrair leucócitos. Os leucotrienos LTC4, LTD4 e LTE4 causam vasoconstrição, broncoespasmo e aumento da permeabilidade vascular; o LTB4 é um potente agente quimiotático para neutrófilos, eosinófilos e monócitos, que atua como estimulante da produção de superóxidos pelos neutrófilos. Os fármacos utilizados para controle do processo inflamatório e dos sinais decorrente do mesmo são os anti-inflamatórios, que compreende os anti- inflamatórios não esteroidais e os esteroidais, como descritos a seguir. Esses fármacos diferem quanto à estrutura química, grau de ação analgésica e anti- inflamatória. 1.1 ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS Fármacos que apresentam propriedades analgésicas, antipiréticas e anti- inflamatórias tendo como indicação terapêutica, o alívio da dor e da interrupção do processo responsável pela lesão tecidual. São classificados segundo a ação sobre a enzima ciclo-oxigenase em: Inibidores Não Seletivos da COX: Salicilatos (Aspirina, Diflunisal); Derivados da pirazolona (Fenilbutazona, Oxifenilbutazona); Derivados indólicos (Indometacina, Sulindaco); Derivados do ácido arilacético (Diclofenaco); AN02FREV001/REV 4.0 9 Derivados do ácido propiônico (Ibuprofeno, Naproxeno, Cetoprofeno, Flurbiprofeno); Derivados do oxicam (Piroxicam, Tenoxicam); Derivados pirrolopirrol (Cetorolaco). Inibidores Preferenciais da COX-2: Nimesulida; Meloxicam; Nabumetona. Inibidores Seletivos da COX-2: Celecoxib, Rofecoxib, Valdecoxib, Lumiracoxib, Parecoxib. Analgésicos e Antipiréticos de Baixa Ação Anti-inflamatória: Dipirona (Metamizol); Paracetamol. O mecanismo de ação anti-inflamatório destes fármacos resulta na inibição irreversível da enzima COX através de uma reação de acetilação de um dos resíduos de serina da enzima, o que ocasiona na inibição da formação de mediadores prostaglandinas e tromboxano A2. O retorno da atividade enzimática depende de uma nova síntese. A ação analgésica se dá pela inibição da formação de prostaglandinas, que induzem à hiperalgesia ao afetar a propriedade de transdução das terminações nervosas livres através da redução do limiar da dor. Os anti-inflamatórios não esteroidais bloqueiam o mecanismo de sensibilização à dor induzido pela bradicinina, TNF-alfa, interleucinas e outras substâncias algésicas. AN02FREV001/REV 4.0 10 FIGURA 3 – MECANISMO DE AÇÃO DOS ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS (AINE) FONTE: Informativo Arcoxia®. Durante o estado febril, a infecção através da geração de pirógeno IL, TNF- alfa, interferons induzem à produção de prostaglandinas no hipotálamo, elevando assim, o seu ponto de termorregulação. Dessa forma, o anti-inflamatório não esteroidal ao inibir a formação de prostaglandinas atua reduzindo a temperatura corporal. Além do efeito anti-inflamatório, analgésico e antipiréticos, tais fármacos impedem a atividade plaquetária, ao inibir a síntese de prostanoides como o tromboxano A2, que estimula a agregação plaquetária e a prostaglandina PGI2, que inibe a agregação. As doses necessárias para o efeito antiplaquetário é menor que a dose requerida para o efeito anti-inflamatório. Dessa forma, o tratamento com anti- inflamatórios propicia um prolongamento do tempo de sangramento. AN02FREV001/REV 4.0 11 FIGURA 4 – CARACTERÍSTICAS DOS INIBIDORES NÃO SELETIVOS DA COX E INIBIDORES SELETIVOS DA COX-2 FONTE: KD Tripathi, 2006. SALICILATOS - ação anti-inflamatória (inibição irreversível da COX pela reação de acetilação COX), ação analgésica (dor de baixa intensidade, reduz sensibilização das terminações nervosas mediada por prostaglandinas), ação antipirética (promove sudorese por reajustar o termostato hipotalâmico), efeitos metabólitos (produção de calor decorrente do aumento do metabolismo celular; redução da glicemia (maior utilização de glicose); efeito uricosúrico (doses acima de 5g/dia) e afeta a homeostasia ao inibir a agregação plaquetária aumentando o tempo de sangramento. Os salicilatos são metabolizados formando o ácido salicílico que mantém as propriedades farmacodinâmicas, se liga extensivamente às proteínas plasmáticas (80%), sua excreção se dá por filtração glomerular e secreção tubular, seu tempo de meia-vida é de 15-20 minutos. De acordo com sua cinética de eliminação, os salicilatos ser utilizados com cautela em pacientes com comprometimento renal. Sua AN02FREV001/REV 4.0 12 excreção é facilitada pela alcalinização da urina. Dentre os efeitos adversos, são relatados principalmente, lesão da mucosa gástrica e ulceração péptica e reações de hipersensibilidade. Em casos de intoxicação, dose acima de 15-30 g, instala-se um quadro de síndrome do salicismo caracterizado por tontura, zumbido, vertigem, comprometimento audição e visão, excitação e confusão mental, hiperventilação e desequilíbrio eletrolítico. O tratamento do envenenamento por salicilato consiste na administração de líquidos, eletrólitos e glicose, lavagem gástrica, hemodiálise e vitamina K. DERIVADOS DA PIRAZOLONA – compreende a fenilbutazona, oxifembutazona e dipirona. A fenilbutazona e o metabólito oxifembutazona são potentes agentes anti-inflamatórios, mas possuem baixo efeito antipirético e analgésico. O uso prolongado destes fármacos leva a alta toxicidade (agranulocitose), maior do que observado com os salicilatos. O efeito uricosúrico também é maior que o dos salicilatos. As principais indicações terapêuticas incluem a artrite reumatoide, gota e febre reumática. A dipirona é um potente analgésico e antipirético de ação imediata. Pode ser administrado por via oral, intramuscular (provoca dor local) e intravenosa (queda de pressão arterial profunda). Os efeitos colaterais relatados com a dipirona são reações de hipersensibilidade, choque, agranulocitose e leucopenia; INDOMETACINA - derivado indeno-acético inibidor competitivo da COX, relativamente seletivo para COX-1. Exerce efeito anti-inflamatório e antipirético. Como analgésico não é indicado, os efeitos tóxicos são dependentes da dose. É indicado no tratamento da osteoartrite (50 a 70 mg, 3 vezes ao dia). Os efeitos adversos relatados incluem distúrbios do trato gastrintestinal (náusea, diarreia e sangramento gástrico), distúrbios centrais (cefaleia, depressão, anorexia) e anemia aplástica. São contraindicação para o tratamento com indometacina pessoas operam máquinas e dirigem veículos, pacientes psiquiátricos, epilépticos, paciente renal, gestantes e crianças; DICLOFENACO - derivado heteroarilacético de efeito anti-inflamatório, analgésico e antipirético. Exerce pouca ação antiplaquetária. É capaz de reduzir a AN02FREV001/REV 4.0 13 quimiotaxia de neutrófilos e a produção de superóxidos no local inflamado. Indicado terapeuticamente na artrite reumatoide, osteoartrite, bursite, condições inflamatórias pós-traumáticas e pós-operatórias. O sangramento gástrico e a ulceração são efeitos adversos menos comuns. Pode ocorrer leve dor epigástrica, cefaleia, tontura e erupção cutânea com o tratamento; PARACETAMOL (ACETOAMINOFENO) - derivado do para-aminofenol de efeito antipirético satisfatório e efeito analgésico de ação central (eleva o limiar da dor). Apresenta fraco efeito anti-inflamatório, e se mostra mais ativo sobre a COX do cérebro (COX-3). É bem tolerado nas doses terapêuticas, mas pode ocasionar como efeito adverso náusea e raramente leucopenia. Não é pouco comum a intoxicação por paracetamol, tendo em vista que é um fármaco bastante conhecido e de venda livre. O quadro de intoxicação por paracetamol ocorre quando utilizado em dose igual ou superior a 3 g/dia levando ao acúmulo de um metabólito altamente reativo – o N-acetil-p-benzoquinona. Esse metabólito acumulado tem sua reação de glicuronidação hepática saturada, passando a se ligar covalentemente às proteínas nos hepatócitos e nos túbulos renais ocasionando necrose. Os sintomas iniciais da intoxicação são náusea, vômito, dor abdominal e hipersensibilidade hepática. Após 12-18 horas ocorre necrose hepática, necrose tubular renal, quadro de hipoglicemia e coma. Em 48 horas, o paciente apresenta icterícia, insuficiência hepática e pode ir a óbito. O tratamento da intoxicação por paracetamol se dá por lavagem gástrica, indução vômito e carvão ativo. A administração de N- acetilcisteína ou metionina por via intravenosa ou oral se faz necessário, já que esses agentes repõem as reservas hepáticas de glutation e impede a ligação do metabólito tóxico a outros constituintes celulares. A intoxicação por paracetamol é mais comum em crianças, na forma de ingestão acidental ou doses inadequadas. As crianças apresentam uma capacidade menor de metabolização e, dessa forma, há maior tendência de acúmulo do metabólito reativo; INIBIDORES SELETIVOS DE COX-2 – os agentes anti-inflamatórios que possuem em sua estrutura química o grupamento sulfona e sulfonamida são mais seletivos e interagem mais com a isoforma COX-2. Os coxibes como são representados pelos fármacos celecoxibe, rofecoxibe, valdecoxibe, parecoxibe (pró- AN02FREV001/REV 4.0 14 fármaco do valdecoxibe), etoricoxibe e lumiracoxibe. São fármacos indicados para distúrbios inflamatórios severos, como osteoartrite e na dor do pós-operatório. Exerce efeitos adversos mais suaves que os anti-inflamatórios não seletivos. Entretanto, podem ocasionar com os tratamentos em longo prazo efeitos adversosmais graves relacionados ao sistema cardiovascular e renal. Nesses sistemas, a COX-2 exibe papel de enzima constitutiva, propiciando a formação de prostaglandinas no aparelho justaglomerular. Essas prostaglandinas promovem vasodilatação e aumento do fluxo sanguíneo renal. Quando a atividade da COX-2 é inibida, o paciente passa a apresentar edema, gerado pela retenção de líquido e sal, precipitação de insuficiência cardíaca e elevação da pressão arterial. Além disso, os coxibes não afetam a síntese de tromboxano A2, o que pode ocasionar em efeitos pró- trombóticos e aumento do risco de acidente cardiovascular. Atualmente, a venda de coxibes só é realizada por meio de retenção de receita, a fim de evitar casos graves e óbitos de pacientes comprometidos com a utilização destes fármacos. AN02FREV001/REV 4.0 15 FIGURA 5 – AGENTES ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS MAIS PRESCRITOS NA CLÍNICA FONTE: Katzung, 2003. AN02FREV001/REV 4.0 16 QUADRO REPRESENTATIVO DAS VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS DIVERSOS AINES FONTE: Moreno, 2009. 1.2 ANTI-INFLAMATÓRIOS ESTEROIDAIS Os anti-inflamatórios esteroidais ou chamados corticosteroide são análogos sintéticos dos glicocorticoides e mineralocorticoides naturais. Esses são produzidos e secretados pelo córtex da suprarrenal a partir do colesterol e constituem compostos de 21 átomos de carbono com um núcleo pentano peridrofenantreno (esteroide). A síntese de corticosteroides ocorre sob influência do ACTH (hormônio adrenocorticotrópico) produzido pela adeno-hipófise, que aumenta a disponibilidade de colesterol para a conversão em pregenolona e que induz às enzimas AN02FREV001/REV 4.0 17 esteroidogênicas. A taxa normal de secreção dos dois principais corticoides nos seres humanos compreende: Hidrocortisona – 10 mg/dia (principalmente secretada pela manhã); Aldosterona – 0,125 mg/ dia. Os corticosteroides sintetizados são transportados no sangue pela globulina ligadora de corticosteroides (70%), albumina plasmática (22%) e o restante encontram-se livre na corrente sanguínea. Diversas ações fisiológicas são mediadas pelos corticosteroides e como os fármacos são análogos pode-se observar influência em diversos processos fisiológicos durante a terapia com os corticosteroides sintéticos, como ação sobre: Metabolismo de carboidratos e proteínas - os corticosteroides promovem menor utilização de glicose na periferia, maior degradação de proteínas, estimula a lipólise e a gliconeogênese (aumentando a transcrição de enzimas como a fosfoenolpiruvato carboxicinase (PEPCK), a glicose 6-fosfatase e frutose-2,6- bifosfatase, resultando no aumento do nível glicêmico. No músculo, há uma menor captação de aminoácidos e proteínas, favorecendo a proteólise e redução da síntese de proteínas; Metabolismo de lipídios – estimula a lipólise que leva a um aumento de ácidos graxos livres, facilitação da ação de outros agentes sobre os adipócitos, redistribuição da gordura corporal observando-se acúmulo de tecido adiposo no dorso do pescoço, na face e na área clavicular; Equilíbrio hídrico-eletrolítico – aumenta a reabsorção de sódio e excreção de potássio e de H+ favorecendo a formação de edema; Metabolismo do cálcio – reduz a absorção intestinal do cálcio e aumenta sua excreção renal, estimula a atividade dos osteoclastos e inibe a dos osteoblastos enfraquecendo a matriz óssea; AN02FREV001/REV 4.0 18 Sistema cardiovascular – efeito mineralocorticoide que intensifica a reatividade vascular a substâncias vasoativas e aumenta a expressão de receptores adrenérgicos na parede dos vasos; Sistema nervoso – excitação cerebral, alteração do comportamento e do humor e quadro psicótico. Os corticosteroides exercem seu efeito anti-inflamatório e imunossupressor através da indução da expressão gênica de lipocortina nos macrófagos, endotélio e fibroblastos, essa proteína inibe a fosfolipase A2 resultando na redução da expressão de prostaglandinas, leucotrienos e fator de ativação plaquetária; da regulação negativa dos genes das citocinas nos macrófagos, células endoteliais e linfócitos que leva a menor produção de interleucinas (IL-1, -2, -3, -6), TNF- GM- CSF e interferon- promovendo assim a supressão da proliferação dos fibroblastos, da função dos linfócitos T e interfere na quimiotaxia, da redução na produção de mediadores de fase aguda por macrófagos e células endoteliais, da redução da produção da ELAM-1 e ICAM-1 nas células endotelias envolvidas na adesão dos leucócitos, da inibição da liberação de LT-C4 e histamina mediada pela IgE dos basófilos e da redução na produção de colagenase e estromolisina, prevenindo a destruição tecidual. AN02FREV001/REV 4.0 19 FIGURA 6 – MECANISMO DE AÇÃO DOS CORTICOSTEROIDES FONTE: Lougui, 2007. Os corticosteroides são utilizados principalmente na terapia da inflamação e como imunossupressor na asma, conjuntivite alérgica e rinite, podem ainda ser indicados nos estados de hipersensibilidade, nas doenças neoplásicas (leucemia), na redução do edema cerebral em pacientes com tumores, reposição para insuficiência da suprarrenal e na síndrome da angústia respiratória do recém- nascido. As preparações farmacêuticas disponíveis de corticosteroides incluem os cremes, pomadas, loções, soluções oftálmicas e aerossol. Podem ser administrados por via oral e parenteral (intravenosa, intramuscular e intrassinovial). Os fármacos corticosteroides apresentam boa penetração nas células através de difusão passiva. Ligam-se extensivamente as proteínas plasmáticas e seu metabolismo envolve AN02FREV001/REV 4.0 20 reações de oxidação e redução, seguido de conjugação para formar compostos hidrossolúveis. Os principais corticosteroides estão representados na figura a seguir: FIGURA 7 - POTÊNCIAS RELATIVAS E DOSES EQUIVALENTES DE CORTICOSTEROIDES. FONTE: O autor. Os corticosteroides são bastante utilizados na terapia da asma e outros distúrbios do trato respiratório envolvidos com processo inflamatório, como a sinusite, na forma de aerossóis, como a beclometasona (50-250 mcg/jato), budesonida (solução nebulização 0,25 mcg/ml e inalador em pó 200 mcg/dose), flunisolida (250 mcg/jato), fluticasona (50-250 mcg/jato) e triancinolona (100 mcg/jato). Os efeitos adversos dos corticosteroides estão relacionados com sua ação sobre diversos processos fisiológicos. Os efeitos indesejáveis relacionados à interrupção abrupta da terapia com glicocorticoides são insuficiência da suprarrenal decorrente da supressão do eixo hipotálamo-hipófise-suprarrenal. Dessa forma, AN02FREV001/REV 4.0 21 recomenda-se a interrupção do corticosteroide de forma gradual da dose até sua total retirada. O uso contínuo de altas doses de corticosteroides resulta em complicações sistêmicas, insuficiência da glândula suprarrenal e síndrome iatrogênica de Cushing, que decorre da exposição de corticosteroide na circulação sanguínea por excesso do fármaco. Essa síndrome também resulta por aumento na secreção de ACTH ou elevação na produção adrenal. A síndrome de Cushing caracteriza-se por inúmeros sinais como aumento da pressão arterial, dificuldade de cicatrização, elevação da glicemia, aumento da pressão arterial, catarata, face em forma arredondada e bochechas vermelhas, obesidade, aumento do apetite, aumento da gordura abdominal, acúmulo de gordura no dorso (corcova de búfalo), risco de osteoporose, necrose avascular do fêmur, equimoses e estrias, adelgamento da pele, braços e pernas finas (atrofia muscular), aumento de suscetibilidade a infecções e quadro de euforia alternado com depressão e psicoses. 1.3 FÁRMACOS ANALGÉSICOS OPIOIDES Osfármacos analgésicos opioides, chamados também de analgésicos narcóticos ou de hipoanalgésicos, atuam no controle da dor. A dor é uma consequência percentual final do processamento neuronal de determinada informação sensorial. O estímulo inicial surge na periferia e é transferido, sob múltiplos controles, através de transmissores sensoriais no sistema nervoso central até o córtex. A tradução de estímulos nocivos externos e intensos despolariza as terminações nervosas periféricas de neurônios sensoriais primários de “alto limiar”. Os neurônios sensoriais primários são denominados nociceptores pelo fato de responderem a estímulos nocivos, e necessitam de um forte estímulo capaz de lesar potencialmente o tecido para a despolarização de suas terminações nervosas. Os potenciais de ação resultantes são conduzidos até o sistema nervoso central pelos axônios dos neurônios sensoriais aferentes primários, seguindo o seu trajeto inicialmente nos nervos periféricos e, a seguir nas raízes dorsais que, em seguida, fazem sinapse em neurônios no corno dorsal da medula espinhal. Esses neurônios AN02FREV001/REV 4.0 22 secundários transmitem a informação ao tronco encefálico e ao tálamo que, transmitem sinais ao córtex, hipotálamo e sistema límbico. A transmissão é modulada em todos os níveis do sistema nervoso por interneurônios inibitórios e excitatórios. As terminações periféricas dos neurônios nociceptores respondem ao estímulo térmico, estímulos mecânicos, como também a múltiplos mediadores químicos, como o ATP, aminas, prótons, potássio, bradicinina, citocinas e substância P. Os axônios dos neurônios aferentes primários que conduzem a informação das terminações periféricas para o sistema nervoso central podem ser agrupados em: fibras A de condução rápida, que respondem com baixo limiar de estímulos mecânicos e que são ativadas por toque leve, vibração ou movimento de pelos; fibras A que conduzem com velocidade intermediária e respondem a estímulos de frio, calor e mecânicos de alta intensidade; e as fibras C que conduzem lentamente e fazem sinapse na medula espinhal e respondem, tipicamente de modo polimodal, são fibras capazes de produzir potenciais de ação em resposta ao calor, temperatura morna, estímulos mecânicos intensos ou irritantes químicos (nociceptores polimodais). As fibras Ae C terminam nas lâminas mais superficiais do corno dorsal (lâminas I e II). Para que ocorra a condução, os canais de sódio regulados por voltagem devem converter a despolarização da terminação periférica em potencial de ação. A transmissão sináptica na medula espinhal é regulada pelas ações de interneurônios inibitórios locais e projeções que descendem do tronco encefálico para o corno dorsal e limitam a transferência da informação sensorial para o cérebro. Esses locais representam um importante local de intervenção farmacológica. Os principais neurotransmissores inibitórios no corno dorsal da medula espinhal são os peptídeos opioides, a norepinefrina, a serotonina, a glicina e o GABA. Atuam tanto nível pré-sináptico quanto pós-sináptico, inibindo a transmissão. AN02FREV001/REV 4.0 23 FIGURA 8 - SISTEMA DE CONTROLE DESCENDENTE DA DOR PAG (SUBSTÂNCIA CINZENTA PERIAQUEDUTAL), NRPG (NÚCLEO PARAGIGANTOCELULAR RETICULAR), NMR (NÚCLEO MAGNO DA RAFE), LC (LOCUS CERULEUS), DLF (FUNÍCULO DORSOLATERAL) FONTE: Rang e cols., 2003. Os peptídeos opioides foram identificados em 1975 e denominados de encefalina. Logo depois dois outros opioides endógenos foram isolados, as diorfinas e endorfinas. Cada família de peptídeo opioide deriva de uma proteína precursora, a pré-pró-melanocortina (encefalinas), pré-pró-encefalina (encefalinas e pré-pró- dinorfina (dinorfinas). Em 1995 foi clonado um novo peptídeo opioide endógeno, a orfanina FQ/ nociceptina. Em 1976, foi postulado a existência de múltiplos tipos de receptores: (mu), (delta), (kappa). E um quarto tipo foi clonado OFQ/N (NOP), inicialmente chamado de ORL-1 (opioide receptor-like 1). AN02FREV001/REV 4.0 24 FIGURA 9 – PEPTÍDEOS OPIOIDES E SUA AFINIDADE PELOS RECEPTORES OPIOIDES FONTE: O autor. Os receptores opioides são acoplados à proteína G inibitória levando a diminuição do influxo de cálcio e menor liberação de neurotransmissores envolvidos na dor. Diversas funções fisiológicas estão relacionadas aos opioides, como mostrado no gráfico abaixo (figura 10). AN02FREV001/REV 4.0 25 FIGURA 10 – EFEITOS DOS OPIOIDES E INTERAÇÃO COM O RECEPTOR OPIOIDE. (ACH, ACETILCOLINA E DA DOPAMINA) FONTE: O autor. A primeira referência ao ópio data do século 3 a.C. Os comerciantes árabes introduziram o ópio no Ocidente para o controle da disenteria. Em 1806, Sertürner relatou o isolamento de uma substância pura do ópio que ele chamou de MORFINA, em homenagem a Morfeu, deus grego do sono. Em 1832 Robiquet “descobriu” a codeína e, em 1848 Merck, a papaverina. Na metade do século XIX, os alcaloides começaram a ser usados pela medicina. Os analgésicos opioides se assemelham em relação aos opioides endógenos ao mecanismo de ação, diferenciam-se entre si em relação à potência analgésica e afinidade pelos receptores. No quadro a seguir são descritos os principais opioides utilizados na clínica para alívio e controle da dor. AN02FREV001/REV 4.0 26 FIGURA 11 – ATIVIDADE DE ALGUNS FÁRMACOS OPIOIDES E SUA INTERAÇÃO PELOS RECEPTORES OPIOIDES (KATZUNG, 2003) FONTE: Katzung, 2003. MORFINA - agonista dos receptores opioides utilizada na dor moderada a intensa e na analgesia de pacientes com ventilação mecânica. As preparações orais de liberação controlada reduzem o número necessário de doses diárias; pode ser aplicada epidural ou intratecal produzindo uma analgesia altamente efetiva ao atingir concentrações locais no corno dorsal da medula espinhal. CODEÍNA – agonista dos receptores opioides usada na dor leve a moderada, menos efetiva que a morfina no tratamento da dor. Pode estar associada com outros analgésicos, como o paracetamol. Além de promover analgesia, a codeína exerce ação antitussígena e antidiarreica. METADONA – agonista dos receptores opioides utilizada na desintoxicação de pacientes adictos de opioides e como analgésico em casos de dor intensa. Possui longa duração de ação, tendo aplicação clínica na dor oncológica. AN02FREV001/REV 4.0 27 FENTANIL - agonista dos receptores opioides mais potente que a morfina e apresenta boa biodisponibilidade por diferentes vias de administração. Apresenta- se disponível nas formulações farmacêuticas de discos transdérmicos de liberação lenta. Analgésicos opioides congêneres incluem o alfentanil, sufentanil de elevada potência, podendo-se considerar como escala analgésica, alfentanil > fentanil > sufentanil. MEPERIDINA – agonista dos receptores opioides utilizado na dor moderada a intensa. Observa-se ocorrência de euforia e midríase, além de convulsão e excitabilidade do sistema nervos central, decorrente da formação de um metabólito tóxico normeperidina. LEVORFANOL - agonista dos receptores opioides indicado na dor moderada a intensa. Exerce seu efeito analgésico através de receptores presentes na substância cinzenta periventricular e periaqueductal no cérebro e na medula espinhal, alterando a percepção e a transmissão da dor. BUTORFANOL/ BUPRENORFINA – agonistas parciais dos receptores indicados na dor moderada a grave. Utilizados com fármaco adjuvante da anestesia. Produz uma analgesia semelhante à morfina, porém, com sintomas eufóricos mais leves. Disponível em spray intranasal e formulação intravenosa. NALBUFINA – agonista dos receptores opioides com atividade antagonista parcial. Indicado na dor moderada a intensa, como adjuvanteda anestesia. Devido sua atividade antagonista pode precipitar uma síndrome de abstinência em pacientes que receberam opioides cronicamente. Em relação à farmacocinética dos analgésicos opioides, pode-se considerar que apresentam boa absorção quando administrados por via subcutânea e intramuscular, entretanto, por via oral estão sujeitos ao efeito de primeira passagem, reduzindo sua biodisponibilidade por essa via. O metabolismo se dá por meio de reações de conjugação com o ácido glicurônico e hidrólise por esterases. O metabólito da morfina, a morfina-6-glicuronídio exibe potência analgésica AN02FREV001/REV 4.0 28 significativa. Na etapa de metabolismo, é relatada uma variabilidade enzimática entre os indivíduos significativa na terapia com analgésicos opioides. Os pacientes tratados com analgésicos opioides apresentam diversos efeitos adversos, nível central e periférico, que são dependentes do tempo de tratamento e da dose administrada. Dentre os efeitos adversos centrais são observados: inibição da atividade neuronal, depressão respiratória, euforia alternada de sedação, convulsão, miose, náusea e vômitos e redução da temperatura corporal (inibição do centro termorregulador). Outro efeito dos opioides, principalmente a codeína, é o efeito antitussígeno que decorre da capacidade destes fármacos de inibir o reflexo da tosse no sistema nervoso central, tal ação é utilizada clinicamente. Dentre os efeitos periféricos causados pela administração de opioides é um quadro de dermatite e urticária, ocasionado pela liberação maciça de histamina pelos mastócitos. Além dos efeitos mencionados acima são relatados redução da motilidade gastrintestinal, espasmos da musculatura lisa do trato gastrintestinal, broncoconstrição, hipotensão e dependência física e psicológica. A interrupção do opioide de forma abrupta é desaconselhável em pacientes que fazem uso cronicamente devido o risco de síndrome de abstinência, caracterizada por ansiedade, agitação, distúrbios gastrintestinais (náusea, vômito e cólica abdominal), coriza, calafrios, febre, dilatação pupilar, sudorese intensa e colapso circulatório. A naloxona e a nalterxona são fármacos antagonistas dos receptores opioides, atuam deslocando os agonistas opioides do receptor. São utilizados para a reversão de alguns efeitos adversos ocasionados pelo tratamento com estes analgésicos e em casos de intoxicação aguda e na adição de opioides e álcool. Os efeitos adversos proporcionados pelos antagonistas incluem arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão, hepatotoxicidade, edema pulmonar, trombose venosa profunda e embolia pulmonar (naltrexona). AN02FREV001/REV 4.0 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRODY, T. M. et al. Farmacologia Humana da Molécula à Clínica. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. 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