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0 SUMÁRIO Introdução ...................................................................................................................................... 1 1.Percepção social .......................................................................................................................... 1 1.1 Fatores que influenciam a percepção ................................................................................. 1 1.2 Distorções da percepção .................................................................................................... 1 1.2 Reduzindo os problemas de percepção .............................................................................. 2 1.4 Preconceito e discriminação ............................................................................................... 2 1.5 Crítica ................................................................................................................................. 3 1.6 Tipos de personalidade ....................................................................................................... 4 2 Grupos ......................................................................................................................................... 5 2.1 Estrutura de grupos ............................................................................................................ 6 2.2 Forma e tamanho ................................................................................................................ 6 2.3 Fases do grupo e as necessidades interpessoais ................................................................. 7 2.4 Normas e regras .................................................................................................................. 9 2.5 Comunicação e feedback .................................................................................................... 10 2.5.1 O feedback ................................................................................................................ 12 2.5.2 A comunicação autêntica e a reformulação empática .............................................. 13 2.6 Motivação .......................................................................................................................... 14 2.6.1 Etologia ou biologia do comportamento ................................................................. 14 2.6.2 Behaviorismo ........................................................................................................... 15 2.6.3 Cognitivismo ............................................................................................................ 15 2.6.4 Psicanálise ................................................................................................................ 15 2.6.5 Teoria da motivação-higiene ..................................................................................... 16 2.6.6 A teoria das necessidades de Maslow ...................................................................... 16 2.7 Papéis ................................................................................................................................. 16 2.7.1 Papéis dos membros ................................................................................................. 17 2.7.1.1Socioemocional ....................................................................................................... 19 2.7.1.2 Papéis não-construtivos ......................................................................................... 19 2.7.2 Liderança, líder e tipos de liderança. ........................................................................ 20 2.7.3 Tomada de decisão ................................................................................................... 21 2.8 Poder e autoridade .............................................................................................................. 24 2.9 Resolução de conflitos ........................................................................................................ 25 2.9.1 Visões de conflito...................................................................................................... 25 2.9.2 Efeitos positivos do conflito funcional ..................................................................... 26 2.9.3 Efeitos negativos do conflito funcional .................................................................... 26 2.9.4 Equívocos frequentes sobre o conflito ..................................................................... 26 3 Competência emocional ............................................................................................................. 27 Referências ..................................................................................................................................... 28 1 INTRODUÇÃO Cada vez é mais crescente a necessidade de as pessoas estabelecerem uma relação interpessoal. Num mundo onde a tecnologia ocupa, muitas vezes, o espaço da relação face a face, o ser humano já começa a perceber, novamente, a importância de estabelecer limites em relação a essa dependência tecnológica, retomando a comunicação e a interatividade física. Neste ano, em 2011, uma pesquisa apontou que 30% dos jovens na faixa etária entre 10 a 17 anos preferem manter encontros virtuais a presenciais. É lógico que isso é o impacto do crescimento das redes sociais, tais como orkut, facebook, twitter, ickr, entre outras que existem no mundo virtual. 1. PERCEPÇÃO SOCIAL Como criamos nossas primeiras impressões sobre as pessoas? Formar as primeiras impressões sobre as pessoas é mais complexo do que podemos imaginar, pois muitos fatores estão envolvidos e sendo considerados nesta questão. Para Soto (2002), “a percepção se refere ao processo ativo de perceber a realidade e organizá-la em interpretações ou visões sensatas”. O processo perceptivo é importante nas organizações, pois percebemos diferentes pessoas com diferentes interpretações ou visões, muitas vezes contraditórias, do mesmo fato ou pessoa. É difícil ter uma interpretação sem um foco, uma estratégia e pessoas que façam as coisas como desejamos. Os erros de uma percepção sensorial podem causar danos irreparáveis às pessoas, podendo levar uma organização à desgraça. 1.1 FATORES QUE INFLUENCIAM A PERCEPÇÃO Soto (2002) descreve que alguns fatores influenciam a percepção das pessoas. Os mais significativos são: Atenção: muitos são os estímulos presentes durante o estado de vigília, aos quais compete captar a nossa atenção; mas não reagimos da mesma maneira a todos eles. A atenção é definida como a abertura seletiva de uma pequena porção de fenômeno que nos atrai. Fatores Externos: existem certas características dos estímulos que frequentemente determinam nossa atenção. Os mais importantes são a intensidade, o tamanho, a mudança e a repetição. Fatores Internos: classificam-se em: a) motivacionais: se temos fome, os estímulos que se associam a esse motivo se tornarão o foco de nossa percepção. Os motivos fazem nossa percepção seletiva; b) interesses e valores: atendemos àqueles aspectos do mundo que nos rodeiam que se relacionam com os nossos interesses. Formação de Juízos: quando observamos as pessoas, tratamos de desenvolver explicações sobre o porquê de se comportarem de certa maneira. 1.2 DISTORÇÕES DA PERCEPÇÃO As percepções verdadeiramente objetivas são muito raras. Em sua maioria, as percepções são subjetivas e, em consequência, sofrem de inexatidão ou distorções. As distorções que podem afetar a percepção são: 2 Percepção Seletiva: as pessoas interpretam seletivamente oque veem a partir dos seus interesses, antecedentes, experiências e atitudes. Efeito de Halo: é obtida a impressão geral de um indivíduo a partir de uma só característica. Projeção: atribuição das características próprias a outra pessoa. Estereótipo: juízo formulado a respeito de alguém segundo o critério da percepção própria do grupo ao qual essa pessoa pertence. Efeito de Contraste: avaliação das características de uma pessoa afetada pela comparação com as mesmas características de outra pessoa recentemente contatada, que qualifica de forma mais alta ou mais baixa. 1.3 REDUZINDO OS PROBLEMAS DE PERCEPÇÃO Para reduzir os problemas de percepção, devemos aumentar a frequência de observações. Além disso, é útil garantir a representatividade das informações por meio do cuidado com o modo e o momento da observação. Para Dimitrius e Mazzarella (2003, p. 2), ainda é importante dominar as seguintes habilidades: a) Passar mais tempo com as pessoas. Este é o melhor modo de aprender a entendê-las. b) Parar, olhar e ouvir. Não existem substitutos para a paciência e a atenção. c) Aprender a revelar algo de nós mesmos. Precisamos nos abrir primeiro para conseguirmos que os outros se abram. d) Saber o que estamos procurando. Há uma boa chance de nos desapontarmos, a menos que saibamos o que desejamos da outra pessoa. e) Treinar para sermos objetivos. A objetividade é essencial para decifrar pessoas, mas é a habilidade que temos mais dificuldade em desenvolver, entre todas. f) Começar do início, sem desvios nem preconceitos. g) Tomar uma decisão e, depois, agir. 1.4 PRECONCEITO E DISCRIMINAÇÃO Embora os termos preconceito e discriminação sejam usados frequentemente de forma intercambiável, se referem a conceitos diferentes. O preconceito – uma atitude – é uma visão injusta, intolerante ou desfavorável de um grupo de pessoas. A discriminação – um comportamento – é um ato injusto ou uma série de atos dirigidos contra pessoas de maneira injusta. O preconceito e a discriminação nem sempre andam juntos. É possível ter preconceito contra um determinado grupo sem se portar abertamente de maneira hostil ou discriminatória em relação a ele. Em um evento, por exemplo, uma pessoa racista pode sorrir para uma pessoa de outra raça que não seja a sua por motivos pressionais. Para ter percepção das coisas que nos rodeiam, precisamos, antes de tudo, ter sensibilidade. Sabemos que a nossa percepção é influenciada por preconceitos e estereótipos. São esses fatores que nos predispõem a prestar atenção ou não no que nos é dito ou vice-versa ou, ainda, é assim que fazemos para que as pessoas prestem atenção no que falamos. A maioria de nós tem alguma consciência de nossos preconceitos. Embora não gostemos de admitir, com frequência julgamos as pessoas por sua raça, sexo, idade, religião, status econômico ou aparência, opção sexual, escolaridade, etc. É um erro basearmos o modo como avaliamos alguém em uma ideia preconcebida sobre as pessoas com uma característica específica. Este tipo de estereotipia pode distorcer os nossos esforços para prever o comportamento antes mesmo de começarmos. 3 Reconhecer ideias preconcebidas é o primeiro passo para superá-las. Assim que estivermos conscientes de que estamos fazendo um julgamento apressado sobre uma pessoa, com base em algum preconceito, poderemos nos impedir de continuar. Poderemos identificar o preconceito e nos lembrarmos de que não há como avaliarmos uma pessoa quando temos tão pouco em que nos basearmos. Precisamos avaliar muita informação sobre as pessoas antes de encontrarmos os padrões que nos tornarão capazes de entendê-las. Obriguemo-nos a procurar mais detalhes. O preconceito é uma praga que se alastra nas sociedades, deixando um rastro de prejuízos, tanto físicos como psicológicos. 1.5 CRÍTICA Para Sucesso (2002), a palavra crítica tem origem grega – Krinein –, cujo significado aproxima-se do conceito de separar, decidir, distinguir. Portanto, enunciada a crítica, estamos frente a evento decisório que requer refletir, separar, distinguir e decidir. Além disso, nossa cultura divide a crítica em duas categorias: construtiva e destrutiva. Essa concepção dá-se a partir da inferência da intenção de quem critica. Outro aspecto fundamental é a forma como criticamos. Muitas pessoas mostram habilidade para tratar de questões delicadas, outras não. a) Conduta defensiva e dificuldade em lidar com a crítica: A conduta defensiva caracteriza-se pela prática frequentemente adotada nas organizações de auxiliar ou proteger, de interceder e de, até mesmo, resguardar ou justificar atos próprios ou de terceiros, quando as pessoas se sentem sob pressão. São ainda consideradas defensivas as posturas de não aceitação do questionamento das próprias ideias ou as conclusões precipitadas. Assuntos considerados delicados sempre são evitados, fazendo com que muitas questões não sejam tratadas diretamente pelos envolvidos. Recados, indiretas e “panos quentes” são alternativas que ilusoriamente parecem ser a melhor forma de tratamento dos problemas. b) Lidando com a crítica de forma natural: Nomeando o sentimento experimentado ao receber a crítica “estamos surpresos”, “estamos magoados”, “estamos confusos”, etc., assumimos o controle da emoção e do comportamento. As pessoas habituadas a lidar com os problemas de forma natural passam a antecipar-se à crítica, dando atenção aos processos-sinais, perguntando e solicitando feedback durante os processos, sem deixar que as avaliações ocorram apenas ao final. Diversas situações que terminam por gerar críticas e mal estar resultam do adiamento para tratar de posições que geram insatisfação. c) Aprendendo a apresentar críticas: Ao criticar, é preciso compreender que o outro, em princípio, resistirá ou, no mínimo, sentir- se-á incomodado. É preciso pedir licença, criar clima positivo, usar de linguagem adequada e respeitosa. Para encontrar alternativas adequadas, é necessário avaliar com precisão: Há intimidade entre nós e essa pessoa para a crítica? Há risco de a pessoa sentir sua autoimagem ameaçada? O outro não percebeu a situação que provocou a crítica? A pessoa pode sentir-se rejeitada? 4 Acima de tudo, é necessário saber que a crítica só será efetiva se existir o real interesse pelo outro, pelo seu crescimento pessoal. Tratando-se apenas de uma atitude de revanchismo ou havendo a intenção oculta de se mostrar superior ou por vingança, certamente o clima será negativo, e a defensiva aumentará. d) Dificuldade no estabelecimento do diálogo: Nas organizações, as práticas inadequadas de lidar com o erro e a crítica provocam discussões acirradas ou silêncio, permeados pelo medo e pela raiva. Estes constituem as grandes forças dificultadoras do diálogo, uma vez que criam barreiras à abertura e à confiança, indispensáveis ao estabelecimento da conversa nas relações de trabalho. 1.6 TIPOS DE PERSONALIDADE Para Sucesso (2002), a nossa cultura enfatiza a observação dos próprios defeitos e qualidades, e também os dos outro, e sobre esses dois pilares fundamentais, o relacionamento interpessoal. Os aspectos considerados “qualidades” são supervalorizados, provocando comentários como: “Ele consegue se manter equilibrado durante todo o tempo em que fala com sua mulher. Se fosse eu, já teria perdido a calma”. A constante identificação de defeitos e qualidades poderia ser substituída por outra forma de análise, bem mais adequada, uma vez que tais parâmetros dependem da cultura, da situação e de quem faz a apreciação. Curiosidade, por exemplo, é uma característica que alguém pode ter. Isso é defeito ou qualidade, do ponto de vista da atuação profissional? Para orepórter, ser curioso é fundamental. Talvez nem tanto para o garçom. Ao mesmo tempo em que as pessoas reconhecem a influência das diferenças individuais no comportamento, desejam e sugerem que o outro se comporte do modo como admiram ou que lhes interessa. Essa conduta acaba resultando em conflito, ansiedade e na perda de alguns amigos. Quando procuramos mudar alguém ou sugerir que se comporte de forma diferente, nos esquecemos de considerar o quanto é difícil mudar o próprio comportamento. Hábitos arraigados não se alteram facilmente. Para que esses desejos realmente se transformem em ações positivas, são requeridas firmeza de propósito, autodisciplina e persistência. É preciso salientar que reconhecer as diferenças individuais possibilita experimentar uma convivência pautada na identificação dos aspectos facilitadores e dos aspectos dificultadores na relação com o outro. Esse posicionamento abre caminho para uma nova modalidade de convivência, pautada no entendimento do que torna único cada ser humano. Também permite compreender que as aptidões e os talentos variados podem atuar de forma complementar, uma vez que é justamente a diferença que viabiliza a vida. A palavra personalidade deriva do grego persona – máscara utilizada pelos autores gregos para dar “vida” aos seus personagens – embora a personalidade possa ser classificada sob diversos enfoques teóricos. Neste caso, a ênfase será dada ao perfil de personalidade como agente facilitador ou dificultador da dinâmica das relações humanas e, consequentemente, do processo de comunicação. A personalidade determina a forma de se comunicar. A pessoa que tem dificuldade de se comunicar, geralmente não consegue demonstrar suas qualidades, isto é, tende a não revelar ao seu ciclo de relacionamento quem ela realmente é. Ao adotar tal atitude, a sua vida social e a realização dos 5 projetos pessoais e profissionais tendem a ficar prejudicados, gerando um círculo vicioso, pois a dificuldade em se comunicar afeta a personalidade e, logicamente, sua relação com o mundo. (ELTZ, 1998). O autor referido salienta que a personalidade cria barreiras à comunicação e que essas podem ter diversas origens: hereditariedade, educação, experiências pessoais e condições emocionais de cada um. Para melhor entender o perfil de personalidade e o contexto das relações interpessoais (entre pessoas) e intrapessoal (relação com o próprio eu, ou seja, diálogo interior), destacamos três dimensões básicas: a. Extroversão: as pessoas extrovertidas tendem a serem ativas, mais expressivas, sociáveis e, até mesmo, impulsivas. Geralmente falam alto, são expansivas e loquazes. Os extrovertidos sociáveis têm vários amigos e precisam de pessoas ao seu redor, tendem a ser alegres, gostam de rir e de ser felizes. Enfim, gostam de mudanças. b. Introversão: os introvertidos típicos são silenciosos e tendem a preferir ficar isolados, por exemplo, lendo livros, a ter pessoas ao seu redor. Geralmente, são reservados e distantes, exceto com relação aos amigos íntimos. São pessoas que planejam as coisas com antecedência e não cedem a impulso momentâneo. Controlam seus sentimentos e dão muito valor a padrões éticos. c. Neurose: toda pessoa possui alguns traços neuróticos sem que isso signifique desequilíbrio emocional. No entanto, em casos extremos, a pessoa tende a ser instável, com tendência à negatividade, e tem necessidade de chamar a atenção para si mesma. Os traços associados à neurose são muitos conhecidos: ansiedade, distúrbios de personalidade, solidão e pessimismo. O neurótico pode tender a ter mais fobias e propensão à depressão. Embora não possamos generalizar os traços de personalidade (Quadro 1) anteriormente expostos, estes podem dar pistas das possíveis variações no processo de comunicação. QUADRO 1 – Traços característicos da personalidade Traços característicos Discurso e linguagem Introvertido Extrovertido Forma Elevada Baixa Código Elaborado Restrito Gramática Mais substantivos/adjetivos e preposições Mais verbos, advérbios e pronomes Vocabulário Correto Impreciso Sotaque Pronúncia-padrão Pronúncia local Rapidez Lenta Muitas interjeições Paralinguagem (interjeições como há, hummm) Porcas interjeições Muitas interjeições Fonte: Furnham (2001, p. 58). 2 GRUPOS Quando um grupo se inicia, qualquer que seja sua denominação, existem várias palavras que não se expressam, que ficam guardadas, escondidas, disfarçadas. Somos iguais? Somos um? Somos diferentes? Somos vários? Igual + diferente somos um? À medida que as pessoas vão e vêm entre si, os mistérios vão se abrindo, as flores vão desabrochando, o conhecimento acontece, o laço se estabelece. Sobra, porém, algo por descobrir. Existe sempre um mistério por se revelar. Quando um grupo se inicia, todos chegam trazendo o que é seu. Desconfiados, apreensivos, alegres, interessados, observadores, distraídos, esperançosos, temerosos, tímidos, expansivos, silenciosos, resistentes, eles vêm se aproximando em busca de algo, cada um com seu jeito, sua forma, 6 seu temperamento, sua história de vida, seu desejo, seu destino. Mãos soltas e olhares inquietos começam a ver outros seres, outros olhos e, ao se darem as mãos, somam afetos, alegrias, preocupações, carinhos e medos. Um grupo se forma quando todos nele encontram seus lugares, lugares flexíveis, garantindo a cada um sua importância, seu significado. Eu, você, o outro, nós. Em todo grupo, podemos encontrar papéis que são assumidos por seus integrantes, dependendo do momento e da necessidade grupal. É comum encontrarmos o falador, o gaiato, o sedutor, o bode expiatório, o palhaço, o que denuncia, o que apazigua, o que sabota, o que sabe tudo, entre outros. Pertencer a um grupo e sentir-se valorizado por seus pares facilita o relacionamento consigo mesmo, fortalece a autoestima e prepara as pessoas para a convivência em diferentes contextos. Ao trabalhar com grupos, alguns elementos são importantes a serem observados: vínculo, papéis, liderança, limites, comunicação, sentimento de pertencer, conviver com as diferenças, resolução de conflitos, trabalho em grupo, cooperação, produção de um saber coletivo. 2.1 ESTRUTURA DE GRUPOS Em relação à estrutura, descreveremos o desenho que o grupo tem, partindo do tamanho e forma, seguindo pelas suas fases e necessidades interpessoais, contemplando suas interações, normas e regras de funcionamento, aspectos relevantes da comunicação e do feedback. Daremos sequência com as necessidades humanas e os correspondentes fatores motivacionais especialmente no trabalho, a influência e liderança, com foco nas bases de poder e da autoridade que o poder lhe confere, os diversos papéis que as interações em pequenos grupos exigem, como essa dança de papéis determina consciência ou mascara o que acontece nas relações dentro do grupo. Finalizaremos com o que faz do grupo uma totalidade com identidade e autonomia social e com sua existência enquanto entidade diferenciada de outros fenômenos que existem socialmente, como: individualidade, díade, seriedade, multidão e público. 2.2 FORMA E TAMANHO Kurt Lewin fez as primeiras diferenciações de tipos de grupo. Importa aqui destacar “O sócio grupo como sendo o grupo centrado na tarefa, isto é, o grupo estruturado e orientado para execução ou cumprimento de uma tarefa”. Já o psicogrupo é o grupo de formação no sentido amplo do termo, ou seja, um grupo estruturado, orientado e polarizado em função dos seus próprios membros; poderíamos dizer centrado em si mesmo. (MAILHIOT, 1967). Esta diferenciação destacada aqui é ainda atual, pois é aceita nos estudos mais recentes sobre grupos. Estes grupos – o sócio grupo eo psicogrupo – têm semelhanças quanto ao tamanho. Ambos, via de regra, são microgrupos com um pequeno número de pessoas que varia de sete a quinze. Sabemos que um número menor do que oito na composição do grupo resulta em processos de características terapêuticas, existindo “[...] tendência para o aparecimento de forte componente terapêutico [...] (ZIMERMAN, 1993, p. 93). Isto porque todos procurariam ser atendidos clinicamente nos seus processos atuais e de história de vida, como numa terapia de grupo, o que atrapalharia o desdobramento das atividades em se tratando de sociogrupo e psicogrupo. Assim, também alteraria as interações e os processos uma quantidade de participantes superior a trinta membros, o que causaria dificuldades de observação e registro e coordenação. Os grupos pequenos tendem a aproximar as pessoas, e essa aproximação tem características físicas e psicológicas, ibfluenciando a estrutura organizacional do grupo e os métodos e técnicas responsáveis pelo cumprimento da tarefa. O pequeno grupo, seja de empresa, seja de crescimento 7 pessoal, com o tempo de convivência de seus membros, passa a ter um clima de grupo mais informal, em que as questões de ordem pessoal passam a assumir papel relevante no campo de vida do grupo. Ambos os grupos veem-se às voltas com questões como conflito, controle, reformulação de normas e regras, feedback, inaptidão de algum membro para trabalhar em grupo. Porém, os grupos de crescimento pessoal, por força do conteúdo programado para sua formação e pelo prtfil do coordenador, trata daquelas questões – conflito, controle, reformulação, etc. – como oportunidades para o treino das capacidades para as relações humanas. Já os grupos orientados para a tarefa quase sempre lidam de maneira inadequada com as situações interpessoais difíceis, resolvendo-as empiricamente ou pela truculência do autoritarismo, comprometendo os resultados e limitando os potenciais individuais e grupais. O trabalho é a atividade humana que tem consumido a maior parcela de energia, física e emocional, assim como a maior parte do tempo, dos homens e mulheres ativos economicamente em nosso tempo, sendo que também as oportunidades de trabalhar e viver em grupo se manifesta em alto grau. Os estudiosos do trabalho, como os ergonomistas, administradores e educadores, somam esforços com a dinâmica de grupo para entender melhor os relacionamentos interpessoais, especialmente os de pequenos grupos. A ergonomia é uma disciplina científica que estuda o homem e o trabalho e procura melhor adaptar o trabalho para atender às necessidades humanas. O ergonomista francês Christophe Dejours classifica como condições do trabalho o ambiente e suas características físicas, químicas e biológicas, bem como as condições de higiene e segurança. (DEJOURS, 1987). Estão inclusas aqui as características antropométricas do posto de trabalho, sendo que o impacto de todas essas variáveis recai sobre o corpo. De maneira bem diversa, o autor classifica como organização do trabalho o conteúdo da tarefa, o sistema hierárquico, as relações de poder, responsabilidade e comando. A divisão do trabalho entre quem pensa e quem executa o trabalho, herança taylorista, causa sofrimento, repetição e a falta de compreensão sobre o significado do trabalho. O impacto de todas essas variáveis recai sobre a natureza psicológica, emocional e mental. (DEJOURS, 1987). Para Dejours (1987), as relações que surgem com o trabalho são todos os laços humanos criados pela organização do trabalho: relações com a hierarquia, com as chefias, com a supervisão e com os outros trabalhadores, as quais são, às vezes, desagradáveis, até insuportáveis. Apenas considerar as exigências de postura ou as cargas psicossensórias (condições do trabalho) é um grande erro. A falta de interesse pelo trabalho soma-se à ansiedade resultante das relações humanas profundamente impregnadas pela organização do trabalho. Essa ansiedade resulta da desestruturação das relações psicoafetivas espontâneas com os colegas de trabalho, de seu envenenamento pela discriminação e suspeita ou de sua implicação forçada nas relações de violência e de agressividade com a hierarquia. 2.3 FASES DO GRUPO E AS NECESSIDADES INTERPESSOAIS Nas teorias esboçadas inicialmente por Lewin, sobre a relação existente entre solidariedade das relações interpessoais e produtividade e eficiência do grupo de trabalho, Willian Carl Schultz, com seus estudos, conseguiu identificar como fundamentais três necessidades interpessoais: a inclusão, o controle e a afeição. Ao longo de sistemáticas e demoradas pesquisas, Schultz identificou que cada membro de um grupo somente se integrará depois do movimento, em que certas necessidades fundamentais são satisfeitas pelo grupo. (SCHULTZ, 1978). Essas necessidades todo ser humano experimenta em ambiente de grupo, ainda que em graus diversos. Dito desta forma pode parecer que essas necessidades não têm caráter de grupo, por parecerem necessidades individuais. Porém, somente em grupo e pelo grupo elas podem ser satisfeitas 8 adequadamente. Se compararmos a pirâmide das necessidades de Maslow com as necessidades interpessoais de Schutz, veremos que há uma coincidência nos últimos três extratos superiores, sendo que a pirâmide indica as necessidades de pertença e afeto, de estima e de auto realização. Todo grupo vive e manifesta os três ciclos naturalmente, independente do seu conhecimento ou consciência das fases de inclusão, controle e afeição. • Inclusão: O comportamento ou a necessidade de inclusão é experienciado por todos os membros do grupo assim que este se constitui ou inicia suas atividades ou, ainda, quando um novo componente passa a fazer parte do grupo. A inclusão refere-se a associações entre pessoas, exclusão, aceitação, posse, companhia. Manifesta-se pelo desejo de receber atenção e efetuar interações, se sentir e se perceber aceito, integrado, totalmente valorizado por aqueles aos quais se ajunta. Outra característica da fase de inclusão é o fato de as pessoas escolherem facetas que acham agradáveis para se apresentarem e se relacionarem com o grupo ou de o membro ser singularmente diferenciado de outras pessoas, porque isto implica em alguém estar interessado nelas para descobrir suas características inconfundíveis. Também há pessoas que procuram permanecer em silêncio, porque não estão seguras de que as demais se importem com o que elas têm a dizer. Esses acontecimentos todos terão características variáveis em virtude de o participante do grupo ser uma pessoa “subsocial” ou introvertida, “supersocial” ou extrovertida e “sociável” ou sem problemas de inclusão. (SCHUTZ, 1978). • Controle: A necessidade de controle via de regra aparece mais ou menos no meio de tempo de duração de vida do grupo. Refere-se ao processo de tomar decisões em conjunto em áreas de poder, de influência e autoridade. A necessidade de controle varia, num processo que vai do desejo da pessoa de ter autoridade sobre os outros e seu próprio futuro, até a necessidade de ser controlado e não assumir responsabilidade. O controle também se manifesta por comportamentos dirigidos àqueles que procuram controlar, como por exemplo, a expressão de independência, a rebeldia, a relutância, assim também a condescendência, a submissão, a obediência e as ordens, com relação aos diversos tipos de líderes e influenciadores do grupo. Nesta fase, os temas centrais são a discussão das regras, normas e objetivos do grupo, a luta pelo poder, a competição e a influência num clima de grupo de confronto, debate e conflito. A pessoa com postura social introvertida tende ao controle, submete-se aos que pareçam mais carismáticos ecompetentes, abdicando de qualquer poder e assumindo um comportamento chamado por Schultz de abdicrata. Já o extrovertido, por sua vez, se comporta como autocrata, ou seja, é dominador e competidor ao extremo, não receia exercer influência sobre os outros e, se preciso for, assume sozinho o controle do grupo. • Afeição: O comportamento de afeição geralmente é o último aspecto a emergir no desenvolvimento da relação humana e/ou em grupo. Refere-se aos laços emocionais próprios do contato estreito entre duas pessoas, tem sua ocorrência mais forte entre pares dentro do grupo. Essa fase identifica-se quando o grupo aproxima-se do término das atividades como grupo, quando estão no fim da vida. Porém, nesta fase, o relacionamento interpessoal não se transforma num “mar de rosas”. Mas, exatamente porque as pessoas não têm mais dúvidas sobre serem aceitas ou amadas, sobre suas competências ou poder, é que elas são francas e diretas, mostrando todos os aspectos da sua personalidade. É comum o grupo viver um misto de reciprocidade amorosa e confrontos abertos, em que feedback, avaliações, limites e éticas são discutidos e vividos com intensidade e força. 9 2.4 NORMAS E REGRAS A vida em grupo, em equipe, solicita um conjunto de regras, normas, valores e procedimentos que não necessitam estar escritos, mas norteiam a vida do grupo. Se o indivíduo quiser se sentir participante do grupo, terá de orientar-se pelos padrões implícitos ou explicitados pelo grupo. (CASTILHOS, 1993). Esses padrões são conhecidos como os “prescritos do grupo”. Todo grupo deve ter razões claras de sua existência e as regras e/ou normas que regem essa existência. Essas razões estão contidas naquilo que chamamos de “contrato de grupo”. É um compromisso entre o grupo e as pessoas que o trouxeram à vida, e dá a ele a autoridade para agir. De acordo com o Dicionário Aurélio (FERREIRA, 1999), regra é aquilo que está determinado pela razão, pela lei ou pelo costume, enquanto norma é o princípio, padrão ou regra que adotamos como base para a realização de algo. Segundo Spencer e Pruss (1994), pode haver vários e diferentes tipos de normas e/ou regras entre o grupo e os sistemas, internos ou externos, em que o grupo tem que operar. As normas entre o coordenador e os membros do grupo, e também dos próprios membros entre si devem conter as seguintes regras de base: Abertura: é essencial que o coordenador e os membros sejam os mais abertos e francos possíveis ao discutirem seus pensamentos e sentimentos em relação as suas tarefas. Eliminar a fantasia: na atividade de grupo, a fantasia deve ser eliminada pela discussão dos fatos aceitos, e não por suposições (apresentadas como fatos), pois estas não podem ser verificadas pelos outros membros do grupo. Respeitar as opiniões alheias: para que exista respeito mútuo das opiniões, atitudes e comportamentos dos componentes do grupo, é necessário que os próprios componentes entendam os seus valores e preconceitos. Permanecer no aqui e no agora: o aprendizado do grupo refere-se ao reconhecimento do passado e à aplicação deste conhecimento no presente e nas situações previstas para o futuro. Ser construtivo com seu feedback: a crítica construtiva é descritiva; ela é um retorno ao indivíduo de exatamente como você interpretou e sentiu aquilo que foi dito ou feito. Estar disposto a assumir riscos: oportunidade de trabalhar pelo sucesso sem se angustiar com o fracasso. Participar: cabe ao coordenador exigir o “arregaçar das mangas” de todos os membros do grupo, que não podem simplesmente assistir, pois a participação fará com que os membros partam numa ativa busca de resultados. Ser responsável com relação às metas: cabe ao coordenador, juntamente com seus membros, a total responsabilidade pelas tarefas e objetivos predeterminados. Ser receptivo: a receptividade não se resume a escutar; é também aceitar críticas e desafios. Assim, as regras de interação em um grupo objetivam implementar princípios já estabelecidos, tais como a honestidade, a conscientização, a escolha e aceitação do corpo e 10 comportamento. Constitui-se, desta forma, em alternativa para autorrelacionar-se com os outros; enfim, com a interação humana. Para Schutz (1978, p. 73), “estas regras constituem a base da cultura do Encontro e as diretrizes para liderar um grupo”. São transmitidas aos membros do grupo, da equipe, afim de que estes sejam guiados para o estilo familiar de interação para o do Encontro. Neste sentido, é importante que o líder, o facilitador, o gerente ou o coordenador tenha consciência deste estilo, de suas próprias inclinações e como estas afetam sua maneira dentro do grupo, pois o método pelo qual as regras são transmitidas varia de acordo com o ambiente e influenciam profundamente o grupo e seu desenvolvimento. 2.5 COMUNICAÇÃO E FEEDBACK Berlo (1999) afirma que toda a comunicação tem alguma fonte, uma pessoa ou um grupo de pessoas com um objetivo, uma razão para empenhar-se em comunicação. Estabelecida uma origem, com ideias, necessidades, informações e um objetivo a comunicar, o objetivo da fonte tem de ser expresso em forma de mensagem. Na comunicação humana, a mensagem existe em forma física – traduções de ideias, objetivos e intenções num código –, num conjunto sistemático de símbolos. Já o codificador é responsável por pegar as ideias da fonte e colocá-las num código conhecido, exprimindo o objetivo da fonte em forma de mensagem. Na comunicação de pessoa para pessoa, a função codificadora é executada pelas habilidades motoras da fonte: por seu mecanismo vocal (que produz a palavra oral, gritos, notas musicais, etc.); pelo sistema muscular da mão (que produz a palavra escrita, desenhos, etc.); pelos sistemas musculares de outras partes do corpo (que produzem os gestos da face e dos braços, as posturas, etc.). (BERLO, 1999). Temos a fonte de comunicação com um objetivo e o codificador que traduz ou exprime este objetivo em forma de mensagem. Temos, ainda, um quarto componente: o canal. Berlo (1999) considera os canais de várias maneiras. Canal é o intermediário, o condutor de mensagens. É certo dizer que as mensagens podem existir apenas em algum canal. Entretanto, a escolha dos canais é, muitas vezes, fator importante na efetivação da comunicação. Conhecemos já a fonte, o codificador, a mensagem e o canal. Se pararmos aqui, nenhuma comunicação terá ocorrido, pois, segundo Berlo (1999), para haver comunicação, deve haver alguém na outra ponta do canal. Se temos um objetivo e codificarmos a mensagem e a colocamos neste ou naquele canal, teremos feito apenas parte do trabalho. Se falamos, alguém deve ouvir. Da mesma forma, quando escrevemos, alguém deve ler. A pessoa na outra extremidade do canal pode ser chamada de receptor da comunicação ou alvo da comunicação. As fontes e os receptores de comunicação devem ser sistemas similares. Se não forem, pode não haver comunicação. Em termos psicológicos, a fonte pretende produzir um estímulo. O receptor reage a esse estímulo se há comunicação, se não reagir, é porque não houve comunicação. Assim como a fonte precisa do codificador para traduzir seus objetivos em forma de mensagem, para expressar seus objetivos num código, o receptor precisa de decodificador para retraduzir, para decifrar a mensagem e colocá-la em forma que possa usar. Na comunicação de pessoa para pessoa, o codificador é o conjunto de habilidades motoras da fonte. Assim também podemos considerar o decodificador como o conjunto de habilidades sensórias e perceptivas do receptor. Quando escrevemos, o leitor é que tem importância. Quando falamos, é o ouvinte que importa. A preocupaçãocom o receptor é um princípio orientador para qualquer fonte de comunicação. Já a mensagem é influenciada por outros aspectos que devem ser levados em conta: 1) o código, 2) o conteúdo e 3) o tratamento. 11 Além disso, devem ser considerados os elementos de cada um e o modo como os elementos são estruturados. Joseph Luft e Harry Ingham criaram uma representação em forma de janela usando quatro retângulos para ajudar a conceituar e mensurar o processo de percepção de um indivíduo em relação a si mesmo e aos outros. A Janela de Johari (Figura 1) identifica, com cada um de seus quadrantes, uma das áreas da personalidade da pessoa, especialmente enquanto ela vive relações interpessoais. Assim, a Janela de Johari é um instrumento fundamental para executar e avaliar o feedback em pequenos grupos, e ambas reforçam e completam a teoria de campo de Lewin e a concepção das necessidades interpessoais de Schutz. FIGURA 1 – Janela de Johari Fonte: Adaptado de Luft e Ingham (1961). O quadrante Eu aberto constitui o comportamento conhecido pela pessoa e por qualquer um que a observe. Estão, nesta área, as características pelas quais normalmente as pessoas são conhecidas nos grupos dos quais fazem parte, a sua maneira de falar e de fazer certas coisas e as atitudes sociais mais expressivas. O quadrante Eu cego contém as características do comportamento que são fáceis e claramente percebidas pelos outros, mas das quais a pessoa não está ciente ou plenamente ciente. Nesta área, fica claro que a pessoa é frequentemente muito crítica com o comportamento dos outros, sem perceber que se comporta, muitas vezes, da mesma forma. Especialmente no clima da fase de controle, muitos se fixam sobre essa área cega numa reciprocidade de críticas quase sempre duras e intermináveis. Exemplos comuns são as reações agressivas em relação aos demais, desprezo pelos que discordam de seu ponto de vista e manifestação nervosa em situações de tensão e feedback. Movimento da pessoa no grupo ao falar de si mesma e de dar feedback Movimento da pessoa no grupo ao ouvir o que os outros têm a dizer sobre ela e de receber feedback Eu aberto Eu secreto Conhecido pelos outros Não conhecido pelos outros Eu desconhecido Eu cego Conhecido pelo Eu Não-conhecido pelo Eu 12 O quadrante Eu secreto contém as coisas sobre a pessoa que ela conhece, mas esconde dos outros. Quando o foco é o relacionamento interpessoal, estas coisas se constituem de juízo de valor sobre ela mesma e os outros, julgamento de comportamento e de uma infinidade de coisas que esconde e dissimula dos demais, podendo variar de assuntos banais até os de grande importância para a “Aprendizagem da autenticidade” e desempenho do grupo. Em uma pessoa ou situação autoritária, normalmente há um grande número de aspectos nessa área da personalidade. O quadrante Eu desconhecido inclui todas as coisas das quais nem a pessoa nem os outros estão cônscios. São as memórias da infância, as potencialidades latentes e as questões desconhecidas da dinâmica interpessoal. Algumas estão muito escondidas e nunca emergiram; outras, com processo e abertura do grupo, poderão tornar-se conscientes. (MOSCOVICI, 1995). A mudança de um dos quadrantes implica mudanças nos demais, de maneira que, se as linhas que dividem a janela se deslocarem horizontal ou verticalmente, alterarão mais de um quadrante de cada vez. Quando ocorrer que a pessoa, por meio da relação com o outro, aumentar um dos quadrantes – por exemplo, se o Eu aberto ocupar o maior espaço na relação por meio do reconhecimento e aceitação do que os outros dizem sobre meu comportamento – diminuirá o Eu cego, a linha vertical se moverá diminuindo também o Eu desconhecido e aumentando o Eu secreto. As modificações que podemos obter intencionalmente nos campos da pessoa e do grupo são as especialmente ligadas ao Eu secreto e ao Eu cego, por meio de comunicação autêntica, feedback, reformulação empática e, sobretudo, com consciência da estrutura, da dinâmica e da necessidade interpessoal do grupo. A busca de feedback (refere-se à seta horizontal localizada fora da Janela de Johary) materializa-se pela solicitação e recebimento das reações dos outros, verbais ou não- verbais, para conhecer como o comportamento da pessoa que pede feedback está afetando os outros. Pode-se dizer “ver-se com os olhos dos outros.” (MOSCOVICI, 1995, p. 43). 2.5.1 O feedback Feedback é um termo anglo-saxão para o qual a língua portuguesa não tem uma expressão equivalente. É mal compreendido e mal utilizado em nossa cultura, onde é visto como uma crítica, aconselhamento, desabafo, carregado de emoção ou oportunidade de demonstrar inteligência e habilidade de observação (VEIGA, 2004). Porém, o feedback pode ser traduzido como retroalimentação, uma espécie de mecanismo de revisão. No controle de sistemas eletrônicos, onde este termo nasceu, significa qualquer procedimento em que parte do sinal de saída de um circuito é injetado no sinal de entrada para: diminuí- lo, ampliá-lo, modificá-lo ou controlá-lo. Nas relações interpessoais e na dinâmica de grupo, feedback é um processo de ajuda para mudança. É uma forma específica e especial de comunicação a outra pessoa ou grupo, fornecendo-lhe informações sobre como sua atuação está afetando as outras pessoas. O tipo de feedback que interessa para qualificar o relacionamento interpessoal é o desenhado para a dinâmica de grupo, expresso pela seguinte fórmula: “Eu me sinto desta ou daquela maneira toda vez que você faz tal ou qual coisa”. 13 A auto exposição é o movimento da pessoa em dar feedback aos outros, revelando pensamentos próprios e originais, percepções e sentimentos de como o comportamento dos outros a está afetando. Por fim, o feedback deve privilegiar o aqui e o agora, de acordo com o princípio da contemporaneidade. A energia, assim como o contexto, é mais forte e visível no momento próprio em que o comportamento acontece, e o feedback é mais efetivo e útil quando aproveita a oportunidade no seu tempo certo, para criar fatos e acontecimentos presentes. O feedback é positivo, quando encoraja a manutenção do comportamento, e negativo (de crescimento), quando reprova a atitude e estimula sua correção. O feedback poderá ter uma fórmula ou uma receita para viabilizar um tempo relativamente curto a sua prática adequada. A formula é: Eu me sinto... (a pessoa que está dando feedback diz qual é o sentimento), toda vez que você (diz o nome da pessoa) faz...(diz qual é a atitude que causa o sentimento). Essa fórmula está associada a um padrão que define como o feedback deve ser. Segundo Moscovici (1995), o feedback deve ser: Descritivo e não avaliativo: não há julgamento, apenas relato de um acontecimento visível por todos, o que reduz as relações de defesa (aquele que recebe o feedback pode sentir-se livre para usá-lo como julgar conveniente). Específico e não geral: quando se diz a alguém que ele é... isso tem menos significado do que dizer como nos sentimos diante de um comportamento numa determinada ocasião. Compatível com as necessidades do comunicador e do receptor: não deve satisfazer apenas as necessidades de um. Dirigido: para o comportamento que o receptor possa modificar. Solicitado ao invés de imposto: será mais útil quando o receptor tiver formulado perguntas e os que observam possam responder. Oportuno: logo após o comportamento em questão. Esclarecido: a comunicação deveser precisa, não é permitido interpretação indevidas, procurando sempre verificar se é uma impressão individual ou compartilhada por todos. 2.5.2 A comunicação autêntica e a reformulação empática A comunicação autêntica concebida por Rogers (1987) é o conceito de comunicação que apresenta maior afinidade com o trabalho em pequenos grupos e tipo de feedback. Propõe uma comunicação livre das máscaras comumente usadas quando falamos das experiências subjetivas. Para isso a comunicação deve ter as seguintes qualidades: Ser congruente, ou seja, ser você mesmo, estar presente em sua relação com o outro, estar aberto e não defensivo em relação aos próprios sentimentos para com o outro. Dar atenção positiva incondicional ao outro é estar pronto para aceitar qualquer manifestação do outro sem querer julgá-la. Ser empático, ou seja, perceber o quadro de referência interno de uma outra pessoa com exatidão e com os componentes emocionais e as significações a ela ligados, como se você fosse a outra pessoa, mas sem jamais perder a condição de “como se...”. Este conceito de empatia é, na verdade, do filósofo alemão T. Lipps (1815- 14 1914), segundo o qual só pode compreender o outro em sua sensibilidade profunda aquele que é atingido pelo que descobre no outro. A reformulação empática é uma intervenção que consiste em dizer de novo, em outros termos, de um modo muitas vezes mais conciso e mais explícito, o que acaba de ser expresso. Isto, por sua vez, pode ser dividido em três: Conteúdo manifesto: o que acaba de ser dito explicitamente. Conteúdo latente: o que acaba de ser dito implicitamente, o que é “subentendido”. Conteúdo não-verbal: o que acaba de ser dito por meio de posturas, mímicas, tom e outras evidências corporais. Todavia, não basta dizer novamente o que acaba de ser expresso para fazer uma reformulação correta. É preciso que o interlocutor se reconheça realmente nesta reformulação, de tal modo que se diga assim: “Foi isso mesmo que eu disse”; “É exatamente o que eu queria dizer”, “É isso mesmo que eu sinto!”. Quando reformulamos tudo o que é expresso, devemos considerar a priori como estando em relação com o problema e que é de natureza importante para esclarecê-lo: tudo tem sentido. Toda mensagem pode ser compreendida de várias formas, conforme a pessoa seja sensível a um ou outro dos três níveis: manifesto, latente e não-verbal. Certas informações são mais significativas do que outras e mais aptas a esclarecer o problema. O entrevistador, o conselheiro, o animador ou o coordenador pode ou não ser o único a determinar a pertinência das informações com respeito ao problema. Ele é, antes de tudo, uma pessoa com suas capacidades limitadas de memorização, seu ponto de vista sobre o problema tratado, seu sistema de valores, sua psicologia singular. Portanto, ele sempre corre o risco de deixar de lado ou de distorcer certas informações importantes. (AMADO; GUITET, 1982). 2.6 MOTIVAÇÃO O estudo da motivação é mais comum estar ligado ao trabalho, procurando o motivo propulsor que mantenha o homem trabalhando e atendendo produtividade e desempenho esperados pela organização. Mas também há a motivação para os relacionamentos, para o lazer, para os estudos e para tantas outras atividades e necessidades humanas. Nas organizações contemporâneas, o trabalho sofreu tal fragmentação que lhe tirou o sentido, o que resultou em uma espécie de alienação que faz com que as pessoas se conformem com sofrimento e prejuízo da saúde, no desempenho de atividades que não fazem o menor sentido. As teorias da motivação diferenciam-se quanto à definição da força propulsora ou da eterna insatisfação das necessidades que movimentam o ser humano. Apresentamos, a seguir, as mais importantes e conhecidas abordagens. 2.6.1 Etologia ou biologia do comportamento O interesse da etologia é, resumidamente, o estudo da diversidade das espécies em toda sua complexidade no seu contexto natural, procurando explicar a filogênese e evolução e causalidade dos comportamentos, funções e caracteres de adaptação. Para essa 15 abordagem, motivação para ação é uma conduta instintiva de cada espécie animal de busca de adaptação ao meio, inclusive dos seres humanos. 2.6.2 Behaviorismo O eixo principal dessa abordagem é o que, em filosofia, chama-se de hedonismo, ou seja, as pessoas buscam o prazer e afastam-se do sofrimento. O comportamento dos seres humanos direciona-se no sentido de maximizar alguns tipos de resultados de suas ações mais que outros. Neste sentido, as motivações do comportamento são as consequências dos efeitos produzidos por comportamentos passados. Para o behaviorismo, a força que conduz o comportamento motivado está sempre e somente fora da pessoa, causada por fatores extrínsecos que são independentes da sua vontade. Existe uma ligação entre o estímulo externo e a resposta comportamental, uma espécie de acomodação do organismo vivo às modificações que acontecem no meio ambiente. Nesse ponto, esta abordagem é muito parecida com as ideias da etologia. Pelo reforço ou recompensa, a motivação é descrita como um comportamento reativo, ou seja, um esquema de estímulo-resposta que movimentará o homem por meio de uma sequência de hábitos, nesse caso, fruto de um condicionamento imposto pelas forças condicionantes do mundo exterior. Esta teoria apresenta um risco: a falsa percepção de que o homem esteja verdadeiramente motivado, quando altera seu comportamento reagindo a um estímulo exterior de maneira automática pelo hábito adquirido. Nas organizações e socialmente, podemos estabelecer a crença e a prática de dirigir o comportamento das pessoas a partir de uma programação controlada, completamente independente da vontade das pessoas e, de maneira grave, ameaçar a identidade e a integridade pessoal. 2.6.3 Cognitivismo As representações internas que cada um constrói na relação com o mundo determinam valores, opiniões, habilidades, conhecimento e expectativas em relação a esse mundo, sendo essas representações internas do seu ambiente as forças direcionadoras do seu comportamento. A internalização do ambiente que envolve as pessoas ocorre por meio de processos de percepção, pensamento e, sobretudo, aprendizagem. Essa abordagem também supõe que o ser humano seja dirigido para o prazer e fuja do sofrimento, isto é, seja hedonista. As pessoas agem intencionalmente e de acordo com as suas sensações, percepções e cognições da realidade para alcançarem os seus objetivos e atenderem as suas expectativas. A escolha feita em uma determinada situação é causada pelos motivos e cognições próprios do momento em que faz as escolhas. Os cognitivistas ampliam os limites do processo de aprendizagem, interpretando impasses, incidentes e erro como elementos de construção do conhecimento, com uma lógica própria, dividindo a aprendizagem em aprendizagem por descoberta e por instrução, fazendo novas diferenças entre entender, compreender e aprender. Acreditam que ninguém, em momento algum, possa motivar quem quer que seja, já que as ações humanas são espontâneas e gratuitas e suas origens estão ligadas às impulsões interiores. 16 2.6.4 Psicanálise Entre as contribuições da psicanálise para a teoria das motivações, temos que as pessoas nem sempre estão conscientes do que querem. Boa parte do seu comportamento é ditado por motivos e necessidades inconscientes ou subconscientes. Um segmento considerável da motivação humana é de tal modo oculto que nem sempre é evidente para o próprio indivíduo. O comportamento motivado depende de uma dinâmica de forças internas,das relações equilibradas e sadias entre Id, Ego e Superego. O Id é inteiramente inconsciente, mas o Ego e o Superego, em parte, são conscientes. A motivação depende de como o Ego administra as forças do Id, maximizando o prazer e minimizando o desprazer (esta ideia lembra a máxima hedonista, que também aparece nas outras abordagens) e, ao mesmo tempo, atende à necessidade prática de estar no mundo sem submeter-se em exagero ao policiamento do Superego. Para a psicanálise, a natureza das motivações é mais subjetiva, do sujeito e interna, e menos objetiva, do mundo externo e material. É uma combinação complexa que depende de vários fatores e, por isso mesmo, difícil de ser alcançada e mantida. O conceito de ansiedade que a psicanálise traz pode ajudar a entender melhor esse ponto. Quando uma ameaça, que se desenvolveu em qualquer situação, real ou imaginária, em direção ao corpo ou à psique, for muito grande para ser ignorada, dominada ou descarregada, provoca um aumento esperado, pressentido, da tensão ou desprazer. A isso se chama ansiedade, a qual tem relação direta e fundamental com a motivação. 2.6.5 Teoria da motivação-higiene Esta abordagem é muito mais focada no trabalho e alicerçada nas teorias da administração, como a “Teoria X-Teoria Y”, de McGregor, e os sistemas de valores burocráticos ou piramidais e de valores humanísticos ou democráticos, de Argyris. A partir de estudos sobre que tipo de coisas deixava as pessoas satisfeitas e que tipo de coisas deixava as pessoas insatisfeitas no trabalho, Herzberg (1959) concluiu que as pessoas têm duas categorias diferentes de necessidades. Estas necessidades são essencialmente independentes entre si e influenciam o trabalho de maneiras diferentes. Para a primeira categoria de necessidades, deu o nome fatores de higiênicos (com significado médico, preventivo e ambiental) ou de manutenção, e, para a segunda, de motivadores. Os fatores higiênicos ou de manutenção estão relacionados com as condições em que o trabalho é realizado: a política e a administração das empresas, a supervisão, as relações interpessoais, as condições físicas, os salários, a segurança. Não fazem parte intrínseca do trabalho em si, mas estão relacionados com necessidade de se afastarem de condições desagradáveis. Os fatores motivadores envolvem sentimentos realizadores, aspirações individuais de liberdade, criatividade e inovação, do desenvolvimento do potencial humano e de reconhecimento. Essas necessidades de motivação estão diretamente relacionadas com a tarefa e a atividade no trabalho e são capazes de ter um efeito positivo sobre a satisfação no trabalho, resultando, muitas vezes, em um aumento da capacidade produtiva da pessoa e do grupo. 2.6.6 A teoria das necessidades de Maslow 17 O comportamento de uma pessoa, num dado momento, pode ser determinado pela sua necessidade mais intensa. Essas necessidades humanas são de três categorias: as constituídas pelas necessidades biológicas, pelas psicológicas e pelas sociais. Em relação às abordagens anteriores, a novidade é o mesclar de diferentes fundamentos (Figura 2), com ênfase na integração dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais, considerando o ser humano na sua totalidade. O ser humano é visto como eternamente insatisfeito e possuidor de uma série de necessidades que se relacionam entre si por uma escala hierárquica segundo a qual uma necessidade deve estar razoavelmente satisfeita, antes que outra se manifeste como prioritária. Nessa hierarquia, o indivíduo procura satisfazer suas necessidades fisiológicas, fundamentais à existência, e necessidades de segurança, antes de procurar satisfazer as necessidades sociais, as necessidades de estima e autor realização. Nessa abordagem, o conceito de autor realização tem destaque e é definido como a exploração e o uso completo, absoluto, de talentos, capacidades e potencialidades. Autor realizar-se representa fazer de cada escolha uma opção pelo crescimento, sendo que essa escolha pressupõe que o indivíduo esteja sintonizado com sua própria natureza íntima, responsabilizando-se por seus atos, independentemente da opinião dos outros. FIGURA 2 – As necessidades de Maslow e os fatores motivadores de Hersberg 2.7 PAPÉIS A transparência no desempenho de papéis é, para Zimermann e Osório (1997), uma das características de maior relevância que permeiam o campo grupal, pois vão além deste campo, sendo executados, também, em outros aspectos da vida pessoal, familiar, social, escolar, profissional, etc. 18 Os papéis começam a ser delineados no grupo com a distribuição de tarefas e assunção de papéis. Na primeira fase da formação de um grupo, o indivíduo assume papéis que o caracterizam na interação. Assim, pode ser: agressivo, colaborador, criança mimada, chorão, resmungão, retardado crônico e sonolento. Esses papéis se acentuam principalmente quando o indivíduo não é aceito pelo grupo, razão pela qual ele utiliza mecanismos de regressão. Esses indivíduos prejudicam o desenvolvimento da tarefa e dificultam a coesão e a solidariedade do grupo. À medida que esses papéis forem se diluindo com a interação, a atividade se dirigirá cada vez mais para a tarefa. Quando se verifica a aceitação incondicional, recíproca e de cada um pelo líder, o grupo começa a integrar-se e aparecem os chamados papéis sociais: reforçador, mediador, informador e opinador. O líder oportunamente exercerá cada um desses papéis, e criará oportunidades para que todos tenham condições de desempenhar todos esses papéis, assim estabelecendo no grupo, um clima cooperativo, participativo e solidário. A participação ou não participação nas atividades de um grupo leva à criação de papéis de desempenho que nem sempre refletem a realidade. Dessa forma, existem no grupo: o escolhido, o rejeitado e o isolado. Os escolhidos (privilegiados) falam mais, são mais extrovertidos e adquirem poder sobre os demais, passando a manobrar e a controlar as discussões e decisões do grupo. Forçam os outros membros (desprivilegiados) a serem uniformes em suas ideias; estes podem, às vezes, não agirem de modo intempestivo e se tornarem rejeitados pelo grupo, já que foram afastados da tutela dos preferidos porque “não foram sensatos”. Outros não conseguem participar e entregam-se às resistências emocionais, emudecem, aderem ao consenso geral e passam a ter um status social desvalorizado, tornando-se isolados do grupo. Para Pichon-Riviére (apud FREIRE), encontramos os seguintes papéis na constituição de um grupo: Líder de mudança: busca soluções e se arrisca diante das coisas novas; se encarrega de levar adiante tarefas e enfrenta conflitos. Líder de resistência: sabota tarefas, embora suas intenções sejam as melhores, mas poucas vezes as coloca em prática. “Puxa” o grupo para trás, freia; depois que um assunto já está resolvido, volta à pergunta inicial. Importante falar que ambos existem em codependência, necessários para manter o equilíbrio do grupo, pois mostram a vivência de uma relação democrática. Para cada maior acelerada do líder de mudança, maior a freada do líder de resistência. O bode expiatório: é aquele que assume as culpas do grupo, servindo de depositário; livra o grupo dos “mal-estares” que lhe provocam medo, ansiedade, etc. Silencioso: assume as dificuldades dos demais para estabelecer comunicação, fazendo com que o resto do grupo se sinta obrigado a falar. Em algumas situações, provoca críticas nos elementos do grupo, por se omitir e ocultar. Importante exercitar a observação e a leitura sobre o que os silenciosos de um grupo estão querendo falar para poder possibilitara ruptura deste papel de ocultamento e/ou de omissão e não marginalizar estas pessoas, já que elas nunca falam mesmo. Porta-voz: é também chamado de “chaminé” por onde saem as ansiedades do grupo ou de “antena” porque capta de longe o que está por vir. Com muita sensibilidade, 19 esse participante consegue verbalizar os conflitos, sentimentos que estão latentes no discurso do grupo. Importante acrescentar que muitos desses jogos de papéis são estereótipos preciosos e inabaláveis. São um grupo, não um amontoado de indivíduos. 2.7.1 Papéis dos membros No processo de crescimento grupal e também da aprendizagem da facilitação desses processos, frequentemente nos deparamos com dois momentos em especial: ora somos participantes, observadores, ora somos a coordenação de um grupo. Moscovici (1995) aponta alguns papéis de facilitação de tarefas: Instrutor/demonstrador: mostra como algo é feito; tem a facilidade de levar fatos, conceitos, ilustrações e conhecimentos ao grupo. Especialista: oportuniza pesquisas, inovações e conhecimentos especializados. Orientador: utilizando-se de abordagem não-diretiva/condicionante, usa questões de indagação que ampliam o entendimento e a análise técnica do grupo sobre seus problemas. Conselheiro: usa abordagem mais diretiva nas indicações das ações e sugere alternativas sobre o que pode ser feito. Observador/confrontador: registra processos, comportamentos e comenta coisas que existem e como elas estão acontecendo, dá feedback de sentimentos e impressões, usando fatos ocorridos que podem ser confrontados pelos participantes. Pesquisador/indicador: leva o que é necessário para o grupo no sentido de conhecimento básico, fontes de pesquisa, coleta de dados e informações. Elemento de ligação: elabora procedimentos de conexão entre pessoas e recursos e identifica-os entre sistemas e subsistemas, oportunizando, assim, interdependência ativa. Planejador: de acordo com as metas e objetivos estabelecidos, determina a sequência de atividades, limites e pressões, bem como identifica critérios de desempenho para concretização das ações previstas. Gerente: determina fluxo sistemático de eventos, aplica modelos de avaliação de necessidades e planejamento, dirige e controla fluxo de recursos. Diagnosticador: utiliza-se de técnicas de campo de forças, entre outras observações, para determinar por que as coisas aconteceram desta ou daquela forma. Avaliador: elabora referências de critérios e determina resultados e comportamentos específicos. 2.7.1.1 Socioemocional Já nas funções de manutenção do grupo, Benne e Sheats (1961 apud MOSCOVICI, 1995) nos mostram as seguintes como construtivas ou facilitadoras: Conciliador: em situações de conflito, procura rever sua posição e acompanhar o grupo para não chegar a impasses. Mediador: nos momentos mais difíceis, por meio de brincadeiras ou diálogo oportunos, busca resolver as divergências entre os membros e aliviar tensões. 20 Animador: demonstra afeto e solidariedade, aceitação e compreensão de outros pontos de vista, ideias e sugestões; recomenda e elogia as contribuições dos outros. Ouvinte interessado: acompanha com atenção a atividade grupal e aceita as ideias dos outros, servindo de auditório e apoio nas discussões e decisões do grupo. 2.7.1.2 Papéis não-construtivos Em todos os processos de grupo, os membros podem ou não desempenhar esses papéis, dificultando as tarefas, criando obstáculos e canalizando energias e comportamentos que não estão em concordância com o processo e objetivos comuns do grupo. Estes correspondem à necessidade que vão desde motivações pessoais, individualistas, até problemas de personalidade ou, até mesmo, decorrentes de falhas da própria estruturação ou da dinâmica do grupo. Neste cenário, figuram os seguintes papéis: O dominador: busca afirmar sua autoridade ou superioridade, dando ordens incisivas, interrompendo os demais, manipulando o grupo ou alguns de seus membros, adulando ou afirmando seu status superior, entre outras atitudes. O dependente: sob forma de simpatia, busca ajuda dos outros membros do grupo, mostrando carência, autodepreciação ou insegurança. O criador de obstáculos: discorda e opõe-se sem razões, obstrui o processo grupal e é teimoso, chegando à radicalização. O agressivo: ataca o grupo ou assunto discutido, faz ironias ou brincadeiras agressivas, demonstra desaprovação dos valores, atos e sentimentos dos outros. O vaidoso: para afirmar sua superioridade e vantagens em relação aos demais membros, procura chamar a atenção sobre si de várias maneiras, como contando suas realizações e agindo de forma diferente. O reivindicador: manifesta-se como porta-voz de outros (subgrupos ou classes), revelando seus verdadeiros interesses pessoais, preconceitos e dificuldades. O confessante: utiliza-se do grupo como plateia para extravasar seus sentimentos, preocupações ou filosofias pessoais que nada têm a ver com o processo que o grupo vivencia. O gozador: de aparência bem agradável, evidencia, no entanto, completo afastamento do grupo, podendo exibir atitudes cínicas, indiferentes e desagradáveis, estando alheio à preocupação do grupo por meio de poses “estudadas” de observador; diverte-se com as dificuldades e os esforços dos outros. Dependendo das necessidades específicas do grupo, um papel poderá facilitar ou inibir as atividades e o seu desenvolvimento. Para Moscovici (1995), embora, na classificação, os esforços para harmonizar e reconciliar divergências entre os membros figurem como facilitadores, haverá, na vida grupal, momentos em que a descoberta e a explosão dos conflitos latentes, para posterior tentativa e possível resolução dos mesmos, sejam altamente desejáveis para o crescimento das pessoas da equipe, time ou do grupo como um todo. Assim, a competência para conviver em grupo, equipes ou times, é desenvolvida à medida que nos conscientizamos da variedade de papéis exigidos para o desempenho do 21 grupo como um todo e nos sensibilizamos para o que é mais vital à existência do mesmo e de cada participante naquele momento da vida daquele time, grupo, empresa ou instituição, etc. 2.7.2 Liderança, líder e tipos de liderança. A liderança é um processo de estímulo mútuo, pelo qual, por meio de ações recíprocas bem-sucedidas, as diferenças individuais são controladas e a energia humana que delas deriva é encaminhada em benefício de uma causa comum. É o processo de influenciar pessoas por meio de ideias. Líder é aquele que, em uma dada situação social, influencia, por suas ideias e ações, o pensamento e as atitudes dos outros. Líder que dá destaque ao indivíduo é mais personalista. Andreola (1992) também contribui para o entendimento da temática da liderança quando apresenta tipo e formas de liderança: Líder autocrático: autoritário, concentra o poder de decisão, dita sozinho as normas e atividades do grupo – proíbe, ameaça, exige e castiga. É ditador. Líder paternalista: mantém o grupo dependente por meio de superproteção e assistencialismo; não valoriza iniciativas, não promove lideranças; todos devem recorrer a ele para soluções. Líder laissez-faire: “deixa rolar”, não assume, não dirige, não coordena, é inseguro; o grupo se desintegra pelo desinteresse ou pelos conflitos que se criam. Líder democrático: valoriza as ideia e iniciativas do grupo, coordena, anima, oportuniza a participação, a cooperação e o surgimento de lideranças. Cria clima de liberdade, de comunicação e integração. Andreola (1992) elucida que, para alguns autores, a denominação de líder é apenas parao democrático, enquanto que, como termo genérico, vale para todo o termo dirigente, estando implícito no processo de influência social que caracteriza essa relação. Quanto à liderança situacional, a teoria mais atualizada é chamada de “trilha-meta” de liderança, que utiliza o modelo de expectativa da teoria motivacional de processo, no reconhecimento explícito da relação existente entre liderança, motivação e poder. Esta teoria procura explicar o impacto do comportamento do líder sobre a motivação, a situação e o desempenho dos membros do grupo. De acordo com a teoria motivacional de expectativa, o comportamento do líder será aceitável para os liderados se for percebido como uma fonte de satisfação imediata ou instrumental à satisfação futura. Este tipo de liderança apresenta três variáveis básicas de situação: a) relações membro-líder: como são as relações interpessoais, b) estrutura tarefa: grau de estrutura da tarefa a executar e c) poder de posição: poder e autoridade inerentes à posição do líder. 2.7.3 Tomada de decisão Tomar decisões é identificar e selecionar um curso de ação para lidar com um problema específico ou extrair vantagens em uma oportunidade. A tomada de decisão é o processo de escolher um curso de ação entre várias alternativas para se defrontar com um 22 problema ou oportunidade, sendo que resolver problemas pode requerer mais de uma decisão a tomar. A tomada de decisões sempre lida com problemas. Problema é tudo aquilo que está fora do estabelecido e que bloqueia o alcance dos resultados esperados. Em muitos casos, o problema pode ser uma oportunidade a ser aproveitada. Oportunidade é uma situação que ocorre quando as circunstâncias oferecem uma chance para a organização exceder seus objetivos estabelecidos. Os administradores se defrontam com muitos problemas e oportunidades; portanto, precisam reconhecer realmente quais são os problemas e quais são as oportunidades. Geralmente, reconhecer a existência de um problema é o primeiro passo para reconhecer a existência de uma oportunidade. Todas as pessoas, especialmente os gestores, tomam decisões todos os dias. Definem o problema, reúnem informação, identificam e avaliam as alternativas e finalmente decidem o que fazer. As condições sob as quais os indivíduos numa organização tomam decisões refletem as forças ambientais, o desenvolvimento e os acontecimentos que estes indivíduos são incapazes de controlar, mas que podem, no futuro, influenciar os resultados das decisões. O impacto destas decisões são sempre sentidos mais cedo ou mais tarde. A certeza é a condição em que as pessoas estão completamente informadas acerca do problema, em que as soluções alternativas são óbvias e os resultados prováveis de cada solução são claros. Neste caso, as pessoas podem optar por antecipar acontecimentos e resultados. Esta condição significa que as alternativas são conhecidas e bem definidas. A partir do momento em que são identificadas soluções alternativas e os resultados esperados, tomar a decisão é relativamente simples. Quem toma a decisão apenas escolhe a solução que apresenta o melhor potencial resultante. Risco é a condição que possibilita às pessoas definir um problema, especificar a probabilidade de certos acontecimentos, identificar soluções alternativas e formular a possibilidade de cada solução levar aos resultados desejados. Risco normalmente significa que o problema e as soluções alternativas estão entre o extremo de solução bem conhecida e definida e o extremo oposto de solução invulgar e ambígua. Nesta condição, surge um novo conceito: probabilidade. Probabilidade é a percentagem de vezes que um resultado específico ocorreria se um indivíduo tomasse uma determinada decisão um grande número de vezes. A probabilidade de um resultado específico ocorrer baseado em fatos difíceis e números é conhecida como probabilidade objetiva. A probabilidade de um resultado específico ocorrer baseado em julgamentos e convicções pessoais é conhecida como probabilidade subjetiva. Incerteza é a condição em que um indivíduo não tem a informação necessária para atribuir probabilidade para os resultados das soluções alternativas. De fato, o indivíduo pode mesmo não ser capaz de definir o problema, quanto mais identificar soluções alternativas e possíveis resultados. A incerteza frequentemente sugere que o problema e as soluções alternativas são ambíguos e altamente incomuns. O processo decisorial é complexo e se desenvolve por meio de seis etapas: 1. Identificar a situação: este primeiro estágio de investigação procura mapear e identificar a situação, o problema ou a oportunidade. Qual é a essência do problema ou da oportunidade? Verificar a situação global, e não apenas uma parte dela. 23 2. Obter informação sobre a situação: este segundo estágio, também de investigação, é a busca de informação sobre a situação, problema ou oportunidade. O levantamento de dados e de informações é fundamental para reduzir a incerteza a respeito da situação ou do problema. • Buscar dados, fatos e informações a respeito (situação interna e externa). • Envolver o cliente ou usuário. 3. Gerar soluções alternativas de ação: é o estágio para o desenvolvimento de alternativas de solução. Quando as decisões são programadas, torna-se fácil criar alternativas. Desenvolver várias alternativas de solução. Usar criatividade e inovação. Avaliar a relação custo/benefício de cada alternativa. 4. Avaliar as alternativas e escolher a solução ou curso de ação preferido: neste estágio, as alternativas são avaliadas e comparadas a fim de escolher a mais adequada à solução. Avaliar as alternativas geradas: custo, tempo, eficácia. Escolher a alternativa mais adequada para a situação. 5. Transformar a solução ou curso de ação escolhido em ação efetiva: implementar uma decisão envolve mais do que simplesmente dar ordens. Implementar a solução escolhida. Ser prático para colocar a solução em ação. 6. Avaliar os resultados obtidos: é o último estágio, durante o qual os resultados da solução são monitorados e avaliados. Verificar se o problema foi realmente resolvido. Avaliar os resultados e as consequências. No processo de tomada de decisão, é importante ter disponíveis dados, informações e conhecimentos, os quais normalmente estão dispersos, fragmentados e armazenados na mente das pessoas. Nesse momento, o processo de comunicação, o trabalho em equipe e a liderança adequada desempenham papéis relevantes para resolver algumas das dificuldades essenciais no processo de tomada de decisão. A tomada de decisão nas organizações exige cada vez mais trabalhos em equipe e maior participação das pessoas. Assim sendo, o líder passa a atuar não individualmente, mas em equipe. Isto consiste em considerar o ponto de vista de cada um para que as decisões tomadas nas organizações tenham qualidade superior. O trabalho em equipe coloca em evidência os procedimentos de diálogo baseados na ideia de que, em uma organização, a comunicação deve ser estimulada. A tomada de decisão que envolve um maior número de pessoas tende a resultados mais qualificados, aumentando o conhecimento da situação de decisão, amenizando, pela agregação de informações e conhecimentos, as distorções da visão individualizada. Ouvir e tentar compreender as diferentes visões leva ao aprimoramento das decisões. As decisões tomadas em equipe tendem a ser mais sólidas que as tomadas individualmente, apesar de normalmente demandarem mais tempo. 24 Para alavancar a qualidade das decisões, é necessária tanto a melhoria da comunicação quanto o envolvimento
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