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Literatura Informativa ESTÁCIO DE SERGIPE – PROFESSOR: JOÃO PAULO LIMA CUNHA Aracaju, 20 de fevereiro de 2018. Imagem: Oscar Pereira da Silva / Desembarque de Pedro Álvares Cabral em Porto Seguro em 1500, 19002 / Museu Paulista / Public Domain. O Descobrimento do Brasil e o Quinhentismo • O que eles queriam aqui? • O que eles pensavam de nós e o que pensávamos deles? • Índios x portugueses Dia do Descobrimento 22 de Abril. Im a g e m : M a p a d e L u ís T e ix e ir a ( c . 1 5 7 4 ) c o m a d iv is ã o d a A m é ri c a p o rt u g u e s a e m c a p it a n ia s , 1 5 7 4 / B ib lio te c a d a A ju d a , L is b o a / D o m ín io P ú b lic o . SÉCULO XVI A EXPLORAÇÃO • O 1º produto que atraiu a atenção dos portugueses para a nova terra foi o pau-brasil. Im a g e m : A n d ré T h e v e t / P u b lic D o m a in . QUINHENTISMO Período: Século XVI Início: 1500 - “Carta de Achamento do Brasil”, de Pero Vaz de Caminha. Término: 1601- “Prosopopeia”, de Bento Teixeira. Imagem: Francisco Aurélio de Figueiredo e Melo / Public Domain. Alfredo Bosi (2000) afirma que enquanto informação esse material não pertence à categoria do literário; porém, dada à sua inestimável riqueza sociológica e historiográfica, contribui para a montagem de um painel das nossas origens e formação. QUINHENTISMO • Os escritos dos cronistas e viajantes eram uma tentativa de descrever e catalogar a terra e o povo recém-descoberto. • um gênero representado durante o século XV em Portugal e Espanha: a literatura de viagens. • A essa descrição, no entanto, acrescentavam-se elementos mágicos e características muitas vezes fantásticas. Imagem: Carta de Pero Vaz de Caminha ao Rei D. Manoel / Public Domain. Carta de Pero Vaz de Caminha [...] Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito, segundo disseram os navios pequenos, por chegarem primeiro. Então lançamos fora os batéis e esquifes, e vieram logo todos os capitães das naus a esta nau do Capitão - mor, onde falaram entre si. E o Capitão - mor mandou em terra no batel a Nicolau Coelho para ver aquele rio. E tanto que ele começou de ir para lá, acudiram pela praia homens, quando aos dois, quando aos três, de maneira que, ao chegar o batel à boca do rio, já ali havia dezoito ou vinte homens. Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram. Imagem: Ships through ages / Boston Public Library / Creative Commons Attribution 2.0 Generic. Analisando a Carta • principais características das cartas: • Espírito de fidelidade e submissão ao rei • Posto que o Capitão-mor desta Vossa frota, e assim os outros capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia do achamento desta Vossa terra nova, que se agora nesta navegação achou, não deixarei de também dar disso minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que -- para o bem contar e falar -- o saiba pior que todos fazer! Im a g e m : A u to r D e s c o n h e c id o , 1 5 0 9 / B a tt le o f D iu / P u b lic D o m a in . Analisando a Carta • principais características das cartas: • Caráter Historiográfico • “Estamos a escrever da vossa Ilha da Vera Cruz, hoje, sexta-feira, primeiro de maio de 1500”. • Forma de diário de bordo. Im a g e m : A u to r D e s c o n h e c id o , 1 5 0 9 / B a tt le o f D iu / P u b lic D o m a in . Nativismo • A feição deles é serem pardos maneiras d’avermelhados, de rostos regulares e narizes bem feitos; andam nus sem nenhuma cobertura; nem se importam de cobrir nenhuma cousa, nem de mostrar suas vergonhas. E sobre isso são tão inocentes, como em mostrar o rosto. Traziam os beiços de baixo furados e, cada um, metidos neles ossos de osso mesmo, brancos. (...) metem-nos pela parte de dentro do beiço. Os seus cabelos são corredios; e andavam tosquiados de tosquia mais alta que sobre-pente de bom tamanho e raspados até acima das orelhas. (VOGT, 1982, p. 13). Imagem: Hércules Florence / Índios apiaká no rio Arinos, Mato Grosso , 1827/ Domínio Público. Preocupação em catequização indígena Parece-me gente de tal inocência que, se nós entendêssemos a sua fala e eles a nossa, seriam logo cristãos, visto que não têm nem entendem crença alguma, segundo as aparências. • [...] durante a celebração [da Primeira Missa] quando levantaram a deu, que nos pusemos de joelhos, eles se puseram assim todos, como nós estávamos com as mãos levantadas, e em tal maneira sossegados, que certifico a Vossa Alteza, nos fez muita devoção. (p. 23). Imagem: Victor Meirelles / Primeira missa no Brasil,1860 / Domínio Público. Ufanismo e preocupação mercantilista Até agora, não pudemos saber se há ouro ou prata nela, ou outra coisa de metal, ou ferro; nem lha vimos. Contudo a terra em si é de muito bons ares frescos e temperados como os de Entre-Douro-e-Minho, porque neste tempo d'agora assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas; infinitas. Em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo; por causa das águas que tem! Imagem: Adelano Lázaro / Cachoeira de Santa Bárbara - Cavalcante - Goiás - Brasil / Domínio Público função de mensageira da verdade • “Mas tome Vossa alteza minha ignorância por boa vontade; e creia, como certo, que não hei de pôr aqui mais que aquilo que vi e me pareceu, nem para aformosear nem para afear” Imagem: Adelano Lázaro / Cachoeira de Santa Bárbara - Cavalcante - Goiás - Brasil / Domínio Público função de mensageira da verdade • Essa terra, Senhor, me parece que da ponta que mais contra o sul vimos, até à outra ponta que contra o norte vem, será tamanha que haverá nela bem 20 ou 25 léguas por costa. Traz, ao longo do mar, em algumas partes, grandes barreiras, algumas vermelhas, algumas brancas; e a terra por cima é toda plana e muito cheia de grandes arvoredos. De ponta a ponta é toda praia rasa, muito plana e bem formosa. Pelo sertão, pareceu-nos do mar muito grande, porque a estender a vista não podíamos ver senão terra e arvoredos, parecendo-nos terra muito longa. Nela, ate agora, não pudemos saber que haja ouro nem prata, nem nenhuma coisa de metal, nem ferro; nem a vimos. Mas a terra em si é muito boa de ares, tão frios e temperados, como os de Entre-Douro e Minho, porque, nesse tempo de agora, assim os achávamos como os de lá. Águas são muitas e infindas. De tal maneira é graciosa que querendo aproveitá-la dar-se-á por bem das águas que tem. Mas o melhor fruto que nela se pode fazer, me parece que será salvar esta gente; e esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza nela deve lançar. (...) QUINHENTISM0 A produção literária no Brasil-Colônia Ainda não havia condições essenciais sólidas para o florescimento da literatura (público leitor ativo e influente,grupos de escritores atuantes, vida cultural rica e abundante, sentimento de nacionalidade, liberdade de expressão, imprensa e gráficas). Não se pode falar numa literatura propriamente brasileira. É uma literatura sobre o Brasil, de caráter meramente informativo. Duas manifestações literárias: Literatura informativa (material) e Literatura dos jesuítas (catequese) (2). QUINHENTISMO ( Séc. XVI ) • Literatura Informativa (viagens): • Cartas de viagem • Diários de navegação • Tratados descritivos • Textos em prosa • Objetivo: narrar e descrever as viagens e os primeiros contatos com a terra e nativos Im a g e m : J e a n d e L é ry / H is to ri a n a v ig a ti o n is i n B ra s ili a m .. . G e n e v a , 1 5 8 6 / U n it e d S ta te s P u b lic D o m a in . Principais produções literárias no Brasil-Colônia: • A Carta, de Pero Vaz de Caminha; • O Diário de navegação, de Pero Lopes de Sousa (1530); • O Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamamos Brasil, de Pero de Magalhães Gândavo (1576); • O Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587); • Os Diálogos das grandezas do Brasil, de Ambrósio Fernandes Brandão (1618); • As cartas dos missionários jesuítas escritas nos dois primeiros séculos de catequese; • A História do Brasil, de Frei Vicente do Salvador (1627); • As Duas viagens do Brasil, de Hans Staden (1557); • A Viagem à terra do Brasil, de Jean de Léry (1578). Índios Renato Russo Quem me dera, ao menos uma vez, Ter de volta todo o ouro que entreguei A quem conseguiu me convencer Que era prova de amizade Se alguém levasse embora até o que eu não tinha. Quem me dera, ao menos uma vez, Esquecer que acreditei que era por brincadeira Que se cortava sempre um pano-de-chão De linho nobre e pura seda. Quem me dera, ao menos uma vez, Explicar o que ninguém consegue entender: Que o que aconteceu ainda está por vir E o futuro não é mais como era antigamente. Quem me dera, ao menos uma vez, Provar que quem tem mais do que precisa ter Quase sempre se convence que não tem o bastante E fala demais por não ter nada a dizer Quem me dera, ao menos uma vez, Que o mais simples fosse visto como o mais importante Mas nos deram espelhos E vimos um mundo doente. Quem me dera, ao menos uma vez, Entender como um só Deus ao mesmo tempo é três E esse mesmo Deus foi morto por vocês - É só maldade então, deixar um Deus tão triste. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho. Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim, Quando descobri que é sempre só você Que me entende do início ao fim E é só você que tem a cura para o meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Quem me dera, ao menos uma vez, Acreditar por um instante em tudo que existe E acreditar que o mundo é perfeito E que todas as pessoas são felizes. Quem me dera, ao menos uma vez, Fazer com que o mundo saiba que seu nome Está em tudo e mesmo assim Ninguém lhe diz ao menos obrigado. Quem me dera, ao menos uma vez, Como a mais bela tribo, dos mais belos índios, Não ser atacado por ser inocente. Eu quis o perigo e até sangrei sozinho. Entenda - assim pude trazer você de volta prá mim, Quando descobri que é sempre só você Que me entende do início ao fim E é só você que tem a cura para o meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto De tudo que eu ainda não vi. Nos deram espelhos e vimos um mundo doente Tentei chorar e não consegui. Outros Cronistas O cronista Pero Lopes de Sousa, que acompanhou seu irmão Martim Afonso de Sousa em 1530 na expedição ao Brasil, escreveu o minucioso relato de bordo Diário da Navegação da armada durante a exploração do Rio da Prata, mas somente em 1838 foi publicado pelo historiador Varnhagen. Fala das condições geográficas como longitude, latitude, ventos, etc., narra episódios concernentes ao contato com os índios, na batalha contra os franceses no litoral pernambucano e baiano, na fundação de São Vicente e na sua expedição em terra. Registra, principalmente, relatos da sua gente, da fauna e da flora, constituindo-se muito mais um importante documento da nossa historiografia sócio-geográfica. Outros Cronistas Pêro Magalhães de Gândavo, autor das obras História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil e Tratado da Província do Brasil – 1570 . Ambas as obras são uma ‘propaganda’ da imigração, pois tratam dos bens e do clima maravilhoso da colônia. “A causa principal que me obrigou a lançar mão da presente história, e sair com ela à luz, foi por não haver até agora pessoa que a empreendesse, havendo já setenta e tantos anos que esta província é descoberta” (p. 15). Outros Cronistas Gabriel Soares de Sousa nasceu em Portugal em 1540; por volta de 1570, vem para o Brasil e instala-se na Bahia, onde enriquece e torna-se vereador daquele lugar. Tratado Descritivo do Brasil como a fonte mais rica de informações sobre a colônia no século XVI; informações sobre a costa brasileira, a fauna e a flora da Bahia, e os capítulos sobre os gentios (índios) acercam-se do relatório etnográfico, pois não só cobrem a informação básica, da cultura material à religiosa, como apontam traços peculiares: descrevem os suicidas comedores de terras, os exibicionistas e os feiticeiros chamadores da morte. Outros Cronistas Jean de Lery – Viagem à terra do Brasil Quando cheguei ao país e me pus a aprender-lhes a língua, escrevia sentenças e depois as lia diante deles; e julgavam que era feitiçaria, e diziam uns aos outros: "Não é maravilhoso que quem ontem não sabia uma palavra de nosso idioma possa hoje ser entendido com um pedaço de papel?" Essa é também a opinião dos selvagens das ilhas espanholas, que foram os primeiros a emiti-la, pois diz o autor de sua história que vendo os espanhóis se entenderem de longe por meio de cartas os imaginaram dotados do dom de profecia, ou que as missivas falassem. E acrescenta ele que os selvagens, temerosos de serem descobertos, não mais mentiam aos espanhóis e lhes obedeciam cegamente. Eis portanto aí um tema de dissertação suscetível de mostrar que os habitantes da Europa, da Ásia e da África devem louvar a Deus pela sua superioridade sobre os dessa quarta parte do mundo. Ao passo que os selvagens nada podem comunicar-se entre si a não ser pela palavra, nós, ao contrário, podemo-nos entender e dizer os nossos segredos, por meio da escrita, pelas cartas que enviamos de um a outro extremo da terra. Além da invenção da escrita, os conhecimentos de ciência que aprendemos pelos livros e que eles ignoram, devem ser tidos como dons singulares que Deus nos concedeu. Obrigado!
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