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Direitos Humanos Aula 9 - O Sistema Interamericano de DH e sua proteção INTRODUÇÃO Agora estudaremos com mais profundidade o sistema regional de DH referente às Américas, chamado de Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH), como já vimos. Nesta aula, examinaremos os mecanismos de proteção do sistema que fundamentalmente se apoiam em dois órgãos: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos. Iniciaremos nossos estudos apresentando a Comissão Interamericana de DH, que é a instância disponível ao indivíduo que vê seus direitos decorrentes do Pacto de San José e do Protocolo de San Salvador violados. Conheceremos sua forma de composição e �nalidades. Consideraremos ainda a atuação da Comissão, chamando atenção para a forma de acesso à Comissão, bem como os resultados possíveis advindos de uma denúncia. Analisaremos a submissão do Brasil à Comissão. Para encerrar nossas considerações sobre a CIDH, estudaremos as medidas cautelares. Em seguida, esclareceremos a Corte Interamericana, mais conhecida como Corte de San José da Costa Rica. Abordaremos suas �nalidades de natureza consultiva e contenciosa. Esta última merecerá uma investigação mais aprofundada, pois estudaremos não só a composição da Corte, mas também a forma de acesso, por Estados Membros da OEA ou pela CIDH. Analisaremos seus procedimentos, chamando atenção para a necessidade de esgotamento da jurisdição interna como requisito de admissibilidade dos casos propostos perante a Corte. Por �m, veremos a importância dada ao mecanismo de cumprimento de sentenças da Corte. OBJETIVOS Examinar a Comissão Interamericana de DH; Conhecer a Corte Interamericana de DH; Compreender as funções da Comissão e da Corte, sua composição, legitimados e procedimentos. OEA ACEITA DENÚNCIAS CONTRA JUSTIÇA BRASILEIRA Para iniciar nossa aula, leia a matéria publicada pela CONJUR em fevereiro de 2012 (glossário), sobre as denúncias envolvendo o Brasil na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). Na matéria jornalística, várias questões são colocadas que tangenciam diretamente o tema de nosso curso sobre DH, em especial, as questões abordadas dialogam com a nossa aula. QUESTÕES GERAIS Conforme discutimos na aula passada, o Sistema Interamericano de Direitos Humanos (SIDH) iniciou-se formalmente com a aprovação da Declaração Americana de Direitos e Deveres do Homem na Nona Conferencia Internacional Americana realizada em Bogotá em 1948, onde também foi adotada a própria Carta da OEA, que a�rma os “direitos fundamentais da pessoa humana” como um dos princípios fundadores da Organização. O respeito pleno aos direitos humanos aparece em diversas sessões da Carta. De acordo com esse instrumento, O SIDH, sob o aspecto dos mecanismos de proteção, aqui vistos como elementos jurisdicionais, baseia-se, fundamentalmente, no trabalho de dois órgãos: Comissão Interamericana de Direitos Humanos Corte Interamericana de Direitos Humanos Isso quer dizer que os órgãos do sistema têm competência para atuar quando um Estado-Parte for acusado da violação de alguma cláusula contida em um tratado ou convenção interamericana. Como registra Luiz Flávio Gomes (2016), “a Comissão e a Corte atuam de acordo com as faculdades que lhes foram outorgadas por distintos instrumentos legais, no decorrer da evolução do sistema interamericano. Apesar das especi�cidades de cada órgão, em linhas gerais os dois supervisionam o cumprimento, por parte dos Estados, dos tratados interamericanos de direitos humanos e têm competência para receber denúncias individuais de violação desses tratados”. Continua o citado professor que esses órgãos “constituem nossa quinta instância (emblemáticos, da atuação deles, são os casos Ximenes Lopes (glossário) e Maria da Penha (glossário))”. A COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CIDH) O que é a CIDH? A CIDH é um órgão autônomo da Organização dos Estados Americanos (OEA), encarregado da promoção e proteção dos direitos humanos no continente americano. COMPOSIÇÃO E SEDE É integrada por sete membros independentes, eleitos a título individual, pela Assembléia da OEA, a partir de uma lista de candidatos proposta pelos governos dos Estados Membros. São eleitos para um período de quatro anos, e apenas uma reeleição é permitida. Os membros atuam de forma autônoma e pessoal, não sendo assim representantes do país de sua nacionalidade ou do local onde residem. Composição atual da Comissão: Da esquerda para direita: Enrique Gil Botero, José de Jesús Orozco Henríquez, Margarette May Macaulay, Esmeralda Arosemena de Troitiño, Paulo Vannuchi, Francisco José Eguiguren Praeli y James L. Cavallaro. Fonte: CIDH A sede da CIDH está localizada em Washington, D.C. EUA. Embora os Estados Unidos sejam membro da OEA, o país não assinou o Pacto de San José. SUA CRIAÇÃO Foi criada pela OEA em 1959 e, juntamente com a Corte Interamericana de Direitos Humanos (CorteIDH), instalada em 1979, integrando o Sistema Interamericano de proteção dos direitos humanos (SIDH). FINALIDADE DA CIDH A Carta estabelece a Comissão como órgão principal da OEA, que tem como função promover a observância e a defesa dos direitos humanos e servir como órgão consultivo da OEA nesta matéria. A CIDH mantém, além disso, atribuições adicionais e anteriores à Convenção e que não derivam diretamente dela, sendo estas, entre outros, a de processar petições individuais relativas a Estados que ainda não são parte da Convenção. A CIDH realiza seu trabalho com base em três pilares: Sistema de Petição Individual (glossário); Monitoramento da situação dos direitos humanos nos Estados Membros; Atenção a linhas temáticas prioritárias. Por meio dessa estrutura, a Comissão considera que, no contexto da proteção dos direitos de toda pessoa sob jurisdição dos Estados americanos, é fundamental dar atenção às populações, comunidades e grupos historicamente submetidos à discriminação, tais como crianças e adolescentes, mulheres, trabalhadores migrantes, pessoas privadas de liberdade, povos indígenas e afrodescendentes, entre outros. De forma complementar, outros conceitos formam seu trabalho: O princípio pro homine, segundo o qual a interpretação de uma norma deve ser feita da maneira mais favorável ao ser humano; A necessidade de acesso à justiça; A incorporação da perspectiva de gênero em todas suas atividades. O ACESSO À CIDH O acesso à Comissão (assim como à Corte Interamericana) ocorre por meio de uma denúncia e está sujeito ao cumprimento de certos requisitos formais e substantivos. Qualquer pessoa ou organização pode se dirigir à Comissão (independentemente de advogado) e de forma gratuita, apresentar uma petição (glossário), em seu nome próprio ou em favor de uma terceira pessoa. A petição pode ser entregue pessoalmente, encaminhada por e-mail, postada no site da Comissão ou mesmo pelos Correios. A petição deverá conter: PROCEDIMENTOS E RESULTADOS NA COMISSÃO Basicamente, o procedimento na Comissão tem uma fase inicial de conciliação. Se infrutífera, passa-se à fase de produção de provas e de decisão. Uma denúncia formulada por petição na Comissão pode ser inadmitida por ausência de atendimento a algum requisito formal. Admitida a denúncia será possível: Arquivamento (por ausência de provas do alegado ou); Realização de um acordo (chamado de solução amistosa); Admissão da denúncia que levará a um procedimento com possibilidade de produção de prova e defesa do estado, podendo culminar com reconhecimento de violação de um direito (previsto na convenção americana) pelo estado. No caso do reconhecimento da violação, temos a publicação de um relatório, com uma possível ação judicial perante a Corte. Muitas vezes, a questão na Comissão se encerra com o relatório apenas. No relatório, a CIHD, pode determinar: A suspensão dos atos que causam violação de direitoshumanos; A investigação e punição dos responsáveis; A reparação de danos ocasionados; A introdução de mudanças no ordenamento jurídico; O requerimento de adoção de outras medidas ou ações estatais. A Comissão, como primeiro órgão a tomar conhecimento de uma denúncia, é a primeira instância de acesso individual à proteção do sistema, funcionando como sua porta de entrada. Apenas em uma segunda etapa é que a própria Comissão poderá levar a denúncia perante a Corte, como veremos em seguida. VOCÊ SABIA? No que toca ao Brasil, a Comissão pode receber denúncias de violações perpetradas a partir da Declaração Americana (1948) e da Convenção Americana rati�cada pelo Brasil em novembro de 1992. Até dezembro de 2011, a Comissão recebeu varias dezenas de milhares de petições, que se concretizaram em 19.423 casos processados ou em processamento. Os informes �nais, publicados com relação a estes casos, podem ser encontrados nos informes anuais da Comissão ou por país. AS MEDIDAS CAUTELARES Há ainda o mecanismo de medidas cautelares previsto no artigo 25 do Regulamento da CIDH. Em síntese: Grá�co disponível em: http://noticias.uol.com.br (glossário) A CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS (CORTE IDH) O que é a Corte IDH? A Corte Interamericana é um dos três tribunais regionais de proteção dos Direitos Humanos, conjuntamente com a Corte Europeia de Direitos Humanos e a Corte Africana de Direitos Humanos e dos Povos. É uma instituição judicial autônoma cujo objetivo é aplicar e interpretar a Convenção Americana. VOCÊ SABIA? Como o Brasil só reconheceu a jurisdição contenciosa da Corte em 10 de dezembro de 1998, só podem ser apresentadas a ela denúncias de violações ocorridas após essa data. VÍDEO Em novembro de 2011, em Tribunal Superior do Trabalho (TST), em Brasília, a Corte se reuniu em Sessão Pública no Caso de Rodríguez-Vera e outros (glossário) (Desaparecidos do Palácio de Justiça) vs. Colombia. FUNÇÕES DA CORTE A Corte Interamericana exerce: Uma função consultiva (glossário); A função de ditar medidas provisórias (glossário). Uma função contenciosa, dentro da qual se encontra a resolução de casos contenciosos e o mecanismo de supervisão de sentenças; FLUXOGRAMA DOS PROCEDIMENTOS PERANTE A CORTE Os casos perante a Corte seguem o seguinte �uxograma: Os casos resolvidos pela Corte Interamericana costumam converter-se em casos emblemáticos e em uma fonte de inspiração doutrinária e jurisprudencial para os Tribunais Nacionais, já que os mesmos tratam sobre questões transcendentes que requerem uma solução à luz da Convenção Americana. MECANISMO DE SUPERVISÃO DO CUMPRIMENTO DE SENTENÇAS A supervisão do cumprimento das resoluções da Corte implica, em primeiro termo, que esta solicite informação ao Estado sobre as atividades desenvolvidas para os efeitos de dito cumprimento no prazo outorgado pela Corte, assim como recolher as observações da Comissão e das vítimas ou seus representantes. Uma vez que o Tribunal tem essa informação, pode apreciar se houve cumprimento da decisão, orientar as ações do Estado para este �m e cumprir com a obrigação de informar à Assembleia Geral sobre o estado do cumprimento dos casos que lhe são submetidos. Ademais, quando pertinente, o Tribunal convoca o Estado e os representantes das vítimas a uma audiência para supervisionar o cumprimento de suas decisões e nesta escutar o parecer da Comissão. VÍDEO Assista ao vídeo 3 perguntas para a Corte Interamericana de Direitos Humanos, para relembrar nossos estudos. ATIVIDADES Vimos que há muitos tratados e órgãos internacionais voltados para a proteção de DH. Ora, em uma situação de violação que nos chega ou mesmo que vivenciamos, qual sistema de proteção devemos escolher? Leia o texto (glossário) de Alejandro Garro, que é a transcrição editada da palestra que foi proferida no II Colóquio Internacional de Diretos Humanos, realizado na cidade de São Paulo em maio de 2002, para formular sua resposta. Resposta Correta EXERCÍCIOS 1. Direito Internacional ― XIV Exame de Ordem Na hipótese de inadimplência do Estado brasileiro, condenado ao pagamento de quantia certa pela Corte Interamericana de Direitos Humanos, deverá o interessado: Executá-la perante a Justiça Federal pelo processo interno vigente para a execução de sentenças contra o Estado. Pedir que os autos do processo sejam encaminhados ao Conselho de Segurança da ONU para a imposição de sanções internacionais. Reinvindicar pelo processo vigente no país, porque as sentenças proferidas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos são desprovidas de executoriedade. Postular perante a Corte a intimação do Estado brasileiro para efetuar o pagamento em vinte e quatro horas ou nomear bens à penhora. Justi�cativa 2. Julgue a a�rmação a seguir, se VERDADEIRA ou FALSA. “De acordo com a Convenção Americana, só os Estados Partes e a Comissão têm direito a submeter um caso à decisão da Corte. Em consequência, o Tribunal não pode atender petições formuladas por indivíduos ou organizações. Desta maneira, os indivíduos ou organizações que considerem que existe uma situação violadora das disposições da Convenção e desejem acudir ao Sistema Interamericano, devem encaminhar suas denúncias à Comissão Interamericana, a qual é competente para conhecer de petições que lhe apresente qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida que contenham denúncias ou queixas de violação da Convenção por um Estado Parte”. Verdadeira Falsa Justi�cativa 3. Julgue a a�rmação abaixo, se VERDADEIRA ou FALSA. “A Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em São José da Costa Rica, é um órgão judicial internacional autônomo do sistema da OEA, criado pela Convenção Americana dos Direitos do Homem, que tem competência de caráter contencioso e consultivo. A jurisdição da Corte se estende a todos os países membros da OEA.” Verdadeira Falsa Justi�cativa Glossário CASO XIMENES LOPES Este é o primeiro caso julgado, no mérito, pela Corte Interamericana contra o Brasil, em 2006, no qual o país foi de forma inédita responsabilizado internacionalmente por violação aos DH de pessoas portadoras de transtornos mentais. Trata-se do caso de Damião Ximenes Lopes que, em razão de maus-tratos e abusos sofridos em clínica psiquiatra, em Sobral, no Ceará, à época credenciada ao SUS, vem a falecer. O Estado brasileiro foi condenado a indenizar a família sob o aspecto moral e material, além de ser instado a rever sua política de saúde mental, sendo pressionado a implementar mudanças importantes nessa área, tanto em nível legislativo quanto no que toca a gestão e prestação de serviços. Decisão da corte: Caso Ximenes Lopes vs . Brasil. Sentença de 04 de julho de 2006. Mérito, Reparações e Custas. Disponível em: http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf (http://www.corteidh.or.cr/docs/casos/articulos/seriec_149_por.pdf). Acesso em: 22 maio 2016. CASO MARIA DA PENHA O caso Maria da Penha, apresentado em agosto de 1998, evidenciou a demora da justiça penal brasileira em julgar a tentativa de homicídio intentada contra Maria da Penha por seu ex-esposo. Passaram-se de 15 anos sem que houvesse uma sentença de�nitiva. A Comissão solicitou ao Estado brasileiro que, entre outras medidas, completasse rápida e efetivamente o processamento penal da tentativa de homicídio, investigasse irregularidades do processo ou irregularidades que levaram à demora injusti�cada, e indenizasse a vítima. Não houve, porém, denúncia oferecida à Corte Interamericana. O Relatório �nal nº 54/01 da Comissão é comunicado ao Brasil em 13/03/2001, e a Comissão decide torná-lo público e incluí-lo em seu Relatório Anual à Assembleia Geral da OEA. Em 2006, é sancionada a lei federal 11340, conhecida como "Lei Maria da Penha", que garante o direito das mulheres contra a violênciadoméstica. Disponível em: http://www.sbdp.org.br/arquivos/material/299_Relat%20n.pdf (http://www.sbdp.org.br/arquivos/material/299_Relat%20n.pdf). Acesso em: 23 mai. 2016. SISTEMA DE PETIÇÃO INDIVIDUAL Conforme esclarece a própria OEA, “mediante a apresentação de uma petição perante a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), as pessoas que sofreram violações a seus direitos humanos podem obter ajuda. A Comissão investiga a situação e pode formular recomendações ao Estado responsável para que se restabeleça o gozo dos direitos na medida do possível, para que situações similares não ocorram novamente no futuro e para que os fatos ocorridos sejam investigados e reparados”. PETIÇÕES - RESULTADOS NA CIDH Os resultados das petições na CIDH, envolvendo o Brasil, estão disponíveis no site da Comissão. As soluções amistosas podem ser consultadas em: http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/amistosas.asp (http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/amistosas.asp) As soluções de mérito em: http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/fondo.asp (http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/fondo.asp) Os arquivamentos em: http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/archivos.asp (http://www.oas.org/pt/cidh/decisiones/archivos.asp) FUNÇÃO CONSULTIVA No exercício de sua competência consultiva, a Corte Interamericana responde a consultas formuladas pelos Estados Membros da OEA ou os órgãos da mesma sobre: a) a compatibilidade das normas internas com a Convenção; e b) a interpretação da Convenção ou de outros tratados concernentes à proteção dos direitos humanos nos Estados Americanos. Esta função tem contribuído para a construção e evolução do Direito Internacional dos Direitos Humanos no âmbito da América Latina. MEDIDAS PROVISÓRIAS Em casos de extrema gravidade e urgência, e quando seja necessário para evitar danos irreparáveis às pessoas a Corte pode ditar medidas provisórias. Estes três requisitos devem estar presentes, prima facie, para que se outorguem estas medidas.
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