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Delação Premiada - Artigo

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SANTOS, Marcos Paulo Dutra. Colaboração (Delação) Premiada. 2º ed. Rio de Janeiro: Editora Juspodium, 2017.
Amanda Kelly Ibiapina Viana
INTRODUÇÃO
A colaboração premiada é um instituto muito utilizado no plea bargaining, sistema marcado pela negociação entre órgão acusatório e acusado. Somente em 1990 o Brasil adotou esta ferramenta, sobretudo após a vigência da Lei de Crimes Hediondos, e encont”ra regulamentação na Lei nº 9.807. 
Marcos Paulo Dutra Santos, na obra “Colaboração (Delação) Premiada” se utiliza dos termos "colaboração" e "delação" como sinônimos, visto que o que acontece, na prática, "são trocas de favores penais veiculados pelo Estado para aquele que denuncia os demais que a ele se aliaram para a prática delitiva". (p. 29) Dessa forma, a colaboração premiada é uma forma das formas de privilegiar a chamada justiça penal negocial, sem que haja, entretanto, despenalização do agente colaborador. Em verdade, apenas diminui-se a pena do agente buscando-se a condenação do maior número de agentes que tenham contribuído com o delito. Excepcionalmente é que se admite o perdão judicial ou ministerial. 
Antes de adentramos neste instituto de tamanha relevância ao nosso ordenamento jurídico, convém analisar os diversos modelos da justiça penal negocial existentes, já que a colaboração premiada dela decorre. 
JUSTIÇA PENAL NEGOCIAL NOS EUA
O sistema processual penal dos Estados Unidos e Itália contemplam amplamente os institutos da justiça penal negocial. 
A legislação norte-americana pertence inteiramente ao common law, sistema pelo qual o direito não está pautado na lei abstrata emanada de um órgão que possui competência específica de legislar - Legislativo - mas sim dos costumes e da jurisprudência. Dessa forma, o Direito se revela a partir da resposta que o Judiciário dá a um caso concreto. 
Diante da ausência de teorização do Direito, o órgão acusatório exerce o direito de ação conforme sua própria discricionariedade, obedecendo a razões utilitaristas e políticas: "procura-se descartar os delitos irrelevantes, concentrando-se os esforços na criminalidade de vulto, cuja repressão rende visibilidade no meio social." (p. 33) Os promotores, decidindo pela desnecessidade da ação penal, não estão obrigados a motivar sua decisão, nem é permitido ao Judiciário se pronunciar sobre tanto.
Outra vertente da negociação é a declaração de culpa do acusado. A fim de obter uma punição estatal mais benigna, o acusado se propõe a reconhecer a culpa pelo fato delituoso nos moldes impostos pela acusação, abrindo mão de um julgamento com todas as garantias processuais. Citando Cynthia Alkon, Marcos Paulo Dutra Santos ensina que "o direito a um julgamento se torna verdadeira punição - trial penalty -, ensejando condenações quatro vezes superior às decorrentes da barganha". 
A interferência da mídia neste sistema é ampla. Polícia e Ministério Público divulgam informações, ainda sem suporte probatório formado, objetivando pressionar o acusado a cooperar com a negociação, face a opinião negativa por parte da sociedade.
Não obstante as denúncias de instituições que gozam de credibilidade e prestígio no pais, a Suprema Corte norte-americana confere total legalidade na discricionariedade da promotoria. Embora exista a possibilidade de haver discriminação na condução da ação penal por parte do órgão acusatório, o ônus probatório recai sobre a vítima. Deve-se indicar casos idênticos ao tratado, nos quais os envolvidos não foram processados ou receberam tratamento penal mais brando (impacto discriminatório), além de demonstrar que a falha técnica da promotoria foi motivada por razões de raça, religião ou animosidade (escopo discriminatório).
Isto se justifica porque prevalece a presunção de correção dos atos da promotoria e a confiança quase absoluta no Estado e nas instituições.
No plea bargaining, o réu poderá adotar três condutas: declarar-se expressamente culpado - plea of guilty -, não contestar a acusação - plea of nolo contendere - ou declarar-se inocente - plea of no guilty -. O silencio faz presumir a inocência.
Assumindo a culpa ou não contestando a acusação, o réu dispensa o julgamento em troca de uma pena mais leve, caso houvesse condenação em juízo. Aqui, o órgão acusador apresenta opções, quanto ao tipo penal e à sanção que lhe será imposta, e o acusado escolhe o que lhe parece mais benigno. A condenação criminal repercute na seara civil, servindo a sentença como título executivo judicial a favor da vítima. 
A declaração de culpa condicional - conditional plea - aceita em algumas legislações processuais estaduais, ocorre quando o acusado não contesta a conduta a ele imputada, mas a legalidade da repercussão. Assim, é possível a apelação em relação a questões unicamente jurídicas.
O plea of nolo contendere não pressupõe reconhecimento de culpa. O acusado apenas não contesta a acusação. Aqui, a condenação criminal não produz efeitos civis, e sua implementação depende da aprovação do Tribunal. 
Em ambos os casos - plea of guilty e plea of nolo contendere - haverá um debate preliminar entre acusação e defesa, onde as partes irão pactuar sobre a retirada de algumas das acusações, estipular uma condenação específica para o caso concreto, podendo também a acusação aceitar proposições formuladas pela defesa, bem como recomendar ao magistrado determinada condenação. Em suma, "trata-se de um verdadeiro pacto,  regido pelos princípios contratuais". (p. 40)
Podem alcançar qualquer infração penal, independente da gravidade, e não há requisitos objetivos para a deflagração. Apenas se exige os pressupostos subjetivos de validade da transação penal: voluntariedade e inteligência.
Compete ao Juízo se certificar de que o posicionamento adotado pelo acusado, ao escolher a negociação, ocorreu de forma livre coação física ou emocional ou de má fé, motivado por promessas juridicamente inatendíveis. Para tanto, deve o magistrado indagar pessoalmente o acusado em audiência. Somente diante destas hipóteses, a declaração de culpa ou de não contestação será considerada inválida. 
Entretanto, é recorrente a manipulação feita pela acusação em relação à imputação delituosa, de modo a convencer o réu de aceitar a negociação. Ou seja, optando pelo julgamento, a promotoria imputa ao réu um fato mais gravoso e, consequentemente, uma pena maior. Do mesmo modo, existindo concurso de pessoas, tolera-se que o promotor ofereça uma proposta global a todos os corréus, que somente será válida se todos anuírem. Neste caso, aquele que pensar não aceitar o acordo sofrerá pressão dos demais.
Dessa forma, na prática, considera-se que somente ameaças ilícitas feitas pela acusação, que não encontrem base legal para tanto, fere o requisito da voluntariedade. 
A inteligência, por sua vez, refere-se à saúde mental e consciência do réu, de modo que ele tenha pleno entendimento do conteúdo e das consequências do pacto que está sendo celebrado. Deve o juiz observar a uma série de advertências que deverão ser feitas pessoalmente ao imputado, sob pena de invalidade do acordo.
A ciência sobre os desdobramentos da sentença fica a cargo do defensor do acusado. Privilegia-se a divisão das funções entre os sujeitos processuais. A falha deste, entretanto, somente implicará vício no negócio firmado se o réu provar que, tendo conhecimento das consequências omitidas, não teria pactuado o negócio.
É exigido também que o acesso às provas que pairam contra o réu pela sua defesa técnica. É pacifico o entendimento de que tal acesso restringe-se às provas favoráveis ao acusado, estando as demais obrigadas a serem apresentadas apenas em juízo. A exceção é se o réu conseguir provar que, tendo ciência do suporte probatório da promotoria, teria escolhido o julgamento, com todos os riscos a ele inerentes.
Dutra Santos, encerrando o assunto sobre os requisitos subjetivos de validade, posiciona-se no sentido de que a posição ocupada pelo acusado é infinitamente inferior à preenchida pela promotoria, que não hesita em se utilizar dos meios que nãoproibidos em lei para lograr êxito no acordo almejado, ainda que eticamente duvidoso. De qualquer forma, tal comportamento do órgão acusatório possui chancela da Suprema Corte do país. (p. 47)
Imprescindível que o acusado tenha pleno entendimento das garantias processuais abdicadas com o acordo celebrado. A jurisprudência mais atual da Suprema Corte estabelece que havendo ciência da renúncia ao julgamento clássico e imparcial, é inexigível a advertência sobre os demais direitos subtraídos. 
Quanto ao procedimento, deve-se gravar tanto o acordo de declaração de culpa ou de não contestação quanto as indagações feitas pelo magistrado em relação à voluntariedade e inteligência. Havendo alguma informalidade ignorada, o acordo somente será anulado se comprovado prejuízo ao acusado. 
Somente as partes discutirão sobre o acordo, não podendo o juiz interferir até que seja levado ao tribunal. Nesta fase, a pacto será revelado em audiência pública, sendo conservado em sigilo apenas o necessário. Prolatada a sentença condenatória, o réu não poderá voltar atrás da decisão, salvo excepcionalmente. Se rejeitado o acordo pelo Tribunal, o réu poderá retirar a declaração de culpa – salvo se o acordo era de mera recomendação ou pedido de sentença condenatória específica -, porém, insistindo no pacto, a resposta penal poderá ser mais gravosa do que a desejada.
Via de regra, as negociações são travadas entre o órgão acusador e o patrono do acusado, visto que o plea bargaining é procedimento negocial entre advogado. 
Referendada a declaração de culpa pelo acusado, o magistrado verificará a suficiência do lastro probatório, por força da Regra Federal nº 11. Não havendo suporte probatório mínimo, o negócio pactuado será rejeitado.
Após a aprovação do pacto pelo juízo, a promotoria a ele se vincula. A inobservância a esta regra acarreta, perante muitos tribunais, a anulação da declaração de culpa, devendo o réu submeter-se a julgamento ou aceitar a nova proposta formulada. Outra vertente entende que, diante do inadimplemento da promotoria, o réu possui o direito de executar o acordo antes travado. 
Descumprida a avença pelo acusado, anula-se a declaração de culpa, submetendo-o a julgamento. 
A guilty plea referendada somente poderá ser impugnada se: a) (a declaração não tiver sido voluntário e/ou consciente; b) houver quebra do acordo por parte da promotoria ou inobservância por parte da Corte; c) constatada a presença de qualquer outro vício que comprometa a validade da declaração de culpa.
De qualquer forma, a impugnação da declaração de culpa permite a promotoria oferecer denúncia mais gravosa do que a primeira condenação, visto que a double jeopary clause não se aplica ao plea bargaining. Constata-se, enfim, um incentivo ao réu em optar pela pena consensualmente obtida. 
JUSTIÇA NEGOCIAL DA ITÁLIA 
A persecução penal na Itália somente se aproxima do modelo brasileiro no que concerne à obrigatoriedade da ação penal pública, sendo esta munus privativo do Ministério Público. Presentes todas as condições, deve-se denunciar, em observância ao princípio da igualdade, segundo o qual todos são iguais perante a lei. A crítica a tal obrigatoriedade fundamenta-se no sentido de que o exercício da ação penal deveria ser ditado pela gravidade do injusto, pela capacidade persecutória da máquina judiciária e pelo contexto social em que o suposto delinquente encontra-se inserido. O que ocorre é que, na pratica, o princípio da obrigatoriedade tem cedido lugar ao exercício discricionário da ação penal.
O Ministério Público e é o titular do poder da polícia judiciária, e, por encontrar-se atrelado ao Poder Judiciário, deve, na condução da investigação, colher todas as peças de informações, sejam elas favoráveis ou desfavoráveis ao indiciado. Entretanto, é permitido ao parquet a delegação, ao delegado, a investigação preliminar. E, em todo caso, o titular da ação penal está desprovido de poderes coercitivos.
O arquivamento da investigação preliminar está submetido ao controle dos juízes instrutores. Deflagrada a ação, são dois os procedimentos que poderão ser adotados: procedimento ordinário - rito ordinário-, e procedimentos especiais - juízo abreviado, aplicação consensual da pena, juízo diretíssimo e juízo imediato, e o procedimento por decreto penal. Os procedimentos especiais têm como objetivo evitar a instrução e julgamento convencionais. 
A justiça negocial italiana permite a possibilidade de acusado e órgão acusador transigirem sobre o procedimento a ser adotado na persecução penal, relativizando uma série de garantias processuais.
Optando o acusado pelo juízo abreviado, o magistrado decidirá sobre a pretensão acusatória com base no lastro probatório colhido exclusivamente na fase da investigação probatória. Sendo possível a produção probatória sem que haja prejuízo à economia processual, e se necessária ao exame do mérito, o acusado poderá fazer o requerimento. Resulta na prolação de sentença penal absolutória ou condenatória.
É procedimento aplicado a qualquer tipo de infração penal, inclusive aqueles apenados com prisão perpétua, sendo irrelevante a anuência da vítima. A iniciativa para escolha do juízo abreviado é do acusado, podendo fazê-lo pessoalmente ou por meio de procurador com poderes especiais, somente se exigindo a manifestação livre e consciente do mesmo. 
O Código Processual Italiano prevê a redução de 1/3 da pena e a substituição da pena de prisão perpétua pela pena privativa de liberdade de 30 anos, ao acusado que escolha tal procedimento. A despeito das críticas feitas a tal previsão legislativa, a Corte maior do país decidiu pela sua constitucionalidade.
No procedimento por decreto penal, ou rito monitório, a iniciativa compete ao Ministério Público, quando este oferece ao Judiciário um decreto penal condenatório, consistente na imediata aplicação ou de uma pena pecuniária ou da pena privativa de liberdade no mínimo legal, reduzido de até a metade. Aprovada a proposta pelo magistrado, o acusado e responsável civil serão notificados para se manifestar. Aqui, o legislador confere vantagens ao acusado que optar por tal procedimento, como a não condenação nas custas nem imposição de penas acessórias, não constitui título executivo judicial em desfavor do acusado etc. Se o magistrado rejeito o decreto ministerial, restitui-se ao parquet o direito de ação. Este procedimento somente alcança as infrações de pequeno potencial ofensivo e é deflagrado ao término das investigações.
A outra vertente da justiça negocial traduz a possibilidade de acusado e Ministério Público acordarem sobre a pena a ser aplicada. 
O patteggiamento consiste na aplicação imediata da pena a pedido do acusado, sendo possível quando adotado qualquer dos procedimentos especiais. O acusado, ao negociar sobre a pena, não admite culpa expressamente, mas uma admissão implícita sem repercussão jurídica. Rejeitando o juiz a proposta, o processo tem seguimento no rito ordinário. 
Pode o acusado negociar com o órgão acusatório, que é a regra, mas pode também deduzir diretamente ao magistrado, independente da anuência do parquet. Independe também, em todo caso, do consentimento da vítima. Trata-se, aqui, de uma condenação criminal, entretanto não produz efeitos na seara civil. A sentença, após o trânsito em julgado, não admite apelação.
A análise do mérito do patteggiamento é posterior ao momento do acordo. O juiz somente exerce controle de legalidade e da conveniência da pena acordada. Deve zelar pela proporcionalidade entre a infração cometida e a reprimenda que será estabelecida, além de examinar a livre manifestação da vontade do acusado no pacto. 
É procedimento que não pode ser aplicado a toda e qualquer infração, nem a todo e qualquer acusado. Muitos acordos condicionam-se à potencial colaboração à persecução. Para fazer jus á reprimenda mais branda, a colaboração deve reunir noticiais e provas que possibilitem a revelação de outros injustos e de outros agentes e sua captura, dos objetos que sejam objeto da infração.Diante da falsidade das informações prestadas e de novo cometimento de crime inafiançável pelo prazo de 10 anos após o trânsito em julgado da decisão que concede a benesse da colaboração premiada, esta pode ser revista e cessada, excepcionando a revisão pro societate.
	
DELAÇÃO PREMIADA NO BRASIL
 
	Trata-se de instituto que encontra assento no Direito brasileiro desde as Ordenações Filipinas, de 1603, quando esta legislação previa o perdão àquele que delatasse os demais conspiradores contra a Coroa. Perdeu espaço no Código Penal de 1830, e voltou ser aceito a partir de 1990. 
	Implica, a depender da hipótese, na redução da pena de um a dois terços, substituição da pena privativa de liberdade pela restritiva de direitos, fixação do regime inicial aberto ou semiaberto, perdão judicial e consequente extinção da punibilidade. Diante de tantas benesses, a discussão acerca da colaboração tem ganhado cada vez mais espaço entre doutrinadores e juristas. 
A principal crítica feita à constitucionalidade do instituto diz respeito à sua incompatibilidade com um dos princípios basilares do ordenamento jurídico pátrio: o princípio da individualização da pena. Neste sentido, sustenta-se que agentes, de condutas menos reprováveis, seriam mais severamente punidos diante da recusa em negociar com o Estado na persecução do crime. Compromete-se também a igualde material entre os acusados, visto que réus em idêntica situação jurídico-penal receberiam tratamento diferenciado. 
Embora seja uma ferramenta de grande utilidade na produção de provas, tais princípios básicos não podem ser relegados à pretensão punitiva do Estado. Da mesma forma, aquele que comete uma dupla traição – contra a sociedade, enquanto concorre para prática de crimes, e contra os demais parceiros que concorrem na conduta delitiva – não deve ser agraciado com uma reprimenda mais branda. 
Sustenta-se também que o réu poderia colaborar de outras maneiras previstas em lei: desistência voluntária, arrependimento posterior e até mesmo com a atenuante prevista no art, 65, III, b, do Código Penal, situação em que o agente, por livre e espontânea vontade, evita o crime ou reduz as suas consequências, antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória, reparando o dano da vítima. Estes seriam o verdadeiro mecanismo de privilegiar o réu colaborador. 
Aos que se inclinam pela constitucionalidade da delação premiada, prevalece o entendimento de que o comportamento do réu, em verdade, apenas demonstra o seu intento de remediar as consequências do injusto penal. A individualização da pena não restaria prejudicada, visto que na dosimetria da pena deve-se levar em conta as circunstâncias pessoais do agente, e não apenas a reprovabilidade de sua conduta.
O prémio concedido pelo legislador representa um incentivo ao real arrependimento do agente, garantindo que seja alcançada a finalidade da pena: sua regeneração. 
Processualmente, defende-se de um lado que o Estado potencializa e premia a traição dentro do seio delituoso. De outro lado, entende-se que tal premiação objetiva a garantia de uma resposta eficiente à infração praticada, uma forma de o Estado atender aos anseios sociais, justificando, portanto, a legalidade da delação premiada. 
A discussão sobre o fundo ético e moral do instituto não se torna suficiente para decidir sobre sua constitucionalidade ou inconstitucionalidade. Outros, como a prescrição, decadência, perempção e direito à não auto-incriminação já foram reputados por parcela da sociedade como preceitos antiéticos e desleais, entendimento atualmente superado. A colaboração premiada, à exemplo dos demais, também não violaria qualquer postulado constitucional.
No mesmo sentido, sustenta-se que a colaboração do agente com a persecução penal não viola as balizas norteadoras da individualização da pena, enquanto circunstância pessoal do acusado que deve ser considerada pelo magistrado quando na aplicação da pena. 
A delação premiada, além de afirmar a individualização da pena, é mecanismo de autodefesa do acusado, capaz de minorar ou mesmo evitar a punição pela infração penal. Reprimir tal instituto importaria em retrocesso das garantias fundamentais do indivíduo, visto que haveria redução em suas opções de defesa contra o poder de punir do Estado. 
	Se, por um lado, a delação traz benesses ao acusado que colabora, não agrava a punição dos demais acusados. A condenação não será embasada nas informações prestadas, mas tão somente nas provas produzidas a partir delas.
	Inegável se torna, portanto, a eficiência da delação enquanto ferramenta probatória, além de facilitar a busca pela verdade material, a prestação jurisdicional, e a preservação da liberdade do imputado. 
	De toda sorte, o Pleno do Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade da colaboração premiada, desde o ano de 2015. As Convenções Internacionais de que o Brasil é signatário, inclusive, preveem a compatibilidade do instituto com a ordem constitucional. 
ESPÉCIES DE COLABORAÇÃO E NATUREZA JURÍDICA
	Parte da doutrina ensina que colaboração é gênero, do qual são espécies:
Delação premiada: consiste na identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosas e das infrações penais por eles praticadas e revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização cr0iminosa;
Colaboração para libertação: traduz a localização da eventual vítima com a sua integridade física preservada;
Colaboração para recuperação de ativos: recuperação total ou parcial do produto ou proveito das infrações penais praticadas pela organização criminosa;
Colaboração preventiva: quando resulta na prevenção de infrações penais decorrentes das atividades de organização criminosa. 
	Entretanto, o meio acadêmico e a jurisprudência predominante entendem as expressões delação e colaboração premiada como sinônimos. As espécies podem coexistir em uma única delação, o que torna desnecessário o esforço de classificação. Parcela da doutrina ensina, inclusive, que tal classificação é apenas uma tentativa de esconder a real essência da delação: a traição.
	Ainda que o ato do agente traduza um gesto de deslealdade, e seja ele, em razão disso, premiado pelo Estado, não cabe aos doutrinadores do direito tentar neutralizar tal aspecto, dada a constitucionalidade do instituto. 
	A natureza jurídica da colaboração premiada comporta duas acepções, a material e a processual. Processualmente, pode ser um meio de produção de provas – a partir das informações prestadas, permitem a realização de diligências em busca de provas que a endosse -, como também meio de prova – como o próprio depoimento prestado -. 
	O Supremo Tribunal Federal reconheceu a constitucionalidade da daleção e fixou a a sua natureza de negócio jurídico processual entre órgão acusador e acusado, dependendo, todavia, de homologação judicial. Esta veia negocial condiciona a premiação ao aval do Ministério Público, porquanto do contrário, as informações prestadas configurariam reles confissão, o que implica uma atenuante de pena genérica. 
	Parte da doutrina, entretanto, critica tal entendimento da Corte Máxima. A delação premiada seria um acordo ultra partes, cuja ausência de pacto com o parquet não impede ao juiz conceder a benesse ao acusado, sob pena de cercear a auto defesa deste. A premiação caberia exclusivamente ao magistrado, salvo na hipótese de não oferecimento da denúncia em face da cooperação. 
	A colaboração unilateral possibilita, inclusive, reduzir o problema da seletividade política, econômica e social do instituto. Os debates prolongados de negociação não são suportados por todo e qualquer imputado, especialmente pelo cunho econômico que isto envolve. O envolvimento da Defensoria Pública, nesta fase processual, é ainda rasteiro. Dessa forma, parece razoável o posicionamento de que a unilateralidade resolveria o problema da elitização da cooperação. 
	Conceder ao órgão acusatório a última palavra sobre a redução da pena ou a própria extinção de punibilidade, ambos atosque prestigiam reserva de jurisdição, ofende ao princípio da separação de poderes. 
	Dessa forma, não sendo a chancela ministerial conditio sine qua non, a delação premiada ganha a natureza de direito público subjetivo do acusado quando concretizados os resultados pretendidos. Comporta inclusive a retratação, hipótese em que não poderá o juiz se valer das provas produzidas a partir das informações do acusado em seu exclusivo desfavor. De mesma sorte, deve o magistrado, ao proferir a sentença, apreciar os termos do acordo homologado e a sua eficácia. 
	A colaboração fornecida em momento pré-processual, permite que a premiação seja requerida pela defesa do acusado em sede de recurso, quando não feita nas alegações finais. Sobrevindo o trânsito em julgado, caberá revisão criminal. Se prestada durante o curso do processo, a defesa poderá peticionar as benesses ao acusado, se atingidos resultados a partir das informações. 
Em suma, o negócio jurídico será bilateral quando emitido o parecer do parquet. Não participando da colaboração, esta se torna unilateral.
O prêmio será concedido ao acusado quando preenchidos os requisitos legais, entretanto, somente será possível mensurar as benesses a depender da amplitude da delação. A eleição de tais benesses compete exclusivamente ao Juízo. 
Materialmente, a delação pode traduzir:
Perdão judicial, que implicará a extinção de punibilidade;
Substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos;
Fixação de regime inicial aberto ou semiaberto, permitida a progressão de regime;
Causa de redução de pena de um a dois terços;
Exclusão ou atenuação dos efeitos da sentença penal condenatória.
A forma e o conteúdo da delação é de natureza processual, mas a sua repercussão – efeitos - são materiais. Tais enfoques não se excluem, mas se complementam. 
VALOR PROBATÓRIO 
	
Valendo-se da delação, o acusado não auxilia o Estado na persecução de outras infrações penais e demais coautores e participes, como também assume a sua própria responsabilidade. Portanto, a delação pode ser definida como uma espécie de confissão complexa. 
A confissão consiste na admissão de responsabilidade pela infração penal e deve ser confrontado com as demais provas produzidas no curso do processo, verificada a compatibilidade ou concordância entre eles para que seja aceita pelo magistrado (efeito relativo). A delação resulta em colaboração de um dos autores da infração, prestando verdadeiro auxilio à persecução penal. 
Embora sejam institutos diversos, pode o acusado acumular os benefícios que estes trazem. O primeiro, enquanto atenuante genérica, aplica-se na segunda fase da dosimetria. O segundo, aplicado na terceira fase já com a pena minorada pela confissão. 
REQUISITOS DA COLABORAÇÃO PREMIADA
O perdão judicial somente será concedido ao réu colaborador sendo ele primário, de bons antecedentes, sendo a colaboração efetiva e voluntária, e levando em consideração a personalidade do agente, bem como a natureza, circunstâncias e gravidade e persecução da infração penal. 
A discricionariedade do magistrado em conceder o perdão é, portanto, regrada. O perdão judicial, como exceção, não comporta a retratação. A diminuição de pena, por outro lado, é direito público subjetivo do acusado, pois atendidos os requisitos, o delator terá a reprimenda diminuída, independente das circunstâncias pessoais. Esta dependerá da abrangência e eficiência das informações levadas a Juízo, mas sempre no quantum de um a dois terços. 
Neste ponto, a disposição legal é de que a delação prestada pelo acusado na investigação e processo deverá ser ratificada perante o magistrado. O Superior Tribunal de Justiça, entretanto, orienta que caberá o benefício não somente ao acusado, mas também ao indiciado. 
Nos crimes hediondos, o prêmio da redução de pena alcançará o delator que possibilitar o seu desmantelo da associação criminosa. Logo, o crime hediondo praticado em mero concurso de agentes não admite colaboração premiada. Assim é a orientação do Superior Tribunal de Justiça. 
O crime de extorsão mediante sequestro somente comporta a colaboração se o agente facilitar a libertação do sequestrado. Resulta também na redução de pena. 
Em relação aos crimes contra o sistema financeiro nacional, a revelação à autoridade policial ou judicial de toda a trama delituosa ensejará a redução de penal de um a dois terços, se dessas informações resultarem provas do crime e identificação dos demais que concorreram para a prática. 
Os crimes contra a ordem tributária, econômica e relações de consumo preceituam os mesmos requisitos: as informações devem possibilitar a produção de provas da infrações e identificação de seus coautores e participes. A peculiaridade deste crime ocorre quando o crime estiver diretamente relacionado à prática de cartel, situação em que o agente poderá celebrar acordo de leniência com o Conselho Administrativa de Defesa Econômica – CADE -. Cumprido o acordo, extingue-se automaticamente a punibilidade em relação a todos os crimes. Imprescindível se faz a intervenção do Ministério Público em todas as fases do processo negocial. Descumprido o acordo, poderá o parquet oferecer a denúncia. 
No crime de lavagem de capitais, se as informações prestadas conduzirem à apuração das infrações penais, identificação dos autores ou localização de bens e valores do crime – alternativamente -, a pena poderá ser reduzida e o regime de cumprimento de pena inicial ser fixado no aberto ou semiaberto, bem como pode o magistrado deixar de aplicar a pena privativa de liberdade ou substituí-la. 
O delator, indiciado ou acusado, de crime de entorpecente que possibilitar a identificação dos demais coautores e participes, bem como a recuperação total ou parcial do produto do crime (requisitos cumulativos) terá a pena reduzida.
 A delação no crime de organização criminosa, respaldado no posicionamento do Superior de Tribunal de Justiça, admite a redução da pena ao delator quando suas informações possibilitarem um dos requisitos previsto em lei – identificação dos demais coautores e partícipes, localização da vítima com vida ou recuperação total ou parcial do produto da infração –. Prevalece também que a retratação não invalida, obrigatoriamente, o prêmio já prometido ao acusado. 
O Excelso Pretório entende que o descumprimento de acordo de delação premiada não impede a celebração de um acordo posterior referente a novo fato delituoso. Neste caso, apenas não se recomenda o perdão judicial. Neste sentido ensina Marcos Dutra Santos: “a confiança no agente colaborador não constitui elemento de existência ou requisito de validade do acordo de celebração”. (p. 115)
CONFLITO APARENTE DE NORMAS
A colaboração premiada possui regulamento geral na Lei nº 9.807/99, e mais oito diplomas trazem disposições especificas. Quando no confronto entre lei geral e diplomas especiais, prevalece o último em observância ao princípio da especialidade. Quando, no entanto, um crime que comporta a colaboração premiada repercute em outras infrações penais que também são regidas por hipóteses de delação, temos o conflito aparente de normas. 
A Lei nº 8.137/90, que trata dos crimes contra a ordem tributária, econômica e financeira e relações de consumo, prevê a redução de pena de um a dois terços (premiação) ao acusado que revele toda a trama delituosa - demais coautores e partícipes e a mecânica delitiva -. A Lei nº 12.529/11, por sua vez, estrutura o sistema brasileiro de defesa da concorrência, objetivando a repressão à formação de cartéis. O acordo de leniência previsto por tal diploma confunde-se com a delação premiada prevista na Lei nº 8.137/90.
Neste caso, o princípio da especialidade faz prevalecer as benesses trazidas pela Lei nº 12.529/11, quando presentes todos os requisitos para a celebração do acordo de leniência. Não sendo possível, será observado regramento da primeira lei, se a infração for praticada em concurso de pessoas ou associação criminosa. Sendo praticado o crime por um único agente, aplica-seo disposto no regramento geral, a saber, a Lei nº 9.807/99. 
A lei nº 12.850/13 veio alterar aspectos da delação premiada, em muitos aspectos desfavorecendo a situação do réu delator. Foi mantida o quantum de redução de pena, o perdão judicial e a substituição de pena privativa de liberdade. Entretanto, trouxe o regime semiaberto como o regime inicial de cumprimento de pena, e a faculdade do magistrado em conceder o perdão judicial e a substituição da pena imposta. Cumpre registrar que a redução da pena e a fixação do regime em aberto ou semiaberto é direito público subjetivo do delator. 
Em contrapartida, permitiu as benesses da delação quando esta atendesse aos requisitos de forma cumulativa ou isoladamente, e que poderia ocorrer a qualquer tempo, mesmo após a prolação da sentença, com ou sem trânsito em julgado. 
PROCEDIMENTO
A lacuna legislativa em relação ao procedimento da delação premiada somente foi suprida com a edição da Lei nº 12.850/13, mais especificamente ao crime organizado, fixando o mesmo procedimento, por analogia, aos demais casos que desafiem a cooperação premiada. 
Se, a partir das informações prestadas, forem alcançados os resultados previstos em lei, a premiação da delação se torna direito público subjetivo do delator. A negociação com o parquet, portanto, não é imprescindível à recompensa. Ao magistrado competirá a eleição da benesse a que fará jus o acusado e, em havendo acordo prévio entre as partes, a homologação do acordo e sua eficácia.
 	As partes que realizam o acordo são, em verdade, o colaborador e o Ministério Público, enquanto titular da ação penal. Todavia, dois personagens também têm espaço na negociação: delegado e defensor do acusado. 
O delegado de polícia, enquanto condutor da investigação, atua na qualidade de intermediário do acordo, quando este ocorrer na fase pré-processual, fornecendo subsídios e impressões ao órgão acusador acerca do potencial e confiabilidade das informações prestadas pelo colaborador. Este não exerce qualquer influência na concessão ou não dos benefícios da delação.
O defensor, por sua vez, é imprescindível à pactuação do acordo, a fim de assegurar a livre e consciente vontade do colaborador, sob pena de nulidade absoluta das declarações prestadas. A obrigatoriamente da defesa técnica se justifica pela necessidade de explicar ao acusado todas as consequências decorrentes da delação, em relação à condenação e aos benefícios que possa fazer jus. 
Optando pela colaboração, o acusado, na prática, renuncia ao direito ao silencia, posto que passa a ter o compromisso legal de dizer a verdade, e ao direito à não autoincriminação. Há a possibilidade de posterior retratação às informações prestadas. Provada a falsidade das declarações, a delação torna-se insubsistente, e pode o acusado incorrer em diferentes tipos penais, a depender de sua conduta. 
Em observância ao princípio do prejuízo, somente não será considerado nulo o acordo celebrado sem intervenção da defesa quando, deste acordo, não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa. A incompetência absoluta do Juízo que homologa o acordo também não será suficiente para que o acordo seja anulado. 
Nega-se ao delatado o direito de impugnar o acordo de delação que o prejudique, dada a natureza personalíssima do ato e a garantia do contraditório às declarações prestadas pelo delator. 
	Ao ofendido, entretanto, é reconhecida a legitimidade recursal supletiva e o interesse de recorrer de condenações criminais para agravar a pena alcançada através da delação. Se o lesado considerar excessivas ou mesmo ilegais as benesses concedidas ao delator, tem ele a faculdade supletiva, em relação ao Ministério Público, de apelar. Se ao delator é concedido o perdão judicial, pode igualmente o ofendido recorrer em sentido extinto. A vítima somente não terá direito de interferir se o parquet optar pelo não oferecimento da denúncia, visto que este é o titular exclusivo da ação penal público, visto que o arquivamento da investigação é irrecorrível. Nos demais casos discutidos, impera o princípio da inafastabilidade de jurisdição.
	Havendo discordância de posicionamento entre defensor e delator, prevalece a vontade do último, em observância à voluntariedade e consciência da delação. O acusado submetido a prisão domiciliar que opta pela delação não pode alegar coerção nas declarações, da mesma forma que não se admite a revogação da medida condicionadas ao cumprimento do acordado, visto que o pode para tanto pertence ao magistrado, e não ao Ministério Público. A retratação do delator não autoriza o restabelecimento da prisão preventiva. 
	No momento da homologação do negócio firmado entre órgão acusador e acusado, o juiz limita-se à análise de existência de vícios, não devendo se pronunciar sobre o seu conteúdo. Não será este o momento de aferir o alcance da delação e a eleição da benesse a que o acusado fará jus, visto que as informações prestadas e as provas que as retifiquem ainda estarão, via de regra, sob investigação. 
	O magistrado poderá recusar da homologação, quando a proposta não atender aos requisitos legais, ou adequá-la ao caso concreto. A adequação ocorrerá no momento da prolação da sentença, quando o juiz apreciará a eficácia dos termos do acordo. 
	O posicionamento adotado – a recusa ou a homologação – encerra decisão com força definitiva, inatacável por recurso em sentido estrito. A apelação, neste caso, terá natureza residual. Neste caso, o prazo será de 5 dias, conforme dispõe o Código de Processo Penal. 
	O pedido de homologação será sigilosamente distribuído, de modo que as informações contidas não possam identificar o colaborador e o seu objeto. O acesso aos autos será restrito ao magistrado, Ministério Público e delegado de polícia, como forma de garantir o êxito das investigações – persecução das provas a partir das informações –, e respeitado a ampla defesa do acusado. A partir do recebimento da ação penal é que se afasta o sigilo, em observância ao princípio constitucional da publicidade do processo. Potencializa-se também o contato direito do magistrado – e também dos Tribunais – com as provas, bem como o princípio da identidade física do juiz. 
	A sentença condenatória não pode ser embasada unicamente nas declarações do delator, mas nas provas colhidas a partir de tais declarações. Diante da necessidade de produção de provas relativos ao colaborador, o prazo para oferecimento da denúncia poderá ser suspenso por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional. Compete ao Ministério Público encaminhar o pedido à apreciação do juízo competente, que analisará conforme a necessidade do alongamento da investigação, e não por motivos de oportunidade ou conveniência. 
	Encontrando-se o preso em prisão preventiva, de um lado, e a necessidade de o Estado reunir provas ratificadoras das informações prestadas, sem as quais o delator não seria premiado, de outro, deve o magistrado ponderar os valores no caso concreto. 
	Em havendo retratação da delação, mas tendo ela já exaurido seus efeitos – ou seja, conduzido aos resultados previsto em lei – o delator terá igual direito à premiação, conforme entendimento da 1º Turma do Supremo Tribunal Federal. A divergência se apresenta quanto ao momento oportuno para a retratação do delator. Parte da doutrina afirma ser entre o momento da homologação do acordo até imediatamente antes da prolação da sentença. A parte mais expressiva dos doutrinadores entende que a retratação deve ser proposta somente até o momento da homologação.
	A lei 12.850/13 permite a retratação da proposta da delação. Portanto, o delator pode optar por retratar-se desde antes da homologação até o momento da prolação da sentença, independente da anuência do Ministério Público, em havendo acordo. É faculdade personalíssima do delator. 
	Reconhecida a eficácia e efetividade da cooperação, e não sendo o primeiro delator o líder da organização criminosa, o Ministério Público tem a faculdade de não oferecera denúncia, ainda que identificada a justa causa. A obrigatoriedade da ação penal pública será, neste caso, mitigada, assim como o princípio da indivisibilidade, pois que proposta a ação somente em relação aos demais indiciados. 
	O fundamento para a benesse do não oferecimento da denúncia é justamente a expressiva colaboração do denunciado. Condicioná-lo ao pioneirismo da delação não implicaria no desestímulo a demais colaborações, em razões dos demais prêmios que produzem iguais efeitos penais. 
	O perdão judicial é causa de reserva de jurisdição – somente o juiz pode conceder –. É facultado à autoridade policial, durante o inquérito policial, sugerir a concessão do benefício, entretanto, a apreciação do pedido é faculdade do magistrado. Quando, entretanto, o requerimento partir do Parquet, o Juízo terá de analisar o pedido na sentença, acolhendo-o ou não. Na hipótese de colaboração unilateral, poderá a defesa do delator requerer o perdão, situação em que o pedido também haverá de ser apreciado. E, em todo caso, o magistrado poderá conceder ex officio, inclusive liminarmente, antes de iniciada a instrução criminal. 
INSTRUMENTALIZAÇÃO DA COLABORAÇÃO PREMIADA APÓS A SENTENÇA PENAL CONDENATÓRIA
	A Lei 12.850/13 passou a admitir a delação premiada mesmo após a prolação da sentença, situação em que a pena poderá ainda ser reduzida até a metade ou aplicada a progressão de regime, ainda que ausentes os requisitos subjetivos. Expressiva as declarações prestadas, as benesses podem ser concedidas cumulativamente. Tal inovação legislativa se fundamenta na previsível falta de disposição do sentenciado arcar sozinho com o ônus da sentença, decidindo posteriormente indicar novas informações das infrações penais praticadas. 
	A delação pós-sentença não se aplica aos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e demais infrações que lhe forem correlatas. Descarte-se também o perdão judicial. 
	As novas informações são relativas a novos fatos, que não discutidos anteriormente. Não haverá rediscussão dos fatos, bem como não objetiva rever a condenação criminal, mas conceder um benefício em troca de colaboração. Serão analisadas, portanto, no curso da execução da pena, de forma definitiva ou transitória. É o juízo da execução quem decidirá sobre a questão, devendo oficiar ao juízo de conhecimento sobre o interior teor da colaboração e seus resultados para a persecução penal, a fim de analisar a eficiência da nova delação e, consequentemente, o benefício merecido. 
DIREITOS DO COLABORADOR 
	Em face da relevância da colaboração e o possível risco à integridade física e psíquica do delator e seus familiares, decorrentes da sua própria colaboração na persecução penal, o legislador impôs medidas especiais de segurança e proteção a serem observadas pelo magistrado em relação ao colaborador, que traduzem verdadeiros benefícios a este.
Estando preso, o colaborador será custodiado em dependência separada dos demais presos, podendo ainda ser aplicada qualquer das medidas previstas em lei que sejam eficientes em substituir a prisão preventiva, elencadas nos arts. 319 e 320 do Código de Processo Penal, e a prisão domiciliar. 
Se definitivamente condenado, poderá ser submetido a segregação em separado dos demais apenados, além de outras medidas especiais que garantam sua segurança no estabelecimento prisional. Se ineficazes, conceder-se-á a prisão domiciliar. 
Também poderão ser aplicadas as medidas de cunho administrativo. Em relação à preservação da identidade, imagem e dados pessoais somente pode subsistir até o momento do oferecimento da denúncia, em observância aos princípios da publicidade do processo, contraditório e ampla defesa à parte contrária. Em todo caso, entretanto, o delator terá seu direito à intimidade, imagem e vida privada prevalecentes sobre a imprensa público em geral, visto que a eles não é garantido o direito de conhecer os pormenores da persecução penal.
A participação das audiências sem contato visual com os demais acusados é medida que relativiza a autodefesa, porém não inconstitucional, tendo em visto que o interrogatório e perguntas entre uns e outros são garantidos. Cumprir pena em estabelecimento penal diverso dos demais corréus ou condenados também e medida de proteção prevista na Lei nº 12.850/13, sem prejuízo das demais legislações que disciplinam o assunto em análise. 
COLABORAÇÃO PREMIADA E COMUNICABILIDADE ENTRE AS ESFERAS PENAL E ADMINISTRATIVA 	
	O acervo probatório produzido a partir da delação premiada, voltada a persecução penal, poderá ser estendido para fins não penais se houver correlação entre os processos.
	A divergência doutrinária se concentra na aplicação das benesses. Uma parte contempla a possibilidade de estender a benesse concedida na seara penal ao administrativo, prevalecendo a analogia in bonam partem. Não haveria, portanto, afronta ao devido processo legal em havendo reparação integral do dano causado ao patrimônio público. Sendo possível a composição penal, não seria possível impedir que os demais ramos do Direito o fizessem. 
	De outro lado entende-se que a colaboração premiada é medida excepcional, portanto somente aplicada no processo penal, à exemplos dos institutos da transação penal, devendo o legislador expressamente admitir sua aplicação nas demais searas do direito. Parte da jurisprudência se inclina a este entendimento: a delação premiada é instituto do direito penal, não podendo ser transportada ao âmbito administrativo, ainda que em favor do réu.
COLABORAÇÃO PREMIADA NO PROCEDIMENTO DO JURI
	A Lei não veda a aplicação da colaboração no Tribunal do Júri, de modo que ela é aceita pacificamente, especialmente por enquadrar a defesa plena que este Tribunal acata. O procedimento é similar: o Ministério Público pode optar pelo arquivamento do inquérito, o magistrado não está vinculado aos termos do acordo entre o órgão acusador e acusado.
	O perdão judicial não poderá ser concedido quando as declarações versarem sobre mérito ainda não analisado pelo Conselho de Sentença. De toda sorte, a ponderação da concessão ou não do benefício deve observar se a colaboração justificaria a saída do delator sem qualquer punição, em face da proteção constitucional dada à vida.

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