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E o colunista só queria ironizar Por Paulo Cezar Guimarães em 28/10/2008 Muitas pessoas têm dificuldade de entender o que ouvem e lêem. Saber se comunicar não é para qualquer um. Escrever também. Dizem que escrever é fácil: "Você começa com maiúscula e termina com ponto". Nem sempre. E a ironia? Nem todas as pessoas conseguem entender a ironia. Luis Fernando Verissimo já sofreu por causa de um artigo chamado "A audácia", em que questionava o então "eterno candidato" Lula por ter tomado um certo vinho francês em uma solenidade. Aquele que começava assim: "Quem o Lula pensa que é, tomando Romanèe-Conti? Gente! O que é isso? Onde estamos? Romanèe-Conti não é pro teu bico não, ó retirante. Vê se te enxerga, ó pau-de-arara. O teu negócio é cachaça. O teu negócio é prato-feito, cerveja e olhe lá. A audácia do Lula!". Para quê? No dia seguinte, choveu cartas no Globo. "A coluna de Verissimo é um amontoado de besteiras preconceituosas contra o candidato do PT. Luiz Inácio Lula da Silva foi chamado de retirante, pau-de-arara, gentinha, pé-rapado brasileiro (...)", escreveu um leitor. "Ao ler a coluna de Verissimo `A audácia!´ fiquei indignada com o tamanho do preconceito desse intelectual (...)", escreveu outro. "Eu e minha família estamos indignados com a opinião do Verissimo em sua coluna, por ele ter demonstrado claramente que não gosta de pobre decente, capaz de ser alguém na vida e na sociedade. Ele não só humilhou o Lula como toda uma nação que luta para um país melhor", detonou outro. "Como pode um escritor do quilate, do berço, da inteligência e da elite de Verissimo escrever um texto racista e elitista como esse? A humildade tem que fazer parte desse escritor, que exclui uma enorme parcela da sociedade das coisas mais finas que ele julga ser só para os ricos e para ele", exagerou outro. "Verissimo foi infeliz, sobretudo, ao chamar-nos de gentinha. Posso não ser dotado de uma situação que me permita tomar Romanèe-Conti, mas vale lembrar que a maior parte desse país também não (...)", reclamou mais um leitor. No mesmo dia, na mesma seção, Verissimo se "defendeu": "Quando o leitor não entende o que um jornalista escreveu, a culpa é sempre do jornalista. Peço desculpa a quem não entendeu a intenção da coluna. O alvo era o preconceito social implícito na reação desmedida ao fato do Lula ter tomado um bom vinho. Talvez tenha faltado o aviso ´Atenção, ironia´. De qualquer jeito, culpa minha".
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