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HC confissão sobre reincidência (imprimir).docx 1

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO PRESIDENTE DO COLENDO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA
A DEFENSORIA PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, inciso LXVIII da Constituição Federal, e artigo 647 e seguintes do Código de Processo Penal, impetrar, em favor de (NOME E DEMAIS DADOS) , a presente ordem de 
H A B E A S C O R P U S
contra ato ilegal praticado pela SEGUNDA TURMA CRIMINAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL, pelas razões de fato e direito a seguir aduzidas.
O paciente foi condenado nas penas do artigo 157, § 2º, inciso I, e 157, § 2º c/c artigo 70, ambos do Código Penal, este em relação ao segundo fato, a pena privativa de liberdade em 14 (catorze) anos, 05 (cinco) meses e 10 (dez) dias de reclusão, acrescida de 95 (noventa e cinco) dias-multa, a ser cumprida no regime fechado.
Inconformado com a r. sentença, o paciente apelou requerendo que: incorreto o acréscimo de pena imposto pelo julgado, no quantum de 06 (seis) meses para os dois crimes de roubo circunstanciado, eis que conta com bons antecedentes, bem como o reconhecimento do concurso formal no que pertine ao segundo fato relatado na denúncia. Por fim, pugna pelo reconhecimento do crime continuado entre os dois delitos
O Ministério Público apresentou contra-razões, pugnando pelo conhecimento e improvimento do recurso (fls. 159/167).
O Parecer da douta Procuradoria de Justiça, de lavra da Dra. Arinda Fernandes, conclui pelo conhecimento e improvimento do recurso (fls. 182/185).
O Tribunal de Justiça do Distrito Federal negou provimento ao recurso, por unanimidade, dispondo:
“PENAL E PROCESSUAL PENAL. ROUBO E ROUBO CIRCUNSTANCIADO. AUTORIA E MATERIALIDADE COMPROVADOS. ALEGAÇÃO DE CRIME ÚNICO, NÃO RECONHECIMENTO DO CONCURSO FORMAL PARA O SEGUNDO DELITO E RECONHECIMENTO DE CONTINUIDADE DELITIVA PARA AMBOS OS DELITOS. IMPOSSIBILIDADE. PENA POUCO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL. CONFRONTO ENTRE REINCIDÊNCIA E CONFISSÃO. ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. MAUS ANTECEDENTES. PERSONALIDADE DISTORCIDA. NÃO OFENSA AO PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA. PRECEDENTES STF.
1. Intocável a sentença que condenou o apelante, se a autoria e a materialidade restaram robustamente comprovadas pelos documentos, provas testemunhais e confissão do acusado.
2. Demonstrado nos autos que o réu, mediante uma só ação deu ensejo à lesão a bens jurídicos de vítimas distintas, o reconhecimento do concurso formal é medida que se impõe.
3. O crime continuado configura-se com a ocorrência de liame seqüencial entre as condutas, além de reunir os demais pressupostos legais de conexão temporal, espacial e modus operandi. O delito subseqüente deve ser continuidade do primeiro, aproveitando oportunidade deste decorrente.
4. Sem embargo da existência dos pressupostos objetivos, a hipótese é de reiteração criminosa, evidenciada pela habitualidade do recorrente no cometimento de delitos, o que descaracteriza a continuidade delitiva.
5. Inexiste reparos à imposição da reprimenda, porque realizada dentro de parâmetros legais, mediante a devida valoração dos critérios do artigo 59 e 68 do CP. 
Outrossim, conforme Precedentes do STF, não há óbice à exasperação da pena-base quando, comprovado nos autos que o réu possui maus antecedentes, apresenta personalidade voltada para a prática de crimes consubstanciada nos vários inquéritos policiais contra si instaurados e por ser reincidente. 
6. Recurso conhecido e improvido.”
	
Egrégio Superior Tribunal, durante o julgamento da apelação junto r. Tribunal de Justiça, mesmo com o veemente protesto da defesa, por intermédio de sua apelação, a douta 2ª Turma Criminal desconsiderou os argumentos de aplicação da regra da continuidade delitiva ao caso corrente.
Eis a argumentação do Tribunal ao negar a tese aventada (p. 203/204):
“(...)É cediço que o instituto do crime continuado, previsto no art. 71 do Código Penal é uma ficção jurídica instituída com a finalidade de beneficiar o criminoso eventual, devendo estar presentes para sua aplicação os requisitos objetivos e subjetivos (...)”. (grifos nossos)
“(...)Esta Corte reiteradamente entende que para caracterizar a continuidade delitiva é necessário a demonstração do liame volitivo, além dos requisitos objetivos: crimes de mesma espécie, cometidos nas mesmas circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução, o que não restou demonstrado no caso concreto(...)”.(grifos nossos)
A respeito de tal situação, não merece prosperar o v. acórdão, pois a lei não exige, apesar do que muitas vezes se tem decidido, que haja unidade de desígnios, uma vez que no crime continuado não se cogita da existência de uma unidade real, mas de uma ficção jurídica, bastando que as circunstâncias objetivas levem à conclusão da continuidade delitiva.
Vale lembrar, que a figura jurídica do crime continuado tem a finalidade de impedir um excessivo rigor na punição do agente. Vez que é uma fórmula que não tem um conceito lógico-jurídico, mas que encerra em si um critério de política criminal.
Na lição de Guilherme de Souza Nucci, em seu Manual de Direito Penal, diz ser, a teoria defendida por nosso código penal aquela afastada pelo v. acórdão, seja ela, Teoria objetiva pura, que não exige a prova da unidade de desígnio, mas única e tão-somente a demonstração de requisitos objetivos, tais como a prática de crimes da mesma espécie, cometidos em semelhantes condições de lugar, tempo, modo de execução, entre outras.
Ainda para este autor, a lei penal adotou claramente a Teoria Objetiva Pura, onde se deve seguir literalmente o disposto no art. 71 do Código Penal, não cabendo ao juiz questionar os critérios do legislador.
Em que pese a favor do Requerente interpretação preciosa dada pela Exposição de Motivos do Código Penal: “O critério da teoria puramente objetiva não revelou na prática maiores inconvenientes, a despeito das objeções formuladas pelos partidários da teoria objetiva-subjetiva” (grifos nossos).
Note ainda Ilustre julgador, que o Supremo Tribunal Federal ameniza os rigores da teoria objetivo-subjetiva:
Crime continuado: conceito puramente objetivo da lei brasileira: relevância de dados subjetivos restrita a fixação da pena unificada. 1. O direito brasileiro, no art. 71 da nova Parte Geral, de 1984, do C. Pen., persistiu na concepção puramente objetiva do crime continuado: a alusão, na definição legal do instituto, a "outras circunstancias semelhantes" aquelas que enumerou - "de tempo, lugar e modo de execução" - só compreende as que, como as ultimas, sejam de caráter objetivo, não abrangendo dados subjetivos dos fatos. 2. Viola o art. 71 C. Pen. o acórdão que, embora reconhecendo a concorrência dos elementos da caracterização objetiva do crime continuado, que nele se adotou, nega, porem, a unificação das penas, a base de circunstancias subjetivas, quais os antecedentes do acusado ou a ausência da unidade de desígnio. 3. A algumas circunstancias subjetivas fez concessão o parágrafo único do art. 71 C. Pen., não para a identificação do crime continuado, mas apenas para o tratamento penal mais rigoroso, nas hipóteses ali previstas. 4. HC parcialmente deferido para reconhecer a continuação dos crimes, mas remeter ao juízo da execução a correspondente fixação da pena unificada. (HC 68661 / DF - DISTRITO FEDERAL
HABEAS CORPUS, Relator(a):  Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Julgamento:  27/08/1991) (grifos nossos).
Corroborando o entendimento da aplicação da teoria objetiva pela jurisprudência, outro entendimento do Supremo Tribunal Federal:
CRIME - CONTINUIDADE DELITIVA. Se de um lado e certo que a ordem jurídica contempla a teoria objetiva pura, de outro não menos correto e que a conclusão sobre a continuidade delitiva não prescinde do atendimento aos requisitos previstos no artigo 71 do Código Penal. (HC 72216 / SP - SÃO PAULO, HABEAS CORPUS, Relator(a):  Min. MARCO AURÉLIO, Julgamento:  18/04/1995 ) (grifos nossos).
		
Neste passo, resta a este colendo Tribunal Superior desfazer o agravo cometidopelo Acórdão a quo, a fim de permitir aplicação da teoria objetiva pura, de modo a fazer com que o Requerente não sopese nos rigores da teoria objetivo-subjetiva, desconsiderando a unidade de desígnio. 
Por derradeiro, conclui-se a partir de análise perfunctória dos autos, que o Requerente não agia com habitualidade em ações criminosas dessa espécie, tratando-se este caso de fato isolado, fruto de desordem intelectivo temporal.
Noutro giro, merece guarida a pretensão de exclusão do aumento motivado pela agravante da reincidência. Há aqui o concurso desta com a circunstância atenuante da confissão espontânea, não podendo uma ser mais valorada que outra, impondo-se sejam compensadas. Nesse sentido é a jurisprudência:
TJSC: “Reconhecidas a atenuante da confissão espontânea e a agravante da reincidência, circunstâncias consideradas preponderantes pelo art. 67 do Código Penal, procede-se à compensação. Agrava-se e logo em seguida atenua-se com o mesmo valor” (JCAT 83-84/745). 
TJRS: “Tendo em vista o moderno entendimento a respeito da aplicação da agravante da reincidência – nem sempre o reincidente tem mais culpabilidade do que o primário – e a obrigatoriedade da atenuação pela confissão espontânea em razão de seu valor – ela beneficia todos, gerando uma decisão judicial mais rápida, e afasta a incerteza do decisium -, é de se afirmar que a atenuante citada prepondera sobre a agravante mencionada e deverá, sempre, ter um peso maior sobre a fixação da pena – Decisão. Apelo defensivo parcialmente provido com a redução da pena. Unânime” (RJTJERGS 237/68).
No mesmo sentido decidiu recentemente este Superior Tribunal de Justiça ao julgar o HC 94051/DF. Conforme noticiado no sítio virtual do tribunal:
	“Um homem condenado por tentativa de roubo à mão armada no Distrito Federal teve sua pena reduzida por ter confessado espontaneamente, fato que compensou o aumento da pena por ser reincidente. A decisão, unânime, é da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que, sob a relatoria da desembargadora convocada Jane Silva concedeu parcialmente a o habeas-corpus para retirar somente o aumento de pena pela reincidência”
Por oportuno, note que o entendimento pleiteado que exclui a reincidência em face da confissão espontânea merece guarida por ser entendimento que enobrece a confiança e o respeito do réu pelo órgão julgador, pois lhe garante mais segurança em confessar seu crime, tendo em vista que será retribuído seu ato com preponderância sobre outras circunstâncias agravantes.
Diante do exposto, requer seja julgado procedente o presente WRIT, concedendo a ordem, para declarar nulos o acórdão e a r. sentença no que concerne a utilização da regra do concurso material em face da continuidade delitiva e para que se exclua o aumento motivado pela agravante da reincidência por haver o concurso desta com a circunstância atenuante da confissão espontânea.
 
Brasília, 27 de julho 
 
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