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Aplicabilidade da Renúncia e Transação no Direito do Trabalho RECOMENDAR4COMENTAR Publicado por Matheus Cajaíba ano passado 5.490 visualizações RESUMO Este artigo tem como objetivo, lidar com a problemática dos institutos da renúncia e da transação no âmbito do Direito do Trabalho. Traçando um paralelo com o princípio impeditivo da autonomia da vontade, qual seja o princípio da irrenunciabilidade ou indisponibilidade de direitos trabalhistas. E nesta senda, será abordado a tangibilidade ou intangibilidade dos direitos do trabalhador e se eles podem ser objetos de negociação. PALAVRAS-CHAVE Direito do trabalho, renúncia, transação, princípios. ABSTRACT This article aims to deal with the issue of the resignation and transaction institutes, in the Labor Law scope. Drawing a parallel with the impeding principle of freedom of choice, namely the principles of non- waiver and unavailability of labor rights. And on this path, it will be addressed tangibility or intangibility of workers' rights and if they can be trading objects. KEYWORDS Labor law, employment contracts, illicit work, prohibited work 1 INTRODUÇÃO O Direito do Trabalho é um conjunto de regras que geralmente regem relações jurídicas entre o trabalhador e o empregador. E parte da doutrina, data máxima vênia, salienta, erradamente, que o trabalhador é um “hipossuficiente” nessa relação desigual com o empresário. Cabe lembrar que nem sempre o trabalhador tem uma estrutura financeira e econômica inferior à do empregador. Por exemplo: um desembargador que é professor de uma universidade privada – presume-se, neste caso, que sua condição econômica é melhor do que a do seu empregador, proprietário da universidade. Pois bem, no que tange a relação jurídica, todos sabemos da quantidade de direitos e deveres concernentes a ela. Assim sendo, para que haja harmonia no decorrer deste vínculo jurídico de prestação de serviços ou mesmo obrigacional, fazse mister o cumprimento do ônus obligatione pelos seus pactuantes. No âmbito do Direito do Trabalho diferentemente do Direito Civil, há uma limitação para que estas obrigações sejam cumpridas de acordo com a lei e sem que haja a renúncia ou abdicação de direitos como ocorre no Direito Civil - em que as partes gozam de uma autonomia sem precedentes e muitas vezes sujeitam a cláusulas exorbitantes e leoninas e, face a este intempérie sucumbem ao inadimplemento. Destarte, em razão do Princípio da Indisponibilidade ou Irrenunciabilidade que vigora no Direito do Trabalho, restringe-se a autonomia da vontade, isto é, não há que se falar em negociação de direitos trabalhistas, como regra, admitindo- se em casos excepcionalíssimos. Importante destacar que os institutos da renúncia e da transação relativizam a regra da intangibilidade dos direitos trabalhistas, concedendo autonomia ao próprio trabalhador, que poderá renunciar ou transigir direitos – mas com certa margem de segurança, que não o prejudique. Então, faz-se necessário o delineamento da aplicação destes institutos, e suas nuances no âmbito do Direito do Trabalho. 2 PRINCÍPIO DA INDISPONIBILIDADE OU IRRENUNCIABILIDADE DOS DIREITOS TRABALHISTAS Via de regra, os direitos trabalhistas na vigência do contrato de trabalho, são irrenunciáveis, muito em função da subordinação do empregado, leia-se, subordinação jurídica, em face do empregador. Destarte, mesmo na hipótese de o ato ser bilateral (comum acordo entre as partes), se houver prejuízo ao empregado, a nulidade deve imediatamente imperar, posto que o empregado não pode renunciar aos direitos e vantagens assegurados em lei. Caso haja a renúncia por parte dele, o ato será nulo. De acordo com a lição de Americo Plá Rodriguez, “o princípio da irrenunciabilidade não se limita a obstar a privação voluntária de direitos em caráter amplo e abstrato, mas também, a privação voluntária de direitos em caráter restrito e concreto, prevenindo, assim, tanto a renúncia por antecipação como a que se efetue posteriormente. Esse princípio tem fundamento na indisponibilidade de certos bens e direitos, no cunho imperativo de certas normas trabalhistas e na própria necessidade de limitar a autonomia privada como forma de restabelecer a igualdade das partes no contrato de trabalho. ” Outrossim, existem duas espécies de princípios que compõe o princípio da irrenunciabilidade, quais sejam o Princípio da Irredutibilidade Salarial e o Princípio da Intangibilidade Salarial. Com fulcro em dispositivo constitucional, veda-se a redução do salário dos trabalhadores, via de regra. A exceção é o Art. 7º, inc. VI da CF, no qual diz que para que essa redução aconteça e seja válida, há necessidade da participação do sindicato representante dos trabalhadores. No que tange ao Princípio da Intangibilidade salarial, a regra é que não deve incidir descontos no salário, podendo excetuar os casos previstos em norma coletiva ou em lei. 3 DA RENÚNCIA Na lição de CORREIA (2015, p.51) renúncia “é um ato unilateral que recai sobre direito certo e atual, por exemplo, o empregado conquistou o direito de férias após um ano de trabalho e abriria mão (renunciaria) desse direito já conquistado, o que não é válido no direito do trabalho”. Nesta mesma senda “renúncia é a abdicação que o titular faz do seu direito, sem transferi-lo a quem quer que seja. É o abandono voluntário do direito” Antes mesmo de entrar no mérito, no cerne da renúncia, é imperioso destacar as diferenças entre os direitos disponíveis e os direitos indisponíveis. Os disponíveis são renunciáveis pois versam sobre interesse privados, meramente particulares. Os indisponíveis são marcados pela forte intervenção estatal, pois envolvem um interesse de ordem pública, como é o caso dos direitos trabalhistas. Ademais é notável que no Direito do trabalho, de acordo inclusive com a doutrina civilista, o instituto da renúncia tem uma área de aplicação reduzida, ou até mesmo mínima, muito em função de que o legislador trabalhista fez questão de concatenar a igualdade de fato com a relação jurídico- trabalhista, declinando um pareamento (igualdade de direito) das partes envolvidas, protegendo em demasia os direitos do trabalhador, em função da sua situação de desigualdade face ao empregador. Destarte o “cerco” implantado pelo Princípio da Irrenunciabilidade ou Indisponibilidade dos direitos trabalhistas, limita a autonomia da vontade. Logo a disponibilidade desses direitos pelos trabalhadores sofre limitações, pois não seria congruente que o legislador garantisse ao empregado, direitos mínimos e posteriormente concedesse ao seu bom alvitre, ou mesmo à vontade do empregador. Assim, preconiza a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), em seus arts. 9º, 444 e 468 é de clareza solar ao afirmar que: Art. 9º. Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir ou fraudar a aplicação dos preceitos contidos na presente Consolidação. Art. 444. As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos que lhes sejam aplicáveis e às decisões das autoridades competentes. Art. 468. Nos contratos individuais de trabalho só é licita a alteração das respectivas condições por mútuo consentimento, e ainda assim desde que não resultem, direta ou indiretamente, prejuízos ao empregado sob pena de nulidade da cláusula infringente desta garantia. Outrossim, existem situações onde a renúncia é possível no Direito do Trabalho. Um exemplo elucidativo é aquele no qual o empregado, na presença do juiz, no âmbito de uma audiência judicial, renunciar direitos já conquistados. Assim corroboraSérgio Pinto: “Poderá, entretanto o trabalhador renunciar a seus direitos se estiver em juízo, diante do juiz do trabalho, pois nesse caso não se pode dizer que o empregado esteja sendo forçado a fazê-lo. Estando o trabalhador ainda na empresa é que não se poderá falar em renúncia a direitos trabalhista, pois poderia dar ensejo a fraudes”. MARTINS (2010, p. 69) Outras interessantes hipóteses de renúncia, inclusive guarnecidas pelo TST, são as súmulas no 276, 51 inc. II e 243, deste tribunal: “Súmula 276. O direito ao aviso prévio é irrenunciável pelo empregado. O pedido de dispensa de cumprimento não exime o empregador de pagar o valor respectivo, salvo comprovação de haver o prestador dos serviços obtido novo emprego. Súmula 51. Inc. II – havendo a coexistência de dois regulamentos da empresa, a opção do empregado por um deles tem efeito jurídico de renúncia às regras do sistema do outro” Súmula 243. Exceto na hipótese de previsão contratual ou legal expressa, opção do funcionário público pelo regime trabalhista implica a renúncia dos direitos inerentes ao regime estatutário" A contrario sensu, parte da doutrina repugna a incidência desse instituto e roga pela proteção inarredável dos direitos trabalhistas, conforme a doutrina de Luciano Martinez: “É inimaginável, portanto, que qualquer empregado (urbano, rural ou doméstico) renuncie direitos trabalhistas, tal qual o direito ao recebimento do salário-mínimo, à percepção de férias ou à percepção do décimo terceiro salário. O empregador que ingenuamente acredita nesse ato de disponibilidade sofrerá prejuízos, uma vez que o empregado, desprezando a declaração de renúncia, poderá pleitear com sucesso, o direito eventualmente renunciado” (MARTINEZ, Luciano. Curso de Direito do Trabalho: relações individuais, sindicais e coletivas de trabalho. São Paulo: Saraiva, 2010. P. 85) A própria Carta Magna, traz hipóteses de não aplicabilidade da renúncia, ao elencar no artigo 7º, inciso XIII, que a duração normal do trabalho deve ser não superior a 8 horas diárias e quarenta e quatro semanais. É evidente seu conteúdo inderrogável, pois o texto constitucional, quando diz “não superior”, delimita que não podem ser ultrapassados, a não ser se se tratar de hipóteses de compensação. Nesta mesma vereda se encontra a letra da Lei do FGTS (Lei nº 8036/90), que em seu artigo 6º, impõe ao empregador a obrigação de pagar o mínimo de 60% da indenização simples ou em dobro, conforme o caso, pelo tempo de serviço anterior à opção pelo FGTS. Apesar da repulsa por parte da doutrina, na ocorrência de negociação de certos direitos trabalhistas, por ato unilateral dos empregados, tem-se também a sua aplicação no que tange a acordos efetuados por meio de convenções coletivas de trabalho. No entendimento da doutrina francesa é possível tal hipótese sob o fundamento de que “o fato de igualar a nível coletivo os antagonistas sociais faz decair, ao menos em parte, o cuidado do legislador pela posição de inferioridade do trabalhador individual frente a seu empregador” (Camerlynck). É notável a existência do dissenso entre o interesse coletivo e o individual. Mas a Constituição Federal de 1988, em seus inc. VI, XIII e XIV do art. 7º, autoriza a renúncia via acordo e convenção coletiva: “Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho; XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva; ” Apesar da existência do famigerado princípio da flexibilização, a renúncia continua (e deve continuar) sofrendo limitações no direito do trabalho, diante das barreiras ou limites impostos pelo conteúdo expresso ou implícito das normas. 4 DA TRANSAÇÃO A transação é um instituto no qualquer recai sobre direito duvidoso, e requer um ato bilateral das partes, concessões recíprocas. Ao contrário da renúncia onde encontramos direitos indisponíveis, na transação tem-se interesses puramente particulares, meramente disponíveis. Mas para a ordem justrabalhista, não serão válidas quer a renúncia, quer a transação que importe objetivamente em prejuízo ao trabalhador. No caso da transação a lei acrescenta ainda um parâmetro saneador da inexistência de prejuízo em função do ato transacional. Nesta senda, há que se destacar um ponto controvertido, pois através de uma análise prima facie, admitir a transação apenas quando não houver prejuízo ao trabalhador, a meu viso não há que se falar então em concessões recíprocas, mas sim apenas em concessão una. Ademais, a maioria dos códigos civis e da doutrina define transação como um contrato, embora nossa legislação civil a considere como forma de extinguir obrigações. Insta ressaltar que a transação inegavelmente é de extrema utilidade social, pois evita um descontentamento moral e social, prevenindo um dissenso em níveis mais significativos, e como bem salientado alhures encontra limite no art. 9º e 468 da CLT, consagrando este último a ineficácia da alteração do contrato se prejudicial ao trabalhador, exceto nas hipóteses (também já citadas) do art. 7º, inc. VI, XIII e XIV da CF/88. A transação “acha” o seu limite também no interesse da categoria, no interesse público e no artigo 444 da CLT, assim preceitua: “As relações contratuais de trabalho podem ser objeto de livre estipulação das partes interessadas em tudo quanto não contravenha às disposições de proteção ao trabalho, aos contratos coletivos “ou que venha a ser prevista, que reduza direitos trabalhistas, tal redução só pode ser efetuada mediante convenção ou acordo coletivo, não dependendo diretamente da vontade do empregador nem mesmo da decisão judicial na esfera trabalhista” (Cf. José Alberto Couto Maciel - A Nova Constituição e a possibilidade de redução de direitos na convenção coletiva e no acordo coletivo - Rev. LTr 53-1/91). Na mesma senda pronunciou-se o TRT da 15ª Região, como se infere dessa ementa: “Acordo coletivo de trabalho. Instrumento de melhoria de condições de trabalho e de salário e não de extinção de direitos do empregado. Renúncia de direitos às horas extras in itinere previstas em cláusula de Acordo Coletivo. Ineficácia, por sua incompatibilidade com princípios e normas garantidoras de proteção mínima aos empregados (art. 9º e 444 ambos da CLT). Recurso provido”. TRT - 15ª Região - RO 19.358/91.9. Ac. 11.297/93. Rel.: Juiz Milton de Moura França DOE 14.09.93. (Revista Genesis nº 13, janeiro de 94, p. 71. 20 Revista Gênesis de Direito do Trabalho, nº 19, julho/94, p. 31. Rev. TRT - 3ªR. - Belo Horizonte, 27 (57): 89-101, Jul.97/Dez.97 97 21) Mister lembrar que as cláusulas de convenção ou acordo coletivo são passíveis de nulidade, com base no artigo 83, item IV, da lei Complementar no 75/93, que concedeu a competência ao Ministério Público para propor ação anulatória junto aos órgãos da Justiça do Trabalho quando aquelas normas violarem as liberdades individuais ou coletivas, ou até mesmo direitos indisponíveis do trabalhador; por se tratar de questão que diz respeito a coletividade, concatenado aos dissídios coletivos, a ação anulatória deverá ser proposta nos tribunais. No que tange a transação, é vital saber que ela também pode ser feita extrajudicialmente, hipótese prevista em lei, no artigo 625-E da CLT: “Art. 625-E. Aceita a conciliação, será lavrado termo assinado pelo empregado,pelo empregador ou seu proposto e pelos membros da Comissão, fornecendo-se cópia às partes. Parágrafo único. O termo de conciliação é título executivo extrajudicial e terá eficácia liberatória geral, exceto quanto às parcelas expressamente ressalvadas. ” Hipótese que trata da Comissão de Conciliação Prévia. Neste caso, é possível que o trabalhador, somente ele, negocie e transacione suas verbas trabalhistas diretamente com seu empregador. Lembrando que fora esta hipótese, nem mesmo com a presença de um representante do sindicato, a transação terá valia no Direito do Trabalho. Em um modus operandi diverso, aplica-se a problemática da quitação e a aplicação do instituto da transação, onde o trabalhador é calcado e assistido pelo sindicato da categoria. Hipótese que encontra sua valia em jurisprudências dos Tribunais, inclusive na Súmula 330 do TST: “Tendo as partes celebrado transação devidamente homologada em juízo, em ação anterior, com integral quitação das parcelas pleiteadas e de qualquer parcela decorrente do extinto contrato de trabalho, a transação homologada produz os efeitos de decisão irrecorrível (CLT, art. 831). Sua desconstituição não pode ser perseguida em outra reclamatória, exigindo Ação Rescisória, nos termos da Lei.” TST - SDI. Ac. 2330/95. Rel.: Juiz Alcides Rocha. DJ 1.9.95, p. 27.667). “Desconstituição de transação judicial. Ação rescisória. A transação judicial é, por definição, o ato jurídico, pelo qual as partes, fazendo-se concessões recíprocas, extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas. E duvidoso era o resultado das ações propostas pelo Sindicato. Desta forma, se o empregado, através da conciliação homologada, deu quitação plena e total ao contrato de trabalho extinto, sem nenhuma ressalva, não pode arrepender-se e buscar a desconstituição da coisa julgada ao seu livre arbítrio. Recurso provido”. (TST - SBDI2 - Ac. Nº 1693/97 - Rel. Min. Ângelo Mário - DJ 01.08.97 - p. 34.260). Revista do Direito Trabalhista. Ano 3, nº 09 - set/97, p. 64. Rev. TRT - 3ªR. - Belo Horizonte, 27 (57): 89-101, Jul.97/Dez.97 101 28) “Súmula 330 do TST: A quitação passada pelo empregado, com assistência de entidade sindical de sua categoria, ao empregador, com observância dos requisitos exigidos nos parágrafos do art. 477 da CLT, tem eficácia liberatória em relação às parcelas expressamente consignadas no recibo, salvo se oposta ressalva expressa e especificada ao valor dado à parcela ou parcelas impugnadas." I - A quitação não abrange parcelas não consignadas no recibo de quitação e, consequentemente, seus reflexos em outras parcelas, ainda que estas constem desse recibo. II - Quanto a direitos que deveriam ter sido satisfeitos durante a vigência do contrato de trabalho, a quitação é válida em relação ao período expressamente consignado no recibo de quitação.” Alguns autores tratam também o Programa de Demissão Voluntária como um caso de transação individual de direitos trabalhistas. De forma sucinta, define-se o PDV como uma concessão de vantagem in pecunia ao empregado que desligar- se do trabalho “voluntariamente”. É uma das formas de reduzir o quadro de pessoal, e de forma breve, colocar um ponto final no contrato de trabalho. É essencial destacar também, o posicionamento do Tribunal Superior do Trabalho acerca do tema, dizendo que a indenização paga ao empregado, não tem capacidade para substituir as verbas trabalhistas provenientes do contrato de trabalho. Além de que, aquele empregado que aderiu ao PDV, não se pode conceder quitação geral ao contrato, podendo o mesmo posteriormente pleitear por parcelas que não foram quitadas. É desta forma que o TST corrobora seu entendimento: Orientação jurisprudencial 270 da sdi-1 do TST - A transação extrajudicial que importa rescisão do contrato de trabalho ante a adesão do empregado a plano de demissão voluntária implica quitação exclusivamente das parcelas e valores constantes do recibo. Orientação jurisprudencial 356 da sdi-1 do TST Os créditos tipicamente trabalhistas reconhecidos em juízo não são suscetíveis de compensação com a indenização paga em decorrência de adesão do trabalhador a Programa de Incentivo à Demissão Voluntária (PDV). In fine, no que diz respeito a transação, o posicionamento doutrinário é pacífico no que se refere as normas de indisponibilidade relativa que são de interesse meramente particular. Mas como bem salienta o Ministro Maurício Godinho, para as normas de indisponibilidade absoluta não há possibilidade de transação individual por serem normas cogentes, imperativas. 5 CONCLUSÃO A partir dos argumentos que foram apresentados, ficou evidente que os institutos da renúncia e transação são tratados com cautela no Direito do Trabalho, e muitos divergem ao subsumi-los na estrutura jurídico-trabalhista. Visto que, os direitos trabalhistas são extremamente salvaguardados pela doutrina, lei e jurisprudência. Este posicionamento cauteloso é de fato um posicionamento tanto quanto inteligente e precavido, no qual preza por conceder ao trabalhador, direitos e garantias mínimas para que tenha uma relação de trabalho digna, protegida contra eventuais desatinos. Ademais, direitos trabalhistas que foram arduamente conquistados, por meio de passeatas, revoluções, protestos e greves, que se prolongaram no tempo até adquirirmos o que temos hoje - um regime jurídico trabalhista, uma disciplina autônoma, e nada menos que um amparo constitucional que acautela toda a relação trabalhista. E muito embora possa haver a relativização desses direitos, por meio dos institutos da renúncia e da transação, não se pode deixar com que a autonomia do Direito Civil invada a seara trabalhista, possibilitando contratos de trabalho sem qualquer amparo jurídico, permitindo, por exemplo, uma negociação desarrazoada de direitos pelo empregador em detrimento ao seu empregado, ou mesmo até, o possível desmantelamento da estrutura garantista do Direito do Trabalho. Por fim, ao meu ver não se deve engessar direitos trabalhistas, nem mesmo torná-los absolutos, ou cláusulas pétreas, relativizações e exceções são sempre bemvindas; pois o Direito é uma disciplina volátil facilmente adaptável com as mudanças da civilização, o Direito acompanha o homem, e muda juntamente com ele. Assim o Estado tem o dever-poder de ser cauteloso e congruente, porque ao garantir os direitos do trabalhador, está indiretamente garantindo a subsistência da sua família.
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