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Plano de Aula: CONCURSO DE CRIMES DIREITO PENAL II TÍTULO CONCURSO DE CRIMES 1. Conceito Concurso de crimes significa a prática de várias infrações penais por um só agente ou por um grupo de autores atuando em conjunto. Diversamente do concurso de pessoas, onde um único delito é cometido, embora vários agentes, no caso do concurso de crimes busca-se estudar qual a pena justa para quem comete mais de um delito. Salienta-se a distinção entre conduta e ato. A conduta corresponde ao comportamento baseado no verbo núcleo do tipo penal, por exemplo, subtrair, constranger, apropriar-se, etc. O ato compreende uma fração ou uma etapa da conduta. Se a conduta fosse o “filme”, o ato seria a “cena” 1.1. Sistema de Aplicação de Pena: a) Exasperação de Pena. É o critério que permite, quando o agente pratica mais de um crime, a fixação de somente uma das penas, mas acrescida de uma cota-parte que sirva para representar a punição por todos eles. Trata-se de um sistema benéfico ao acusado e adotado no Brasil, nos art. 70 (concurso formal) e art. 71 (crime continuado). b) Cúmulo Material ou acumulação material Significa que a materialização de mais de um resultado típico implica na punição por todos eles, somando-se as penas. É o que se dá no concurso material previsto no artigo 69 do CP. É o que ocorre nos casos dos tipos penais prevendo a aplicação de determinada pena, além de outra, advinda da violência praticada em conjunto. Exemplos: art. 344 do CP, art. 161 e parágrafo 2º. 2 - Concurso de Crimes e Conflito Aparente de Normas - distinção. É preciso delimitar claramente as hipóteses que caracterizam o concurso de delitos, a fim de não confundi-las com os casos em que ocorre o conflito aparente de normas. Exemplos: 1. Se uma pessoa saca uma arma de fogo e, apontando-a para um casal, toma da mulher a bola e do homem um relógio, há dois crimes (em concurso formal). 2. Se alguém, por outro lado, invade uma residência e, no interior do imóvel, apodera-se de algum objeto de valor, subtraindo-o, há somente um crime, pois, o furto (CP, art. 155) absorve a violação de domicílio (CP, art. 150). Haverá conflito aparente de normas se houver um só fato ou uma só conduta, aos quais aparentemente se apliquem várias normas penais incriminadoras. Na hipótese de serem vários fatos, ter-se-á concurso de crimes. 3- Espécies de Concurso de Crimes: Material, Formal e Crime Continuado (ou Continuidade Delitiva) Nosso código penal conhece três formas distintas de concurso de delitos. No concurso material, o agente realiza dois ou mais crimes mediante duas ou mais condutas. No concurso formal, uma só ação ou omissão produz dois ou mais resultados. No crime continuado, os delitos são cometidos de modo que um se entenda como continuação do outro. 4 - Concurso Material ou Real (art. 69 do CP). 4.1 Conceito Dá-se quando o agente, mediante duas ou mais CONDUTAS, dolosas ou culposas, pratica dois ou mais crimes, idênticos (concurso material homogêneo) ou não (concurso material heterogêneo). Frisa-se que para se falar em concurso material, é fundamental que exista entre os fatos algum vínculo. Em outras palavras, deve haver conexão (CPP, art. 76) entre os crimes cometidos. Aliás, sem liame da conexão, os delitos seriam objeto de processos distintos, operando-se a eventual soma das penas somente na fase de execução. Idênticos são os crimes previstos no mesmo tipo penal. O furto simples (art. 155, caput) é idêntico ao qualificado (art. 155, parágrafo 4º), mas difere do furto de coisa comum (art. 156) ou da apropriação indébita (art. 168). Vale lembrar que os termos ação ou omissão mencionados pelo código penal devem ser tomados no sentido de conduta, fazendo com que somente ocorra concurso material quando haja duas ou mais condutas. 4.2 Requisitos Mais de uma ação ou omissão A prática de dois ou mais crimes Consequências: Aplicação cumulativa das penas privativas de liberdade em que haja incorrido. 4.3 Espécies: Homogêneo e Heterogêneo Homogêneo se dá quando os crimes são previstos no mesmo tipo penal, enquanto heterogêneo quando os crimes praticados não são idênticos. Cabe ressaltar que esta distinção não apresenta qualquer relevância prática, pois, seja qual for o caso, adotar-se-á sempre o sistema de cúmulo material, ou seja, as penas serão sempre somadas. 4.4. Sistema de Aplicação de Pena: Cúmulo Material. Uma vez afirmada a existência do concurso material, a regra a ser adotada será o do cúmulo material. O juiz deverá encontrar, isoladamente, a pena correspondente a cada infração penal praticada. Depois do cálculo final de todas elas, haverá o cúmulo material, ou seja, serão as penas somadas para que seja encontrada a pena total aplicada ao sentenciado. Exemplo: Alguém ingressa numa residência com a finalidade de cometer um crime de roubo, se além da subtração violenta vier a estuprar a filha do proprietário daquela casa, teremos a pratica de duas infrações penais realizadas numa relação de contexto: roubo e estupro. A regra, portanto, será a de julgamento simultâneo dessas infrações, no qual o juiz, se condenado o réu por ambas infrações, aplicará a pena correspondente a cada uma delas para, posteriormente, cumulá-las materialmente. 5- Concurso Formal ou Ideal 5.1 Conceito Dá-se quando o agente, mediante uma só conduta, pratica dois ou mais crimes, idênticos (concurso formal homogêneo) ou não (concurso formal heterogêneo). 5.2 Requisitos Uma só ação Prática de dois ou mais crimes Consequências: Aplicação da mais grave das penas, aumentadas de um sexto até a metade; Aplicação de somente uma das penas, se iguais, aumentadas de um sexto até a metade; Aplicação cumulativa das penas, se a ação ou omissão é dolosa, e os crimes resultam de desígnios autônomos. 5.3 Espécies: a) Homogêneo e Heterogêneo Conceitos já anteriormente vistos. b) perfeito (ou próprio) e imperfeito (impróprio) - unidade e diversidade de desígnios. A distinção reside na existência do elemento subjetivo do agente ao iniciar a conduta. Perfeito. Nos casos em que a conduta do agente for culposa na sua origem, sendo todos os resultados atribuídos ao agente a esse título, ou na hipótese que a conduta era dolosa, mas o resultado aberrante lhe é imputado culposamente, o concurso será reconhecido como próprio ou perfeito. Exemplos: 1) Motorista que imprudentemente atropela duas pessoas que se encontravam no ponto de ônibus, causando-lhe a morte, teremos um concurso formal próprio ou perfeito. 2) Agente que almejando lesionar se desafeto, contra ele arremessa uma garrafa de cerveja que o acerta, mas também atinge outra pessoa que se encontrava próxima causando-lhe também lesões, teremos uma primeira conduta dolosa e também um resultado que lhe poderá ser atribuído a título de culpa. Imperfeito Na parte final do artigo 70 do CP, a lei prevê a possibilidade de o agente atuar com desígnios autônomos, querendo, dolosamente, a produção de ambos os resultados. Exemplo: o agente enfileira várias pessoas e com um único tiro, de arma potente, consegue matá-las ao mesmo tempo, não merece o concurso formal, pois agiu com desígnios autônomos. Por isso, são somadas as penas. 5.4. Sistemas de Aplicação de Pena e Concurso Material Benéfico. (Art. 70, parágrafo único, do Código Penal.) O sistema de exasperação mostrar-se evidentemente mais benéfico ao agente do que o do cúmulo material. Caso, entretanto, o magistrado verificar que a pena decorrente da exasperação pelo concursoformal seria maior do que a resultante da simples soma das sanções deverá optar por esse caminho, em vez de aumentar a maior das penas. Exemplo: Agente comete em concurso formal próprio um homicídio qualificado (art. 121, par. 2º) e uma lesão corporal culposa (art. 129, par. 6º) as penas deverão ser somadas. Regra do art. 70: pena mínima - 12 anos + 1/6 = 14 anos Regra do art. 70, p. único: pena mínima – 12 anos (reclusão) + 2 meses (detenção). 6. Continuidade Delitiva 6.1. Conceito. Dá-se quando o agente pratica dois ou mais crimes da mesma espécie, mediante duas ou mais condutas, os quais, pelas condições de tempo, lugar , modo de execução, podem ser tidos como continuação dos outros. Exemplo: uma empregada doméstica, visando subtrair o faqueiro de sua patroa, decide furtar uma peça por dia até completar o jogo completo; 120 depois terá completado o faqueiro e cometido 120 furtos. Não fosse a regra do art. 71 do CP, benéfica ao agente, a pena mínima no exemplo proposto corresponderia a 120 anos. 6.2. Natureza Jurídica - Teorias: a) Unidade Real: entende que o vínculo da continuidade delitiva, quando presente, faz com que diversos fatos constituam, na verdade crime único. No caso acima, a empregada subtraiu 120 talheres, haveria um só criem, praticado mediante 120 condutas distintas. b) Ficção Jurídica: reconhece a existência de vários crimes, mas adota a punição unitária, ou seja, embora existam duas ou mais infrações penais, impor-se-á uma só pena (aumentada). Foi a teoria acolhida pelo Código Penal brasileiro. Para efeito de se calcular a prescrição da pretensão punitiva, manda a lei que cada delito seja considerado individualmente ( CP, art. 119), confirmando a existência de infrações diversas (cada um terá o seu prazo prescricional correndo autonomamente. c) Mista: apregoa que o crime continuado, na verdade, representa uma modalidade de delito própria e diversa do crime único. Assim, existira o furto simples e o furto continuado. 6.3. Requisitos: a) Pluralidade de condutas b) Pluralidade de crimes da mesma espécie – controvérsias 1ª Posição: considera crimes da mesma espécie aqueles que possuem o mesmo bem juridicamente protegido, ou seja, como dizia Heleno Fragoso “crimes da mesma espécie não são apenas aqueles previstos no mesmo artigo da lei, mas também aqueles que ofendem o mesmo bem jurídico e tem características comuns. Exemplo: furto e roubo. 2ª Posição: considera que crimes da mesma espécie são aqueles que possuem a mesma tipificação penal, não importando se simples, privilegiados ou qualificados, se tentados ou consumados (predominante). c) Nexo de continuidade: condições de tempo, lugar, maneira de execução e outras circunstâncias semelhantes - Interpretação analógica. d) Continuidade Delitiva e Reiteração Criminosa - confronto. 6.4. Espécies de Crime Continuado a) Genérico. b) Específico. Quando além dos requisitos acima, tratar-se de crimes dolosos, praticados com violência ou grave ameaça à pessoa e contra vítimas diferentes. - Leia o art. 71, caput e parágrafo único, do Código Penal. 6.5. Continuidade Delitiva e conflito de leis penais no tempo: Verbete de Súmula n.711, do Supremo Tribunal Federal. 6.6. Continuidade Delitiva e Suspensão Condicional do Processo: Verbete de Súmula n. 723, do Supremo Tribunal Federal 7- Consequências em relação à fixação de pena e extinção de punibilidade. 7.1. Sistema de Aplicação de Pena. 7.2. Unificação das penas. 7.3. Prescrição Penal. Para efeito de se calcular a prescrição da pretensão punitiva, manda a lei que cada delito seja considerado individualmente ( CP, art. 119), confirmando a existência de infrações diversas (cada um terá o seu prazo prescricional correndo autonomamente. Indicação Bibliográfica Leia os arts. 69 a 71, do Código Penal. - Concurso de Crimes ? pp. 345 a 351 (7 págs.) Leia os Verbetes de Súmula n. 611,711 e 723, do Supremo Tribunal Federal, disponíveis em HTTP://www.stf.jus.br.
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