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14/03/2017 1 Erros inatos do metabolismo (EIM) Profª MSc Juliana Huss Histórico - Início do século XX – Alcaptonúria – aspectos genéticos da doença, início dos estudos sobre os EIMs; - 1908 – Archibald Garrod – Livro “Erros Inatos no metabolismo”; - Albinismo, cistinúria e pentosúria; - 1934 – Folling relatou a PKU (EIM de Phe); - 1941 – Beadle e colaboradores – relação bioquímica e genética “um gene – uma enzima”. Mutações gênicas rotas bioquímicas deficientes - Após 1950 – Novas técnicas laboratoriais (cromatografia, eletroforese de PTNs, além da tecnologia do DNA). Albinismo: EIM na rota de síntese de melanina Gene Enzima Substrato Produto ~ 5000 Doenças Genéticas ~500 EIMs Gene Enzima Substrato Produto No grupo dos EIM está a maior parte das doenças genéticas para as quais há algum tratamento. 14/03/2017 2 Conceito Os erros inatos no metabolismo (EIMs) são distúrbios geneticamente determinados, decorrentes da deficiência de uma ou mais enzimas específicas, que afetam o metabolismo normal. Em sua maioria doenças recessivas. - Incidência isolada é pequena; - Frequência em conjunto (nos 500 distúrbios conhecidos) é expressiva - 1:800 a 1:5.000 nascidos vivos; - Apesar de raros, representam, em conjunto, importante problema de saúde, e seu diagnóstico, frequentemente, constitui um desafio para o profissional; - São considerados uma especialidade pediátrica porque parte das doenças ocorre de forma aguda no recém nascido (RN) ou como distúrbios de crescimento, ou atraso no desenvolvimento; no entanto podem se manifestar em qualquer faixa etária. Concentração Étnica Alguns EIM são mais frequentes em etnias específicas – Judeus Ashkenazi (Tay-Sachs, Gaucher); – Franco-canadenses (Tirosinemia hepatorrenal); – Amish (doença da Urina do Xarope de Bordo); – Sul-africanos caucasóides (Porfiria Variegata); – Turcos (Fenilcetonúria). 14/03/2017 3 Heterogeneidade clínica • Os EIM se manifestam com apresentação clínica variada, conforme o defeito específico, podendo ter manifestações típicas ou atípicas; • É comum os EIM terem um espectro amplo de gravidade e, conforme a situação, o quadro clínico pode iniciar-se na fase neonatal, infantil, juvenil ou adulta; • A evolução é geralmente aguda (moléculas pequenas) ou geralmente subaguda/crônica (moléculas complexas). Sintomatologia dos EIMs em sistemas orgânicos Sintoma Exemplos Neurológico ou neuromuscular Transtornos de sucção e deglutição; Vômitos; Hipotonia; Alterações respiratórias; Letargia, convulsões, coma; tendência a opistótonos (contratura generalizada) Hepático Insuficiência hepática fulminante; sintomatologia hepática (icterícia, hepatomegalia, insuficiência hepática, hiperamonemia) Cardíaco Transtornos do ritmo; cardiomiopatia progressiva Outras manifestações dos EIMs compreendem: falência multissistêmica progressiva; síndromes dismórficas; alterações hematológicas, renais e cutâneas; desidratação; acidose metabólica; alcalose respiratória; hipoglicemia ou hiperglicemia. Achados clínicos precoces em 90 erros metabólicos Achado N° de doenças Retardo ou regressão neurológicas 31 Hepatomegalia 27 Retardo do crescimento 25 Convulsões 24 Vômitos, letargia 20 Alguns dados que podem sugerir EIMs: • História de morte precoce em crianças na família, sem que uma causa tivesse sido definida; • Consanguinidade entre os pais; • Encefalopatia inexplicável que pode ocorrer em qualquer idade e de forma recorrente (algumas vezes pode ser intermitente) ; • Episódios de hipoglicemia, acidose metabólica e desequilíbrio hidroeletrolítico; • Regressão neurológica e retardo mental; • Hepatomegalia e/ou esplenomegalia; • Déficit de crescimento e/ou alterações osteoarticulares. Erros inatos podem ocorrer em qualquer área do metabolismo • EIM DOS AMINOÁCIDOS • EIM DOS ÁCIDOS ORGÂNICOS • EIM DO CICLO DA URÉIA • EIM DOS CARBOIDRATOS • EIM DA ß-OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS • EIM DOS LISOSSOMOS • EIM DOS PEROXISSOMAS • EIM DAS MITOCÔNDRIAS • MUITOS OUTROS EIM Classificação da função proteica pela localização no organismo As proteínas agem da seguinte maneira: 1. Catalisam as funções da membrana plasmática a. Transporte de substrato b. Sinalização celular (receptores) 2. Catalisam as vias metabólicas integradas no citosol, lisossomo, peroxissomo, mitocôndria, núcleo e retículo endoplasmático. 3. Circulam no sangue, proporcionam e mantêm várias funções (coagulação; transporte de metal, lipídeo e vitamina; imunidade; transporte de oxigênio; regulação de proteases; hormônios e proteínas de adesão) 4. Mantêm a integridade estrutural de órgãos e organelas (colágeno, elastina, actina, distrofina, fibrilinas) 14/03/2017 4 Mecanismos patológicos clássicos para EIM 1. Acúmulo de substratos em concentrações tóxicas por bloqueio de uma reação catabólica: Exemplos: galactosemia, má absorção de glicose-galactose, defeitos do ciclo da uréia... 2. Produção de subprodutos tóxicos por meio de uma via normalmente menor. Exemplos: tirosinemia tipo I, deficiência de adenosina desaminase.. 3. Deficiência de um produto final em uma via anabólica. Exemplo: albinismo, acidúria orótica, escorbuto... 4. Perda da regulação que resulta em superprodução de intermediários em níveis tóxicos. Exemplos: hiperplasia adrenal congênita, porfiria intermitente, hipercolesterolemia familiar.. Classificação dos Erros Inatos do metabolismo Grupo I – Defeito na síntese ou catabolismo de moléculas complexas Grupo II – Defeito no metabolismo Intermediário Grupo III – Deficiência na produção e ou utilização de energia Classificação de Saudubray e Charpentier, 2012. Grupo I- doenças lisossomais • MUCOPOLISSACARIDOSES • ESFINGOLIPIDOSES • Hurler • Huler- Sacheie • Scheie • Tay- Sachs • Doença de Fabry • doença de Gaucher • Nieman-Pick • MUCOPOLISSACARIDOSES acúmulo de glicosaminoglicanos leva a desorganização do tecido conjuntivo (fígado, ossos, córnea) • ESFINGOLIPIDOSES Acúmulo de algum lipídio Membranas celulares ( tecido nervoso) 14/03/2017 5 Grupo I- mucolipidoses • GLICOPROTEINOSE • DISTÚRBIOS DO TRANSPORTE DA MEMBRANA • Fucosidose • Manosidose • Sialidose • Aspartilglicosaminúrias • doença do depósito do ác. Siálico • Cistinose • Doença de salla Grupo I- mucolipidoses • DOENÇAS DOS PEROXISSOMOS • Síndrome de Zellweger • Adrenoleucodistrofia(óleo de Lorenzo) • Doença de Fersum • Hiperoxaluria tipo I Grupo II- doenças • AMINOACIDOPATIAS • Cistinúria • Fenilcetonúria • Tirosinemia • Homocistinúria • Hiperglicemia não- cetótica • Doença da urina do xarope de bordo ou leucinose 14/03/2017 6 Grupo II- doenças • ACIDÚRIAS ORGÂNICAS • Acidemia isovalérica • Deficiência da 3- metilcrotonil CoA carboxilase • Acidemia 3- metilglutárica • Acidemia propriônica • Acidemia metilmalônica • Deficiência múltipla da carboxilase • Acidemia glutâmica tipo I Grupo II- doenças • DEFEITOS DO CICLO DA URÉIA • Deficiencia da carbomoil fosfato sintetase • Deficiencia da ornitina transcarbamilase • Citrulinemia • Acidúria arginosuccínica • Argininemia • Intolerância lisinúrica á proteína Defeitos do ciclo da uréia • Via metabólica que metaboliza a amônia pela síntese de arginina e uréia • Incidência: 1:30.000 • Diagnóstico: hiperamonemia, níveis elavados plasmáticos de glutamina e alanina e a presença de ácido orótico e oritidina na urina • Quadro clínico: encefalopatia, alcalose respiratória e hiperamonemia • Mais frequente deficiência da transcarbamilase, menos arginase Deficiência das enzimas do Ciclo da Uréia Defeitos do ciclo da uréia • Sintomas têm inicio após 24h de vida: diminuição da aceitação alimentar, letargia que progride para coma • Tratamento( aguda): evitar efeitos tóxicos da amônia( hemodiálise, benzoato e fenilacetato) • Tratamento:restrição protéica, fórmulas Grupo II- doenças • INTOLERÂNCIA AOS AÇÚCARES • Galactosemia clássica • Deficiência de galactoquinase • Deficiência da epimerase • Intolerância hereditária a frutose 14/03/2017 7 Intolerância aos açúcares- galactosemia clássica Grupo III- doenças • DEFEITO DE ß-OXIDAÇÃO DE ÁCIDOS GRAXOS • Deficiência da Acil-CoA desidrogenase de cadeia média ( MACD) • LCAD, SCAD • Defeito do transporte plasmático de carnitina • Deficiência de carnitina palmitoil transferase 14/03/2017 8 Grupo III- doenças • DOENÇAS MITOCONDRIAS E HIPERLACTICEMIAS CONGÊNITAS • Defeitos da fosforilação oxidativa • Deficiência da carboxiquinase fosfoenolpiruvato • Deficiência do comlexo da piruvato desidrogenase • Deficiência da piruvato carboxilase Grupo III- doenças • DOENÇAS DE ARMAZENAMENTO DE GLICOGÊNIO - DAG • Formas hepáticas • Formas musculares Investigação de EIM • SUSPEITA CLÍNICA • TESTES DE TRIAGEM • ANÁLISES QUALITATIVAS • ANÁLISES QUANTITATIVAS • ENSAIOS ENZIMÁTICOS • ANÁLISES MOLECULARES • DIAGNÓSTICO Como suspeitar de um EIM? • História familiar positiva; • Consanguinidade; • Involução do DNPM (desenvolvimento neuropsicomotor); • Hipoglicemia, Hiperglicemia; • Acidose metabólica; • Discrasias sanguíneas; • Hepatomegalia e ou esplenomegalia; • Letargia, coma, convulões, ataxia, hipo ou Hipertermia; • Estado neurológico flutuante; • Anormalidades oculares; • Odor anormal – urina, suor. Testes de triagem • Testes geralmente de alta sensibilidade mas de baixa especificidade; • Geralmente realizados em baterias que incluem diversos testes em sangue e urina; • Servem para dirigir a investigação para uma área mais específica do metabolismo; • Um resultado positivo deve ser seguido de investigações complementares; • Um resultado negativo deve ser interpretado considerando as limitações do teste e o quadro clínico do paciente. 14/03/2017 9 GASOMETRIA Na+, K+, Cl- “ÂNION GAP” Na+ - (Cl- + HCO-3) GASOMETRIA Na+, K+, Cl- “ÂNION GAP” Na+ - (Cl- + HCO-3) Para que serve o diagnóstico: Abordagem da família, com vistas a: • Detecção mais precoce de novos casos; • Detecção de portadores (especialmente em doenças ligadas ao X); • Aconselhamento genético; • Diagnóstico pré-natal. ~ 5000 Doenças Genéticas ~500 EIMs ~200 EIMs Tratáveis História Familiar • Consanguinidade entre os pais; • Abortos múltiplos; • Saúde dos pais e irmãos. 14/03/2017 10 Orientação e conduta • Orientação da família sobre os EIM e a investigação do diagnóstico; • Testes de triagem urinários e sanguíneos; • Avaliação complementares; • Atendimento multidisciplinar. Importância do diagnóstico Conclusões • Angústia da família; • Tratamento e prognóstico; • Doenças graves, internações frequentes, acompanhamento ambulatorial longo com exames onerosos; • Aconselhamento genético. Tratamento dos EIM 14/03/2017 11 Teste do pezinho - É obrigatório por lei em todo o Brasil; - Realizado após 48 horas de vida (ideal que seja feito até o 7º dia); - Simplicidade x prevenção; - O diagnóstico precoce previne a deficiência mental; - O SUS instituiu o Programa Nacional de Triagem Neonatal, que inclui no Teste do pezinho a identificação de: Fenilcetonúria, hipotireoidismo congênito, anemia falciforme, fibrose cística, hiperplasia adrenal congênita e deficiência da biotinidase. - Versão nova do teste – Detecta mais de 30 doenças. Mas é ainda um recurso sofisticado e bastante caro, não disponível na rede pública de saúde.
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