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SUMÁRIO 1. A Conquista e Colonização da América ................................................................... 02 1.1 Sessão Leitura – As Caravelas Portuguesas ................................................... 06 1.2 Exercícios de Fixação ...................................................................................... 07 2. O Brasil Colonial ......................................................................................................... 10 2.1 Sessão Leitura – O Julgamento e a Sentença de Tiradentes ......................... 17 2.2 Exercícios de Fixação .................................................................................... 18 3. A Independência do Brasil ......................................................................................... 22 3.1 Sessão Leitura – A Vida Privada de D.João VI ................................................ 28 3.2 Exercícios de Fixação ...................................................................................... 28 4. O Primeiro Reinado .................................................................................................... 31 4.1 Sessão Leitura – Do Poder Moderador ........................................................... 34 4.2 Exercícios de Fixação ..................................................................................... 35 5. O Período Regencial ................................................................................................... 36 5.1 Sessão Leitura – A Estadia de Giuseppe Garibaldi no Brasil .......................... 41 5.2 Exercícios de Fixação ...................................................................................... 43 6. O Segundo Reinado ................................................................................................... 45 6.1 Sessão Leitura – A Lei Áurea .......................................................................... 53 6.2 Exercícios de Fixação .................................................................................... 54 7. As Emancipações das Colônias da América Espanhola ........................................ 56 7.1 Sessão Leitura – Bartolomé de Las Casas ...................................................... 61 7.2 Exercícios de Fixação ...................................................................................... 63 8. A Independência dos Estados Unidos da América ................................................. 67 8.1 Sessão Leitura – Pocahontas ......................................................................... 70 8.2 Exercícios de Fixação...................................................................................... 74 Pintou no ENEM .............................................................................................................. 75 Referências ...................................................................................................................... 82 CAPÍTULO 01 A CONQUISTA E COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA Mercantilismo: Conjunto de medidas ou “práticas econômicas” do período de transição do feudalismo para o capitalismo, caracterizado principalmente pela intervenção do Estado na Economia, mas também: Metalismo; Balança comercial favorável; Incentivo a manufaturas; Incentivo a construção naval; Protecionismo alfandegário; Colonialismo; Pacto colonial. A EXPANSÃO MARÍTIMA PORTUGUESA A crise do século XIV também alcançou a Península Ibérica, diminuindo a população, provocando o êxodo para as cidades e revoltas camponesas. Além disso, os metais preciosos com que se cunhavam moedas tornavam-se cada vez mais escassos. No caso de Portugal a crise foi contornada com o processo de Expansão Marítima, onde as atividades comerciais já representavam um fator importante na economia da região. Essa expansão comercial marítima tinha duplo interesse: A Burguesia Mercantil que teria mais lucros e prestígio social e ao Rei que teria mais terras poderes e riquezas. Portugal foi o primeiro país europeu a lançar-se no processo de expansão marítima, sendo que isso não ocorreu por acaso, Portugal possuía algumas vantagens que o favoreceram no período como uma posição geográfica favorável, uma burguesia mercantil acostumada com o comercio marítimo e a ausência de guerras em seu território. Fatores que contribuíram para o desenvolvimento das escolas de navegação mais avançadas da época como a Escola de Sagres em 1446. O marco inicial da expansão ultramarina portuguesa foi a conquista de Ceuta (1415), situada na costa marroquina, importante comercial e estrategicamente para a expansão árabe, simbolizava o poderio muçulmano. Como desta região saíam expedições piratas árabes, a conquista foi justificada por Portugal como sendo uma reação Cristã aos ataques Muçulmanos. Entretanto, a burguesia lusitana saiu frustrada em seus objetivos. A intenção era interceptar as caravanas de ouro, marfim, pimenta e escravos que faziam paradas em Ceuta. Mas foram tantos os assassinatos, roubos, depredações, que os árabes caravaneiros partiram para outras rotas que os livrassem dos cristãos portugueses. Essa foi a razão pela qual Portugal passou a buscar caminhos para chegar diretamente às fontes de mercadorias orientais. Em 1454, com a conquista de Constantinopla pelos turcos tornou-se ainda mais importante alcançar as Índias por mar. A aventura marinha portuguesa foi chamada de Périplo Africano, já que pretendia alcançar as Índias contornando a costa da África, o que foi realizado no decorrer do século XV. A medida que atingiam novas regiões, criavam-se feitorias (pontos no litoral onde construíam fortes, e ali permaneciam alguns homens que realizavam trocas com os nativos) sem projeto de colonização ou organização de produção agrícola, buscando-se apenas o lucro advindo de negociação de produtos da região conquistada. Na segunda década do séc. XV, as Ilhas Atlânticas dos arquipélagos de Açores, Madeira e Cabo Verde foram ocupadas por Portugal. Em 1434, os portugueses chegaram ao Cabo Bojador. O líder ad expedição, Gil Eanes, constatou então a existência de um oceano de fácil navegação ao sul. Em 1460, já se realizava um lucrativo comércio de escravos, desde Senegal até Serra Leoa. Dois anos mais tarde Pedro Sintra descobria o cobiçado ouro de Guiné. Em 1488 foi transposto o Cabo da Boa esperança. Comandados por Bartolomeu Dias, os portugueses ultrapassaram o turbulento mar da região, e cruzaram o extremo sul africano e chegaram ao Oceano Índico. A partir de então, foi aprendida uma nova rota extremamente ousada e perigosa que apesar de tudo, poderia ser extremamente lucrativa para Portugal. Em 1498, Vasco da Gama completou a epopeia marítima portuguesa aportando em Calicute, nas Índias. Para se ter uma ideia da importância e lucratividade do acontecimento, basta mencionar que os navios de Vasco da Gama trouxeram, em apenas uma viagem, o que os venezianos conseguiam transportar por terra durante um ano. No final do século XV, Portugal detinha a exclusividade da rota atlântica das especiarias e dos artigos de luxo – o mais importante setor do comércio internacional. A ESPANHA E O DESCOBRIMENTO DA AMÉRICA: Convém lembrar, mais uma vez, a conexão que existiu entre a centralização política e a expansão comercial. Assim, a medida que outros reinos se unificavam, laçavam-se também para a expansão marítima Concomitantemente a expansão portuguesa que ia desvendando os segredos dos mares e ampliando o seu comércio junto às regiões da 4costa africana, a Espanha ainda via-se envolvida em conflitos bélicos pela expulsão dos mouros que ainda ocupavam parte de seu território. Vale lembra também, que a Espanha, por exemplo, conseguiu a sua unificação política com o casamento de dois reis católicos: Fernando de Aragão e Isabel de Castela (1469). A partir daí, eles intensificaram o movimento da Reconquista, expulsando definitivamente os mouros em 1942 e conseguindo assim unificar seu território. Com a expulsão dos mouros e a necessidade de uma rota comercial marítima até as índias, os Reis Fernando e Isabel decidiram patrocinar uma expedição de um navegador que anunciado um audacioso plano de atingir as Índias que havia sido rejeitado por Portugal que já estava envolvido em seus próprios planos: Cristóvão Colombo. No mesmo ano os reis católicos iniciaram a expansão ultramarina espanhola, financiando uma expedição que comandada por Cristóvão Colombo , pretendia chegar as Índias navegando pelo Ocidente. Aconteceu que Colombo acabou “encontrando” um novo continente e mudando de uma vez por todas o cenário europeu a partir dali: a América. A BULA INTERCOETERA E O TRATADO DE TORDESILHAS: Diante da “descoberta” do novo mundo, os Reis de Portugal e Espanha, apressaram-se em assegurar domínios e direitos sobre as novas terras – a Espanha pelo direito da descoberta e Portugal se valendo pelo tratado assinado entre as duas nações em 1480 (Tratado de Alcaçovas-Toledo) em que asseguravam a divisão sobre qualquer terra que viesse a ser descoberta no ultramar. Na eminência de uma guerra entre Portugal e Espanha, buscou-se a intervenção papal (Papa Alexandre VI, espanhol), que estabeleceu uma linha imaginária a 100 léguas Cabo Verde onde a porção territorial a oeste da linha pertenceria à Espanha, e a porção leste pertenceria a Portugal. (Bula Inter Coetera 1493). Caso esta bula fosse efetivamente acatada, a Espanha teria assegurado o pleno domínio sobre as terras americanas, restando a Portugal somente a posse das terras da África. Insatisfeito e inconformado com a divisão, Portugal ameaçou valer-se da força para decidir a questão, e antes que se despontasse um confronto armado, um novo acordo firmado entre os dois países, estabeleceu uma nova linha a 370 léguas de Cabo Verde (Tratado de Tordesilhas 1494). Esse acordo, ao mesmo tempo em que se reafirmou a supremacia desses países no século XV, reconhecendo o pioneirismo Ibérico na expansão, o tratado foi contestado pelas demais nações como França e Inglaterra que não o reconheceram. Contudo esse não reconhecimento só gerou consequências no século seguinte, quando se estabeleceu uma intensa concorrência entre os países europeus pelo domínio dos mercados ultramarinos. A DESCOBERTA DO BRASIL E O SEU SIGNIFICADO PARA PORTUGAL: Vasco da Gama, pela primeira vez, conseguira por via marítima, atingir os centros abastecedores dos ricos produtos Asiáticos: as Índias. Quando de seu regresso (1499), aportou em Lisboa com sua esquadra abarrotada de porcelanas, sedas, condimentos e tapetes, que comercializados garantiriam enormes lucros para Estado e a Burguesia Mercantil. Logo em seguida, foi organizada uma nova armada para estabelecer o domínio português sobre as Índias, e seu comando foi entregue a Pedro Álvares Cabral. Contudo, a descoberta da América pelos espanhóis, o Tratado de Tordesilhas, que reconhecia os direitos portugueses sobre uma parte das terras ocidentais, além do fato de Vasco da Gama, - segundo registra seu Diário de Viagem - “ter percebido sinais seguros de existência de terras a oeste de sua rota”, nos leva a crer que Cabral tenha recebido instruções para verificar a exatidão das informações, e em caso positivo tomar posse das terras. Assim, em meio a vigem às índias, o Brasil foi “descoberto” em 22 de abril de 1500. Após uma semana explorando a nova terra a esquadra seguiu viagem para saber afinal, quais seriam as riquezas que ela encontraria nas profundezas de suas matas. A única parte desta história que Vasco não menciona em seu diário é que em 1498, o então Rei de Portugal D. Manoel I enviou o navegador Duarte Pacheco em uma expedição sigilosa à costa da América para mapear a parte que caberia a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas. Duarte Pacheco chegou aproximadamente pela costa do Maranhão e navegou em direção ao interior do território chegando até a foz do Rio Amazonas retornando para Portugal em seguida. Interessante, não? A “descoberta” aparentemente não apresentou nenhum atrativo, nenhum produto de fácil obtenção que pudesse interessar de imediato aos portugueses, cuja preocupação era o lucro comercial. Somente encontraram um povo estranho, incapaz de entender os recém chegados, que fiéis aos interesses mercantilistas que dominavam a época, ansiavam por notícias sobre a existência ou não de ouro. Assim, a Terra de Santa Cruz, vista pela ótica dos interesses mercantilistas portugueses, 5 ao findar o século XV, apareceu mais como um obstáculo do que propriamente como uma conquista vantajosa para o Reino e para os setores mercantis a ele vinculados. Todas as forças ativas do Reino estavam concentradas em torno do comércio oriental, cujos centros abastecedores haviam sido monopolizados pelo Estado Português. Os Mecanismos do Sistema Colonial Mercantilista A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E O PACTO COLONIAL Como diversos países europeus procuravam acumular metais, bem como proteger seus produtos em busca de uma balança de comércio favorável, ocorreu que a política mercantilista de um país entrava diretamente em choque com a de outro, igualmente mercantilista. Em outras palavras, os objetivos mercantilistas de um eram anulados pelos esforços do outro e o cenário se tornava conflituante. Percebendo o problema, os condutores do mercantilismo concluíram que a solução seria cada país mercantilista dominar áreas determinadas, dentro das quais pudesse ter vantagens econômicas declaradas nestas áreas, os monopólios. Surgiram, então, com grande força, as idéias colonialistas. Seu objetivo básico era a criação de um mercado e de uma área de produção colonial inteiramente controladas pela metrópole. A partir dessas idéias, foi montado o sistema de exploração colonial, que marcou a conquista e a colonização de toda a América Latina, incluindo o Brasil. Os conceitos basicos desse sistema eram os seguintes: Metrópole: Era a nomeação dada à nação que dominava a colônia e caberia à ela todas as decisões mais importante de suas colônias. Colônia: Unidade territorial dominada pela metrópole cuja função seria a geração de riquezas para a primeira. Estas riquezas poderiam ser advindas diretamente da extração de metais preciosos (o metalismo) ou da exportação de matérias primas para a metrópole a qual a dominava. Por muito tempo se imperou na historiografia os conceitos de colônia de exploração e colônia de povoamento se referindo a dois modelos coloniais distintos onde para o primeiro a única finalidade da colônia seria produzir riquezas pela metrópole até ser esgotada sem que nenhuma parcela destas riquezas fossem investidas no desenvolvimento e na segundo modelo, o de povoamento, o quadro fosse diferente, referindo-se a um tipo de colônia onde seus moradores tinham como objetivo principal o desenvolvimento da colônia e não a exploração da mesma. Estes conceitos,porém, atualmente são considerados ultrapassados tendo em vista que o mais adequado seriam posturas ambíguas em quase todas experiências coloniais de que se tem registro uma vez que dificilmente se consegue explorar as riquezas de um território sem estabelecer uma infraestruturaadequada para tal atividade, e, por outro lado, é igualmente inviável o investimento em uma infraestrutura que seja estritamente para promover o bem estar dos colonos e da sociedade se esta não for repor os gastos para fazê-lo. Então, podemos concluir que em verdade as colônias apresentavam tanto um viés de exploração quanto de povoamento, até mesmo nos casos mais clássicos como o brasileiro, sempre relacionado ao tipo de colônia de exploração, porém, conforme veremos a seguir, a partir de 1530, os portugueses desenvolveram um projeto de administração e desenvolvimento de suas colônias aqui no Brasil que seria invejável a qualquer “colônia de povoamento”. A funcionalidade das colônias estavam orientadas sob um conjunto de normas, tratados, determinações e ordenações régias estabelecidos pela metrópoles que visavam regular como seria feito o comércio entre os colonos interessados na empresa da colonização e a metrópole a qual a colônia pertencia. A este conjunto foi dado o nome de Pacto Colonial e suas leis tinham como orientação a formação de um quadro onde de um lado a Colônia importaria os bens manufaturados ou escravos (no caso do Brasil) de sua Metrópole e que seriam consumidos por uma elite colonial; e do outro lado, a Colônia exportaria para a Metrópole os produtos agrícolas ou os metais preciosos que fossem nela explorados para que no fim, estas riquezas terminassem nos cofres do rei deixando, é claro, parte nas mãos da burguesia mercantilista que adquiria seus lucros no processo. Para que este sistema funcionasse perfeitamente, a metrópole detinha o monopólio sobre suas colônias impossibilitando a elite colonial de comercializar com qualquer outra nação. A maior parte dos lucros neste sistema terminavam nos cofres dos soberanos das nações que neste momento, pela característica patrimonial da sociedade, misturavam as contas de seus reinos com suas finanças pessoas não havendo diferença entre as contas da nação e as contas do monarca. Em suma, todo patrimônio e 6 riqueza da nação era na verdade patrimônio e riqueza pessoal do rei. A COLONIZAÇÃO DA AMÉRICA INGLESA Á semelhança da França, a Inglaterra do século XVI foi abalada por lutas constantes entre diferentes facções religiosas surgidas com a Reforma Protestante, as quais tentavam se firmar no panorama político. No plano econômico, o desenvolvimento da agricultura e do pastoreio, não mais para subsistência, mas com vistas ao mercado externo, provocou o fenômeno de concentração da renda e das propriedades. Os pequenos proprietários ingleses, perdendo suas terras para os latifundiários, passaram a engrossar a massa sem qualquer posse e sem alternativas de atividade lucrativa. Tais fatos geraram um clima de instabilidade social que ameaçava a consolidação da monarquia nacional, recém-estruturada. Dessa forma, a emigração em massa para as terras americanas, durante a época dos Stuart (século XVII), apresentou-se como uma solução, não só para o governo, mas também para cada um desses grupos frente à possibilidade de liberdade e enriquecimento. Na região sul dos Estados Unidos, devido às condições geográficas favoráveis, estabeleceram-se centros produtores de gêneros tropicais para exportação (tabaco, arroz, anil), baseados no regime de grandes propriedades monocultoras escravistas, aplicando as determinações do pacto colonial. Nos núcleos setentrionais, devido à semelhança de clima com a Europa, a metrópole inglesa não encontrou bens que pudessem alcançar valor comercial no mercado externo. Isto proporcionou a essas regiões a oportunidade de um desenvolvimento econômico autônomo, baseado na produção de alimentos em pequenas propriedades, nas indústrias extrativas e manufatureira, sempre com a predominância do trabalho livre e assalariado. Assim, foi-se criando um excedente que propiciou o desenvolvimento do mercado interno, articulando as áreas interioranas, produtoras de alimentos, com os centros urbanos e zonas pesqueiras do litoral. Essa movimentação comercial permitiu o acúmulo de capitais dentro da colônia e o surgimento de uma burguesia local, interessada em expandir suas atividades. Com efeito, os norte-americanos com o passar do tempo conseguiram atuar no comércio externo, através do chamado comércio triangular, estabelecendo contatos entre as áreas antilhanas (produtoras de açúcar e melaço), a África (fornecedora de escravos) e a América (produtora de cereais, madeira, peles, peixe seco e produtos manufaturados, principalmente o rum). Isto só foi possivel, porém, graças a postura de negligência de relação da Inglaterra com suas colônias que em muitos casos, não fazia-se cumprir o Pacto Colonial. Sessão Leitura – As Caravelas Portuguesas A caravela é um tipo de embarcação criada pelos portugueses, usada por eles e também pelos espanhóis durante a Era dos Descobrimentos, nos séculos XV e XVI. A caravela foi aperfeiçoada durante os séculos XV e XVI. Tinha inicialmente pouco mais de 20 tripulantes. Era uma embarcação rápida, de fácil manobra, capaz de bolinar e que, em caso de necessidade, podia ser movida a remos. Com cerca de 25 m de comprimento, 7 m de boca (largura) e 3 m de calado deslocava cerca de 50 toneladas, tinha 2 ou 3 mastros, convés único e popa sobrelevada. As velas latinas (triangulares) permitiam-lhe bolinar (navegar em zigue-zague contra o vento). Gil Eanes utilizou um barco de vela redonda, mas seria numa caravela (tipo carraca) que Bartolomeu Dias dobraria o Cabo da Boa Esperança em 1488. É de salientar que a caravela é um desenvolvimento dos portugueses. Se bem que a caravela latina se tenha revelado muito eficiente quando utilizada em mares de ventos inconstantes, como o Mediterrâneo, devido às suas velas triangulares, com as viagens às Índias, com ventos mais calmos, tal não era uma vantagem, já que se mostrava mais lenta que na variação de velas redondas. A necessidade de maior tripulação, armamentos, espaço para mercadorias fez com que fosse substituída por navios maiores. 7 (Caravela Vera Cruz, réplica das Caravelas utilizadas pelos portugueses, construída em 2000) Exercícios sobre a Expansão Marítima 1 - (Fuvest-SP) Sobre o Tratado de Tordesilhas, assinado em 7 de junho de 1494, pode-se afirmar que objetivava: a) demarcar os direitos de exploração dos países ibéricos, tendo como elemento propulsor o desenvolvimento da expansão comercial marítima. b) estimular a consolidação do reino português, por meio da exploração das especiarias africanas e da formação do exército nacional. c) impor a reserva de mercado metropolitano, por meio da criação de um sistema de monopólios que atingia todas as riquezas coloniais. d) reconhecer a transferência do eixo do comércio mundial do Mediterrâneo para o Atlântico, depois das expedições de Vasco da Gama às Índias. e) reconhecer a hegemonia anglo- francesa sobre a exploração colonial após a destruição da invencível Armada de Filipe II, da Espanha. 2 - (MACKENZE) A expansão marítima européia dos séculos XV e XVI permitiu: a) A formação de domínios coloniais que dinamizaram o comércio europeu. b) O crescimento do comércio de especiarias pelas rotas do Mediterrâneo. c) A implantação de impérios coloniais na Ásia, para extração de metais preciosos. d) O fortalecimento do feudalismo e da servidão na Europa Ocidental. e) A colonização do tipo mercantilista, sem a interferência do Estado e da Igreja. 3 - (PUC-MG) O Tratado de Tordesilhas representa: a)A tomada de posse do Brasil pelos portugueses. b) O declínio do expansionismo espanhol. c) O fim da rivalidade hispano- portuguesa na América. d) O marco inicial no processo da partilha colonial. e) O início da colonização do Brasil. 4 - (PUC-MG) o fator que contribui para a grande expansão marítima: a) A estabilidade econômica da Idade Média. b) A organização das corporações de ofício. c) O advento das monarquias nacionais. d) O desenvolvimento do comércio continental europeu. e) O enriquecimento da nobreza feudal. 5 - (LJFPE) Portugal e Espanha foram no século XV as nações modernas da Europa, portanto pioneiras nos grandes descobrimentos marítimos. Identifique as realizações portuguesas e as espanholas, no que diz respeito a esses descobrimentos. 1 - Os espanhóis, navegando para o Ocidente, descobriram, em 1492, as terras do Canadá. 2 - Os portugueses chegara ao Cabo das Tormentas, na África, em 1488. 3 - Os portugueses completaram o caminho para as índias, navegando para o Oriente, em 1498. 4-A coroa espanhola foi responsável pela primeira circunavegação da Terra iniciada em 1519, por Fernão de Magalhães. Sebastião El Cano chegou de volta à Espanha em 1522. 5 – Os portugueses chegaram às Antilhas em 1492, confundindo o Continente Americano com as Índias. Estão corretas apenas os itens: a) 2, 3 e 4; b) 1, 2 e 3 c) 3, 4 e 5 d) 1, 3 e 4 e) 2, 4 e 5 6 - (UNIMONTES) A respeito da expansão marítimo-comercial dos séculos XV e XVI é incorreto afirmar que: a)o eixo comercial deslocou-se do Mediterrâneo para o Atlântico. b)O afluxo de metais preciosos para a Europa provocou uma sensível baixa de preços. c) concorreu para a acumulação primitiva de capital, preparando o caminho para a Revolução Industrial. d)a empresa comercial foi dirigida pelo Estado monárquico absolutista. e) favoreceu a criação de grandes companhias para garantir um comércio mais seguro e lucrativo. 8 7 - (GABARITO) Todas as alternativas relacionam corretamente os acontecimentos e fenômenos importantes para a formação do Mundo Moderno, EXCETO: a) Renascimento Comercial e Urbano na Baixa Idade Média / Formação da Burguesia. b) Expansão Marítima Européia/ Constituição dos Impérios Coloniais Americanos. c) Monarquia Absolutista / Participação da Burguesia do poder Político. d) Mercantilismo / Acumulação de Capital pelas Classes Burguesas. e) Renascimento Cultural / Elaboração de uma Concepção Individualista. 8 - (Diamantina) O famoso “Testamento de Adão”, ao qual o soberano francês se referia para reivindicar para o seu país a participação no processo expansionista ultramarino europeu, tem origem: a) na superioridade da marinha francesa, no século dezesseis, sobre a frota naval dos países atlânticos da Europa. b) na concessão feita, pelo Papa Alexandre VI, de terras na África e na Ásia para a exploração da Espanha. c) na assinatura do Tratado de Tordesilhas, entre Portugal e Espanha, que “dividia” o mundo entre os países da Península Ibérica. d) na participação da França, junto aos demais países católicos europeus, na expulsão dos muçulmanos da bacia do Mediterrâneo, na época das Cruzadas. e) na existência de um pretenso documento que dava às nações da Europa o direito de dominar e explorar as áreas subdesenvolvidas da África e da América. 9 - (PUC - MG) A descoberta da América, em 1492, por Colombo, em nome dos reis espanhóis, constitui um importante fator de superação da crise que atinge a Europa Ocidental nos séculos XIV - XV, pois: a) absorve o excedente populacional dos países europeus, através da criação de colônias de povoamento. b) neutraliza os conflitos entre as potencias européias, concentradas no processo de colonização do novo continente. c) amplia as reservas de metais preciosos, possibilitando maior circulação de moedas e acumulação de capitais. d) promove o processo de partilha da África. como fornecedora de mio-de-obra escrava, entre as potencias européias. e) estimula a produção agrícola na Europa pura atender à demanda da população do novo continente. 10 - (CESGRANRIO) Foram inúmeras as conseqüências da expansão ultramarina dos europeus, gerando uma radical transformação no panorama da história da humanidade. Sobressai como UMA importante conseqüência: a) A constituição de impérios coloniais embasados pelo espírito mercantilista. b) a manutenção do eixo econômico do Mar Mediterrâneo com acesso fácil ao Oceano Atlântico. c) a dependência do comércio com o Oriente, fornecedor de produtos de luxo como sândalo, porcelanas e pedras preciosas. d) o pioneirismo de Portugal, explicado pela posição geográfica favorável e) a manutenção dos níveis de afluxo de metais preciosos para a Europa. 11 - O mar foi, durante muito tempo, o lugar do medo. Diz um ditado holandês do início da Idade Moderna: “Mais vale estar na charneca com uma velha carroça do que no mar num navio novo.” Todas as alternativas contem elementos responsáveis pelo medo que o homem do início da Idade Moderna tinha do mar,EXCETO: a) Convicção de monstros marinhos e de cidades submersas, responsáveis pelos constantes naufrágios. b) A firme crença de que o mar fora o caminho pelo qual a Peste Negra chegou à Europa. c) A proibição, pela Igreja, de incursões no Mar Oceano com base nas palavras de Gênesis. d) As advertências contidas nas epopéias e nos relatos de viagens dos perigos do Mar Oceano. e)As invasões dos muçulmanos e berberes na Península Ibérica, possibilitadas pelas viagens marítimas. 12 - O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494: a) Foi elaborado segundo os mais modernos conhecimentos cartográficos baseados na teoria do geógrafo e astrônomo grego Ptolomeu. 9 b) Foi respeitado pelos portugueses até o século XVIII, quando novas negociações resultaram no Tratado de Madri. c) Nasceu de uma atitude inovadora na época: a de resolver problemas políticos entre nações concorrentes pela via diplomática. d) Resultou da ação dos monarcas espanhóis que resistiam à adoção da Bula Intercoetera, contrária aos seus interesses. e) Surgiu da necessidade de definir a possessão do território brasileiro dIsputado por Portugal e Espanha. 13 (UFMG – 2000) Leia o texto. "E aproximava-se o tempo da chegada das notícias de Portugal sobre a vinda das suas caravelas, e esperava-se essa notícia com muito medo e apreensão; e por causa disso não havia transações, nem de um ducado [...] Na feira alemã de Veneza não há muitos negócios. E isto porque os Alemães não querem comprar pelos altos preços correntes, e os mercadores venezianos não querem baixar os preços[...] E na verdade são as trocas tão poucas como se não poderia prever." Diário dum mercador veneziano, 1508. O quadro descrito nesse texto pode ser relacionado à: a) comercialização das drogas do sertão e produtos tropicais da colônia do Brasil. b) distribuição, na Europa, da produção açucareira do Nordeste brasileiro. c) importação pelos portugueses das especiarias das Índias Orientais. d) participação dos portugueses no tráfico de escravos da Guiné e de Moçambique. 14 - (PUC-MG- 1998) Há 500 anos (1498), Vasco da Gama chegava às Índias. Essa conquista é significativa porque: a) eleva Portugal à alta categoriade potência política. b) liquida o comércio marítimo no Mediterrâneo. c) abre uma nova rota para o comércio marítimo. d) inaugura a “era portuguesa” no Oceano Atlântico. e) populariza o uso das especiarias na Europa. GABARITO DAS QUESTÕES DE EXPANSÃO MARÍTIMA: 1 – A / 2 – A / 3 – D / 4 – C / 5 – A / 6 – B / 7 – C / 8 – C / 9 – C / 10 – A / 11 – C / 12 – C / 13 – C / 14 – C 10 CAPÍTULO 02 O BRASIL COLONIAL O PERÍODO PRÉ-COLONIAL: (1500 a 1530) ANTECEDENTES: As três décadas iniciais da História do Brasil, bem como da trajetória do processo colonizador português para as novas terras “descobertas” apresentam características distintas no que se refere ao tratamento dado a uma nova possessão territorial. Não podemos esquecer que o processo de Expansão Marítima foi motivado e orientado pelo modelo econômico Mercantilista, apoiado sobre pilares arguidos graças a alianças político- econômicas entre a figura do Rei fortalecido e centralizador, e dos ambiciosos Burgueses comerciantes. O modelo expansionista vai buscar retorno rápido do investimento inicial, e segundo os preceitos mercantilistas isso significava encontrar logo no primeiro momento: metais preciosos (movimento conhecido como metalismo); ou o estabelecimento de praças comerciais de onde fosse possível a obtenção de grandes lucros através do monopólio sobre determinados produtos produzidos naquela região (como no caso posterior do açúcar aqui mesmo no Brasil) ou comprados para a revenda no mercado europeu através de uma balança comercial favorável (como a pimenta do reino comprada na Índia e vendida na Europa). Inicialmente o Brasil não vai apresentar nenhuma dessas características, e associado às prosperidades com que os comerciantes portugueses aumentavam sua lucratividade com o comércio oriental, a terra recém-conquistada ficará relegada a um segundo plano entre o período de 1500 a 1530. O RELATIVO ABANDONO: O Brasil diferente do oriente, não apresentava nenhum atrativo do ponto de vista comercial: sem metais preciosos, sem mercado consumidor, sem produção agrícola passível de exploração – ao menos neste primeiro momento. A Coroa portuguesa enviou várias expedições que buscavam realizar um reconhecimento da costa brasileira. Em 1501 Gaspar Lemos foi responsável pelo batismo de várias regiões (Cabo de São Tomé; São Vicente; Cabo Frio) e nessa expedição viajou também o florentino Américo Vespúcio que chegou a declarar ao governante de Florença que não encontrou nada de aproveitável nesta terra. Na verdade a existência de pau-brasil foi à única atividade pensada como possível de realização de uma atividade econômica. Vai ser na atividade extrativista de madeira realizada sob o regime de utilização do trabalho indígena (escambo), sendo o comércio uma exclusividade da Coroa Lusitana (Monopólio Régio). O termo “relativo abandono” deve-se ao fato de que não houve a implementação de um projeto efetivo de ocupação de terras por parte de Portugal. Contudo a atividade extrativista foi consentida a arrendatários (iniciativa particular de ocupação da terra, sem financiamento da Coroa) que tinham a missão de não só explorar a madeira, como também realizar defesa do território contra ataques indígenas e invasões estrangeiras, estabelecimento de acampamentos litorâneos (feitorias) para armazenagem e comercialização da madeira extraída, além do pagamento do imposto real (Quinto). A DECADÊNCIA DO PERÍODO PRÉ-COLONIAL A mudança do cenário da ocupação nas terras brasileiras vai mudar assim que a prosperidade do comércio oriental entrou em declínio e as invasões estrangeiras em território colonial brasileiro tornaram-se mais frequentes. Estas são basicamente as razões que justificam a colonização efetiva após 1530. Com o crescimento da presença estrangeira junto as costa brasileira, torna-se cada vez mais fundamental um sistema de proteção territorial mais eficaz. Para isso várias expedições são enviadas para combater os corsários e piratas, entretanto, sem atingir grandes resultados e o litoral continua a ser ameaçado necessitando de esforços maiores por parte da Coroa portuguesa. Apesar de conquistado em 1500, Portugal não se preocupou com o Brasil por mais de 30 anos porque os investimentos metropolitanos estavam concentrados no comércio com o oriente. Ocorre que após 1530 os lucros com este comércio começaram a diminuir e o governo resolveu colonizara o Brasil plantando aqui cana de açúcar para ser vendida na Europa, contando com investimentos e financiamentos holandeses para tal empreitada. Para cá se deslocavam aventureiros, militares, administradores e até condenados que aceitassem o exílio ou degredo como pena alternativa. 11 O PERÍODO COLONIAL BRASILEIRO: (1530 a 1822) Plantada inicialmente em São Vicente (fundada em 1532), a cana logo se espalhou pela colônia, cultivada utilizando-se de mão de obra compulsória primeiramente indígena para logo em seguida ser substituída pela mão de obra africana. Dentre as razões que se motivaram para esta substituição, podemos destacar a lucratividade obtida pela Coroa com o comércio dos cativos africanos, ao passo que se fosse incentivada a escravização indígena, os colonos brasileiros não teriam razões para a compra dos escravos africanos uma vez que poderiam realizar incursões contra as tribos mais desprotegidas e assim conseguirem a mão de obra que necessitavam em suas lavouras. Como podemos imaginar, o ideal para os colonos seria a manutenção da mão de obra cativa indígena, como foi feito pela Espanha em suas colônias, porém, para a Coroa a manutenção de tal mão de obra seria extremamente prejudicial uma vez que com a perda das colônias orientais e o declínio da venda de especiarias, a grande fortuna de Portugal passará a vir deste mercado de cativos africano e não essencialmente, embora tenha uma ajuda, do açúcar. Desta forma, e também com o auxílio das proibições da Igreja Católica, ficou-se vetado a manutenção da mão de obra cativa indígena oficializando o negro escravo como a mão de obra a ser utilizada na produção açucareira (muito embora alguns pequenos casos de escravização indígena ainda fossem comuns na época). Fundação de São Vicente – Oscar Pereira da Silva (1900). O sistema estabelecido então foi o chamado “plantation”, que consistia na manutenção de grandes áreas latifundiárias por parte dos colonos, voltadas para a produção de um único produto de exportação (o açucar) utilizando uma mão de obra ampla e escrava somados também a manutenção de insumos para a subsistência como a pecuária, por exemplo. A ADMINISTRAÇÃO COLONIAL E O SISTEMA DE CAPTANIAS HEREDITÁRIAS (1534 - 1759) A administração da colônia caia primeiramente sobre a metrópole e era ela que controlava todas as decisões importantes da vida colonial: nomeava funcionários, recebia imposto, controlava o comércio e a exploração, tinha produtos de exclusiva exploração em favor do Rei – Monopólio Régio – cuidava da defesa e da repressão contra aqueles que se opunham ao domínio português, isso, até 1533 durante o período do relativo abandono e este cenário sofrerá uma considerável mudança. Em 1534 iniciou-se o sistema de administração das Capitanias Hereditárias que dividiu o território em 15 circunscrições administrativas onde há uma primeira tentativa de descentralizações das decisões metropolitanas sobre a colônia uma vez que neste sistemade capitânias, foi concedido aos capitães donatários, os responsáveis pela a administração destas capitanias, direitos de autoridade máxima como a fundação de vilas, a cobrança de impostos e até mesmo a aplicação de penas. Evidentemente, se faz necessário lembrar que ainda dentro deste sistema, as decisões mais importantes ainda eram de controle da metrópole sendo elas como por exemplo a nomeação dos capitães, as delimitações territoriais e o monopólio comercial que proibia os colonos de comercializarem diretamente com outras nações ou se recusarem a utilizar a mão de obra escrava negreira provida pela Coroa, por exemplo. O sistema de capitanias irá prevalecer durante quase toda história colonial sendo extinto apenas em 1759 por Marquês de Pombal em uma de suas reformas administrativas de Portugal. Em 1549, observando que apenas as capitanias de São Vicente e Pernambuco tinham prosperado consideravelmente, ocorre à criação do Governo Geral em adição ao sistema que buscava assim centralizar o poder político dentro da colônia reduzindo ainda mais a necessidade das decisões mais importantes de serem repassadas à metrópole e assim auxiliar as 12 capitanias a prosperar através da redução desta burocracia. O MOVIMENTO DAS ENTRADAS E BANDEIRAS As entradas e bandeiras eram basicamente movimentos de exploração do território colonial ainda desconhecido e que aconteceram ao longo da história colonial tendo início em 1531. Os Bandeirantes, principais personagens deste movimento eram, na sua maioria, colonos da capitania de São Vicente (Vicentinos ou Paulistas). Empobrecidos pela estagnação econômica da capitania, durante os séculos XVII e XVIII organizaram sucessivas expedições pelo interior do país. Buscavam apresar índios (vendidos como escravos), encontrar metais preciosos e destruir quilombos. A diferença entre uma “entrada” e uma “bandeira” se dá basicamente pela finalidade da expedição. As entradas tem o intuito primário de explorar o território e é financiada pela própria Coroa ao passo que as bandeiras eram na verdade movimentos particulares realizados pelos bandeirantes que visavam o apresamento de indígenas (vale ressaltar que nos primeiros anos coloniais o uso da mão de obra cativa indígena ainda era incentivado, conforme vimos anteriormente) ou a descoberta de minas de metais preciosos tanto quanto a exploração do território. Seja por um meio ou outro, estes movimentos de entradas e bandeiras foram decisivos para o mapeamento do território colonial e para a exploração do mesmo. PRIMEIRO MOMENTO: A PRODUÇÃO AÇUCAREIRA (1540 – 1654) E O INICIO DO TRAFICO NEGREIRO O comércio de especiarias orientais já se encontrava decadente para Portugal em meados do século XVI e a exportação do pau-brasil não se mostrava igualmente lucrativa. Somados a estes fatores de uma necessidade econômica, o Império Português precisava também estabelecer um projeto colonial rentável que pudesse efetivar a colonização sob o território brasileiro para assim afastar o fantasma das invasões estrangeiras. A partir desta necessidade, a resposta mais cabível foi o estabelecimento das Capitanias Hereditárias organizadas sob um sistema de plantation – nascia então o projeto do plantio da cana de açúcar. O açúcar foi o produto escolhido não por acaso: os portugueses sabiam do seu alto valor comercial e muito embora a sua exploração exigisse um alto investimento para a época, além da rentabilidade do produto valer o risco, o estabelecimento de um sistema de plantation seria politicamente e administrativamente mais viável porque assim asseguraria a fundação de grandes fazendas, vilas e portos para sustentar e articular o comércio do produto podendo, assim, efetivamente colonizar o território. As capitanias de São Vicente e Pernambuco foram as únicas duas capitânias que tiveram sucesso em exportar significativas quantidades de açúcar e assim conseguiram um maior desenvolvimento em comparação as demais capitânias. O sucesso do sistema colonial neste primeiro momento só foi possível, porém, por um segundo fator diretamente ligado à produção açucareira: o tráfico negreiro. Portugal carecia de manufaturas e, portanto, a velha ideia do pacto colonial de que a colônia produziria matéria prima e consumiria as manufaturas de sua metrópole em troca proporcionando assim um grande superávit por parte da segunda não poderia ser aplicada uma vez que Portugal não possuía uma produção manufaturada considerável. Porém, ainda que não fosse através das primeiras indústrias ou do comércio de especiarias, Portugal encontrou uma forma de conseguir acumular riquezas através da venda dos negros cativos capturados na áfrica e que eram vendidos aos colonos que quisessem investir na produção açucareira. Desta forma, o “produto” manufaturado que Portugal revendia à colônia na verdade eram os escravos que seriam utilizados na mão de obra para a produção do açúcar que ele mesmo teria o direito de monopólio. Ou seja, o papel das colônias brasileiras era produzir açúcar para vendê-lo a um custo viável para Portugal enquanto deveria comprar de sua metrópole os negros cativos que lhes serviriam para a própria produção do açúcar. Era uma balança comercial extremamente benéfica para Portugal e um tanto quanto lucrativa também para os colonos que fossem bem sucedidos na produção açucareira. A DECADÊNCIA DA PRODUÇÃO AÇUCAREIRA (1580 - 1654). Em 1580 Portugal caiu sob domínio da Espanha, que se transformou na virtual "Dona" do Brasil. Em guerra com a Holanda, os espanhóis proibiram os holandeses, principais compradores e investidores do açúcar no nordeste do Brasil, de continuarem comercializando o açúcar brasileiro. Sem outra alternativa, os holandeses invadiram a Bahia em 1624 e Pernambuco em 1630. Quando foram expulsos em 1654 (Insurreição Pernambucana), os holandeses deram início à produção de açúcar nas Antilhas. A qualidade e a quantidade de açúcar antilhano/holandês jogaram para baixo o preço do açúcar no mercado internacional contribuindo para a decadência do 13 comércio açucareiro. Portugal se encontrava novamente em uma crise econômica que ameaçava se alastrar por décadas. Tal crise só pode ser solucionada quando enfim se dará inicio a exploração metalista colonial que será responsável por resgatar a economia portuguesa. A DESCOBERTA DO OURO E O CICLO DA MINEIRAÇÃO COLONIAL (1693 – 1770 apr.) Em 1693, após tentar percorrer o caminho desbravado por Fernão Dias à procura de esmeraldas, o bandeirante Antônio Rodrigues Arzão enfim encontrará ouro no território colonial próximo de onde hoje se encontra a cidade de Mariana - MG. A notícia foi extremamente impactante para Portugal que sofria com a decadência que então decidiu não poupar esforços na tentativa de extração dos minérios preciosos. De imediato esta região, até então inexplorada, recebeu um extraordinário afluxo de pessoas, vindas da metrópole e de outras regiões da colônia sendo alvo de disputa de interesses tanto de colonos quanto colonizadores evidenciando (o que acarretara na Revolta dos Emboabas) um sintoma de que a extração do ouro no Brasil iria precisar de um sistema colonial ainda mais desenvolvido para sua devida exploração por parte da Coroa. Para administrar a região mineradora a metrópole então criou em 1702, a Intendência das minas, órgão presente em cada uma das capitanias de onde se extraia ouro, visando controlar de perto a exploração aurífera. A Intendência era constituída por um guarda-mor e auxiliares submetidos diretamente à Coroa. Era responsávelpela distribuição dos lotes a serem explorados, chamados de data, e pela cobrança de 20% do ouro encontrado pelos mineradores, imposto conhecido como quinto. As datas eram distribuídas segundo a capacidade de explorar do minerador; avaliada em numero de escravos. Visando controlar a questão do contrabando, a Coroa determina que o único porto pelo qual seria permitido o transporte do ouro seria o porto do Rio de Janeiro que demandou também a abertura do caminho novo (1700-1707) que passou a ser a principal rota por onde o ouro extraído no interior de minas gerais deveria percorrer até chegar ao referido porto. Apesar do controle imposto pelas autoridades metropolitanas, o contrabando era intenso e, para coibi-lo, a coroa proibiu a circulação de ouro em pó e em pepitas, criando em 1720, as casas de fundição. Todo o ouro encontrado nas lavras - grandes minas - ou garimpos, onde era feita a faiscação nas areias dos rios, tinha a ser entregue nesses locais, onde era derretido, quitado (ou seja, era lhe extraído quinto pertencente à Coroa) transformado em barras. As casas de fundição não representavam apenas uma forma de evitar a sonegação do quinto por parte de Portugal, mas também, ainda que de maneira não intencional, um obstáculo para o comércio em geral na capitania de Minas Gerais, visto que o ouro em pó neste território era a moeda corrente. A Revolta de Vila Rica terá como fator principal justamente o combate da população contra a instalação das casas de fundição no interior de Minas Gerais. Aprofundamento ainda mais o controle fiscal, sobretudo quando a exploração aurífera começou a dar sinais de esgotamento, o governo português fixou em 100 arrobas de ouro (1.468,9 kg) anuais o mínimo a ser arrecadado em cada município como pagamento do quinto. Para garantir a arrecadação do montante, foi instituída a derrama: a cobrança dos impostos à população seria efetuada pelos soldados portugueses, chamados de dragões, que estavam autorizados a invadir casas e tomar tudo que tivesse valor, a fim de completar as 100 arrobas devidas à metrópole. Essa prática portuguesa deixou rastro de insatisfação da colônia. Todo o arrocho fiscalizador conseguiu temporariamente diminuir o tráfico ilegal, mas nunca suprimiu por completo. De qualquer modo, aliviou por algum tempo as dificuldades financeiras de Portugal. A descoberta de diamantes em 1729, no arraial do Tijuco, hoje Diamantina, em Minas Gerais, levou Portugal a adotar uma fiscalização apropriada à extração diamantífera. Inicialmente, dada à dificuldade em se quintar o diamante, a metrópole determinou a expulsão dos mineiros da região e arrendou a exploração a empresários, chamados contratadores, indivíduos que antecipavam parte dos lucros à coroa e recebiam assumir a exploração do diamante, estabelecendo a real extração. A partir da segunda metade do século XVIII, devido ao esgotamento das jazidas e ao uso de técnicas rudimentares, incapazes de uma prospecção mais profunda no subsolo, iniciou-se a decadência da produção de ouro no Brasil. O período situado entre 1740 e 1770 correspondeu ao apogeu da exploração das minas, e o ano de 1754 registrou a maior produção de ouro. A partir da década de 1770, verificou-se o declínio da atividade, que se tornou cada vez menos atraente. O DESENVOLVIMENTO DO ESPAÇO ECONÔMICO MINEIRO O desenvolvimento econômico promovido pela mineração não se restringiu somente aos exploradores da atividade metalista – ele se estendeu também por fora das zonas de mineração. Diferentemente do plantation, a atividade mineradora demanda todo o tempo do seu atuante no ato da extração e por isso, quem 14 atua na mineração normalmente não se dedica a outra atividade como por exemplo o plantio de insumos para a subsistência. Para responder a esta carência do mercado, pequenos fazendeiros voltados sobretudo para a pecuária começaram a se instalar próximo as zonas de mineração, sobretudo nas margens dos rios, procurando atender a esta demanda interna de alimentos que existia em Minas Gerais e acabavam por prosperar economicamente uma vez que a atividade da mineração, principal consumidora do produto destas fazendas, se mostrava extremamente rentável e capaz de sustentar este tipo de articulação econômica. Firmou-se assim então um padrão mineiro de economia onde próximo a uma zona de mineração, e, portanto uma zona de produção de riqueza, fixava-se uma zona de produção de alimentos capaz de abastecer a zona de mineração e prosperar economicamente através deste comércio. AS REFORMAS POMBALINAS E O INÍCIO DA INSATISFAÇÃO COLONIAL Em Portugal destacou-se a atuação do ministro do rei D. José I, Sebastião José Carvalho e Melo, o marquês de pombal (1750-1777), um déspota esclarecido. Pombal, percebendo a extrema dependência econômica de seu país em relação à Inglaterra, até porque foi embaixador naquele país, procurou-se em reequilibrar a deficitária balança comercial lusa, adotando medidas que, se de um lado foram uma maior eficiência administrativa desenvolvimento econômico no reino, de outro, reforçaram as práticas mercantilistas no que se refere ao Brasil pressionando a colônia. Assumido os ideais iluministas no reino, Pombal expulsou os jesuítas de Portugal e colônias (1759). A expulsão dos jesuítas visava ao fim da autonomia dessa ordem religiosa frente a Coroa, um estado dentro do Estado , como se dizia, subordinando a Igreja ao governo. Como todo o ensino colonial dependia da companhia de Jesus, sua expulsão criou um vazio educacional, levando Pombal a criar o subsídio literário, imposto para custear a educação assumida pelo Estado metropolitano- as aulas régias. Acreditando na importância de se integrar os índios ao domínio luso, para consolidar as fronteiras brasileiras, Pombal determinou ainda a extinção da escravidão indígena em 1757, transformando algumas aldeias em vilas, especialmente na Amazônia, visando incorporar esses territórios à administração portuguesa. Nessa região, porém, a expulsão dos jesuítas trouxe mais dificuldades do que integração ao domínio metropolitano. Com esse mesmo objetivo, ministro de D. José I procurou estimular os casamentos entre colonos e índios. O marquês determinou a supressão da distinção entre "cristãos-velhos” e “cristão-novos" (descendentes de judeus), objetivando favorecer a integração destes últimos no reino, dada a sua sempre importante atuação econômica e social tanto em Portugal quanto no Brasil. Pombal tentou também fomentar a produção manufatureira, especialmente em Portugal , sem grande sucesso, é bom lembrar, e combateu duramente o contrabando colonial. Entre as inúmeras dificuldades que teve de enfrentar durante seu governo, deve-se registrar o grande terremoto de 1755, que destruiu parte da cidade de Lisboa, e o declínio da produção de ouro no Brasil. A Coroa viu-se obrigada a ampliar os gastos para reconstruir a capital do reino, ao mesmo tempo em que diminuía o ingresso de recursos. Para a reconstrução de Lisboa, Pombal recorreu ao aumento de tributos e naturalmente, como naquele período a renda quase interina de Portugal advinha de Minas Gerais, os custeios destas reformas seriam repassados aos colonos. Na colônia, Pombal extinguiu definitivamente as capitanias hereditárias, comprando e confiscando os territórios dos poucos donatários das capitanias da Coroa. Também criou a Companhia Geral do comércio do Estado do Grão-Pará e Maranhão (1755-1778) e a Companhia Geral do Comércio de Pernambuco e Paraíba (1759-1779). Procurava assim controlar o comércio colonial a aumentar as rendas da Coroa. Em termos administrativos, criou cargos e órgãos, visandoà racionalização burocrática, e transferiu a capital colonial de salvador para Rio de Janeiro, a fim de fiscalizar com rigor a exportação do ouro. Foi ainda Pombal quem aumentou e zelou pela cobrança dos impostos devidos à metrópole, efetivando a primeira derrama (1762-1763); pouco depois, estabeleceu o controle real sobre a exploração de diamantes. Após a morte do rei D. José I, Pombal deixou o ministério e seus opositores assumiram o governo, anulando muitas de suas realizações. Logo foram extintas as companhias de comércio e publicado o Alvará de 1785, que proibia a instalação e funcionamento de manufatura na colônia. As poucas existentes foram fechadas e a população viu-se novamente obrigada a recorrer às caras manufaturadas importadas. As medidas de Pombal podem ser interpretadas como excelentes medidas para o desenvolvimento de Portugal, porém, se analisarmos com cautela, para a colônia tais medidas se mostraram muitas vezes prejudiciais e somadas ao trágico episódio da derrama ocorrida entre 1762 e 1763, os resultados diretos destas medidas na colônia foram na verdade uma crescente insatisfação por parte dos colonos e o surgimento de novas ideias que terminariam nos 15 primeiros movimentos separatistas como a Inconfidência Mineira (ou, conforme tem sido atualizada pela historiografia, Conjuração Mineira). REVOLTAS COLONIAIS ou REVOLTAS NATIVISTAS As primeiras rebeliões contra o domínio português são denominadas de Revoltas Nativistas ou Revoltas Coloniais. Tais movimentos ainda que contrários a opressão metropolitana, não chegaram em momento algum a cogitar a emancipação da colônia. Os principais exemplos de revoltas são a Revolta de Beckman (Maranhão,1684) a Guerra dos Emboabas (Minas Gerais,1709), a Guerra dos Mascates (Pernambuco,1710) e a Revolta de Vila Rica (Minas Gerais, 1720). Revolta de Beckman: fazendeiros do Maranhão, liderados pelos irmãos Beckman (Manuel e Thomas), revoltaram-se contra os jesuítas (impediram a escravização dos índios) e contra a Companhia Geral do Comércio do Maranhão (monopolizava o comércio da região além de não suprirem a demanda de mão de obra negreira). Em 1684 os revoltosos chegaram a ocupar a cidade de São Luís por quase um ano. Portugal reprimiu com violência, o movimento foi vencido e seus líderes foram enforcados. A grande revindicação da Revolta dos Beckman eram por melhorias no provimento de mão de obra para aumentar a produção açucareira – uma vez que o açúcar estava em decadência de preço, para que os fazendeiros conseguissem manter o padrão de vida que possuíram foi necessário que expandissem suas lavouras, porém, com a ausência de mão de obra isso não foi possível e os próprios acabavam arcando com a crise do sistema açucareiro. Guerra dos Emboabas: É o conflito estabelecido entre os bandeirantes vicentinos que vieram ocupar as regiões auríferas de Minas Gerais logo após a descoberta do ouro por Antônio Rodrigues Arzão e os colonos metropolitanos encarregados de colonizar a região com a concessão da Coroa que visava controlar a extração metalista. Em 1709, mediante intervenção militar portuguesa, os bandeirantes, derrotados, partiram para Goiás e Mato Grosso. Para melhor administrar a região, o governo português dividiu-se em: Capitanias de São Paulo e Minas Gerais e capitania do Rio de Janeiro. Guerra dos Mascates: Conflito envolvendo fazendeiros de Olinda e comerciantes (mascates) de Recife. Olinda era o centro político de Pernambuco, contando dom uma câmara de Vereadores. Economicamente estava em decadência. Em 1709, os comerciantes de Recife, em Ascensão econômica, conseguiram da Coroa sua emancipação política, com condições de organizar sua câmara de vereadores. Os olindenses, sentindo-se prejudicados uma vez que a emancipação de Recife deu a eles o direito de possuírem os próprios impostos arrecadados no comércio ao invés de o repassarem a Olinda, invadiram Recife. Em 1710 o conflito terminou com o intermédio de Portugal sem a necessidade de uma grande manobra militar e a rica Recife passou a ser o centro administrativo de Pernambuco. Revolta de Vila Rica: também conhecida como Revolta de Felipe dos Santos, foi um conflito envolvendo a Coroa portuguesa e mineradores que não aceitavam a instalação das "Casas de Fundição" na região aurífera de Minas Gerais em 1720. O movimento foi duramente reprimido e seu líder, Filipe dos Santos, enforcado e esquartejado. As "Casas de Fundição" foram instaladas e a Capitania de Minas Gerais foi separada da capitania de São Paulo. A luta de Felipe dos Santos e dos mineradores contra as casas de fundição eram intensas pela razão de que uma vez que fossem instaladas casas de fundição no interior da província, a cobrança do quinto seria efetivada com maior rigor até mesmo sobre os pequenos produtores e mercadores que não pretendiam comercializar o ouro fora de Minas Gerais, e, consequentemente, não precisavam pagar o quinto que deveria ser cobrado, até antes deste período, apenas quando o ouro fosse ser fundido em barra para ser exportado. AS REBELIÕES SEPARATISTAS, INCONFIDÊNCIAS ou CONJURAÇÕES Na segunda metade do século XVIII encontraram-se novos movimentos de rebeldia, denominados "Conjurações” ou"Inconfidências", destacando-se aquelas que ocorreram em Minas (1789) e na Bahia (1798). Essa última é também conhecida como "Conjuração dos Alfaiates". Os projetos dos conjurados mineiros e baianos apresentavam semelhantes: independência da capitania, república e diferenças, resultantes, sobretudo da configuração social do movimento (elitistas, em Minas; essencialmente popular na Bahia). Enquanto os mineiros pretendiam criar uma universidade, os baianos pretendiam a abolição da escravidão, a liberdade comercial, a nacionalização do comércio. A questão da escravidão não fora decidida a princípio pelos mineiros, sendo deixada para discussão pós deflagração. 16 Idêntico destino aguardou os movimentos inconfidentes: denúncias, prisões, e a violência expressa na morte de Tiradentes, em Minas, de Lucas Dantas, Luiz Gonzaga das Virgens, Manuel Faustino e João de Deus Nascimento, na Bahia. A repressão do estado Português se mostrava extremamente severa contra qualquer movimento de insubordinação de caráter separatista. Devemos ressaltar aqui que o termo inconfidência remete à uma ideia depreciativa de "traição" e por isso não nos parece correto segundo as novas tendências da historiografia. É recomendado, portanto, a utilização do termo conjuração "revolta”, "levante" uma vez que taxar os revoltosos de "traidores" é reproduzir a ideologia colonialista, adequada, naquele contexto, aos interesses da metrópole lusitana. A QUESTÃO DA ESCRAVIDÃO NA COLÔNIA Conforme vimos anteriormente, a adoção de trabalho livre na colônia implicaria em salários tão elevados que inviabilizariam a empresa colonizadora. A saída encontrada foi á escravidão, que na idade moderna teve caráter essencialmente racial. Durante os primórdios do período colonial os índios nativos foram utilizados como escravos, mas a escravidão que predominou foi a dos negros africanos uma vez que Portugal detinha o seu monopólio comercial e não possuía nenhuma outro “produto” que trouxesse tanta lucratividade. Não podemos descartar, porém, o papel da Igreja Católica que no período protegeu a população indígena contra a escravidão tendo atuações marcantes dos jesuítas em sua defesa e que acabou por não se envolver na questão do tráfico negreiro, ao menos não abertamente, visto que era desta atividade que advinham grandes lucros para os cofres Portugueses que eram declaradamente uma naçãode católicos. No Brasil, os negros reagiram a incessantemente à escravidão com suicídios, assassinatos e fugas para o mais conhecido dos quilombos dos Palmares em Alagoas, liderados por Zumbi, principal referência do movimento negro brasileiro contemporâneo. Durante o período colonial brasileiro foi relativamente comum estabelecimento de uma relação informal entre senhores e escravos, intitulada Brecha Camponesa. Esta relação consistia na doação de um pequeno pedaço de terra pouco produtiva do senhor para seu escravo e também um dia de folga para que ele pudesse lavrá-la, possibilitando, assim, um vínculo maior do cativo com o latifúndio ao qual pertencia e, portanto, contribuía para a diminuição das fugas. As mais recentes pesquisas sobre o escravismo brasileiro tem demonstrado que é a relação entre senhores e escravos envolvia a violência mais também um rico espaço de negociação, informal e cotidiano, nesse sentido é importante destacarmos também que a reação dos escravos não se dava apenas por atos de ruptura radical com o sistema; havia diversas formas de resistência através das quais escravos conseguiram melhores condições de vida e mesmo de respeito. A QUESTÃO RELIGIOSA NO BRASIL COLONIAL A Igreja Católica chegou ao Brasil em 1500, com Pedro Álvares Cabral, e daqui não mais saiu. Sua historia é feita de autoridade, dominação, piedade, coragem e hipocrisia. A empresa colonizadora no Brasil foi conduzida pela parceria Estado Português e Igreja católica. Os primeiros missionários que pisaram em solo brasileiro foram os franciscanos (com Cabral), mas a catequese da colônia foi responsabilidade principalmente dos jesuítas que chegaram ao país em 1549. Até serem expulsos, em 1759, pelo marquês de Pombal, os jesuítas foram os maiores responsáveis pela educação e pela evangelização na colônia. Foram indiscutivelmente os maiores obstáculos à escravidão dos indígenas, mas se omitiram com relação dos negros africanos. Com relação à presença protestante no Brasil colônia, podemos destacar dois movimentos: de 1555 a 1560, quando o almirante francês Nicolau de Villegaignon fundou uma colônia huguenote (calvinista) no Rio de Janeiro "França Antártica" e de 1630 a 1654, quando Pernambuco esteve sob domínio dos holandeses huguenotes. Nesse último caso destacada também a plena liberdade religiosa garantida pelos holandeses. A despeito dessas manifestações protestantes, a maior preocupação na Igreja católica no período colonial sempre foi coibir o judaísmo. Muitos judeus ibéricos haviam se convertido à força, ao catolicismo. Eram chamados "cristãos-novos". Perseguidos na Europa migraram para o Brasil. Para garantir que esses "cristãos-novos" não voltassem a praticar o judaísmo, Portugal enviou para a colônia o "Visitador do Santo Ofício". Este tipo de inquisidor esteve no Brasil em diversas oportunidades para combater as heresias (especialmente o judaísmo) e zelar pela fé e moral dos católicos da colônia. Esses momentos eram de terror e insegurança. Detalhes sutis revelavam a "falta" ao "visitador": recusar-se comer carne de porco, não ir a missa aos domingos, vestir roupas limpas aos sábado e comer em mesa baixa como exemplos. Caso o inquisidor se convencesse da "culpa", o indivíduo era condenado a penas que iam de simples penitências (assistir missa de pé, rezar terços de joelhos) à execução na fogueira. 17 Em qualquer hipótese, a condenação de um acusado não se dava em solo brasileiro, qualquer pessoa que tenha sido indiciado pelo Santo Ofício era enviado para Portugal, onde residiam os tribunais e deveriam responder ao julgamento lá, tendo muitas vezes algumas penas como o confisco de bens que impossibilitava o retorno para o conhecido “trópico dos pecados” (maneira como o Brasil chegou a ser conhecido pela Igreja Católica) As religiões africanas foram também proibidas e desqualificadas, reduzidas à mera feitiçaria que era igualmente passível de punição. Em linhas gerais, a Igreja Católica agiu na defesa de seus interesses e crenças. Foi intolerante com as diferenças, mas heroica na luta contra a escravidão indígena muito embora tenha se omitido quanto a escravidão negreira. Quanto ao controle moral da sociedade, é costume de se considerar que ela tenha agido dentro das linhas da “pedagogia do medo”. Sessão Leitura – O Julgamento e a Sentença de Tiradentes Negando a princípio sua participação, Tiradentes foi o único a, posteriormente, assumir toda a responsabilidade pela "inconfidência", inocentando seus companheiros. Presos, todos os inconfidentes aguardaram durante três anos pela finalização do processo. Alguns foram condenados à morte e outros ao degredo; algumas horas depois, por carta de clemência de D. Maria I, todas as sentenças foram alteradas para degredo, à exceção apenas para Tiradentes, que continuou condenado à pena capital, porém não por morte cruel como previam as Ordenações do Reino: Tiradentes foi enforcado. Os réus foram sentenciados pelo crime de "lesa-majestade", definida, pelas ordenações afonsinas e as Ordenações Filipinas, como traição contra o rei. Crime este comparado à hanseníase pelas Ordenações Filipinas: -“Lesa-majestade quer dizer traição cometida contra a pessoa do Rei, ou seu Real Estado, que é tão grave e abominável crime, e que os antigos Sabedores tanto estranharam, que o comparavam à lepra; porque assim como esta enfermidade enche todo o corpo, sem nunca mais se poder curar, e empece ainda aos descendentes de quem a tem, e aos que ele conversam, pelo que é apartado da comunicação da gente: assim o erro de traição condena o que a comete, e empece e infama os que de sua linha descendem, posto que não tenham culpa.” Por igual crime de lesa-majestade, em 1759, no reinado de D. José I de Portugal, afamília Távora, no processo dos Távora, havia padecido de morte cruel: tiveram os membros quebrados e foram queimados vivos, mesmo sendo os nobres mais importantes de Portugal. A Rainha Dona Maria I sofria pesadelos devido à cruel execução dos Távoras ordenado por seu pai D. José I e terminou por enlouquecer. Em parte por ter sido o único a assumir a responsabilidade, em parte, provavelmente, por ser o inconfidente de posição social mais baixa, haja vista que todos os outros ou eram mais ricos, ou detinham patente militar superior. Por esse mesmo motivo é que se cogita que Tiradentes seria um dos poucos inconfidentes que não era tido como maçom. E assim, numa manhã de sábado, 21 de abril de 1792, Tiradentes percorreu em procissão as ruas do centro da cidade do Rio de Janeiro, no trajeto entre a cadeia pública e onde fora armado o patíbulo. O governo geral tratou de transformar aquela numa demonstração de força da coroa portuguesa, fazendo verdadeira encenação. A leitura da sentença estendeu-se por dezoito horas, após a qual houve discursos de aclamação à rainha, e o cortejo munido de verdadeira fanfarra e composta por toda a tropa local. Bóris Fausto aponta essa como uma das possíveis causas para a preservação da memória de Tiradentes, argumentando que todo esse espetáculo acabou por despertar a ira da população que presenciou o evento, quando a intenção era, ao contrário, intimidar a população para que não houvesse novas revoltas. Executado e esquartejado, com seu sangue se lavrou a certidão de que estava cumprida a sentença, tendo sido declarados infames a sua memória e os seus descendentes. Sua cabeça foi erguida em um poste em Vila Rica, tendo sido rapidamente cooptada e nunca mais localizada; os demais restos mortais foram distribuídos ao longo do Caminho Novo: Santana de Cebolas(atual Inconfidência, distrito de Paraíba do Sul), Varginha do Lourenço, Barbacena e Queluz (antiga Carijós, atual Conselheiro Lafaiete), lugares onde fizera seus discursos revolucionários. Arrasaram a casa em que morava, jogando-se sal ao terreno para que nada lá germinasse. “ JUSTIÇA que a Rainha Nossa Senhora manda fazer a este infame Réu Joaquim José da Silva Xavier pelo horroroso crime de rebelião e alta traição de que se constituiu chefe, e cabeça na Capitania de Minas Gerais, com a mais escandalosa temeridade contra a Real 18 Soberana e Suprema Autoridade da mesma Senhora, que Deus guarde. MANDA que com baraço e pregão seja levado pelas ruas públicas desta Cidade ao lugar da forca e nela morra morte natural para sempre e que separada a cabeça do corpo seja levada a Vila Rica, donde será conservada em poste alto junto ao lugar da sua habitação, até que o tempo a consuma; que seu corpo seja dividido em quartos e pregados em iguais postes pela estrada de Minas nos lugares mais públicos, principalmente no da Varginha e Sebollas; que a casa da sua habitação seja arrasada, e salgada e no meio de suas ruínas levantado um padrão em que se conserve para a posteridade a memória de tão abominável Réu, e delito e que ficando infame para seus filhos, e netos lhe sejam confiscados seus bens para a Coroa e Câmara Real. Rio de Janeiro, 21 de abril de 1792, Eu, o desembargador Francisco Luiz Álvares da Rocha, Escrivão da Comissão que o escrevi. Sebão. Xer. de Vaslos. Cout.º” (Sentença proferida contra o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – Extraído de: http://pt.wikipedia.org/wiki/Tiradentes, 12/05/2014). Questões sobre o Sistema Colonial 1 - (FGV – 1998) As relações entre metrópoles e colônias ibéricas foram definidas pelo Pacto Colonial, que consistia em: a) Um acordo entre as partes que, em condições de igualdade, estabeleciam metas para o desenvolvimento desses países; b) Uma imposição das metrópoles às colônias de exclusividade na área comercial; c) Uma imposição das colônias às metrópoles de caráter monopolista; d) Um acordo entre as colônias para servir às metrópoles; e) . Nenhuma das anteriores; 2 - (PUC – MG – 1999) A expansão marítima europeia, nos séculos XV e XVI, levou ao processo da conquista dos povos da América. Relaciona-se a esse processo, EXCETO: a) aceitação pacífica da conquista pelos nativos, causada pelo medo dos conquistadores. b) superioridade bélica dos europeus sobre os povos “descobertos”. c) mortandade dos povos conquistados, originada pelas epidemias e violência. d) desorganização das culturas nativas e imposição de padrões culturais europeus. e) construção ideológica da superioridade racial europeia sobre outros povos. 3 - (PUC – MG – 2000) A compreensão do significado que o processo colonizador da Idade Moderna adquiriu no contexto geral da transição feudal/capitalista encontra-se vinculada: a) à doutrina do destino manifesto. b) aos princípios liberais. c) à acumulação primitiva de capitais. d) à necessidade de exportação de capitais. e) ao avanço do industrialismo. 5 - (UERJ) O mundo conhecido pelos europeus no século XV abrangia apenas os territórios ao redor do Mediterrâneo. Foram as navegações dos séculos XV e XVI que revelaram ao Velho Mundo a existência de outros continentes e povos. Um dos objetivos dos europeus, ao entrarem em comunicação com esses povos era: a) busca de metais preciosos, para satisfazer uma Europa em crise. b) procura de escravos, para atender à lavoura açucareira nos países ibéricos c) ampliação de mercados consumidores, para desafogar o mercado saturado d) expansão da fé cristã, para combater os infiéis convertidos ao protestantismo 6 - (UFF – 1996) “É em parte à descoberta do Novo Mundo que se deverá a tolerância religiosa que se irá implantar no Antigo... As depredações promovidas pelos espanhóis em toda a América esclareceram o mundo sobre os excessos do fanatismo”. Esta ideia do Abade Raynal, contida na “História filosófica e política dos estabelecimentos e do comércio dos europeus nas duas Índias” (1780- 1782), exemplifica um importante aspecto do pensamento ilustrado acerca do colonialismo. Assinale a opção que interpreta corretamente a ideia citada: a) Trata-se de uma verdadeira teoria da colonização moderna, construída sobre a utopia de uma América igualitária e sem conflitos raciais ou religiosos. b) O que mais interessava a Raynal era municiar o Estado francês para exercer com mais eficiência e humanidade a sua tarefa colonizadora, mormente após a derrota na Guerra dos Sete Anos e a perda do Canadá. c) Trata-se de uma crítica aos métodos violentos adotados pelo colonialismo, conjugada, porém, ao reconhecimento de que a conquista e colonização da América trouxe contribuição decisiva para o avanço da civilização na Europa. 19 d) Raynal indicava, implicitamente, o direito dos povos colonizados à independência, exigindo que as metrópoles europeias agissem com tolerância em face dos inevitáveis movimentos emancipatórios. e) Ideias como as do Abade Raynal fizeram da Ilustração a verdadeira base da ideologia anticolonialista emergente no século XVIII, razão pela qual sua obra foi proibida pelas Inquisições de Espanha e Portugal. 7 - (UFF – 1998) A colonização da América, consequência da expansão marítima e comercial européia, foi um dos aspectos do grande processo de formação do mercado mundial. Considerando esta afirmativa como referência, o tipo de mão de obra, a região colonial e a metrópole que podem ser corretamente associados são, respectivamente: a) euro-africanos / Cuba / Espanha b) euro-africanos / Brasil / Espanha c) euro-indígenas / Peru / França d) euro-indígenas / México / Inglaterra e) euro-africano / Haiti / Inglaterra 8 - (UFF – 1998) Sobre o fim da escravidão nas Américas e considerando-se a nova dinâmica do capitalismo é correto afirmar que: a) no Caribe, a emergência e expansão de um campesinato negro foi a mudança social mais marcante do pós- emancipação; b) o caso norte-americano foi o único em que o fim da escravidão decorreu de acordos entre os membros da classe proprietária; c) o caso do Haiti foi um dos muitos exemplos de como o fim da escravidão resultou em revoluções sociais; d) no Brasil, o sistema de colonato representou uma tentativa fracassada de solução do problema da mão de obra; e) a abolição da escravidão no Brasil foi acompanhada de indenização pecuniária aos proprietários. 9 - (UFPB – 1997) Sobre a colonização europeia no Novo Mundo, é certo afirmar: a) A colonização portuguesa foi a mais democrática, pois conseguiu um entendi- mento menos violento entre colonizador e colonizado. b) A existência do trabalho escravo demonstra a violência do sistema colonizador, exceto nas áreas de domínio espanhol. c) As nações europeias conseguiram financiar suas economias e acumular rique- zas, com destaque para a Inglaterra. d) A exploração econômica é um componente que marcou apenas as políticas colonizadoras da Espanha e Portugal. e) A montagem da exploração das riquezas minerais das colônias é semelhante nas experiências inglesa e espanhola 10 - (UFRN – 1999) A colonização da América repercutiu na economia européia, na Idade Moderna. Acerca disso, é correto afirmar que o (a) a) enriquecimento decorrente dos metais preciosos americanos
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