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DIREITOS REAIS SOBRE COISAS ALHEIAS As coisas a que se referem os direitos reais são, em princípio, objetos pertencentes aos titulares desses direitos, como propriedade deles, constituindo o domínio desses indivíduos. Os direitos subjetivos relativos ao domínio são os direitos reais chamados “direito de propriedade”. Porém, os direitos reais podem se referir, por extensão, a objetos não pertencentes aos titulares desses direitos, não sendo, portanto a coisa propriedade deles. Juridicamente esses objetos não são coisas próprias, mas sim coisas alheias, que não constituem o domínio da pessoa. Assim, relativamente a coisas alheias, uma pessoa tem direito real, se recebeu por meio da norma jurídica, permissão do seu proprietário para usá-las ou tê-las, como se fossem suas, em determinadas circunstâncias, de acordo com a lei e com o que restou estabelecido em contrato. A propriedade é o direito real mais completo, seu titular reúne os direitos de usar, gozar, dispor e reaver (GRUD), podendo reivindicar a coisa de quem injustamente a possua ou detenha. Desta forma, não há óbice que ele faça com que alguns dos seus poderes passem a pertencer ao patrimônio de outrem, que terá então, direito real sobre coisas alheias. Assim, o titular do domínio sofrerá restrições temporárias em seus poderes, pois um terceiro irá gozar e usar da coisa que lhe pertence, sem, contudo, poder dela dispor, pois a disponibilidade da coisa ficará reservada apenas ao seu proprietário. Os direitos reais sobre coisas alheias são limitados por lei e só podem existir em função de norma jurídica em razão do numerus clausus. Referidos direitos são divididos em três espécies: A) Direitos reais de gozo e fruição: 1- superfície 2- servidão 3- usufruto 4- uso 5- habitação B) Direito real de aquisição, com o compromisso irretratável de compra e venda C) Direitos reais de garantia: 1- penhor 2- hipoteca 3- anticrese DIREITOS REAIS DE GOZO OU FRUIÇÃO A) DA SUPERFÍCIE A Lei n° 10.257/2001 introduziu, no direito civil pátrio, o direito de superfície, porém limitado ao imóvel urbano, enquanto o novo Código Civil cuida do urbano e também do rural. Aboliu este a enfiteuse substituindo-a pelo direito de superfície. Tal substituição é considerada mais vantajosa pois o novo instituto permite melhor utilização da coisa. Trata-se de direito real de fruição ou gozo sobre coisa alheia, com origem no direito romano. Surgiu da necessidade prática de se permitir edificação sobre bens públicos, permanecendo o solo em poder do Estado, podendo ser constituído de modo temporário ou perpétuo, gratuito ou oneroso. Dispõe o art. 1.369, do CC: Art. 1.369 - O proprietário pode conceder a outrem o direito de construir ou de plantar em seu terreno, por tempo determinado, mediante escritura pública devidamente registrada no Cartório de Registro de Imóveis. Conforme o parágrafo único do referido artigo, o direito de superfície não autoriza, entretanto, a realização de obras no subsolo, salvo se for inerente ao objeto da concessão. Assim, uma pessoa, cujo terreno não seja apropriado para a construção que pretende erigir, pode, por exemplo, permutar o uso do solo, temporariamente, mantendo a propriedade deste, com outra pessoa que possua terreno que atenda às suas necessidades, cedendo, por outro lado, a esta, que nele tem interesse, o direito de superfície de seu imóvel. Desta forma, o proprietário de um terreno localizado na zona central, próprio para a edificação de um prédio de escritórios, mas que deseja investir na construção e montagem de uma fábrica, podepermutar o uso do solo do seu imóvel com o de um terreno localizado na periferia da cidade, cujo proprietário tem interesse em construir um prédio de escritórios. Sem o caráter real que lhe foi atribuído, o direito de superfície não seria mais do que um arrendamento. O presente instituto também não pode ser confundido com uma locação ou parceiria, pois estes são direitos obrigacionais e a superfície é um direito real inserido no rol taxativo do art. 1.225, CC. Tem-se como sujeitos o proprietário, cedente ou fundieiro (proprietário da coisa) e o superficiário (titular do direito de superfície). O direito de superfície tem como objeto as construções e plantações que se levantarem no terreno permutado. O imóvel já edificado não está sujeito ao aludido instituto. Entretanto, de acordo com o CC, as partes poderão convencionar a demolição da construção existente para a construção de uma outra, ou a erradição da plantação existente para plantação de nova cultura. De acordo com o art. 1.370 do CC, o direito de superficie poderá ser gratuito ou oneroso: Art. 1.370 - A concessão da superfície será gratuita ou onerosa; se onerosa, estipularão as partes se o pagamento será feito de uma só vez, ou parceladamente. O proprietário que conceder a superfície de seu imóvel a título gratuito, ainda que, temporariamente, fique sem a coisa, irá recebê-la, finda a concessão, com os acréscimos realizados pelo superficiário, que sem nada pagar, poderá explorar a coisa pelo tempo estipulado no contrato, inclusive, podendo nele exercer atividade econômica, auferindo lucros: Art. 1.375 - Extinta a concessão, o proprietário passará a ter a propriedade plena sobre o terreno, construção ou plantação, independentemente de indenização, se as partes não houverem estipulado o contrário. Caso seja estipulado uma forma de pagamento pela concessão da superfície, se parcelado receberá a designação de solarium ou cânon superficiário. O superficiário tem o direito de construir ou plantar, respondedo pelos encargos e tributos que incidirem sobre o imóvel (art. 1.371, CC). O direito de superfície pode transferir-se a terceiros e, por morte do superficiário, aos seus herdeiros. Não poderá ser estipulado pelo concedente, a nenhum título, qualquer forma de pagamento por essa transferência (art. 1.372, CC). Em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o proprietário, em igualdade de condições, tem direito de preferência (art. 1.373, CC). Se o imóvel for desapropriado, conforme dispõe o art. 1.376, CC, a indenização cabe ao proprietário e ao superficiário, no valor correspondente ao direito real de cada um. B) DO USO Trata-se de instituto que se destina a assegurar ao beneficiário a utiliação imediata de coisa alheia e que praticamente não tem significação em nosso país. É considerado um usufruto restrito, porque ostenta as mesmas características de direito real, temporário e resultante do desmembramento da propriedade, distinguindo-se apenas pelo fato de o usufrutuário auferir o uso e a fruição da coisa, enquanto ao usuário não é concedida senão a utilização restrita aos limites das necessidades suas e de sua família: Art. 1.412 - O usuário usará da coisa e perceberá os seus frutos, quanto o exigirem as necessidades suas e de sua família. § 1° Avaliar-se-ão as necessidades pessoais do usuário conforme a sua condição social e o lugar onde viver. § 2° As necessidades da família do usuário compreendem as de seu cônjuge, dos filhos solteiros e das pessoas de seu serviço doméstico. O objeto do uso pode consistir em coisa móvel ou imóvel. Aponta-se, como aplicação do direito de uso, o jazigo perpétuo, a faculdade de nele sepultar os mortos da famflia, etc.. De acordo com o art. 1.413, CC, são aplicáveis ao uso, no que não for contrário à sua natureza, as disposições relativas ao usufruto. C) DA HABITAÇÃO O direito real de habitação é ainda mais restritodo que o uso, pois consiste na faculdade de residir num prédio alheio, com a família. Devido ao seu caráter personalíssimo, não pode ser cedido. Assim, o titular deve residir, ele próprio, com sua famfiia, no prédio, não podendo alugá-lo, nem emprestá-lo: Art. 1.414 - Quando o uso consistir no direito de habitar gratuitamente casa alheia, o titular deste direito não a pode alugar, nem emprestar, mas simplesmente ocupá-la com sua família. Se o direito de habitação for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que ocupar a coisa estará no exercício de direito próprio, nada devendo às demais a título de aluguel, não sendo lícito, impedir o exercício da outra(s): Art. 1.415 - Se o direito real de habitação for conferido a mais de uma pessoa, qualquer delas que sozinha habite a casa não terá de pagar aluguel à outra, ou às outras, mas não as pode inibir de exercerem, querendo, o direito, que também lhes compete, de habitá-la. Trata-se de direito real temporário, extinguindo-se pelos mesmos modos de extinção do usufruto, conforme art. 1.416, CC. Pode constituir-se, assim como o usufruto, por lei e por ato de vontade (contrato e testamento), devendo ser registrado no CRI. BIBLIOGRAFIA DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil brasileiro: direito das coisas. 28° ed. São Paulo: Saraiva, 2013. GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Coisas – Sinopses Jurídicas – Vol. 3. 12ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
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