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Sistemas de repressão Fala

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A colaboração entre empresários e agentes públicos para repressão, controle e monitoramento de trabalhadores manifestou-se recorrentemente no âmbito político, financeiro e operacional durante a ditadura militar. Essa aliança, apesar de anterior ao golpe de 1964, produziu um novo regime fabril, baseado na militarização de empresas e na vigilância de trabalhadores. Dessa forma, criou-se uma complexa rede estatal-privada destinada a conter, disciplinar e reprimir os operários. Assim, por um lado, os empresários viram-se beneficiados com o aumento da taxa de exploração da força de trabalho. Por outro, tornou-se possível aplicar o lema “desenvolvimento com segurança”, adotado pela ditadura, às questões de ordem privada, de maneira a vinculá-las à manutenção da ordem pública, social e política no país.
O monitoramento dos trabalhadores iniciava-se antes mesmo de este ingressar na empresa, por meio da análise de seu passado durante o processo seletivo, a fim de identificar suas posições político-ideológicas. Para isso, verificava-se o “atestado de bons antecedentes”, o qual consistia em um documento que informava a existência ou ausência de registros criminais em nome do candidato. Além disso, costumava-se perguntar, por telefonema ou carta, sobre o histórico do candidato para os Departamentos de Recursos Humanos das empresas onde o operário já havia trabalhado. 
Candidatos que já houvessem participado de greve ou sido demitido por “justa causa” quase sempre eram preteridos. Ademais, eram feitas “listas negras”, isto é, listas com nomes de trabalhadores demitidos por razões políticas. Algumas pessoas que tiveram seu nome incluído nessas listas não conseguiram emprego em sua cidade natal pelo resto da vida, sendo obrigados a mudar-se de cidade e mesmo de estado.
Proibiu-se toda forma de associação e manifestação coletiva e a mecanismos de resistência à exploração organizados pelo operariado em várias fábricas brasileiras. Como exemplos, destacam-se a proibição à filiação a sindicatos, participação em assembleias e realização de greves e panfletagens. A realização de práticas muitas vezes acarretava a demissão por justa causa, perseguição policial, prisão dos trabalhadores ou estagnação da carreira. 
Formou-se uma rede de delatores, os quais geralmente tratavam-se de policiais federais que se infiltravam na produção e em comissões, disfarçados de operários. Os diretores dos sindicatos que sofreram intervenção do Ministério do Trabalho também colaboravam com delações.
Várias empresas organizavam, entre si, centros comunitários de segurança, que operavam no compartilhamento de informações sobre as atividades dos trabalhadores, por meio de reuniões mensais nas dependências das fábricas, hotéis ou pousadas da região, com a presença de representantes empresariais. Essas reuniões eram realizadas com o objetivo de manter a segurança patrimonial e política dentro das fábricas. Muitas vezes, as informações obtidas eram transmitidas a órgãos estatais, como o Serviço Nacional de Informações (SNI), Destacamento de Operações de Informações – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) e Conselho de Segurança Nacional (CSN). 
O monitoramento empreendido em empresas estatais foi ainda mais expressivo. Nesse contexto, a Petróleo Brasileiro SA, ou Petrobras, ofereceu um ambiente propício para a implantação de um sistema de controle que funcionou como modelo para outras grandes empresas. Somente na Petrobras, elaboraram-se 131.277 fichas de controle político-social, desencadeando-se diversos processos de auditoria, sindicância e inquéritos administrativos. Alguns desses procedimentos de controle alcançaram até mesmo trabalhadores contratados por subempreiteiras. 
A ditadura militar manteve, aprimorou e ampliou o que havia de mais repressivo na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Sendo assim, manteve-se o corporativismo dos governos Vargas, e acrescentaram-se decretos que aumentavam o controle estatal sobre as organizações sindicais. Como exemplo, destaca-se a Lei n. 4.330/1964, que proibiu quase todas as as greves deflagradas no país. Assim, houve um declínio abrupto no número de greves nos anos 1960 e 1970: 154, em 1962; 25, em 1965; e nenhum registro em 1971.

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