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Economia Brasileira

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Professor Aldair Pereira 
 
ECONOMIA BRASILEIRA 
 
 
1. A ECONOMIA CAFEEIRA 
 
A lavoura de café do início do século passado não enfrentou nenhuma crise mais 
séria de escassez de mão-de-obra. O mercado de trabalho para a produção 
funcionava adequadamente, pois a questão da mão-de-obra fora resolvida a 
partir da década de 1870, com a abundante imigração europeia. Além disso, a 
terra não constituía obstáculo à expansão da produção do café, já que vastas 
regiões do Estado de São Paulo encontravam-se desocupadas, podendo vir a 
ser cultivadas no futuro, ainda mais na presença de uma rede ferroviária que se 
expandia na medida da necessidade de ocupação das terras novas. 
Assim sendo, a lavoura do café e, portanto, as produções possuíam amplas 
condições de crescimento no estado, sem enfrentar obstáculos de monta. Em 
consequência, métodos produtivos rudimentares eram perfeitamente 
adequados, sem reclamar nenhuma mudança que exigisse absorção de 
recursos de capital para o prosseguimento dessa empresa, cuja aplicação mais 
lucrativa encontrava-se na esfera comercial. Visto que a formação da lavoura e 
a produção de café necessitavam de financiamento, coube ao comerciante 
ocupar o espaço deixado pela inexistência de vínculos diretos entre o fazendeiro 
e os bancos. Durante o longo período do século XIX em que a economia cafeeira 
se assentou sobre o regime de trabalho escravo (e mesmo nas duas décadas 
seguintes, ao final da escravidão), o mecanismo de financiamento da produção 
nas lavouras de café vinculava-se profundamente à comercialização do produto. 
Nesse sistema, adquiriam um papel central os comerciantes (ou comissários) de 
café das praças de Santos e do Rio de Janeiro, dos quais dependiam, em grande 
medida, os fazendeiros de café, para: 
 
a) realizar seus lucros, com a venda do produto; e 
b) obter os recursos financeiros necessários à produção. 
 
“As relações entre o comerciante e o produtor assentavam principalmente na 
necessidade de fornecer o primeiro a massa de recursos indispensáveis para o 
desenvolvimento das operações de cultura a cargo do segundo durante o 
período da formação dos cafezais e posteriormente na rotação anual das 
colheitas, com a obrigação taxativa da consignação do produto para a 
amortização dos adiantamentos e dos ônus que lhes são correlatos. ” 
 
2. ANOS 30 
 
A utilização em massa do trabalho assalariado representou a primeira 
fase de desenvolvimento do capitalismo no Brasil. A formação do mercado de 
trabalho assalariado adquiriu um ritmo mais intenso no país depois da falência 
definitiva do sistema escravista. Na análise desse processo, salta à vista o fato 
de que, na região de desenvolvimento mais intenso (Sudeste), praticamente até 
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a década de 1930, a mão-de-obra assalariada era recrutada preferencialmente 
entre os imigrantes, embora já houvesse, desde as últimas décadas do século 
XIX, um grande contingente potencial de trabalhadores assalariados constituído 
por brasileiros natos. Uma investigação parcial dos recursos de mão-de-obra, 
efetuada em 1882, demonstrou que de cerca de cinco milhões de pessoas na 
idade de 13 a 45 anos que viviam nas seis maiores províncias do país — Rio de 
Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Pernambuco e Ceará —, 651 mil, ou 
13%, eram escravos. O número de pessoas livres que se dedicavam a qualquer 
trabalho era igual a 1,4 milhão, ou 29%. As demais, 2,9 milhões, ou 58% de toda 
a população apta ao trabalho, foram qualificadas como “indivíduos sem 
ocupação certa”. A abolição da escravatura em 1888 e uma série de cataclismas 
sociais e econômicos no último quartel daquele século — como a seca 
catastrófica no Nordeste em 1877-1879 ou a decadência dos cafezais outrora 
prósperos na província do Rio de Janeiro e a sua transformação em pastagens 
— resultaram no aumento do número de pessoas que não tinham fontes de 
rendimentos permanentes para sua subsistência e, muitas vezes, nem sequer 
domicílio. Foi precisamente nessa época que surgiram, no Rio de Janeiro e em 
algumas outras cidades do Brasil, as favelas. 
O que explicaria a necessidade de importação de imigrantes, apesar da 
existência de tanta mão-de-obra nativa desocupada? Durante 50 anos, de 1880 
a 1930, chegaram ao país quatro milhões de imigrantes, a maior parte dos quais 
se estabeleceu em São Paulo, que era uma espécie de epicentro do 
desenvolvimento capitalista do país. No final do século XIX, os imigrantes 
constituíam cerca de metade da população adulta de São Paulo e mais de 10% 
da população adulta do país. 
Isso aconteceu, em primeiro lugar, porque milhões de habitantes locais 
pauperizados, sem ocupação certa, representaram por muito tempo um exército 
de trabalho sobretudo potencial e não real. O longo domínio do sistema 
escravista e de outros sistemas arcaicos, a exploração impiedosa e a opressão 
social que as camadas dos despossuídos, tanto os escravos como os pobres 
livres, sofreram durante várias gerações mutilaram-nas moral, psicológica e 
fisicamente. Além disso, o primitivismo dos seus hábitos de trabalho, que se 
combinava frequentemente com a deficiência física, assim como tradições e 
costumes que lhes foram inculcados, criavam sérios obstáculos à exploração 
capitalista da mão-de-obra nacional. 
 
A CRISE DE 1930 
 
A Grande Depressão, que atingiu a economia mundial na década de 1930, 
é considerada o marco fundamental do processo de consolidação da produção 
industrial brasileira e mesmo latino-americana. Embora o início do processo de 
industrialização brasileiro remonte às últimas décadas do século XIX, a indústria 
só viria a se tornar o fator determinante da dinâmica econômica na década de 
1930. Após a crise econômica mundial o café deixou de ser o produto que 
determinava os destinos da economia brasileira, mas por décadas o país ainda 
continuaria a ter uma produção agrícola superior à industrial. Somente em 1956 
a situação se inverteria. Na pauta de exportações, a superação dar-se-ia apenas 
no início da década de 1970. 
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A primeira metade do século XX foi marcada fortemente por três 
acontecimentos: a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Grande Depressão 
(1929-1933) e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Foram duas guerras 
imperialistas, que envolveram os países mais ricos do mundo e provocaram 
destruição em uma escala até então não vivenciada pelos seres humanos. Na 
visão de respeitados historiadores econômicos, como Eric Hobsbawm, foi o 
período em que as economias capitalistas atravessaram sua crise mais profunda 
e terrível. 
No Brasil, a Revolução de 1930 ocasionou a perda da hegemonia política 
pela burguesia cafeeira em favor da classe industrial ascendente. O avanço do 
processo de industrialização no país intensificou-se a partir de então. (Antônio 
Correa Lacerda) 
 
3. JUSCELINO KUBITSCHEK – PLANO DE METAS 
 
Antes mesmo de seu início, o governo de Juscelino Kubitschek enfrentou uma 
série de dificuldades. As adversidades políticas que marcaram o período entre 
sua indicação como candidato e sua posse como presidente não deixavam 
dúvidas quanto à ferrenha oposição que teria pela frente. O novo governo, fruto 
da aliança PSD-PTB, certamente Convenção do PSD que homologou a 
candidatura de Juscelino Kubitschek à Presidência da República. 10 fev. 1955. 
Juscelino Kubitschek acena para o povo. Seria hostilizado por adversários 
capitaneados pela UDN, para quem Juscelino e Jango representavam a 
continuação política do ex-presidente Getúlio Vargas. Parecia não existir 
possibilidade de meio termo para o novo presidente, e por isso mesmo o apoio 
da opinião pública seria a única forma de garantir sua manutenção no cargo. Era 
preciso ousar, e JK ousou ao anunciar seu programa de governo – 50 anos de 
progresso em5 anos de realizações, com pleno respeito às instituições 
democráticas. 
 
Esse ideal desenvolvimentista foi consolidado num conjunto de 30 objetivos a 
serem alcançados em diversos setores da economia, que se tornou conhecido 
como Programa ou Plano de Metas. Na última hora o plano incluiu mais uma 
meta, a 31a, chamada de meta-síntese: a construção de Brasília e a 
transferência da capital federal, o grande desafio de JK. Não se pode dizer que 
essa fosse a primeira experiência de Juscelino de governar com base num plano 
de desenvolvimento. Guardadas as devidas proporções, como governador de 
Minas Gerais de 1951 a 1955, JK já tinha eleito o binômio energia e transportes 
como metas de desenvolvimento para a sua gestão. 
 
Tanto o plano de governo mineiro quanto o Plano de Metas de Juscelino foram 
elaborados com base em estudos e diagnósticos realizados desde o início da 
década de 1940 por diversas comissões e missões econômicas. O último grande 
esforço de diagnóstico dos entraves ao crescimento econômico brasileiro fora 
feito pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos entre 1951 e 1953, Juscelino 
Kubitschek inaugura as novas instalações da fábrica de caminhões Mercedes 
Benz. São Bernardo do Campo (SP), 28 set. 1956 ainda no governo Vargas. Os 
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estudos da Comissão Mista, assim como os do Banco Nacional de 
Desenvolvimento Econômico (BNDE) e os da Comissão Econômica para a 
América Latina e Caribe (CEPAL), indicavam a necessidade de eliminar os 
"pontos de estrangulamento" da economia brasileira. Tratava-se de setores 
críticos que não permitiam um adequado funcionamento da economia. A 
premissa do Plano de Metas, esboçado pouco antes da posse de JK por uma 
equipe do BNDE, era, assim, a superação desses obstáculos estruturais. As 
metas deveriam ser definidas e implementadas em estreita harmonia entre si, 
para que os investimentos em determinados setores pudessem refletir-se 
positivamente na dinâmica de outros. O crescimento ocorreria em cadeia. A meta 
de mecanização da agricultura, por exemplo, indicava a necessidade de 
fabricação de tratores, prevista na meta da indústria automobilística. 
 
Para os analistas da época, o Brasil vinha passando, desde a década de 1930, 
por um processo de substituição Palestra de Juscelino Kubitschek no Clube 
Militar. Rio de Janeiro, 21 jul. 1959 de importações não-planejado, e a falta de 
planejamento seria a causa dos constantes desequilíbrios no balanço de 
pagamentos. O Plano de Metas pretendia suprir essa falta. A introdução de uma 
meta de consolidação da indústria automobilística no país tinha como objetivo, 
entre outras coisas, a redução planejada e gradativa da importação de veículos. 
 
Talvez pela consciência que tivesse das dificuldades inerentes à burocracia 
estatal e dos obstáculos permanentes e inevitáveis impostos pela oposição, JK 
traçou uma estratégia de ação que se mostraria acertada com relação à 
administração e à operacionalização do Plano de Metas. Já na primeira reunião 
de seu ministério, em 1o de fevereiro de 1956, criou um órgão diretamente 
subordinado à Presidência da República, o Conselho do Desenvolvimento, que 
iria coordenar o detalhamento e a execução do plano. Tendo como secretário-
executivo o presidente do BNDE, e reunindo todos os ministros, os chefes dos 
gabinetes civil e militar e o presidente do Banco do Brasil, o conselho constituiria 
uma administração paralela com autonomia de decisão suficiente para viabilizar 
a realização dos projetos. O conselho foi conduzido, primeiramente, por Lucas 
Lopes. Quando este deixou a presidência do BNDE para assumir o Ministério de 
Fazenda, em agosto de 1958, seu lugar foi ocupado por Roberto Campos, que 
permaneceu até julho de 1959. Dessa data até o final do governo, Lúcio Meira 
presidiu o BNDE e foi o secretário-executivo do conselho. 
 
O Cruzeiro, n.27, 16 abr. 1960 O Conselho do Desenvolvimento recorria a 
especialistas dos diversos setores previstos no Plano de Metas e também a 
economistas oriundos de órgãos do governo, como a Superintendência da 
Moeda e do Crédito (Sumoc). Atuava através de grupos executivos, aos quais 
cabia a responsabilidade pela concessão de incentivos ao setor privado para que 
as metas de que tratavam fossem atingidas. O mais conhecido de todos foi o 
Grupo Executivo da Indústria Automobilística (GEIA). A coordenação dos 
investimentos do setor público era atribuição do BNDE. 
 
O Cruzeiro, n.27, 16 abr. 1960 O Plano de Metas mencionava cinco setores 
básicos da economia, abrangendo várias metas cada um, para os quais os 
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investimentos públicos e privados deveriam ser canalizados. Os setores que 
mais recursos receberam foram energia, transportes e indústrias de base, num 
total de 93% dos recursos alocados. Esse percentual demonstra por si só que 
os outros dois setores incluídos no plano, alimentação e educação, não 
mereceram o mesmo tratamento dos primeiros. A construção de Brasília não 
integrava nenhum dos cinco setores. 
 
As metas eram audaciosas e, em sua maioria, alcançaram resultados 
considerados positivos. O crescimento das indústrias de base, fundamentais ao 
processo de industrialização, foi de praticamente 100% no quinquênio 1956-
1961. 
Ministro da Economia, José Maria Alkmim. Ao final dos anos JK, o Brasil havia 
mudado. Muitos foram os avanços, e muitas foram as críticas à opção de JK pelo 
crescimento econômico com recurso ao capital estrangeiro, em detrimento de 
uma política de estabilidade monetária. O crescimento econômico e a 
manutenção da estabilidade política, apesar do aumento da inflação e das 
consequências daí advindas, deram ao povo brasileiro o sentimento de que o 
subdesenvolvimento não deveria ser uma condição imutável. Era possível 
mudar, e o Brasil havia começado a fazê-lo. (Fundação Getúlio Vargas) 
 
4. PLANO CRUZADO 
 
O plano Cruzado foi um plano econômico lançado durante o governo de José 
Sarney. O plano foi criado em 1986 pelo ministro da Fazenda (Dilson Funaro), o 
Brasil vivia um grande estado de euforia (grandes inflações, eleições, escassez 
de alguns produtos...). Foi um ano conturbado, pois em 1985 havia morrido o 
presidente eleito Tancredo Neves. 
 
As principais medidas tomadas pelo plano Cruzado foram: 
 
- A moeda corrente brasileira que era o Cruzeiro foi transformada em Cruzado, 
seguido de sua valorização (O cruzado valia 1000 vezes mais); 
 
- Congelamento dos preços em todo o varejo, os quais eram fiscalizados por 
cidadãos comuns (fiscais do Sarney); 
 
- Antecipação do salário mínimo (O governo garantia a antecipação de parte do 
salário mínimo visando assim estimular o consumo); 
 
- Correção automática do salário para acompanhar a inflação. 
 
O plano foi um fracasso, principalmente devido a: 
 
- O principal motivo de fracasso do plano foi o congelamento de preços, que fez 
a rentabilidade dos produtores caírem para perto de zero quando não faziam os 
mesmos ter prejuízo, a falta de mobilidade de preços fez os produtos ficarem 
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ausentes dos mercados e até leite não era mais encontrado para se comprar, foi 
a época em que os consumidores fazerem “estoque” de produtos em casa; 
 
- O governo não era responsável o suficiente para controlar seus gastos, além 
de fazer o país perder grandes quantias de reserva internacional; 
 
- A proximidade das eleições fez com que o governo tomasse algumas atitudes 
populistas, evitando tomar atitudes impopulares para garantir a sobrevida do 
plano Cruzado. (Brasil Republicano – Economia do Brasil) 
 
 
5. PLANO BRESSER 
 
 
Nome pelo qual ficou conhecido o conjunto de medidas econômicas lançado pelo 
ministro da Fazenda Luís Carlos Bresser Pereira em 12 de junho de 1987 com o 
objetivo de conter a inflação.Desde que assumiu plenamente a Presidência da República após a morte de 
Tancredo Neves, José Sarney careceu de legitimidade e apoio político para 
implantar um regime de austeridade necessário para combater a inflação. A 
substituição do ministro da Fazenda Francisco Neves Dornelles por Dílson 
Funaro, em agosto de 1985, marcou a opção pelo desenvolvimentismo em 
detrimento do controle da inflação que, naquele mês, atingiu a taxa mensal de 
14%. Diante da escalada da inflação, que chegou a 16,2% em janeiro de 1986, 
Funaro lançou o Plano Cruzado. 
Entre fevereiro e novembro de 1986 o congelamento de preços instituído pelo 
plano reduziu a 1% a taxa mensal de inflação. Quando se lançou o plano, havia 
uma previsão de que o déficit público, descontada a correção monetária sobre a 
dívida pública, seria reduzido para apenas 0,5% do PIB e que o congelamento 
de preços só duraria três meses, prazo supostamente suficiente para eliminar a 
inércia inflacionária. Mas o sucesso inicial do plano, implantado em ano eleitoral, 
levou o governo a seguidas concessões que tornaram as políticas monetária e 
fiscal francamente expansionistas, gerando um notável aumento da atividade 
econômica e dos salários reais. O congelamento da taxa nominal de câmbio e o 
aumento da renda provocaram a eliminação do superávit comercial. Apesar dos 
sintomas inequívocos de inflação artificialmente reprimida, como a valorização 
de imóveis, o desabastecimento em muitos mercados e a prática de ágio em 
outros (no mercado paralelo de dólares praticou-se ágio de mais de 90%), a 
inevitável correção de rumos do Plano Cruzado foi protelada até o dia seguinte 
às eleições de novembro de 1986. 
Quando se iniciou a flexibilização do congelamento de preços e da taxa de 
câmbio, a taxa mensal de inflação decolou do patamar de 1,4% em outubro. Em 
fevereiro de 1987 planava a 14%. A volta da inflação acionou a Escala Móvel de 
Salários, instrumento que concedia aos salários nominais correções automáticas 
toda vez que a inflação acumulada atingia 20%. Restabeleceu-se, desta forma, 
e com maior intensidade, a indexação generalizada cuja eliminação fora a 
motivação básica do Plano Cruzado. Em fevereiro de 1987, diante do iminente 
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esgotamento das reservas cambiais, o governo Sarney optou por declarar uma 
moratória unilateral dos compromissos externos do país, por temer o desgaste 
político de um acordo com o FMI, estigmatizado como responsável pela recessão 
de 1983. 
A conjugação de inflação em alta, aumento do desemprego e crise cambial 
provocou a substituição do ministro Funaro por Bresser Pereira em 3 de maio de 
1987. 
Bresser desvalorizou a taxa de câmbio em 8,5% no dia seguinte à posse e ainda 
acelerou as desvalorizações diárias, sinalizando um retorno à ortodoxia. Mas a 
implantação de um novo plano consistente de combate à inflação esbarrava em 
imensas restrições políticas. O elevado poder de compra dos salários verificado 
durante o apogeu do Plano Cruzado deveu-se à conjugação de três fatores agora 
insustentáveis: valorização real da taxa de câmbio, compressão de tarifas 
públicas e aquecimento da atividade econômica sob regime de congelamento de 
preços. O esgotamento das reservas cambiais impedia a continuidade da política 
de valorização cambial; o déficit público, agravado pela defasagem das tarifas 
públicas, acabaria por provocar expansão monetária; a disposição das empresas 
de manter o nível de emprego sob regime de preços congelados estava 
chegando ao fim. 
O descongelamento da taxa de câmbio, tarifas públicas e preços após a eleição 
de novembro de 1986 poderia ter gerado apenas uma brusca elevação de 
preços, sem trazer de volta o processo inflacionário, caracterizado pela elevação 
sucessiva de preços e salários. Mas isto teria exigido que o descongelamento 
fosse efetuado sob uma política monetária apertada e que não houvesse um 
mecanismo automático de correção de salários nominais como a escala móvel. 
Assim se reduziriam os salários reais pelas forças de mercado, mantendo-se a 
inflação sob controle. Mas a fragilidade política do governo Sarney impedia a 
implantação de uma política monetária de forte contenção e, principalmente, a 
eliminação da escala móvel. Sem as condições necessárias para que o 
descongelamento se fizesse sem o retorno da inflação, está tornou-se o 
mecanismo que forçou a queda dos salários reais ao nível em vigor antes do 
Plano Cruzado. O Plano Bresser pode ser visto como uma tentativa frustrada de 
conciliar a inexorável redução dos salários reais com a queda da inflação. 
O plano foi lançado em meados de junho sob condições muito adversas: sem 
reservas internacionais e em estado de moratória, não podia contar com a 
valorização cambial para conter preços; a meteórica elevação recente da taxa 
de inflação sinalizava que os preços relativos estavam muito desalinhados, o que 
comprometia a eficácia de um novo plano de desindexação; a população, já 
escaldada pelo fracasso do plano anterior, diante de um eventual novo 
congelamento não hesitaria em acumular estoques preventivos; a implantação 
da Assembleia Constituinte, em que os constituintes eram os próprios 
parlamentares do Congresso regular, minava a capacidade do governo Sarney 
de obter apoio político para implantar medidas econômicas austeras. 
Em seu plano, Bresser aliava componentes heterodoxos e ortodoxos. Entre os 
primeiros destacavam-se o congelamento de preços e salários por 90 dias; e o 
estabelecimento de um fator de conversão de créditos aplicável a obrigações e 
títulos emitidos antes do lançamento do plano com valores nominais prefixados. 
Além dessas medidas, substituiu-se a Escala Móvel de Salários por um 
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mecanismo baseado na Unidade de Referência de Preços (URP) que definia a 
taxa de reajuste mensal dos salários, a vigorar após decorrido o prazo de 
congelamento, como sendo a média geométrica da inflação observada nos três 
meses anteriores ao mês de reajuste. 
Do lado ortodoxo, no momento do lançamento do plano desvalorizou-se a taxa 
de câmbio em 10,6% e reajustaram-se as tarifas públicas (eletricidade: 45%, 
telefone: 34%, aço: 32%, combustíveis: 13%). Estes reajustes elevaram a 
inflação de junho à inédita taxa de 26,1%, que foi expurgada do cômputo da URP 
daquele mês. Além disso, manteve-se uma política monetária apertada no intuito 
de conter a formação de estoques especulativos. O congelamento de preços 
adotado foi menos rígido do que o do Plano Cruzado, como atesta a manutenção 
de desvalorizações da taxa de câmbio ao ritmo diário de 0,4%. A opção por um 
congelamento flexível era um sintoma de que Bresser, ao contrário dos criadores 
do Plano Cruzado, não tinha a pretensão de eliminar a inflação, mas apenas de 
criar uma trégua para que se implantassem gradualmente reformas destinadas 
a permitir seu controle efetivo. 
Após a elevada inflação corretiva de junho, o mês de julho foi promissor: a taxa 
de inflação caiu para 3,1% e o balanço comercial alcançou superávit de 1,4 
bilhão de dólares. Anunciou-se nesse mês o Plano de Controle 
Macroeconômico, cuja meta era elevar a poupança pública de modo a criar 
condições para a retomada do crescimento econômico sem pressões 
inflacionárias. Mas em agosto, quando as primeiras revisões de preços foram 
autorizadas, a inflação voltou a subir para 6,4%. O descompasso entre a inflação 
em ascensão e os reajustes salariais definidos pela URV com base na inflação 
passada inferior à corrente passou a gerar forte queda dos salários reais, 
levando o governo a ceder a pressões por antecipações de futuros reajustes 
salariais. A vulnerabilidade política do governo Sarney permitiu que, dentro do 
próprio governo, as categorias mais mobilizadas conseguissem significativas 
antecipações de reajustes salariais, contribuindo parao fracasso da tentativa de 
controlar o déficit público. 
Os mecanismos de indexação como a URV, embutidos no próprio Plano Bresser 
por concessão política, e a incapacidade do governo para implantar a 
austeridade monetária e fiscal acabaram por deixar a cargo da inflação o papel 
de reduzir os salários reais ao nível compatível com a eliminação do déficit 
comercial, a contenção do déficit público e a manutenção do emprego. A inflação 
de dezembro atingiu 14%. Bresser, incapaz de implantar suas propostas na área 
fiscal, pediu demissão em 18 de dezembro. (MODIANO, E. Ópera; SIMONSEN, 
M. H. Conjuntura; SIMONSEN, M. H. Inércia.) 
 
6. PLANO VERÃO 
 
O Plano Verão foi anunciado em 15 de janeiro de 1989. Foi o terceiro choque 
econômico e a segunda reforma monetária do Governo Sarney. O mesmo foi 
elaborado sob a supervisão dos ministros Maílson da Nóbrega, João Batista de 
Abreu, Dorothea Werneck, Ronaldo Costa Conto. O Plano Verão teve a mesma 
concepção dos pacotes anti-inflacionários aplicados anteriormente no Brasil e 
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em outros países, diferenciado destes apenas na extinção da correção 
monetária. 
Foi por meio do recurso constitucional da medida provisória, que dependeu da 
posterior aprovação pelo Congresso, que o Plano Verão adotou, dentre outras 
providências: 
 
• Congelamento dos preços, serviços e tarifas públicas por tempo indeterminado; 
• O não realinhamento dos preços dos combustíveis e da energia elétrica. 
 
Previa-se um descongelamento lento e gradual a partir do mês de março daquele 
ano para os preços. O objetivo então era resolver a defasagem e sair do 
congelamento sem uma explosão de remarcações. E mais: 
 
• A extinção da OTN e da URP; 
• A criação do cruzado antigo; 
• A desvalorização do câmbio em 16.3805%, ficando congelado. 
 
• O dólar americano passou a valer, então, um cruzado novo. 
• houve a suspensão do processo de indexação da economia por três meses até 
15 de abril. 
• criou-se também a Caderneta de Poupança Reajustada (única); 
• implementou-se uma política monetária restritiva. 
• quanto à dívida externa, foram suspensas as operações de ré empréstimo por 
um ano. Conversões da dívida continuaram, mas os leilões de janeiro de 1989 
foram suspensos. 
 
Em abril daquele ano o governo criou os Bônus do Tesouro Nacional (BTN), 
atendendo a reivindicação por um sistema de indexação que pudesse conviver 
com a inflação que então ressurgia. O BTN seria corrigido pelo índice medido 
pelo IPC. Por meio da análise das medidas adotadas pelo Plano Verão observou-
se que as mesmas geraram uma reação dos capitalistas que largaram os ativos 
financeiros e tomaram ativos reais. Para se evitar a fuga de ativos financeiros o 
governo garantiu uma taxa de juros elevada. Os agentes econômicos fugiram 
dos papéis do governo e pegaram os ativos reais. 
Como consequência deste fato, o aumento da taxa de juros, no início, fez com 
que caíssem alguns preços relativos, só que isso perdurou somente até o mês 
de abril. Dessa forma, a taxa de juros continuou subindo até o mês de maio. 
Naquele mês, o governo estava com estoque da dívida maior do que no início 
do plano. Dessa maneira, o congelamento de preços que vigorou nos primeiros 
meses foi prejudicial devido ao realinhamento dos combustíveis e da energia 
elétrica, antes de serem congelados. 
No mês de junho de 1989 algumas das medidas adotadas foram suspensas: a 
principal foi a volta da correção monetária, que se tornou necessária devido à 
reescalada do processo inflacionário. (Portal da Educação) 
 
 
 
 
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7. PLANO COLLOR 
 
PLANO COLLOR 1 março DE 1990 
 
Muita especulação ocorreu nos dias anteriores ao plano. 
 
Na noite de 13 de março foi decretado feriado bancário o que surpreendeu o 
país. Esperava-se feriado bancário apenas no dia 15 (sexta-feira), dia do anúncio 
oficial das medidas adotadas. 
 
O feriado foi decidido à última hora e representou apenas uma medida preventiva 
face ao aumento da intranquilidade no sistema financeiro, mas o anúncio das 
medidas permaneceu no dia 15. 
 
Houve remarcação generalizada de preços, de até 300%. 
 
A Folha de São Paulo, de 15 de março de 1990 às fls. B-4 anunciou o vazamento 
de 15 das medidas integrantes do pacote econômico desde o dia 12 de março 
para algumas instituições financeiras, ocasionando pesadas movimentações no 
mercado financeiro. Teria havido saques de US$ 35 bilhões do over. O governo 
Collor começava sob a égide da fraude. 
 
Desde fevereiro estavam ocorrendo transferências de aplicações do over e 
fundos de curto prazo para as cadernetas de poupança por parte de pequenos, 
médios e grandes aplicadores. Esta migração poderia ter sido evitada pela 
equipe econômica de transição, com o estabelecimento de valores máximos 
para depósito em poupança o que não aconteceu. A não adoção desta prática 
acabou obrigando também à intervenção sobre as cadernetas de poupança. 
 
O Plano Collor I, decretado em 15.03.1990 confiscou US$ 80 bilhões, 
representando todos os valores depositados em contas bancárias e de poupança 
superiores e NCz$ 50.000,00 (cerca de US$ 1.200 no câmbio oficial), que 
ficaram retidos um ano e meio e seriam devolvidos em 12 parcelas mensais. 
 
O nome da moeda é trocado de cruzado novo (NCz$) para cruzeiro (Cr$), sem 
alteração do valor. O over, os fundos e as contas remuneradas o limite seria Cr$ 
25.000,00. Os valores seriam devolvidos após 18 meses em 12 parcelas com 
correção monetária e juros de 6%. 
 
O congelamento das contas acabou incluindo as contas correntes e a poupança, 
até então considerada a mais segura forma de aplicação. Tinha havido dias 
antes da posse forte movimento de transferência dos recursos de contas de 
poupança para as contas correntes, o que obrigou a apenas 72 horas antes da 
posse à decisão de também incluir as contas de poupança no bloqueio, 
quebrando uma tradição de não intervenção existente desde a criação das 
cadernetas em 1964. 
 
 Professor Aldair Pereira 
 
Preços e salários foram congelados por 45 dias. Uma tarifação trouxe reajustes 
de até 70%. A emissão de títulos ao portador foi eliminada. 
 
O plano foi decidido devido à conclusão de vários economistas que para acabar 
com o processo inflacionário era preciso reduzir a liquidez, o excesso de dinheiro 
na economia. Para derrubar o mercado, decidiu-se fazer algo que nem o 
mercado imaginasse que pudesse ser feito. Porém para gerenciar o plano, Collor 
colocou uma professora universitária que não tinha nenhuma experiência em 
cargos políticos ou de administração pública. 
 
Collor acabou fazendo justamente aquilo que dizia que Lula iria fazer e por isso 
não deveria ser eleito. 
 
O objetivo deste confisco era zerar o déficit público que estava previsto para 8% 
do PIB, ou US$ 31 bilhões em 1990 e obter um superávit de 2%. Porém os 
mecanismos da ciranda financeira permaneceram vigentes. Os prazos de 
aplicação não foram alongados, permanecendo o overnight, bem como não 
foram definidos níveis de remuneração menores para prazos de aplicação mais 
curtos. 
 
Foi adotado o IOF sobre aplicações em ouro, ações, debêntures, CDB e 
poupança; aumento do IPI em 30% para bebidas. Cancelados todos os 
incentivos fiscais, inclusive Sudam, Sudene, lei Sarney e ZPEs e fim da isenção 
do IR para agricultores. 
 
No governo determinou-se a redução dos ministérios de 23 para 12, foram 
fechados 24 órgãos públicos: IBC, IAA, Siderbrás, Portobrás, Funarte, 
Embrafilme. Carros só para o presidente e ministros e de serviço. O demais seria 
vendido. Seriam vendidos também as mansões ministeriais, jatinhos e 10.000 
imóveis funcionais em Brasília 
 
Collor anunciou ainda a extinção de 24 empresas estatais, entre elas o IAA, o 
IBC e o DNOCS. Para simbolizarsua luta contra os "marajás”, anunciou o leilão 
de dezenas de mansões do governo em Brasília. Com suas medidas conseguiu 
desestabilizar a estrutura do Estado brasileiro. 
 
 
8. PLANO REAL 
 
 
Duas características básicas podem ser identificadas no Plano Real dentro da 
sequência de tentativas de estabilização da economia brasileira, depois da crise 
da dívida externa do início da década de 1980. Uma característica foi a intenção 
deliberada de fugir aos movimentos bruscos e do elemento surpresa que fizeram 
a glória e o fracasso de seus antecessores, e que atingiram o paroxismo no 
Plano Collor. A segunda característica foi a insistência da equipe no governo em 
anunciar o plano como uma estratégia multifásica de estabilização, da qual a 
 Professor Aldair Pereira 
 
reforma monetária seria apenas um momento, e não necessariamente o mais 
importante. Essas duas características tinham o objetivo de desarmar os 
espíritos dos agentes econômicos, que tinham se habituado a associar 
programas de estabilização a perdas súbitas de direitos. 
 
O comportamento defensivo contra os choques anti-inflacionários exacerbava 
conflitos e acelerava a inflação ao gerar corrida contra a moeda, aumentando, a 
cada tentativa, os custos dos programas de choque e diminuindo as chances de 
sucesso em programas baseados em desindexação. A concepção de uma 
sequência de etapas permitiria certa flexibilidade para a correção dos erros 
inevitáveis dos programas de choque, mas, ao mesmo tempo, se tornaria 
compatível com a construção de uma imagem de serenidade na 
institucionalização da política econômica, que seria útil para minimizar os custos 
da estabilização em termos de perdas bruscas de crescimento econômico e de 
desemprego. 
 
A abordagem fiscal 
 
A primeira etapa foi a construção de algum espaço para a política fiscal. Diante 
do irrealismo óbvio que seria tentar fazer uma reforma fiscal de profundidade 
sem conhecer as necessidades de financiamento do governo por detrás do véu 
da inflação elevada, optou-se por obter um mínimo de desvinculação entre 
despesas e receitas orçamentárias a partir da criação do chamado Fundo Social 
de Emergência (FSE). 
 
A segunda foi anunciar uma sequência de reformas que envolveria a Previdência 
Social, e os componentes administrativo e patrimonial, com a finalidade de 
construir um horizonte plurianual no qual fosse possível se obter uma redução 
consistente das necessidades de financiamento inflacionário do governo. 
 
A terceira foi a introdução de uma moeda de conta indexada capaz de, através 
de um mecanismo de operacionalidade simples, permitir uma recuperação 
mínima da percepção de preços relativos. 
 
O processo político 
 
A posse de Fernando Henrique Cardoso, como ministro da Fazenda, criou um 
elemento de serenidade em meio ao pânico dos investidores. A competência 
técnica da equipe que se juntou ao governo, além, naturalmente, das qualidades 
de político do novo titular da Fazenda, ajudou a afastar as perspectivas de um 
novo choque econômico. Só assim pode-se entender como, depois de seis 
meses de estudos e negociações sobre a proposta orçamentária para 1994, e 
nove meses depois da posse, o anúncio da etapa de transição com um indexador 
oficial que servisse de unidade de conta, a chamada Unidade Real de Valor 
(URV) logrou ser mais um elemento de tranquilidade. Seria feita uma ponte entre 
a moeda moribunda e uma outra moeda que se pretendia estável e forte. Esta 
foi vista como uma boa solução para a angústia dos que temiam por mais um 
 Professor Aldair Pereira 
 
congelamento demagógico e pernicioso, porém estava longe de ser um 
programa de estabilização. 
 
A comissão especial do Congresso que examinou o programa demonstrou boa 
disposição para negociar com a equipe econômica, mas na realidade nada foi 
obtido até o fim do período de revisão constitucional, exceto o FSE, artifício para 
tornar manejável a execução orçamentária. Com pouco apoio do lado da 
reestruturação fiscal, o programa de estabilização entraria no ano das eleições 
gerais em uma trajetória precária de sustentação. 
 
A economia em 1993 
 
Por outro lado, as vendas de Natal confirmaram os prognósticos mais otimistas, 
que apontavam para um nível de atividade mais elevado ao final de 1993. O ano 
fechou com um crescimento industrial de mais de 8% e um PIB com crescimento 
da ordem de 5%, deixando tranquilo o presidente Itamar Franco, que passou a 
ter mais razões para acreditar em sua equipe. Sem recessão, com reservas 
abundantes e um saldo cambial em dezembro da ordem de três bilhões de 
dólares, havia segurança para o anúncio dos primeiros passos do novo programa 
de estabilização. 
 
A URV 
 
O anúncio da URV, cujo valor foi estabelecido em lei como igual ao do dólar 
comercial (de forma a facilitar as conversões contratuais ao dólar, em vez de se 
utilizar uma indexação diária dos pagamentos defasados), como instrumento de 
uma reforma monetária gradual foi, sem dúvida, a grande inovação do programa 
de transição. Ao fim da primavera de 1993, analistas econômicos e a imprensa 
especulavam sobre as medidas drásticas que seriam inevitavelmente tomadas, 
em decorrência da aceleração de mais de dez pontos percentuais na inflação 
mensal entre maio e dezembro. Reforma monetária, confiscos, congelamentos 
e tablitas voltaram à ordem do dia. A equipe econômica lançou e deixou vazar a 
ideia de que poderia ser feita uma reforma monetária com indexação pelo dólar, 
sem que houvesse necessidade de choque, nem de dolarização da economia. 
Bastaria que houvesse um mínimo de consenso de que as condições 
institucionais para um ajuste fiscal duradouro seriam viáveis e que elas estariam 
dadas antes de que fossem tomadas medidas para que fosse eliminada a inércia 
inflacionária. 
 
A regra de conversão salarial, contida na Medida Provisória nº 434, que instituiu 
o programa, foi a melhor defesa dos salários jamais proposta para funcionar no 
período de transição para a reforma monetária. Isso aconteceu, apesar de ela 
pôr em risco uma reindexação salarial no novo índice oficial, que implicava a 
conversão, na nova moeda de conta, da média dos quatro últimos salários 
percebidos, calculados pela taxa de câmbio na data do recebimento pelo 
trabalhador. Uma greve que ameaçava paralisar o país foi adiada e a tentativa 
de acionar uma oposição articulada por parte de alguns sindicalistas não rendeu 
bons resultados. 
 Professor Aldair Pereira 
 
 
Depois do primeiro susto, a população passou a temer os efeitos da inflação em 
URV, que ocorreria apenas na medida em que houvesse atraso na correção do 
câmbio, em presença de aceleração dos preços em cruzeiros reais. Medida pela 
experiência passada, o atraso era muito pequeno nos 12 meses anteriores, pois 
o governo procurava ajustar a taxa de câmbio em paralelo à aceleração da 
inflação, desde a posse do presidente Itamar Franco. 
 
Sabia-se que a guerra por um ajuste fiscal para tornar o governo menos 
dependente da inflação exigiria pelo menos três batalhas: a do orçamento 
equilibrado, a de flexibilização da execução orçamentária e a das reformas do 
Estado (Previdência Social, monopólios públicos e equacionamento dos demais 
passivos pendentes da União). As duas primeiras tinham grande chance de bom 
êxito. A última, que permitiria que o surto de crescimento pós-estabilização fosse 
imediatamente convertido em uma nova etapa de crescimento acelerado, teria 
mesmo que ficar para o mandato presidencial seguinte. Mas o governo perdeu 
as três batalhas, frustrando as esperanças de uma arregimentação de última 
hora, que seria feita pelo senador Fernando Henrique Cardoso, que havia 
deixado o ministério para assumir a candidatura presidencial. 
 
As medidas tomadas entre março e junho de 1994 destinavam-se apermitir uma 
transição suave entre o regime de megainflação e o regime de baixa inflação. No 
regime de megainflação (uma espécie de hiperinflação reprimida na qual a 
economia funciona quase normalmente), a chave para um funcionamento quase 
normal dos negócios é uma atenção crescente para a diferença entre o preço de 
anúncio e o preço de liquidação das transações. O primeiro é o que está no 
cardápio dos restaurantes, nas listas dos revendedores e no salário que o 
trabalhador espera receber no fim do mês, que é impregnado por inflação 
esperada. O segundo é quanto o freguês paga depois de verificar o desconto, o 
prazo para o cheque pré-datado, ou o que o trabalhador descobre, no mês 
seguinte, ao verificar quanto seu trabalho efetivamente compra. Com baixa 
inflação, algumas dessas regras e práticas geradas para a convivência com uma 
inflação elevada são irrelevantes (como a de dar descontos para compras à vista 
ou no cartão de crédito e proteger em fundos de curtíssimo prazo, os chamados 
FAFs, os saldos monetários utilizados para transação). Outras práticas são 
simplesmente incompatíveis com a baixa inflação, como a de um varejista vender 
por um preço à vista menor do que o preço que paga ao atacadista, que era 
possível, simplesmente, pela diferença de prazos de liquidação entre as duas 
operações. 
 
O regime da URV pretendia justamente permitir que tal transição ocorresse tanto 
quanto possível por renegociações voluntárias de (novos) preços de liquidação 
entre as partes. Preços que fossem compatíveis com a baixa inflação sem a 
necessidade do efeito de coordenação que era atribuído ao congelamento de 
preços pós-reforma. Foi, desta forma, simulada a dolarização dos preços e 
contratos sem prender o governo em um regime de taxa de câmbio nominal fixa. 
Na transição para a inflação baixa, manteve-se constante, em termos reais, a 
 Professor Aldair Pereira 
 
taxa de câmbio, coisa que o governo já demonstrara capacidade de fazer desde 
o final de 1991. 
 
O grande feito dessa opção foi viabilizar a transição para a reforma monetária 
sem controlar preços e com uma interferência mínima nos contratos privados, 
características que marcaram o fracasso dos programas anteriores. 
 
A reforma monetária 
 
A reforma monetária foi decretada pela circulação da nova moeda, o real, 
lançado com o valor equivalente a uma URV, ou seja, 2.750 cruzeiros reais, que 
era o valor da taxa de câmbio à época do seu lançamento. 
 
As medidas tomadas em 1º de julho de 1994 para a concretização da reforma 
monetária foram bem recebidas pelos analistas. Primeiro, pelo fato de o governo 
brasileiro poder fazer, logo de saída, uma tripla ancoragem da nova moeda, o 
real, o que não havia sido possível, por exemplo, ao governo argentino em 1991. 
O câmbio fixo, dada uma posição de reservas quase oito vezes maior do que 
dispunham os argentinos, era na realidade um teto, pois os agentes logo 
perceberam que seriam caras as apostas contra o programa através da busca 
por moeda estrangeira. O controle do déficit fiscal foi viabilizado durante quase 
dois anos pelo FSE. Além disso, o artigo 48 da medida provisória, que criou a 
nova moeda, virtualmente impediu o uso político das despesas do Tesouro, 
congelando por 90 dias os gastos públicos, proibindo a abertura de créditos 
especiais no Orçamento, bloqueando os financiamentos e avais do Tesouro e 
impossibilitando novas operações de crédito interno ou externo, exceto os de 
rolagem de dívida e de capital de giro. 
 
Estabeleceu-se, pela primeira vez desde a criação do Banco Central, uma 
intenção clara de limitar as emissões da nova moeda, uma vez remonetizada a 
economia. Este objetivo visava claramente a apoiar a resistência do Ministério 
da Fazenda contra as investidas de caráter político para gastos parafiscais, que 
costumam ser freqüentes em ano eleitoral. 
 
As três âncoras 
 
Os fundamentos do esforço de estabilização da moeda em 1994 basearam-se 
em uma tripla amarração: o teto para o câmbio permitiu a desindexação, o 
controle do déficit a curto prazo melhorava as perspectivas fiscais e a adoção de 
uma política monetária ativa foi anunciada. Foram justificadas as expectativas 
de que o Real sobreviveria com folga às eleições, e que o novo governo poderia 
completar as tarefas da estabilização, desfrutando da oportunidade de 
administrar uma economia com baixa inflação. 
 
Em que se baseava a expectativa de que a inflação não retornaria, a menos que 
o novo governo contribuísse para isso? O teto para a taxa de câmbio estava 
apoiado numa forte posição de reservas internacionais. A desindexação do 
câmbio fixo destinava-se a apagar a memória da indexação de curto prazo, e 
 Professor Aldair Pereira 
 
viabilizava uma perspectiva de estabilidade para os salários e para os custos em 
geral, que haviam sido atrelados à URV. Isso neutralizou grande parte das 
pressões inflacionárias do lado da oferta. Como existia capacidade ociosa na 
indústria, boa safra colhida e capacidade para importar, houve condições para a 
economia aguentar alguma inevitável expansão da demanda por bens e 
serviços, que seria resultante da redução do imposto inflacionário. 
 
O equilíbrio macroeconômico requeria que a tendência à elevação da demanda 
por parte do setor privado fosse acompanhada por um controle da demanda de 
bens e serviços por parte do setor público, para evitar-se que a expansão do 
gasto público gerasse espirais de euforia temporária. Foi feito, assim, um esforço 
para aumentar o controle do déficit fiscal, apesar do fracasso da revisão 
constitucional em torná-lo permanente. 
 
Finalmente, o governo mostrou clara intenção de limitar as emissões da nova 
moeda, uma vez remonetizada a economia. Fixou limites à expansão da base 
monetária que implicaram uma monetização nos primeiros três meses cerca de 
15% inferior ao que ocorreu no Plano Cruzado. Houve, entretanto, duas grandes 
diferenças: em primeiro lugar, um depósito compulsório de 100% sobre os 
depósitos à vista foi instituído para bloquear a oferta de crédito, colocando sob 
controle do Banco Central a decisão de expandir os empréstimos bancários ao 
setor privado, sem contingenciamentos, tetos ou restrições artificiais. 
 
Comentários finais 
 
O terceiro aniversário do Real representou a vitória da tranquilidade sobre o 
tumulto, assim como o segundo marcou a vitória da coerência diante das 
pressões para mudar a política, enquanto o primeiro pôde ser celebrado 
essencialmente pela capacidade demonstrada pelo governo em manter acesa a 
esperança na estabilização em meio ao turbilhão mexicano. 
 
Na passagem do primeiro ano da nova moeda, a crise mexicana ameaçava 
tornar-se, para muitos analistas, uma grande tempestade latino-americana. A 
política econômica na Argentina estava pressionada pelos efeitos 
contracionistas que a perda de reservas internacionais exercia sobre a 
economia. Naquele momento, o papel de desindexação cambial na estabilização 
atingia o auge de seu desprestígio. Se a conversibilidade e a paridade fixa do 
peso argentino ruíssem, o Brasil seria a próxima peça a cair no dominó latino-
americano. 
 
A política cambial foi relaxada, mas, apostando contra o cenário da 
contaminação iminente e resistindo às pressões para uma mudança radical de 
estratégia macroeconômica que trincou a unidade da equipe econômica, o 
núcleo remanescente da equipe cerrou os dentes e fez uso férreo do recém-
adquirido instrumento de controle monetário. Não faltaram, à época, sugestões 
para que se adotasse a opção chilena: aceitar o gradualismo deflacionista vivido 
pelo Chile no início dos anos 1980, defendido por muitos como uma rota segura 
para o crescimento. 
 Professor Aldair Pereira 
 
 
Manter a opção por continuar a baixar a inflação requeria convicção nos 
instrumentosmonetários, mesmo em presença da deterioração da posição fiscal. 
O freio monetário baseado nos elevados compulsórios foi uma estratégia que 
abriu espaço para o financiamento do déficit público, que crescia com a 
generosidade dos aumentos salariais concedidos no apagar das luzes do 
governo Itamar Franco. Mas a freada brusca expôs as feridas mortais que o fim 
da inflação elevada havia infligido ao sistema financeiro. 
 
O segundo ano do Real foi, assim, marcado pela crise bancária, que agravou o 
desgaste do Banco Central e definiu o novo desafio à viabilidade política da 
estratégia da estabilização. Se havia esperança de alguns governadores na 
sobrevivência de seus bancos como instrumentos para financiar a expansão dos 
gastos, ela foi extinta pela notória falência daquelas instituições e pela 
capacidade demonstrada pela equipe liderada não mais por Pérsio Arida, mas 
por Gustavo Loiola, o novo presidente do Banco Central, para resistir às 
pressões e às intrigas. 
 
Insistir na estabilização como prioridade significava, à época, resistir às pressões 
para afrouxar o controle monetário e tentar produzir um cenário de inflação 
declinante como parte essencial de coerência na política macroeconômica. 
 
Apesar dos custos notórios em termos de produção, emprego industrial e 
desgaste político dentro da aliança governista, o governo pôde comemorar o 
segundo aniversário do Real redobrando as apostas dos efeitos benéficos da 
inflação esperada no declínio do segundo semestre de 1996. A verdadeira 
âncora do Real, que permitia a continuidade do processo de estabilização, era a 
inflação esperada e, assim, a coerênca dos objetivos e dos instrumentos 
macroeconômicos utilizados, apesar dos grandes desgastes, foi a marca 
registrada do segundo aniversário. 
 
No terceiro ano ocorreu a recuperação da economia, consolidou-se a inflação 
esperada em declínio e a combinação de um déficit fiscal menor (embora 
elevado) com a recuperação econômica permitiu que a confiança crescente nos 
rumos da economia pagasse dividendos na forma de melhoria da qualidade do 
financiamento externo. 
 
As críticas e as pressões sobre o governo dirigiram-se no terceiro ano para que 
este encontrasse formas de acelerar o crescimento. Dois desafios foram 
enfrentados: o primeiro foi manter a tranquilidade diante dos resultados 
contraditórios do nível de atividade, que era interpretado por muitos como uma 
recessão prolongada; o segundo foi não perder a calma diante da trajetória do 
déficit no balanço de pagamentos em conta corrente, empurrada pela 
deterioração rápida do déficit comercial a partir do segundo semestre de 1996. 
Sem uma recuperação do nível de atividade que justificasse o crescimento das 
importações e a abertura de um hiato crescente de financiamento externo 
aumentavam as pressões, ora para conter a demanda, ora para acelerar as 
desvalorizações e, no meio do caminho, para restaurar o protecionismo e a 
 Professor Aldair Pereira 
 
política industrial baseada na escolha prévia dos vitoriosos. A opção pela 
tranquilidade dos movimentos suaves e a espera paciente pelos resultados de 
políticas que levam tempo para surtir efeito — em meio a notórios fracassos em 
termos dos efeitos das reformas sobre o déficit público esperado — requerem a 
manutenção das reservas elevadas, e isso tem custos, pois subordina a política 
de juros à melhoria da qualidade do financiamento externo. 
 
A confiança no futuro da estabilização e no crescimento da economia é elemento 
essencial da manutenção da trajetória de sucesso do Real no seu quarto ano. 
Para que isso seja possível, o grande desafio do governo é convencer 
poupadores e investidores, consumidores e trabalhadores de que não precisará 
de mais inflação no futuro para fechar suas contas. Esta é uma tarefa que só foi 
conseguida nos últimos três anos à custa de processos que não podem ser 
mantidos indefinidamente no futuro. Esgotados os limites para o crescimento da 
dívida pública pelo aumento do mercado cativo, começaram a fluir as receitas 
das vendas dos ativos. A vitória da privatização como idéia e como fonte de 
recursos para compensar o fracasso em conter suas despesas não isenta, 
porém, o governo de encarar o fato de que o problema é reduzir suas 
necessidades de financiamento. 
 
Analisando em retrospectiva percebe-se que uma das características mais 
destrutivas da experiência inflacionária brasileira foi o efeito dominante da 
inflação sobre a agenda de discussões nos rumos da política econômica. Tal 
dominância decorreu precisamente dos mecanismos que permitiram o país 
funcionar e crescer em ambiente de alta inflação. Depois que tal adaptação 
mostrou-se ilusória, a partir das mudanças de regras contratuais de correção 
monetária nos experimentos pós-Cruzado, os mecanismos de defesa contra as 
mudanças de regras, que invariavelmente têm ocorrido quando a aceleração da 
inflação ameaça fugir ao controle do governo, aumentaram ainda mais a 
importância da inflação esperada como variável central para a tomada de 
decisões econômicas e condicionante dos rumos da política econômica. 
 
Ao contrário do que ocorria até a primeira metade da década de 1980, a 
estabilização da economia foi percebida como essencial para libertar as forças 
criativas da economia do jogo estéril da inflação e permitir uma mudança nos 
rumos das discussões acerca das perspectivas do país. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Professor Aldair Pereira 
 
9. BIBLIOGRAFIA 
 
 ACORDA BRASIL. [S.l.] : Ministério da Educação e Cultura, 1995. 
 MODIANO, E. Ópera; SIMONSEN, M. H. Conjuntura; SIMONSEN, M. 
H. Inércia 
 Antônio Correa Lacerda 
 Portal da Educação 
 Brasil Escola 
 Portal do Administrador 
 LOPES, L. M.; VASCONCELLOS, M. A. S. (Orgs). 
 MANKIW, N. G. Introdução à Economia 
 BATISTA JUNIOR, Paulo Nogueira. Brasil e a Economia Internacional

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