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Aula 01 Teoria das Normas Constitucionais

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TEORIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS
PROF. MICHELLE HARTMANN
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Noções Introdutórias
O Direito é uma ciência social e como tal tem como objeto o próprio ser humano e a sua conduta. Além disso, é uma ciência normativa pois estabelece normas disciplinando condutas. 
“O direito cria sistemas ideais : não se limita a descrever como um determinado objeto é, mas prescreve como ele deve ser. Suas leis são uma criação humana e não a revelação de algo preexistente”. (Barroso, p. 212)
O que são normas jurídicas?
Prescrições, mandamentos, determinações que destinam-se a introduzir a ordem e a justiça na vida social.
Características: Imperatividade (dever jurídico imposto) e Garantia (existências de mecanismos para impor e assegurar o cumprimento, sob pena de sanção)
Comandos normativos são gerais e abstratos
Enunciado Normativo X Norma 
ENUNCIADO NORMATIVO: proposição jurídica, expressão linguística . É o texto ainda por interpretar.
NORMA: é produto da incidência do enunciado normativo sobre os fatos da causa, fruto da interação entre texto e realidade. 
Barroso: “regra de direito que dará solução para o caso concreto”. (p. 217) 
Importância da Distinção? 
Art. 5º, XI, CF - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial;  
Um enunciado pode extrair diversas normas.
Inviolabilidade de Domicílio: STF (barraco)
Extensão proteção local de exercício profissional 
Nova teoria das normas jurídicas 
Século XX – Constitucionalismo contemporâneo
Reconhecimento da Constituição enquanto documento jurídico!!!!
Aplicabilidade imediata à situação que contempla e especialmente à proteção de direitos fundamentais
Parâmetro de validade das demais normas jurídicas
Valores e fins previstos na Constituição orientam o interprete e o aplicador do Direito, determinando alcance e sentido das normas infraconstitucionais e pautando a argumentação jurídica 
CARACTERÍSTICAS DAS 
NORMAS CONSTITUCIONAIS
Superioridade hierárquica em relação às demais normas jurídicas
Linguagem aberta 
Cláusulas gerais/conceitos jurídicos indeterminados: transfere-se ao interprete o papel de criação do direito
 Ex.: Interesse público, dignidade humana, igualdade...
Conteúdo específico: a) normas de organização; b) normas definidoras de direitos; c) normas programáticas 
Dimensão política: interface entre a vida política do país e a ordem jurídica.
REGRAS E PRINCÍPIOS: FUNÇÕES DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 
Espécies de normas jurídicas, com funções diferentes e complementares
“Os princípios – notadamente os princípios constitucionais – são a porta pela qual os valores passam do plano ético para o mundo jurídico. Em sua trajetória ascendente, os princípios deixaram de ser fonte secundária e subsidiária do direito para serem alçados ao centro do sistema jurídico. De lá irradiam-se por todo ordenamento, influenciando a interpretação e aplicação das normas jurídicas em geral e permitindo a leitura moral do Direito”. (BARROSO, p. 226)
SEGUNDO VIRGÍLIO AFONSO DA SILVA: 
A principal diferença “(…) é a estrutura dos direitos que estas normas garantem”.
PRINCÍPIOS = garantem direitos ou impõem deveres prima facie.
REGRAS= garantem direitos ou impõem deveres definitivos (ou seja, não admitem relativização, modulação, restrição)
O DIREITO é DEFINITIVO quando é garantido por uma norma que segue a estrutura de REGRA, devendo ser concretizada, caso haja total subsunção ao caso concreto. No caso dos PRINCÏPIOS pode haver diferença entre o que é garantido prima facie e o que é garantido definitivamente.
SEGUNDO RONALD DWORKIN: 
PRINCÍPIOS= a previsão é mais genérica e abstrata, não se determina uma única conduta correta, pois depende da análise de cada caso concreto para que o intérprete dê a exata dimensão do peso entre os eventuais princípios. 
Segue a lógica da ponderação.
REGRAS= relatos descritivos de condutas, assim havendo enquadramento do fato à previsão abstrata, aplica-se. 
Segue a lógica da subsunção, do “tudo ou nada”. 
AINDA SEGUNDO DWORKIN:
 “Os princípios possuem razões que podem ser afastadas por razões opostas, ao contrário das regras que exigem que se faça exatamente o que elas ordenam, valendo definitvamente quando há subsunção ao caso concreto, seguindo a lógica do “tudo ou nada”. 
As razões da normas são de tipos diferentes: 
Princípios as razões são prima facie (ponderação)
Regras as razões são definitivas. (subsunção)
SEGUNDO ROBERT ALEXY:
PRINCÍPIOS= são mandados de otimização. 
O que são mandados de otimização? Algo deve ser realizado na maior medida possível, tendo em conta as possibilidades jurídicas e fáticas existentes. 
Princípios podem ser realizados em diversos graus.
REGRAS= são normas que ou são satisfeitas ou não. Se a regra vale, deve ser feito exatamente aquilo que ela exige. 
Cuidado!!!!
Segundo Virgilio Afonso da Silva: a tese de ambos os autores não sáo idênticas – a própria ideia de otimização não está presente nas obras de Dworkin - , como também a possibilidade de única resposta correta é rejeitada expressamente pela teoria dos princípios na forma como defendida por Alexy. O que o conceito de mandamento de otimização impõe é o que se pode chamar de ideia regulativa, ou seja, uma ideia que sirva para guiar a argumentação em um determinado sentido. Várias podem ser as respostas que satisfaçam as exigências de otimização”. 
Diante destes conceitos: Como se resolve aparente conflito entre regras, regras e princípios e princípios? 
CONFLITO ENTRE REGRAS: solução no plano da validade ( declarada inválida ou aplicação de regra de exceção – especialidade, temporalidade ou superioridade) 
CONFLITO ENTRE PRINCÍPIOS: solução no campo das relações condicionadas de precedência (restrição), ou seja, da maior ou menor importância dada a cada um dos princípios.
CONFLITO ENTRE REGRAS E PRINCÍPIOS: divergências. Sugestão: sopesamento entre princípio em colisão e o princípio no qual a regra se baseia. Ex.: marcha da maconha; levantamento de FGTS.
FLÁVIA PIOVESAN:
“Enquanto a convivência de regras é antinômica, a de princípios é necessariamente conflitual; enquanto as regras se autoexcluem, os princípios coexistem; enquanto no modelo estrito das regras há relação de exclusão total de uma, em face da incidência de outram com os princípios ocorre coisa diversa, pois que se configura um balanceamento, uma harmonização entre ambos, em juízo de ponderação”. 
O que é a ponderação?
Processo de três etapas:
O interprete destaca no sistema de normas quais são relevantes para a solução do caso concreto, observando eventuais conflitos entre elas;
Exame dos fatos, circunstâncias concretas do caso e sua interação com os elementos normativos.
Ponderação entre as normas e as circunstâncias, apurando os pesos atribuídos aos elementos em disputa, optando-se argumentativamente pela adoção de uma norma em detrimento das demais. (juízo de razoabilidade) 
MAS COMO SABER SE UMA NORMA É REGRA OU PRINCÍPIO?
Barroso (p. 228) aponta alguns critérios:
A) CONTEÚDO: 
Princípios: são decisões políticas fundamentais; valores a serem observados em razão de sua dimensão ética (direitos individuais) ou de fins públicos a serem realizados (interesses coletivos).
Regras: comandos objetivos, prescrições que expressam diretamente um preceito, uma proibição ou permissão.
B) ESTRUTURA NORMATIVA:
Princípios: estados ideais a serem buscados, sem que o relato da norma descreva de maneira objetiva a conduta a ser seguida. Há uma indeterminação de sentidos, funciona como instância reflexiva, permitindo que diferentes argumentos e pontos de vistas existentes na sociedade, a cerca dos valores básicos subjacentes à Constituição, ingressem na ordem jurídica. (finalísticas)
Regras: são normas descritivas de comportamento, havendo menor grau de ingerência do interprete na atribuição desentidos aos seus termos e na identificação de hipóteses de aplicação. (descritivas)
C) MODO DE APLICAÇÃO:
Princípios: a Constituição abriga princípios que apontam em diversas direções, gerando tensões e eventuais colisões entre elas. Como todos os princípios possuem o mesmo valor jurídico a prevalência de uns sobre os outros não pode se dar em abstrato, apenas com base no caso concreto. Os princípios são aplicável pela dimensão do peso. Assim cabe ao interprete proceder a ponderação dos princípios e fatos relevantes. 
Regras: ocorrendo o relato fático da norma deverá incidir (por subsunção, regra do tudo ou nada). Só não se aplica uma regra se outra regra a excepcionar ou for inválida, outros casos caracterizam violação e importam em sanção. 
Papel desempenhado: 
Princípios e Regras
Princípios: 
no plano jurídico, funcionam como referência geral para o interprete; conferem unidade ao ordenamento em torno de valores e fins comuns; e, atuação integrativa e construtiva do interprete. 
no plano político-institucional: protege valores fundamentais e consensos básicos contra ações predatórias das maiorias e garantem o funcionamento adequado da democracia e do pluralismo político. 
Regras: garantir segurança jurídica (objetivam o direito)

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