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3333 ISSN 0103-4235 ISSN 2179-4448 on line Alim. Nutr., Araraquara v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012 ELABORAÇÃO DE PRÉ-MISTURA PARA BOLO SEM GLÚTEN Naiara Cansi RAMOS* Luciani Tatsch PIEMOLINI-BARRETO** Ivana Greice SANDRI** * Curso de Graduação em Engenharia de Alimentos – Centro de Ciências Exatas e Tecnologias – Universidade de Caxias do Sul – 95070-560 – Caxias do Sul – RS – Brasil. ** Centro de Ciências Exatas e Tecnologias – Universidade de Caxias do Sul – 95070-560 – Caxias do Sul – RS – Brasil. E-mail: IGSandri@ucs.br. RESUMO: Para os portadores da doença celíaca a inges- tão de produtos que contém glúten danifi ca a superfície da mucosa do intestino, difi cultando a absorção de nutrientes pelo organismo. Neste contexto, este trabalho teve como objetivo desenvolver pré-misturas para bolos livres de glú- ten. Foram estudadas duas variáveis independentes - fari- nha de linhaça e farinha de arroz em substituição a farinha de trigo. A qualidade dos bolos foi avaliada, através das análises físico-químicas (umidade, volume e cor) e análise sensorial. Através da aplicação de um planejamento central 2², foi possível observar que grandes quantidades de fari- nha de linhaça apresentaram uma interação negativa com a farinha de arroz. Os bolos formulados com a adição de farinha de linhaça e farinha de arroz nas proporções testa- das obtiveram aceitação entre os degustadores, represen- tando uma alternativa de consumo para pessoas portadoras da doença celíacas ou para os adeptos de uma dieta isenta de glúten. PALAVRAS-CHAVES: Doença celíaca; planejamento experimental; farinha de linhaça; farinha de arroz. INTRODUÇÃO A doença celíaca é uma enteropatia autoimune cau- sada por uma sensibilidade permanente ao glúten.13, 14 Em indivíduos suscetíveis, a ingestão de glúten desencadeia reações imunológicas tóxicas, que resulta em danos à su- perfície da mucosa do intestino delgado, 15 interferindo na absorção de nutrientes. 5 Com melhores ferramentas de diagnóstico para de- tectar a doença celíaca, nos deparamos com um aumento da intolerância/ alergia ao glúten. 8 Após o diagnóstico, o por- tador da doença celíaca é orientado a uma dieta isenta de glúten por toda a vida. A dieta sem glúten exclui a ingestão de proteínas de reserva encontrada no trigo, centeio, cevada e de híbridos desses cereais, como triticale, possibilitando que a mucosa intestinal recupere suas características e fun- ções, restaurando as condições fi siológicas do paciente. A dieta deve ser mantida pelo resto da vida uma vez que o uso insistente do glúten pelos celíacos pode levar a linfomas e outros tipos de câncer. 1 O glúten é a principal proteína presente na farinha de trigo e exerce papel importante na funcionalidade das mes- mas na panifi cação, proporcionando a viscoelasticidade da massa, boas propriedades de exploração de gás e estrutura do miolo.9 Nos últimos anos, foram realizadas várias pes- quisas e desenvolvimentos mais signifi cativos em produtos livres de glúten, utilizando amidos, produtos de laticínios, gomas e hidrocoloides, probióticos e outras combinações como alternativas ao glúten, a fi m de melhorar a estrutura, paladar, aceitabilidade e vida de prateleira dos produtos. 18 A substituição do glúten é hoje uma das questões desafi adoras para a ciência e tecnologia de alimentos, e o desenvolvimento de alimentos alternativos com idênticas características de qualidade dos produtos que contenham glúten é um ponto crucial. 7 Além disso, o perfi l nutricional dos alimentos sem glúten também pode ser um desafi o, por exemplo, devido ao seu baixo teor de fi bra alimentar. Bis- coitos, massas, pizzas e bolos sem glúten, que podem ser incluídos nas dietas dos pacientes com doença celíaca, são muitas vezes baseadas em amidos puros, resultando em um paladar seco, arenoso e qualidade alimentar pobre. Nas pré- misturas para bolo utilizam-se farinhas fracas, permitindo a adição de outras farinhas, entre as quais se podem citar as amiláceas, incluindo as farinhas de arroz, mandioca, mi- lho e outras, que ajudam a balancear as formulações, origi- nando bolos com características diversifi cadas em relação ao padrão de qualidade, o que favorece a substituição da farinha de trigo e a incorporação de outras farinhas. Nes- te sentido, o presente trabalho objetivou desenvolver uma pré-mistura para bolo contendo em sua composição farinha de linhaça e farinha de arroz em substituição total à farinha de trigo. MATERIAL E MÉTODOS Formulações para os Bolos Para o desenvolvimento das diferentes formulações das pré-misturas de bolos foi considerada uma formulação básica contendo (g/100g): farinha de linhaça dourada 7,5; farinha de arroz 22,5; fécula de mandioca 15; goma xanta- 3434 RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Pré-mistura para bolo sem glúten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. na 0,3; açúcar 53,3; sal 0,5 e fermento químico 0,9. A partir desta formulação foi aplicado um planejamento composto central 22 onde foram alteradas as concentrações de farinha de linhaça (X1) entre 4,68 a 10,32g/100g e farinha de arroz (X2) entre 19,68 a 25,32g/100g com a fi nalidade de obser- var as possíveis interações entre estes dois ingredientes. Preparo das Pré-Misturas Os ingredientes foram pesados e transferidos para um recipiente de aço inoxidável. Após homogeneização por 2 minutos, as pré-misturas foram acondicionadas em sacos plásticos com fecho zip de polietileno de baixa densi- dade, devidamente identifi cadas. Preparação dos Bolos À temperatura ambiente, 3 claras foram batidas em neve em batedeira planetária por 5 minutos em velocidade alta. Posteriormente, foram incorporados 400g da pré-mis- tura, 130mL de leite e 3 gemas, os quais foram homogenei- zados em batedeira por 2 minutos em velocidade média. A massa foi acondicionada em uma forma de alumínio, pre- viamente untada com margarina, transferida para o forno pré-aquecido por 15 minutos a 180°C e assada durante 40 minutos. O forno foi desligado e o bolo retirado após 10 minutos. Análises Físico-Químicas Todas as análises físico-químicas foram realizadas em triplicata. A determinação de umidade foi realizada pelo método de secagem em estufa, segundo o Instituto Adolfo Lutz. 16 Para a determinação do volume específi co foram cortados e pesados 12 pedaços cilíndricos de 3cm de di- âmetro de cada bolo formulado. Em equipamento (vondel MVP 1300) dotado de recipiente de volume conhecido e contendo sementes de painço, foi determinado o volume ocupado pelo pedaço de bolo neste recipiente, através do deslocamento das sementes para uma proveta graduada. O volume do pedaço de bolo foi lido em cm3. O volume espe- cífi co médio, expresso em cm3/g, foi obtido pela razão entre o volume e o peso de cada um dos 12 pedaços de bolo. 17 A determinação da cor dos bolos foi realizada em colorímetro Minolta (Modelo CR300s). Os resultados são apresentados em três valores (L, a, b). Análise Sensorial Através do Teste de Perfi l de Características foram avaliados os atributos aparência, cor, sabor e textura. A acei- tabilidade foi determinada utilizando-se escala hedônica de 9 pontos e calculada a partir da Equação 1. Participaram do teste 42 provadores não treinados que receberam as três amostras simultaneamente, codifi cadas com três dígitos e em ordem aleatória. 29 B A IA 100× = Equação 1 Onde: A: nota média obtida para o produto B: nota máxima obtida para o produto Delineamento Experimental e Análise Estatística Para a análise dos resultados experimentais, foi uti- lizada a Metodologia de Superfície de Resposta. As médias foram comparadas pelo teste de amplitude múltipla (ANO- VA), a 5% de signifi cância. RESULTADOS E DISCUSSÃO A defi nição de bolo varia,mas, essencialmente, o termo se refere a produtos que são caracterizados por for- mulações à base de farinha de trigo, açúcar, ovos inteiros, e outros líquidos, na qual gordura ou óleo podem ser adicio- nados. Não há formação signifi cativa da rede de glúten em massas de bolo e o principal componente de formação de estrutura de bolos é o amido, que está presente, em formu- lações tradicionais, na farinha de trigo. 3 No entanto, embo- ra a quantidade de proteína seja baixa, a sua qualidade deve ser alta o sufi ciente para garantir a formação de fi lmes para captura de gás em pequenas bolhas de ar. 24 A umidade exerce importante papel nos parâmetros de qualidade física do bolo, principalmente no parâmetro dureza, ou seja, quanto menor a umidade, maior é a dure- za do bolo. 29 Não foram observadas diferenças signifi ca- tivas nos teores de umidade, os quais variaram de 24,92 a 28,08, a qual se deve à variação dos teores de farinha de linhaça e farinha de arroz utilizados para elaboração dos bolos (Tabela 1). O volume específi co apresentou diferenças signi- fi cativas entre as formulações (Tabela 1). O volume dos bolos é consequência da ação mecânica (batedeira) sofrida pela massa e dá uma ideia da porosidade do produto. A in- corporação de ar na massa, durante o batimento, constitui um aspecto fundamental para a obtenção de bolos de boa qualidade, com bom volume e estrutura de miolo homogê- nea. Na elaboração de todos os bolos a ação mecânica e o tempo de cocção foram variáveis fi xas, o que indica que o volume foi afetado pelos ingredientes utilizados, ou seja, durante a ação mecânica as formulações com maior quanti- dade de farinha com granulometria maior (farinha de linha- ça) aprisionaram menor quantidade de ar (maior densidade) e resultaram em bolos com menores volumes. 12 A adição de goma xantana favoreceu o desenvolvi- mento e a manutenção dos bolos. Ao mesmo tempo em que se posicionam na interface entre a gordura e a fase aquo- sa, os emulsifi cantes também reduzem a tensão superfi cial entre a fase aquosa e o ar, permitindo maior e mais rápida incorporação de ar na massa. De acordo com Sahi & Alava, 26 a goma xantana contribui para aeração, diminuindo a ten- são superfi cial entre o líquido e a fase gás, e ainda segun- 3535 RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Pré-mistura para bolo sem glúten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. do Turabi et al.30 reduz a quantidade de energia necessária para gerar uma maior área interfacial e o peso específi co dos bolos, o que é desejável, uma vez que indica que mais ar foi incorporado na massa, contribuindo para o volume fi nal. A incorporação de ar na massa, durante o batimento, constitui um aspecto fundamental para a obtenção de bolos de boa qualidade, com bom volume e estrutura de miolo homogênea. Na Tabela 2 são apresentados os resultados da aná- lise de cor dos bolos prontos. Os resultados indicam que a incorporação da farinha de linhaça afetou a luminosidade (L*), provocando o escurecimento dos miolos. Através dos valores determinados para cromaticidade (b*), pode-se su- gerir que a farinha de linhaça torna os miolos amarelados. Este resultado era esperado, em decorrência da coloração característica da farinha de linhaça (levemente amarela). Os resultados observados estão em conformidade com estudos desenvolvidos por Lee et al., 20 que constataram que quanto mais farinha de linhaça e farelo de aveia foram incorpora- dos aos bolos, mais amarelados tornaram-se os miolos. A cor da crosta do bolo é afetada principalmen- te pela reação de Maillard, a qual envolve a interação de açúcares redutores com proteínas, produzindo tonalida- des marrom-avermelhadas e caramelização dos açúcares, 4 sendo que estas reações são aceleradas pela presença de açúcares, ovos e calor (variáveis fi xas). 11 Como a presença de farinha de linhaça e farinha de arroz não modifi ca signi- Tabela 1 – Resultados obtidos nas análises de umidade e volume específi co dos bolos prontos. Formulações FL (g/100g) FA (g/100g) Umidade (g/100g) Volume (cm³/g) F1 5,5 20,5 28,08±0,01ª 2,05±0,00b F2 9,5 20,5 25,36±0,01ª 1,89±0,00e F3 5,5 24,5 25,84±0,14ª 1,96±0,00c F4 9,5 24,5 24,92±0,71ª 1,73±0,00f F5 4,68 22,5 27,70±0,42ª 2,05±0,00b F6 10,32 22,5 25,36±0,11ª 1,54±0,00g F7 7,5 19,68 26,46±0,01ª 1,96±0,00c F8 7,5 25,32 25,35±0,10ª 1,92±0,00d F9 7,5 22,5 27,42±2,03ª 2,08±0,00a F10 7,5 22,5 26,93±1,32ª 2,09±0,00a F11 7,5 22,5 27,03±0,75ª 2,11±0,00a F12 7,5 22,5 27,59±0,08ª 2,09±0,00a Os valores correspondem à média de triplicatas. Valores seguidos de letras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente a 5% de probabilidade (p<0,05). FL-farinha de linhaça; FA-farinha de arroz. Tabela 2 – Resultados obtidos nas análises de cor do miolo dos bolos prontos. Formulações Miolo L a B F1 72,78±0,77 1,50±0,00 27,02±0,03 F2 70,03±0,04 1,23±0,01 29,07±0,08 F3 72,10±0,04 1,55±0,01 26,92±0,01 F4 70,45±0,02 1,03±0,01 29,15±0,01 F5 74,07±0,04 1,59±0,00 26,63±0,02 F6 69,95±0,04 1,15±0,02 30,47±0,02 F7 70,81±0,01 1,16±0,01 29,05±0,01 F8 70,88±0,00 1,06±0,00 27,86±0,01 F9 71,36±0,00 1,43±0,02 27,81±0,03 F10 71,25±0,00 1,45±0,00 27,68±0,06 F11 71,89±0,00 1,43±0,02 27,48±0,62 F12 71,45±0,01 1,44±0,03 27,94±0,00 Os valores correspondem à média de triplicatas. Valores seguidos de le- tras iguais, na coluna, não diferem estatisticamente a 5% de probabilidade (p<0,05). 3636 RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Pré-mistura para bolo sem glúten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. fi cativamente a quantidade de açúcares e aminoácidos, não foram realizados testes para verifi car a cor da crosta. A qualidade dos bolos é determinada pelas caracte- rísticas sensoriais, como textura e sabor, além de superfície uniforme, homogeneidade do miolo e volume adequado que refl etem a aparência dos produtos e, segundo Gallagher, 8 poucos estudos têm sido relatados sobre a substituição da farinha de trigo e a aceitabilidade de bolos. Na Figura 1 são apresentados os resultados obtidos no Teste de Perfi l de Características para os atributos sen- soriais textura (A), cor (B), odor (C) e sabor (D) dos bolos prontos. Constata-se que a concentração da farinha de arroz não afetou a textura dos bolos, já um aumento na concen- tração de farinha de linhaça apresentou um efeito negativo sobre a textura, provavelmente por conferir resíduo granu- lado. Os resultados refl etem que o bolo apresentou caracte- rística de produto integral, uma vez que a ausência de glúten tornou o produto com consistência mais fi rme, além da pre- sença da farinha de linhaça, que contem em sua composição 27,3g/100g de fi bras alimentares, contribuído para aumentar a fi rmeza dos bolos. Em relação ao atributo cor, observa-se que valores extremos de farinha de linhaça apresentaram uma interação negativa com a farinha de arroz, resultando em notas mais baixas. Observou-se que as maiores notas foram para as formulações, com concentrações intermediárias de farinha de linhaça e farinha de arroz. A cor é um dos fatores mais importantes na decisão de compra do consumidor, já que o aspecto visual fornece informações sobre as característi- cas de um alimento, antecipando-se à recepção de todos os outros estímulos sensoriais e infl uenciando na preferência sensorial. 6 Para o atributo sabor, observa-se que as meno- res concentrações de farinha de linhaça e farinha de arroz apresentaram as maiores notas, corroborando com estudos desenvolvidos por Oliveira et al., 23 os quais constataram que a adição de farinha de linhaça ao pão na proporção até 10% mostrou ser viável tecnicamente. Como pode ser constatado na fi gura 1D, a aparência dos bolos apresentou um perfi l de aceitação semelhante aoatributo cor (Figura 1B), onde as maiores notas foram atri- buídas para as formulações com concentrações intermedi- árias de farinha de linhaça (7 e 8g/100g), independente da concentração de farinha de arroz, confi rmando a importân- cia da cor da decisão do consumidor por um produto. Através da aplicação de um planejamento central 2² foi possível observar que, de maneira geral, grandes quan- > 4 < 4 < 3,8 < 3,6 < 3,4 4,68 5,50 7,50 9,50 10,32 Farinha de linhaça (g/100g) 19,68 20,50 22,50 24,50 25,32 Fa ri n h a d e a rr oz ( g/ 1 0 0 g) A < 3,3 < 3,1 < 2,9 < 2,7 4,68 5,50 7,50 9,50 10,32 Farinha de linhaça (g/100g) 19,68 20,50 22,50 24,50 25,32 F ar in h a d e a rr o z (g /1 0 0 g) B > 4,2 < 4,2 < 4 < 3,8 < 3,6 < 3,4 < 3,2 < 3 < 2,8 4,68 5,50 7,50 9,50 10,32 Farinha de linhaça (g/100g) 19,68 20,50 22,50 24,50 25,32 Fa ri n h a d e a rr o z (g / 1 0 0 g ) D > 4,6 < 4,6 < 4,2 < 3,8 < 3,4 < 3 4,68 5,50 7,50 9,50 10,32 Farinha de linhaça (g/100g) 19,68 20,50 22,50 24,50 25,32 Fa ri n h a de a rr oz ( g/ 1 0 0 g) C FIGURA 1 – Curvas de contorno para dos atributos textura (A), cor (B), sabor (C) e aparência (D) dos bolos elaborados com a pré-mistura sem glúten. 3737 RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Pré-mistura para bolo sem glúten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. tidades de farinha de linhaça apresentaram uma interação negativa nas formulações avaliadas, no entanto, não foram observadas diferenças estatísticas signifi cativas entre as formulações de bolo para a aceitação geral, como pode ser observado pela Tabela 3. As notas atribuídas aos bolos in- dicam a aceitação dos mesmos pelos provadores. Além dis- so, a pontuação poderia ser aumentada se os consumidores fossem informados 2 sobre a ausência de farinha de trigo e a presença de fi bra na composição. A alta aceitação observada neste trabalho pode estar relacionada à tendência atual dos consumidores por produ- tos integrais, e segundo Galvão et al., 10 produtos elabora- dos com farinhas integrais, linhaça, aveia, entre outros, têm sido largamente utilizados na fabricação de produtos de panifi cação e o aumento de sua aceitabilidade tem demons- trado a preocupação dos consumidores com sua saúde. CONCLUSÃO Pode-se concluir que menores concentrações de fa- rinha de linhaça contribuíram para uma interação negativa nos atributos aparência e cor, contudo a adição de farinha de linhaça e farinha de arroz nas proporções testadas nas formulações não afetou a aceitação dos bolos, que apresen- taram um índice mínimo de aceitabilidade (70%) e entre es- sas, não se observou diferença signifi cativa, representando uma ótima alternativa de consumo para pessoas portadoras da doença celíacas ou para os adeptos de uma dieta isenta de glúten. RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Preparation pré mix to cake free-gluten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. ABSTRACT: For those with celiac disease, the ingestion of products containing gluten damages the mucosal surface of the intestine, making diffi cult the absorption of nutrients by the body. Celiac disease has been common goal of studies in search of food alternatives. In this context, this study aimed to develop pre-mixes for gluten-free cake. We studied two independent variables - fl ax fl our and rice fl our to replace wheat fl our. The quality of the cakes was evaluated by physicochemical analysis (moisture, volume and color). Through the application of a centrally planned 2² it was observed that large amounts of fl axseed meal had a negative interaction. Cakes made with the addition of fl axseed fl our and rice fl our in the proportions tested resulted in acceptance among the panelists, and represents an alternative for people with celiac disease consumption or for the adherents of a gluten-free diet. KEYWORDS: Celiac disease; experimental design; fl ax fl our; rice fl our. REFERÊNCIAS ARENDT, E. K. et al. Gluten-free breads. In: ARENDT, 1. E.K.; DAL BELLO, F. (Ed.) Gluten-free cereal products and beverages. Burlington: Academic/ Elsevier Science, 2008. chap. 13, p 289-319. BAIXAULI, R.; SALVADOR, A.; HOUGH, G.; 2. FISZMAN, S. M. 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Amostras FL (g/100g) FA (g/100g) Aceitação global Índice de aceitação (%) F1 5,5 20,5 7,63±0,96ª 77 F2 9,5 20,5 7,31±1,35ª 74 F3 5,5 24,5 7,00±1,26ª 75 F4 9,5 24,5 7,38±1,15ª 76 F5 4,68 22,5 7,25±1,06ª 76 F6 10,32 22,5 7,50±1,21ª 78 F7 7,5 19,68 7,44±1,21ª 73 F8 7,5 25,32 7,00±0,97ª 77 F9 7,5 22,5 7,56±0,96ª 80 F10 7,5 22,5 7,55±1,12ª 78 F11 7,5 22,5 7,52±0,91ª 78 F12 7,5 22,5 7,50±1,10ª 78 *Os valores correspondem à média de 42 repetições. Valores seguidos de letras iguais não diferem estatisticamente em nível de 5% (p<0,05). FL-farinha de linhaça; FA- farinha de arroz. 3838 RAMOS, N. C.; PIEMOLINI-BARRETO, L. T.; SANDRI, I. G. Pré-mistura para bolo sem glúten. Alim. Nutr., Araraquara, v. 23, n. 1, p. 33-38, jan./mar. 2012. DOGANCI, T.; BOZKURT, S. Celiac disease with 5. various presentations. Pediatr. Int., v. 46, n. 6, p. 693-696, 2004. DUTCOSKY, S. D. 6. 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