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HISTÓRIA DO BRASIL COLÔNIA Livro

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História do Brasil 
Colônia
História do Brasil 
Colônia
Organizado por Universidade Luterana do Brasil
Universidade Luterana do Brasil – ULBRA
Canoas, RS
2015
Maria Angélica Zubaran
Juliane Maria Puhl Gomes
Arilson dos Santos Gomes
Conselho Editorial EAD
Andréa de Azevedo Eick
Astomiro Romais,
Claudiane Ramos Furtado
Dóris Cristina Gedrat
Kauana Rodrigues Amaral
Luiz Carlos Specht Filho
Mara Lúcia Salazar Machado
Maria Cleidia Klein Oliveira
Thomas Heimann
Obra organizada pela Universidade Luterana do Brasil. 
Informamos que é de inteira responsabilidade dos autores 
a emissão de conceitos.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida 
por qualquer meio ou forma sem prévia autorização da 
ULBRA.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei 
nº 9.610/98 e punido pelo Artigo 184 do Código Penal.
ISBN: 978-85-5639-206-0
Dados técnicos do livro
Diagramação: Jonatan Souza
Revisão: Marcela Machado
Este livro apresenta a História do Brasil Colônia tendo como recorte o período que se estende da expansão comercial portuguesa (século XV), 
da conquista e da colonização do Brasil, até o processo de independência 
no início do século XIX.
Os dez capítulos deste livro apresentam um conjunto de informações 
que permite entendermos algumas das questões que elaboram a identi-
dade histórica do nosso país. No primeiro capítulo será apresentado o 
contexto histórico que levou à expansão marítima portuguesa, viabilizando 
a chegada dos portugueses ao Brasil em 1500. No entanto, estas novas 
terras que estavam fora do conhecimento europeu não estavam vazias, 
desta forma no capítulo dois se coloca a discussão sobre a ocupação do 
território anterior a presença portuguesa no Brasil. Será apresentada a His-
tória Pré-Colonial que se torna enriquecida através de estudos de casos 
regionais. Os regionalismos, superdimensionados pela extensão das novas 
terras, canaliza a abordagem sobre o contato entre povos e culturas com 
diferenças significantes, produzindo como resultado uma diversidade ímpar 
em termos de conhecimento histórico.
No terceiro capítulo será apresentado o processo de conquista, colo-
nização e estabelecimento das estruturas coloniais portuguesas, que inseri-
ram o Brasil no cenário da História Geral, conhecida pelas suas caracterís-
ticas eurocêntricas. A empreitada colonial portuguesa no Novo Mundo não 
foi um esforço solitário, pois contou com a parceria da Igreja Católica, o 
que significava uma sociedade invejável. O quarto capítulo irá abordar as 
religiosidades no Brasil colônia, ou seja, como a diversidade de nossa for-
mação construiu características religiosas que se manifestaram na herança 
de um país plural e complexo religiosamente.
Apresentação
Apresentação v
O quinto e o sexto capítulos abordam o trabalho compulsório e a es-
cravização no Brasil colonial. Será apresentado o processo de implantação 
das estruturas produtivas, os problemas com a mão de obra local (indí-
genas) e a necessidade de trazer africanos escravizados para dar suporte 
à base econômica e social brasileira. O conhecimento habitual sobre o 
período colonial coloca a organização das formas de trabalho compulsório 
como uma ação de imposição dos senhores e de aceitação calada dos 
escravizados, porém tal escravização não ocorreu sem resistência, tanto 
por parte dos índios quanto dos negros, o que deixou marcas históricas 
profundas em nossa História.
No capítulo sete, o centro da análise será a organização do sistema 
e o cotidiano da vida colonial, no aspecto da constituição dos fundamen-
tos que alicerçam a sociedade brasileira. No processo de formação inicial 
deste senso do ser vinculado a um Estado ou a um tipo de administração, 
serão abordadas as invasões estrangeiras nas terras “portuguesas”, no sen-
tido da construção de alianças e negociações mediadas pelo quadro de 
diversidade da colônia. O oitavo capítulo discute sobre o achamento do 
ouro nas Minas Gerais, sobre a expansão das fronteiras coloniais, assim 
como a reestruturação econômica e social que a movimentação em torno 
da mineração pode produzir na formação de um novo contexto político, 
social e econômico.
Os capítulos 9 e 10 abordam a influência das ideias iluministas no 
Brasil e as articulações políticas com o intuito de atacar a manutenção 
do sistema colonial no Brasil, o conjunto de ações contestatórias que se 
espalhou no país neste período foi denominado de revoltas coloniais. O 
ambiente político que se implantou no país, questionando os princípios da 
organização colonial, levou ao surgimento de novas possibilidades para os 
rumos da presença impositiva dos portugueses no Brasil; somado a isso, 
um quadro de perda de soberania em território português provocado pela 
expansão napoleônica e a hegemonia inglesa na Europa fez com que a 
vinda da família real ao Brasil passasse a ser uma realidade em 1808. 
O contexto de presença da casa real portuguesa no Brasil precipitou a 
reestruturação dos poderes, a urbanização, o crescimento de atividades 
vi Apresentação
econômicas alternativas à economia de exportação. Tais características, 
em conjunto, serão fundamentais para o entendimento da crise do sistema 
colonial e consequentemente do processo de independência do Brasil.
Esperamos que ao findar a leitura deste livro, construído por várias 
mãos, você seja capaz de reconhecer a importância da História do Brasil 
Colonial para entendermos, um pouco mais, quem somos nós como país 
e como povo diverso. Também, incrementar o volume de informações que 
possa atuar na autonomia do conhecimento que todo professor de História 
deve ter sobre o conjunto de dados que perfaz as características do que 
chamamos de conteúdo a ser trabalhado no exercício da docência. Estudar 
sobre a História do Brasil Colonial é um começo para elaborarmos uma 
ideia sobre a análise histórica do nosso país. Então, seja bem vindo ao 
começo da História do Brasil!
Seja bem-vindo ao início da História de nosso país!
 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta” 
do Brasil ...............................................................................1
 2 Os Indígenas na Colônia ....................................................20
 3 A Colonização da América Portuguesa ................................47
 4 Religiosidades na Colônia ...................................................66
 5 O Trabalho na Colônia: Escravização de Índios e Negros ....84
 6 Tráfico Transatlântico e Resistências Escravas .....................108
 7 Engenhos, Casa-Grande e Senzala, União Ibérica, 
Invasões Holandesas e Restauração Pernambucana ..........134
 8 O Ouro e as Minas Gerais ................................................152
 9 As Revoltas Coloniais ........................................................173
 10 A Crise do Sistema Colonial: Quadro Internacional 
e Nacional (Inconfidência Mineira e Inconfidência Baiana) ..197
Sumário
A Expansão Marítima 
Portuguesa e a 
“Descoberta” do Brasil1
A Expansão Marítima 
Portuguesa e a 
“Descoberta”...
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da Universidade Luterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 1
2 História do Brasil Colônia
Introdução
O “descobrimento” ou “achamento” das terras que seriam cha-
madas Brasil em princípios do século XV se insere no contexto 
histórico das mudanças ocorridas na Europa Ocidental durante 
o final da idade média e início da idade moderna e se constitui 
em uma etapa da Expansão Marítima de Portugal. Neste capí-
tulo, estudaremos a expansão marítima portuguesa no Ocenao 
Atlântico, os fatores que determinaram o pioneirismo português 
nas grandes navegações, a expedição de Pedro Álvares Cabral 
em 1500 e os primeiros registros sobrea nova terra.
1 Antecedentes
Até o final da Idade Média, o mundo conhecido se limitava 
a três continentes: a Europa, a Ásia e a África e dois mares 
navegáveis, o Índico e o Mediterrâneo. O comércio entre a 
Europa e a Ásia era realizado através do Mar Mediterrâneo e 
da cidade de Constantinopla e era monopólio de comercian-
tes italianos (venezianos e genoveses) e de árabes.
Entre as cidades da Europa mediterrânea que participaram 
desse comércio destacam-se as cidade italianas de Gênova e 
Veneza, que mantinham comércio com as cidades de Ceuta e 
Tânger, no norte da África, onde se verificava a afluência de 
ouro, proveniente da região subsaariana. O ouro era trazido 
até as cidades ao norte da África pelas caravanas de árabes e 
servia de elemento de troca entre árabes e cristãos. Destacam-
-se também no comércio mediterrâneo os aragoneses, senho-
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 3
res de uma poderosa rede de comércio ligando Barcelona, Va-
lência e Palma de Mallorca com a Itália, a Sicilia, a Sardenha 
e o Marrocos.
Por fim, Portugal se lançou ao mar no início do século XV, 
cem anos antes de Colombo, a serviço da Espanha, ter che-
gado à América. No entanto, porque um país pequeno como 
Portugal foi o pioneiro na expansão marítima?
2 O pioneirismo português
Fatores geográficos e históricos explicam o pioneirismo de Por-
tugal na expansão ultramarina:
 Â A privilegiada posição geográfica, próximo ao Atlântico, 
às ilhas atlânticas e à costa da África. Além disso, os 
portugueses já tinham experiência no comércio mediter-
râneo acumulado ao longo dos séculos XIII e XIV, embo-
ra não se comparassem aos venezianos e genoveses, a 
quem iriam ultrapassar.
 Â O fato de Portugal ter sido o pioneiro da unificação na-
cional com a Revolução de Avis. Durante todo o século 
XV, Portugal foi um reino unificado, contrastando com a 
França, a Inglaterra, a Espanha e a Itália, envolvidas em 
guerras dinásticas.
O último rei da dinastia de Borgonha, D. Fernando I, mor-
reu sem deixar herdeiro masculino legítimo (1383) para o rei-
no de Portugal. Sua filha D. Beatriz, casada com D. João I, 
4 História do Brasil Colônia
rei de Castela, ameaçou levar Portugal a uma união dinástica 
com o reino de Castela. O problema da sucessão dinástica 
confundiu-se com uma guerra de independência, quando o 
rei de Castela, apoiado pela nobreza lusa, entrou em Portugal 
para assumir a regência do trono.
Dom João, conhecido como o Mestre de Avis, meio-irmão 
do falecido rei Fernando I, apoiado pela burguesia lusa dis-
putou a autonomia de Portugal face à Castela. A vitória de D. 
João I inaugurou a Dinastia de Avis (1385-1580), reforçou o 
poder monárquico, e deu início ao projeto nacional de expan-
são marítima e comercial portuguesa. O objetivo era assegu-
rar o fornecimento permanente de mercadorias do Oriente, e 
ouro para a península Ibérica.
O ouro era utilizado como moeda, como meio de paga-
mento e empregado pelos aristocratas na decoração de tem-
plos, palácios e nas roupas. As especiarias eram produtos ra-
ros e caros e incluíam condimentos, remédios e perfumaria. 
Entre esses condimentos destacam-se: a noz-moscada, o gen-
gibre, a canela, o cravo e, sobretudo, a pimenta. O alto valor 
das especiarias se deve as limitadas técnicas de conservação 
existentes na Europa no século XV.
Outro fator que contribuiu para o pioneirismo de Portugal 
foi o incentivo que o Infante D. Henrique (1394-1460), apeli-
dado de “o navegador”, proporcionou à arte de navegar. Os 
portugueses aprimoraram a bússola e o astrolábio e inven-
taram a caravela, uma embarcação pequena, que permitia 
aproximar-se bastante da terra firme sem o perigo de encalhar. 
Dom Henrique reuniu na cidade de Sagres vários navegantes, 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 5
cartógrafos, marinheiros e cosmógrafos dispostos a desenvol-
ver conhecimentos marítimos para contornar o continente afri-
cano e chegar às Índias.
3 A expansão marítima portuguesa na 
costa da África:
Os portugueses se lançaram à conquista do Mar Oceano no 
alvorecer do século XV na busca de uma nova rota comercial 
que ligasse diretamente a burguesia mercantil portuguesa ao 
Oriente, de um novo caminho marítimo para às Índias, que 
evitasse o monopólio das cidades italianas.
Conforme afirmam Mary Del Priore e Renato Pinto Venâncio 
(2001), as caravelas, apesar de pequenas, eram tidas como 
os melhores veleiros para se navegar em alto-mar no século 
XV. No entanto, o cotidiano das viagens ultramarinas não era 
nada bom, a precariedade da higiene a bordo e o espaço 
restrito para os passageiros faziam proliferar toda sorte de pa-
rasitas como piolhos, pulgas e percevejos. Além de escassos, 
os alimentos embarcados eram mal conservados e a fome 
crônica colaborava para a morte de uma parcela importante 
dos marinheiros, composta de marujos acostumados à vida 
portuária, mas também de “vadios e desobrigados” recrutados 
pelas ruas das cidades.
Mapa das Navegações Portuguesa e Espanhola (século XV)
6 História do Brasil Colônia
Fonte: www.geocites.ws
O ponto de partida da expansão marítima portuguesa na 
primeira metade do século XV foi a cidade de Ceuta (1415), 
situada no norte da África, que pertenciam aos mouros, ponto 
de chegada das caravanas que atravessavam o deserto do Sa-
ara transportando ouro e marfim. No entanto, a conquista de 
Ceuta não representou a construção de uma rede comercial 
na África, pois os mouros desviaram suas rotas da cidade. Por-
tugal então se voltou para a costa ocidental da África e para 
as Ilhas Atlânticas, conquistando Madeira, Açores, Cabo Verde 
e São Tomé. Os portugueses foram estabelecendo várias feito-
rias na costa da África, entre elas a feitoria de Arguim (1449) e 
a feitoria de do Castelo de São Jorge da Mina (1482).
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 7
O reconhecimento da costa ocidental da África foi lento. 
Passaram-se 53 anos da ultrapassagem do Cabo Bojador, 
por Gil Eanes (1434), até a temida passagem do Cabo das 
Tormentas, por Bartolomeu Dias (1487), depois rebatizado de 
Cabo da Boa Esperança.
 Â Em 1453: os turcos tomaram Constantinopla, impe-
dindo o comércio direto dos Europeus com o Oriente. 
Tornava-se necessário encontrar um novo caminho ma-
rítimo para o Oriente.
 Â Em 1487: Bartolomeu Dias contornou o Cabo da Boa 
Esperança, último limite ao sul da África, onde as águas 
do Atlântico e do Índico se encontram. Estava aberto o 
caminho marítimo entre a Europa e Ásia.
 Â Em 1492: o genovês Cristovão Colombo, a serviço da 
Espanha, atravessou o Atlântico. Sua missão era fazer a 
volta ao mundo pelo oeste e chegar à Ásia, já que a rota 
que contornava a África pelo sul era dominada pelos 
portugueses. Em vez disso Colombo chegou às ilhas do 
Caribe, mas acreditou ter chegado ao leste asiático.
Pressionado pela Espanha, o Papa Alexandre VI, que era 
Espanhol, emitiu a Bula Inter Coetera, em 1493, dividindo o 
mundo ultramarino entre Portugal e Espanha. Por meio dessa 
bula traçava-se uma linha imaginária 100 léguas a oeste da 
ilha de Cabo Verde: as terras a leste dessa linha seriam portu-
guesas; as terras a oeste seriam espanholas. Portugal protes-
tou contra o privilégio concedido à Espanha e ameaçou entrar 
em guerra contra a Espanha.
8 História do Brasil Colônia
Em 1494, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tor-
desilhas, um dos mais famosos tratados da História, amplian-
do para 370 léguas os limites estabelecidos, a partir de um 
meridiano imaginário dividindo o Atlântico em duas zonas: as 
ilhas e terras firmes do hemisfério oriental caberiam a Portugal 
e aquelas do hemisfério ocidental caberiam à Espanha.
MAPA MUNDI COM O TRAÇADO DO TRATADO DE TORDE-
SILHAS
Fonte: historiabatecabeça.wordpress.comO rei francês, Francisco I, não aceitou o Tratado de Tor-
desilhas. Ele mostrou o seu descontentamento com a seguin-
te frase: “Gostaria que espanhóis e portugueses mostrassem 
onde está o testamento de Adão, que dividiu o mundo entre 
Portugal e Espanha”.
Em 1498, Vasco da Gama chegava à cidade de Calicute, 
à sonhada Índia das especiarias. Goa foi o centro mais impor-
tante de presença portuguesa na Índia.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 9
Em março de 1500, Dom Manuel enviou uma nova frota 
para o Oriente, composta de 13 navios (10 naus e 3 cara-
velas), que saíram do rio Tejo, em Lisboa, em 9 de março de 
1500, com o objetivo de assegurar para a Coroa portuguesa 
o domínio sobre a rota marítima para as Índias, descoberta um 
ano antes por Vasco da Gama.
A frota comandada por Cabral era composta por 13 em-
barcações e o número de tripulantes variava entre mil e du-
zentos e mil e quinhentos. Pedro Álvares Cabral era um fidalgo 
de pouco mais de 30 anos, pertencente a nobreza, mais um 
homem de armas do que um navegador. Apesar de festejado 
na corte manuelina, jamais recebeu outro comando e morreu 
no ostracismo.
4 A expedição de Cabral: descobrimento 
ou “achamento”?
Em 21 de abril de 1500 a frota de Cabral após passar Cabo 
Verde tomou rumo ao oeste, afastando-se da costa africana 
até avistar o que seriam os primeiros sinais de terra. Em 22 de 
abril os marinheiros notaram a presença de aves e avistaram 
primeiramente, um monte alto e logo em seguida, a terra pla-
na com grandes arvoredos. Ao monte alto deram o nome de 
Monte Pascoal, e a terra, Terra de Vera Cruz. Em 13 de setem-
bro de 1500 a frota chegou a Calicute. O objetivo tinha sido 
alcançado: haviam chegado à Índia e tinham “descoberto” 
uma nova terra, o Brasil.
10 História do Brasil Colônia
Portanto, no ano de 1500 a armada de Pedro Álvares Ca-
bral avistou o litoral da terra que seria chamada Brasil. Desco-
brimento ou achamento?
Essa dúvida intrigou os historiadores por muito tempo: teria 
sido o Brasil encontrado pelos portugueses por acaso ou inten-
cionalmente? Em primeiro lugar, a terra tocada pela esquadra 
de Cabral não estava deserta, abandonada ou sem dono: lá 
viviam entre três a cinco milhões de índios que já ocupavam a 
terra há mais ou menos 2500 anos. Em segundo lugar, os por-
tugueses já presumiam a existência das terras alcançadas em 
1500. Por último, outros europeus relataram terem chegado a 
essas terras antes de Cabral. Portanto, tudo leva a crer que o 
Brasil foi antes achado do que descoberto.
A historiografia luso-brasileira deve a revisão da temática 
do descobrimento do Brasil a Joaquim Barradas de Carvalho, 
que publicou importante obra sobre o navegador e diplomata 
Duarte Pacheco Pereira, autor do livro Esmeralda de Situ Or-
bis. Segundo esse autor, Duarte Pacheco Pereira, já no ano de 
1498, teria sido o verdadeiro “descobridor” das novas terras 
do Novo Mundo ao sul do Equador, mas é impossível saber 
com precisão.
O reinado de Dom Manuel (1498-1521), marcou o apo-
geu das navegações portuguesas, com o controle das rotas do 
ouro e da malegueta africana, das especiarias indianas e do 
pau tintorial do Brasil, que formaram um vasto império ultra-
marino lusitano.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 11
4.1 Os concorrentes de Cabral
O maior concorrente de Cabral ao título de descobridor foi o 
também português e navegador Duarte Pacheco Pereira. Em 
1498 o rei D. Manuel encarregou esse marinheiro de uma mis-
são ultraconfidencial: descobrir se as terras encontradas por 
Colombo do outro lado do Atlântico faziam mesmo parte da 
Ásia. Duarte Pacheco Pereira redigiu entre 1505-1508 o Esme-
raldo de Situ Orbis onde relatou ter avistado uma multidão de 
“gente parda, mas quase branca”. A descrição bate com os in-
dígenas da tribo dos aruaques que têm a pele mais clara, ou-
tro detalhe, os aruaques povoavam o litoral do maranhão, por 
onde passava o traço invisível de Tordesilhas. Assim, mesmo 
antes de 1500, já se tem na corte portuguesa a comprovação 
da existência de terras no hemisfério ocidental.
Outro aventureiro famoso que pode ter lançado âncoras 
em nossas praias antes de Cabral foi o geógrafo italiano, 
florentino, Américo Vespúcio, que entrou para a história ao 
desmentir as teorias de seu conterrâneo Colombo. Em 1504, 
Vespúcio publicou um texto chamado Novus Mundus, garan-
tindo que as terras no oeste do Atlântico não eram parte da 
Ásia, mas um continente completamente desconhecido - um 
novo mundo. Rival de Colombo, Américo Vespúcio, pode ter 
desembarcado no Brasil em 1499, pelo menos é o que dá a 
entender em uma de suas cartas. Em junho de 1499 diz ter 
avistado uma terra cheia de grandíssimos rios a 5 graus de 
longitude sul, ou seja, o litoral do Maranhão.
Outros viajantes, os espanhóis Diego de Lepe e Yánez Pin-
zón, têm evidências mais sólidas. Foram condecorados pelo 
rei da Espanha por terem “descoberto” o Brasil em janeiro de 
12 História do Brasil Colônia
1500, dois meses antes de Cabral. Em abril de 1500 o rei 
português teria simplesmente decidido tomar posse oficial das 
terras que muitos já sabiam existir. Todas essas hipóteses da-
tam a descoberta do Brasil em algum momento do século XV.
No entanto, para o oficial da marinha britânica e historia-
dor diletante Gavin Menzies, a costa do Brasil havia sido ma-
peada 80 anos antes, em 1421, pelo navegador chinês Zheng 
He, quando a China dominava os mares, teoria defendida no 
livro 1421: O Ano em que a China descobriu o Mundo, não 
muito popular entre historiadores profissionais.
Entretanto, foi a “descoberta” de Cabral que incorporou a 
nova terra ao mundo ocidental. Com Cabral, o mundo soube 
que existia terra na área portuguesa do Tratado de Tordesilhas. 
A notícia do “achamento” da Terra de Santa Cruz, nome dado 
por Cabral à nova posse do rei D. Manuel I, ganhou os prin-
cipais portos europeus. Ao longo do século XVI o nome Brasil 
começou a designar o litoral atlântico da América Portuguesa, 
relacionado à madeira de cor avermelhada, abundante na ter-
ra, chamada Pau-Brasil.
5 Primeiros registros da Nova Terra: a 
carta de Pero Vaz de Caminha e a 
primeira missa no Brasil
A Carta de “achamento” do Brasil foi redigida pelo escrivão 
da frota de Cabral, Pero Vaz de Caminha, dirigida ao rei de 
Portugal, Dom Manuel. Tratava-se de um relato em ordem 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 13
cronológica sobre os acontecimentos passados na nova terra, 
desde o dia 21 de abril de 1500 até o momento que os por-
tugueses deixaram a terra recém-descoberta rumo às Índias. 
Neste documento, assim Caminha descreveu os indígenas que 
encontrou na chegada:
A feição deles é parda, um tanto avermelhada, com bons 
narizes, bem-feitos. Andam nus, sem nenhuma cobertu-
ra. Não fazem o menor caso de encobrir ou de mostrar 
suas vergonhas, e nisso tem tanta inocência como em 
mostrar o rosto. Ambos traziam o lábio de baixo furado 
e metido nele seus ossos de verdade (...). Os seus cabe-
los são lisos e andavam tosquiados. De tosquia alta, e 
rapados até por cima da orelha (Carta de Pero Vaz de 
Caminha, 1999, p. 31).
O documento original está depositado no Instituto Arquivo 
Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, Portugal. A Carta de 
Caminha adquiriu o significado de ato fundador do país, de 
certidão de nascimento do Brasil.
O quadro, A Primeira Missa no Brasil, pintado por Victor 
Meirelles, em Paris, em 1859, procura recriar a cena da pri-
meira missa celebrada no Brasil pelo frei franciscano Henri-
que de Coimbra em Porto Seguro, no sul da Bahia, em 26 de 
abril de 1500. Vitor Meirelles usou como referência para a sua 
pintura, a Carta de Pero Vaz de Caminha. A cruz de madeira 
erguida naquela ocasião era um sinal de que a descobertanascia sob o poder da igreja católica.
14 História do Brasil Colônia
A pintura de Vitor Meirelles tornou-se um testemunho visual 
de um dos primeiros atos oficiais da Igreja Católica no Brasil, 
no cumprimento da sua missão no “Novo Mundo”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Recapitulando
Neste capítulo estudamos o contexto europeu da “descoberta” 
ou “achamento” do Brasil, a partir da expansão marítima por-
tuguesa no Oceano Atlântico. Analisamos os fatores do pio-
neirismo português nas grandes navegações e as conquistas 
portuguesas ao longo da costa da África até a descoberta de 
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 15
Vasco da Gama de um novo caminho marítimo para as Índias. 
Em seguida estudamos a expedição de Cabral e discutimos as 
controvérsias em torno da “descoberta” do Brasil. Por últimos 
vimos os primeiros registros da nova terra: a Carta de Cami-
nha e o quadro da Primeira Missa no Brasil.
Referências
ABREU, Capistrano de. Capítulos de História Colonial. Sal-
vador: P555 Edições, 2006.
BETHELL, Leslie (org.). História da América Latina. São Pau-
lo: Editora da Universidade de São Paulo; Fundação Ale-
xandre Gusmão, 1998.
DEL Priore, Mary e Renato Pinto Venâncio. O Livro de Ouro 
da História do Brasil. Rio de Janeiro: EDIOURO, 2001.
FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Editora da Uni-
versidade de São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da 
Educação, 1995.
LOPEZ, Adriana e Carlos Guilherme Motta. História do Brasil: Uma 
Interpretação. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2008.
LINHARES, Maria Yeda (org.). História Geral do Brasil. Rio de 
Janeiro: Campus, 1990.
MAESTRI, Mário. Uma História do Brasil: Colônia. São Pau-
lo: Contexto, 2002.
16 História do Brasil Colônia
SILVA, Maria Beatriz da. (org.). Brasil: Colonização e Escravi-
dão. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.
MELLO E SOUZA, Laura de. (org.). História da Vida Privada 
no Brasil: cotidiano e vida privada na América portuguesa. 
Vol. I. São Paulo: Cia das Letras, 1997.
STADEN, Hans. A Verdadeira História Dos Selvagens, Nus 
e Ferozes Devoradores De Homens, Encontrados No 
Novo Mundo, A América. Rio de Janeiro: Dantes Livraria 
Editora, 1999.
TUFANO, Douglas. A Carta de Pero Vaz de Caminha. São 
Paulo: Moderna, 1999.
Atividades
 1. Leia as alternativas a seguir sobre a expedição de Pedro 
Álvares Cabral.
I. A esquadra de Cabral reunia os esforços da Coroa, da 
burguesia mercantil e da igreja.
II. O objetivo da viagem de Cabral era chegar às Índias, 
o que só foi possível depois de um longo caminho rea-
lizado pela costa africana, durante o século XV.
III. A viagem expressou a subordinação da Coroa portu-
guesa à Igreja Católica na época dos descobrimentos.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 17
IV. Era um dos objetivos da viagem tomar posse de terras 
a oeste, de modo a assegurar o controle do Oceano 
Atlântico.
Indique a alternativa correta:
a) Somente I, II e III
b) Somente I, III e IV
c) Somente I, II e IV
d) Todas as afirmativas estão corretas.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 2. Foram razões importantes do pioneirismo português na ex-
pansão marítima do século XV, exceto:
a) A unificação política e a centralização do Estado Por-
tuguês, em relação aos demais países europeus.
b) A criação da Escola de Sagres, centro de estudos náuticos, 
que disseminou conhecimentos sobre a arte de navegar.
c) A deficiência na agricultura levou os portugueses a 
buscarem sua subsistência na pesca marítima.
d) A posição geográfica estratégica de frente para o 
Oceano Atlântico.
e) Nenhuma das alternativa acima.
 3. Em relação ao Tratado de Tordesilhas é correto afirmar que:
a) O Tratado foi assinado pelo Papa Alexandre VI.
18 História do Brasil Colônia
b) O Brasil já havia sido descoberto quando o Tratado foi 
assinado.
c) O Tratado definiu a divisão do Novo Mundo entre por-
tugueses e franceses.
d) O Tratado foi assinado no século XVI.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 4. Sobre o “descobrimento” do Brasil é correto afirmar que:
a) Foi um acontecimento casual, uma vez que os portu-
gueses não sabiam da existência de terras a oeste da 
costa africana.
b) Marca uma etapa da expansão ultramarina portugue-
sa realizada pela Coroa em aliança com a burguesia 
mercantil e a Igreja.
c) Marca o interesse de Portugal em chegar ao Brasil e 
iniciar imediatamente a sua colonização.
d) Foi uma etapa da conquista comercial portuguesa no 
mar Mediterrâneo.
e) Nenhuma das alternativas acima.
 5. Sobre a expansão marítima portuguesa no século XV é cor-
reto afirmar que:
a) Os portugueses se lançaram ao mar no século XV para 
tomar posse das terras descobertas no Brasil.
b) O ponto de partida da expansão marítima portuguesa 
foi a cidade de Ceuta, situada no norte da África.
Capítulo 1 A Expansão Marítima Portuguesa e a “Descoberta”... 19
c) Os portugueses estabeleceram feitorias ao longo da 
costa africana para colonizar a África.
d) Bartolomeu Dias e Vasco da Gama foram responsá-
veis, respectivamente, pela passagem do Cabo Boja-
dor e pela conquista de um novo caminho marítimo 
para às Índias.
e) Nenhuma das alternativas acima.
Gabarito
1(d); 2 (d); 3 (c); 4 (b); 5 (b);
??????????
Capítulo ?
Os Indígenas na 
Colônia1
1 Mestre em História. Professora da Universidade Luterana do Brasil – ULBRA.
Juliane Maria Puhl Gomes1
Capítulo 2
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 21
Introdução
Neste capítulo faremos um panorama das culturas indígenas 
antes da chegada dos europeus, bem como os desdobramen-
tos do contato entre estas culturas tão diferentes.
Para início de conversa, lembramos que o termo mais cor-
reto para denominar a história do Brasil antes da chegada dos 
europeus é “Pré-Colonial” e não “Pré-História”, afinal são no 
mínimo 15 mil anos de História que iniciaram com a chegada 
dos primeiros grupos humanos aqui.
Quem de fato povoou as terras que atualmente considera-
mos Brasil foram povos de vár´kas etnias, com culturas mui-
to elaboradas e extremamente bem adaptadas aos diferentes 
ambientes que formam nosso país. Estes grupos foram nome-
ados erroneamente pelos europeus de “índios”, pois Colombo 
acreditava ter chegado à Índia em 1492. Mesmo não sendo 
uma denominação correta, muitos grupos indígenas escolhe-
ram essa nomenclatura por se reconhecerem como e serem 
reconhecidos como índios.
Outros grupos preferem ser chamados de “nativos”. Mas tam-
bém estudamos em Pré-História que não existem grupos humanos 
nativos da América, eles migraram para cá pelo Estreito de Bering 
(teoria mais aceita) ou pela Oceania. Se este termo também não 
é correto, qual a denominação que devemos utilizar já que muitos 
destes grupos já não existem mais e não deixaram vestígios, senão 
de cultura material, para que possamos defini-los?
O termo correto seria: Grupos de CULTURA NATIVA, pois 
as culturas foram criadas, construídas aqui.
22 História do Brasil Colônia
E quantas culturas! Um grande número delas se perdeu 
nestes 514 anos de invasão, conquista e ocupação de seus 
territórios, mas muitas ainda estão vivas e fortes, ganhando 
espaço e tentando lutar por seus direitos.
2.1 O Brasil pré-colonial
O processo de povoamento da América já foi apresentado de 
forma mais aprofundada na disciplina de Pré-História. A teoria 
mais aceita pela comunidade científica é a de que os diferen-
tes grupos humanos que povoaram a América, provavelmente, 
entraram pelo Estreito de Bering.
Imagem de satélite mostrando o Estreito de Bering. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/
Povoamento_da_Am%C3%A9rica#mediaviewer/File:Beringia_at_Arctica_surface.png
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 23
Nesta ilustração vemos como estava o Estreito de Beringno período do povoamen-
to, quando era formado por terra firme, uma espécie de “ponte” natural entre a 
Ásia e a América, permitindo o deslocamento por terra. Fonte: http://pt.wikipedia.
org/wiki/Povoamento_da_Am%C3%A9rica# mediaviewer/File:Poblamiento_de_
America_-_Teor%C3%ADa_P_Tard%C3%ADo.png
Um aspecto importante que temos que ter em mente ao 
estudarmos o povoamento do Brasil é o de que, como pro-
vam os estudos do pesquisador Walter Neves, estes grupos 
são oriundos de ao menos dois grupos genéticos diferentes, os 
negróides e os mongoloides.
Estamos tão habituados a ver os grupos indígenas (de as-
cendência mongoloide) que nos parece estranho pensar que 
grupos negróides (como os aborígenes australianos) também 
povoaram o Brasil. Aliás, cabe ressaltar que os sepultamentos 
(datados) mais antigos do Brasil foram encontrados na déca-
24 História do Brasil Colônia
da de 70, na escavação da Lapa Vermelha, em Lagoa Santa, 
MG. Um crânio feminino foi reconstituído por Walter Neves e 
recebeu o apelido de “Luzia”, fazendo uma analogia à “Lucy” 
(africana).
Os primeiros ocupantes do Brasil foram denominados, 
pela comunidade científica, como “Paleoíndios”1. Alguns pes-
quisadores afirmam que estes grupos eram caçadores espe-
cializados em megafauna. Assim que a megafauna entrou em 
extinção, estes grupos tiveram que se adaptar aos meios em 
que se encontravam, criando novas ferramentas e utensílios. 
Assim nasceram as Culturas Nativo Americanas!
È impossível, neste trabalho, abranger todas as culturas que 
durante séculos desenvolveram e aprimoraram seu modo de 
viver pelos vários ambientes que compõe o território brasileiro. 
Sendo assim, nossa proposta é aprofundar alguns exemplos, 
apenas no intuito de demonstrar a riqueza de nossa história 
Pré-Colonial.
2.1.1 Grupos pré-ceramistas
Utilizamos o termo Pré-Ceramista para designar os grupos que 
ainda não domesticavam plantas, e que viviam da coleta, caça 
1 Segundo Anna Roosevelt (1999, p.37), podemos definir os paleoíndios como, 
“caçadores especializados em animais de grande porte, altamente adaptados a 
ambientes terrestres abertos, de clima temperado das Américas”. Segundo Pedro 
Ignácio Schmitz (1999, p.56) os locais em que são encontrados vestígios destes 
grupos apontam para sítios de matança e não acampamentos residenciais. Tam-
bém indicam que a população era pouco numerosa, dispersa e nômade.
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 25
e/ou pesca, os chamados caçadores-coletores ou pescadores-
-coletores-caçadores.
A maioria destes grupos era nômade dentro de um terri-
tório mais ou menos definido. Normalmente esta delimitação 
era vinculada aos ambientes naturais aos quais adaptavam 
suas culturas para melhor sobrevivência. 
Antigos caçadores-coletores do sul do Brasil
No período de 12.000 a 8.500 AP (primeira fase do Holoceno) 
houve um aumento gradual da temperatura com baixa precipi-
tação, acarretando na diminuição da vegetação. Neste perío-
do houve a primeira expansão do povoamento do sul do Brasil, 
ao longo do rio Uruguai, que mesmo reduzido no seu caudal, 
atraiu os recursos anteriormente dispersos. “O único ambiente 
ocupado pelo homem ainda parece ser o das estepes secas e 
frias dos terrenos baixos (Fase Uruguai)” (SCHMITZ, 1984, p. 
05). Este ambiente, hoje, corresponderia aos campos sulinos.
Ainda segundo Schmitz (1984), a linha da costa se encon-
trava a 150m abaixo do nível atual e a flora predominante era 
adaptada a climas semidesérticos (frios e secos), devido a pou-
ca umidade. A floresta estava limitada à encosta do planalto 
meridional, para onde os homens tiveram que se deslocar em 
busca de recursos.
Naquele ambiente glacial, os primeiros caçadores encon-
traram uma fauna de grande porte, denominada por alguns 
pesquisadores como: megafauna (SCHMITZ, 1991). Esta fau-
na parece ter entrado em extinção com o término da última 
glaciação, talvez devido ao surgimento das novas condições 
26 História do Brasil Colônia
ambientais do Holoceno. Estes animais foram substituídos por 
outros animais de pequeno e médio porte como as emas, as 
antas, os ratões do banhado e os pequenos cervídeos, que fo-
ram igualmente caçados pelos primeiros grupos pré-históricos 
que aqui se estabeleceram. Nos vales dos rios Uruguai, Ibicuí 
e Quaraí encontram-se os vestígios arqueológicos mais anti-
gos do RS, datados de 12 mil a 10 mil A.P. (KERN, 2009).
Os vestígios mais encontrados são: lâminas de facas, com 
ou sem retoques, rapadores circulares para limpar as peles, 
pontas de flecha ou de lança líticas com pedúnculo e aletas, 
bolas de boleadeiras, quebra-coquinhos, dentre outros.
Ainda segundo Kern (2009), os espaços abertos do Estado 
do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina parecem ter sido 
palmilhados por esses caçadores, que aos poucos ampliaram 
seus raios de ação, aproximando-se do litoral atlântico, da re-
gião lagunar e das áreas alagadiças onde desenvolveram um 
padrão de subsistência baseado na coleta, na caça e na pesca.
Outros grupos humanos, entretanto, procuraram novas 
paisagens para se instalar e sanar os problemas iniciais de 
adaptação a ambientes naturais distintos. Deste modo, grupos 
de caçadores-coletores surgiram em meio às florestas subtro-
picais com araucárias do Planalto Meridional que se expan-
diram pelas alturas do Planalto Sul-brasileiro, pescadores e 
coletores marinhos se instalaram junto ao litoral atlântico, na 
estreita e alongada planície litorânea, onde o mar e as lagoas 
predominam (KERN, 2009).
Arno A. Kern (2009), também afirma que os mais antigos 
grupos de caçadores conhecidos se estabeleceram nas áreas 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 27
de paisagens cobertas por arbustos e um imenso tapete de 
gramíneas, que genericamente denominadas de “pampas”, 
na Argentina, no Uruguai e no Rio Grande do Sul. Os ves-
tígios arqueológicos de sua cultura material são encontrados 
em sítios do final do Pleistoceno e pós-glaciais.
Estes grupos indígenas, que se tornaram conhecidos a par-
tir do século XVI como os grupos de Charrua e de Minuano 
históricos. Foram esses caçadores-coletores nômades os gru-
pos que mais resistiram ao processo de colonização europeia, 
até os inícios deste século.
Mapa com a localização dos sítios ar-
queológicos mais antigos do sul do Brasil 
(Fonte: SCHMITZ, 2006, p.26).
Mapa Áreas arqueológicas do Sul do Bra-
sil datadas entre 4.000 anos a.C. e 500 
anos d.C.: tradições Umbu, Humaitá e 
sambaquis (Fonte: SCHMITZ, 2006, p.27).
28 História do Brasil Colônia
Podemos observar em suas bolas de boleadeira que não 
ignoravam as técnicas de polimento para o tratamento das 
superfícies, e das de picoteamento para a confecção de sulcos 
destinados à preensão.. O basalto foi preferido para a ela-
boração das bolas de boleadeira, as demais matérias-primas 
foram utilizadas, sobretudo, para o lascamento de lâminas 
cortantes, como foram os casos das facas ou das pontas de 
flechas líticas (SCHMITZ, 1991; KERN, 2009).
Exemplos da cultura material dos grupos de caçadores-coletores mencionados. 
Detalhe C: cópia dos petroglifos do Morro do Sobrado, Montenegro/RS. Fonte: 
RIBEIRO, 1999, p.79.
Há vários outros objetos, como os chifres de veados, que 
devido à incrível resistência de suas pontas, foram utilizados 
como retocadores e utilizados por pressão nas arestas cortan-
tes das lâminas, para se obterem gumes serrilhados muito cor-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 29
tantes. Muitos dentes de animais foram encontrados com per-
furações para serem utilizados como contas de colar (KERN, 
2009).
Segundo Kern (2009), os grupos pampianos evidenciaram 
na gravura a sua capacidade artística, sendo que os suportes 
sobre os quais aqueles artistas pré-históricos gravaram suas 
obras-primas foram variados, desde paredes de abrigos e 
cavernasda encosta, assim como blocos de pedra isolados. 
Outro tipo é composto por pequenos seixos achatados, de-
nominados de “pedras gravadas”, pelos signos ou petróglifos, 
esculpidos quase sempre em ambas as faces. As datações en-
contradas em alguns sítios arqueológicos onde estas manifes-
tações artísticas ocorreram indicam datas entre aproximada-
mente 5.700 e 700 anos AP (KERN, 2009).
Segundo Schmitz (1995-1996), a ocupação dos sítios co-
nhecidos do nordeste do Uruguai e o sul e sudoeste do Rio 
Grande do Sul se realizaria especialmente na primavera e no 
verão, servindo de acampamentos estacionais de pesca, so-
bretudo. Seu padrão de assentamento define-se como acam-
pamentos transitórios dentro de um território permanente.
A maioria destes acampamentos está relacionada à obten-
ção de recursos alimentares, matéria-prima, bem como festas 
e rituais. Segundo Schmitz (1995-96), algumas sociedades têm 
um acampamento central, a partir do qual saem para estações 
de atividades específicas, mas retornando sempre ao ponto de 
partida. Outras têm diversos acampamentos estacionais, dis-
tribuídos pelo ano, nenhum dos quais, segundo o autor, pode 
ser considerado a sede do grupo.
30 História do Brasil Colônia
As formas de exploração dos recursos do território de do-
mínio, bem como a organização social correspondente, e as 
formas de assentamento dos caçadores-coletores variam bas-
tante. O que caracteriza o assentamento é a pouca estabili-
dade no mesmo local, embora se volte a ele periodicamente 
(SCHMITZ, 1995-96).
Segundo Schmitz (1995-1996), há possibilidade destes 
grupos terem explorado sazonalmente os recursos de áreas 
litorâneas, fato ainda pouco estudado pelos pesquisadores. Já 
para as populações interioranas, principalmente as que viviam 
na Floresta Atlântica, as evidências de exploração sazonal são 
mais evidentes.
Pescadores-coletores-caçadores: os 
sambaquianos
As populações pré-ceramistas residentes o ano todo no litoral, 
popularmente conhecidas como sambaquianas, ainda são ob-
jeto de grande estudo e não existe consenso entre os pesqui-
sadores quanto a um padrão que defina o grupo, tomando-se 
muitas vezes como base, características muito abrangentes. 
Os sambaquis são encontrados do Rio de Janeiro ao sul do 
Rio Grande do Sul, datando de 7000 a 2000 AP. Também há 
sambaquis no norte do Brasil, mas são pouco estudados e não 
serão abordados neste trabalho.
Utilizaremos aqui um conceito de Schmitz (1991, p.18),
Os sambaquis são acúmulos de conchas, ossos de pei-
xes e outros resíduos de atividade humana, resultantes 
da ocupação do litoral marítimo por bandos especiali-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 31
zados em sua exploração. São os resíduos mais volumo-
sos acumulados por qualquer população pré-histórica 
brasileira. Podem formar morros de 30 metros de altura, 
ao longo de lagoas, lagunas, mangues, pântanos ou 
baías, onde os alimentos eram ricos, mas dificilmente 
encontrados ao longo de praias retilíneas, onde o con-
junto de alimentos é consideravelmente pobre.
O autor chama esse conjunto de características de “cultura 
de sambaquis” (SCHMITZ, 2006). Constituem assentamentos, 
padrões de sepultamentos, organização social, tecnologia, 
economia alimentar, sociedade, hierarquia e até mesmo cons-
tituição biológica diferenciadas das demais populações indí-
genas (SCHMITZ, 2006, p.3).
Sem dúvida foram as mudanças ocorridas depois do “Óti-
mo Climático” que atraíram esta população, “(...) a explora-
ção de moluscos litorâneos é uma das mais duradouras for-
mas de economia na pré-história brasileira e parece ter criado 
um verdadeiro modo de vida” (SCHMITZ, 1984, p.27).
Segundo André Prous (2006, p.34):
Instalavam-se geralmente em baías como as de Gua-
nabara, Iguape, Paranaguá, Joinville, Laguna, no limi-
te entre vários ambientes complementares (mar aberto, 
enseadas profundas, mangue que forneciam, cada um, 
alimentos específicos e recursos em água, madeiras e 
rochas diferentes.
Preferiam locais de posição elevada e seca, bem drenados 
evitando, o acúmulo de água após as chuvas, e que propor-
32 História do Brasil Colônia
cionasse acesso à brisa do mar. Com certeza isto reduzia a 
incidência de insetos, como moscas e mosquitos, bem como 
diminuía o perigo de cobras e de outros animais peçonhentos. 
A elevação das estruturas, também pode estar relacionada ao 
prestígio social do grupo (GASPAR, 2004).
O local também deveria ter abastecimento de água potá-
vel e recursos alimentares, principalmente peixes e moluscos, 
base da alimentação do grupo, cujas estimativas populacio-
nais apontam, em média, para 180 a 400 pessoas (SCHMITZ, 
1984).
Segundo a pesquisadora Maria Dulce Gaspar (2004) eram 
sedentários e muitos destes sambaquis (a maioria segundo a 
autora) foram ocupados por mais de cem anos ininterrupta-
mente, como os sambaquis Ilha da Boa Vista I, II, III e IV (RJ), 
que indicaram ocupações de 350 anos. Algumas exceções, 
como o Sambaqui da Jabuticabeira II (Laguna, SC), foram 
ocupados pelo período de 1000 anos, ou seja, por 18 gera-
ções! Apesar de sedentários não cultivavam seus alimentos, 
vivendo da pesca, coleta de moluscos e frutas, e da caça.
Possuíam uma rica cultura material composta por elemen-
tos como anzóis, agulhas, pontas de projétil em osso polido, 
pesos de rede, lâminas de machado polidas, percutores e es-
culturas em pedra polida denominadas de zoólitos. As marcas 
nos ossos dos sepultamentos dos indivíduos destes grupos in-
dica que nadavam e remavam muito.
Em alguns sambaquis há evidências de ocupação de po-
pulações ceramistas do Planalto (Tradição Taquara / Casa de 
Pedra / Itararé), que aculturaram ou mesmo se mestiçaram à 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 33
população litorânea, como demonstra a grande quantidade 
de cerâmica destes junto às camadas superiores das aldeias 
do litoral.
Ocupantes do pantanal
O ambiente do pantanal é impar, pois tem um ciclo que passa 
do período das cheias, para os de campos emersos. Segun-
do Prous (2006) esta dinâmica faz com que haja três conjun-
tos favoráveis: a encosta dos platôs que margeiam a planície 
sempre seca e coberta por matas; os campos sazonalmente 
alagadiços; e os rios permanentes e as lagoas. O primeiro 
possibilitava a caça de mamíferos e a horticultura; o segun-
do, uma vasta oferta de gramíneas com grãos comestíveis (ar-
roz silvestre, por exemplo), bem como a coleta de moluscos e 
crustáceos aquáticos; e por fim o terceiro, que além da pesca 
possibilita a caça de mamíferos e répteis de grande porte.
Um dos problemas enfrentados por estes grupos era o pe-
ríodo das enchentes, portanto ou se mantinham nas terras al-
tas marginais, ou então precisavam construir aterros nas áreas 
alagadiças mais rasas do que 1,5m. Segundo Schmitz (1999) 
estes aterros formam pequenas elevações de 60m a 100m de 
diâmetro e até 2m de altura. Faziam esses pequenos aterros 
com terra dos arredores e muitas conchas de moluscos. O 
local de onde retiravam a terra, acabava funcionando como 
um canal que auxiliava a drenar a água. Posteriormente a ma-
nutenção era muito semelhante a dos sambaquis, consumiam 
os alimentos e iam depositando os restos no chão, o que gra-
dativamente ia elevando o pequeno monte.
34 História do Brasil Colônia
Prous (2006) chama a atenção para as fogueiras que eram 
feitas sobre uma base de pedras, provavelmente para reduzir 
a umidade. Junto aos vestígios de alimentação, aparecem os 
sepultamentos e também pequenos sinais do que podem ter 
sido calços para sustentação de abrigos.
Alguns destes sítios dataram de 6mil anos a.C, ou seja 8 
mil anos atrás.
No mesmo contexto destes sítios foram encontrados diver-
sos petroglífos (gravuras sobre pedra), alguns extremamente 
grandes, cobrindo imensos lajedos. A maioria das figuras é 
geométrica. Segundo Schmitz(1999, p.153), “A produção 
destas numerosas e extensas figuras exigiu grande investimento 
de tempo, razão pela qual não se pode atribuí-la a mero passa-
tempo ou diletantismo”. O autor avalia que estes locais podem 
estar relacionados a rituais religiosos destes grupos.
A partir de 200 a.C. alguns destes grupos passam a pro-
duzir cerâmica, indicando que já estão domesticando plantas 
para complementar a alimentação (horticultura).
Muitos remanescentes dos grupos de coletores, pescado-
res do pantanal foram conhecidos ainda no período históri-
co, quando auxiliaram na guerra contra o Paraguai. A grande 
maioria foi dizimada, mas muitos ainda vivem na região (trata-
remos dos grupos horticultores no próximo item).
2.1.2 Grupos ceramistas
Já dominavam técnicas de domesticação de plantas, mas con-
tinuavam praticando (agora como complementação alimen-
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 35
tar) a caça e a coleta. Com o processo de plantio precisa-
vam ficar mais tempo em um mesmo local, sendo assim esses 
grupos eram semisedentários ou sedentários, dependendo da 
região ocupada e do quanto da alimentação já provinha da 
agricultura.
Alguns eram horticultores - pense em uma horta. Você não 
sobrevive comendo de uma horta, você complementa sua ali-
mentação com ela.
Outros eram agricultores - a maior parte da alimentação já 
provinha do que era plantado.
Não há registro de domesticação de animais no Brasil.
Para cozer os alimentos era necessária a elaboração de 
“panelas”, ou seja, vasilhames que permitissem o cozimento 
dos alimentos. Estes vasilhames eram feitos de argila, por isso 
que os grupos que plantavam seus alimentos são chamados 
de CERAMISTAS. Grupos Pré-Ceramistas não tinham necessi-
dade de elaborar vasilhames, além disso, como eram nôma-
des, carregar todos estes utensílios seria muito complicado.
Vamos conhecer alguns exemplos de grupos ceramistas 
brasileiros.
Os ceramistas do planalto
No planalto, do sul de São Paulo ao Rio Grande do Sul, en-
contramos vestígios de grupos do tronco linguístico Jê (Kain-
gang e Xockleng, dentre outros). Estes grupos baseavam sua 
alimentação na coleta do pinhão, na caça e na horticultura, 
36 História do Brasil Colônia
sendo assim ceramistas. Nas regiões mais altas do planalto 
faziam as “casas subterrâneas”, estruturas escavadas na terra 
(grandes buracos), com o telhado rente ao chão. Dentro delas 
faziam fogueiras e o ambiente ficava como uma estufa, auxi-
liando a aguentar as baixas temperaturas (abaixo de zero) no 
período do inverno.
Algumas destas estruturas chegavam a ter 6m de profun-
didade, e a terra removida na abertura do buraco era depo-
sitada em forma de anel ao redor da estrutura, evitando que 
entrasse a água das chuvas.
Algumas aldeias tinham até 36 casas, mas ao que parece 
nem todas eram ocupadas ao mesmo tempo. Junto às foguei-
ras, mas principalmente do lado de fora das casas, foram en-
contrados os pequenos cacos das antigas panelas de barro, 
bem como instrumentos feitos em pedra.
Estes mesmos grupos também ocupavam áreas mais bai-
xas da encosta, demonstrando um movimento sazonal talvez 
relacionado à oferta de alimentação. Nas áreas do planalto 
com altitude inferior a 550m são raras as chamadas casas 
subterrâneas.
Também há muitos vestígios destes grupos no litoral, indi-
cando que no verão iam para a costa litorânea usufruir dos 
abundantes recursos do período.
Os migrantes da amazônia: Tupiguarani
Os grupos cuja língua vem do tronco Tupi (Tupinambá, Tupi-
guarani, Tupiniquim) são oriundos da Amazônia. Muitas são 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 37
as teorias dos motivos que levam a saída do local de origem, 
mas não há consenso sobre isso. Alguns afirmam que muitas 
famílias de um mesmo grupo saíram da Amazônia em busca 
de melhores recursos e com a dispersão foram criando novos 
grupos que mantiveram traços linguísticos semelhantes, bem 
como muitas práticas culturais.
Não cabe aqui entrar nesta discussão, então apresentare-
mos um pouco dos Tupiguarani. Os vestígios culturais deste 
grupo aparecem desde as Reduções e o Rio da Prata ao sul, 
até o nordeste, e o sul da Amazônia.
A leste, ocupam toda a faixa litorânea, desde o Rio 
Grande do Sul até o Maranhão. A oeste, aparecem (no 
Rio da Prata) no Paraguai e nas terras baixas da Bolívia. 
Evitam as terras inundáveis do Pantanal e marcam sua 
presença discretamente nos cerrados do Brasil Central 
(PROUS, 2006, p.97).
Habitavam os vales dos rios, suas aldeias eram formadas 
por várias malocas. Salientamos que Maloca significa casa co-
letiva destinada à família extensa e Oca, casa da família nu-
clear. A maioria das tribos conhecidas utilizava malocas e não 
ocas como costumamos aprender na escola. O termo maloca 
se tornou pejorativo e sinônimo de local para atender questões 
sexuais, ou mesmo de lugar desorganizado, depois da che-
gada dos europeus. A afirmação “vou na maloca pegar uma 
índia para mim”, deu uma conotação completamente diferente 
à real, que é casa da família. Do mesmo modo era lá que fi-
cavam os filhos ilegítimos oriundos de violência sexual contra 
as índias. Deste modo os portugueses se referiam aos que não 
38 História do Brasil Colônia
pertencem a seu mundo, que viviam à margem, ou seja, os 
“maloqueiros”. Termo ainda utilizado em algumas regiões do 
país para designar grupos que vivem na periferia das cidades.
Praticavam a agricultura de coivara, ou seja, derrubavam 
o mato, colocavam fogo e depois faziam o plantio. Quando o 
solo esgotava abriam novas áreas. Plantavam: mandioca, fei-
jão, batata-doce, cabaças, amendoim, milho, cará, abóbora, 
algodão e, no sul do Brasil, também sabiam cultivar a erva-
-mate (dando origem ao chimarrão).
Alimentavam-se ainda de caça e pesca, e no litoral com a 
coleta de moluscos. Seus artefatos mais conhecidos são os va-
silhames de barro (panelas, tigelas) e as lâminas de machado 
polidas.
Ficaram conhecidos, assim como seus aparentados Tupi-
nambá, pelo hábito religioso de capturar guerreiros de tribos 
inimigas para rituais antropofágicos2. Acreditavam que ao ma-
tar uma pessoa a alma do morto ficava eternamente presa a 
quem a matou. Quanto mais guerreiro o inimigo fosse, mas 
almas Tupi carregava com ele. Portanto ao matar um grande 
guerreiro e comer um pedaço simbólico de sua carne, as al-
mas, a força e a coragem do inimigo, retornariam ao grupo 
de origem. Os portugueses não conseguiam, nem queriam, 
entender tal ritual e usavam disso para atacar os índios do 
grupo Tupi sem piedade.
2 O termo antropofágico é mais correto porque denota comer carne humana com 
intuito cerimonial. Canibalismo é mais relacionado à ideia de comer carne humana 
como fonte de proteínas. 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 39
O ritual poderia levar dias, meses ou anos. O prisioneiro 
ficava livre dentro da aldeia, mas sob vigilância. Era bem cui-
dado, alimentado e recebia até mesmo mulheres para garantir 
que ficasse com corpo e mente sadios. Fazia exercícios para 
ficar em boa forma e lhe davam o direito de morrer lutando, 
porém tinha cordas amarradas a cintura para que pudessem 
manter o controle. No auge da luta, sem que visse, recebia 
uma pancada na parte de trás da cabeça e morria instantane-
amente. Seu corpo era limpo e preparado num complexo ritual 
que culminava com o consumo de sua carne.
Os jesuítas ficaram chocados e esta foi uma das práticas, jun-
tamente com o direito à poligamia dos caciques, que tentaram 
abolir. Os índios, em processo de catequização não entendiam 
o motivo de tanto “alarde” já que os padres afirmavam que a 
comunhão era comer a carne e beber o sangue de Jesus Cristo.
E na colônia?
Falaremos mais do trabalho indígena no capítulo 5. Os índios 
de origem Tupi foram considerados os mais “promissores” pelos 
europeus. Eles eram semisedentários,praticavam a agricultura, 
coziam seus alimentos em panelas de barro e foram excelentes 
guias. Muitos termos que ainda utilizamos tem origem na língua 
Tupi, pois foi com eles que os portugueses aprenderam os no-
mes das “coisas” no Brasil (arara, abacaxi, jacaré, tatu, jabuti, 
Pernambuco, Piauí, dentre tantos!). Isto foi tão significativo que 
em São Vicente a língua mais falada no século XVII era o Tupi.
A medicina indígena também foi muito utilizada. As co-
bras e doenças tropicais desconhecidas aos europeus eram 
40 História do Brasil Colônia
tratadas com ervas pelos pajés, que conheciam bem como 
tratá-las. Alguns destes remédios utilizamos até hoje (guaraná 
como ativador de memória, o aloé vera – babosa – em me-
dicamentos e produtos de beleza, diversos chás). O hábito de 
tomar banho diário também foi aprendido com os indígenas, 
pois os europeus não o faziam com muita regularidade. Os 
indígenas tomavam banho após fazer suas necessidades, mas 
também para refrescar o corpo e por diversão. Os europeus 
levaram anos para aprender a tomar banho de mar por prazer, 
por exemplo, como fazemos até hoje.
Os alimentos cultivados pelos indígenas até hoje fazem 
parte da nossa mesa: feijão, batata, abobora pimentas, milho, 
dentre tantos outros. No sul do Brasil costumam afirmar que 
alemão come batata e italianos polenta. Pois bem, tanto a 
batata quanto o milho são plantas americanas, os europeus 
aprenderam a comê-las depois de 1500.
Foram inseridos no sistema colonial, com ou sem opção e 
mesclando (na melhor das hipóteses) sua cultura a dos euro-
peus. Muitas tribos desapareceram, ou ficaram a margem da 
sociedade. A ideia era civilizá-los, ato que ainda hoje os não 
indígenas tentam fazer...
Recapitulando
O Brasil é povoado a ao menos 15mil anos (para não entrar-
mos em polêmica), e é neste período que a história do nosso 
país iniciou. Não podemos continuar a reproduzir uma fala de 
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 41
Pré-História, sendo que as culturas que viviam aqui deixaram 
inúmeros vestígios que comprovam a riqueza e grandiosidade 
destas comunidades Pré-Coloniais.
Todos os espaços e ambientes brasileiros eram ocupados 
por grupos que foram aprimorando suas tecnologias e ade-
quando-as às suas necessidades.
A chegada dos europeus alterou esta dinâmica e fez com 
que grande parte, senão a maioria destas culturas desapare-
cesse sem deixar outros vestígios que não os materiais (macha-
dos, pontas de flecha, etc.). Podemos observar como sepulta-
vam seus mortos, que objetos colocavam junto ao corpo, mas 
jamais poderemos recuperar os cantos, as rezas, os procedi-
mentos. Nem mesmo sabemos como se autodenominavam, 
damos nomes a eles, como os sambaquianos (sambaqui tem 
origem na língua Tupi).
No capítulo 5 retomaremos um pouco mais dos índios no 
Brasil Colônia.
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Cristina (Org.) Pré-História da Terra Brasilis. Rio de Ja-
neiro: UFRJ, 1999. [55-59].
__________.. Caçadores e Coletores da Pré-História do 
Brasil. São Leopoldo: Instituto Anchietano de Pesquisas-
-UNISINOS, 1984.
Atividades
 1. O termo mais correto para definirmos as populações indí-
genas seria:
a) Nativo americanos.
b) Brasileiros.
c) Povos indígenas.
d) Povos de cultura nativa.
e) Índios do Brasil.
 2. Assinale a alternativa incorreta:
a) O Brasil tem uma história de quase 20mil anos.
b) Antes de 1500 o Brasil possuía centenas de culturas 
extremamente ricas e variadas.
44 História do Brasil Colônia
c) Ao ser descoberto pelos portugueses em 1500 o Brasil 
deu o primeiro passo de sua rica história.
d) Até hoje utilizamos palavras do vocabulário indígena.
e) A mão de obra indígena foi fundamental para o de-
senvolvimento do Brasil no século XVI.
 3. Os grupos pré-coloniais apresentavam grande adaptação 
cultural aos meios em que viviam. Prova disso é:
I – A elaboração de pesos de rede e anzóis pelos grupos 
sambaquianos demonstrando adaptação ao ambiente 
litorâneo.
II – Bolas de boleadeira aos caçadores-coletores (sul do 
Brasil) para caçarem animais de campo aberto.
III – Casas subterrâneas no Planalto do sul do Brasil para 
proteção do frio rigoroso no inverno.
IV – Elaboração de vasilhames de argila pelos grupos hor-
ticultores para o cozimento dos alimentos cultivados.
A partir das afirmações acima, assinale a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
Capítulo 2 Os Indígenas na Colônia 45
 4. Ao analisarmos o motivo pelo qual os grupos Tupiguarani 
e Tupinambá consumiam a carne de seus inimigos, pode-
mos afirmar que:
a) Era um ritual religioso através do qual recuperavam a 
alma dos mortos pelos inimigos e adquiriam sua força 
e coragem.
b) Era uma forma destes grupos terem acesso a fontes de 
proteínas animais, escassas neste período.
c) Este habito iniciou com a chegada dos europeus, 
quando a comida ficou mais escassa.
d) Tentavam imitar a seu modo a metáfora cristã do cor-
po e sangue de Jesus.
e) É inexplicável e por isso mereceram ser dizimados.
 5. Algumas das heranças indígenas que ainda estão em nos-
so cotidiano são:
I – Influência na alimentação.
II – Contribuição na língua portuguesa.
III – O uso de plantas medicinais como chá ou processa-
das em medicamentos.
IV – Alguns hábitos de higiene.
A partir das afirmações acima, assinale a alternativa correta:
a) As alternativas I, II e III estão corretas.
b) As alternativas I, II e IV estão corretas.
46 História do Brasil Colônia
c) As alternativas II, III e IV estão corretas.
d) As alternativas II e III estão corretas.
e) Todas as alternativas estão corretas.
Gabarito
1 – D
2- C
3 – E
4 – A
5 - E
????????
Capítulo ?
A Colonização da 
América Portuguesa1
1 Doutora em História, professora adjunta do Curso de História e do Mestrado em 
Educação da UniversidadeLuterana do Brasil, membro do NEABI/ULBRA. 
Maria Angélica Zubaran1
Capítulo 3
48 História do Brasil Colônia
Introdução
A colonização da América portuguesa se deu no contexto his-
tórico do mercantilismo europeu, dos Estados Absolutistas e do 
fortalecimento da burguesia mercantil portuguesa. Neste ca-
pítulo abordaremos o período pré-colonial e a montagem do 
sistema colonial português no Brasil, iniciando com as Capi-
tanias Hereditárias e prosseguindo com o estudo do governo-
-geral e o estabelecimento dos vice-reis na Colônia. Por fim, 
estudaremos a importância das Câmaras Municipais no Brasil 
Colônia.
1 O período pré-colonial:
Entre os anos de 1500-1530, período denominado pela his-
toriografia tradicional de “pré-colonial”, Portugal, em decor-
rência dos lucros das Carreiras das Índias e da exploração 
do litoral africano, não ocupou a nova terra, mas estabeleceu 
feitorias no litoral do Brasil, assim como, em outros pontos-
-chaves de seu império colonial. As feitorias eram entrepostos 
comerciais militarizados situados no litoral. No caso do Bra-
sil, as feitorias cumpriam a função de armazenar o pau-brasil, 
madeira valiosa usada para o fabrico de tintura vermelha para 
tecidos na Europa, para carregamento nos navios portugue-
ses. O mapa a seguir ilustra a importância da extração do 
pau-brasil realizada pelos indígenas no período pré-colonial.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 49
Figura 1 Detalhe Mapa “Terra Brasilis” 1519, Atlas de Lopo Homem.
Fonte: en.wikipedia.org
A extração do pau-brasil era monopólio da Coroa, no con-
texto do fechamento dos mares aos navios concorrentes. A Co-
roa arrendava a exploração do pau-brasil a particulares e o pri-
meiro contratante foi o comerciante Fernando de Noronha, que 
em 1501 se comprometeu a enviar anualmente seis navios ao 
Brasil, a construir um misto de entreposto e fortaleza e a pagar 
o quinto do pau-brasil à Coroa. A extração do pau-brasil era 
feita de forma predatória e a madeira esgotou-se rapidamente. 
As árvores eram cortadas e transportadas aos navios pelos indí-
genas que em pagamento recebiam objetos como espelhos, fa-
cas, tesouras, agulhas. Essa relação de troca entre portugueses 
e indígenas denominou-se escambo. Não por acaso, os por-
tugueses incluíam machados de ferro entre as mercadorias de 
troca, pois facilitavam a derrubada das árvores.
50 História do Brasil Colônia
O comércio do pau-brasil também interessou aos franceses, 
cuja ação no litoral do Brasil era motivo de preocupação para a 
Coroa portuguesa. A inexistência de núcleos regulares de povoa-
mento dos portugueses no Brasil facilitou aos corsários franceses 
(autorizados pelo governo francês) a invasão do território portu-
guês na América, interessados no comércio do pau-brasil. Portan-
to, nas três primeiras décadas do século XVI os interesses de Por-
tugal mantiveram-se orientados para o comércio com as Índias. 
O Brasil era, sobretudo, uma escala para a frota rumo à Índia.
Nesse período, Portugal enviou expedições exploradoras e 
guarda-costas para o Brasil. A primeira expedição explorado-
ra foi comandada por Gaspar de Lemos em 1501, que fez 
o levantamento dos principais acidentes geográficos na costa 
brasileira. Em 1503, Gonçalo Coelho liderou a segunda expe-
dição exploradora no litoral brasileiro.
Outras expedições foram enviadas entre 1516 e 1526, 
ambas comandadas por Cristovão Jacques para desalojar os 
franceses, daí serem denominadas expedições guarda-costas, 
no entanto, pouco fizeram contra os piratas estrangeiros devi-
do a grande extensão da costa.
2 O início da colonização do Brasil
Por que colonizar o Brasil? Povoar o Brasil fazia-se urgente, 
devido à crise do comércio português no oriente, causada pelo 
assédio dos muçulmanos às cidades e fortalezas portuguesas 
na Índia e pelos altos custos da defesa. Era também urgen-
te combater a presença francesa no litoral do Brasil. O por-
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 51
tuguês Cristovão Jacques apreendeu vários navios franceses 
carregando pau-brasil. Por outro lado, não resta dúvida que 
os indígenas continuavam negociando a madeira com portu-
gueses e franceses.
Por volta de 1530, Portugal passou a se interessar mais pelo 
Brasil. O início efetivo da colonização portuguesa ocorre com o en-
vio da expedição de Martim Afonso de Sousa, que em 1532, com o 
objetivo de expulsar os corsários franceses e explorar o litoral até o 
Rio da Prata em busca de metais preciosos. Tendo percorrido o lito-
ral e averiguado as condições para um povoamento estável fundou 
o primeiro núcleo colonial, a Vila de São Vicente (SP).
Figura 2 Fundação de São Vicente, Benedito Calixto, 1900.
3 O sistema de capitanias hereditárias
A solução adotada pelo rei de Portugal, D. João III (1521-
1557), para colonizar o Brasil foi o sistema de Capitanias He-
52 História do Brasil Colônia
reditárias, em que particulares recebiam uma vasta extensão 
de terras para explorar. O donatário podia deixar a capitania 
para seu filho, mas não podia vendê-la ou trocá-la e nem 
reparti-la. Era uma experiência que já havia sido utilizada na 
colonização do arquipélago de Madeira. Em carta escrita a 
Martim Afonso (1534), o rei comunicava a decisão de dividir 
as terras que iam de Pernambuco até o Rio da Prata em 15 
lotes paralelos, da beira-mar prosseguindo com a mesma lar-
gura inicial para o ocidente. As capitanias foram 12, entre elas 
destacam-se: Maranhão, Itamaracá, Pernambuco, Bahia, Por-
to Seguro, Ilhéus, Espírito Santo, Santo Amaro e São Vicente.
Figura 3 Mapa das Capitanias Hereditárias, Luiz Teixeira, 1574.
Fonte: www.histedbr.fe.unicamp.br
As Capitanias Hereditárias foram distribuídas aos donatá-
rios, representantes da pequena nobreza portuguesa, que ti-
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 53
nham se destacado na expansão marítima para África e Índias 
e aos funcionários da burocracia monárquica. As capitanias 
receberam degredados da justiça, colonos, pequenos comer-
ciantes, artesãos e cristãos-novos (judeus recém-convertidos). 
Aos donatários cabia criar vilas e povoações, exercer justiça, 
incentivar a instalação de engenhos e moendas de água. A Co-
roa portuguesa transferiu para particulares os compromissos 
com a colonização e o escambo foi paulatinamente substituído 
pela agricultura. Dois documentos básicos regiam o sistema 
de capitanias: a carta de doação e o foral, que garantiam os 
direitos do capitão-donatário e suas obrigações frente à Co-
roa. Através do regime de donatários a colonização portugue-
sa promoveu a intervenção direta dos empresários europeus 
no âmbito da produção. Esse sistema foi usado primeiramente 
nas Ilhas Atlânticas de Portugal, depois no Brasil e também em 
Angola, dentro da lógica da colonização do império colonial 
português, que abrangia além do Brasil, terras na África e no 
Oriente.
Por que o açúcar?
Além de seu valor monetário no mercado da época, de-
vido à sua raridade, o plantio e o fabrico do açúcar já eram 
praticados pelos portugueses nas Ilhas de Madeira e Açores, 
assim como, a construção de engenhos e o uso de mão-de-
-obra escrava. É da ilha de Madeira, que Martim Afonso de 
Sousa trouxe as primeiras mudas de cana-de-açúcar para a 
vila de São Vicente, onde construiu o primeiro engenho em 
1533. Assim constitui-se uma economia açucareira, que foi a 
base da economia colonial e cujo centro era o engenho, que 
prosperou particularmente, em Pernambuco e na Bahia.
54 História do Brasil Colônia
Figura 4 Engenho Real, Frans Post (1647)
Fonte: Frans Post: www.faperj.br
No entanto, o sistema de Capitanias Hereditárias fracas-
sou devido ao tamanho do território, ao isolamento e dificul-
dade de comunicação, a falta de recursos dos donatários e 
aos ataques dos indígenas. Mesmo assim, duas capitanias,São Vicente (Martim Afonso) e Pernambuco (Duarte Coelho) 
prosperaram, pois além da produção do açúcar, houve uma 
diversificação paralela de produtos, como o algodão e o ta-
baco e autonomia na produção de alimentos. Também foi 
importante para o sucesso das capitanias um relacionamento 
menos agressivo com os indígenas, pois várias capitanias não 
resistiram ao cerco indígena. Na Bahia, o donatário Francisco 
Pereira Coutinho foi devorado pelos Tupinambás.
As capitanias foram sendo retomadas pela Coroa, ao lon-
go dos anos, por meio de compra e foram paulatinamente 
passando do domínio privado para o público.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 55
4 Os governos-gerais
Em 1549, frente ao fracasso das capitanias, às incursões fran-
cesas e aos ataques indígenas, o rei de Portugal, D. João III, 
resolveu intervir nomeando para a capitania da Bahia um Go-
vernador-Geral, Tomé de Sousa, um fidalgo com experiência 
na África e na Índia, que chegou acompanhado de mais de mil 
pessoas. O governo-geral se sobrepôs às capitanias e tinha 
como objetivo centralizar os poderes dispersos entre os dona-
tários e defender a colônia contra os indígenas e os piratas es-
trangeiros, sobretudo os franceses. O governador-geral vinha 
munido de um documento que lhe definia as atribuições cha-
mado Regimento. No governo-geral foram criados também os 
seguintes cargos: ouvidor-mor, responsável pela justiça local; 
o provedor-mor, responsável pelos impostos e taxas da Coroa; 
e um capitão-mor, responsável pela defesa da costa.
O Governo de Tomé de Sousa (1549-1553)
Chegando ao Brasil em 1549, Tomé de Sousa (1549-53) 
ergue a primeira cidade do Brasil, São Salvador, capital do 
Brasil até 1763, e inicia sua ação punitiva contra os Tupinam-
bás, destruindo-lhes as aldeias e povoações e matando e ca-
tivando parte deles. A obra colonizadora do governador-geral 
visava, acima de tudo, assentar os colonos, transformá-los em 
“moradores”, e para isso incentivava a implantação de enge-
nhos, o aldeamento dos índios mansos junto aos povoados e 
o combate ao comércio ilegal do pau-brasil.
Com Tomé de Sousa vieram os primeiros padres jesuítas 
chefiados pelo padre Manuel da Nóbrega, com o objetivo de 
56 História do Brasil Colônia
catequizar os índios e disciplinar o clero da colônia. Foi tam-
bém no seu governo que foi criado o primeiro bispado da 
Coroa, sendo nomeado o Bispo D. Pero Fernandes Sardinha, 
que foi capturado pelos índios Caetés e devorado.
Tomé de Sousa trouxe gado bovino de Cabo Verde, dis-
tribuído aos colonos sob a forma de pagamento de soldos, o 
que incentiva a distribuição de sesmarias para a formação de 
pastos. A colonização é incentivada também com a intensifica-
ção do tráfico negreiro, já importante em 1550, e com apelos 
para a vinda de colonos açorianos. A Bahia passou a ser uma 
um importante foco de povoamento, tornando-se, ao lado de 
Pernambuco, uma das principais áreas açucareiras da América 
Portuguesa.
A instituição do governo-geral representou um esforço de 
centralização administrativa do Brasil. No entanto, a distância 
física entre o centro das decisões, Lisboa e as cidades litorâne-
as era enorme, o que limitava a ação dos governadores. Em 
São Vicente, Nóbrega dizia: “Mais fácil é vir recado de Lisboa 
a esta capitania do que da Bahia”. As leis não atingiam o 
interior que ficava nas mãos do mandonismo local, que unia 
prósperos senhores de engenho e funcionários metropolitanos.
Uma segunda camada de colonos era constituída por ple-
beus e lavradores que fixavam-se com seu gado e escravos 
no interior. Outros podiam ser ladrões de gado e não faltava 
quem se organizasse em bandos e quadrilhas, agindo em as-
saltos pelas estradas. Apesar dos esforços de Tomé de Sousa, 
a implantação do governo-geral na Bahia não inibiu a ação 
dos franceses em outros pontos da costa.
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 57
O Governo de Duarte da Costa (1553-1557)
O segundo governador-geral, Duarte da Costa, veio tam-
bém para o Brasil acompanhado de jesuítas, entre os quais, 
José de Anchieta, que junto com Nóbrega fundou o Colégio 
de São Paulo de Piratininga, criado em 1554, que mais tar-
de se tornou vila, e em 1711 passou a categoria de cida-
de. Durante o seu governo a pressão dos franceses tornou-se 
particularmente forte na baía da Guanabara, onde o francês 
Nicolau Durand de Villegaignon invadiu e fundou uma colônia 
em 1555, denominada França Antártica.
A França Antártica (1555-1567)
O francês Nicolau Durand de Villegaignon pretendeu fun-
dar uma colônia francesa na baía da Guanabara, onde os 
Huguenotes viveriam livres da perseguição religiosa. No en-
tanto, os conflitos entre franceses católicos e huguenotes se 
transferiram para a Guanabara. As querelas finalizaram com 
a perseguição e morte dos dissidentes.
Os franceses construíram o forte Coligny na baía da Gua-
nabara e pretenderam enraizar sua presença no litoral atlân-
tico para traficar pau-brasil. Entretanto, em 1560, as tropas 
de Mem de Sá tomaram o forte de Coligny após enfrentarem 
a resistência dos franceses apoiados pela coalizão indígena 
chamada Confederação dos Tamoios. Em 1565, em meio a 
constantes combates contra os franceses, Estácio de Sá fundou 
a segunda cidade do Brasil, São Sebastião do Rio de Janeiro.
O Governo de Mem de Sá (1558-72)
58 História do Brasil Colônia
Os 14 anos do governo de Mem de Sá se caracterizaram 
por realizações importantes, tais como a fundação da cidade 
de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1 de março de 1565, 
pela guerra para expulsar os franceses da Guanabara, e pelo 
combate aos indígenas da Confederação dos Tamoios. Estácio 
de Sá, seu sobrinho, passou a liderar a guerra contra a aliança 
franco-tamoia e aliou-se aos Temiminós. As lutas de portugueses 
aliados dos Temiminós contra os franceses aliados dos Tamoios 
se prolongariam até 1867. Estácio de Sá morreu em combate 
aos franceses, ferido no rosto com uma flecha envenenada.
Figura 5 Fundação da Cidade do Rio de Janeiro: Mem de Sá entrega as 
chaves da cidade ao alcaide.
Fonte: Autor: Halley Pacheco de Oliveira Disponível em http://commons.wikimedia.
org/wiki/File:Pal%C3%A1cio_Pedro_Ernesto_-_Funda%C3%A7%C3%A3o_da_Ci-
dade.jpg
Capítulo 3 A Colonização da América Portuguesa 59
Após o Governo de Mem de Sá sucederam-se vários gover-
nadores-gerais, ao todo 21, até a implantação dos vice-reis, 
instituído pela primeira vez em 1640, por Filipe III de Portugal, 
a favor de D. Jorge de Mascarenhas, Marquês de Montalvão. 
Os vice-reis provinham da alta nobreza e mais do que um go-
vernador geral, que lembrava um funcionário graduado, apa-
rentavam ser um representante da Coroa de Portugal.
O título de vice-rei só se tornou permanente a partir de 
1719, com a nomeação de Vasco Fernandes César de Mene-
zes, Conde de Sabugosa. Em 1808, quando o príncipe regen-
te D. João VI chegou ao Rio de Janeiro, cessaram as funções 
do vice-rei.
A França Equinocial (1612-1615)
Expulsos do Rio de Janeiro os franceses tentaram ocupar 
outra parte do Brasil no início do século XVII. Invadiram a capi-
tania do Maranhão e fundaram a França Equinocial em 1612 
e nela construíram o forte de São Luís, em homenagem ao rei 
da França Luís XIII. Os portugueses liderados por Jerônimo de 
Albuquerque e incluindo indígenas lutaram contra os franceses 
e os expulsaram em 1615, tomando o forte de São Luís.
Após a fundação das primeiras cidades coloniais, os do-
natários transplantaram de Portugal para a Colônia órgãos 
de administração local, que em Portugal eram chamados de 
Conselhos e que no Brasil chamaram-se Câmaras Municipais.
60 História do Brasil Colônia
5 As câmaras municipais
As Câmaras Municipais eram compostas por até seis verea-
dores, dois juízes ordinários (sem instrução formal em direito) 
e um procurador.

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