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CONCEITOS UTILIZADOS EM QUALIDADE DE ENERGIA ANDERSON QUEIROZ DA SILVA¹*, GILMAR LESCHEWITZ¹, JOÃO PAULO VISSOTTO², MAURÍCIO BASSO3, RUAN WOLF4 Resumo: O presente artigo tem por finalidade a apresentação sucinta de três tópicos. O primeiro tópico consiste em resumir os capítulos 1 e 2 de LEBORGNE, R. C. Uma contribuição à caracterização da sensibilidade de processos industriais frente a afundamentos de tensão. 2003. O resumo apresenta o conceito de afundamento de tensão, bem como as características e os principais causadores destes fenômenos. O segundo tópico aborda as vantagens e desvantagens que os tipos de sistemas de aterramento do Brasil apresentam em relação à corrente de falta e afundamento de tensão. Por fim, o terceiro tópico demonstra algumas características e dispositivos existentes na hidrelétrica de Itaipu e na subestação de Furnas, que colaboram na proteção do sistema de geração e transmissão, assim como na Qualidade de Energia brasileira. Palavras-chave: Tensão, falta, proteção, qualidade. 1 AFUNDAMENTOS DE TENSÃO O afundamento de tensão pode ser causado por diversos fatores, devido a vasta extensão de linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica. Existem duas formas de analisar estes distúrbios; a primeira pelo IEEE e a segunda pela IEC (LEBORGNE, R. C., 2003). A Norma IEEE 1159 (1995) monitora a qualidade de energia do sistema elétrico, indicando que o afundamento de tensão consiste em uma redução do valor eficaz para um valor entre 0.1 e 0.9pu. Conforme o tempo de duração, estes afundamentos podem ser classificados como instantâneos, momentâneos ou temporários. A IEC define os afundamentos de tensão como queda de 0.1 a 0.99pu da tensão eficaz do sistema. Quedas de tensões acima de 0.99pu são consideradas interrupções. As principais características de um afundamento de tensão monofásico são a amplitude e o tempo de duração, que juntamente com a frequência, fornece dados satisfatórios na análise destes fenômenos. Nos sistemas trifásicos deve-se levar em consideração a assimetria e o desequilíbrio do sistema. (LEBORGNE, R. C., 2003) cita como origem das quedas de tensão alguns eventos como a ligação de um motor de grande porte ou a conexão de um transformador no sistema. Contudo o principal fator que origina os afundamentos de tensão são as faltas na rede, devido a existência de milhares de linhas de transmissão e distribuição. As faltas em sistemas elétricos ocorrem principalmente em decorrência de descargas atmosféricas, sendo que os sistemas de distribuição sofrem mais, devido a inexistência de cabos guarda. Outros eventos que causam curto-circuito no sistema são as queimadas em plantações, vendavais, quedas de árvores, contaminação de isoladores, entre outros. As faltas temporárias são decorrentes de temporais e descargas atmosféricas, que em sua grande maioria não causam danos permanentes no sistema, sendo que o mesmo pode ser rapidamente reestabelecido através de religadores automáticos. Os defeitos permanentes em geral são causados por danos físicos nas redes, exigindo a presença de equipes de manutenção no local para resolver o problema. Portanto, a duração do afundamento de tensão é compreendida desde a ocorrência do defeito até o religamento do sistema. 1.1 Natureza das Faltas Existem diversos tipos de faltas no sistema de transmissão, como: trifásica, trifásica à terra, bifásica, bifásica à terra e fase-terra. As faltas trifásicas e trifásicas à terra são faltas causam um afundamento de tensão simétrico, trazendo danos mais severos ao sistema. Contudo são os tipos de faltas mais raros. Os demais tipos de faltas são mais comuns, sendo que a falta fase-terra é a mais ocorrente nas redes de transmissão e distribuição. A Tabela 1 indica as estatísticas das taxas e tipos de faltas que ocorrem no Brasil (LEBORGNE, R. C., 2003). 1.2 Localização da Falta A localização da falta em redes de energia é de grande importância, possuindo impacto direto nos consumidores. Uma falta em um sistema de transmissão ou subtransmissão tende a afetar maior quantidade de consumidores que no sistema de distribuição. A Fig. 1 indica que uma falta no ponto A abrange uma área de impacto maior que no ponto B. 1.3 Impedância de Falta e Tensão de Pré-Falta Em sua grande maioria, um curto circuito possui uma resistência de falta que deve ser considerado como a resistência do arco elétrico entre o condutor e a terra em faltas fase-terra, entre dois ou mais cabos no caso de faltas entre fases ou resistência de contato e de pé-de-torre. Normalmente em cálculos de faltas o valor da tensão de pré-falta é fixado em 1pu. Contudo em condições normais, as concessionárias variam a tensão de 0.95 a 1.05pu. Portanto é necessário observar a tensão exata do sistema para que as proteções possam atuar de acordo com a sensibilidade das cargas. Diversos fatores influenciam nas características do afundamento de tensão. As características da proteção utilizada também determinam se a tensão terá uma grande variação em ocorrências de curto circuito. Os transformadores influenciam também na forma com que a carga vê o afundamento de tensão, sendo que alguns modelos possuem enrolamentos de compensação. A conexão destes transformadores e da própria carga também modificam a tensão na ocorrência de faltas. SILVA, et al. Conceitos utilizados em Qualidade de Energia. 2 TIPOS DE SISTEMAS DE ATERRAMENTO O aterramento em sistemas de transmissão e distribuição minimizam os estresses térmicos e de tensão, garantindo maior segurança para as equipes de manutenção, ao passo que elimina de forma rápida as faltas das redes. Os principais tipos de aterramentos segundo a SEL 6123 (SCHWEITZER ENGINEERING LABORATORIES, 2001), são listados abaixo: Sistema não aterrado ou com neutro isolado; Aterramento sólido ou efetivo; Aterramento de baixa impedância; Aterramento de alta impedância; Aterramento ressonante. 2.1 Sistema não aterrado ou com neutro isolado Como é visto na Fig. 2, o sistema é conectado à terra por meio de capacitores em cada fase. Em casos de faltas fase- terra, a tensão do neutro é deslocada, porém o triângulo de tensões entre fases permanece intacto. 2.2 Aterramento Sólido ou Efetivo Os sistemas solidamente aterrados possuem todos os neutros do sistema aterrados, sem impedância intencional entre o neutro e a terra. Esse sistema pode ser uniaterrado ou multiaterrado. Nos sistemas uniaterrados são caracterizados pela existência de três fios com as cargas conectadas entre as fases como na Fig. 3, ou com quatro fios com neutro isolado e as cargas ligadas entre fase-neutro, conforme ilustrado na Fig. 4. Em sistemas multiaterrados, além do cabo neutro, os transformadores ao longo do sistema também são aterrados conforme mostrado na Fig. 5. Uma das vantagens deste sistema é que em caso de desbalanço de cargas, as correntes são divididas entre o neutro e a terra. Contudo as detecções das faltas à terra tornam-se mais difíceis. O aterramento sólido reduz o risco de sobretensões na ocorrência de faltas à terra. Assim como no Brasil, este sistema é utilizado ao redor do mundo, sendo que o uniaterrado predomina na Grã-Bretanha e o multiaterrado na América do Norte, Austrália e América Latina. 2.3 Aterramento de baixa impedância Este sistema efetua o aterramento por meio de um reator ou resistor de baixa impedância, limitando a corrente de falta à terra, reduzindo o stress térmico dos equipamentos. A França utiliza este sistema em alguns locais, limitando em ambientes rurais a correnteentre 150 e 300A, e em locais urbanos até 1000A. 2.4 Aterramento de alta impedância Este método limita a corrente de falta à terra em no máximo 25A. Em geral a alta impedância pode ser aplicada em geradores ou em sistemas de media tensão de usinas industriais. 2.5 Aterramento ressonante O sistema é aterrado por meio de um reator de alta impedância, perfeitamente sintonizado com a capacitância fase-terra total do sistema, conforme a Fig. 6. Quando a capacitância do sistema for igualada pela indutância da bobina, o sistema será totalmente compensado. Este tipo de aterramento pode reduzir a corrente de falta em até 3% de um sistema não aterrado. Os métodos de compensação da corrente residual injetam uma corrente no sistema por meio do reator, reduzindo a corrente na falta a quase zero. 3 VISITA TÉCNICA PARA ITAIPU E FURNAS 3.1 Visita técnica na Usina Itaipu localizada em Foz do Iguaçu PR em 15/03/18 Com o lema “Água, tecnologia, gravidade e energia”, a Usina de Itaipu teve o início das tratativas para sua construção no ano de 1961 entre o Brasil e o Paraguai. Em 1973 foi assinado o tratado entre os dois países com a iniciando dessa forma a construção do complexo de geração de energia elétrica Itaipu (pedra que canta), consolidando a parceria entre os dois países latino americanos com um investimento no empreendimento na casa dos 12 bilhões de reais. Em 1984 entrou em funcionamento e geração o primeiro dos 20 geradores existentes na Usina Itaipu. Hoje com capacidade instalada para gerar 14.000 MWH, dos quais 50% pertencem para o Brasil e os outros 50% pertencem ao Paraguai. Da energia gerada 85% é consumida pelo Brasil, o que corresponde a 17% da sua demanda, os outros 15 % da energia total, são consumidos pelo Paraguai correspondendo a 85% da sua demanda total. O reservatório hídrico conta com 1350 km² de área de lâmina de água, abastecendo os dutos forçados dos 20 geradores com capacidade de gerar 14.000 MWH de energia elétrica, sendo 50% dela em frequência de 50hz (Energia elétrica pertencente ao Paraguai) e 50% na frequência de 60hz (Energia elétrica pertencente ao Brasil). Com demanda superior à do Paraguai, o Brasil compra grande parte da Energia elétrica pertencente ao Paraguai. A Fig. 7 mostra como funciona o sistema de transmissão da energia elétrica que segue para o lado paraguaio. Na subestação, parte da energia é utilizada no país e a outra parte segue para Furnas, passando pelo processo de conversão e transmissão. Atualmente 60% da energia gerada pela usina é destinado para a amortização do financiamento que deu origem ao investimento de sua construção o qual encerra-se em 2023. A usina Itaipu além de programas sociais, educacionais e ambientais muito bem estruturados ao longo de sua história, conta também com medidas de segurança, proteção e qualidade do sistema dentre os quais podemos destacar: Delimitação de perímetro de segurança da barragem, reservatório e complexo de geração; Sistema de monitoramento da qualidade da água do reservatório; Sistema de comportas para vertedouros com capacidade de vazão 40 vezes a vazão normal do reservatório SILVA, et al. Conceitos utilizados em Qualidade de Energia. Sistema indicador de necessidade de manutenção nos equipamentos de geração; Sistema de proteção contra descargas atmosféricas Sala de controle e monitoramento da qualidade e quantidade de energia gerada, interligada ao Sistema Nacional (SIN); Dispositivos gerais de proteção do sistema como chaves seccionadoras, fusíveis, relés, disjuntores necessários tanto para manutenção como para proteção e coordenação do sistema; 3.2 Visita técnica na Subestação de Furnas (Foz), localizada em Foz do Iguaçu PR em 15/03/18 Sendo uma das principais subestações do Brasil, Furnas Foz é responsável pela transmissão de toda a energia gerada na usina Itaipu consumida no Brasil. Conta em sua estrutura com uma Planta Elevadora de Tensão 500kv/750kv CA, em 60 Hz e uma Planta de Conversão CA/CC com dois sistemas Bipolos tendo como saída +- 600 kV com 50 Hz de frequência. De acordo com os profissionais técnicos de Furnas, na transmissão até 750 Km, o sistema AC é mais viável por questões técnicas, no entanto para transmissões acima disso a utilização do modo CC é melhor, em razão disso que se optou pela conversão CA para CC na transmissão da energia de Furnas (Foz) até a Subestação de Ibiúna em São Paulo a qual fica localizada a 830 k m de Furnas. 3.2.1 Medidas para Proteção do Sistema Operacional e Qualidade da energia transmitida pela Subestação de Furnas Foz Para unidade elevadora de tensão: Chaves Seccionadoras; Disjuntores; Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (para raios e sistema de aterramento); Transformadores de Corrente e de Potência com capacitores; Transformadores Elevadores de tensão; Reator de alisamento que atua nas harmônicas ímpares do sistema AC; Para unidade de conversão CA/CC: Autotransformadores; Chaves Seccionadoras; Disjuntores; Divisor capacitivo com filtro de onda; Sistema de proteção contra descargas atmosféricas (para raios e sistema de aterramento); Sistema chaveador de frequência; Conjunto de Válvulas para conversão CA/CC com entrada de 500 kV em CA e saída em +-600kv CC, contendo neste conjunto um montante de quatro válvulas equipadas cada uma delas com 96 tiristores; Conjunto de Válvulas para conversão CA/CC com entrada de 500 kV em CA e saída em +-300kv CC; Eletrodo com haste de aterramento e carvão especial, o qual serve para quando o circuito estiver desequilibrado, fazendo com que a corrente escoe para o eletrodo trazendo equilíbrio entre os polos. Caso o eletrodo não esteja operando, os dois polos da rede são perdidos; Reator de Alisamento, que atua nas harmônicas pares do sistema CC; Transformadores de Corrente; Transformadores de Potência; Quando se trata de Disjuntores, de acordo com os profissionais de Furnas Foz, devemos observar dois principalmente dois aspectos, a forma de extinção do arco voltaico e o mecanismo de acionamento como forma de prevenir problemas e manutenção futura Quanto aos autotransformadores podemos observar a importância de se utilizar equipamentos provenientes de fabricantes renomados evitando assim o excesso de manutenção dos mesmos sendo o vazamento de óleo um dos principais problemas enfrentados quando o assunto é autotransformadores. 4 CONCLUSÕES Este artigo apresentou diversos conceitos envolvendo Qualidade de Energia, por meio de uma breve explicação sobre afundamentos de tensão e sobre os diversos tipos de aterramento e suas características. A visita técnica descrita acima ressalta a importância de levar ao consumidor final uma energia elétrica confiável e de qualidade. REFERÊNCIAS SCHWEITZER ENGINEERING LABORATORIES. SEL 6123. Análise dos métodos de proteção contra faltas à terra nos sistemas de distribuição aterrados, não aterrados e compensados. Pullman, WA, 2001. LEBORGNE, R. C. Uma contribuição à caracterização da sensibilidade de processos industriais frente a afundamentos de tensão. 2003. Dissertação (Mestrado em Ciências em Engenharia Elétrica) Coordenação de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica, Universidade Federal de Itajubá, Itajubá. SILVA, et al. Conceitos utilizados em Qualidade de Energia. APÊNDICE A Tabela 1. Taxa de ocorrência das diferentes faltas em Transmissão (LEBORGNE, R. C., 2003). Nível de Tensão FT FF e FFT FFF e FFFT 500kV 92,24%5,04% 0,72% 345kV 92,65% 7,35% 0% 230kV 79,65% 18,18% 2,27% Fig. 1. Área de influência da Localização da falta (LEBORGNE, R. C., 2003). Fig. 2. Aterramento com Neutro Isolado (SEL, 2001). Fig. 3. Aterramento Sólido uniaterrado a três fios (SEL, 2001). Fig. 4. Sistema Uniaterrado a Quatro Fios (SEL, 2001). Fig. 5. Aterramento Sólido Multiaterrado (SEL, 2001). Fig. 6. Aterramento ressonante de compensação (SEL, 2001). Fig. 7. Sistema transmissão de energia gerada em Itaipu. . 1 Afundamentos de Tensão 1.1 Natureza das Faltas 1.2 Localização da Falta 1.3 Impedância de Falta e Tensão de Pré-Falta 2 Tipos de sistemas de aterramento 2.1 Sistema não aterrado ou com neutro isolado 2.2 Aterramento Sólido ou Efetivo 2.3 Aterramento de baixa impedância 2.4 Aterramento de alta impedância 2.5 Aterramento ressonante 3 Visita Técnica para Itaipu e Furnas 3.1 Visita técnica na Usina Itaipu localizada em Foz do Iguaçu PR em 15/03/18 3.2 Visita técnica na Subestação de Furnas (Foz), localizada em Foz do Iguaçu PR em 15/03/18 3.2.1 Medidas para Proteção do Sistema Operacional e Qualidade da energia transmitida pela Subestação de Furnas Foz 4 Conclusões Referências Apêndice A
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