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Crimes cometidos pelo servidor publico

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ALGUNS    CRIMES QUE  PODEM  SER  COMETIDOS  PELO  SERVIDOR  PÚBLICO:  PREVARICAÇÃO, 
CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA,   VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL, VIOLAÇÃO DE SIGILO DA 
PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA E ADVOCACIA ADMINISTRATIVA 
 
ROGÉRIO TADEU ROMANO  
Procurador Regional  da República aposentado 
 
‐ PREVARICAÇÃO 
    
Prevaricar  é  a  infidelidade  ao  dever  de  oficio.  É  o  descumprimento  de 
obrigações atinentes à função exercida.  
Na forma do artigo 319 do Código Penal, de 3(três) maneiras o agente poderá 
realizar o delito. Duas delas de natureza omissiva(retardando ou omitindo o oficio). Outra, de 
feição comissiva, praticando ato contrário a disposição expressa de lei.  
O fato pode ser objeto, por certo, além de responsabilidade no âmbito penal, 
de  condenação  no  campo  civil  da  improbidade,  à  luz  dos  artigos  11(violação  de  lei  ou  de 
princípio) e 12, III, da Lei n. 8.429/92.  
O elemento subjetivo é o dolo genérico ou especifico. O primeiro consiste na 
vontade  livremente  endereçada  à  realização  de  qualquer  das  condutas  referenciadas  na 
norma.  O  dolo  específico  consiste  na  finalidade  de  o  funcionário  satisfazer  interesse  ou 
sentimento pessoal. 
Se ha interesse pecuniário o crime é de corrupção passiva.  
Na forma comissiva pode ocorrer tentativa.  
O crime é de menor potencial ofensivo. 
Destaco aqui que a jurisprudência no sentido de que não se pode reconhecer o 
crime  de  prevaricação  na  conduta  de  quem  omite  os  próprios  deveres  por  indolência  ou 
simples  desleixo,  se  inexistente  a  intenção  de  satisfazer  interesse  ou  sentimento 
pessoal(JUTACRIM  71/320)  e  ainda  outro  entendimento  no  sentido  de  que  ninguém  tem  a 
obrigação, mesmo o policial, de comunicar à autoridade competente  fato típico a que  tenha 
dado causa, porque nosso ordenamento jurídico garante ao imputado o silêncio e até mesmo 
a negativa de autoria(RT 526/395). 
O artigo 319 – A do Código Penal,  com pena  in abstrato de 3(três) meses  a 
a(um) ano,  prevê crime de menor potencial ofensivo, com possibilidade de benefícios penais, 
admitindo transação e os demais benefícios da Lei n. 9.099/95, de natureza omissivo(deixar o 
Diretor de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso 
a aparelho telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou 
com o ambiente externo.  
O  objeto  material  do  crime  é  o  acesso  a  aparelho  telefônico  de  qualquer 
espécie(fixo, móvel), de  rádio(aparelho que  recebe e emite  sinais  radiofônicos, por meio do 
qual se ouve algo, podendo ainda transmitir mensagens), sendo ainda qualquer aparelho que a 
moderna  tecnologia  da  comunicação  capacite  contato  entre  pessoas,  como  ainda  o 
computador, que possibilite a promover comunicação, seja por meio de teclado ou por viva‐
voz. Coíbe‐se a possibilidade de mensagens entre membros de organização criminosa, entre 
presidiários, seja no mesmo presídio ou em presídios diferentes.  
O sujeito ativo é o funcionário público(crime próprio). Bem disse Guilherme de 
Souza  Nucci1,  que  o  funcionário  público,  que  pratica  o  crime,  é  aquele  que  tenha  algum 
contato com o preso, permitindo a este o acesso ao aparelho que se faz menção: seja quem 
faz a escolta do preso ao fórum, o agente penitenciário, o delegado ou o dirigente de cadeia 
pública.  
Incrimina‐se com o tipo previsto no artigo 319 – A do Código Penal a famosa e 
conhecida ¨vista grossa¨, que significa fingir, não ver o aparelho.  
 
                   
   
– CRIME DE CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA  
 
  Tal delito só pode ser cometido por funcionário. Diz Fernando Henrique M. de 
Almeida2  que  particular,  por  óbvio,  não  pode  ter  conhecimento  de  crime  cometido  por 
superior hierárquico.  
Para Heleno  Cláudio  Fragoso3  somente  pode  ser  sujeito  ativo  o  funcionário 
público que seja superior hierárquico daquele que praticou a infração funcional.  
O crime do artigo 320 do Código Penal   possui duas modalidades de conduta 
ambas  omissivas.  A  primeira  consiste  em  deixar  de  responsabilizar,  por  indulgência, 
subordinado que cometeu  infração no exercício do cargo. A segunda ocorre   em não  levar o 
fato a conhecimento da autoridade competente, por indulgência.  
Bem se diz que deixar de responsabilizar é não aplicar ao  inferior hierárquico 
as sanções referentes à infração praticada, seja administrativa ou penal.  
A conduta ainda se traduz em improbidade administrativa.  
Se o autor do crime não informa de imediato a ocorrência de falta da parte do 
servidor haverá o crime. Esse imediato é conceito jurídico indeterminado.  
Se o agente age por culpa, como negligência, não pratica o crime, que exige 
elemento do tipo dolo.  
Pode haver a figura da participação do particular. É o caso do induzimento.  
É crime de menor potencial ofensivo.  
 
 
‐ VIOLAÇÃO DO SIGILO FUNCIONAL  
 
Constitui  crime, previsto no artigo 325 do Código Penal,  revelar  fato de que 
tem  ciência  em  razão  do  cargo  e  que  deva  permanecer  em  segredo,  ou  facilitar‐lhe  a 
revelação.  
                                                            
1 Guilherme de Souza Nucci, Código Penal Comentado, 8ª edição, Saraiva, pág. 1065.  
2 Fernando Henriques M. de Almeida, Dos crimes contra a Administração Pública, São Paulo, Saraiva, 
1955, pág. 102.  
3Heleno Cláudio fragoso, Lições de Direito Penal, Rio de Janeiro, Forense, pág. 925. 
São dois os núcleos previstos: revelar que tem as significações de comunicar, 
transmitir,  dar  a  conhecimento.  Facilitar  a  revelação(revelação  indireta),  não  guardar  como 
devia.  
O  delito  é  subsidiário  na medida  em  que  se  só  se  configura  se  não  houver 
crime mais grave.  
É  crime  de  menor  potencial  ofensivo,  sujeito  a  julgamento  pelos  Juizados 
Especiais,  com  pedido  de  suspensão  condicional  do  processo,  face  a  pena  mínima  de  seis 
meses(Lei 9.099/95, artigo 89) e máxima de 2 anos,  sendo hipótese de  transação, Lei n. 10. 
259/01.  
A  Lei n. 8429/92 apresenta hipótese de improbidade administrativa, no artigo 
9º, c, onde se lê que é ato de improbidade revelar fato ou circunstância de que tem ciência em 
razão de suas atribuições e que deve permanecer em segredo. È a violação a norma e princípio 
da Administração.  
Aqui duas são as espécies de condutas  incriminadas: revelar fato de que tem 
ciência em razão do cargo e que deva permanecer em segredo(revelação direta); facilitar‐lhe a 
revelação(revelação indireta).  
Sempre esse segredo dirá respeito a fatos inerentes à administração pública.  
A  primeira  modalidade,  revelar,  admite  a  tentativa.  A  segunda,  deva 
permanecer em segredo, crime omissivo, não admite a tentativa.  
O dolo no caso será o dolo genérico.  
A Lei 9.983, de 14 de julho de 2000, que entrou em vigor 90(noventa) dias após 
a sua publicação acrescentou os parágrafos primeiro e segundo ao artigo 325 do Código Penal.  
Para ambas as hipóteses fala‐se em qualificadora, sendo o mínimo in abstrato 
de 2(dois) anos e o máximo de 6(seis) anos e multa, se da ação ou omissão resulta dano.  
Assim  tem‐se o  tipo previsto quando o agente permite ou  facilita, mediante 
atribuição,  fornecimento  e  empréstimo  de  senha  ou  qualquer  outra  forma,  o  acesso  de 
pessoas  não  autorizadas  a  sistemas  de  informação  ou  banco  de  dados  da  Administração 
Pública.  
Da  mesma  forma  é  crime  se  alguém  se  utiliza  indevidamente  de  acesso 
restrito.  
O tipo previsto no  inciso II envolve a expressão acesso restrito. Parece‐nos se 
tratar  de  tipo  aberto  na  linha  dos  ensinamentos  de  Welzel.  Tal  tipo  consiste  na  descrição 
incompleta do modelo de  conduta proibida,  transferindo‐se para o  intérprete o encargo de 
complementaro  tipo, dentro dos  limites e das  indicações nele próprio  contidas. Da mesma 
forma,  a  expressão  sistema  de  informações  envolve  atividade  interpretativa,  aberta  ao 
julgador.  
 
 
‐ VIOLAÇÃO DE SIGILO DE PROPOSTA DE CONCORRÊNCIA 
 
O dispositivo presente no artigo 326 do Código Penal foi revogado pelo artigo 
94 da Lei n. 8.666/93.  
De  toda  sorte,  comete  o  crime  aquele  funcionário  que  se  encarrega  do 
recebimento e da custódia das propostas a quem incumbe, em particular, o dever de segredo.  
O crime é devassar o sigilo da proposta de concorrência pública, proporcionar 
a terceiro o ensejo de devassá‐las, quando o terceiro poderá ser coautor do crime.  
É crime formal, exigindo dolo genérico.  
 
– ADVOCACIA ADMINISTRATIVA  
 
O núcleo do tipo previsto no artigo 321 do Código Penal é patrocinar, direta ou 
indiretamente, interesse privado perante a administração pública, valendo‐se da qualidade de 
funcionário.  
A conduta envolve advogar, facilitar, tutelar, proteger. É o caso de patrocinar 
interesse  privado  junto  a  qualquer  setor  da  Administração  Pública,  e  não  somente  aquela 
repartição onde esteja lotado, valendo‐se de sua qualidade de servidor público.  
Poderá  fazer‐se  o  patrocínio  de  forma  direta,  quando  o  agente  realizar  ele 
mesmo a defesa dos interesses ou ainda indireta, quando ele se valer de   ¨testa de ferro¨ . 
Costuma‐se dizer que o patrocínio poderá  ser  formal ou  explicito, mediante 
petição,  requerimentos  e  arrazoados.  Poderá  ser  dissimulado  e  implícito  quando  o  agente 
público  acompanhar o andamento de processos, procurando acelerá‐los, formulando pedidos 
a colegas, tomando conhecimento de despachos. Assim, aceita‐se a hipótese de coautoria. Isso 
porque não é lícito o ato desse terceiro.  
Pode ocorrer a tentativa quando  já praticados atos  inequívocos de patrocínio 
ou advocacia.  
O  crime  consuma‐se  com  a  prática  de  qualquer  ato  através  do  qual  se 
manifeste o patrocínio que a lei incrimina, sendo irrelevante o resultado. O crime consuma‐se 
com o simples fato de solicitar. É crime formal.  
A  Lei  n.  8.137/90,  em  seu  artigo  3º,  III,  prevê  crime  cometido  por  servidor 
público contra a Administração da Fazenda. Há os que entendem que somente o funcionário 
ali  lotado pode cometer o crime. É o caso de William Wanderley Jorge4, que assim pensa. Se 
praticado por outro funcionário o crime seria o tipificado no artigo 321 do Código Penal.  
Por outro lado, o artigo 91 da Lei n. 8.666/93 prevê crime de patrocinar, direta 
ou  indiretamente,  interesse privado perante a Administração, dando causa à  instauração de 
licitação  ou  à  celebração  de  contrato,  cuja  invalidação  vier  a  ser  decretada  pelo  Poder 
Judiciário.  Aqui  o  sujeito  ativo  é  o  funcionário  público,  sendo  que  tal  tipo  equivale  aquele 
previsto no artigo 321 do Código Penal, devendo ser aplicado, em substituição ao previsto na 
norma geral,    face ao princípio da especialidade,  caso haja  licitação ou  contratação ou  se a 
contratação for anulada pela própria administração.  
 
 
                                                            
4 William Wanderley Jorge, Curso de Direito Penal Tributário, Campinas, Millennium, 2007, pág. 453.

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