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Relato de Caso Auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico Audit of nursing in the operating room Driely Reis de Oliveira1, Silvia Maria Jacinto1, Cibele Leite Siqueira2 1.Graduanda em Enfermagem pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) – Poços de Caldas (MG), Brasil. 2.Mestre e Doutoranda em Enfermagem pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Docente do Curso de Enferma- gem da PUC Minas – Poços de Caldas (MG), Brasil. Endereço para correspondência: Cibele Leite Siqueira – Rua Francisco Tramonte, 400 – Jardim Centenário – CEP: 37704-256 – Poços de Caldas (MG), Brasil – E-mail: cibsiq@gmail.com RESUMO A auditoria de enfermagem no Centro Cirúrgico é utilizada pelas instituições de saúde nos dias atuais com a finalidade de avaliar a assistência e otimizar os custos decorrentes da prestação dos serviços. Os registros de enfermagem são a principal ferramenta de mensuração da qualidade e método para cobrança, mas, muitas vezes, são banalizados pela própria equipe de enfermagem. O objetivo deste estudo foi relatar as experiências vivenciadas pelas autoras durante a atuação profissional em Centro Cirúrgico. Trata-se de um relato de experiência com abordagem descritiva. O conhecimento sobre a auditoria de enfermagem no Centro Cirúrgico e a compreensão dos aspectos e mecanismos de atuação do profissional de enfermagem são imperativos para uma prestação de assistência de enfermagem de qualidade. ABSTRACT The audit of nursing in the surgical center is used by healthcare facilities with the purpose of evaluating assistance and improving costs arising from the provision of the services. Nursing records are the primary tool of quality measurement and billing method. The objective of the study was to report the experiments experienced by the authors during professional performance in the surgical center. It is an experience report with descriptive approach. Results showed that nursing execute most of the procedures in surgical center and ends up prioritizing assistance to the detriment to notes in patient’s medical reports. The register itself is trivialized by nursing staff. The knowledge about the nursing audit in surgical center and the comprehension of the aspects and mechanisms of the role of the nursing professional is imperative for an nursing assistance provision of quality. Palavras-chave Registros de enfermagem Auditoria de enfermagem Assistência de enfermagem Gestão em saúde Keywords Nursing records Nursing audit Nursing care Health management Recebido em: 27/11/2013 Aprovado em: 14/02/2014 Conflito de interesses: nada a declarar Fonte de financiamento: nenhuma 152 Oliveira DR, Jacinto SM, Siqueira CL RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 INTRODUÇÃO A área da saúde é caracterizada por processos contínuos; uma forma de assegurar a qualidade de toda atenção médico-hospitalar é por meio da auditoria de enfermagem, que trata da avaliação sistemática da qualidade de assistência prestada ao cliente1. A auditoria tem origem na área contábil e foi a partir do século XVII, na Inglaterra, durante a Revolução Industrial, que houve seu grande desenvolvimento. A prática da auditoria recebe novas diretrizes, na busca de atender às necessidades das grandes empresas, tendo continuidade até os dias atuais1. Na área da saúde, em 1918, nos Estados Unidos, a auditoria aparece por meio do médico George Gray Ward, que utilizou relato do prontuário para verificar a qualidade da assistência prestada ao paciente2. A auditoria de enfermagem é definida como uma avaliação sistemática da qualidade da assistência prestada ao cliente obtida por meio da análise de prontuários, do acompanhamento do cliente e da verificação da compatibilidade entre os procedimentos que foram realizados e os itens que serão cobrados na conta hospitalar. Desse modo, garante assistência, cobrança e pagamento adequados3. A auditoria em enfermagem tem sido uma ferra- menta gerencial que tem como finalidade a avaliação da qualidade da assistência, dos processos e dos custos4. A qualidade dos serviços de enfermagem inclui não somente a formação do enfermeiro, a restauração da saúde e melhoria da qualidade de vida mas o resultado do produto hospitalar medido por meio da qualidade da documentação e do registro de todas as ações de enfermagem5. Todas as unidades de um serviço de saúde permi- tem atividades de auditoria. O Centro Cirúrgico é um ambiente fechado e ocupa lugar de destaque no hospital, em decorrência da alta complexidade dos procedimentos realizados nesse local. Dessa forma, exige capacitação e preparação profissional, além do trabalho integrado e do relacionamento harmonioso entre os profissionais6. Considerando todas as atribuições legais e respon- sabilidades contidas no prontuário, além de seu caráter multiprofissional, esse conjunto de informações é suscep- tível a imprecisões em seus registros, fazendo-se neces- sária uma análise apurada e imparcial de seu conteúdo, realizada por meio da auditoria3. A questão de pesquisa foi: a enfermagem prioriza o cuidado em detrimento das anotações no prontuário? Assim sendo, o presente estudo justifica-se, pois permite ao leitor se apropriar das experiências adquiri- das pelas autoras, proporcionando uma visão holística sobre a auditoria e a assistência de enfermagem no Centro Cirúrgico. OBJETIVO O objetivo deste estudo foi relatar as experiências vivenciadas pelas autoras durante a atuação profissio- nal em Centro Cirúrgico. RESULTADOS E DISCUSSÃO Auditoria de enfermagem As atividades desenvolvidas pelo profissional de enfermagem em auditoria foram estabelecidas e apro- vadas pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) por intermédio da resolução nº 266/20017. Tal auditoria deve incluir o estabelecimento de padrões de assistência e a utilização de instrumen- tos para a sua realização. Com a padronização dos processos da assistência de enfermagem, a avaliação tem como base os padrões desejáveis da prática assis- tencial, com condições de avaliação dos processos e análise dos resultados alcançados4. Quanto à execução, a auditoria pode ser classifi- cada em: Auditoria Prospectiva, que se trata da avaliação dos procedimentos médicos antes da sua realização1, tem caráter preventivo e procura detectar situações de alarme para evitar problemas8. Auditoria Concorrente, que se refere à análi- se pericial ligada ao evento no qual o cliente está envolvido1. É realizada quando o paciente ainda se encontra hospitalizado ou em atendimento ambu- latorial, podendo ser feita de quatro maneiras: pela avaliação feita pelo paciente e sua família, verificando suas percepções acerca da assistência prestada; pela 153Auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 entrevista do funcionário após a prestação do cuidado, levando-o à reflexão; pelo exame do paciente e confron- to com as necessidades levantadas; pela verificação do cumprimento das atividades a serem realizadas pelos profissionais8. Auditoria Retrospectiva, que se trata da análise pericial ligada aos procedimentos médicos realizados, com ou sem análise do prontuário1. Realizada após a alta do paciente, avalia resultados e repara as falhas. Dessa forma, o paciente que deixou o internamento não é bene- ficiado após a avaliação dos dados obtidos. Entretanto, o benefício se reverte de forma global aos demais8. Quanto às modalidades, a auditoria pode ser clas- sificada em: Auditoria de Custos, que é a análise das contas hospitalares realizada pelo enfermeiro, após a alta do paciente, verificando a compatibilidade entre o pron- tuário e a cobrança da conta hospitalar efetuada pelo auxiliar de faturamento1. Isso é realizado por meio do cruzamento das informações recebidas pelofatura- mento com as informações que estão registradas no prontuário do paciente5. Como, em sua grande maioria, as anotações de enfermagem encontram-se de maneira inconsistente, ilegível e subjetiva nos prontuários médicos, é comum a prática de glosas no faturamento das contas hospi- talares, tendo impacto negativo e significativo para o orçamento das instituições. À equipe de enfermagem cabem a responsabilidade e o comprometimento pela elaboração completa e adequada do prontuário médico-hospitalar9. Todos os procedimentos e ações de enfermagem geram custos, e o principal meio de assegurar o recebi- mento do valor gasto durante a assistência de enferma- gem prestada é a realização adequada das anotações de enfermagem, sendo estas de grande importância para mostrar o cuidado prestado3. Auditoria de Qualidade se refere à análise das atividades realizadas pela equipe de enfermagem, por meio da análise do prontuário em geral, com foco nos registros de enfermagem. A avaliação e a revisão detalhada dos registros clínicos por profissionais qualificados garantem a verificação da qualidade da assistência, sendo, portanto, atividades dedicadas à eficácia dos serviços prestados10. Uma das maneiras de se avaliar sistematicamente a assistência prestada pelo profissional de enferma- gem é a verificação de seus registros e anotações no prontuário. O prontuário serve como um instrumento de verificação e deve apresentar uma estrutura sólida, pois representa um documento com valor legal. Os dados contidos devem ser descritos adequadamente e no documento devem constar a situação do paciente, as intervenções realizadas e os resultados obtidos11. Na área de auditoria de qualidade, o enfermeiro tem a oportunidade de aferir inadequações no processo do trabalho assistencial, as quais podem demonstrar falhas em relação à qualidade. Como resultado, esses erros geram gastos e trabalho desnecessários com a utilização indevida de equipamentos, fluxo inade- quado de informações, desperdício de materiais e medicamentos e excessos de estoques. Com a visão do enfermeiro auditor voltada à avaliação da qualida- de do serviço prestado é possível identificar recursos que poderiam ser utilizados para outras funções, oferecendo, assim, subsídios para ampliar a qualidade assistencial4. Cabem à equipe de enfermagem a responsabilida- de e o comprometimento pela elaboração completa e adequada do prontuário médico-hospitalar9. Auditoria em Centro Cirúrgico Dentre as unidades do âmbito hospitalar, o Centro Cirúrgico se destaca, pois é o setor que contém diversos elementos destinados às atividades cirúrgicas, desde o recebimento no pré-operatório imediato até a Recuperação Pós-Anestésica (RPA). Ele surgiu em meados do século XIX por necessidade de um local asséptico onde os riscos de infecções fossem menores12. Até a década de 1960, a assistência ao paciente cirúrgico era dirigida predominantemente para a área instrumental, atendimento às solicitações da equipe médica e às ações de previsão e provisão do ato anestésico-cirúrgico. Após esse período, houve um intenso desenvolvimento de técnicas cirúrgicas e instru- mentais, o que tornou as cirurgias mais complexas, 154 Oliveira DR, Jacinto SM, Siqueira CL RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 desencadeando no enfermeiro a necessidade de uma fundamentação científica13. Com os avanços e preocupações na área de cirur- gia, a presença da enfermagem no Centro Cirúrgico passou a desenvolver as técnicas de assepsia de Lister. Esses cuidados com a organização do serviço definiram a responsabilidade do enfermeiro, pois este deveria ter conhecimentos específicos relacionados à saúde14. A assistência prestada pelos profissionais de enferma- gem de um Centro Cirúrgico é caracterizada por planeja- mento, avaliação e continuidade do serviço, uma vez que o paciente passará pelas fases pré, intra e pós-operatória, todas integradas ao seu estado físico e emocional6. A fase pré-operatória ocorre a partir do preparo do paciente para a intervenção cirúrgica e do prepa- ro psicoemocional por meio de informações sobre o procedimento que será realizado6. A fase do intraoperatório compreende a recepção do paciente na mesa cirúrgica até o seu encaminha- mento à sala de RPA. Nessa fase, a enfermagem atua minimizando os riscos decorrentes do procedimento anestésico e identificando sinais característicos de possíveis complicações6. No pós-operatório, o processo de enfermagem imediato inicia-se na sala de RPA, ao prestar os cuidados necessários ao paciente, ainda sob efeito da anestesia, até a recuperação dos seus reflexos e a estabilização dos sinais vitais6. A assistência realizada no Centro Cirúrgico faz parte de um conjunto de atividades que inclui a auditoria, que exige um trabalho coletivo, com equipe multiprofissio- nal. A auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico se dá por meio da análise das anotações de enfermagem, descrições cirúrgicas e anestésicas, comparando-as com as cobranças realizadas e o débito de sala na recuperação anestésica. Essas atividades incluem os períodos pré, trans e pós-operatório. A enfermagem deve estar presente na assistência e na gerência de todas as etapas que passa o paciente, em especial nos processos de auditoria16. METODOLOGIA Trata-se de um relato de experiência que é definido como observação sistemática da realidade, sem o obje- tivo de testar hipóteses, mas de estabelecer correlações entre achados da realidade e bases teóricas pertinentes. Os relatos vinculam vivências servindo de fonte de difu- são de saberes e fazeres, envolvem a pessoa que observa, estrutura os conhecimentos e registra as infor- mações, com interpretações e subjetivações próprias, com o cuidado de serem metódicas e sistematizadas15. Descrição das experiências Trata-se de relato de experiência com abordagem descritiva baseada em vivência profissional das duas autoras, a primeira com oito anos de experiência em faturamento e auditoria de contas médicas, e a segunda com dez anos de atuação como técnica de enfermagem no Centro Cirúrgico. A primeira autora descreve sua atuação profissional na análise e faturamento de prontuários médicos, sendo seu foco principal o processo contábil. Para adequar a cobrança de custos por procedimentos, é necessário o preenchimento de diversos campos, tanto médico como de enfermagem, como, por exemplo: história clínica, registro diário da prescrição, evolução médica e de enfermagem, checagem dos serviços e dos relatórios de anestesia e cirurgia. A experiência profissional como auditora de contas médicas da primeira autora foi adquirida durante oito anos de atuação no faturamento hospitalar de um hospital geral privado de pequeno porte no sul de Minas Gerais. Especialmente na área privada, a auditoria de enfermagem é adotada como ferramenta de regulação e controle da utilização dos serviços de saúde, sendo seu foco dirigido para o controle dos custos da assis- tência prestada17. O processo da fatura da conta hospitalar se inicia no pré-faturamento, segue para o faturamento, em seguida para a auditoria e então retorna ao faturamento para o fechamento da conta hospitalar. Após a alta do paciente ou durante o período da internação, o setor de pré-faturamento reúne todos os documentos gerados durante a internação, confere as assinaturas do pacien- te e do médico responsável na guia de solicitação de internação, preenchimento da anamnese e prescrições médicas, exames laboratoriais, radiológicos e ultrasso- nográficos, e verifica prorrogações e autorizações dos procedimentos cirúrgicos. 155Auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 Após a organização desses documentos, os pron- tuários são liberados e entregues nofaturamento. As funcionárias do faturamento recebem os prontuários e lançam as informações contidas nesses documentos no programa de gestão hospitalar. O prontuário médico é um documento legal que possui todo o histórico de cuidado do paciente, é uma fonte de conhecimento para profissionais da saúde e descreve sobre o serviço hospitalar que a instituição oferece. A conta hospitalar é o resultado da contabi- lização de todo o processo de internação e cuidado prestado pela equipe multidisciplinar. A cobrança só é feita mediante relato comprobatório por meio de registros médicos e da enfermagem. A auditoria é um instrumento de avaliação, está rela- cionada à importância e à repercussão da enfermagem e associada ao controle administrativo-financeiro. Uma falha qualquer nos registros ocasiona erros de cobrança e dificulta o faturamento do prontuário17. Após o lançamento dos dados obtidos, o espelho da conta hospitalar é impresso e anexado ao prontuário faturado e segue para a auditoria de contas médicas. O processo de análises se inicia por meio da auditoria interna retrospectiva, momento em que os itens cobra- dos na conta hospitalar são comparados com os dados fornecidos pelo prontuário. A realização da auditoria de enfermagem por inter- médio da análise de prontuários possibilita identificar problemas e orientar a equipe sobre o registro adequa- do das ações, sendo este utilizado para respaldo ético e legal17. São observados: a quantidade de diárias, os registros de todos os materiais descartáveis e medi- camentos gastos pelo paciente conforme prescrição médica, evolução da equipe de enfermagem, hemote- rapia e laudos de exames de diagnose e terapêutica. Já nos casos de procedimentos cirúrgicos é anali- sado o gráfico anestésico conforme tipo de anestesia empregada, descrição do ato cirúrgico, registros e anotações de enfermagem nos períodos pré, intra e pós-operatório, equipamentos e aparelhos cirúrgicos, tipo de sala conforme porte cirúrgico e utilização de órteses, próteses e materiais especiais. O trabalho do Centro Cirúrgico requer ampla cola- boração da equipe atuante para que haja eficácia nos procedimentos e agilidade para o faturamento, sem deixar de executar as tarefas com qualidade e satisfa- ção do paciente17. Para isso, são utilizadas ferramentas de trabalho, como contratos, tabelas de diárias e taxas, revistas de materiais e medicamentos, e notas fiscais. Após examina- dos os dados, é realizada a comparação desses gastos com o que consta na fatura, sendo que os que não corres- ponderem serão corrigidos, excluídos ou adicionados. A auditoria em enfermagem visa a qualidade do atendimento ao cliente, o controle de custos, o paga- mento justo da conta hospitalar e a transparência da negociação, embasada na conduta ética9. Existe também a negativa de pagamento de algo que foi faturado. A glosa é o cancelamento parcial ou total do orçamento, por ser considerado ilegal ou indevido, e é aplicada quando qualquer situação gera dúvidas em relação à regra e à prática adotadas pela instituição de saúde9. Devido às anotações de enfermagem, em sua maio- ria, serem inconsistentes, a prática de glosar itens do faturamento das contas hospitalares tem sido significa- tiva para o orçamento das instituições. Dessa forma, as anotações de enfermagem contidas nos prontuários são utilizadas no processo de auditoria de enfermagem, a fim de apontar inadequações da assistência de enfer- magem com relação aos serviços prestados, assegurar o faturamento de contas hospitalares e rever glosas3. O serviço de auditoria está associado ao controle administrativo-financeiro das instituições de saúde; erros em cobranças são relacionados à falha de regis- tros de materiais e medicamentos utilizados e à ausên- cia de anotações tanto pela equipe de enfermagem quanto médica. Especificamente, a auditoria no Centro Cirúrgico reflete diretamente o serviço de enfermagem, pois, a partir das anotações e cuidados prescritos, são justifica- dos os equipamentos e gases (oxigênio, ar comprimido, halotano, etc.) utilizados com o débito assinalado na nota de gasto do Centro Cirúrgico. O enfermeiro é o agente determinante para levar a equipe multidisciplinar a construir alicerces em relação aos registros de enfermagem, sendo estes os principais marcadores de qualidade da assistência17. A eficácia dos registros deve estar ligada à super- visão constante da equipe de enfermagem, mas é por 156 Oliveira DR, Jacinto SM, Siqueira CL RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 meio da educação permanente e continuada que se consegue treinar e aprimorar os profissionais des- sa classe. A educação continuada é utilizada como ferramenta de instrução e acompanhamento da auditoria realizada em Centro Cirúrgico. É por meio dela que a equipe interdisciplinar que tem acesso ao prontuário é orienta- da, para que os funcionários se conscientizem sobre a importância legal do preenchimento de tal documento, esclarecendo dúvidas e dando orientações contínuas para suporte da assistência1. A experiência profissional como técnica de enfer- magem da segunda autora foi adquirida durante dez anos de atuação no Centro Cirúrgico de um hospital de médio porte no sul de Minas Gerais. Tal setor é composto basicamente por médicos-cirurgiões, anes- tesistas, enfermeiras e técnicas de enfermagem. Foi observado que as anotações de enfermagem eram feitas em etapas: pré-operatório (admissão no Centro Cirúrgico), transoperatório, alta da sala cirúrgica, admissão e alta na RPA. Na admissão do paciente na sala de recuperação pós-anestésico, é realizado o primeiro registro de enfermagem de acordo com o estado do paciente (consciente, orientado, pré-anestesiado, entubado). Supondo-se que o paciente esteja sonolento e impos- sibilitado de se comunicar verbalmente, a única forma de obter informações é por meio do registro do setor anterior à admissão na sala de recuperação pré ou pós-anestésica. O segundo registro é realizado após a cirurgia, e o terceiro é a alta para o setor. Esses relatórios, na prática, muitas vezes ficavam incompletos; alguns dos motivos observados foram: a falta de tempo, o número de cirurgias eletivas, cirurgias de urgência e emergência e as várias tarefas que os profissionais de enfermagem necessitam desempenhar, o que fazia com que tais trabalhadores priorizassem a assistência e o cuidado ao paciente, deixando os registros para um momento oportuno. A técnica de enfermagem (circulante) responsável pelo transoperatório tem como funções monitorizar o paciente, auxiliar os médicos, organizar a sala e realizar o registro de enfermagem da sala. Este também fica incompleto, pois a circulante tem de fazer a anotação da folha de gasto, o registro dos materiais utilizados durante a cirurgia e, caso ocorram outras intercor- rências, registrá-las também, deixando mais uma vez o registro de enfermagem para outro momento. Ao término da cirurgia, cabe à circulante retornar o pacien- te à sala de RPA com seu prontuário e providenciar a limpeza e organização da sala para uma próxima cirurgia, ficando, na maioria das vezes, seu registro de enfermagem para depois, devido à escassez de tempo. Quanto menor o tempo da cirurgia, menos tempo sobra para os registros. A anotação é uma forma de comunicação da enfermagem e possui como finalidades: estabelecer diálogo entre os membros da equipe multidisciplinar; acompanhar a evolução do paciente; servir de base para a avaliação e a elaboração do plano assistencial; constituir documento legal tanto para o paciente quanto para a equipe de enfermagem referente à assistência prestada; contribuir para a auditoria de enfermagem5. A experiência profissional da autora nesse setor durante todos esses anos permitiu observar quea equipe de enfermagem prioriza o seu tempo em cuidar e assistir o paciente, deixando as anotações para outro momento (que às vezes nem chega). Portanto, as anotações são tão importantes quanto o cuidar, pois é por meio delas que a equipe multiprofissional poderá dar a continuidade correta ao tratamento do paciente. As intercorrências assistidas pela enfermagem, quando anotadas no momento exato, trazem eficiência por parte da enfermagem e ação imediata. A qualidade dos registros das ações prestadas reflete a prestação da assistência e a produtividade do trabalho. Quanto mais detalhadas forem as anotações, maiores serão as informações para direcionar a terapêutica do cuidar pela equipe multiprofissional. Reforça-se que o registro das intervenções da enfermagem é uma estratégia que valida a prática e confirma os cuidados realizados, e que a ausência dos mesmos dificulta a coesão e a comunicação entre as equipes multiprofissionais18. O Centro Cirúrgico é um setor que está constan- temente em movimento; em consequência do fluxo, do porte e da quantidade de cirurgias a serem feitas, o tempo fica escasso para a equipe de enfermagem realizar as tarefas obrigatórias dentro dos prazos 157Auditoria de enfermagem em Centro Cirúrgico RAS _ Vol. 15, No 61 – Out-Dez, 2013 estipulados. Esses eventos adversos acabam sendo resultantes da falta de registros no prontuário. Cuidar e prestar assistência pela enfermagem são aspectos prioritários à reabilitação do paciente; portanto, os registros dessa população representam elemento essencial para o processo de trabalho, uma vez que a gestão da informação constitui a qualidade dos serviços prestados18. Para a auditoria de enfermagem, é válido o que está anotado; se não há registro, não houve a assistência e isso interfere na qualidade e no custo. Se não existe forma de cobrar os procedimentos prestados, mesmo que foram realizados, se não foram justificados por meio dos registros no prontuário, esses atos refletirão comprovadamente a qualidade do serviço prestado. A enfermagem tem conhecimento legal e ético sobre as anotações do cuidado, sendo que o registro no prontuário se identifica como direito do paciente e obrigação da equipe19. CONSIDERAÇÕES FINAIS A auditoria de enfermagem é utilizada pelas institui- ções de saúde com a finalidade de avaliar a qualidade da assistência e acompanhar os custos decorrentes da prestação dos serviços. Observa-se uma deficiência na atuação da enfermagem diante das anotações que constituem na única forma de averiguar o cuidado dessa categoria profissional. Ressalta-se, ainda, que esses registros comprovam e validam a prática da equi- pe de enfermagem. Sabe-se que o tempo de permanên- cia do paciente dentro do Centro Cirúrgico é escasso e que os profissionais que exercem seu papel como cuidadores nos períodos pré, intra e pós-cirúrgico não têm nenhum compromisso com o registro de suas ativi- dades, atitude que constitui a principal ferramenta de apuração e cobrança de custos e, ainda, de fonte de informação para o planejamento do cuidado. Em relação à qualidade dos registros, observou-se que tais anotações são incompletas e não proporcio- nam a qualidade necessária para oferecer subsídios para a análise da auditoria de enfermagem. Foi eviden- ciada, nesta pesquisa, que a auditoria de enfermagem é uma especialização pouco conhecida pelos colegas de trabalho. DECLARAÇÃO DE AUTORIA E PARTICIPAÇÃO Nós, na qualidade de autoras do presente artigo, declaramos que o estudo é inédito, havendo sido composto com a participação de todas, estando a participação de cada autora destacada a seguir: Driely Reis de Oliveira: revisão bibliográfica, coleta e análise de dados, redação preliminar. Silvia Maria Jacinto: revisão bibliográfica, coleta e análise de dados, redação preliminar. Cibele Leite Siqueira: revisão bibliográfica, coleta e análise de dados, correção e redação final. REFERÊNCIAS 1. Motta ALC. Auditoria de enfermagem nos hospitais e operadoras de planos de saúde. 5ª ed. São Paulo: Iátria; 2010. 2. Scarparo AF, Ferraz CA. 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